Como eu posso voltar ao meu mundo se eu pertenço a outra
galáxia? Prefiro mergulhar nesses pensamentos que vagam por
outros mundos, distantes... Distante até demais. Esses ao mesmo
tempo me deixam com medo, pois são eles que mudam a minha vida
inteira. Todavia, evita-los é impossível.
Eu olhava para o teto do meu quarto e me perguntava o que
seria de mim, não tinha rumo, não fazia a mínima ideia do que faria
depois que terminasse o colegial e eu tinha um pouco mais que um
ano. As férias não me ajudavam a pensar muito nisso, apenas em
coisas fúteis o que era irônico, pois eu gostava de pensar. Encontrar
a resposta estava mais complicado do que eu havia imaginado, mas
teria que encontrar.
É complicado tomar decisões nessa idade, todos sabem disso,
o medo do futuro enche nosso peito, o medo de fazer a escolha
errada principalmente porque são essas escolhas que decidem as
nossas vidas.
Levantei da minha cama e fui até a pequena prateleira de
madeira embutida na parede que estava abarrotada com os meus
livros. Olhei por um tempo os exemplares e peguei “Jane Eyre” de
Charlotte Brönte. Aquele livro me inspirava de alguma forma, talvez
fosse pela forte mensagem feminista que continha na história ou o
caso de amor nada convencional. Não que eu seja uma mulher
feminista ao extremo ou romântica demais, na verdade sou
moderada em ambos os aspectos.
“JANE!” Gritou minha mãe da sala.
Arregalei os olhos, me levantei e fui encontrar Emma, minha
mãe. Quando a vi ela estava toda suja e me olhava furiosa.
“O que aconteceu?” Perguntei assustada. “Você foi assaltada
ou algo do tipo?”
Emma bufou e passou a mão em seus cabelos castanhos que
estavam um pouco embaraçados.
“Fui atacada pelo cachorro do vizinho.” Ela disse indo para a
cozinha. “Estava chegando e ele simplesmente voou pra mim.” Ela
colocou as compras em cima da mesa e eu me segurava para não rir.
“Jane você pode ir à casa do vizinho dizer o cachorro abençoado está
solto?”
Revirei os olhos, não gostava de ir naquela casa. Não que
eles não fossem bons vizinhos, na verdade eram bons até demais.
“Ah! Por que eu?” retruquei. “Você quem foi atacada.”
Emma me fuzilou com seus grandes olhos castanho. Esta é
minha mãe, Emma Hale, a pessoa mais imparcial possível. Às vezes
era muito difícil acompanhar o humor dela, mudava com tanta
facilidade.
“Você vai lá porque agora a sua mãe aqui vai tomar um
banho.” Disse ela sem humor.
 “Tudo bem.” Eu disse deixando-a.
Ao abrir a porta procurei pelo cachorro descontrolado, ele
não estava por perto. Rapidamente fui em direção à casa dos Knight.
Toquei a campainha, olhei ao redor e nem sinal do cachorro. Esperei
quase um minuto e toquei novamente. Desta vez ouvi passos e
depois um barulho de fechadura abrindo.
Esperei ansiosamente a pessoa aparecer e vi o rosto que
esperava ver. Liam Knight abriu a porta com uma cara séria, mas
rapidamente abriu um belo sorriso, que combinava perfeitamente
com seus olhos verdes e sua pele pouco clara. Seu corpo tinha toda
uma sintonia maravilhosa.
Esta era a razão de eu não gostar de ir naquela casa, não sabia
como agir perto daquele garoto e não era por falta de oportunidades
de treinamento, Liam e eu estudávamos juntos desde o primeiro ano.
Quatro anos ao lado dele e nunca me acostumara com a sua
presença. Eu penso que seja o fato de que quando pisa na escola ele
muda completamente.
“Jane!” murmurou ele olhando para os lados. “Aconteceu
alguma coisa?”
Eu hesitei um pouco. Com certeza estava surpreso com a
minha visita inesperada, eu raramente aparecia em sua casa.
“Err... Seu cachorro está solto e ele pulou na minha mãe. Ela
está muito brava. Eu vim avisar apenas.” Eu murmurei.
Liam fez uma careta que levei alguns segundos pra saber se
era mesmo uma careta.
“Droga! Vou procura-lo antes que ele apronte outra.” Disse
ele entrando. “Vou pegar meu casaco.”
