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CARLOS A.

EUGÊNIO JÚNIOR

O PROBLEMA DA INDUÇÃO E A FALSEABILIDADE EM KARL POPPER

LAVRAS-MG
2018
CARLOS A. EUGÊNIO JÚNIOR

O PROBLEMA DA INDUÇÃO E A FALSEABILIDADE EM KARL POPPER

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Filosofia do


Departamento de Ciências Humanas (DCH) da UFLA,
apresentado pelo aluno Carlos A. Eugênio Júnior (matrícula
201210778), para a obtenção do título de Licenciado.

Prof. Dr. Roney Wagner Vieira


Orientador

LAVRAS-MG
2018

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CARLOS A. EUGÊNIO JÚNIOR

O PROBLEMA DA INDUÇÃO E A FALSEABILIDADE EM KARL POPPER

THE PROBLEM OF THE INDUTION AND FALSIFIABILITY IN KARL POPPER

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Filosofia do


Departamento de Ciências Humanas (DCH) da UFLA,
apresentado pelo aluno Carlos A. Eugênio Júnior (matrícula
201210778), para a obtenção do título de Licenciado.

APROVADO EM __de_______de 2018.


EXAMINADOR
EXAMINADOR

Prof. Dr. Roney Wagner Vieira


Orientador

LAVRAS-MG
2018

3
À Mariana.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, que mesmo sem escolaridade, sempre me incentivaram no caminho da Educação, das
Artes e das Ciências.
Ao meu irmão Deyvid, por tudo.
Ao Departamento de Ciências Humanas da UFLA pelo cuidado e zelo para com a Filosofia.
Ao meu orientador Dr. Roney Wagner Vieira, que aceitou me acompanhar nessa empreitada.
Ao professor Dr. Luiz Roberto Takayama, por toda sua humanidade.
À professora Dr. Léa Silveira, por toda ajuda.
À professora Dr. Iraziet Charret, pelo apoio essencial.
À minha companheira Isabela, pelas discussões filosóficas, paciência para com minhas conjecturas e
amor.
Ao meu amigo Richard, pelas horas de estudos e pelo afeto construído.

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RESUMO

O presente trabalho pretende abraçar alguns questionamentos apresentados por Karl Popper
em suas primeiras seções da obra “Lógica da Pesquisa Científica”. O filósofo austríaco deixa clara a
impossibilidade da indução como método próprio das ciências empíricas. Não acredita ser capaz de
configurá-la como processo pelo qual extraímos de enunciados singulares o estatuto de verdade
necessário para assegurar a veracidade de enunciados universais ou de, até mesmo, teorias. Para
Popper, o problema narrado por Hume pode ser superado dentro de um registro onde a própria
experiência se identifica como método da ciência empírica. Em outras palavras, a ciência empírica
não é capaz de comprovar a verdade de suas teorias mediante a experiência possível no mundo,
mas,antes, a ciência pode resistir aos fatos singulares que contradizem sua teoria a fim de superar
momentaneamente o critério de falseabilidade, conceito fundamental dentro da discussão
popperiana. Abordaremos ainda uma interpretação problemática feita por Popper acerca do
“Tractatus Logico-philosophicus” de Wittgenstein, onde poderemos obter novos argumentos a favor
da falseabilidade e tentaremos também ilustrar o que Popper nos apresenta como ciência empírica,
através de uma imagem da teoria da relatividade de Einstein.

ABSTRACT
The present work intends to embrace some questions presented by Karl Popper in his first sections of
the work "Logic of Scientific discovery". The austrian philosopher makes clear the impossibility of
induction as his own method of the empirical sciences. Does not believe that he is capable of
configuring it as a process by which we extract from singular statements the status of truth necessary
to ensure the veracity of universal statements or even, theories. For Popper, the problem narrated by
Hume can be overcome within a register where experience itself is identified as a method of
empirical science. In other words, empirical science is not able to prove the truth of its theories
through possible experience in the world, but rather science can resist the singular facts that
contradict its theory in order to momentarily overcome the criterion of falsifiability, concept
fundamental within the popperian discussion. We will also address Popper's problematic
interpretation of Wittgenstein's "Tractatus Logico-philosophicus", where we can get new arguments
for falsifiability and we will try to illustrate what Popper presents us as empirical science, through an
image of the theory of relativity of Einstein.

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SUMÁRIO

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INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é tentar evidenciar a relação necessária entre o problema da indução
e a formulação do critério de falseabilidade em Karl Popper, nesse sentido mobilizaremos aspectos
fundamentais nessa discussão. A abordagem humeneana para o problema da indução, a interpretação
de Popper ao Tractatus de Wittgenstein, a falseabilidade na ciência empírica e a física
contemporânea, são alguns dos aspectos presentes nesse trabalho que visam construir argumentos
favoráveis à formulação do critério de falseabilidade.
Karl Popper em sua “Lógica da Pesquisa Científica” nos coloca problemas fundamentais
dentro da Filosofia da Ciência. O que é ciência empírica? Qual é o seu método? E ainda, o que me
permite delimitar o campo de atuação das ciências empíricas perante a filosofia?
São essas e outras questões que nos norteiam para uma configuração própria de Popper
acerca do processo científico, assim como para uma nova demarcação da ciência empírica. Deste
ponto de vista, podemos ressaltar o problema da indução que, a partir de David Hume, vem sofrendo
reinterpretações e não permite que nenhuma reflexão epistemológica se desenvolva sem se
embaraçar em suas ramificações espinhosas. Como explicar o elo que liga a experiência sensível e
individual com algum enunciado universal? Abordaremos esse aspecto no primeiro capítulo deste
trabalho a fim de elucidar o problema da indução. Veremos também que Popper aceita alguns
argumentos de Hume, contudo, rompe com o empirista inglês quando propõe uma nova interpretação
da possibilidade de se conceber enunciados universais a partir de enunciados singulares. Para o autor
é possível superar o problema de Hume através da concepção da falseabilidade, chave fundamental
para entendermos o pensamento popperiano.
A cisão entre Popper e Hume pode ser evidenciada a partir dos indícios apresentados tanto
em Lógica da Pesquisa Científica quanto em Conjecturas e Refutações. Nessas obras Popper procura
mostrar que leis científicas necessitam de um critério de justificação mais apropriado que o hábito ou
costume. Vale ressaltar que o hábito, segundo Hume, justifica a crença em determinadas leis de
casualidade, entretanto, o fato de acreditar ou não em determinada lei de causalidade não pode ser
critério suficiente na demarcação daquilo que seria uma lei científica. Para Popper as leis científicas
se assemelham mais com o ato de criação do que com o simples ato de compor e decompor
impressões e ideias oriundas da sensibilidade.
No segundo capítulo abordaremos uma característica peculiar do pensamento de Popper ─ e
que merece atenção especial ─ a abertura de uma nova interpretação perante o problema da
composição de uma ideia nova: ora, o ato de conceber uma ideia nova não tange a lógica do
conhecimento, mas sim a sua psicologia, o arranjo necessário para a conjectura de uma ideia nova

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nos aparece na obra de Popper como a própria possibilidade de Intuição1. Nesse sentido, Popper
assume que o método filosófico proposto pelo filósofo francês Henri Bergson é capaz de
acompanhar o processo de criação de uma ideia genuinamente nova. Para Popper é possível que a
ciência apresente teorias que não possam ser reconstruídas racionalmente através de teorias
concebidas anteriormente, ou seja, teorias que podem ser colocadas em “cheque” a qualquer
momento por fatos que as contradigam na experiência. Essas teorias ou ideias novas não estariam
fundamentadas apenas no conhecimento assumido anterior a elas, elas também poderiam receber
No terceiro capítulo abordaremos uma interpretação poperriana ao Tractatus Logico-
Philosophicus de Wittgenstein. Aqui buscaremos evidenciar argumentos contidos Segundo
Anscombe, Popper não teria compreendido de forma satisfatória a ideia de que Wittgenstein se
referia ao espaço lógico do entendimento, suas formas lógicas e seus conteúdos lógicos. Contudo,
mesmo sendo uma interpretação problemática, através dela Popper nos oferece maiores indícios para
uma fundamentação do critério de falseabilidade. Nesse momento tentaremos mostrar que além de
encontrarmos argumentos favoráveis ao critério de falseabilidade no próprio texto de Wittgenstein, a
própria Anscombe também sinaliza para uma conclusão negativa acerca das proposições
elementares, ou seja, a única conclusão que podemos tirar de enunciados elementares com um grau
mais elevado de certeza é a respeito da falsidade desses enunciados, mas nunca a respeito de sua
veracidade. Para Popper, o “Wittgenstein do Tractatus” seria o mentor das teses positivistas,
entretanto, perceberemos que esse não é o caso, e mais ainda, se radicalizarmos o argumento
veremos que se trata de algo oposto ao que é defendido pelos positivistas.
No quarto capítulo buscaremos exemplificar o que Popper entendia por ciência empírica. O
próprio autor salienta seu espanto diante uma teoria física surgida no inicio do século XX. Como
Popper mesmo salienta em Conjecturas e Refutações, é a Teoria da relatividade geral e restrita de
Albert Einstein que chama sua atenção. Para ele a teoria de Einstein pode colaborar e muito para a
compreensão do critério de falseabilidade. Por sua vez, a tarefa de demarcar o terreno pertencente à
ciência empírica perpassa obrigatoriamente pelos enunciados fundamentais da teoria einsteiniana; a
constância da luz no vácuo, a relação espaço-tempo e a equivalência entre massa e energia surgem
como novos integrantes do edifício científico. O movimento de exemplificar o que seria uma ciência
empírica nos servirá como suporte para a aplicação do critério da falseabilidade, perceberemos de
que maneira os enunciados de Einstein se relacionam com a demarcação proposta por Popper.

1
Perceberemos que o termo “intuição” é usado aqui para mobilizar a filosofia de Henri Bergson, onde a
intuição recebe um tratamento específico e nos é apresentada como o método próprio à filosofia.

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Capítulo I

O problema da Indução

A ciência empírica se mostra a todos como possuidora de um método que possibilita a


comparação de todo e qualquer enunciado ou sistemas de enunciados com seus respectivos fatos no
mundo, através dos recursos necessários para observação e experimentação. Assim o autor nos
apresenta a tarefa da lógica científica, ou a lógica do conhecimento. Árdua e por vezes problemática,
ela se mostra como ferramenta para uma análise do próprio método das ciências empíricas. Em
outras palavras, quais seriam os métodos das ciências empíricas? A que damos o nome de ciência
empírica? Esses são os questionamentos apresentados por Popper logo nas primeiras linhas de seu
grande itinerário na Lógica da Pesquisa Cientifica.

É importante atentarmos para um movimento anunciado logo de imediato em sua obra.


Popper pretende contestar o critério de demarcação da ciência empírica, amplamente aceito pela
comunidade acadêmica, a saber, a indução, processo pelo qual o cientista elabora suas teorias e
hipóteses a partir das observações de experiências singulares. Contudo, os métodos indutivos que
supostamente fariam parte intrínseca das ciências empíricas nos levariam a encarar a lógica da
pesquisa científica como a lógica indutiva2. Deste ponto de vista nos resta esmiuçar o problema da
indução a fim de melhor compreendê-lo e superá-lo.

Entende-se por inferência indutiva a elevação do estatuto de verdade obtido nos enunciados
singulares à verdade de enunciados universais. Esse estatuto seria produzido a partir de observações,
conclusões ou ainda das descrições dos resultados de observações e de experimentos, que, através de
um princípio de indução, justificariam a elaboração de enunciados universais, tais como hipóteses ou
teorias. Popper nos propõe então uma análise mais profunda a respeito do problema da indução. Qual
seria a justificativa e a condição lógica para a formulação de enunciados universais a partir de
enunciados singulares?

É nesse momento que nos aparece como inevitável uma reflexão a cerca de alguns aspectos
presentes em uma das Obras de David Hume; “Investigação sobre o entendimento humano” 3, nela o
autor exalta o empirismo e coloca em evidência o problema da indução. Podemos também delimitar

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Perceberemos que essa noção é bastante problemática. Não podemos falar em uma lógica indutiva, na
medida em que a indução não pode ser justificada logicamente.
3
Ao mobilizarmos a obra de Hume pretendemos construir através de sua argumentação do autor, um
panorama capaz de apresentar os principais aspectos envolvidos dentro da discussão em torno da indução.

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algumas semelhanças e algumas diferenças presente nas obras de Hume e de Popper. Segundo
Popper a possibilidade de uma justificação lógica para enunciados universais a partir de enunciados
singulares já é refutada por Hume de forma satisfatória, entretanto, suas críticas ao processo de
indução não foram, segundo Popper, capazes de construir um critério suficientemente forte para a
demarcação de enunciados científicos.

A fim de compreender melhor o pensamento de Hume, assumiremos que o empirista inglês


distingue o conhecimento humano entre o campo prático e o campo teórico. Para ele temos de um
lado a filosofia prática e de outro a filosofia abstrata.

Logo de início Hume evidencia sua preferência pela filosofia prática. Para o autor a filosofia
prática aparece como aquela que toca aos homens, discursa sobre a diferença entre as virtudes e os
vícios. De forma clara e relativamente simples ela considera o homem como um ser ativo e que
sempre age por sentimento e por gosto, e, é nesse campo que a filosofia prática tenta formatar as
ações humanas. Em busca de seu aprimoramento usa exemplos notáveis e se deixa entender fácil,
ganhando assim não só prestígio como também utilidade.

