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[ARTIGO PARA DOSSIÊ “Materiais

Didáticos, Textos Escolares,


Diversidades & Inclusão”]

PROJETO AL -FA – BE -TI -ZAN -DO: AS CARTILHAS DO MEU MATO


GROSSO DO SUL - ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

RIBEIRO, Marilu | UEMS/ Programa de Pós-graduação –


Mestrado Profissional em Educação
CALADO, Edinéia| UEMS/ Pós-graduação – Mestrado
Profissional em Educação
CORRÊA, Izabel Carolina Souza | UEMS/ Pós-graduação –
Mestrado Profissional em Educação
BORGES, Selma | UEMS/ Aluna Especial - Pós-graduação –
Mestrado Profissional em Educação

RESUMO:
O presente Artigo tem por objetivo apresentar considerações acerca do
Projeto AL-FA-BE-TI-ZAN-DO: As cartilhas do Meu Mato Grosso do Sul. Esse
Projeto surge de uma proposta das Mestrandas do Programa de Pós-
Graduação Mestrado Profissional em Educação da Universidade Estadual
de Mato Grosso do Sul – UEMS em estar conhecendo as cartilhas que
foram utilizadas ao longo dos anos no processo de alfabetização no Estado
de Mato Grosso do Sul, assim como a necessidade de criar um acervo com
este material e catalogar os mesmos para que sirva de referência para os
professores que trabalham com alfabetização assim como para futuras
pesquisas sobre o tema. Pretende-se apresentar aqui reflexões sobre o
Projeto, as referências bibliográficas embasadoras, como será o
desenvolvimento do mesmo e a importância de discutir-se sobre este
material didático, referência no processo alfabetizatório.

Palavras-chave: Cartilhas. Alfabetização. Catálogo. História.

ABSTRACT:
The purpose of this article is to present considerations about the AL-FA-BE-
TI-ZAN-DO Project: The booklets of Meu Mato Grosso do Sul. This Project
arises from a proposal by the Master's students of the Post-Graduation
Program Professional Master's Degree in Education at the State University
of Mato Grosso do Sul - UEMS to be aware of the booklets that have been
used over the years in the literacy process in the State of Mato Grosso do
Sul South, as well as the need to create a collection with this material and
catalog them to serve as a reference for teachers who work with literacy as
well as for future research on the subject. It is intended to present

Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS


Unidade Universitária de Campo Grande
ISBN: 2526-4052 | Volume 3 | Nº 5 | Ano: 2019
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reflections on the Project, the underlying bibliographical references, how it


will be developed and the importance of discussing this didactic material, a
reference in the literacy process.

Keywords: Booklets. Literacy. Catalog. History.

INTRODUÇÃO

Para darmos início as considerações desse Artigo, torna-se relevante


compreendermos que as mudanças na sociedade transcorrem no decorrer dos
variados períodos de tempos históricos e contribuem em vários aspectos sociais,
dentre eles os educacionais.
Nesse contexto, observa-se que as diversidades pessoais e familiares impactam
diretamente nos processos de ensino e aprendizagem. No âmbito das discussões
educacionais, as análises em torno de materiais didáticos e textos escolares têm
obtido centralidade em escala mundial. Sabe-se que o uso correto dos recursos
didáticos auxilia tanto na realização das atividades pedagógicas dos estudantes assim
como também em suas relações humanas.
Nota-se o aumento pelo interesse de pesquisadores acerca de se estudar livros
didáticos, materiais e recursos pedagógicos, observando como esses materiais foram
elaborados, a natureza desses, as propostas que ofertam e o tratamento das
informações a fim de evidenciar argumentos sobre a construção da história da
escolarização no Brasil.
No período de alfabetização, um dos principais recursos pedagógicos utilizados
é a cartilha. Define-se cartilha como “livro que ensina os primeiros rudimentos de
leitura” (CARTILHA, 2023).
Mendonça em Percurso Histórico dos Métodos de Alfabetização menciona que:
A cartilha surgiu da necessidade de material para se ensinar crianças a ler e
a escrever. Até então, elas aprendiam em livros que eram levados de casa,
quando tinham algum livro em casa. No século XVI, surge o silabário, a
primeira versão do que seria a cartilha. As cartilhas brasileiras tiveram
origem em Portugal (que chegou a enviar exemplares para a alfabetização,
em suas colônias). De autoria de João de Barros, a Cartinha para Aprender a

