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Husserl e Popper dedicam-se a tarefa de determinar limites para a ciência e para o dito conhecimento

"seguro". Cada um a seu modo, empenham-se em suas proposições para validar o conhecimento, a
filosofia, a ciência... dando seus méritos e deméritos, e delimitando na maior acuidade possível, suas
fronteiras.

Para Husserl, há um problema na relação experiência empírica X significado X objeto, que diz respeito
justamente a possibilidade do conhecimento. Como a descrição de algo (por ex: em um dicionário, ou na
melhor das narrações de um autor virtuoso) pode abarcar de modo plenamente fiel aquilo do que se
trata? Como estar em consonância com os objetos conhecidos? Visto que nossa percepção limita
abranger absolutamente os entes, a linguagem é convencionada e por vezes irregular, e o objeto é em si
algo além da perceptibilidade humana. Ele coloca em crise o conhecimento natural, vendo que a lógica é
para ele uma espécie de lei, e até a lógica pode ser deveras duvidosa - visto a incomensurabilidade da
subjetividade impregnada. E se a lógica é duvidosa, colocar argumentos contraditórios em evidência é
uma tarefa inócua. Percorre a argumentação e aponta que divergências entre um tipo de conhecimento
que ele chama de natural e o conhecimento filosófico geram uma crise epistemológica (o cerne de como
conhecemos, o que é conhecimento, etc) e se estende até a metafísica (que ele vê como a área das
teorias obscuras e mais contraditórias). Defende que deve haver um método cognoscitivo uno para
abarcar o todo - de modo semelhante aos filósofos do séc. XVII. E nota que as ciências naturais se
corrigem, e até mesmo se edificam uma nas outras, de modo que encontram unidade nos
procedimentos lógicos; e a filosofia encontra-se numa dimensão completamente diferente, já que sua
unidade (sua união harmônica) depende de algo novo, até mesmo inédito. Ironicamente a filosofia usa
uma metodologia praticamente idêntica a todas as ciências exatas para atingir seus artífices críticos. E tal
complexidade é produto da crítica ao conhecimento, crítica esta que dá a filosofia uma especificidade
única e sua singular justificação, tanto no âmbito pretensioso quanto na sua vontade.

Já Popper lida com os critérios de demarcação da ciência "boa" e da pseudociência (teorias


pseudocientíficas).

Para ele, a ciência frequentemente comete erros, porquanto a pseudociência pode encontrar
acidentalmente a verdade. E degladiando diferentes teorias (sobretudo a estrutura da Teoria da
Relatividade de Einstein, contra as teorias de Marx, Freud e Adler), acrescido de insights da crise do
método que ele se empenha a dar cabo, Popper nos brinda com sua teoria da irrefutabilidade.
Concluindo que a irrefutabilidade de uma teoria é um vício, algo desprezível. Uma simples profetização
de conteúdo vago e risível. Donde conclui que teorias científicas possuem um crivo muito maior, são
verdadeiramente arriscadas em suas proposições e, sobretudo, sobrevivem triunfantes quando
colocadas a prova - coisa que as pseudociências não são capazes, afinal, nem as teorias marxistas, nem a
astrologia, nem a psicanálise poderia ser colocada a prova. Além disso, aponta o fato de que para as
pseudociências o viés de confirmação tornaria a teoria mais forte, quando na realidade era o oposto
(não eram as "evidências" convenientes que justificariam uma teoria, e sim a teoria que deveria
evidenciar sua verdade, e esta deveria ser ao menos hipoteticamente passível de ser falsa e ainda assim
ser verdadeira). A testabilidade da teoria da gravitação de Einstein era deveras arriscada e até
presunçosa, porém se confirmava com louvor em suas próprias regras; coisa que nem a astrologia, nem a
história na ótica de Marx, nem os supostos comportamentos humanos explicados tanto por Freud
quanto por Adler, conseguiu. Tais teorias tinham muito mais a ver com os mitos do que com a ciência,
eram de fato, muito "astrológicas" e pouco "astronômicas".

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