Eu me virei lentamente para ir embora e estava quase
atravessando a rua quando um cachorro passou disparado me
derrubando. Bati minha cabeça com força na calçada, depois de
alguns segundos a dor invadiu o meu corpo. Uma dor horrível nos
meus braços e um ardor no meu pescoço, senti também algo penetrar
minha nuca, entrei em desespero. Escutei passos apressados se
aproximando, mas não consegui distinguir quem era.
“Jane! Jane! Você está bem?” perguntou Liam desesperado
com medo de tocar em mim e me ferir mais. “Cachorro idiota.”
“Eu acho que o encontrei.” Eu disse sem humor algum.
Mesmo com o desespero de saber o que tinha na minha nuca eu não
conseguia me mover. “Tem algo na minha nuca.”
Senti braços me segurando e a dor nos meus braços
aumentou o que me fez gemer, isso era patético, porém não podia
me controlar nesse momento. Não senti mais o chão embaixo de
mim e abri os olhos para ver o que estava acontecendo e Liam estava
me carregando.
“Sua cabeça está sangrando.” Ele murmurou. “Vou leva-la
para o meu pai, aguenta firme.”
 “Não é por nada não, mas eu ainda sei andar.” Retruquei
ofegante com a dor na nuca. “Pode me colocar no chão, por favor?”
Liam olhou pra mim por um segundo com uma cara
impaciente.
“Você não vai querer discutir isso agora?” Disse ele decidido
a subir as escadas o mais rápido possível.
A dor era tanta que eu queria gritar, mas consegui me
controlar. Liam me levou para uma sala pequena e bem clara,
colocou-me em uma maca e saiu apressadamente. Depois de alguns
minutos o Sr. Knight apareceu.
“O que aconteceu?” perguntou ele olhando para os meus
braços.
“Eu fui atropelada por um cachorro.” Eu disse, era pra ser
engraçado.
“O nosso cachorro disse Liam.” Ele parecia está com raiva.
“Vou prendê-lo.”
“Vá logo, eu cuido dela agora.” Disse o sr. Knight pegando
os curativos. “Pelo o que estou vendo seus braços estão ralados...
Err... Srta. Hale, sim?” Ele se posicionou acima da minha cabeça e
me olhou. Eu concordei. “Consegue levantar a cabeça um pouco?”
Levantei com dificuldade, pois minha cabeça doía muito e os
braços ardiam com os ferimentos. Senti as mãos do sr. Knight em
minha nunca. Segundos depois de sua analise ele voltou para ficar de
frente para mim.
“Tem um corte em sua nuca, você deve ter caído em cima de
algo. Vou limpar o corte e terei que costurar.” Eu arregalei os olhos
e o sr. Knight sorriu. “Não se preocupe não vai doer, mas terei que
cortar algumas mechas do seu cabelo.”
“Já sei como é ser costurada sr. Knight e não me importo que
corte meu cabelo.” Murmurei enfim alguma coisa. “Só não sabia que
uma queda assim poderia fazer um estrago desses.”
O sr. Knight se dirigiu às gavetas abrindo-as uma de cada e
pegando algumas bandagens e uma agulha que eu reconheci
facilmente e outras coisas que preferi não olhar. Senti mexer em
minha cabeça.
“Consegue levantar os braços e segurar essa parte do seu
cabelo?” ele me perguntou jogando uma grande camada do meu
cabelo, eu o agarrei. “Melhor assim, vai ser rápido.”
Ouvi o barulho de uma tesoura e delicadamente senti alguma
coisa caindo em minhas costas. Logo depois passou alguma coisa no
ferimento que ardeu, mas permaneci calma. “Eu sinto muito por
isso.”
 “Tudo bem. Não sabia que o senhor era médico, acho que
nunca prestei atenção.” Murmurei sem graça.
O Sr. Knight hesitou um pouco. Ele aparentava ser o um
homem de quarenta anos, porém ele era muito bonito, cabelos pouco
grisalhos, olhos verdes e grandes, a barba estava feita o que dava pra
ver seus dentes brancos. Tinha uma aparência muito amigável.
“Você é uma boa observadora.” Disse ele entre risos, eu ri
também. “E nós moramos aqui há tanto tempo.”
Na verdade eu era, porém observo coisas que na minha
opinião são importantes. Entretanto, eu devia saber que o pai do
garoto mais lindo da escola é médico e além disso mora em frente a
minha casa.
“Perdão senhor.” Disse sorrindo. Agora ele estava
terminando o curativo no meu pescoço. “As vezes eu vivo no mundo
da lua.”