Em outro momento temos a filosofia abstrata, caracterizada pela sua complexidade e


profundidade em seus argumentos. Por sua vez considera o homem um ser racional, que busca
conhecer o ser em si das coisas e aquelas verdades universais que fundamentariam nossa própria
concepção de realidade. Essa se mostra difícil e aguarda ansiosa o acolhimento dos eruditos, seu
caminho é a academia e por isso nada tem a dizer aos homens, é feita com rigor, porém se perde em
devaneios abstratos demais para a compreensão do homem comum. Cheia de enganos, não consegue
ser comunicada:
“Sede um filósofo, mas, no meio de toda vossa filosofia, sede sempre um homem (Hume, 1999, p. 03).”
Hume considera a filosofia abstrata necessária para a construção da filosofia prática, ela seria
fundamental dentro do que o inglês chama de verdadeiro campo da razão humana. O autor então
pretende usar de forma correta a filosofia abstrata, para que assim ela se relacione com a filosofia
prática se mostrando mais valorosa, mas sem antes rejeitar seus erros mais infames e iluminar as
incertezas e superstições derivadas do arranjo inadequado da filosofia abstrata.

Todos os materiais do pensamento, em outras palavras, as percepções, divergem e não são


identificadas umas com as outras. Ora, a dor causada por uma queimadura em nada se compara com
a sua mera lembrança ou com a sua antecipação através da imaginação. A sensação original, oriunda
diretamente do contato sensível, sempre será percebida com mais vivacidade que a percepção de sua
lembrança ou de sua antecipação, até mesmo nos sonhos mais reais nos parece evidente a distinção

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entre a dor pensada, lembrada ou imaginada com a percepção de dor causada pela queimadura
mesma, percebida de maneira direta por nossos órgãos sensoriais.

“O pensamento mais vivo é sempre inferior à sensação mais embaçada (Hume, 1999, p. 10).”

Nessa perspectiva podemos dividir, segundo Hume, nossas impressões em duas classes ou
espécies, a primeira se diz a respeito das percepções mais embaçadas, as menos fortes e vivas, que
despertam nossa razão, mas não são ligadas diretamente com a percepção dos objetos, a essa classe
ou espécie denominamos pensamentos ou ideias. A segunda classe diz respeito às nossas percepções
mais vivas e fortes, simultânea ao contato direto com os objetos da sensibilidade através de nossos
órgãos sensoriais, a essa classe podemos chamar de impressões. Quando vemos, ouvimos, desejamos
ou queremos estamos de posse de nossas impressões.

Num primeiro momento é possível afirmar, acompanhando Hume, que nada escapa ao
pensamento humano e que mesmo os objetos mais embaçados podem ser compreendidos da mesma
maneira que objetos mais simples. Nada está fora do poder do pensamento, exceto aquilo que
apresente absoluta contradição. Por outro lado, podemos visualizar uma configuração para o
pensamento humano, este é apresentado por Hume como a faculdade de combinar, transpor, agrupar,
organizar, compor e decompor os materiais cedidos pela sensibilidade e pela experiência.

Todos os pensamentos e ideias, por mais complexos e sublimes que pareçam sempre nos
remeterão aquelas percepções simples oriundas da sensibilidade, não existe nenhum pensamento que
escape dessa composição e decomposição de pensamentos, nada de novo pode ser criado, o que
nosso pensamento faz é arranjar ideias a fim de construir novas ideias, mas sempre numa relação
direta com as percepções mais simples. O desafio proposto por Hume é a prova de que exista um
pensamento que drible essa regra. Em outras palavras, não existe nada em nosso pensamento que não
seja oriundo de nossas impressões sensíveis, e caso exista nos restará encontrar a qual impressão tal
pensamento se refere. Em segundo lugar, são necessários os dados já fornecidos pela sensibilidade
para a formatação de pensamentos, ora um surdo de nascença não pode desenvolver ideias sobre os
sons assim com um cego de nascença jamais fará uma análise sobre as cores presentes em um lindo
arco-íris, desse modo, fica evidente, segundo Hume, que uma ideia só por ter acesso ao espírito
através do sentimento e da sensação real oriunda da experiência.

O exemplo da palheta de cores faltando uma tonalidade de azul é dado por Hume como
mostra de uma possível exceção a sua regra, ora, segundo o autor, é possível que uma pessoa que
nunca tenha visto esse tom de azul consiga imaginar o tom que falta e desse modo completar a

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palheta de cores, mas isso não seria o bastante para derrubar a sua doutrina. Nesse exemplo devemos
imaginar uma determinada sequência progressiva de tons de azul numa palheta de cores, caso uma
tonalidade seja retirada é possível imaginarmos que o indivíduo que percebe essa palheta pode criar a
tonalidade de azul que falta.

Hume acredita eliminar os jargões que empobrecem a metafísica e trazer a luz os conceitos
cernes dessa discussão. Para o autor, o espírito tem pouco controle sobre as percepções mais
abstratas e distantes das impressões sensíveis e acredita trazer à tona a natureza e a realidade das
Ideias. Deste ponto de vista, a tese de Hume se distancia da ideia inicial proposta por Popper, não
existe para Hume o ato de conceber uma ideia nova, mas sim o ato de reagrupar, organizar, transpor,
aumentar ou diminuir os dados já fornecidos pela experiência.

Para Hume é evidente que existe um princípio de conexão entre os diferentes tipos de
pensamentos ou ideias.

(...) “as ideias simples, compreendidas nas ideias complexas, foram ligadas por algum princípio
universal que tinha igual influência sobre os homens (Hume, 1999, p. 20).”

Existem apenas três princípios de conexão entre ideias, o princípio de semelhança, o de


contiguidade e o de causa ou efeito. Hume pretende não examinar todos os exemplos de associação
de ideias a fim de garantir seus postulados. Por outro lado, ele busca uma reflexão acerca desses
princípios e a relação que é estabelecida para com as paixões e a imaginação.

Em todas as composições geniais, segundo Hume, é preciso que se estabeleça um objeto, ou


por outras palavras, um objetivo capaz de unificar todas as argumentações em prol de um objeto
específico, responsável pelo desígnio da obra, o qual não existindo implica em um arranjo
desordenado de ideias e que por consequência pouco se distanciará das extravagâncias de um louco.

Hume então evidencia exemplos dos princípios de semelhança e contiguidade em itinerários


distintos a fim de demonstrar não só seu uso, mas assim como também sua necessidade para a
construção de sentido e unificação de uma perspectiva. Entretanto, o princípio que mais se apresenta
aos homens é o de causa ou efeito, não somente o mais presente como também o princípio mais
instrutivo, já que é através da análise de causas e efeitos que se faz possível controlar eventos e
governar o futuro.

O empirista inglês nos apresenta a unidade de ação, propícia e fundamental para qualquer
composição genial que busca o interesse durável da humanidade e não apenas devaneios a esmo que

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não produzem nada além de erros e incompreensão. A necessidade de unificação não se dá apenas
em momentos específicos dentro de nosso pensamento, a unidade de ação é o próprio elo que
interliga os pensamentos e ideias, desde o berço até o túmulo, nenhum elo pode ser quebrado sem
alterar a cadeia de eventos. A unidade de ação não se diferencia em gênero entre as diversas
composições geniais, mas sim em grau.

A simpatia entre as paixões e a imaginação é evidente quando nosso espírito passa de um


objeto a outro sem dificuldades, ou seja, quando construímos um elo entre os objetos. Em outras
palavras, a unidade de ação garante que os mais diversos objetos participem da mesma unidade e isso
se dá através de um fio conectivo entre os diferentes pensamentos e ideias.

As relações de ideias e relações de fatos são duas perspectivas evidentes de todos os objetos
da razão humana. Quanto às relações de ideias, se dizem das proposições da matemática, essas
podem ser elaboradas e demonstradas totalmente dentro das operações do próprio pensamento, deste
ponto de vista, a priori. Já os fatos não são determinados da mesma maneira que as idéias e as
proposições da matemática. Sua evidência de verdade também se distingue de forma clara das
relações de ideias. Os fatos não apresentam contradição, em outras palavras, o contrário do fato é
imaginado e da mesma forma clara e distinta pode ser apresentado ao nosso espírito. Sua contradição
não pode ser demonstrada, pois se assim fosse uma proposição falsa não poderia ser concebida
distintamente pelo espírito. Como assegurar a verdade de fatos que não estão ao alcance de nossa
memória e tão pouco de nosso testemunho atual?

Segundo Hume todos os raciocínios que se referem aos fatos se fundam na relação de causa e
efeito. Ao acreditar na realidade de um fato estamos dando a esse fato uma razão para sua realidade,
essa razão por sua vez é a causa que me faz acreditar ser verdade aquele fato, pois bem, a razão ou a
causa deste fato nada mais é do que outro fato que também é explicado pelo mesmo raciocínio. A
investigação deve proceder de maneira com que fique claro o processo pelo qual conhecemos as
causas ou os efeitos de determinados fatos, para que assim fique evidente o estatuto de realidade e
verdade desses fatos.

Como ponto de partida Hume afirma que o conhecimento da relação de causa e efeito não é
de maneira alguma pertencente do campo a priori. Essa relação nasce diretamente da experiência.
Não é possível atribuir através do conhecimento das qualidades dos objetos sensíveis suas causas ou
seus efeitos. Em outras palavras, ao observarmos um objeto estamos conhecendo suas qualidades e
atributos aparentes e não temos capacidade lógica para inferir efeitos ou causas a determinado
objeto, ora se o efeito ou a causa é sempre outro fato é possível afirmarmos que cada fato é um fato

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particular e assim sendo diferente dos demais fatos, como construir uma relação de causa e efeito
necessária de dois objetos diferentes?

Deste ponto de vista, nossa razão não pode inferir efeitos ou causas a não ser de forma a
posteriori, ou seja, na experiência podemos relacionar um objeto com sua possível causa e seus
possíveis efeitos. Parece evidente que a causa e o efeito não são descobertos pela razão e isso se deve
ao fato de sermos incapazes de conhecer aquilo que ainda não nos fora apresentado por intermédio
da sensibilidade. Em outras palavras, é a empiria que garante o conhecimento dos fatos e deste ponto
de vista, a relação de causa e efeito atribuída a um fato só nos pode ser apresentada de forma
inteiramente a posteriori. A razão última das coisas não se apresenta ao raciocínio e não podemos
afirmar a realidade de fatos que nos fogem à experiência.

Até mesmo entre os fatos mais correntes, aqueles que se apresentam de maneira natural e não
exigem estrutura complexa em suas relações, não nos é oferecido elementos capazes de abstrair a
causa e o efeito desses fatos sem se recorrer à experiência. A relação de causa e efeito supostamente
observada nesses fatos correntes é influenciada pelo que David Hume chama de costume. O costume
exerce força suficiente e é capaz de nos ludibriar quanto ao conhecimento das causas e dos efeitos,
sob essa névoa escura do costume ficamos submersos na ignorância natural que nos ronda a respeito
das causas últimas das coisas.

De modo a priori poderíamos imaginar um movimento diferente entre duas bolas de bilhar,
ou seja, ao rolar pela mesa uma bola de bilhar pode colidir com outra e ficar parada, ou sair rolando
assim como a outra bola que recebeu o impacto ou até mesmo sair voando. Deste ponto de vista não
nos é dado nenhum fator de preferência entre um possível efeito ou outro que possa vir a si
originalizar na causa. Em outras palavras, eu posso conceber diferentes efeitos quando analiso de
forma a priori a suposta causa, e assim sendo eu não possuo capacidade para afirmar a existência de
um determinado efeito antes que esse próprio efeito possa ser flagrado na experiência. “Todo efeito é
um evento diferente de sua causa4”, é o que afirma Hume, e desta perspectiva podemos em vão
buscar a inferência indutiva, em certa medida arbitrária, de algum efeito ou causa sem a ajuda da
experiência.

O esforço máximo da razão é apresentado pelo autor como a capacidade de reduzir todos os
princípios que explicariam os fatos naturais a um pequeno número de causas gerais, mediante a

4
Para Hume os “poderes particulares que realizam todas as operações naturais jamais se
revelam aos sentidos.” Hume, 1999, p. 33

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analogia, experiência e observação. Porém, nunca encontraríamos as causas gerais das causas gerais,
lembremos aqui da regressão ao infinito apresentada por Popper.

“Em resumo, como todas as outras formas de Lógica Indutiva, a


lógica da inferência provável, ou lógica da probabilidade, conduz ou a uma
regressão infinita ou a doutrina do apriorismo (Popper, 1972, p. 30).”

Nossa razão é limitada e não dá conta dos princípios últimos, ou causas últimas, nos
contentamos com o raciocínio exato e a elaboração de causas quase gerais que exprimem a relação
com uma grande quantidade de fatos no mundo.

“Quando raciocinamos a priori e consideramos um objeto ou uma


causa… independente de toda experiência, jamais poderia sugerir-nos a ideia de
um objeto distinto, como por exemplo, seu efeito, e menos ainda mostrar-nos a
inseparável e inviolável conexão entre eles (Hume, 1999, p. 30).”

Qual é o fundamento de todas as conclusões derivadas da experiência? Essa é a questão


proposta por Hume a fim de esmiuçar ainda mais o assunto aqui tratado. Segundo o autor nossas
conclusões oriundas da experiência não perpassam processos próprios de nossa razão. A natureza nos
concede atributos e um pequeno conhecimento das qualidades superficiais dos objetos, mas nos
impossibilita o conhecimento dos princípios da ação desses objetos.

Nossa ignorância nos presenteia com a presunção de, ao estarmos perante qualidades
parecidas e tais qualidades semelhantes produzirem determinados efeitos semelhantes, afirmarmos a
existência de uma regra que explique uma gama de fatos já experimentados. Pois bem, não é a
natureza dos fatos que nos fazem inferir conclusões a respeito da relação causa e efeito, por outro
lado, a experiência dá algumas informações de determinados fatos experimentados, informação essa
precisa e segura, entretanto não suficiente para a extensão da experiência a tempos futuros e ou a
fatos análogos. Não nos parece necessária a afirmação de que qualidades semelhantes são
acompanhadas de poderes ocultos semelhantes.

