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Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão - IFMA

Engenharia Civil
Disciplina: Alvenaria Estrutural

João Victor Abas Matos EC1211017-21


João Henrique Mena Barreto de Azevedo Junior EC1211015-21
Lucas Silva Lima EC1211042-21
Marcos Alexandre Ximenes Trigueiro EC1211024-21

PATOLOGIAS EM ESTRUTURAS DE ALVENARIA ESTRUTURAL

São Luís
2017
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO____________________________________________________2
2 INFILTRAÇÕES___________________________________________________3
3 EFLORESCÊNCIA_________________________________________________3
4 FISSURAÇÃO____________________________________________________5
4.1 FISSURA EM ALVENARIA POR DILATAÇÃO TÉRMICA DA ESTRUTURA__5
4.2 FISSURA EM ALVENARIA POR MOVIMENTAÇÕES HIGROSCÓPICAS____7
4.3 EM ALVENARIA DEVIDO À SOBRECARGA___________________________8
4.4 SOBRECARGA DE COMPRESSÃO AXIAL ____________________________9
4.5 FISSURAS CAUSADAS POR RECALQUES DIFERENCIAIS NAS
FUNDAÇÕES______________________________________________________10
4.6 FISSURAS CAUSADAS POR RETRAÇÃO DOS PRODUTOS A BASE DE
CIMENTO_________________________________________________________15
4.7 FISSURAS CAUSADAS POR REAÇÕES QUÍMICAS____________________19
5 ESTUDO DE CASO________________________________________________20
6 CONCLUSÃO ____________________________________________________26
7 REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA _____________________________________27
1 INTRODUÇÃO

As construções de Alvenaria estrutural são cada vez mais recorrentes na


construção civil, no quesito de habitações a frequência desse tipo de estrutura
aumenta consideravelmente.
Neste trabalho serão abordadas as mais variadas aparições de anomalias nessas
estruturas, que podem ter causas de falha de execução, por exposição a
intempéries, entre outros. Essas anomalias recebem o nome de patologias, que tem
certa relação com o ramo de estudo da medicina que aborda as doenças. As
anomalias nas edificações podem ser comparadas a doenças, já que são alterações
no estado normal das estruturas, temos como exemplos: rupturas, fissuras,
manchas, deformações não previstas, entre outras. Ter um conhecimento base
sobre patologias é de suma importância para todos os envolvidos na construção
civil, desde do servente até o engenheiro, visto que a detecção e execução de
maneira correta diminuem muito a incidência de patologias, levando em
consideração que a maioria das causas se da pela má execução e das condições
não adequadas de estocagem dos materiais.

As fissuras, segundo CORSINI (2010), são um exemplo corriqueiro de


patologia na Construção civil, e além de comprometer a durabilidade da edificação,
tem um impacto visual forte, podendo até comprometer a estrutura. Elas podem
ocorrer, nas diversas partes de uma obra, seja em uma má escolha de projeto, na
execução, na fase da acabamentos ou no mau uso da estrutura.

Além das fissuras, o presente trabalho abordará sobre outras patologias,


como as infiltrações e a eflorescência. As infiltrações precisam ser evitadas pois
causam a corrosão das armaduras que comprometem consideravelmente a
durabilidade da Alvenaria. Já a eflorescência, que são manchas na estrutura
causam um impacto estético forte.

Para exemplificar todos esses conceitos que serão desenvolvidos ao longo


deste trabalho, será mostrado um estudo de caso de uma obra de um edifício de
alvenaria estrutural localizado em Itaboraí no Rio de Janeiro, que fora feito pelo
Engenheiro Civil Adilson Rabello Dalbone.
2 INFILTRAÇÕES

A infiltração se da pela penetração da água na estrutura interna da alvenaria


estrutural. Na construção civil em geral elas podem causar formação de manchas
devido a umidade, ou até mesmo problemas mais graves como: comprometimento
funcional da edificação, danos em equipamentos localizados na parte interior das
edificações, desconforto e problema de saúde dos usuários, entre outros.

