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Revestimento Cerâmico com Mancha D’água

Alesandra Mattei Ranzan


Denise Patricia Dalmolin Kesseler

Universidade do Oeste de Santa Catarina


Pós-Graduação em Arquitetura de Interiores

1 INTRODUÇÃO

As cerâmicas podem ser caracterizadas como materiais industrializados,


constituídos de argilas, filitos, feldspatos e areia, com propriedades de coesão,
resistência à compressão e à abrasão. A espessura média das peças cerâmicas
é de 5.4 mm, sendo sua face superior vitrificada e a posterior composta de
saliências que auxiliam na aderência da argamassa de assentamento
(ZULIAN;DONÁ; VARGAS, 2002).
Os revestimentos cerâmicos são utilizados em larga escala na construção
civil, devido às suas propriedades de resistência mecânica, estanqueidade,
durabilidade, resistência ao fogo e custo-benefício. Com o desenvolvimento de
novas técnicas e o aperfeiçoamento dos equipamentos e processos, a
fabricação dos revestimentos evoluiu muito nos últimos anos. Entretanto, ainda
é muito comum a ocorrência de patologias nas peças, que causam trincas,
fissuras, manchas e desplacamento.
Desta forma, neste artigo será abordado um tipo de patologia que
acomete as peças cerâmicas, chamado de mancha d´água, que provoca o
escurecimento do esmalte, comprometendo a estética e funcionalidade dos
revestimentos.

2 MANIFESTAÇÃO PATOLÓGICA

Conforme Melchiades (2003), os revestimentos cerâmicos são compostos


por três camadas: suporte cerâmico, engobe e esmalte. O suporte cerâmico
possui a função de fornecer resistência mecânica à peça, bem como atribuir cor
quando a camada de esmalte é transparente. O engobe, por sua vez, tem como
funções eliminar os defeitos de superfície, esconder a cor do suporte cerâmico
realçando as cores do produto final, impermeabilizar a peça e suavizar os efeitos
das manchas d’água. Por fim, a camada de esmalte tem como principal função
promover a impermeabilização da superfície.
A mancha d’água é um fenômeno no qual há a variação do tom da peça
cerâmica quando em contato frequente com a umidade, geralmente causando
um “escurecimento” da superfície. A água responsável pelo surgimento da
mancha d’água pode ter várias procedências: a) da argamassa; b) do
umedecimento das peças antes do assentamento; c) exposição dos
revestimentos ao ambiente; d) água proveniente de fontes externas após o
assentamento; etc. (MELCHIADES, 2000).
Apesar de ser o fator causador deste manifestação, é quase impossível
não haver o contato do revestimento com a água em alguma parte do processo
da construção - no assentamento, por exemplo - ou da utilização, já que a
cerâmica em geral é indicada principalmente para revestir as áreas “molhadas”,
como banheiros, cozinhas, lavanderias e áreas externas.
Por isso, deve-se observar as características das peças cerâmicas
utilizadas. As principais causas de aparecimento da mancha d’água estão
relacionadas às características do esmalte, engobe, suporte e condições de
processamento (MONTE, 2008).

2.1 DIAGNÓSTICO

Para realizar um diagnóstico adequado da manifestação patológica, foi


necessário realizar uma observação geral da construção, para identificar as
características do projeto e dos materiais utilizados.
A patologia apresentada foi observada em uma residência unifamiliar,
construída a um ano e meio, e manifestou-se nos revestimentos de paredes da
lavanderia e banheiro.
Na figura 01, é possível observar a manifestação patológica presente no
revestimento do banheiro:
Figura 01: Mancha d’água em revestimento cerâmico do banheiro.

Fonte: As autoras (2020).

Localizada nas peças cerâmicas mais baixas, que ficam a uma altura
próxima do nível do solo, a mancha d'água observada no banheiro, pode ser
resultado de fatores como a falta de impermeabilização da estrutura, permitindo
a penetração da umidade do solo na edificação; a execução incorreta do rejunte,
favorecendo a infiltração da água do chuveiro nas peças; e a utilização de peças
cerâmicas de baixa qualidade, que possuem camadas mais frágeis, facilitando a
deterioração do esmalte e diminuindo a vida útil do revestimento.
Na figura 02, observa-se a mesma manifestação patológica, mas desta
vez na parede da lavanderia:
Figura 02: Mancha d’água em revestimento cerâmico da lavanderia.