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Ler é uma das cartilhas mais antigas para ensinar português. Sua primeira
versão foi impressa em Lisboa, em 1539. (MENDONÇA, 2011, p.29)

Assim como os manuais didáticos, a cartilha deixou uma memória difundida na


prática, pois, em sua utilização constitui-se aspectos no desenvolvimento escolar,
fluência em leitura e concomitante fluência em escrita.
Saviani (2004) menciona que a escola pública, propriamente dita, ganha
notoriedade com a implantação dos grupos escolares a partir de 1890. Essa nova
estrutura escolar tipicamente urbana fortaleceu a escola primária, criou a identidade
do professor alfabetizador e demandou a adoção de um livro didático para permitir
que um maior número de alunos, organizados por um mesmo nível de aprendizagem.
O livro didático a que se refere Saviani é a cartilha. A cartilha tornou-se
importante ferramenta de ensino a partir da chegada da família real em nosso país,
com a mudança de Brasil Colônia para Império.
Tambara menciona que:
Neste período, que vai de 1808 até 1821-22, caracterizado pela imprensa
régia, muito pouco foi produzido em termos de livros escolares para
utilização na escola elementar no Brasil. Isto estava vinculado com as
limitações da estrutura educacional do Brasil à época. Mesmo assim, pode-
se observar que se estava estruturando um mercado consumidor de livro
escolar bastante atraente. (TAMBARA, 2002, p. 29)

Importante ressaltar que havia a necessidade de se modernizar mediante a


situação encontrada no país, assim como a necessidade de se educar a população.
Enquanto Mestrandas do Programa de Mestrado Profissional em Educação da
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS – Campus Campo Grande, que
tem como área de concentração a Formação de Professores, nos interessamos em
verificar como todo esse processo de escolarização e alfabetização aconteceu além de
nosso país: em nosso Estado, assim como em outros momentos históricos que são
importantes: por exemplo, na divisão do Estado, como acontecia a oferta de ensino da
leitura e da escrita proposta com a utilização das cartilhas? E nos dias atuais, ainda se
utiliza esse material?

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Considerando esse contexto, elaboramos o Projeto AL-FA-BE-TI-ZAN-DO: As


cartilhas do meu Mato Grosso do Sul, onde pretende-se verificar quais são os livros
utilizados, quais aspectos vão se (re) apresentando como marcas de uma memória tão
difundida na prática e nos novos manuais que foram se constituindo como aparatos
essenciais para a construção da história da escolarização em nosso Estado. É
importante traçarmos linhas do tempo a fim de historicizar o que é preciso, deixando
registros históricos acerca do que é estudado.
As cartilhas que serão base nesses estudos, se tornarão referência para um
catálogo que será produzido, com intuito de apresentar o levantamento bibliográfico
realizado, assim como a construção da escolarização e da alfabetização no Estado de
Mato Grosso do Sul.
Por meio das análises a serem realizadas, observa-se as marcas estruturais e
linguísticas encontradas nas cartilhas, que vem a se incorporar às memórias de leitura
e procedimentos de escrita ao longo dos tempos.
Considerando o Projeto que pretendemos desenvolver, esse Artigo irá abordar
reflexões sobre alguns embasamentos teóricos que pretendemos utilizar e quais as
contribuições dos autores que falam sobre a utilização das cartilhas ao longo da
história. Será apresentado também como se dará o desenvolvimento do Projeto e
objetivar as possíveis contribuições que o mesmo pode trazer ao meio educacional.
Registrar o percurso histórico da utilização de manuais didáticos no Mato
Grosso do Sul, no tocante à alfabetização, permite-nos compreender sobre a situação
atual das escolas públicas e propor discussões sobre os desafios contemporâneos para
a educação sul-mato-grossense.

PARA QUE EMBASAR UM PROJETO?