A infiltração não é exclusividade das alvenarias estruturais, ela pode estar


presente em variados elementos de um edifício tais como: pisos, fachadas, paredes
de vedação, vigas, pilares, etc. Além dessa grande variedade de elementos
atingidos por essa patologia, não é possível ter precisão na causa da ocorrência
sem fazer um diagnóstico detalhado, as causas são diversas.

A umidade proveniente da infiltração, é um meio necessário para a aparência


de outras patologias na alvenaria estrutural, por exemplo, as eflorescências,
corrosão das armaduras, deterioração da pintura, entre outros. Por isso é importante
garantir uma boa execução da alvenaria estrutural, para evitar fissuras que dão
brecha para a entrada de umidade, uma boa execução das juntas, graute aplicado
de maneira correta, paredes no prumo para evitar solicitações extras, são de suma
importância para evitar diversos problemas causados pela infiltração.
 

3 EFLORESCÊNCIA

A eflorescência se da pelo acumulo de salinos de metais nas alvenarias. A


aparência esbranquiçada afeta esteticamente e pode ser nociva a alvenaria
causando desagregação dos materiais. Para a ocorrência dessa patologia existem
três condições básicas: a presença de água, sais solúveis na superfície da alvenaria
e pressão hidrostática.

Os componentes cerâmicos da alvenaria, a água de amassamento e a reção


dos elementos químicos da cerâmica com o cimento dão origem aos chamados
sulfatos. As reações químicas desses componentes formam sais que podem gerar
eflorescência.

Esse fenômeno também tem relação com outros tipos de patologias, como
por exemplo as fissuras que ao serem expostas a uma chuva, por exemplo,
permitem que a alvenaria sofra infiltrações e as reações oriundas causam a
eflorescência. Além de fissuras, um revestimento mal feito e falhas de execução nas
juntas podem ter o mesmo resultado, que é mostrado na figura a seguir.
Se houver suspeita de eflorescência, é importante fazer um diagnóstico
tomando como base os seguintes aspectos:

• A área que ela ocupa na superfície da alvenaria, e se é em um ponto local ou


espalhada.
• Verificar a ocorrência de fissuras ou má execução das juntas que podem servir de
abertura para a entrada de água.
• Verificar se ela é oriunda das peças da alvenaria ou da argamassa.
• A principio tentar remover a eflorescência escovando ou aplicando água.

É facilmente perceptível que a eflorescência tem como principal causa a


presença de água, então as infiltrações devem ser combatidas de forma efetiva.
Caso a eflorescência seja do tipo pulverulenta, usar uma escova de aço, já os sais
endurecidos só saem aplicando ácido muriático diluído em água.
4 FISSURAÇÃO

São pequenas rupturas que surgem nas estruturas indicando problemas do


material, má-utilização ou sobrecargas por erros de cálculo. As fissuras podem
afetar tanto as condições de serviço da obra e em casos mais graves indicar risco
de falha estrutural. Saber analisar as configurações de fissuras é essencial para se
identificar problemas e tomar ações para minimizá-los.
As alvenarias estruturais combinam patologias provenientes das condições
estruturais de carga e do comportamento do material de alvenaria em si.
Principais causas de patologias quanto ao material:
1. Mecanismo de ruptura frágil
2. Fraca resistência a tração
3. Fraca resistência ao corte
Quanto à condição estrutural:
1. Esbelteza excessiva
2. Estrutura com integração deficiente
3. Contraventamento deficiente
4. Fraco embeiçamento na seção da parede
  Com base nas causas de fissuras em alvenarias apresentadas, pode-se
classificá-las em basicamente em três tipos: efeitos externos, mudanças
volumétricas dos materiais e interação com outros elementos estruturais. 
As fissuras podem ser classificadas de acordo com sua atividade em ativas
ou passivas. As fissuras ativas (ou vivas) são aquelas que apresentam variações de
abertura ao longo do tempo. Se essas variações oscilam em torno de um valor
médio podem ser correlacionadas com a variação de temperatura e umidade. Logo,
pode-se concluir que apesar de serem ativas não indicam ocorrência de problemas
estruturais. Mas se elas apresentarem abertura crescente podem representar
problemas estruturais, que devem ser determinadas por meio de observações e
análise da estrutura. As fissuras passivas (ou “mortas”) são causadas por
solicitações que não apresentam variações significativas ao longo do tempo, e
podem ser consideradas como estabilizadas (CORSINI (2010)).