Segundo Hume, a elaboração de enunciados universais não pode ser inferida por meio de um
processo unicamente racional, caso fosse poderíamos reconstruir esse processo racional, ainda
segundo o autor essa elaboração de enunciados universais não advém de uma intuição e necessita de
um termo médio, se é que tal conexão seja feita através de argumentos e raciocínios.

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Diferentemente de Hume 5 , Popper acredita que a relação de causa e efeito é o fator
determinante em prol de qualquer labor científico. Essa relação por sua vez não é vista como a priori,
mas sim como inclinação de nossa razão em prol da elaboração de leis universais. A maneira como
entendemos os fatos no mundo se relacionam diretamente com a nossa capacidade de perceber
conexões entre os fatos. Essas conexões são de suma importância dentro do itinerário científico, uma
vez que são elas que nos instigam na explicação causal dos fatos, porém Popper também não afirma
que a ciência seja dotada de capacidade de prever com exatidão as relações futuras entre os objetos
da experiência.

O problema da indução em Popper também é um questionamento a respeito da validade ou


estatuto de verdade das teorias e hipóteses das ciências empíricas. Deste ponto de vista não é
aceitável afirmar que a verdade de um enunciado universal se efetiva perante os casos singulares. Em
outras palavras, nos parece claro e evidente que as conclusões de uma experiência sensível são
enunciados singulares, assim como também esses enunciados não poderão ser outros senão
singulares.

Por experiência sabemos ser verdade alguns enunciados singulares e, ao elaborar tais
enunciados, o pesquisador usaria a indução como método de desenvolvimento de enunciados
universais a partir de singulares. Contudo, Popper ilustra que nenhuma experiência sensível pode ser
fundamento suficiente para a construção de enunciados universais

“(...) independentemente de quantos cisnes brancos possamos ver isso não justifica a conclusão de
que todos os cisnes são brancos (Popper, 1972, p. 28).”

Nesse ponto, indagar se existem leis naturais sabidamente verdadeiras nos exigirá uma
configuração mais detalhada do problema da indução. Por sua vez, os defensores da lógica indutiva
acreditam que um princípio de indução é o que possibilita a ciência determinar a verdade ou a
falsidade de suas teorias.

“(...) esse princípio… determina a verdade das


teorias científicas. Eliminá-lo da ciência significaria nada
menos que privá-la do poder de decidir quanto à verdade
ou à falsidade de suas teorias. Sem ele, princípio de
indução, a ciência perderia indiscutivelmente o direito de
separar suas teorias das criações fantasiosas e arbitrarias
do espírito do poeta (Popper, 1972, p. 28).”

5
Não nos ocuparemos aqui de todos os aspectos abordados por Hume na obra “Investigação acerca do
entendimento humano”. Caberá nos preocuparmos com o fato de que o hábito e o costume de acreditar
numa crença não nos possibilitam uma demarcação dos enunciados científicos.

18
Para Popper, o princípio de indução defendido por Reichenbach6 não pode ser uma verdade
puramente lógica, uma tautologia ou, por assim dizer, um enunciado analítico. Se assim o fosse não
teríamos mais o problema da indução, já que em um enunciado analítico não infere ao sujeito
nenhuma característica que já não esteja presente na definição desse sujeito, como por exemplo, as
proposições matemáticas ou ainda de maneira áspera a proposição “toda mudança tem uma causa”.7

Deste ponto de vista é preciso que o princípio de indução seja um enunciado sintético, pois
em um enunciado sintético a sua negação não é contraditória em si mesma, mas sim logicamente
possível. Como por exemplo, o enunciado “O cavalo é branco”, é evidente que o predicado “branco”
não estava de antemão pressuposto na ideia de cavalo, na sua essência, ou por assim dizer, nada em
sua cavalidade se refere à sua cor, a não ser a ideia de que ao vermos um cavalo somos obrigados a
perceber sua tonalidade de cor, pois sem enxergarmos sua cor ele não existiria para minha visão ou
seria um cavalo invisível, já que minha visão necessariamente perceberia alguma tonalidade de cor
não só no cavalo, mas em qualquer objeto que me afete a visão.

O princípio de indução é supérfluo e nos conduz a incoerências lógicas. Mesmo que esse
princípio, aceito de forma unânime pela comunidade acadêmica, como nos informa Reichenbach,
assim o fosse, ou seja, um princípio que garantiria a verdade das hipóteses da ciência, Popper
acredita não poder configurar o processo científico de forma com que o princípio de indução seja
próprio às ciências empíricas, ou ainda, critério suficiente para a demarcação da ciência empírica.

Fato este que o autor acredita ter ficado claro na exposição sagaz e didática de David Hume, e
que para evitar que essas incoerências e que esses erros lógicos aconteçam, é necessário que o
princípio de indução seja um enunciado sintético e universal, ou seja, tarefa árdua a quem o propõe.
Dificuldade essa que remonta ao nosso primeiro problema: como desenvolver enunciados universais
a partir da verdade de enunciados singulares? Se sempre admitirmos um princípio de indução
sintético e universal para a elaboração desses enunciados universais, chegaríamos a uma regressão ao

6
Hans Reichenbach foi um filósofo da ciência alemão no início do século XX. A citação feita acima é o que
Popper diz ser a opinião de Reichenbach, desse modo, não é Popper que acredita ser o princípio de indução
capaz de definir o estatuto de verdade ou falsidade dos enunciados, mas sim os defensores da indução, que
veremos a frente serem os positivistas.

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Exemplo clássico de um enunciado analítico. Se algo se tornou o que não era, ou seja, se houve mudança,
isso implica necessariamente na existência de um motivo para tal movimento em direção aquilo que não
era.

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infinito. E isso se deve ao fato de que sempre seria necessário pressupormos um enunciado capaz de
garantir o estatuto de verdade daquilo que é dito como científico.

Popper nos alerta também para uma nova doutrina em vigência, a de que a inferência indutiva
é uma inferência provável. Em outras palavras, a indução se mostra como detentora de um grau de
confiabilidade. Segundo Reichenbach:

“O princípio de indução é o meio pelo qual a ciência decide


acerca da verdade. Mais precisamente, deveríamos dizer que ele serve para
decidir acerca da probabilidade, pois não é dado à ciência chegar à
verdade, seja a falsidade..., mas os enunciados científicos só podem atingir
graus sucessivos de probabilidade, cujos limites, superior e inferior, são a
verdade e a falsidade (Popper, 1972, p. 30).”

Parece-nos claro nesse momento que a nova doutrina da inferência indutiva como provável,
ou lógica da probabilidade, também se mostra vítima das mesmas objeções apresentados
anteriormente, já que, mesmo sendo provável, a inferência indutiva necessita de um princípio de
indução, esse princípio, como já vimos, precisa ser sintético e universal.

“Em resumo, como todas as outras formas de Lógica Indutiva, a


lógica da inferência provável, ou lógica da probabilidade, conduz ou a uma
regressão infinita ou a doutrina do apriorismo (Popper, 1972, p. 30).”

O dedutivismo de Popper, anunciado na primeira seção de sua “Lógica da Descoberta


Cientifica”, pretende a partir do que o autor chama de Teoria do método dedutivo de provas uma
nova configuração do processo científico, ou seja, para que possamos verificar uma hipótese dentro
de uma experiência fruto do labor científico é necessário estar pressuposto que essa hipótese já havia
sido formulada, em outras palavras, Popper nos assinala para a possibilidade da intuição, ou ainda,
em primeiro plano poderíamos pensar em um novo problema.

“A crença na Lógica Indutiva deve-se em grande parte a uma


confusão entre problemas psicológicos e problemas epistemológicos (Popper,
1972, p. 31).”

20
Capítulo II

A ideia nova

A eliminação do psicologismo em Popper é um movimento que merece ser destacado em sua


obra. O autor acredita que tais dificuldades encaradas por aqueles que esmiúçam esses temas se dão,
em grande medida, por enganos causados no entendimento dos problemas psicológicos. Popper
propõe uma divisão dentro daquele processo antes encarado como um único movimento. Em outras
palavras, não cabe ao registro lógico examinar a composição e o ato de conceber uma ideia. O
trabalho de conceber uma ideia é visto pelo autor fora dos limites lógicos, isto é, conceber uma ideia
é objeto da psicologia empírica e não da lógica do conhecimento. O exame lógico consiste na
justificativa de tal enunciado, assim como em sua prova e na análise de consequências que talvez o
contradiga. Esses processos lógicos podem ser aplicados a um enunciado novo, ou seja, uma ideia
nova concebida, mas nunca serão evidenciados dentro do processo de composição e intuição de uma
ideia nova.

Deste ponto de vista, o papel da lógica do conhecimento é examinar os processos de provas e


análises de seus resultados, a fim de que a ideia nova possa vir a ser levada em consideração. O
pensamento popperiano ainda nos alerta para outro problema oriundo da confusão entre esses
campos de estudo. Se por um lado alguns poderiam objetar Popper, estabelecendo como papel da
lógica do conhecimento aquela “reconstrução racional” do processo e do ato de conceber uma ideia
nova, por outro nos restaria perguntar o que seria reconstruído racionalmente. Desta forma, nos
parece claro e evidente que o processo e o ato de conceber uma ideia não poderão ser reconstruídos
racionalmente. Ora, como reconstruir o processo de estimulação e de inspiração na elaboração de
uma ideia nova?

Por outro lado, poderíamos nos referir a essa “reconstrução racional” como o processo de
análise lógico dos processos de provas de uma ideia nova, para que assim, ela perca o caráter de
inspiração e se mostre como uma descoberta e em certa medida possa ser encarada como
conhecimento. O processo de reconstrução é, portanto, uma ferramenta lógica usada na justificação,
comprovação ou rejeição de uma ideia, mas nunca uma análise do processo e do ato de conceber
uma ideia nova.

“Contudo, talvez seja isso o que pretendem dizer aqueles que falam de uma
“reconstrução racional” das maneiras pelas quais adquirimos conhecimento (Popper,
1972, p. 32)”.

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Mesmo concordando com Hume a respeito da impossibilidade da justificação lógica da
indução, Popper acredita não ser suficiente a explicação psicológica oferecida por Hume a cerca da
Indução, até onde sabemos fruto do hábito e do costume. O austríaco nos introduz uma nova
possibilidade de interpretação do próprio processo científico e, por conseguinte, elucida aspectos e
argumentos em prol de uma própria interpretação da maneira de conhecer e acessar a realidade.

Para entendermos a maneira e as vias utilizadas por Popper para superar algumas propostas
de Hume, será necessária uma breve relação com alguns argumentos contra o próprio Hume contidos
na obra publicada por Popper, em 1963, intitulada “Conjecturas e Refutações”. E a partir desses
aspectos poderemos obter uma melhor compreensão da intuição conjectural instigada pelo autor em
sua principal obra “A Lógica da Pesquisa Científica”.

“... não existe um método lógico de conceber ideias novas ou de reconstruir logicamente esse
processo (Popper, 1972, p. 32).”

Dentro da perspectiva de Hume o hábito e o costume justificam a crença em determinadas


leis de casualidade. Popper nos apresenta essa noção como a crença em leis assertivas, que predizem
fatos futuros a partir de uma repetição de eventos observados. As leis assertivas não são como leis
universais, são hipóteses elaboradas através de uma conjectura de fatos singulares que afetam a cada
sujeito de conhecimento de uma maneira específica. Essas hipóteses devem ser entendidas dentro de
um determinado registro subjetivo de similaridade capaz de unificá-las a tal modo que o sujeito
acredita possuir a tese de todos os eventos envolvidos nessa conjectura.

O sujeito observa um cisne e percebe que esse cisne lhe aparece branco, logo em seguida o
sujeito observa outro cisne e percebe que também se mostra branco, tempos mais tarde o sujeito
observa mais um cisne e percebe que se trata de mais um cisne branco. Para Hume essas situações
repetidas criam o hábito e o costume no sujeito de acreditar que todos os cisnes são brancos, ou
ainda, que nunca existiu um cisne que não fosse branco. Entretanto Popper salienta que nada me
garante a afirmação de que todos os cisnes são brancos, ou até mesmo que foram brancos.

Ainda poderíamos admitir que o que me faz confiar na assertiva de que só existem cisnes
brancos não é o fato de eu sempre ter observado cisnes brancos, mas sim a busca incessante pelo fato
negativo, ou seja, a procura pelo caso capaz de contradizer a afirmativa. A assertiva condizer com a
realidade significa que a afirmação contida nela não se dá na medida em que confirma a hipótese (a
de que todos os cisnes são brancos), mas sim na medida em que é a negação do seu contraditório, ou
ainda, até o presente momento não observamos cisnes que não fossem brancos.

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Nesse momento podemos retomar o conceito fundamental de Karl Popper, a falseabilidade.
Como foi dito anteriormente, quando afirmo algo referente à realidade, o que me garante confiar no
que digo não é o fato de se tratar de uma verdade, ou a correspondência direta com o objeto do
enunciado no mundo externo, mas sim a incapacidade, ainda que momentânea, de contradizer o que
afirmo.

Ainda para Popper, a tese de Hume é corroborada pela idéia de repetição e semelhança.

“água mole em pedra dura tanto bate até que fura”

O velho ditado tem por base a idéia de que eventos semelhantes, se repetidos inúmeras vezes,
causam o fato esperado de forma lenta e gradual. Um evento de determinada natureza se relaciona
com outro evento de outra determinada natureza, quando observamos esses fatos estabelecemos uma
relação entre essas naturezas e o que surge dessa união. Imaginar uma lei, ou acreditar numa
assertiva causal, segundo Hume, passa obrigatoriamente pela necessidade humana de imaginar uma
relação causal entre esses eventos de naturezas distintas, assim como a lei construída para um fato
específico se transformar em parâmetro para mensurar a relação entre eventos de naturezas ainda
mais distintas. Como exemplo, podemos mobilizar o evento solar, diante de tantas repetições entre o
nascer e o pôr-do-sol criamos no mais íntimo de nosso intelecto a ligeira convicção de que o sol
sempre nascerá.