Ao realizarmos uma pesquisa, torna-se importante definir dentro dos ramos do


saber científico, qual o conhecimento melhor apresenta pressupostos para
embasarmos a análise a ser realizada teoricamente. Nesse sentido, a epistemologia do

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Marxismo, é a que melhor se encaixa com os objetivos dessa pesquisa, pois, o enfoque
teórico e metodológico que esse conhecimento aborda, busca compreender a
realidade do mundo, a partir das grandes transformações da história e das sociedades
humanas. Entende o mundo por sua produção material. Essa teoria é bem pertinente
para o trabalho de pesquisa a ser realizado.
Fundamentar teoricamente em autores que tratam sobre o tema a ser
pesquisado, é essencial para podermos conhecer melhor seus posicionamentos. A
contribuição dos teóricos oportuniza fontes confiáveis e torna pertinente o que está
sendo estudado.
Nessa pesquisa, é considerável conhecermos como a utilização das cartilhas
enquanto ferramenta didática auxiliou no desenvolvimento do ato de alfabetizar ao
longo dos tempos.
Historicamente, Comenius (2006) menciona em Didática Magna, que a
educação deve estar unida a ideias religiosas e realistas. As escrituras bíblicas seriam a
forma mais eficiente para corrigir os desvios do homem. A Didática apresentada neste
manual, não é a Didática que entendemos hoje. Para Comenius, a Didática é uma
concepção de educação para transformar o mundo. A bíblia, nesse período é o livro
orientador, pois, Comenius pensava em uma associação entre a família e a escola, a
fim de que se estabeleça uma união envolvendo as atribuições diferenciadas no que se
apresenta para o mundo infantil.
A cartilha como recurso didático, começou a ser utilizada no Brasil desde a
segunda metade do século XIX. Nessa trajetória da alfabetização, não podemos deixar
de destacar algumas cartilhas, como Cartilha Maternal; Cartilha Sodré; Caminho Suave;
entre outras, importantes instrumentos que revelam contextos, características,
métodos e teorias da época.
Auroux (1992) em A revolução tecnológica da gramatização, menciona que a
cartilha é um manual didático e um instrumento linguístico, que descreve e
instrumentaliza a língua.

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Segundo Maciel (2002) em As cartilhas e a história da alfabetização no Brasil:


alguns apontamentos, menciona que as primeiras cartas ou cartinhas foram
produzidas em Portugal, mas delas pouco se sabe, assim como sobre os demais os
materiais didáticos destinados à escolarização elementar dos brasileiros.
Esse material no Brasil apresenta várias identidades para os conhecimentos
linguísticos a serem adquiridos e objetiva a aquisição e compreensão da língua,
trazendo memórias dos acontecimentos consolidando assim a aprendizagem
necessária.
A partir dos anos de 1990, observa-se o aumento de cartilhas dirigidas não só a
crianças, mas à cidadãos adultos, como um instrumento de divulgação do
conhecimento.
Mortatti menciona:
Ao longo desses mais de 100 anos, a cartilha, embora sofrendo alterações
de natureza didático-pedagógico, e sendo questionada pelas teorias
construtivistas e interacionistas, permaneceu até os dias atuais, assim como
conservou-se intocada sua condição de imprescindível instrumento de
concretização de determinado método, ou seja, da seqüência necessária de
passos predeterminados para o ensino e a aprendizagem iniciais de leitura e
escrita, e, em decorrência, da configuração silenciosa de determinado
conteúdo de ensino, assim como de certas também silenciosas, mas
efetivamente operantes, concepções de alfabetização, leitura, escrita, texto
e linguagem/língua” (MORTATTI, 2000, p. 48).

Todas as contribuições teóricas podem ajudar a compreender os possíveis


problemas a serem encontrados no levantamento do acervo bibliográfico de análise
das cartilhas, tendo como ponto de referência as cartilhas utilizadas no Estado de
Mato Grosso do Sul.

FALANDO SOBRE O PROJETO

Após a escolha do tema do projeto: “estudo das cartilhas”, torna-se importante


agora determinar como a pesquisa será realizada. Para Fachin (2001), método é um
instrumento do conhecimento que proporciona aos pesquisadores, em qualquer área
de sua formação, orientação geral que facilita planejar uma pesquisa, formular

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hipóteses, coordenar investigações, realizar experiências e interpretar os resultados.