4.1 FISSURA EM ALVENARIA POR DILATAÇÃO TÉRMICA DA ESTRUTURA

Como é sabido, todos os materiais dilatam de acordo com um coeficiente


térmico de dilatação a partir da variação de temperatura.
Por ser a superfície mais exposta do edifício a laje do pavimento superior apresenta
movimentação maior e mais rápida. A retração durante a cura e a dilatação térmica
são os principais fatores que desencadeiam essa movimentação.
O aquecimento da superfície da laje é maior que é o restante da edificação,
resultando em uma dilatação térmica maior e mais veloz. A alvenaria não
acompanha essa dilatação e resiste ao movimento fissurando. A fissura causada
por esse problema em alvenarias estruturais se localizam no topo da parede
paralela ao comprimento da laje. A ligação entre a parede e a laje tende a ceder.
Caso isso não aconteça a parede toda se movimenta o que pode comprometer a
vedação.
A aparição de fissuras como as descritas nas figuras acima é comum no caso
de dilatação térmica da laje, porém não invalidam o surgimento de outras
configurações. O formato das fissuras também sofre interferência das dimensões da
laje sobreposta, da aderência parede/laje e da presença de aberturas.
As aberturas em alvenaria geram regiões de fragilidade e com tendência a
fissuração. Nessas condições com a dilatação podem surgir fissuras de
cisalhamento ao nível do peitoril e do topo dos caixilhos, por exemplo.

A insolação também gera com frequência fissuras nas paredes expostas ao


calor excessivo. A parede externa dilata e distorce a parede interna fissurando-a. A
distorção é maior a medida que se afasta da fundação onde se anula.
Tais fissuras possuem configuração inclinada em ângulo próximo a 45 que se
estendem por toda parede.
Por ser impossível conter fatores naturais como a incidência solar sobre a
estrutura, não é possível extinguir o problema, mas minimizá-lo consideravelmente.
No caso da expansão da laje, além das juntas de dilatação é recomendado
colocação de telhado e / ou isolamento térmico (com argila expandida, por exemplo)
visando diminuir a variação térmica e assim a dilatação do material. O isolamento
também pode ser feito nas paredes externas com função análoga.

4.2 FISSURA EM ALVENARIA POR MOVIMENTAÇÕES HIGROSCÓPICAS

A absorção e perda de água pelos componentes estruturais causam


movimentações de expansão e retração dos elementos. Assim como na expansão
térmica, essas movimentações também causam fissuras em elementos de
alvenaria.
Em caso de encontro de paredes que por motivos construtivos os blocos
foram assentados com juntas aprumadas, a movimentação higroscópica no interior
dessas juntas gera destacamentos entre as paredes.
Paredes monolíticas construídas sobre solo estabilizado tem forte tendência à
formação de fissuras causadas pela retração inicial e pelas movimentações de água
no interior do material. Essas movimentações acabam por causar destacamentos
entre alvenaria e argamassa.

Também são comuns fissuras nas bases das paredes onde a


impermeabilização dos alicerces é malfeita ou ausente. Os blocos que estão em
contato direto com o solo absorvem umidade e apresentam movimentações
diferentes das fiadas superiores que perdem água por evaporação causando
fissuras. Geralmente essas fissuras vêm acompanhadas de eflorescências tornando
fácil a identificação da causa. No topo de muros a argamassa absorve umidade da
chuva e, de forma análoga à situação anterior, fissuram.

Os ciclos de absorção de umidade da argamassa de revestimento, com


impermeabilização deficiente, associados ao própria dilatação térmica causam
microfissuras que abrem entrada para ainda mais umidade, acentuando-se
progressivamente até atingirem o revestimento.

