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TEORIA DAS ESTRUTURAS

Henrique Furia Silva


3 VIGAS E PÓRTICOS

Neste bloco serão estudadas as vigas e as estruturas de pórticos, que são as células bá-
sicas para as construções civis (e também mecânicas). Serão determinadas as reações
de apoio necessárias para garantir o equilíbrio estático dessas estruturas, e também cal-
culados os esforços internos atuantes em suas barras. Existem alguns programas (gra-
tuitos) que auxiliam o engenheiro nestas tarefas e, uma vez validados a partir de resul-
tados elementares da teoria, podem ser utilizados sem restrições.

Estruturas de barras são aquelas que possuem um eixo claramente definido, associando
a esta dimensão o comprimento ℓ. As outras dimensões são usualmente a largura 𝑏 e a
altura ℎ quando a seção transversal é um retângulo.

Barras que trabalham exclusivamente à tração são denominadas cabos ou tirantes,


sendo usualmente construídas em aço estrutural e utilizadas em contraventamentos e
ancoragens.

Barras que trabalham mais à compressão que à flexão são os pilares, dimensionados
conforme flexão composta com pequena excentricidade. Barras que trabalham predo-
minantemente à flexão e menos à compressão são as vigas protendidas, dimensionadas
conforme flexão composta com grande excentricidade.

Treliças são exemplos de estruturas reticuladas cujas barras trabalham exclusivamente


a esforços normais centrados, de compressão ou tração. Em virtude dos vínculos esta-
belecidos e dos carregamentos, aplicados exclusivamente nos nós, não ocorrem esfor-
ços de cisalhamento ou flexão. Esses tipos de estruturas foram objeto de estudo do
Bloco 2.

3.1 Esforços internos em estruturas de barras

Na Imagem 3.1 é representada uma barra de madeira de comprimento (ℓ) e área trans-
versal (𝐴) que é mantida em equilíbrio sendo submetida simultaneamente a esforços
normais centrados (𝑁) de tração, esforços de corte (𝑉) e momentos de flexão (𝑀0 ).

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Imagem 3.1 – Barra de madeira

Nestas condições, conforme a distribuição de esforços internos, a barra é submetida a


tensões de cisalhamento devidas ao corte e tensões normais devidas à flexão composta
conforme o Quadro 3.1.

Quadro 3.1 – Tensões na barra da Imagem 3.1


TENSÕES DE CISALHAMENTO TENSÕES NORMAIS
𝑉 𝑁 𝑀0
𝜏= 𝜎= −
𝐴 𝐴 𝑊𝑧
Fonte: O autor.

3.1.1 Esforços normais

Para as forças normais axiais, vale as estruturas de barras, a convenção de sinal positivo
para forças de tração e negativos para compressão, como mostrado no Desenho 3.1. A
exceção para esse tipo de convenção ocorre na mecânica dos solos, pois os solos não
resistem à tração, e como só há tensões de compressão, não são utilizados sinais.

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Desenho 3.1 – Esforços normais em barras

Fonte: O autor.

3.1.2 Esforços cortantes

Em uma estrutura de barras, os esforços cortantes considerados positivos são aqueles


que produzem tendência de rotação do trecho de barra no sentido horário; os negativos
produzem tendência de rotação do trecho de barra no sentido anti-horário.

Desenho 3.2 – Esforços cortantes em barras

Fonte: O autor.

3.1.3 Esforços internos de momento fletor

Os diagramas de momentos fletores são sempre desenhados do lado em que tracionam


as respectivas mesas. É por essa razão que ficou estabelecido que momentos fletores
são aqueles que tracionam as fibras inferiores. Mas, em estruturas de pórticos, para
melhor compreensão, dizemos que os momentos positivos são os que tracionam as bar-
ras dos lados internos.

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Desenho 3.3 – Momentos fletores positivos

Fonte: O autor.

3.2 Comportamento de vigas e pórticos isostáticos

Estruturas estaticamente determinadas ou estruturas isostáticas são aquelas cujas rea-


ções de apoio e esforços internos podem ser completamente determinados apenas pe-
las condições de equilíbrio (MARTHA, 2010). Nestes casos, o número total de vínculos é
igual às condições de equilíbrio que puderem ser estabelecidas.