“Liam já me disse isso.” Murmurou ele sorrindo baixinho.
O choque percorreu pelo meu corpo, Liam falava sobre mim
para o seu pai. Como ele fazia isto se nem se quer falava comigo
quando estávamos na escola?
“Ele... Falou?” perguntei tentando não parecer confusa.
“Sim falou, ele já me disse várias coisas sobre você. Penso eu
que ele a observa frequentemente, mas não comenta com ele sobre
isso. Ele ficaria muito bravo.” Senti alguma coisa penetrando a
minha cabeça e percebi que ele estava costurando. “Acho que Liam
anda saindo com o tipo de garota errada.”
Permaneci em silêncio, porém eu gostaria de afirmar ao Sr.
Knight que ele estava certo. Liam era popular na escola e
simplesmente pegava todas.
“Liam é jovem e ainda tem muito que aprender.
Principalmente a valorizar mulher de verdade.” Continuou o Sr.
Knight, seu tom era decidido.
“Se tem algo que eu aprendi Sr. Knight é que as pessoas
legais insistem em procurar pessoas erradas para ter um
relacionamento.” O Sr. Knight me olhou com curiosidade.
“Por que diz isso Srta. Hale?”
“Porque nós aceitamos o amor que pensamos merecer.”
Murmurei olhando para o chão distraída.
Nesse momento Liam entrou no quarto e nos observou por
um momento.
“O que estão conversando posso saber?” disse sorrindo
gentilmente.
 “Estávamos falando que a Srta. Hale virá todos os dias aqui
para trocar estes curativos.”
Olhei divertida para minhas pernas escondendo um breve
sorriso da astucia do Sr. Knight em não ser pego pelo filho. Ouvi
passos e senti as mãos de Liam sobre as minhas, levantei para olhá-
lo.
“Eu seguro pra você.” Ele murmurou, seu olhar gentil e
divino. É mais lindo do que eu pensei.
“Já disse senhor que não há necessidade.” Retruquei fingindo
surpresa com a informação passado pelo Sr. Knight. Não era bem
um fingimento.
“Não, não, não. Você virá todas as manhãs, é melhor que eu
faça isso, verá que irá curar rápido. Devo pedir-lhe que tome cuidado
para não bater a sua cabeça, quando for dormir deite de lado que
ficará mais confortável.” Disse o Sr. Knight gentilmente. “Agora
você tome cuidado.”
Os puxões em meu couro cabeludo cessaram e o Sr. Knight
começou a passar uma faixa.
“Terá que improvisar ao sair de casa Srta. Hale quando saí de
casa.” Murmurou o sr. Knight se divertindo.
“Me conforta que o senhor ache essa situação engraçada. Eu
também acho. Por favor, me chame de Jane.” Eu disse sorrindo de
mim mesma.
O Sr. Knight sorriu de acordo e terminou de passar a faixa na
minha cabeça. Era muito estranho, parecia que tinha um peso na
cabeça. Liam soltou meu cabelo.
“Obrigada Sr. Knight.” Disse tranquila.
“Agora vou limpar seus braços rapidamente. O principal já
está cuidado.” Ele olhou pra mim com satisfação. “Espere um
momento.”
Novamente o Sr. Knight dirigiu-se para o armário e abriu
gaveta por gaveta. Depois de alguns minutos ele pegou meu braço
esquerdo começou um processo de limpeza dos meus ferimentos,
ardia um pouco, tentei não dá atenção.
O silêncio caiu sobre nós, olhávamos apenas para o sr.
Knight e meu braço. Depois que terminou com o braço esquerdo,
analisou o outro. Este não tinha tantos ferimentos, então ele limpou-
os rápido.
“Pronto Srta. Hal... Quero dizer, Jane. Me responsabilizo por
seus ferimentos e faço questão de fazer os curativos todos os dias.”
Ele me olhou com educação, esse olhar parecia o de Liam as vezes.
“Não vou discuti sobre isso.” Eu sorri.
 Liam olhava para os meus braços e percebeu que eu o
observava.
“Bom, eu estou com um pouco de pressa.” Murmurou o Sr.
Knight. “Até mais e cuidado Jane.”
Quando o Sr. Knight saiu, Liam começou a sorrir. Era uma
visão perfeita de um sorriso sereno.
“Ele estava falando de mim não é?” perguntou ele. “Ele gosta
de falar de mim.”
Eu sorri.
“Sim estava.” Eu disse sem graça.
“Espero que ele não tenha deixado uma má impressão.”