No livro Pesquisa e Educação - Abordagens Qualitativas, Ludke e André destacam que:
Tendo determinado que a observação é o método mais adequado para
investigar um determinado problema, o pesquisador depara ainda com uma
série de decisões quanto ao seu grau de participação no trabalho, quanto à
explicitação do seu papel e dos propósitos da pesquisa junto aos sujeitos e
quanto à forma da sua inserção na realidade. (LUDKE E ANDRÉ, 2013, p.27).

O Projeto AL-FA-BE-TI-ZAN-DO: As cartilhas do meu Mato Grosso do Sul propõe


uma pesquisa de abordagem qualitativa para verificar, pesquisar e historicizar as
cartilhas utilizadas no processo de alfabetização no Estado de Mato Grosso do Sul. Essa
abordagem exige uma ampliação do objeto a ser pesquisado, considerando o contexto
e características sociais. Ludke e André (2013) na obra A pesquisa em Educação:
abordagens qualitativas, defendem que nas pesquisas qualitativas os dados coletados
são predominantemente descritivos, partindo da análise do pesquisador e de sua
compreensão do todo para a reflexão sobre o que pode ser ou não elucidado, pois, a
descrição deve possibilitar um diálogo com o objeto. A pesquisa qualitativa terá
caráter de análise documental. As autoras mencionam que:
Embora pouco explorada não só na área de educação como em outras áreas
de ação social, a análise documental pode se constituir numa técnica valiosa
de abordagem de dados qualitativos, seja complementando as informações
obtidas por outras técnicas, seja desvelando aspectos novos de um tema ou
problema. (LUDKE E ANDRÉ, 2013, p.16).

As autoras também referenciam que:


São considerados documentos "quaisquer materiais escritos que possam ser
usados como fonte de informação sobre o comportamento humano"
(Phillips, 1974, p. 187). Estes incluem desde leis e regulamentos, normas,
pareceres, cartas, memorandos, diários pessoais, autobiografias, jornais,
revistas, discursos, roteiros de programas de rádio e televisão até livros,
estatísticas e arquivos escolares. (LUDKE E ANDRÉ, 2013, p.16).

Os documentos principais a serem pesquisados (as cartilhas), são arquivos


escolares importantes para as práticas realizadas no processo de alfabetização e a
análise desses materiais a ser realizada nesse projeto, apresentam a verdadeira

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necessidade de conhecer as bases alfabetizatórias, as bibliografias utilizadas, assim


como as metodologias que embasaram os autores na criação desses materiais.
A metodologia a ser desenvolvida no Projeto será realizada de forma Histórica,
pois, necessita-se conhecer e compreender tudo o que acontece ao longo da história
relacionado ao material elencado na pesquisa, procurando reconstruir criticamente os
dados levantados, levantando novas hipótese e chegando a conclusões.
Todas as informações acerca do acervo de cartilhas levantado, possibilitarão a
compreensão dos acontecimentos das ações educativas no processo de alfabetização.
O Projeto AL-FA-BE-TI-ZAN-DO será realizado em cinco etapas. Na primeira
etapa a ser realizada, pretende-se discutir e apresentar o Projeto à Professora Doutora
Iara Augusta da Silva, Professora do Programa de Pós-graduação Mestrado Profissional
em Educação da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS – Campus
Campo Grande.
A segunda etapa será apresentar o Projeto à comunidade escolar. Por meio de
divulgação nas mídias sociais e imprensa, apresentar os objetivos do Projeto e a
importância de catalogar as cartilhas, a fim de termos acervo histórico que sirva para
contribuir sobre o entendimento do trabalho realizado com as cartilhas em seus
respectivos momentos alfabetizatórios ao longo dos tempos.
A terceira etapa a ser realizada, é com relação ao levantamento das cartilhas.
Também utilizando as mídias sociais, compartilhar um Formulário de informações
sobre as cartilhas. As informações solicitadas serão nome, autor, ano de publicação,
edição, contexto histórico em que foi utilizada. No formulário, haverá um campo para
enviar a cartilha mencionada em PDF a fim de termos o acervo necessário para realizar
as análises.
A quarta etapa acontece após a coleta de dados e formação de acervo: é a
análise do material coletado. Torna-se importante analisarmos a metodologia utilizada
em cada uma das cartilhas, realizando análise bibliográfica, aliando com teorias e
fundamentos sobre alfabetização. É importante se conhecer o método utilizado por