4.3 EM ALVENARIA DEVIDO À SOBRECARGA

A atuação de cargas sobre a estrutura são previstas em cálculo no momento


do dimensionamento dos elementos. Entretanto, por vezes, durante a vida útil da
edificação, os elementos se encontram solicitados acima do previsto em cálculo.
Ainda ocorrem casos de mau dimensionamento ou má execução. Nesses casos
esta sobrecarga não prevista é capaz de gerar fissuras nos elementos estruturais e
não-estruturais.
Considerando-se o coeficiente de segurança γ = 5, adotado pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6118, para a determinação da tensão
admissível da alvenaria submetida à compressão axial, parece haver uma tendência
em estimar-se a resistência das alvenarias armadas e não armadas a partir da
resistência à compressão de prismas, através da seguinte fórmula:

 f cpa = tensão admissível na parede comprimida;


 h = altura da parede;
 t = espessura da parede;
= Resistência média à compressão de no mínimo cinco prismas constituídos
por dois blocos, assentados com argamassa a ser empregada na obra; em função
da relação entre altura (h) e a largura (d) dos prismas, o valor de m f deve ser
multiplicado pelos seguintes fatores:
 0,86 para h/d = 1,5
 1,00 para h/d = 2,0
 1,20 para h/d = 3,0
 1,30 para h/d = 4,0
 1,37 para h/d = 5,0
Conforme estudo de Pereira da Silva, a introdução de uma taxa mínima de
armadura (0,02%) na alvenaria não chega a aumentar significativamente a
resistência à compressão da parede, entretanto, tal armadura melhora
substancialmente o comportamento da alvenaria quanto à fissuração, normalmente
provocada por atuação de cargas excêntricas, ocorrência de recalques
diferenciados ou concentração de tensões.

4.4 SOBRECARGA DE COMPRESSÃO AXIAL

O excesso de esforços de compressão geram fissuras geralmente verticais.


As fissuras acontecem e tomam essa configuração devido a esforços transversais
de tração induzidos nas unidades pelo atrito da superfície da junta da argamassa
com a face maior do bloco. A argamassa comprimida se deforma lateralmente e
traciona as unidades causando as fissuras verticais nos blocos, que se estendem na
parede de cima a baixo.

Dependendo da disposição de aberturas na parede estrutural as fissuras


adotam outras configurações. A existência de aberturas concentra tensões nos
vértices desses vãos. Assim as fissuras criadas geralmente são inclinadas e
partindo desses vértices.
Outro tipo de fissura ocorre quando há uma sobrecarga concentrada. Nesse
caso surgem várias fissuras inclinadas partindo do ponto de aplicação da
sobrecarga.
Carregamentos excêntricos podem causar fissuras de flexão que tem
característica horizontal.
Em trabalho realizado por THOMAZ. E, resume considerações de diferentes
pesquisadores sobre essas fontes de variação no comportamento final das
alvenarias, através das quais chega-se às seguintes conclusões mais importantes:

a) A resistência da alvenaria é inversamente proporcional à quantidade de juntas de


assentamento;
b) Componentes assentados com juntas em amarração produzem alvenarias com
resistência significativamente superior àquelas onde os componentes são
assentados com juntas verticais aprumadas.
c) A influência da resistência da argamassa de assentamento é bem menos
significativa que a resistência do bloco para formação de fissuras na parede.
d) A espessura ideal da junta de assentamento situa-se em torno de 10mm.

4.5 FISSURAS CAUSADAS POR RECALQUES DIFERENCIAIS NAS


FUNDAÇÕES

Existem basicamente dois tipos de recalques, os uniformes e os diferenciais.


Os recalques uniformes são aqueles ocorrem igualmente em toda a área da
fundação sobre efeito da deformação, esse tipo de recalque não introduzem novos
esforços, e consequentemente, não levam a danos estruturais ou fissuras, podendo
prejudicar apenas tubulações de esgoto, configuração de rampas e escadas,
ligações hidráulicas, etc.
Exemplo de edificação sobre efeito de recalque uniforme.