“Não se preocupe.” Eu desviei o olhar e mordi o lábio.
O silêncio pairou entre nós, eu não sabia o que falar. Então
desci lentamente da maca e vi Liam se aproximando para ajudar.
Suas mãos estavam suadas e frias, olhei para ele e pareceu
apreensivo. Não estava precisando de tanta atenção assim, o
ferimento mais grave foi na minha cabeça e não minhas pernas.
“Você está preocupado com alguma coisa?” perguntei em
voz baixa.
“Não. Vem vou acompanha-la até em casa.” Disse ele
gentilmente. “Eu acho que sua mãe vai surtar. Qual mãe não
surtaria?”
Eu sorri. Isso era verdade e, além disso, era bem provável ela
berrar com Liam. Mesmo assim não pedi para ele ficar.
Atravessamos a rua e eu abri a porta lentamente esperando minha
mãe aparecer.
“Jane por que demorou...” Ela não terminou de falar, estava
assustada comigo. “O que aconteceu? Você foi atropelada?”
Emma se jogou para mim olhando meus braços e minha
cabeça enfaixada com olhos arregalados de preocupação.
“Pois é mãe, fui atropelada por um cachorro.” Disse com
diversão, porém Emma não viu muito divertimento naquilo. “Eu
avisei Liam que o cachorro tinha escapado e ele estava indo procura-
lo, mas eu encontrei antes.”
“Perdão Sra. Hale.” Pediu Liam com o semblante mais lindo
que já vi. “Eu deveria prestar mais atenção naquele cachorro.” Tinha
algo em sua voz que eu não soube definir o que era. Persuasão?
Talvez.
Emma olhou para Liam um pouco vermelha, mas logo depois
ela retomou suas feições e sorriu para Liam.
 “Tudo bem. Jane vai para o quarto dela, não é querida?”
Emma olhou pra mim como se fosse uma ordem. “Isso vai sarar
antes das aulas retornarem.”
“Eu estava quase esquecendo que meu pai informou que será
melhor ele mesmo trocar os curativos de Jane.” Murmurou Liam
gentilmente. “Ele virá aqui todas as manhãs antes de ir para o
hospital.”
Olhei para Liam sem entender.
“Mas...” eu fui interrompida.
“Ele virá aqui Jane.” Disse Liam me olhando com seriedade,
ele estava tentando me fazer concordar com aquilo. “Será melhor,
assim não terá que se deslocar para a minha casa nas condições em
que se encontra.”
“Machuquei meus braços e não minhas pernas.” Eu disse
ironicamente. Desta vez não escondi as palavras.
“Concordo com Liam.” Disse Emma decidida.
“Se me permitem devo ir agora.” Disse Liam educadamente.
“Com licença.”
“Obrigada Liam por acompanha-la.” Emma apertou a mão de
Liam.
Liam sorriu para mim, virou-se e saiu pela porta da frente. Eu
o observei até ele sumir de vista. Nunca havia visto esse Liam
atencioso e cuidadoso, mesmo morando em frente a minha casa e
estudando comigo eu apenas o conhecia como o bom vizinho e o
garoto popular que pegava todas e me ignorava. Decididamente
minha opinião sobre ele estava mudando mesmo ele me ignorando
na escola.
Senti uma leve dor na minha cabeça e Emma achou melhor
eu ir deitar. Ela me deu um remédio para aliviar a dor e saiu para o
trabalho. Permaneci deitada pensando no que ocorrera, era
engraçado e doloroso ao mesmo tempo. Pensei em Liam, pensei no
que Sr. Knight falou sobre ele e muita coisa ficou esclarecida como,
Liam tinha duas vidas: a que ele vive na escola e a que ele vive
diante dos pais, porém em algum ponto essas vidas se encontram.
Como era possível? É muita pressão para uma pessoa apenas.
Depois de tanto ficar deitada, levantei e fui fazer meu
almoço. Preparei um frango xadrez que ficou delicioso. Meus dotes
culinários, segundo minha mãe, eram esplendidos. Aprendi a
cozinhar com Emma e ela dizia que eu era melhor na cozinha do que
ela própria. Após o almoço mais uma vez minha cabeça doeu e eu
me deitei. Desta vez eu dormi profundamente.

Acordei com o meu despertador, dei um tapa nele e olhei ao
redor. Fazia um pouco mais de uma semana desde o meu
atropelamento hilário e hoje era o primeiro dia de aula, minha
cabeça estava quase curada, o senhor Knight havia me dado um tipo
de faixa para colocar na cabeça para não chamar muita atenção,
segundo ele minha cabeça estaria boa em menos de uma semana.