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cada uma das cartilhas, pois, esse material se perpetua ao longo dos tempos assim
como seus métodos utilizados para alfabetizar.
A quinta etapa acontece após o período de levantamento de dados, com o
tratamento das informações. A partir daí, começa-se a ser realizada a catalogação
histórica do acervo. Essa catalogação será realizada por período histórico, a fim de
preservar a memória, a identidade e a cultura das cartilhas.
Concomitante a realização da análise dos resultados, pretende-se registrar as
considerações de todo o projeto por meio da elaboração de Artigos a fim de consolidar
todas as ações executadas durante o Projeto. Este também, é um momento
importante para que ocorram as discussões necessárias para uma ressignificação de
todo este processo de realização da pesquisa, para que assim sejam pensadas novas
propostas a partir da utilização das cartilhas e livros didáticos que possam contribuir
no cenário educacional da alfabetização em nosso Estado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A criança ao longo dos tempos sempre vivenciou o processo de alfabetização


por meio da construção de conhecimentos. O professor deve apresentar ao aluno os
fundamentos para que os mesmos possam ouvir o som das palavras e tentar
representar esses sons por meio de registros gráficos.
Os processos de alfabetização e letramento são processos integrados,
simultaneos. Neste trabalho, para cada um dos tempos históricos há especificidades,
métodos de alfabetização diferentes. Em muitos desses métodos, a utilização das
cartilhas foi um apoio nesse trabalho.
A abordagem histórica da alfabetização brasileira, especificamente em relação
aos métodos já considerados em nossa educação, nos remete por exemplo às cartilhas
de alfabetização que, de acordo com Naiara Magalhães (2005), tinham como base os
métodos alfabético e de soletração, cuja ideia de ensino da escrita e da leitura partia
inicialmente da letra: “[...] Primeiro se ensinam os nomes e as formas [...] na sequência

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alfabética e também salteada, para depois trabalhar com as sílabas e, em seguida, com
as palavras, frases, [...]” (MAGALHÃES, 2005).
Enquanto docentes, deve-se pensar em situações de aprendizagem que
colocam a criança em processo de alfabetização, em contextos de alfabetização e
letramento. É relevante observar, que antes de chegar na educação infantil, a criança
está convivendo com materiais de leitura e escrita o tempo todo. Vivemos numa
sociedade totalmente grafocentrica.
Além dos diferentes métodos para se alfabetizar, o Professor deve considerar
que as crianças falam de forma diferente, dialetos diferentes. Considerar também que,
a fala é diferente da escrita e que cada letra tem uma relação diferente com a escrita.
Ao se trabalhar alfabetização, deve-se considerar as caracterísitcas de cada um dos
estudantes.
Por mais complexo que sejam os processos de alfabetização e letramento,
observa-se que ainda hoje, muitas professoras ainda fazem uso da cartilha em suas
aulas. Ainda temos muitas professoras buscando referências de cartilha, inclusive
cartilhas antigas, nas quais fomos alfabetizados.
Verifica-se que essa utilização tem uma intencionalidade. É importante
debatermos sobre esse tema, estabelecendo uma diferenciação entre cartilha e livro
didático e nesse propósito a pesquisa que será realizada poderá contribuir.
Todos nós temos memórias do que era feito na primeira série, como a
professora utilizava a cartilha. Seguindo as instruções da Professora, utilizando o lápis
para preenchimento, ia-se dando andamento as atividades até terminar a cartilha.
Esse término para a criança, era como se fosse um prêmio. E tudo isso merece ser
revisitado, rememorado, estudado e registrado; nessa pesquisa, cada uma de nós
poderá apresentar o seu olhar individual sobre aquele momento vivenciado.
Importante também neste trajeto verificar as considerações entre escola
pública e escola privada, nas mais diferentes épocas: como era a cartilha utilizada?
Esse material na Escola pública, era financiado com recurso público ou não? Observar

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a qualidade desse material, como foram realizadas as escolhas?