Os recalques diferenciais são aqueles onde a deformação provocada pelo


recalque não se distribui igualmente por toda a área da fundação levando a esforços
adicionais na estrutura devido à movimentação desigual. As fissuras causadas por
recalques diferenciais são potencialmente as mais graves, pois ocorrem devido a
problemas na relação fundação/solo da estrutura, uma área de difícil controle devido
a heterogeneidade do solo.
Existem diversos fatores que contribuem para a ocorrência de recalques
diferenciais. Em fundações rasas, como sapatas, por exemplo, o tipo de solo
influencia na causa do recalque; em solos fofos os recalques são provenientes de
uma redução do volume do solo devido à percolação da água, já se o solo for uma
areia bem compacta a heterogeneidade do solo pode levar ao recalque. O atrito
negativo é um grande causador de recalques, principalmente em fundações
profundas, que podem estar passando por áreas de mista, de corte e aterro, onde a
movimentação excessiva do solo sobrecarrega a estacam causando o atrito
negativo que leva a recalques significativos.

Exemplo de estaca sobre efeito de atrito negativo.

Existem várias possíveis causas para a ocorrência de recalques e, em sua


grande maioria, elas são naturais tornando impossível prever fundações para
funcionarem supondo recalque nulo. Dentre as principais causas para a ocorrência
de recalques, temos:
 Rebaixamento do lençol freático – causando movimentações no solo já
sedimentado;
 Existência de solos colapsáveis e expansivos;
 Escavações em áreas adjacentes – causando movimentações do solo;
 Vibrações – devido a atividades em área vizinhas (bate estacas, rolos
compactadores, tráfego, etc.);
 Presença de vegetação adjacente – causando a contração do solo
devido à absorção da água;
 Influência das fundações de construções vizinhas;
 Utilização de um sistema misto de fundações;
 Existência de solo muito heterogêneo – causando movimentações
desiguais;

A seguir seguem um conjunto de imagens ilustrando esses diversos tipos de


recalques e suas ações nas alvenarias.

Recalque e fissuração no edifício menor pela interferência do edifício maior em seu


bulbo de tensões.

Recalque devido a fundação assentada entre seções de corte e aterro.


Recalque a solo heterogêneo.

Recalque devido ao rebaixamento do lençol freático.

Recalque devido a utilização de fundação mista ( estaca e sapatas).


Como as imagens anteriores mostram, o recalque diferencial tende a formar
fissuras nos componentes estruturais da edificação, no caso de estudo, nas
alvenarias. Essas fissuras normalmente se apresentam diagonais e, em alguns
casos, verticais sempre se abrindo na direção de maior recalque da estrutura.
Outras características de fissuras causadas por recalques é a variação da abertura
ao longo do comprimento e a presença de esmagamentos localizados. De acordo
com DUARTE (1998) em construções de vários pavimentos, as fissuras devidas ao
recalque tendem a se localizar próximas ao pavimento térreo, mas podem se
alongar até o topo dependendo de sua gravidade.
É comum que se associem fissuras com inclinação de 45 graus a problemas
com recalque na fundação, mas esse tipo de patologia pode levar a fissuras das
mais variadas configurações.

Exemplos de várias configurações de aberturas de fissuras devido ao recalque


diferencial.

Como já dito anteriormente, recalques em edificações sempre irão existir e


nem sempre é possível prevê-los com exatidão nos cálculos para as fundações.
Mas existem alguns processos construtivos para ajudar a prevenir e combater essa
patologia. Dentre eles os que surtem maior efeito são: a utilização de armaduras na
alvenaria, como maneira de aumentar sua resistência, a fazendo suportar os
esforços adicionais causados pelo recalque e, a projeção de juntas de controle na
alvenaria, de modo que ela consiga tolerar movimentos da fundação.
Exemplo de alvenaria estrutural com armadura interna para combater fissuração

Exemplo de utilização de junta de controle em execução.