Entretanto, não é isso o que podemos observar de fato dentro da perspectiva popperiana. De
fato, Popper não acredita serem necessárias tantas repetições e tantas convicções observacionais para
se criar a expectativa em uma determinada lei de causalidade. Uma única observação é suficiente
para criar a crença numa lei, deste ponto de vista, nos parece muito mais complexa e intrigante a
origem de uma crença em uma determinada lei de causalidade.

É possível experimentar casos semelhantes, como por exemplo, o sujeito que queima as
próprias mãos ao se aproximar de uma grande fonte de calor, uma fogueira, e que ao se deparar com
uma situação intuitivamente semelhante elabora em suas reflexões intelectuais a lei de que, encostar
as mãos próximas ao fogo de uma fogueira causa dor e ferimentos, além da sensação de muito calor,
é claro.

A linha que separa o aspecto psicológico da indução em Hume e o aspecto filosófico da


intuição em Popper é tênue e limiar. Tênue porque se mostra frágil e levemente diferente da tese
humeana, e limiar na medida em que é necessário percorrer o mesmo caminho traçado por Hume,
mas em vez de acompanharmos o seu raciocínio até o mais inefável de sua argumentação, damos um

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passo atrás, mergulhamos no mais íntimo de nós mesmos e percebemos que há uma maneira de
construir leis de causalidade, porém sem se escorar no fator psicológico do hábito e do costume.

Apesar de partir do senso comum e ser bastante popular, a teoria psicológica do hábito e do
costume de Hume não parece satisfazer nenhum um pouco o aguçado argumento de Popper.

Para Popper a grande contradição do método indutivo pode ser entendida de forma clara e
precisa. Se uma lei é sempre transcendente em relação à experiência, o critério que aceita uma lei
não pode ser a própria experiência e a observação. Por outro lado, a refutabilidade de uma lei está
diretamente ligada aos fatos empíricos que podem contradizer a sua teoria.

Tanto o hábito quanto o costume poderiam ser identificados como resultado de uma
determinada repetição de eventos rotineiros. Temos a expectativa de que o sol sempre virá pela
manhã e repousará ao fim da tarde, poderíamos afirmar que a repetição de tal evento me levou a crer
na máxima que de o sol sempre nascerá. O fato de que o sol sempre nasceu não me autoriza
logicamente afirmar que ele sempre nascerá e quanto a isso não nos parece restar dúvidas.

Por outro lado, o que nos parece resultar de uma determinada repetição de eventos não é a
regra na qual acreditamos expressar a relação entre determinados eventos distintos, mas sim uma
enumeração de casos passados que possuem determinadas características e aspectos em comum.

Até mesmo atos primordiais como andar e falar não se originam no costume ou no hábito,
eles se originam mesmo antes da repetição exercer o seu papel. Uma criança, por exemplo, não vai
aprendendo o som de cada letra e depois de muita repetição consegue emitir uma palavra inteira.
Antes disso, ela tenta imitar os sons que ouve e diz aquilo que acredita corresponder com sua
intenção, deste ponto de vista a intuição conjectural parece exercer um papel fundamental nesse tipo
de conhecimento primordial.

Apelar para o hábito ou o costume é negar a multiplicidade de pontos de vista possíveis


frente a vários eventos parecidos, porém nunca idênticos, uma vez que, mesmo antes do evento, o
próprio indivíduo pode ser outro. Ou ainda, o próprio ponto de vista pode não ser mera repetição.

Popper também tenta nos mostrar que a própria noção de semelhança é problemática. Como
já afirmamos anteriormente, nenhum evento parece ser exatamente igual a outro evento, o que
poderíamos dizer é que a própria idéia de repetição é uma criação humana. Do ponto de vista lógico
deverá ser sempre observado a perspectiva em questão, seus conhecimentos prévios, suas
expectativas e seu próprio arranjo intelectual.

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Não é possível identificarmos a semelhança como causadora da repetição, a semelhança não
é capaz de criar uma repetição entre eventos, uma vez que esses eventos não são iguais entre si, o
próprio interesse de quem os observa varia e pode definir totalmente a própria ideia de semelhança.

A partir disso é possível elaborar um novo problema a teoria de Hume; O problema de


reconhecer e interpretar um evento como repetição de outro evento.

Quando observamos e chegamos à conclusão de que um evento é uma repetição de outro


anterior, já estamos percebendo esse evento dentro de uma expectativa muito clara. Explicamos
aquilo que queremos explicar da maneira que nos for mais cabível, vemos semelhanças naqueles
eventos que queremos que sejam semelhantes. Não são os eventos que possuem similaridade, somos
nós, seres ativos que construímos a ideia de semelhança, inventamos uma lei de causalidade e
corremos o risco de sermos desmascarados por um simples fato no mundo da experiência que nos
contradiga.

O fato psicológico envolvido na origem de uma crença deve ser entendido dentro de um
registro interpretativo. Não existem eventos semelhantes. Existem eventos que afetam nossa
percepção e que interpretamos serem semelhantes. Sendo desse modo, o jogo da indução nos leva a
uma regressão ao infinito novamente, mas agora no campo da crença de que existem leis oriundas
em repetições, ou seja, não é possível explicar um evento se remetendo a uma repetição de eventos
que serão explicados por outra repetição de eventos e assim por diante. Não nos parece plausível,
então, sustentar a ideia de uma indução psicológica a partir da ideia de costume e de hábito.

“A questão de saber como


uma ideia nova ocorre ao homem – trata-se de um tema musical, de um
conflito dramático ou de uma teoria científica- pode revestir-se de grande
interesse para a psicologia empírica, mas não interessa à análise lógica do
conhecimento (Popper, 1972, p. 32).”

Para o filósofo austríaco parece possível entendermos o processo de conhecimento nos


mesmos moldes do processo de composição musical. A noção de arranjo8 se apresenta como chave
essencial para compreendermos de que maneira Popper pretende abordar a epistemologia dentro de
sua argumentação. O processo de conhecimento então é metaforizado pelo processo de composição
de um tema musical.

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Para Popper existe algo de novo na maneira como o cientista aborda todo conhecimento por ele
pressuposto. A novidade é encontrada na possibilidade de arranjo, ou seja, uma conjectura.

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Segundo Popper a repetição de um determinado trecho de Bach ao piano tem como resultado
o aprimoramento técnico e não o hábito ou o costume. O que antes exigia atenção agora era
executado com maestria, autonomia e naturalidade, outrora fora consciente o que após o
aprimoramento se tornou fisiológico. O que se criou não foi uma crença em uma determinada lei,
pelo contrário, a repetição extingue a necessidade de uma regra.

No ato da composição de um tema musical é necessário ter em mente o próprio pano de


fundo onde tudo acontecerá, a análise e percepção estética têm fundamental importância para que
antigas regras sejam quebradas e que novas apareçam, sem a alcunha de regra, mas sim como um
arranjo.

A título de curiosidade, para Popper toda obra de arte significativa não é meramente
expressão do próprio comportamento humano, para o autor além da mera expressão da personalidade
humana, um compositor deve possuir habilidades ainda mais arrojadas, como a imaginação, criação,
gosto, dedicação e, é claro, aprimoramento técnico e teórico constante.

Deste ponto de vista iremos partir da premissa popperiana de que uma obra genial não é mera
expressão da personalidade humana, ainda em outras palavras, o criador de uma peça musical não
possui a mera capacidade de se expressar por meio de notas, pausas e células rítmicas, mas antes
disso, ele possui aspectos e conteúdos que o possibilitam uma criação espontânea, genial e
transcendental através de um arranjo que trará em seu núcleo aspectos pessoais e peculiares do
compositor.

O ideal de música para Popper pode ser observado em Bach. A música objetiva, como diria o
filósofo, é recheada de especulações técnicas, uma seqüência esmagadora de problemas e soluções,
sendo apresentadas sob efeito cascata, as notas vão se sobrepondo e se resolvendo, tudo parece se
encaixar. A intenção de Bach não é transmitir o seu aspecto individual, sua própria natureza humana,
antes disso ele permite que a própria música seja a regra, desta forma permitindo que o
conhecimento aconteça no registro da objetividade. Esse aspecto objetivo é evidenciado também
dentro do processo da ciência empírica, adiante falaremos a respeito da ideia nova genial, aquela que
não é mera expressão de uma interpretação humana, mas antes expressão da própria realidade através
de um sujeito capaz de acompanhar o constante devir9 da realidade.

9
Estamos novamente nos referindo à intuição criadora de Bergson, aqui vista como método capaz de
acompanhar a duração enquanto realidade última.

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O parâmetro para a composição de um arranjo é acima de tudo instigado pela capacidade de
imaginação, criação e senso estético apurado de seu compositor, sua capacidade de especular o maior
número possível de possibilidades musicais o torna um arranjador capaz de introduzir novos pontos,
novas conjecturas, uma vez que é o próprio compositor que intui a sua própria música. Podemos
perceber algo interessante na seguinte situação: um compositor tem a sua frente um piano, um
pedaço de papel e uma caneta. Uma simples variação na formação dos acordes pode determinar o
pano de fundo de sua obra, uma textura mais melancólica pode ser observada em acordes de tons
menores e uma textura mais afirmativa em acordes de tons maiores. É ainda pertinente notarmos que
o que acabamos de discorrer não é uma regra, um dogma. Tons menores também podem criar um
arranjo mais alegre. Porém, num nível de intuição pouco elevado é um primeiro contado com a
abstrata substância musical, que transforma sentimentos em notas. Ou seriam notas em sentimentos?

Um arranjo ordenando o caos, tudo parece seguir para um mesmo caminho. Um arranjo
genial é aquele que se configura como uma teia, cada ponto possui o seu lugar e os caminhos
escolhidos para juntar os pontos pelo compositor é que irá determinar o seu grau de confiabilidade e
originalidade. A ideia nova de Bach se resolve por ela mesma, o aspecto humano e pessoal do tema
se dá na medida em que uma técnica específica se apropria do espírito do compositor, técnica essa
adquirida através das habilidades antes já destacadas como a imaginação, dedicação, conhecimento
teórico e até o virtuosismo.

O exemplo do tema musical nos serve apenas como uma alegoria que pretende facilitar a
compreensão do itinerário popperiano à acerca da possibilidade de “produzirmos” um determinado
conhecimento intuitivo novo.

O que Popper nos propõe é recusar radicalmente a ideia de que somos afetados pela
semelhança dos eventos, e por outro lado, aceitar a ideia de que somos nós, através de conjecturas e
refutações que inventamos a própria ideia de semelhança para, a partir disso, escolher os casos em
que essa mesma ideia de semelhança se diria condizente, correndo sempre o risco de um caso não
previsto por essa mesma idéia de semelhança nos contradizer.

Toda e qualquer teoria, ou por assim dizer, todo conjunto de argumentos em prol de uma tese
necessita e pressupõe uma criação intuitiva de um plano geral, um quadro panorâmico que mostra
em seu horizonte todos os possíveis casos abarcados pelas conseqüências diretas da teoria

Nesse ponto podemos pensar o processo de criação de uma ideia nova como uma conexão
intelectual entre; imagens, memórias, pensamentos, raciocínios e outras faculdades mentais. Ao

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imaginar esse arranjo intelectual é possível perceber a existência de pontos ou argumentos que
necessitam de uma ligação, a genialidade e por assim dizer a originalidade de uma teoria ou de um
arranjo intelectual se dá na medida em que esses pontos são ligados a partir de uma cadeia de
conseqüências dedutíveis do próprio arranjo inicial.

O sujeito já traz consigo todos os elementos que irá utilizar em sua teoria, diremos que sua
bagagem intelectual é pedra fundamental na formação de seu arranjo inicial, ou seja, não é a partir de
fatos singulares que chegamos a hipóteses, mas pelo contrário, é a partir de uma hipótese que
aglomeramos todos os fatos singulares dedutíveis dessa hipótese inicial, toda hipótese científica deve
correr o risco de ser falseada e possuir o caráter proibitivo e não prescritivo.

“Essa conclusão acerca da falsidade de enunciados universais é a única espécie de inferência


estritamente dedutiva, e por assim dizer, em direção indutiva (Popper, 1972, p. 43)”.

Quando um fato na experiência se mostra contraditório dentro de alguma teoria científica e


após testes e observações levantamos a necessidade de rever a teoria, é possível percebemos uma
espécie de indução ocorrendo, ou seja, a partir de fatos singulares refutamos, dentro dos caminhos da
indução, enunciados universais.

Mas outro problema nos surge. Se a indução só ocorre no caminho negativo, ou seja, a
verdade contida em enunciados singulares é capaz de refutar um enunciado universal, porém nunca
confirmar sua veracidade. Como elaboramos um enunciado universal?

“Toda descoberta encerra um elemento irracional ou uma intuição criadora, no sentido de Bergson
(Popper, 1972, p. 32)”.

Parece-nos que o que caracteriza uma ideia nova genial é justamente o seu caráter irracional,
ora, mas como dizer sobre aquilo que não se pensa? Como pensar o impensável? Diriam os
positivistas. Nas palavras de Popper traduzir no racional aquilo que encerra o irracional, não em
totalidade, mas sim em determinados pontos de uma mesma interseção é o que garante a construção
de um arranjo novo. O ineditismo de um arranjo não é visado em sua totalidade, todavia, o que torna
uma proposta de arranjo genial é a sua capacidade de construir novas ligações entre antigos pontos,
se fazendo assim uma passagem entre aquilo que se sabia e aquilo que até então era inefável.

Mas o que realmente somos capazes de descobrir? Seríamos capazes de trazer à luz um
pensamento novo, uma ideia nova?

Ora, aquilo que o cientista desconhece não será incluído em suas conjecturas e deduções, por
conseguinte é o próprio desconhecido e irracional que assombra sua tese.