O ato de vincular a realidade infantil com a utilização das cartilhas, considera os
contextos, as metodologias, os cenários educacionais como recursos. As cartilhas
tinham todo dia, uma série de propostas diferentes. Esse é um ponto bem relevante
da diferença entre cartilha e livro didático. Os textos presentes nas cartilhas, eram
textos feitos para ensinar a ler e a escrever, de forma única.
Compreender esses textos de cartilha dentro do cotidiano escolar, sem
autonomia, sem dificuldade, apresentam o conjunto de práticas de ler e escrever. Nos
dias atuais, as práticas de alfabetização não são mais pautadas no ensino das famílias
silábicas. Deve-se desenvolver nas pessoas, as habilidades necessárias para participar
de práticas de alfabetização.
Mesmo não utilizando mais o proposto nas cartilhas, devemos considerar que
esse material foi de grande importância no papel de alfabetizatório da população, pois,
oferecia um favorecimento do trabalho docente em sua prática pedagógica, assim
como favorecia o aluno no seu processo de aprendizagem.
Realizar essa pesquisa, vai proporcionar verificarmos as relações passadas
assim como as atuais sobre leitura e escrita. Atividades que antes eram realizadas com
materiais impressos como as cartilhas, hoje são realizadas, de forma melhorada, por
meio da utilização de celular. A escola também tem que promover práticas que façam
dos estudantes em alfabetização, quer seja criança, adolescente ou adulto os
protagonistas de seu aprendizado.
Para realizarmos a construção do futuro, é necessário considerar o passado e
suas reproduções históricas.
As cartilhas foram boas opções para se alfabetizar em um período em que não
tínhamos muitos recursos. Com o acesso as informações que temos hoje, essa
utilização tornou-se obsoleta. Todos nós evoluímos ao longo dos tempos com as
propostas didáticas. Para a aquisição dos embasamentos que temos hoje, é
importante ter um olhar de conhecimento acerca de metodologias passadas.

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A cartilha é um gênero textual sem padrões, pois, apresenta atividades em


vários tipos de texto como versos, prosa, quadrinhos, cartuns, esquemas de pergunta e
resposta.
Essas situações textuais apresentam uma continuidade na realização do
proposto, apresentando o letramento para crianças em processo de alfabetização, de
apropriação do sistema alfabético e ortográfico de escrita. As cartilhas também
apresentavam vários trechos de livros da literatura infantil. Apesar de trabalhar com os
fonemas, sabemos hoje que a cartilha não resolve totalmente o problema da entrada
no mundo da escrita. O período em que os professores ensinavam o bê-á-bá foi muito
importante, mas, nos dias atuais esse ensino, não é suficiente.
Analisar as cartilhas do ponto de vista do ensino e aprendizagem se faz
necessário.
O papel do Professor é formar alicerces de embasamentos. Não há futuro para
a educação se não dominarmos conhecimentos importantes, como no caso dessa
pesquisa, a leitura e a escrita e suas práticas sociais. Não se conseguirá compreender a
inserção dos estudantes no mundo da escrita.
Temos outros trabalhos de pesquisa que apresentam e fazem análise da
utilização das cartilhas, contribuindo para o trabalho dos professores alfabetizadores.
Santos, Santos e Macedo (2012), apresentam no artigo “O método das
cartilhas”, uma análise desse material assim como apresentam a aquisição do
conhecimento e sua importância para a relação de leitura e escrita.
Os autores mencionam que:
Alfabetização é nessa fase que a escola tem que investir, fazendo com que
os alunos, que se encontram nessa fase, se sintam estimulados pelo gosto a
leitura e a escrita, pois é aí, neste momento, que a criança está aberta a
novos desafios e pronta para aprender. Vai ser através desta estimulação
que vamos criar crianças reflexivas, capazes de discernir sobre o que é certo
e errado. A escola não pode e não deve subestimar a capacidade de
aprendizado que cada criança tem, seja qual for a sua faixa etária. (SANTOS,
SANTOS E MACEDO, 2012, página 7)