Meus braços estavam curados e meu pescoço também.
Soltei meu cabelo e fui para o banheiro tomar banho. Pelo
menos agora eu podia lavar meu cabelo, antes era impossível. Após
o banho me vesti e desci. Emma já estava acordada.
“Bom dia!” Saudou ela.
“Bom dia!” eu disse sentando e me servindo.
“Está preparada?” perguntou Emma.
“Estou há quatro anos na mesma escola. Eu devia temer
alguma coisa?” perguntei indiferente.
“Não.” Ela sorriu. “Finalmente o ultimo ano.”
“Não vejo vantagem.” Eu disse mordendo o pão.
“Por quê?”
“Não faço ideia do que farei depois disso.” Murmurei.
“Você vai para a universidade.” Disse Emma convincente.
“Na melhor do país se possível. Capacidade você tem.”
“Eu sei, a única coisa que eu não sei é o que eu vou fazer na
universidade.”
“Você tem um ano para descobrir.” Disse ela, sentando.
“Tenho certeza que você descobrirá.”
“Assim espero.” Murmurei com emoção.
“Ontem mandei lavar seu carro. Cuidado com ele. Está
limpo.” Ordenou Emma. “Se eu não mando, você não lava.”
“Pra que lavar se vai sujar de novo?” perguntei irônica.
Emma me fitou.
“Não acumular sujeira e isso é nojento.” Retrucou ela. “Jane
você tem dezoito anos, não pode ser assim. Deve ter cuidado com
suas coisas.”
“Tudo bem mãe.” Revirei os olhos.
O caminho para a escola não era muito longo. Cheguei
tranquila em Albert Hill High School e para minha sorte encontrei
uma boa vaga no estacionamento. Saí do carro e olhei rápido para
entrada e vi alguém vindo à minha direção, porém não voltei a olhar
imaginava quem seria.
 “Jane!” ouvi atrás de mim Catherine, mas apenas eu a
chamava assim os outros a chamavam de Cath. “Tudo bem? Como
estão os ferimentos?”
Katherine me olhou dos pés a cabeça e parou na faixa em
minha cabeça.
“Falta apenas minha cabeça.” Eu disse satisfeita. “Como
você está?”
“Estou bem.” Disse sorrindo.
Nesse momento passou um carro por nós e paramos para
olhar. Era apenas Liam chegando, ele desceu e olhou rapidamente
para nós com seriedade e juntou-se ao seu grupo de amigos. Virei
para Katherine e ela para mim, aquela cena era cômica. Começamos
a rir uma da outra.
“Ele não muda.” Disse Katherine entre risos. “Você não disse
que ele era diferente?”
“Eu disse que ele é diferente quando não está aqui.”
Murmurei. “Eu não ligo se ele me ignora aqui, eu o ignoro também.”
Katherine sorriu do meu comentário.
“Vamos!” Ela me puxou para dentro.
“Estou com uma leve impressão que a professora de biologia
trocará as duplas novamente.” Eu disse revirando os olhos.
Na aula de biologia era o único tempo em que não havia
diferenças na nossa turma, pois a senhora Calton praticamente nos
obrigava a interagir uns com os outros. Todo inicio de ano ela
trocava as duplas, felizmente durante quatro anos me uni a pessoas
legais e era muito grata à professora por isso.
“Eu riria de você se ficasse com a Lucy.” Katherine sorriu.
“Acho que eu mesma riria.” Eu disse sorrindo também.
Paramos na porta da sala e ouvi Katherine murmurar “e lá
vamos nós”. Olhei ao redor e vi algumas pessoas, incluindo Liam e
sua companhia. Virei para a lista de nome grudada no quadro negro.
A professora já havia passado por ali, procurei pelo meu nome e
quando vi meu corpo ficou em choque. Meu par seria Martin
Newton o melhor amigo de Liam. Olhei ao redor e na penúltima
fileira ao lado da janela eu o vi. Ele me olhava com curiosidade, mas
não era apenas isso havia algo a mais que não identifiquei.
“Essa é nova.” Disse mal humorada. “Você ficou com
quem?” perguntei para ela.
“Olívia Jempsen.” Ela olhou para a lista. “Ele está olhando-
a.”
Olhei impaciente para Katherine.
“Não me diga!” eu retruquei. “Ele terá um ano pra enjoar da
minha cara.”