Fonte: As autoras (2020).

Neste caso, nota-se que a mancha d'água está próxima a torneira, podendo
ser originária de algum defeito na tubulação hidráulica, causando a infiltração
dessa água na estrutura da parede e consequentemente nas peças cerâmicas.
Como analisado na foto anterior, outros fatores que podem ter provocado a
situação incluem a falha na execução do rejunte e o uso de revestimentos de
baixa qualidade.

2.2 RECOMENDAÇÕES

Para realizar a recuperação desse revestimento, faz-se necessário


primeiramente a remoção das peças e da argamassa de assentamento. Em
seguida, deve ser aplicado o impermeabilizante, e executado o assentamento de
novas peças cerâmicas de boa qualidade. Por fim, realizar de forma adequada
a aplicação do rejunte.
De acordo com Belém (2011), mesmo que possíveis, as medidas para
recuperação de revestimentos podem tornar-se complexas e onerosas, e muitas
vezes não apresentam resultados satisfatórios.
Desta forma, a melhor solução ainda é a prevenção dessas patologias,
através do controle de material e execução das etapas, aumentando a qualidade
da obra e diminuindo custos futuros com reformas e reparos.
3 CONCLUSÕES

Conforme o que foi observado, o fenômeno da mancha d’água é


ocasionado por uma soma de fatores, como a umidade (proveniente do solo),
combinado com a falha na execução da impermeabilização e aplicação do
rejunte, bem como do emprego da cerâmica de baixa qualidade. E que apesar
de uma evolução significativa na área da construção civil, ainda é comum o
aparecimento de patologias em diversos aspectos.
Nesse caso, vale ressaltar que para evitar patologias em revestimentos
cerâmicos, é necessário além de um bom projeto e da impermeabilização
correta, atentar-se às características essenciais dos materiais escolhidos.
Conclui-se, portanto, que este tipo de patologia em específico poderia ter
sido evitado principalmente durante a execução, o que pouparia gastos de
manutenção já em pouco tempo após a obra ter sido finalizada.

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BELÉM, José Marcondes de Freitas. Umidade nas Edificações: Causas,


Consequências e Medidas Preventivas. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Tecnologia da Construção Civil com habilitação em Edifícios),
Universidade Regional do Cariri, Juazeiro do Norte, Ceará, 2011. Acesso em: 19
set. 2020.

MELCHIADES, F.G.; ROMACHELLI, J.C.; BOSCHI, A.O. A Mancha d’água em


revestimentos cerâmicos: contribuição para o desenvolvimento de um método
de medida, Revista Cerâmica Industrial, 5 (4) p. 21 – 25, 2000. Acesso em: 14
set. 2020.

MELCHIADES, F.G.; SILVA, L.L.; SILVA, V.A.; ROMACHELLI, J.C.; VARGAS,


D.D.T.; BOSCHI, A.O. Sobre Engobes e Mancha d’água – Revista Cerâmica
Industrial, vol. 7, no. 4; Julho/Agosto, 2002, pp. 31-39. Acesso em: 14 set. 2020.
MONTE, Márcia V. R. da Cruz. Avaliação de engobes no aparecimento da
mancha d’água em revestimentos cerâmicos. 2008. 92p. Dissertação (Mestrado
em Ciências na Área de Tecnologia Nuclear - Materiais) - Instituto de Pesquisas
Energéticas e Nucleares, São Paulo, 2008. Disponível em
<http://pelicano.ipen.br/PosG30/TextoCompleto/Marcia%20Valeria%20Rocha%
20da%20Cruz%20Monte_M.pdf> Acesso em: 14 set. 2020.

ZULIAN, Carlan S.; DONÁ, Elton C.; VARGAS, Carlos L. Revestimentos. Ponta
Grossa, 2002. 29p. Aula (Engenharia Civil) – Universidade Estadual de Ponta
Grossa, Paraná, 2002. Disponível em:
˂www.uepg.br/denge/aulas/revestimentos/Revestimentos.doc˃. Acesso em: 27
mai. 2018

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