4.6 FISSURAS CAUSADAS POR RETRAÇÃO DOS PRODUTOS A BASE DE


CIMENTO

A retração dos produtos a base de cimento ocorre devido à presença da


água, substância importantíssima para a hidratação do cimento, mas que muitas
vezes acaba por ser utilizada. Um fator água de cimento de aproximadamente 0,4 é
tido como suficiente para uma reação de hidratação completa, entretanto, é comum
se utilizar de concreto com um fator maior para se melhorar sua trabalhabilidade.
Essa água em excesso leva a posterior retração, que pode ser de três tipos:
Química, de Secagem, ou por Carbonatação.
A retração química ocorre devido à reação química entre cimento e água
que faz com ela se combine quimicamente e sofra uma contração de cerca de 25%
do seu volume; a retração por secagem ocorre por evaporação da água em excesso
na mistura em altas temperaturas ,o que gera forças capilares que levam a uma
compressão da massa e consequente redução do volume; e a retração por
Carbonatação ocorre pela presença da cal hidratada que reage com o gás
carbônico, formando o carbonato de cálcio, outra reação que causa redução do
volume.

Exemplo de reação de Carbonatação.

Dentre os principais fatores que influenciam na retração, temos:


 Composição química e finura do cimento – quanto maior a finura e
a presença de cloretos e álcalis na sua composição, maior a retração;
 Granulometria do agregado – quanto maior a finura do agregado,
maior será a quantidade de pasta de cimento para recobri-los e maior
será a retração;
 Quantidade de água na mistura – quanto maior o fator
água/cimento, maior a retração, fator de maior influência;
 Condições de cura – se a água começar a evaporar antes do
término da pega a retração aumenta consideravelmente;

Em uma edificação de alvenaria estrutural, os principais elementos que


podem sofrer com a retração são as lajes e a própria alvenaria de blocos de
concreto, ou devido à argamassa de assentamento. Quando ocorre a retração da
laje essa movimentação leva a fissuras nas paredes que estão recebendo os
esforços da laje, sendo que estas costumam ser horizontais e se localizar
imediatamente abaixo da laje ou nos cantos superiores de esquadrias.
Exemplo de edificação com fissuras devido à retração da laje.

Quando a retração ocorre na argamassa de assentamento os problemas e


tipos de fissuras são outros. Um dos problemas que podem surgir é o
destacamento, ou abatimento, da alvenaria com a laje superior quando o
encunhamento tiver sido carregado de maneira precoce.

Exemplo de destacamento provocado por encunhamento precoce.

A retração da alvenaria pode levar a fissuras nos encontros entre paredes,


no terço médio de paredes extensas, em seções com passagem de tubulação,
excesso de aberturas na parede, etc. As configurações das fissuras são extensas e
serão apresentadas nas imagens abaixo.
Exemplos de configurações típicas de fissuras por retração.

Fissuração generalizada devido ao excesso de janelas e má cura do concreto


(alvenaria de blocos de concreto).

Fissuração em parede de grande extensão devido à retração.


Como esse tipo de patologia não é causada por excesso de carregamento
na estrutura não é preciso trata-la com reforços estruturais, uma vez que elas são
superficiais e não comprometem a estrutura em si. A melhor maneira de combatê-la
é prevenindo que ela ocorra, proporcionando uma cura correta para o concreto,
tratando bem o fator água/cimento, etc. Caso a fissura ocorra na estrutura pode-se
usar argamassa de fibras sintéticas como incremento.

4.7 FISSURAS CAUSADAS POR REAÇÕES QUÍMICAS.

Além da retração, que também pode ser causada por reações químicas,
existem outros tipos de reações químicas que podem gerar fissuras na alvenaria. A
principal delas é a hidratação retardada de cales que pode vir a causar a sua
expansão devido à reação entre o cimento e os sulfatos. Quando uma argamassa é
feita com cal mal hidratada ela pode apresentar teores de óxidos livres em sua
composição, que na presença de umidade irá se hidratar e expandir, chegando até
a dobrar o volume. Essa umidade pode ser proveniente de percolação da água,
vazamentos e principalmente da água da chuva, o que faz com esse tipo de fissura
seja mais comum em alvenarias de fachada.
As fissuras provenientes desse tipo de reação normalmente seguem as
juntas de assentamento, se iniciando no topo da alvenaria onde há menores
esforços de compressão de acordo com RICHTER (2007), apesar de MARCELLI
(2007) dizer que podem ocorrer em locais variados. Além das fissuras, é comum
que haja deslocamento dos revestimentos da alvenaria devido à expansão.