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Apesar de grande valia para o itinerário intelectual da humanidade, mensurar os objetos
dentro da noção de eventos singulares não nos diz muita coisa quando se faz necessário um tipo de
conhecimento mais amplo e pretensioso. De alguma forma é possível encontrar no diálogo proposto
por Popper uma relação estreita entre a elaboração de uma idéia nova e a maneira como conhecemos
o mundo a nossa volta.

Nossa inteligência se molda à medida que manuseamos, transformamos, mensuramos e


percebemos os objetos da experiência, nossa consciência captura o que é possível do objeto e por
esse motivo o captura estático, preso a determinadas características que hora nos afetam os sentidos,
hora não.

Na época em que escreveu sua “Lógica da Pesquisa Científica”, Popper se encontrava


espantado com a Teoria Gravitacional de Einstein, o físico havia proposto algo inédito, em certa
medida, e que exigia mensurações absurdas para se comprovarem. Ninguém na época poderia
acreditar piamente nas verdades obtidas nas teorias de Einstein.

Em “Conjecturas e Refutações” de 1963 Popper nos mostra seu estranhamento frente à Teoria
de Einstein, o arranjo intelectual elaborado pelo físico não se mostrava como evidente na época em
que foi publicado e ainda não teve seu alcance intelectual de fato atualizado até os dias atuais. O
objeto de pesquisa de Einstein não se limita ao mundo sensorial a nossa volta, seu itinerário
epistemológico é pretensioso e parece não comportar toda experiência possível.

A iminência de seu contraditório é um de seus aspectos mais emblemáticos, à medida que


experimentos contemporâneos corroboram as teorias de Einstein, se desperta também a vontade de
conhecer o seu contraditório e surgindo assim especulações a cerca de suas contradições. As
verdades contidas nas teorias de Einstein andam no limiar entre o absoluto e o fantasma do
desconhecido, do irracional. Dizemos por essas palavras na medida em o que saiu da mente Albert
Einstein caminha por uma lâmina rodeada pela áurea da verdade, da certeza e pelas duras rochas da
mentira, do impensável e do inefável não ser.

Segundo Einstein é necessário uma espécie de inclinação perpétua para com os objetos da
experiência ou mundo da experiência, afim de que através dessas observações e desse “amor
intelectual” obter um quadro geral, o que o físico chamaria de uma imagem do universo. O amor
intelectual proposto pelo Físico pode então ser entendido como uma das chaves da intuição
conjectural.

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Para Popper o caso de Einstein é relevante dentro desse discurso. O que o físico propõe é
uma visão totalmente diferente do universo observável e parece fugir da regra indutivista. Antes de
observar os casos que corroboram sua teoria o físico é despertado por seu próprio intelecto e intui o
universo que irá expressar. É a partir dessa intuição conjectural que a decisão de como ligar os
pontos vem à tona. E é justamente essa característica que torna a ciência empírica confiável, ela parte
de uma hipótese e tece uma teia de desdobramentos dedutíveis dessa mesma hipótese, e desse modo
ela possibilita a correção, a inovação e não corre o risco de ficar obsoleta.

O que o cientista acredita é ter conhecido a substância de seu objeto de estudo a tal ponto que
seria possível desdobrar todas as possibilidades desse objeto. Entretanto sua teoria será derrubada
pelo primeiro ponto de vista observável que discorde de seus desdobramentos anteriores, isso só é
possível porque a indução não existe de maneira positiva e o que faz a ciência caminhar é seu
aspecto intuitivo, a pretensão de conhecer a substância dotada de matéria e energia dos multiversos.

“... as descobertas científicas não poderiam ser feitas sem fé em


idéias de cunho puramente especulativas e por vezes, assaz nebulosas, fé
que, sob o ponto de vista científico, é completamente destituída de base e,
em tal medida, é metafísica (Popper, 1972, p. 40).”

30
Capítulo III

Os enunciados

. Considerando a crítica elaborada por Popper ao processo de indução e evidenciando


o caráter intuitivo assumido pelo autor acerca da inspiração para a composição de um conhecimento
científico, tentaremos mobilizar alguns aspectos presentes nas obras de Popper que nos possibilite
uma melhor caracterização do que hoje chamamos ciência, e mais especificamente, ciência empírica.

É claro que não podemos assumir como pressuposto, uma mera tentativa de resolver o
problema da demarcação. Cabe aqui registrar que o fator que caracteriza a ciência empírica não se
limita a possibilidade da experiência. Como seres ativos que construímos nossas próprias
conjecturas, somos nós que definimos o nível e em qual medida uma determinada experiência me
afetará a consciência, aquilo que no futuro poderá vir a compor uma ideia nova.

Ao longo do terceiro capítulo da “Lógica da Pesquisa Científica”, Popper nos expõe outra
reflexão acerca do problema da indução, segundo o autor, a indução não seria capaz de elaborar
teorias, enunciados estritamente universais, mas sim enunciados numericamente universais. Para o
autor essa segunda classe de enunciados nada mais é do que um grande número de enunciados
singulares, que ao serem reunidos nomeiam um determinado grupo de enunciados singulares. É
importante salientar que essa distinção é apresentada em referência aos enunciados sintéticos, ou
seja, uma diferença entre o conjunto de proposições que descrevem os fatos, e que por este motivo
não podem ter seu contraditório observado na realidade, e o conjunto de proposições que afirmam
algo a mais do que a simples descrição dos fatos na realidade, contudo possuindo sua negação
passível de existência na realidade observável. Popper nos dá exemplos a fim de elucidar a distinção
entre o que ele chamou de enunciado estritamente universal e enunciado numericamente universal:

“Compara-se, por exemplo, a) é verdade, acerca de todos os


osciladores harmônicos que sua energia nunca desce abaixo de certo nível
mínimo (a saber, h v / 2); b) é verdade, acerca de todos os seres humanos,
que habitam atualmente a Terra, que eles nunca ultrapassam certa altura
máxima (digamos 2,50m) (Popper, 1972, p. 38).”

Segundo Popper, a lógica formal entende os dois enunciados como implicações formais ou
gerais, dessa forma, podendo ser entendidos como enunciados universais. Contudo, o autor nos alerta
que o primeiro enunciado pretende ser verdadeiro em qualquer região do espaço-tempo, já o segundo
se refere a uma determinada região no espaço-tempo, se mostrando assim como uma classe de
enunciados singulares.

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O segundo caso de enunciado também pode ser convertido para uma série de enunciados
singulares que correspondem a cada caso abarcado por essa classe, ou seja, não podemos entender
enunciados dessa espécie como universais, uma vez que são passíveis de serem transformados em
uma lista de enunciados singulares. Isso não ocorre no primeiro exemplo de enunciado, até onde
sabemos, os osciladores harmônicos existem em qualquer região do espaço-tempo, e não se referem
a casos que possam ser listados ou classificados um a um. Os osciladores harmônicos se referem à
descrição do movimento relativo ao um corpo, onde sua posição em determinada fatia do tempo se
refere a uma determinada região do espaço, numa espécie de ponto mínimo e ponto máximo, no qual
o corpo percorre, em função de uma energia cinética, uma linha entre o ponto mínimo e o ponto
máximo oscilando entre um e outro, um constante movimento de vai e volta. Essa pode ser a
descrição de uma simples partícula, por exemplo.

É justamente contra essa posição que o autor colocar-se-ia quando critica de forma veemente
aqueles que afirmam que todos os enunciados genuínos devam ser reduzíveis a enunciados simples
que descrevem fatos concebidos através da observação e da experiência. Pois se não for possível
dizer enunciados que não se relacionam estritamente com a experiência e com a observação, os
próprios enunciados científicos estariam ameaçados.

“As expressões “sem sentido” ou “absurdo” traduzem e pretendem


traduzir uma posição depreciativa; e não há dúvida de que o que os
positivistas realmente desejam não é tanto uma bem sucedida demarcação,
mas a derrubada total e a aniquilação da Metafísica (Popper, 1972, p. 36).”

Para Popper os positivistas preocupados em afirmar que as teorias científicas diziam acerca
estritamente de fatos observados e experimentados através da realidade sensorial, na esperança de
limitar a metafísica a questões sem sentido, ou ao menos a questões que não se relacionam de
maneira estrita com a realidade sensível, eles, os positivistas, limitavam os próprios enunciados
propostos pela ciência empírica. Ou ainda em outras palavras, ao afirmarem que os enunciados
significativos são reduzíveis à verdade de enunciados singulares, estavam também afirmando que os
enunciados da ciência empírica não são significativos e que são, dessa forma, desprovidos de
sentido.

O problema do qual não poderemos nos desvencilhar é a interpretação do “Tractatus Logico-


Philosophicus” de Wittgenstein presente na argumentação de Popper, tanto em “Lógica da
Descoberta Científica”, quanto em “Conjecturas e Refutações”. Segundo o “Tractatus” toda
proposição significativa deve ser reduzível a uma proposição elementar, ou seja, todo enunciado
significativo pode ser reduzido a um enunciado singular que descreve um fato específico da

32
realidade. A partir dessa interpretação, de uma das proposições do “Tractatus”, Popper acredita
identificar a proposta de Wittgenstein com o método indutivo defendido pelos positivistas.

“Wittgenstein, como todos sabem, procurou demonstrar, em seu


Tractatus (vide, por exemplo, as proposições 6.53; 6.54 e 5), que as
proposições filosóficas ou metafísicas, como são chamadas, são na
verdade falsas proposições, ou pseudoproposições, sem sentido ou
significado. Toda proposição genuína (ou significativa) deve ser função da
verdade de proposição elementar ou atomística, que descreva fatos
atômicos, isto é, fatos que em principio podem ser verificados pela
observação (Popper, 1963, p. 7 ).”

Podemos também citar duas das proposições do Tractatus mencionadas por Popper:

“Uma proposição é uma função de verdade de uma proposição elementar (Wittgenstein, 1968, p. 89).”

“O método correto em filosofia seria realmente o seguinte: dizer nada, exceto o que pode ser dito, ou
seja, as proposições da ciência natural... (Wittgenstein, 1968, p. 129).”

O que Popper nos propõe é uma identificação entre aquilo que Wittgenstein chama de
afigurações da realidade e o que podemos encarar como princípio de indução. Ou seja, se para
Wittgenstein toda proposição significativa deve ser reduzível a uma proposição elementar, essa
configuração se aplicaria também ao entendimento dos defensores do princípio de indução, onde um
enunciado universal deve ser reduzível a um enunciado singular.

O argumento de Wittgenstein parece ser mobilizado a fim de construir uma tentativa de


contraposição entre as ideias de Popper e os argumentos defendidos pelos positivistas.

Na tentativa de limitar a metafísica os positivistas acabam por limitar também a ciência


empírica. Ora, a ciência empírica não nos diz acerca de fatos singulares da realidade; sua maior
ambição, pelo contrário, é dizer acerca daquelas “verdades eternas”. Deste ponto de vista, podemos
afirmar que o problema da linguagem detectado por Wittgenstein não interfere na tarefa básica da
epistemologia, demarcar a ciência empírica em relação à metafísica. Portanto, a diferença primordial
entre esses dois campos do saber não concerne ao que eles dizem.

“Isso mostra que o critério indutivista de demarcação falha no traçar


uma linha divisória entre sistemas científicos e metafísicos e porque esse
critério deve atribuir a ambos o status igual; com efeito, o veredito
decorrente do dogma positivista relativo ao significado é o de que ambos
são sistemas de pseudo-enunciados, destituídos de sentido. Assim, em vez
de afastar a Metafísica das ciências empíricas, os positivistas levam à
invasão do reino cientifico, pela Metafísica (Popper, 1972, p. 38).”

33
É preciso problematizar este movimento argumentativo na obra de Popper, pois não nos
parece possível afirmar que uma proposição elementar 10 se identifica com a noção de enunciado
singular. O que estamos chamando aqui de enunciado singular se identifica com a descrição de um
fato da experiência, ou ainda, uma tradução em símbolos, uma afiguração da realidade. Sendo assim,
não podemos admitir que se diga o mesmo acerca das proposições elementares. As proposições
elementares não se comportam como descrições da realidade, na verdade será necessária uma breve
discussão acerca do que Popper entende por proposições elementares.

O problema destacado por Popper em relação à proposta de Wittgenstein é que, ao se tentar


aniquilar a metafísica como um conjunto de pseudo-enunciados, se aniquila também a ciência
empírica, pois é nítido que os axiomas aceitos na física contemporânea não se enquadram na redução
às proposições elementares, ou ainda, a enunciados singulares. Tanto na ciência empírica, quanto na
metafísica, os enunciados universais não são reduzíveis a enunciados singulares. Portanto, ambas
dizem acerca do que não poderia ser dito.

Para Popper as leis naturais não teriam sentido dentro do critério de significação de
Wittgenstein. Assim como as especulações metafísicas, o trabalho do físico seria esvaziado como
uma pseudociência, ou seja, desprovido de sentido e significado, uma vez que seus enunciados gerais
não poderiam ser remetidos a enunciados singulares.

O possível engano popperiano pode estar contido na interpretação daquilo que entendemos
por “proposição elementar”.

Segundo Asncombe em seu comentário intitulado: “An introctution to


Wittgenstein’sTractatus”, a perspectiva apresentada por Popper a respeito do “Tractatus” não leva em
consideração a teoria imagética da linguagem proposta por Wittgenstein. Para a comentadora, Popper
está inserido num registro onde a observação ganha um destaque considerável, ao contrário do
contexto presente no “Tractatus”. Para Asncombe as proposições elementares não podem ser
identificadas como declarações simples de observações de fato. Deste ponto de vista, as proposições
elementares não podem ser identificadas como descrições de observações, mas sim como
declarações de dados do sentido.

A autora ainda relata cinco teses que, segundo ela, conduziriam a noção de proposição
elementar ao longo do Tractatus. Proposições elementares formam uma classe de proposições

10
Aqui não se trata de uma proposição elementar num sentido comum, mas sim de objetos lógicos sendo
mobilizados no espaço lógico.