Estruturas hipostáticas são instáveis do ponto de vista estrutural por possuírem menos
vínculos do que os necessários para garantir o equilíbrio. Estes casos obviamente resul-
tam em colapso da estrutura, e ocorrem especialmente quando vínculos anteriormente
existentes são comprometidos por alguma patologia ou quando algum dano estrutural
é causado intencionalmente ou acidentalmente.

As estruturas estaticamente indeterminadas ou estruturas hiperestáticas possuem vín-


culos excedentes em relação às condições de equilíbrio. A maioria das estruturas são
desse tipo, e como exemplo temos os edifícios, que são estruturas compostas por vários
pórticos conectados. Essas estruturas são tratadas no Bloco 5.

3.2.1 Vigas isostáticas

Considerando que temos três equações de equilíbrio externo, são vários os exemplos de
vigas isostáticas: aquelas que possuem exatamente três vínculos estruturais. A viga en-
gastada do Desenho 3.4 possui, no (único) apoio, a capacidade de fornecer uma força
reativa vertical, outra horizontal e um momento reativo. Esses tipos de vigas, com os
mais diversos tipos de carregamentos, foram preteritamente resolvidas neste texto e na
disciplina de Resistência dos Materiais.

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Desenho 3.4 – Viga engastada simples

Fonte: O autor.

A viga do Desenho 3.5 possui dois balanços entre (𝐴𝐵) e (𝐶𝐷) e apenas um apoio fixo
em (𝐵) e um apoio móvel em (𝐶). Estes apoios garantem o equilíbrio para qualquer
carregamento aplicado sobre ela, em particular o carregamento distribuído de intensi-
dade (𝑝) e o carregamento concentrado de intensidade (𝑃).

Desenho 3.5 – Viga duplamente apoiada com balanços

Fonte: O autor

Outros tipos de vigas especiais são tratados no Bloco 4.

3.2.2 Pórticos simples isostáticos

São pórticos que possuem três restrições vinculares, que garantirão equilíbrio para qual-
quer carregamento aplicado nas barras, como mostrado no Desenho 3.6.

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Desenho 3.6 – Quadro biapoiado

Fonte: O autor.

O pórtico do Desenho 3.7 tem um único apoio de engaste, que absorve todos os esforços
internos provenientes das barras.

Desenho 3.7 – Quadro engastado

Fonte: O autor.

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3.3 Diagramas de momento fletor e força cortante em vigas isostáticas

Para construir os diagramas de esforços solicitantes, é necessário determinar, para cada


seção da barra, as funções que representam os esforços correspondentes.

3.3.1 Viga simplesmente apoiada com carregamento concentrado

No Desenho 1.14 foi apresentado o modelo de uma viga simplesmente apoiada com
carregamento concentrado em uma posição intermediária 𝑥𝑃 ∈ ]0; ℓ[ . O esquema es-
tático é reproduzido no Desenho 3.8, junto com os diagramas de esforços solicitantes.

As reações de apoio da viga foram determinadas na seção 1.10.1.

𝑥𝑃 ℓ − 𝑥𝑃
𝑅𝐵 = ∙𝑃 𝑅𝐴 = ∙𝑃
ℓ ℓ

Em relação à seção 𝐶 − , imediatamente antes da posição da força concentrada 𝑃, a rea-


ção de apoio 𝑅𝐴 tende a girar a barra no sentido horário, produzindo força cortante
positiva à esquerda de 𝑃. Em relação à seção 𝐶 + , imediatamente depois da posição da
força concentrada 𝑃, a reação de apoio 𝑅𝐵 tende a girar a barra no sentido anti-horário,
produzindo força cortante negativa. Consequentemente:

ℓ − 𝑥𝑃 𝑥𝑃
𝑉(𝐶 − ) = 𝑥→𝑥
lim 𝑉(𝑥) = ∙𝑃 𝑉(𝐶 + ) = 𝑥→𝑥
lim 𝑉(𝑥) = ∙𝑃
𝑃 ℓ 𝑃 ℓ
𝑥<𝑥𝑃 𝑥>𝑥𝑃

Uma vez que os limites laterais da função 𝑉(𝑥) são diferentes, a seção 𝐶 é um ponto de
descontinuidade da força cortante, justamente porque é onde está locada a força con-
centrada 𝑃. E o valor absoluto da descontinuidade é exatamente 𝑃.