Figura 1.17 – Configurações típicas de fissuras por reações de hidratação.

Outro tipo de reação química que pode levar à fissuras é quando o


aluminato tricálcico (Al2O3·3CaO) reage com sulfatos formando um composto
conhecido com etringita.

Figura 1.18 – Reação de formação de etriginta na presença de sulfatos cálcicos.


Esses sulfatos podem ser provenientes de diversas fontes: água
contaminada; componentes feitos de argila, através do solo, excesso de umidade,
etc. As fissuras resultantes dessa reação costumam possuir maior abertura que as
provocadas por hidratação e são acompanhadas por eflorescência, acompanhando
as juntas de assentamento verticais e/ou horizontais.
Para se evitar que tais reações ocorram é necessário evitar expor a
edificação a ambientes muito agressivos, e caso elas acabem ocorrendo o modo de
combatê-las é semelhante ao combate à retração, utilização de argamassas com
fibras para fechar as fissuras, umas vez que estas também são apenas superficiais
e não comprometem a estrutura, mas o fato de poderem deixar a armadura exposta
faz ser necessário trata-las.

5 ESTUDO DE CASO
Este estudo publicado na revista de Engenharia Estudo e Pesquisam, mostra
uma inspeção rápida realizada num edifício de alvenaria estrutural, feita por Adilson
Rabello Dalbone, que se encontra em construção, já em fase de acabamento.
INSPEÇÃO DE EDIFÍCIO EM CONSTRUÇÃO EM ITABORAÍ, ESTADO DO RIO
DE JANEIRO
A obra visitada em 29/06/2011 consta de quatro prédios de apartamentos
com quatro pavimentos após conclusão. Na data da visita haviam dois prédios em
acabamento. As obras dos outros dois prédios ainda não estavam iniciadas. Pelo
fato das obras estarem bem adiantadas, já com todas as paredes externas
emboçadas e as internas com a quase totalidade das paredes já com revestimento
de gesso, não foi possível a observação dos aspectos construtivos destas paredes
em sua totalidade. Os blocos utilizados são da Cerâmica Argibem, com dimensões
de 14 X 19 X 39cm. A obra apresentava bom aspecto estrutural como um todo
porém com algumas situações que poderiam se transformar em anomalias.
Vista geral de um dos prédios

Logo na entrada do canteiro de obras existe um local para estocagem de


materiais perecíveis onde pode-se observar gesso estocado em área parcialmente
coberta com embalagem danificada, com perda e contaminação do material.

Material mal estocado com embalagens danificadas

Ferragem armazenada em local totalmente úmido e sem cobertura. Esta


ferragem quando colocada em uso certamente já estará com adiantado estado de
corrosão.

Ferragem estocada ao tempo e em local úmido


Observa-se também lajes treliçadas, pré- moldadas, com espessura de
apenas 3cm, estocadas ao tempo e em terreno desnivelado. Embora possam ser
vistos espaçadores entre as vigotas, o terreno desnivelado provocará esforços de
torção nestas vigotas com consequentes trincas. Novamente aqui cabe a
observação relativa à corrosão antecipada que irão sofrer as ferragens destas lajes

Laje estocada ao tempo e em terreno com desnivel

Armazenagem incorreta de blocos cerâmicos ao lado de diversas cargas, lixo


e até sucata. Pode-se observar blocos danificados e quebrados. Pode se observar
também vigota de laje pré-moldada armazenada de forma inadequada e já
danificada.

Armazenagem incorreta dos blocos cerâmicos


Na parede junto à escada, ainda sem emboço, observa-se vários blocos sem
argamassa nas juntas verticais e grande irregularidade de espessura de juntas
verticais e horizontais. Conclui-se que as paredes já emboçadas, em sua grande
maioria, estão nestas condições.