34
mutuamente independentes, essencialmente positivas, uma proposição elementar não possui dois
modos de ser, verdadeira ou falsa, uma proposição elementar possui um modo apenas de ser, nelas
mesmas não existe distinção entre negação externa e interna e são concatenações de nomes, simples
sinais.

“Quanto às razões para sustentar que existem tais proposições


como estas, sabemos pelo menos que, de acordo com o Tractatus, elas são
"puramente lógicas". Sobre estes fundamentos puramente lógicos, direi
apenas aqui que o principal é este: podemos tirar conclusões de uma falsa
proposição (Anscombe, 1959, p.31).”

Acompanhado o argumento de Asncombe, podemos perceber que não existe suporte


suficiente capaz de conter a identificação entre proposições elementares e enunciados simples da
observação. Em primeiro lugar porque o próprio Wittgenstein não nos autoriza identificar, nem
mesmo, um nome afirmado a alguém que conheça sua referência como uma proposição elementar, e
porque proposições elementares não podem ser tautológicas e nem contraditórias, desse modo uma
descrição elementar não afirmaria algo do tipo “este é um remendo vermelho”, justamente na medida
em que uma proposição elementar não pressupõe a observação de um fato específico. Portanto,
podemos concluir que a epistemologia não é objeto da reflexão de Wittgenstein, a partir disso a
tentativa de identificar a proposta positivista de demarcação da ciência empírica com a proposta de
significação contida no “Tractatus” não se mostra frutífera.

Ao dizer que uma proposição significativa se remete a um “fato elementar”, não estamos
dizendo que esta mesma proposição pode ser identificada numa proposição singular, estamos
dizendo que essa proposição descreve um “estado de coisas” ou “estados de coisas”. Vale também
ressaltar que Wittgenstein não se refere ao “estado de coisas” como algo passível de descrição e da
linguagem, em suma seu argumento baliza as formas lógicas dos objetos lógicos dentro do espaço
lógico, assim como todos os possíveis arranjos desses objetos lógicos. Assim sendo, antes da
experiência.

Segundo Luis Henrique Lopes dos Santos o conteúdo do “Tractatus” percorre um itinerário
semelhante aquele proposto pro Kant:

“No Tractatus, a crítica à ilusão metafísica trilha, pois, caminhos


análogos aos trilhados pela crítica kantiana. A filosofia define-se como
conhecimento da estrutura essencial do mundo e de seus fundamentos
absolutos. A crítica lógica da filosofia revela que o mundo tem estrutura
essencial e tem fundamentos absolutos, mas que estes são, por princípio,
inacessíveis à representação proposicional (Wittgenstein, 2001, p. 110.).”

35
Parece-nos possível afirmar que a proposta de Wittgenstein não possui identificação com o
critério de demarcação proposto pelos positivistas. Contudo, ao criticar as proposições de
Wittgenstein, Popper nos oferece mais argumentos contrários àqueles que defendem uma derivação
dos enunciados da ciência a partir de enunciados que descrevem fatos singulares passíveis de
observação. O critério de demarcação proposto por Popper busca superar o problema da indução e se
distingue do critério de significação.

A partir da discussão acima, assumimos o pressuposto de que Karl Popper nos deixou algo de
relevante dentro de uma discussão há muito concebida; uma teoria científica só pode ser
absolutamente aceita em sentido negativo, ou seja, o método mais eficaz na busca de evidências
acerca daquilo que chamamos realidade, a indução, me permite falsear uma lei mais geral, contudo,
esse mesmo processo nunca me permite afirmar com absoluta certeza qualquer teoria mais geral ou
até mesmo científica.

“Enquanto uma teoria resiste aos testes mais rigorosos que podemos
conceber, ela é aceita; quando isso deixa de acontecer, ela é rejeitada. Mas
a verdade é que as teorias nunca são inferidas diretamente da evidência
empírica. Não há nem uma indução psicológica nem uma indução lógica.
Só a falsidade de uma teoria pode ser inferida da evidência empírica,
inferência que é puramente dedutiva. Hume demonstrou que não é possível
inferir uma teoria de afirmativas derivadas da observação; mas isso não
afeta a possibilidade de refutar uma teoria por meio de afirmativas desse
tipo. É o pleno reconhecimento dessa possibilidade que torna
perfeitamente clara a relação entre as teorias e as observações (Popper,
1994, p. 23.).”
“Essa conclusão acerca da falsidade de enunciados universais é a
única espécie de inferência estritamente dedutiva, e por assim dizer, em
direção indutiva (Popper, 1972, p. 43).”

Segundo Popper o que caracteriza a ciência empírica frente a outras formas de conhecimento
é o seu grau de falseabilidade. Diante de um enunciado da ciência empírica podemos conceber
também a classe de enunciados que potencialmente falseariam o enunciado científico. Em outras
palavras, um enunciado científico possui em seu horizonte lógico, enunciados singulares que
afirmam justamente o que é proibido por ele.

Quando um fato na experiência se mostra contraditório dentro de alguma teoria científica e


após testes e observações levantamos a necessidade de rever a teoria, é possível percebermos uma
espécie de indução ocorrendo, ou seja, a partir de fatos singulares refutamos, dentro dos caminhos da
indução, enunciados universais. Desse modo, quando observamos e experimentamos um fato
singular no mundo que contradiz um enunciado qualquer de alguma teoria, e através da observação e
experiência de outros fatos que também contradizem esse determinado enunciado, podemos chegar à

36
conclusão de que aquele enunciado deva ser revisto, pois nos parecerá claro que o que é dito por ele
é constantemente contestado por experiências singulares.

Para Popper a ciência empírica pretende representar o “mundo de nossa experiência”. O


sistema científico pode ainda ser definido a partir de três critérios fundamentais: ele deve ser um
sistema teórico sintético, diferente de um sistema metafísico, deve ser um sistema que represente um
mundo de experiência possível e que seja diferente em alguma forma quanto aos outros sistemas
teóricos. A experiência é o método peculiar capaz de distinguir os mais variados sistemas teóricos. A
teoria do conhecimento, segundo Popper, pode ser entendida como a teoria daquilo que usualmente é
chamado experiência.

“... não exigirei que um sistema científico seja suscetível de ser dado
como válido, de uma vez por todas, em sentido positivo: exigirei, porém,
que sua forma lógica seja tal que se torne possível validá-lo através de
recurso a provas empíricas, em sentido negativo: deve ser possível refutar,
pela experiência, um sistema científico empírico (Popper, 1972, p. 42)”.

Para garantir a aplicação da falseabilidade, é necessário que os sistemas teóricos que tangem
a ciência empírica sejam: não contraditórios entre seus axiomas, independente, suficientes e
necessários. Isso mostra que a falsificação de um enunciado deduzido da teoria pode não derrubar a
teoria como um todo, mas apenas a parte relativa ao enunciado falseado.

Os axiomas, segundo Popper, não podem ser encarados como verdades imediatas e
intuitivamente evidentes. Para o autor esses axiomas podem ser aceitos através de convenção ou
serem encarados como hipóteses empíricas ou científicas. Vale ressaltar que ao assumirmos axiomas
através de convenção, estamos impossibilitando que esse sistema teórico esteja exposto ao critério da
falseabilidade. Pois nesse sistema só inserimos outros sistemas e outras combinações de valores que
justamente satisfazem o sistema convencionado. Portanto, o sistema teórico que se relaciona com a
falseabilidade é o sistema entendido como hipótese empírica ou científica. Primeiro porque se mostra
um sistema de enunciados sintéticos, que dizem acerca de objetos empíricos. Nesse sentido, possuem
a capacidade de serem testados pela experiência.

37
Capítulo IV

A Falseabilidade

Ainda em “Lógica da Pesquisa Científica” o próprio Popper nos orienta para o papel de
qualquer epistemologia que não aceita a lógica indutiva, a saber, enfrentar o problema da
demarcação, pois rejeitando a lógica indutiva é rejeitado, por conseguinte todas as tentativas
anteriores de demarcação. Qual o aspecto que delimita aquilo que pode ser chamado de ciência
empírica e aquilo que comumente chamamos de metafísica?

O critério de falseabilidade, segundo Popper, é capaz de demarcar de maneira segura os


enunciados da ciência empírica. Para o autor, a experiência pode nos fornecer autoridade suficiente
para falsear um enunciado universal. Veremos que, ao propor a falseabilidade, Popper enfrenta a tese
positivista de que os enunciados científicos são verdadeiros pela experiência.

Aquilo que chamamos experiência ocorre num sentido estritamente particular e individual,
por mais profundo e freqüente que o resultado de experiências sensíveis se apresente ao espírito do
cientista, nada irá garantir a elaboração de enunciados universais a partir de enunciados singulares.
Tendo como ponto de partida a negação da Lógica Indutiva, Popper então propõe a demarcação entre
aquilo que é metafísico e aquilo que é empírico, assim como a matemática e a lógica. O critério
utilizado por Popper para demarcar a ciência empírica é a falseabilidade de um enunciado. Deste
ponto de vista, o que diferenciaria os enunciados científicos de não científicos é o aspecto possível
de falseamento de tal enunciado. Contudo, voltemos ao problema em sua raiz.

Enquanto Hume considerava o problema da indução como cerne de sua discussão, Kant
apontava para a Demarcação como a principal questão a ser respondida por uma teoria do
conhecimento. O que separaria os enunciados metafísicos de enunciados pertencentes à ciência
empírica?

A aniquilação da Metafísica por parte dos positivistas é destacada por Popper, segundo ele, os
positivistas encaram o problema da demarcação de forma naturalista, dessa forma esquecem-se da
busca por uma convenção adequada que consiga caracterizar a ciência empírica distinguindo-a da
metafísica e procuram de maneira errônea uma diferença constituinte da natureza das coisas da
metafísica e da ciência empírica. Ainda para Popper, a metafísica é constantemente classificada
como “vazia” e “sem sentido”, essa caracterização da metafísica não buscaria uma distinção nítida
entre metafísica e ciência empírica, para o autor o que positivistas realmente almejavam era o total
abandono da metafísica, assim como a fogueira de livros idealizada por Hume.

38
O que demarcaria a ciência empírica aos olhos dos positivistas seria a capacidade de
enunciados científicos serem reduzíveis a verdades elementares, como no caso de Wittgenstein. Se
trocarmos o conceito “significativo” pelo conceito “científico” seria possível demarcar os enunciados
científicos como aqueles que são reduzíveis a enunciados atômicos ou afigurações da realidade.
Contudo, esse não pode ser o critério que delimita esses dois campos do saber. Se por um lado os
enunciados metafísicos não se reduzem a enunciados atômicos, que no caso específico de
Wittgenstein se referem a Estado de Coisas, os enunciados da física teórica moderna também não
correspondem a tais afigurações da realidade. Em outras palavras, se for possível demarcar o que é
científico como aquilo que se refere ao que é reduzível a proposições atômicas, a própria ciência
empírica se apresentaria como não significativa. Ao tentar se aniquilar a metafísica se aniquilaria,
senão toda, mas boa parte do que chamamos ciência empírica.

Popper assume que seu trabalho será determinar uma convenção adequada a respeito daquilo
que caracterizaria a ciência empírica. Esse princípio demarcador seria capaz de ultrapassar a
racionalidade. O autor ainda salienta que aqueles que admitem ser papel da ciência afirmar
enunciados verdadeiros e certos dificilmente aceitarão seus critérios e suas propostas.

O critério da falseabilidade não pode ser aplicado à ciência empírica caso a compreendamos
como os convencionalistas, segundo estes, as teorias são arranjos construídos de forma lógica e não
teorias que exprimem o mundo físico. Para os convencionalistas as teorias científicas constroem as
propriedades do mundo e as experiências. Dentro da perspectiva de ciência dos convencionalistas a
experiência não é capaz de falsear uma teoria. A simplicidade é encarada como critério suficiente de
demarcação, no fim o que os convencionalistas anseiam é uma predileção das teorias clássicas mais
simples frente a novas descobertas e teorias mais estranhas na contemporaneidade.

Para Popper a noção de ciência dos convencionalistas se funda em uma ciência que busca a
construção de leis fundadas em bases definitivas. Se por um lado a ciência empírica de Popper não
demanda uma certeza final, os objetivos e propósitos da ciência empírica dentro da perspectiva de
um convencionalista não seriam contestados caso uma experiência mostre o seu contraditório. Frente
a um caso que falseie a teoria clássica o convencionalista usa hipóteses “ad hoc” e até altera os
instrumentos de mensuração científica.

Para os convencionalistas a ciência empírica não elabora leis passíveis de observação, para
eles a própria possibilidade de observação é determinada na medida em que as leis naturais em vigor
aceitam tal observação em seu horizonte lógico. Deste ponto de vista, as leis da natureza não seriam
falseáveis, essas leis ditariam até mesmo as regras das mensurações cientificas.

39
Popper não espera a verdade e muito menos a exige da ciência empírica, ao contrário dos
convencionalistas que acreditavam que a ciência poderia produzir certa gama de conhecimentos
fundados em leis definitivas.

Existe uma referência a um princípio de simplicidade que garantiria a predileção de uma


teoria sobre as outras. Não nos parece claro, no texto de Popper, que conceito é esse de simplicidade.
As teorias seriam selecionadas conforme a economia de seus termos e a total correspondência de
seus conceitos com objetos na realidade sensível. Contudo, os convencionalistas não pretendem dar
atenção a casos singulares que contradigam a teoria vigente, estariam dispostos até mesmo em lançar
mão de estratagemas responsáveis pelo atraso e retardamento do desenvolvimento do processo
científico.