Portanto, a função 𝑉: [0; ℓ] ⟶ ℝ, que representa a força cortante em uma seção 𝑆 de


coordenada 𝑥 ∈ [0; ℓ], ficou definida em duas partes, sendo descontínua na posição
𝑥𝑃 ∈ ]0; ℓ[ da força concentrada 𝑃:

( ℓ − 𝑥𝑃 )
∙𝑃 ; 𝑥 ∈ [0; 𝑥𝑃 [
𝑉(𝑥) = { ℓ
𝑥𝑃
∙𝑃 ; 𝑥 ∈ ]𝑥𝑃 ; ℓ]

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Quanto aos momentos fletores, em relação à seção 𝐶 − , a força reativa 𝑅𝐴 atua tracio-
nando a viga na mesa inferior, com um momento fletor de 𝑅𝐴 ∙ 𝑥𝑃 . Em relação à seção
𝐶 − , a força reativa 𝑅𝐵 atua tracionando a mesa inferior, com um momento fletor de 𝑅𝐵 ∙
(ℓ − 𝑥𝑃 ). Resultado:

ℓ − 𝑥𝑃 𝑥𝑃
𝑀(𝐶 − ) = 𝑥→𝑥
lim 𝑀(𝑥) = ൬ ∙ 𝑃൰ ∙ 𝑥𝑃 𝑀(𝐶 + ) = 𝑥→𝑥
lim 𝑀(𝑥) = ∙ 𝑃 ∙ (ℓ − 𝑥𝑃 )
𝑃 ℓ 𝑃 ℓ
𝑥<𝑥𝑃 𝑥>𝑥𝑃

Como os limites laterais da função 𝑀(𝑥) são iguais, a função é contínua na seção 𝐶, de
coordenada 𝑥 = 𝑥𝑃 . Portanto:

𝑥𝑃 ∙ (ℓ − 𝑥𝑃 )
𝑀(𝑥𝑃 ) = 𝑃 ∙

Com isso, a função 𝑀: [0; ℓ] ⟶ ℝ que representa o momento fletor em uma seção 𝑆 de
coordenada 𝑥 ∈ [0; ℓ] ficou definida em duas partes, mas é contínua:

( ℓ − 𝑥𝑃 )
𝑃∙ ∙𝑥 ; 𝑥 ∈ [0; 𝑥𝑃 [
𝑀(𝑥) = { ℓ
( ℓ − 𝑥𝑃 )
𝑃∙ ∙ 𝑥 − 𝑃(𝑥 − 𝑥𝑃 ) ; 𝑥 ∈ ]𝑥𝑃 ; ℓ]

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Desenho 3.8 – Diagrama de esforços solicitantes da estrutura do Desenho 1.14

Fonte: O autor.

3.3.2 Viga engastada com carregamento uniforme

No Desenho 3.9 é representada uma viga de comprimento ℓ engastada na seção {𝐴} e


livre na extremidade da seção 𝐵. O apoio de engaste absorverá a resultante do carrega-
mento distribuído e também o momento resultante destes carregamentos.

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Desenho 3.9 – Viga engastada com carregamento uniformemente distribuído

Fonte: O autor.

O carregamento de intensidade 𝑝, distribuído ao longo da viga, tem resultante estática



𝑝 ∙ ℓ, com uma distância 2 ao apoio, que reage com força concentrada, de sentido oposto

à essa resultante, e com um momento concentrado com intensidades:

𝑅𝐴 = 𝑝 ∙ ℓ 𝑝 ∙ ℓ2
𝑀𝐴 =
2

Internamente, a viga sofre esforços internos de corte ou cisalhamento. Em relação à


seção (𝑆), de coordenada 𝑥, a reação de apoio (𝑅𝐴 ) tende a girar a barra no sentido
horário, produzindo força cortante positiva. A resultante parcial (𝑝 ⋅ 𝑥) do carrega-
mento distribuído tende a girar a barra no sentido anti-horário, produzindo força cor-
tante negativa. Consequentemente:

𝑉(𝑥) = 𝑝 ∙ ℓ − 𝑝 ∙ 𝑥

Portanto, a função 𝑉: [0; ℓ] ⟶ ℝ, que representa a força cortante em uma seção 𝑆 de


coordenada 𝑥 ∈ [0; ℓ], é uma função polinomial de primeiro grau.