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Esse período é importantíssimo para a criança ou para a pessoa se encontra


nessa fase. Conhecer os materiais utilizados neste trabalho é importante.
Ainda no texto “O método das cartilhas”, os autores mencionam uma citação
de Cagliari que diz: “Ensinar é um ato coletivo e Aprender é um ato individual”. Pode-
se ensinar a todos de uma vez só, mas cabe a cada um realizar a sua aprendizagem.
Ao rememorarmos e catalogarmos as cartilhas, permite-se que as mesmas não
caiam no esquecimento, reconstruindo momentos históricos importantes que podem
servir de embasamento para novos professores alfabetizadores.
Importante considerar que ”[...] construir e expor um discurso é muito mais
complexo do que expor o objeto pelo objeto [...]” (CHAGAS, 2000, p. 37)
Todo o estudo histórico tem sua relevância, assim como as contribuições que
deixam.
Trindade no artigo “Memória da cartilha e a produção de identidades
alfabetizandas” menciona que:
O projeto de extensão Memória da Cartilha, na medida em que aglutina
fragmentos de histórias de alfabetizações e alfabetismos, propicia o diálogo
com segmentos diversos da sociedade, cumprindo, assim, seu compromisso
com a produção de conhecimento, intervindo na construção de memórias e
histórias, seja pela discussão de discursos circulantes e suas representações
em obras didáticas, seja pelas manifestações realizadas pelos/as nossos/as
entrevistados/as, através de suas reminiscências e de suas alteridades,
construindo, dessa forma, ”novas” identidades alfabetizandas. (TRINDADE,
2008, página 180)

Por meio desse projeto de pesquisa, os diálogos construtivos acontecem e


trazem novos e importantes elementos acerca do processo de alfabetização.
Percebe-se que para a realização desse projeto, temos uma longa caminhada a
ser realizada, contudo, ao darmos início a pesquisa bibliográfica, já será possível inferir
alguns dados relevantes para a historicizar do uso de cartilhas no processo de
alfabetização no estado de Mato Grosso do Sul.
Observa-se que reformulações deverão ser realizadas ao longo do processo e as
mesmas serão necessárias para que se enriqueça a obra a ser criada, para que

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posteriormente possamos socializar todos os conhecimentos adquiridos nessa


trajetória, contribuindo verdadeiramente com o processo de alfabetização em nosso
estado. Todas as contribuições dentro do processo a ser realizado, agregam valores
educacionais ao atendimento realizado aos estudantes em seus primeiros anos
escolares.

REFERÊNCIAS

AUROUX, S. A revolução tecnológica da gramatização. Trad. Eni P. Orlandi. Campinas,


SP: Editora da Unicamp, 1992.

BALIBAR, R. & LAPORTE, D. Le français national: politique et pratique de la langue


nationale sous la Revolution. Paris: Hachette, 1974.

CAGLIARI, Luis Carlos. Alfabetização e Linguistica. São Paulo: Scipione. 2005.

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< https://languages.oup.com/google-dictionary-pt/>. Acesso em: 14/04/2023.

COMENIUS, Iohannis Amos. Didática Magna. São Paulo: Martins Fontes. 2006.
CHAGAS, Mário de Souza. Museu, literatura, memória e coleção. In: LEMOS, Maria
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identidades. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2000.

FACHIN, Odília. Fundamentos da Metodologia. 5.ed. São Paulo: 2005.


LUDKE, Menga. ANDRÉ, Marli E.D.A. Pesquisa em Educação. Abordagens Qualitativas.
2.ed. São Paulo: EPU, 2013.

MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
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Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS


Unidade Universitária de Campo Grande
ISBN: 2526-4052 | Volume 3 | Nº 5 | Ano: 2019
[ARTIGO PARA DOSSIÊ “Materiais
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Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS


Unidade Universitária de Campo Grande
ISBN: 2526-4052 | Volume 3 | Nº 5 | Ano: 2019

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