Não seria possível, a partir do ponto de vista dos convencionalistas, dividirmos as teorias em
falseáveis e não falseáveis, ou seja, o critério de demarcação proposto por Popper não seria suficiente
na busca pela caracterização daquilo que chamamos ciência empírica. Mesmo diante de um
experimento que contradiga a teoria, o convencionalista faz uso de hipóteses ad hoc, modifica as
definições ostensivas, suspeita da confiabilidade do experimentador e acredita numa supremacia das
teorias clássicas em vigor. Dessa forma os convencionalistas teriam fortes motivos para rejeitarem a
falseabilidade popperiana.

Popper apresenta, enfim, algumas regras metodológicas para que possamos compreender
melhor seu critério de falseabilidade. Para ele é impossível falsear um sistema de enunciados, ou
seja, não é possível falsear uma teoria a partir de uma análise estritamente lógica dos seus
enunciados. Outra distinção importante deve ser percebida entre aquilo que representa uma teoria
convencional irrefutável daquilo que é um sistema empírico. Popper abandona os estratagemas
convencionalistas e parte para uma investigação acerca dos métodos aplicados a um sistema
empírico.

É importante salientar que alinhar os fenômenos para se correlacionarem com teorias


convencionais nada ou pouco ajudam dentro do avanço do conhecimento. É necessário observar
quando se faz uso de algum estratagema convencionalista, não apenas para detectá-lo, mas assim
como combatê-lo.

A fim de que uma teoria ganhe um campo de proibição maior, as hipóteses auxiliares serão
aceitas desde que não reduzam o grau de falseabilidade da teoria. Isso também ocorre quando

40
recorremos a definições explícitas, quando trocamos significados de conceitos de um axioma por
conceitos de outros axiomas de menor grau de universalidade.

Para caracterizar a falseabilidade de uma teoria é necessário construir uma lógica que
possibilite o falseamento de uma teoria através do acesso a enunciados básicos que se relacionam de
forma direta com a teoria. Os enunciados básicos são enunciados singulares, nessa medida são todos
os enunciados singulares autocompatíveis, mesmo que em sua totalidade se apresentem mutuamente
incompatíveis.

A primeira tentativa de caracterização da ciência empírica corresponderia àquela teoria que


da qual fosse capaz extrair enunciados singulares. A segunda tentativa chamaria de empírica a teoria
da qual fosse capaz de extrair enunciados singulares a partir de outros enunciados singulares,
funcionando como condições iniciais. A fim de superar o problema surge a necessidade de se
compreender os enunciados básicos que, segundo Popper, se dividem em duas classes: a classe dos
falseadores potenciais e a classe dos enunciados básicos que a teoria permite.

Deste ponto de vista, dizemos que uma teoria é falseável caso ela contenha falseadores
potenciais, ou seja, casos singulares que não poderiam ocorrer segundo a teoria. Quanto aos
enunciados básicos permitidos pela teoria sequer podemos afirmar que são verdadeiros, e nada ou
pouco podem dizer acerca da teoria.

Para podermos inferir a falsidade de uma teoria a partir da falseabilidade de seus enunciados
básicos é necessário descobrirmos um efeito suscetível de reprodução que refute a teoria, ou seja, é
necessário que um enunciado básico seja capaz de oferecer uma experiência que possa ser repetida
quantas vezes for demandada. Quando isso ocorre temos uma hipótese falseadora.

A fim de facilitar o acesso ao conteúdo até então exposto, Popper propõe uma apresentação
mais realista de alguns aspectos da falseabilidade. Segundo ele um enunciado básico descreve uma
ocorrência, dessa forma uma teoria proíbe algumas ocorrências de acontecer, a teoria será falseada
caso algum dessas ocorrências proibidas venham de fato a ocorrerem.

É necessário definir o que Popper entende por ocorrência justamente para se livrar das
possíveis críticas dos epistemológicos que renegam o uso dos termos “ocorrência” e “evento”. Para o
autor é importante compreendermos o termo “ocorrência” como uma classe de enunciados, desse
modo dois enunciados mutuamente dedutíveis descreveriam a mesma ocorrência.

41
Quando temos uma classe de ocorrências ou quando usamos termos para universalizar o
conteúdo de uma ocorrência concebemos um “evento”. Deste modo quando digo “acabei de
derramar um copo de água aqui” descrevo uma ocorrência através de um enunciado básico, esse
enunciado possui enunciados equivalentes que descrevem o “evento” “derramamento de um copo de
água”.

Isso significa dizer: Uma ocorrência P¹ contém enunciados básicos p¹ que são elementos do
evento (P).

Portanto, uma teoria se mostra falseável quando ela rejeita ou proíbe um evento, e não uma
ocorrência. Surge então uma nova distinção entre aquilo que Popper chama de enunciado equivalente
e enunciado homotípico, o primeiro diz respeito a enunciados que descrevem uma ocorrência, já o
segundo se identificam com os enunciados que descrevem um evento.

Assim uma teoria para ser considerada empírica deve possuir ao menos uma quantidade
mínima de enunciados homotípicos em seu horizonte de enunciados básicos, ou seja, possuir ao
menos um enunciado que descreva um evento que seja proibido pela teoria.

Segundo Popper os enunciados existenciais, as tautologias e outros enunciados não


falseáveis, afirmam quase nada a cerca dos enunciados autocontraditórios. Ainda segundo o autor, o
método da falseabilidade possibilita um melhor tratamento aos enunciados autocontraditórios,
superando as mazelas do método de verificação diante desses casos.

A condição de compatibilidade é a primeira exigência para teorias empíricas e não empíricas.


Uma teoria não pode oferecer um sistema autocontraditório, caso contrário qualquer conclusão
poderia ser tirada de tal teoria. Um sistema compatível oferece de um lado os enunciados que a ela
contradiz, e de outro, os enunciados que a ela é compatível, assim como as conclusões que podem
ser deduzidas do sistema teórico. Ainda para Popper, a compatibilidade é o primeiro requisito para
teorias empíricas ou não empíricas que aspiram alguma utilidade.

Por fim, toda teoria deve ser falseável e compatível, caso contrário não seria possível
estabelecer uma diferença básica entre dois enunciados quaisquer. A falseabilidade e a
compatibilidade são duas faces da mesma moeda, uma teoria compatível apresenta a falseabilidade
em seus enunciados, assim como uma teoria falseável que se mostra compatível para com o método
de demarcação proposto por Popper.

42
A ciência para Popper é o próprio método que ela utiliza, ou seja, submeter criticamente à
prova as teorias e selecioná-las conforme os resultados obtidos a partir das relações lógicas, quais
sejam, equivalência, dedutibilidade, compatibilidade ou incompatibilidade. Após se conceber uma
ideia nova é possível tirar conclusões por meio de deduções lógicas. Essa ideia nova como já
sabemos é formulada a partir de conjecturas, se mostrando uma espécie de arranjo que, por sua vez,
está relativamente imerso em impressões sensíveis retiradas dos objetos da experiência.

Uma teoria científica pode ser colocada a prova por quatro maneiras, isso é o que nos mostra
Popper de forma bem direta. Num primeiro momento, as conclusões oriundas dessas teorias a partir
de relações lógicas são confrontadas entre si com o intuito de testar a coerência interna da teoria.
Num segundo momento, a forma lógica da teoria é o que é posto a prova, logo, é preciso observar se
a teoria se trata de um sistema de ciência empírica ou outra forma de teoria, uma tautologia ou até
mesmo a teologia. O terceiro passo é a comparação da teoria com outras teorias, a fim de verificar o
desenvolvimento e o avanço científico causado por essa teoria, caso a teoria passe pelas várias
provas de verificação. E finalmente as conclusões tiradas dessa teoria serão colocadas em prática,
portanto, é a aplicação das conclusões da teoria que nos garante o último estágio de consideração de
uma teoria. Caso ela passe por essas quatro fases, a teoria é corroborada e de certa maneira resiste,
mesmo que de forma temporária, à falseabilidade popperiana.

A lógica indutiva não nos aparece na reflexão acima. Popper acredita poder resolver o
problema da indução sem que em seu lugar surjam outros problemas. Popper acompanha Hume
quanto ao fato de que nenhum enunciado singular verdadeiro pode evidenciar o caráter de verdade de
uma teoria, mas, por outro lado, abandona Hume, já que em seu método dedutivo de provas nenhum
indício de indução é encontrado.Por outro lado o autor acredita ter encontrado outro princípio de
demarcação que seria responsável pela resolução do problema posto por Hume.

Rejeitar o princípio de indução pode significar num primeiro momento o afastamento das
barreiras entre a ciência empírica e a metafísica, já que privamos a ciência empírica de seu aspecto
mais pulsante. Entretanto, em Popper, o critério de demarcação cunhado pelo princípio de indução
não cumpre seu papel lógico, ou seja, não demarca a ciência empírica.

A Ciência não é um sistema de conceitos, mas sim de enunciados, é o que ele nos alerta,
porém não é redução de enunciados complexos até enunciados elementares que nos garante a
demarcação daquilo que seria chamado de Ciência Empírica. Ao procurar uma diferença nas
naturezas das coisas os adeptos da Indução procuram o aniquilamento da Metafísica e de forma
inconseqüente causam o aniquilamento da própria Ciência Empírica. Deste ponto de vista, o que o

43
autor nos propõe é a elaboração de um princípio de demarcação que fuja totalmente a Lógica
Indutiva.

As leis naturais não podem ser reduzíveis a enunciados elementares da experiência, a


justificação lógica de enunciados universais a partir de enunciados singulares não existe, assim como
nos afirma Hume, o caráter de uma teoria não se confunde com a de enunciados, mas antes se
identifica com a transformação e derivação de enunciados.

A demarcação proposta pelos adeptos da indução coloca num mesmo balaio ciência empírica
e metafísica, se acompanharmos o argumento positivista a respeito do significado encontraremos,
tanto na em uma quanto na outra, sistemas de pseudo-enunciados.

O que é ciência?

As proposições científicas não nos dizem acerca de fatos singulares, ou enunciados


estritamente existenciais. As pretensões das leis da ciência empírica vão além daquelas verdades
obtidas através da classificação, catalogação, mensuração ou comparação de repetidas experiências
particulares. Segundo Alan Chalmers, filósofo da ciência, a concepção de que a ciência era essa arte
de classificar, catalogar e comparar dados experimentais possibilitou o aparecimento das mais
variadas ciências praticáveis e ensináveis desde a educação infantil:

“Muitas áreas de estudo são descritas como ciências por seus


defensores, presumivelmente num esforço para demonstrar que os métodos
usados são tão firmemente embasados e tão potencialmente frutíferos
quanto os de uma ciência tradicional como a física. Ciência Política e
Ciências Sociais são agora lugares-comuns. Os marxistas tendem a insistir
que o materialismo histórico é uma ciência. De acréscimo, Ciência
Bibliotecária, Ciência Administrativa, Ciência do Discurso, Ciência
Florestal, Ciência de Laticínios, Ciência de Carne e Animais, e mesmo
Ciência Mortuária são hoje ou estiveram sendo recentemente ensinadas em
colégios ou universidades americanas (Chalmers, 1993, p. 12)”.

Ainda segundo Chalmers existem posições ainda mais radicais, as quais afirmam que não
existe nenhum critério capaz de distinguir a ciência de forma estritamente absoluta de outros
processos de conhecimento.

“De acordo com a visão mais extremada dos escritos de Feyerabend,


a ciência não tem características especiais que a tornem intrinsecamente
superior a outros ramos do conhecimento tais como mitos antigos ou vodu.
A ciência deve parte de sua alta estima ao fato de ser vista como a religião
moderna, desempenhando um papel similar ao que desempenhou o
cristianismo na Europa em eras antigas (Chalmers, 1993, p. 14).”

44
Para Chalmers ao analisarmos a física podemos perceber que ela aceita as críticas de
Feyerabend na medida em que seus postulados são entendidos pelo senso comum como dogmas,
contudo, ela mesma não se encontra vulnerável aos ataques da teoria anárquica do conhecimento
proposta por Feyerabend, pois o trabalho do pesquisador continuará caso novos axiomas sejam
tomados em lugar dos antigos.

Popper nos afirma que o maior exemplo daquilo que comumente chamamos de ciência
empírica é a física quântica e a mecânica moderna. O trabalho do cientista e daqueles que são
afetados pela ciência consiste em assumir uma teoria em lugar de outras. Não entraremos aqui no
mérito dos motivos que determinam a escolha de tal ou tal teoria, entretanto, nos aparece, o papel da
filosofia como determinante no processo de crítica ao próprio conhecimento. Enquanto a ciência
empírica acredita falar acerca de objetos da realidade, a filosofia segue se questionando a cerca da
possibilidade de se falar em objetos da realidade.

A fim de ilustrar o que Popper acredita ser a ciência empírica, argumentaremos em prol de
uma determinada discussão contida na Teoria da Relatividade especial e geral de Einstein que
possibilita uma configuração condizente com o critério de falseabilidade proposto por Popper.

“Muito embora Einstein tenha antecipado muitas das idéias do


filósofo austríaco, foi ele quem deu unidade, fundamento e consistência a
essas ideias esboçadas de forma fragmentada nos textos de Einstein (Dias,
2014, p. 01).”

Caso retornássemos à discussão acerca da indução, poderíamos argumentar a respeito de por


qual motivo Albert Einstein assume a velocidade da luz como uma constante em suas reflexões,
conjecturas e demonstrações matemáticas, demonstrações essas que foram inúmeras vezes refeitas e
corrigidas. Não nos parece clara tal conclusão acerca da natureza da luz, contudo sua velocidade
como uma constante é o que há de absoluto na Teoria da Relatividade, não como ponto de chegada,
mas sim como ponto de partida.