Quanto aos momentos fletores, em relação à seção (𝑆), a força reativa 𝑅𝐴 atua tracio-
nando a viga na mesa inferior, com um momento fletor de (𝑅𝐴 ∙ 𝑥). A resultante parcial
(𝑝 ⋅ 𝑥) do carregamento distribuído tende a tracionar a viga na mesa inferior, com um
𝑥
momento fletor de (𝑝 ⋅ 𝑥 ⋅ 2).

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Resultado:

𝑝 ∙ ℓ2
𝑀(𝑥) = 𝑝 ∙ ℓ ⋅ 𝑥 −
2

Portanto, a função 𝑀: [0; ℓ] ⟶ ℝ, que representa o momento fletor em uma seção 𝑆


de coordenada 𝑥 ∈ [0; ℓ], é uma função polinomial de segundo grau.

Desenho 3.10 – Viga engastada com carregamento uniformemente distribuído

Fonte: O autor.

3.4 Representação gráfica das curvas elásticas

Na Imagem 3.2 é mostrada a configuração deformada de uma viga de metal submetida


à flexão. Observa-se o encurvamento com concavidade para cima, produzido pelo efeito
da flexão gerada pelos carregamentos aplicados na viga.

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Imagem 3.2 – Viga de seção tipo I submetida à flexão geral

No Desenho 3.11 é representada uma viga simplesmente apoiada com um carrega-


mento distribuído que varia de acordo como uma função 𝑝: [0, ℓ] ⟶ ℝ dada. A origem
do sistema foi colocada no ponto fixo 𝐴 da estrutura, e foi escolhida uma seção 𝑆 de
coordenada 𝑥 para escrever cada função em função da respectiva coordenada.

Desenho 3.11 – Viga duplamente apoiada com carregamento distribuído

Fonte: O autor.

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No desenho, é representada, em escala ampliada, o formato aproximado da linha elás-
tica da viga, isto é, mostrando as deflexões (𝑣(𝑥)) de pontos de uma seção (𝑆), de
coordenada 𝑥, que corresponde ao carregamento de intensidade (𝑝(𝑥)), variável para
cada posição. Essas deflexões são matematicamente determinadas pela resolução da
equação diferencial da linha elástica:

𝜕 2 𝑣(𝑥) 𝑀(𝑥)
2
=
𝜕𝑥 𝐸 ∙ 𝐼(𝑥)

3.5 Relações entre as cargas, esforços cortantes e momentos fletores

As relações diferenciais entre momento fletor, força cortante e carregamento distribu-


ído são:

𝜕𝑀 𝜕𝑉
𝑉(𝑥) = 𝑝(𝑥) = −
𝜕𝑥 𝜕𝑥

Para o caso em que a rigidez da viga à flexão seja constante, temos este conjunto de
equações diferenciais para a determinação da linha elástica:

𝜕 4𝑣 𝜕 3𝑣 𝜕 2𝑣
𝐸∙𝐼∙ = −𝑝(𝑥) 𝐸∙𝐼∙ = 𝑉(𝑥) 𝐸∙𝐼∙ = 𝑀(𝑥)
𝜕𝑥 4 𝜕𝑥 3 𝜕𝑥 2

O Desenho 3.12 é um exemplo de como se relacionam matematicamente as funções do


carregamento (𝑝(𝑥)), da força cortante (𝑉(𝑥)) e do momento fletor (𝑀(𝑥)). Observa-
se que o momento máximo ocorre quando a força cortante é nula, que é uma condição
para a busca de pontos de máximo.

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Desenho 3.12 – Carregamentos, deflexões e esforços solicitantes

Fonte: O autor.

3.6 Análise de vigas isostáticas

No Desenho 3.13 é representada uma viga isostática com vão central de 8 𝑚 no qual é
𝑘𝑁
aplicado um carregamento uniforme de 20 . No balanço de 4 𝑚 há uma força vertical
𝑚

de 20 𝑘𝑁, e no balanço de 2 𝑚 há uma força vertical de 16 𝑘𝑁 e uma compressão de


8 𝑘𝑁.