 “Seja gentil com ele.” Disse Katherine me empurrando.
A professora Jenevive entrou na sala e em seguida o sinal
tocou.
“Vamos turma!” disse ela em voz alta. “Novas duplas,
sentem-se.”
Olhei para minhas mãos e fui até o meu lugar. Depois
levantei o rosto e mexi na faixa para disfarçar. Martin não olhava
mais para mim o que eu agradeci, sentei ao lado dele. Olhei ao redor
e encontrei Katherine do outro lado da sala e quando olhei para trás
me deparei com Liam me olhando. Ele não estava sério como antes,
havia algo em seu rosto e parecia preocupação. Ele desviou o olhar
rapidamente e eu virei para a professora.
A professora sorriu para nós e começou a fazer várias
perguntas sobre as férias e respondemos apenas com “sim”, “uhum”,
“não”. Depois ela começou a aula de verdade, estava difícil me
concentrar, eu sentia olhares em mim a cada minuto. Aquilo
realmente estava incomodando.
A aula prosseguiu assim, o silêncio. Isso foi torturante, meu
amigo ao lado não parecia querer falar. A aula estava quase
acabando quando olhei para Martin e disse:
“Oi.”
Ele não respondeu. Uma coisa eu deixaria bem clara para ele,
que eu era educada e falava com todo mundo.
“Eu sei que você fala.” Eu disse sorrindo. “Sei também que
escuta.”
“Será que não percebeu que não estou afim de falar com
você?” perguntei com desdém.
Eu o fitei, depois sorri. Não me intimidava com esse tipo de
pessoa.
“Bom ainda bem que você escuta porque vai escutar isso que
vou te falar agora. Vou falar uma vez e você terá que lembrar o resto
do ano. Não sei o que você tem contra respeito, mas vai ter que
deixar isso de lado porque respeito é bom e eu gosto. As coisas vão
acontecer da seguinte maneira:” Ele virou para mim. “Você fica no
seu canto e eu no meu, faça o que tem que fazer e pronto. Eu sei que
é isso que você quer, não sou do seu grupinho, também não sou o
tipo de pessoa que você escuta ou fala, mas não venha querer
aprender a falar com meu tipo de pessoa quando você precisar de
nota para passar de ano.” Ele continuou me olhando, parecia
perplexo. O sinal tocou. “Acho que temos um acordo.” Olhei para
ele satisfatoriamente, peguei minhas coisas e levantei. “Passar bem e
até amanhã!”
Em seguida ouvi passos apressados atrás de mim e Katherine
estava ao meu lado.
 “Nossa como foi?” ela perguntou a curiosidade viva em sua
voz. “Você não parece feliz.”
“Acertou em cheio.” eu disse com raiva. “Garoto insolente e
arrogante. Você disse para ser gentil, deveria falado isso para ele.”
Katherine ficou confusa.
“O que ele falou?”
“Será que você não percebeu que eu não estou afim de falar
com você.” Eu disse alterando minha voz com mais raiva ainda. “Eu
me segurei firme naquela cadeira.”
“Nossa isso não foi gentil.” Disse Katherine com indignação.
Nós seguimos para a próxima aula, que era história,
conversando sobre a aula anterior. Expliquei para Katherine tudo o
que havia ocorrido e ela correspondia com sua boca em um formato
de “O”. Depois lamentei por ter que aturar aquilo por todo o ano.
Chegamos à aula de história e o professor George estava sentado à
mesa olhando alguns papéis. Ele levantou rapidamente a cabeça
quando entramos na sala e disse “bom dia”. Sentamo-nos e
esperamos os outros chegarem.
Tirei meu caderno da bolsa e comecei a desenhar várias
coisas em uma das folhas. Estava com raiva ainda por Martin, aquele
era um modo de me controlar. Depois de cinco minutos o professor
começou a aula, mais uma vez um professor perguntando sobre as
férias e relatando algumas situações sobre as próprias férias que por
sinal eram hilárias e descontraiu um pouco a minha tensão.
A aula seguiu pela próxima hora com o professor George
fazendo uma revisão completa sobre a Revolução Francesa, segundo
ele precisaríamos lembrar este assunto mais tarde. Ouvia apenas
partes do que ele falava não me concentrei e nem procurei fazer isso,
apenas continuava a desenhar. Estava começando algo novo na
terceira página quando um papel apareceu por cima do caderno e vi
a caligrafia de Katherine.