A famosa fórmula E=mc², expressa a possibilidade de estabelecermos a igualdade


numérica/matemática entre matéria e energia. Essa afirmação só é possível a partir de uma constante
sendo elevada ao quadrado, ou seja, assumindo que o movimento mais rápido existente é aquele
referente ao movimento da luz. Deste ponto de vista, sua velocidade é absoluta em relação a outras
velocidades possíveis em outros fenômenos. Enquanto na mecânica de Newton o tempo e espaço são
absolutos em relação aos eventos físicos, na Teoria da Relatividade essas duas realidades físicas
formam apenas uma concepção, a ideia de espaço-tempo, contudo essa ideia não se refere a uma

45
existência física do espaço-tempo, mas sim às possibilidades geométricas inerentes a toda matéria e
energia existentes.

Já seria possível a partir dessa argumentação imaginar uma lógica diferente daquela proposta
por Hume. A pedra fundamental da Teoria da Relatividade é a velocidade da luz como uma
constante. Essa premissa não é apresentada como um dado empírico evidente. Mesmo se mantendo
firme e sustentando a teoria que modificou completamente a história da humanidade, é preciso
cautela frente às possibilidades do próprio conhecimento e aos rigorosos testes da física
contemporânea.

Só precisamos conceber a ideia de um caso possível de observação que contradiga algum


enunciado da teoria einsteiniana, para submetê-la ao critério de falseabilidade de Popper. A saber,
um fenômeno cuja velocidade seja maior que a velocidade de um feixe de luz. Não é necessário que
esse fato seja evidenciado, efetivado, pela experiência para afirmar que a teoria de Einstein é
científica. Basta conceber a idéia de um fato possível de observação que afirme algo proibido pela
teoria, fato esse que faria a teoria ser revisada ou até descartada.

Ora, ao dizermos que a velocidade da luz é o limite entre todas as velocidades, não seríamos
capazes de construir uma lista contendo todos os fenômenos de movimento existentes, dessa forma
não poderíamos assumir a observação de todos os fenômenos cinemáticos. Por outro lado, o
enunciado universal “a velocidade da luz é uma constante” me garante a possibilidade de procurar na
experiência um fato singular que o contradiga. Esse axioma, portanto, é assumido como uma
hipótese científica.

“... uma teoria será chamada falseável ou empírica sempre que,


sem ambigüidade, dividir a classe de todos os possíveis enunciados
básicos nas seguintes duas subclasses não vazias: primeiro, a classe de
todos os enunciados básicos com os a teoria é incompatível (ou que rejeita,
ou proíbe): a essa classe chamamos de classe dos falseadores potenciais da
teoria; e segundo, a classe de enunciados básicos que ela não contradiz (ou
que ela permite) (Popper, 1972, p. 90).”

Não obstante, outro aspecto absoluto presente na Teoria da Relatividade é a equivalência


entre as naturezas de matéria e energia. Deste ponto de vista, o universo é formado por duas
expressões da mesma natureza. Nossa incapacidade em absorver aquilo que chamamos de realidade,
assim como nossa limitação temporal que nos obriga a manter os fenômenos estáticos dentro da
concepção de algum tipo de alteração temporal, entre outras consequências, distorcem e separam
aquilo que em sua gênese é uma mesma natureza.

46
A equivalência existente entre matéria e energia se deduz do axioma da velocidade da luz, e
dessa forma é um efeito desta. Independentemente do evento físico observado a velocidade da luz
sempre será uma constante, seu valor é um absoluto e garante a equivalência entre o que Einstein
chama de matéria e energia.

O espaço-tempo einsteiniano nos instiga a imaginar uma realidade onde toda mudança no
espaço também é mudança no tempo. Deste ponto de vista, não cabe ao cientista registrar os eventos
em sua particularidade, separados. No espaço-tempo de Einstein os momentos, tanto no passado
quanto no futuro, são fatias de diferentes perspectivas do mesmo espaço-tempo.

Para comportar a imagem do universo criada por Einstein é necessário pressupormos uma
geometria diferente daquela nos ensinada desde os tempos mais infantis. Segundo Einstein a menor
distancia entre dois pontos pode não ser uma linha reta, dessa forma o físico acredita derrubar o
edifício de Euclides ao longo de sua teoria. O espaço-tempo possui sua objetivação na medida em
que representa as próprias condições geométricas dos arranjos possíveis entre os corpos. Einstein
acredita que a realidade física só pode ser suportada por uma geometria quadri-dimensional, assim
como pelos princípios não- euclidianos propostos por Minkowski.

Em “Conjecturas e Refutações”, Popper nos mostra seu estranhamento frente à Teoria de


Einstein, o arranjo intelectual elaborado pelo físico não se mostrava como evidente na época em que
foi publicado e ainda não teve seu alcance intelectual de fato atualizado até os dias de hoje. O objeto
de pesquisa de Einstein não se limita ao mundo sensorial a nossa volta, seu itinerário epistemológico
é pretensioso e parece não comportar toda experiência possível.

A iminência de seu contraditório é um de seus aspectos mais emblemáticos, à medida que


experimentos contemporâneos corroboram as teorias de Einstein, se desperta também a vontade de
conhecer o seu contraditório e surgindo assim especulações a cerca de suas contradições. As
afirmações contidas nas teorias de Einstein andam no limiar entre o absoluto e o fantasma do
desconhecido, do irracional.

Para Popper o caso de Einstein é relevante dentro desse discurso. O que o físico propõe é
uma visão totalmente diferente do universo observável e parece fugir da regra indutivista. Antes de
observar os casos que corroboram sua teoria o físico é despertado por seu próprio intelecto que já
intuiu o universo que irá expressar. É a partir dessa intuição que a decisão de como ligar os pontos
vem à tona. E é justamente essa característica que torna a ciência empírica confiável, ela parte de

47
uma hipótese e tece uma teia de desdobramentos dedutíveis dessa mesma hipótese, e desse modo ela
possibilita a correção, a inovação e não corre o risco de ficar obsoleta.

“O método das tentativas não se identifica simplesmente com o


método crítico ou científico - o processo de conjecturas e refutações. O
primeiro é empregado não só por Einstein, mas de forma mais dogmática -
pela ameba; a diferença reside não tanto nas tentativas, mas na atitude
crítica e construtiva assumida com relação aos erros. Erros que o cientista
procura eliminar, consciente e cuidadosamente, na tentativa de refutar suas
teorias com argumentos penetrantes, inclusive o apelo aos testes
experimentais mais severos que suas teorias e engenho lhe permitem
preparar (Popper, 1994, p. 20).”

48
Conclusão

Na época em que escreveu sua “Lógica da Pesquisa Científica”, Popper se encontrava


espantado com a Teoria da Relatividade de Einstein, o físico havia proposto algo inédito, em certa
medida, e que exigia mensurações absurdas para se comprovarem. Ninguém na época poderia
acreditar piamente nas proposições obtidas nas teorias de Einstein.

Em “Conjecturas e Refutações” de 1963, por exemplo, Popper nos mostra seu estranhamento
frente à Teoria de Einstein, o arranjo intelectual elaborado pelo físico não se mostrava como evidente
na época em que foi publicado e ainda não teve seu alcance intelectual de fato atualizado até os dias
atuais. O objeto de pesquisa de Einstein não se limita ao mundo sensorial a nossa volta, seu itinerário
epistemológico é pretensioso e parece não comportar toda experiência possível.

A iminência de seu contraditório é um de seus aspectos mais emblemáticos, à medida que


experimentos contemporâneos corroboram as teorias de Einstein, se desperta também a vontade de
conhecer o seu contraditório e surgindo assim especulações a cerca de suas contradições. As
proposições contidas nas teorias de Einstein andam no limiar entre o absoluto e o fantasma do
desconhecido, do irracional. Segundo Einstein é necessário uma espécie de inclinação perpétua para
com os objetos da experiência, ou mundo da experiência, afim de que através dessas observações e
desse “amor intelectual” fosse possível obter um quadro geral, o que o físico chamaria de uma
imagem do universo. O amor intelectual proposto pelo Físico pode então ser entendido como uma
das chaves da intuição, e deve ser observada, a intuição, no registro de Bergson.

O que ocorre na intuição não é a mera mensuração de um dos momentos do objeto no espaço-
tempo, mas sim um acompanhamento subjetivo da noção de movimento constante no espaço-tempo.
O espaço-tempo Einsteiniano nos instiga a imaginar uma realidade onde toda mudança no espaço
também é mudança no tempo, deste ponto de vista, não cabe ao cientista registrar os eventos em sua
particularidade, separados. Antes mesmo de observar os eventos experimentais o cientista já intuiu a
própria substância de sua teoria, ele já absorveu a idéia de duração. No espaço-tempo de Einstein os
momentos, tanto no passado quanto no futuro, são fatias de diferentes perspectivas do mesmo
espaço-tempo.

Para Popper o caso de Einstein é relevante dentro desse discurso. O que o físico propõe é
uma visão totalmente diferente do universo observável e parece fugir da regra indutivista. Antes de
observar os casos que corroboram sua teoria o físico é despertado por seu próprio intelecto e intui o
universo que irá expressar. É a partir dessa intuição que a decisão de como ligar os pontos vem à

49
tona. E é justamente essa característica que torna a ciência empírica confiável, ela parte de uma
hipótese e tece uma teia de desdobramentos dedutíveis dessa mesma hipótese, e desse modo ela
possibilita a correção, a inovação e não corre o risco de ficar obsoleta.

Podemos concluir, portanto, que a maneira como a ideia veio à tona na cabeça do físico faz
parte de um grande mistério. O processo de inspiração de uma ideia nova não pode ser questionado
pela lógica do conhecimento. Não existe uma reconstrução racional desse processo. Contudo, após
ser construída, a teoria é colocada diante do método dedutivo de hipóteses elaborado por Popper.
Através desse método colocamos as consequências lógicas de determinada teoria frente a testes
empíricos que procuram um caso proibido pela teoria.

Podemos afirmar que a abertura para a possibilidade de composição de uma ideia nova é
fundamental para uma nova interpretação do problema da indução, assim como sua superação. Por
outro lado, se somam a esse aspecto a crítica feita por Popper endereçada aos positivistas e a
apresentação da falseabilidade como critério suficiente para demarcação da ciência empírica.

O critério da falseabilidade surge fundamentado nos problemas abordados nesse trabalho.


Primeiramente precisamos compreender a impossibilidade da indução como justificativa lógica para
a elaboração enunciados universais. Em seguida, Popper nos apresenta a distinção de dois processos
dentro da elaboração de enunciados universais; a inspiração e a composição desse enunciado e sua
justificativa lógica. Quanto ao processo de inspiração e composição nada se pode fazer do ponto de
vista epistemológico. Já em relação às consequências lógicas de um enunciado universal, a tarefa da
epistemologia é conceber a possibilidade de falseamento a partir do método dedutivo de hipóteses.
Por último, podemos ressaltar que o próprio Wittgenstein não autoriza a construção de enunciados
universais a partir de enunciados singulares. Temos na ciência empírica contemporânea a Popper um
exemplo de teoria compatível com a falseabilidade, através de alguns aspectos contidos na Teoria da
Relatividade de Einstein podemos configurar a ciência vista com espanto por Karl Popper.

50
ROTEIRO DEAULA

DATA:_________PERÍODO:________________________TURMAS:______________________
____

TEMA: Filosofia da ciência

TÓPICO/CONTEÚDO:

O que é conhecimento

ASSUNTO:

Tipos de conhecimento

HABILIDADES/OBJETIVOS:

Raciocínio Lógico formal

Reconhecer os diferentes tipos de conhecimentos

Escrita

DESENVOLVIMENTO/ATIVIDADES:

A aula se inicia com a exibição do vídeo “dancem macacos, dancem” (disponível no Youtube)

Após a exibição do vídeo o professor retomará cada ponto tratado no vídeo, explicando e
levantando questões a serem discutidas entre os alunos

51
AVALIAÇÃO:

Cada aluno escreverá algumas linhas respondendo a pergunta: quem sou eu?

DATA:_________PERÍODO:________________________TURMAS:______________________
____

TEMA: Filosofia da ciência

TÓPICO/CONTEÚDO:

Tipos de conhecimento

ASSUNTO:

Problema da indução

HABILIDADES/OBJETIVOS:

Reconhecer o problema da indução

Leitura de textos

Dissertação

DESENVOLVIMENTO/ATIVIDADES:

Apresentação do problema da indução como formulado por David Hume.

É importante que os alunos estejam com o texto em mãos ou projetado

Exemplificação do problema

Explicação do problema da indução, citando o caso do hábito

52
AVALIAÇÃO:

DATA:_________PERÍODO:________________________TURMAS:______________________
____

TEMA: Filosofia da ciência

TÓPICO/CONTEÚDO:

Tipos de conhecimento

ASSUNTO:

Conhecimento filosófico

Falseabilidade

HABILIDADES/OBJETIVOS:

Introduzir o conceito de falseabilidade

Raciocínio lógico formal

Leitura

Dissertação

DESENVOLVIMENTO/ATIVIDADES:

Apresentação do conceito de falseabilidade de Karl Popper

É importante que os alunos possam acompanhar o texto em mãos ou projetado

53
Explicar o exemplo do cisne

AVALIAÇÃO:

Responda: Como posso falsear uma teoria científica?

DATA:_________PERÍODO:________________________TURMAS:______________________
____

TEMA: Filosofia da ciência

TÓPICO/CONTEÚDO:

Tipos de conhecimento

ASSUNTO:

Conhecimento científico

HABILIDADES/OBJETIVOS:

Leitura

Observação

Abstração de conceitos físicos

DESENVOLVIMENTO/ATIVIDADES:

Assistir ao vídeo “O tempo” (disponível no Youtube)

Apresentar a teoria da relatividade restrita e geral de Albert Einstein

Contexto histórico

54
Conceitos importantes: tempo, espaço, matéria e energia

Leitura de um trecho da teoria

Explicação e tentativa de criação de uma imagem do universo condizente com a teoria

AVALIAÇÃO:

Os alunos avaliam as atividades e apontam qualidades e defeitos na aplicação dos conteúdos e


nos desenvolvimentos das aulas

REFERÊNCIA

Bibliografia consultada
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Bibliografia a consultar
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