Desenho 3.13 – Viga duplamente apoiada com balanços

Fonte: O autor.

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A reação horizontal no apoio fixo vale 𝐻𝐵 = 8 𝑘𝑁, com o sentido indicado no desenho.
O carregamento uniforme tem resultante de:

𝑘𝑁
20 ⋅ 8𝑚 = 160 𝑘𝑁
𝑚

A posição desta resultante é no ponto médio do trecho (𝐵𝐶). As reações verticais po-
dem ser determinadas conjuntamente, usando o equilíbrio de forças verticais e o equi-
líbrio de momentos em relação a qualquer ponto da estrutura.

No entanto, é mais conveniente utilizar duas equações de equilíbrio de momentos, em


relação a pontos distintos convenientemente escolhidos, para determinar cada uma de-
las de maneira independente. Cabe observar que a compressão (8 𝑘𝑁) aplicada no
ponto (𝐷), tem linha de ação que coincide com o eixo da barra, e isso significa que ela
não produzirá momento em relação a qualquer ponto que pertença à barra.

Em relação ao nó (𝐵), as reações no apoio fixo não causam momento. Sobram apenas
as forças verticais conhecidas além da reação 𝑉𝐶 , que será a única variável desta equa-
ção de equilíbrio de momentos:

−20𝑘𝑁 ⋅ 4𝑚 + 160𝑘𝑁 ⋅ 4𝑚 − VC ⋅ 8m + 16kN ⋅ 10m = 0 ⟹ 𝑉𝐶 = 90𝑘𝑁

Em relação ao nó (𝐶), as reações no apoio móvel não causam momento. Sobram apenas
as forças verticais conhecidas além da reação 𝑉𝐵 , que será a única variável desta equa-
ção de equilíbrio de momentos:

−20𝑘𝑁 ⋅ 12𝑚 + 𝑉𝐵 ⋅ 8𝑚 − 160𝑘𝑁 ⋅ 4𝑚 + 16𝑘𝑁 ⋅ 2𝑚 = 0 ⟹ 𝑉𝐵 = 106𝑘𝑁

3.7 Construção de diagramas de esforços solicitantes em vigas isostáticas

Concluída a análise de equilíbrio externo, com todas as reações determinadas, é possível


efetuar a análise de equilíbrio interno para a construção dos diagramas de forças

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normais, forças cortantes e momentos fletores. No Desenho 3.14 são representados,
além da viga com os carregamentos, as reações de apoio determinadas na seção ante-
rior.

Desenho 3.14 – Reações de apoio em viga duplamente apoiada com balanços

Fonte: O autor.

Os vínculos da viga foram omitidos, por não serem mais necessários para a sequência
da análise, e foi acrescentada a representação gráfica das deflexões, com o auxílio do
Ftool. Começando pelo diagrama de forças normais, observa-se que há compressão so-
mente no vão central e no balanço direito.

Desenho 3.15 – Carregamento e diagrama de forças normais

Fonte: O autor.

Quanto às forças cortantes, convém iniciar pelas beiradas da viga. No balanço da es-
querda a força de 20𝑘𝑁 tende a girar o trecho da barra no sentido anti-horário, e por
isso, no trecho (𝐴𝐵), a cortante é de −20𝑘𝑁. No balanço da direita, a força de 16𝑘𝑁
tende a girar o trecho da barra no sentido horário, e por isso, no trecho (𝐶𝐷) a cortante
é de +16𝑘𝑁.

Quanto ao trecho central (𝐵𝐶), cabe observar a relação com o carregamento distribu-
ído, conforme apresentado na seção 3.5. Como o carregamento é uma função cons-
tante, a força cortante é uma função contínua de primeiro grau. O gráfico é um trecho

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de reta. A presença da reação de apoio em (𝐵) produz uma descontinuidade na função,
de intensidade igual à reação de apoio, que é de 106𝑘𝑁 girando o trecho de barra no
sentido horário. Portanto:

𝑉𝐵+ = −20𝑘𝑁 + 106𝑘𝑁 = 86𝑘𝑁

A presença da reação de apoio em (𝐶) produz uma descontinuidade na função, de in-


tensidade igual à reação de apoio, que é de 90𝑘𝑁 girando o trecho de barra no sentido
anti-horário. Portanto:

𝑉𝐶 − = 16𝑘𝑁 − 90𝑘𝑁 = −74𝑘𝑁

Com esse método de análise, poupou-se muito trabalho que se teria ao utilizar o teo-
rema do corte sucessivamente e escrever a função algebricamente em cada trecho. O
diagrama completo das forças cortantes na barra isostática é apresentado no Desenho
3.16.