Paredes com vários tijolos sem argamassa nas juntas verticais

Recorte irregular de blocos para passagem de conduites danificando a


parede, mostra improvisação, falta de planejamento e falha de projeto. Este tipo de
procedimento afeta diretamente a resistência à compressão da alvenaria.

Recorte irregular de blocos para passagem de conduites

Retrabalho na parede já emboçada, com recorte do revestimento danificando


parcialmente os blocos, com perda de produtividade, evidenciando falha de projeto
ou de execução no cumprimento do projeto. Vale salientar que várias paredes
apresentam o mesmo problema.
Parede com retrabalho

Vários blocos cortados lateralmente na horizontal, para passagem de


conduite evidenciam a deficiência de projeto e falha no planejamento da obra. Esta
prática não é recomendada pois afetará sensivelmente a resistência à compressão
dos blocos e consequentemente a resistência à compressão da parede estrutural

Parede com corte horizontal para passagem de conduite

Paredes complementadas com blocos de alvenaria não estrutural mostram


falha de execução, afetando a resistência à compressão da parede estrutural, que
poderá resultar em patologias futuras.
Paredes complementada com alvenaria não estrutural

No vão da escada observa-se a viga de concreto armado (Figura 26) apoida


sobre os blocos de alvenaria. Embora a viga esteja com bom aspecto, a decisão de
se fazer desta maneira foi tomada durante execução da obra. Novamente evidencia-
se a falha de planejamento, projeto e execução. Este tipo de intervenção na obra,
além de ficar fora do controle do calculista gera perda de produtividade e elevação
dos custos. Esta alternativa também não é a mais correta e adequada sob o aspecto
de resistência e segurança da obra.

Viga de Concreto armado apoiada sobre blocos de alvenaria.

Existência de bloco com trinca, com abertura maior da trinca na parte


superior, indicando que o mesmo sofreu esforço de flexão, ou seja, o bloco não
estava apoiado corretamente sobre o piso, quando recebeu carga da parede.
Bloco com trinca

6 CONCLUSÃO
Este trabalho mostrou os aspectos principais das patologias em obras de
alvenaria estrutural e suas principais causas. No estudo de caso apresentado, foi
possível observar e registrar diversas situações que podem conduzir a processos de
aparecimento de anomalias. Foi observado também que o sistema baseado em
alvenaria estrutural depende fortemente do projeto, planejamento da obra e de mão
de obra bem treinada, que cumpra rigorosamente as especificações estabelecidas
no projeto. Não se pode pular etapas ou fazer precariamente para depois tentar
consertar.
O resultado final e o sucesso de implantação de uma obra em alvenaria
estrutural está diretamente ligado à integração das atividades e equipes envolvidas.
Cada atividade, desde o início da definição do projeto, deverá ser realizada
cumprindo o planejado e dentro das tolerâncias permitidas por normas e padrões.
Cada atividade dependerá da atividade concluída anteriormente. Assim o sucesso
de se conseguir cumprir os prazos e garantir a qualidade da obra está no rigor em
se cumprir cada etapa individualmente do projeto e, que o mesmo esteja completo,
ou seja, contenha projetos de alvenaria, instalações elétricas, hidráulicas, sanitárias,
gás, telefonia, internet e outros que se fizerem necessários e suas respectivas listas
de materiais. O abastecimento do canteiro com materiais deve ter uma logística
ligada ao planejamento para ótimo armazenamento e prezar a qualidade dos
produtos.
7 REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA
RABELLO DALBONE, ADILSON. Artigo: Patologias em Prédio de Alvenaria
Estrutural Inspeção de Curta Duração.
CORRÊA, Ederson Souza. Patoligias decorrentes de Alvenaria Estrutural: Trabalho
de Conclusão de curso apresentado para a obtenção do grau de bacharel em
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execução de alvenaria estrutural e de alvenarias de vedação em edifícios. São
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http://www.revistatechne.com.br/engenharia-civil/160/trinca-ou-fissura-como-
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Disponível em: http://www.ufjf.br/engenhariacivil/files/2012/10/PATOLOGIAS-EM-
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