Martin olha para você a cada dez minutos. Eu estou
realmente contando.
Olhei para Katherine e depois para Martin que estava a duas
cadeiras além da minha amiga. Ele riscava a mesa e não prestava
atenção no que o professor falava. Eu balancei a cabeça e revirei os
olhos. Katherine pediu o papel, ela escreveu e depois me devolveu.
Acho que ele se arrependeu do que disse talvez ele esteja
considerando sua ajuda mais tarde para passar de ano.
Eu sorri baixinho e Katherine também. Escrevi:
Talvez seja mesmo.
Ela sorriu com a resposta. Olhei para o professor que falava
que Napoleão era retardado e sorri, depois olhei em um ângulo de
360º e vi pela minha visão periférica Martin e para minha surpresa
ele estava olhando para mim. Parei e o encarei levantando uma
sobrancelha como reprovação tentando apenas intimidar e parece
que deu certo, pois ele virou pra frente parecendo intimidado.
Eu poderia considerar que Martin era lindo com todos
aqueles músculos, os olhos castanhos e com a peculiaridade daquele
cabelo cor de cobre, mas não conseguia. Não importava a beleza se o
caráter não era dos bons, isso me indignava. Ele poderia ter os dois.
O sinal tocou e demorei um pouco pra perceber isso, apenas
quando Katherine se levantou que arrumei minhas coisas e depois
saímos para a próxima aula que era matemática. Seguimos falando
sobre Martin durante toda a aula de matemática que demorou a
acabar e quando acabou parecia mais a libertação dos escravos.
Finalmente era hora do almoço, porém não estava com fome queria
apenas saí da sala.
“O que será que tem pra comer?” perguntou Katherine,
enquanto estávamos na fila. “Eu estou com vontade de comer
hambúrguer.”
Fitei Katherine.
“Você não poderia comer algo mais saudável?” perguntei
reprovando-a.
“Jane uma coisa saudável agora não mataria a minha fome.”
Retrucou ela. “Eu nem como essas coisas sempre.” Balancei a
cabeça negativamente. “Você vai querer o quê?”
“Apenas um suco.” Disse vagamente.
“Um suco?” disse Katherine indignada. “E você me reprova
por comer hambúrguer.”
“Não deixa de ser saudável.” Eu disse. “Minha cabeça está
incomodando.”
Katherine sorriu e olhou atrás de mim. Virei para vê quem
ela olhava e me deparei com Liam logo atrás de mim, ele me olhou e
virou a cara. Voltei para Katherine e sorri silenciosamente, ela
queria fazer o mesmo, mas não podia. Depois ouvi uma voz familiar.
“Liam pode ir lá atrás comigo depois?” disse Lucy, qualquer
pessoa podia ouvir a malicia em sua voz. “Quero te mostrar uma
coisa.”
Olhei fingindo surpresa. Liam olhou para Lucy e depois pra
mim, eu franzi o cenho. Lucy me olhou com um sorriso irônico.
Lucy Jenner era a garota que toda garota queria ser: bonita,
inteligente e loira. A parte mais importante disso tudo é que ela tinha
plena consciência disso e usava suas ferramentas poderosas para
fazer o mal. As duas únicas pessoas que não tinham interesse
nenhum em ser igual a Lucy era Katherine e eu.
“Perdeu alguma coisa Hale?” perguntou Lucy arrogante.
Sorri pra ela e disse:
 “Bom! Eu não, mas vejo que você sim.” Murmurei a segunda
parte. “Ou talvez nunca teve mesmo.”
Lucy me olhou confusa. “Do que está falando garota?”
“Da vergonha na cara que você não tem.” Eu disse com um
sorriso fingido na cara. “Vão para um motel.” Eu acrescentei com
repugnância.
Lucy apenas ficou vermelha e saiu andando a passos largos.
Virei para Katherine e disse:
“Se ela não revidou é porque ela reconhece os fatos.”
Katherine sorriu, mas eu não via motivos para isso. Liam
ainda estava atrás de mim e eu não conseguia imaginar como ele
ainda conseguia andar com essas pessoas, ou melhor, namorar a pior
de todas. Eu tinha que admitir que eu também não tinha vergonha na
cara por falar aquilo para Lucy, porém queria apenas ajudar Liam.
“Katherine perdi o resto de fome que eu tinha.” Murmurei
saindo da fila. “Vou vê minha cabeça, essa faixa está incomodando.”
“Quer ajuda?” perguntou atenciosamente.
“Não precisa, pode comer eu sei que você está com fome.”