Desenho 3.16 – Diagrama de forças cortantes

Fonte: O autor.

Essa estratégia de análise de seções pode ser utilizada também para construir o dia-
grama de momentos fletores, começando pelas beiradas. Em ambos os balanços, não
há carregamento distribuído e, sendo as forças cortantes funções constantes, os mo-
mentos são funções de primeiro grau, pois:

𝜕𝑀
𝑉(𝑥) =
𝜕𝑥

Nas extremidades, os momentos fletores são nulos, e as forças concentradas flexionam


os respectivos trechos de balanços tracionando as mesas superiores das vigas, como
representado no Desenho 3.17. No trecho central (𝐵𝐶), basta efetuar a integração da
função das forças cortantes, que são uma equação de reta, para obter os momentos

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fletores, que serão uma função contínua de segundo grau. Colocando a origem das co-
ordenadas em (𝐵), obtém-se para as forças cortantes a função:

(−74𝑘𝑁 − 86𝑘𝑁)
𝑉(𝑥) = 86𝑘𝑁 + ⋅𝑥 ⟹ 𝑉(𝑥) = 86 − 20𝑥
8𝑚

Desenho 3.17 – Diagrama de momentos fletores

Fonte: O autor.

Efetuando a integração, obtém-se:

𝑀(𝑥) = 86 ⋅ 𝑥 − 10 ⋅ 𝑥 2 + 𝑐1

O momento fletor em (𝐵) vale:

𝑀𝐵 = 𝑀(0) = −20𝑘𝑁 ⋅ 4𝑚 = −80 𝑘𝑁 ⋅ 𝑚

Este é exatamente o valor da constante de integração 𝑐1. Finalmente:

𝑀(𝑥) = −80 + 86 ⋅ 𝑥 − 10 ⋅ 𝑥 2

Colocando 𝑥 = 8𝑚, obtém-se o valor:

𝑀𝐶 = 𝑀(8𝑚) = −32 𝑘𝑁 ⋅ 𝑚

Este é exatamente o mesmo valor que se obtém calculando o momento fletor pelo tre-
cho (𝐷𝐶). E tudo está de acordo com o diagrama completo apresentado no Desenho
3.17 para os momentos fletores.

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3.8 Determinação, indeterminação e instabilidade estática de pórticos planos

Pórticos são estruturas planas formadas por duas colunas e uma viga sobre elas apoia-
das, com carregamento sendo aplicado tanto nos nós quanto nas barras. Como em qual-
quer estrutura plana, há três equações de equilíbrio disponíveis: forças verticais, forças
horizontais e momentos de forças.

3.8.1 Pórticos isostáticos

As conexões entre a viga e os pilares de um pórtico simples como o do Desenho 3.18


precisam ser rígidas para que a estrutura seja estaticamente determinada.

Desenho 3.18 – Pórtico plano isostático simples

Fonte: O autor.

Desta maneira, o apoio fixo restringe todos os deslocamentos e contribui com duas re-
ações de apoio. O apoio móvel bloqueia somente deflexões verticais e, consequente-
mente, contribui com a terceira reação de apoio.

Mas esta não é a única possibilidade de pórtico estaticamente determinado. Na estru-


tura do Desenho 3.19 foram colocados apoios engastados, e cada um deles contribui
com três reações de apoio, totalizando seis variáveis a serem determinadas. Mas cada
rótula libera rotações relativas no topo dos pilares, o que gera novas equações de con-
dição, e isto permitirá a determinação estática da estrutura.

20
Desenho 3.19 – Pórtico plano isostático com rótulas

Fonte: O autor.

Qualquer rótula que for acrescentada às estruturas dos desenhos anteriores as tornará
estaticamente instáveis, o que significa colapso estrutural.

3.8.2 Pórticos hiperestáticos

A estrutura do Desenho 3.20 é estaticamente indeterminada, pois não há condições adi-


cionais estabelecendo novas relações matemáticas para determinar todas as reações de
apoio.

Desenho 3.20 – Pórtico plano hiperestático simples

Fonte: O autor.

21
Este tipo de estrutura hiperestática é assunto do Bloco 5.

3.9 Análise de pórticos planos isostáticos

Na estrutura do Desenho 3.21, foram aplicados carregamentos uniformes.

Desenho 3.21 – Pórtico plano isostático

Fonte: O autor.

Todos os esforços horizontais são equilibrados pela única reação de apoio nesta direção,
que é igual à resultante do carregamento distribuído horizontal:

𝑘𝑁
𝐻1 = 2 ⋅ 2,5 𝑚 = 5 𝑘𝑁
𝑚

A posição dessa resultante é central e tem 1,25 𝑚 de distância para a linha horizontal
definida pelos apoios. O carregamento vertical possui resultante de:

𝑘𝑁
4 ⋅ 6 𝑚 = 24 𝑘𝑁
𝑚

A posição dessa resultante é central e tem 3 𝑚 de distância para cada um dos


apoios. Como há duas reações verticais de apoio, é mais conveniente utilizar dois equi-
líbrios de momentos a fim de determinar, independentemente, cada uma das reações.

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Para o equilíbrio de momentos em relação ao apoio móvel, essa reação desaparece. A
reação horizontal 𝐻1 , já determinada, possui linha de ação passando pelo ponto de aná-
lise e, portanto, tem momento nulo. Isso permite obter:

−5 𝑘𝑁 ⋅ 1,25 𝑚 − 24 𝑘𝑁 ⋅ 3 𝑚 − 𝑉1 ⋅ 6 𝑚 = 0 ⟹ 𝑉1 = 13 𝑘𝑁

Para o equilíbrio de momentos em relação ao apoio fixo, as duas reações desaparecem,


o que permite obter:

−5 𝑘𝑁 ⋅ 1,25 𝑚 + 24 𝑘𝑁 ⋅ 3 𝑚 − 𝑉2 ⋅ 6 𝑚 = 0 ⟹ 𝑉2 = 11 𝑘𝑁

3.10 Construção dos diagramas de esforços solicitantes em pórticos espaciais

No Desenho 3.22 é apresentado um pórtico que, apesar de ser plano, possui carrega-
mento espacial. A força vertical de (15 𝑘𝑁) produz flexão na barra horizontal e também
na barra vertical. A força de (3 𝑘𝑁) produz flexão na barra horizontal e torção na barra
vertical.

Considerando as direções de maior e de menor inércia, a posição correta das barras


metálicas já está representada. Como se trata de uma estrutura isostática, não há ne-
cessidade de utilização de software comercial, pois os diagramas de esforços solicitantes
são bastante simples de serem construídos.

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Escola de Engenharia – Eng. Civil
Universidade Presbiteriana
Desenho Mackenzie
3.22 – Pórtico espacial isostático

Figura 1 – Posição dos elementos

Perfil I
300 x 200 x 9,5 x 8

Fonte: Autores (2013)

(a) Diagrama de eixo (b) Posição dos elementos

Fonte: O autor.

Conclusão

Os pórticos são estruturas simples compostas de uma viga apoiada sobre dois pilares. É
a molécula geradora de estruturas de edifícios. A construção de diagramas de esforços
solicitantes é o primeiro passo para poder verificar se uma peça estrutural atende às
solicitações, ou para determinar as dimensões da peça em função das solicitações.

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Método dos Elementos Finitos 1


Aula 09 – Pórtico Espacial
Softwares gratuitos ajudam nessa tarefa elementar, para deixar que o profissional se
concentre em outras questões do dimensionamento estrutural. O princípio da superpo-
sição é extensivamente usado para problemas lineares correspondentes às grandezas
proporcionais.

Ao conceber uma estrutura geralmente desenha-se o eixo da barra. Mas, fisicamente,


considerando-se as três dimensões, torna-se necessário localizar o centro geométrico
da seção da peça, o que é uma tarefa trabalhosa principalmente em seções delgadas de
aço laminado.

REFERÊNCIAS

MARTHA, Luiz Fernando. Análise de estruturas. Conceitos e métodos básicos. 2010.


(9788535234558).

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