Sorri delicadamente e ela retribuiu.
Katherine assentiu e eu a deixei andando lentamente até o
estacionamento tentando ajustar a faixa para que ficasse confortável,
mas sem sucesso. Antes de ir no carro fui até a biblioteca pegar um
livro de matemática para fazer atividade de casa.
Quando cheguei ao meu carro depois de alguns minutos e
peguei minha maleta de curativos que ganhei do Sr. Knight
procurando o remédio para dor e encontrei. Olhei além do
estacionamento duas pessoas se beijando, era Liam e Lucy,
permaneci olhando por um bom tempo e balancei a cabeça
negativamente decepcionada. E eu ainda falei para procurarem um
motel, eu sorri desse meu pensamento. Abaixei e peguei meus
curativos rapidamente.
Olhei novamente e Lucy foi embora deixando Liam sozinho.
Depois de ficar olhando para os lados, ele veio para o
estacionamento, arrumei minha maleta e guardei no carro
rapidamente. Rápido antes que ele te veja. Virei para ir embora e
continuei tentando ajustar a faixa. Ouvi meu nome e realmente tentei
ignorar, mas depois ele já estava ao meu lado.
“Quer ajuda com isso?” perguntou ele sorrindo
calorosamente. Eu apenas o olhava com curiosidade nem ao menos
respondi quando ele pegou minha mão. “Venha!”
Ele me levou até o banheiro feminino do lado oeste da
escola, raramente as pessoas apareciam por lá. Liam me olhava com
serenidade e pegou os curativos da minha mão e os depositou na
bancada que estava limpa. Começou a tirar a faixa da minha cabeça
com calma e delicadeza e pediu para que eu segurasse meus longos
cabelos castanhos.
“Posso saber por que está fazendo isso?” perguntei perplexa.
“Você não fala comigo na escola.”
Liam sorriu.
“Meu pai pediu para eu ficar de olho em você.” Ele disse
sorrindo ainda e ignorando a segunda parte do que eu disse. “Ele
gosta muito de você pelo que vejo. É uma das poucas que consegue
cativar o coração dele.”
Senti um leve puxão na minha nuca, era estranho quando ele
me tocava.
“Mesmo?” Perguntei sem entusiasmo.
“Mesmo. Agora me passa o esparadrapo, por favor?” pediu
ele e pegou gentilmente de minhas mãos. “Não solte o cabelo.”
Ordenou ele.
“Você sabe que aqui é o banheiro feminino e se pegarem
você aqui não vai prestar.” Murmurei sorrindo. “Ou melhor, se nos
pegarem aqui pensarão besteira.”
Ele sorriu também.
“Claro que eu sei, assim como você também sabe que
ninguém quase não vem aqui.” Disse ele, eu sentia sua mão
delicadamente na minha cabeça.
“Sim, mas é quase então ainda há chances de nos pegarem
aqui.” Retruquei e ele sorriu.
“Você é teimosa.” Ele disse sorrindo. “A faixa.” Ordenou.
“Quando eu tenho razão e você é mandão.”
Ele ajustou a faixa perfeitamente e agora não estava mais
incomodando.
“Pronto! Só estou lhe ajudando Jane.” ele disse com
satisfação. “Está melhor?”
Parei e fechei os olhos, nossa estava muito melhor. Mordi o
lábio e abri os olhos. Liam me olhava, a expressão ilegível.
“Muito melhor!” eu disse soltando meu cabelo. “Agora você
pode voltar a ser quem você é.”
Liam revirou os olhos.
“Não vou mais fazer isso.” Murmurou ele.
“Por que fica com ela?” eu perguntei fazendo uma cara de
quem não entendia nada.
Ele me olhou por um instante.
 “Eu gosto dela.”
“Acho que não.” Disse totalmente sem humor. “Você finge
ser alguém que você não é a troco de quê?”
“Como pode saber se esse não sou eu mesmo?” perguntou
desafiador.
Ergui uma sobrancelha e olhei ao redor.
“São atitudes como está que me dão certeza de que você é
melhor que muita gente nessa escola.” Eu disse colocando a mão
sobre a faixa. “Você não acha?”
Ele me olhou confuso, eu sabia que estava deixando-o sem
graça. Eu queria fazê-lo enxergar a realidade que no fundo ele sabia.
Liam era aquele garoto lindo e inteligente que é do time de futebol
que pega todas as lideres de torcida da escola, típico de filmes
românticos para adolescentes. Era interessante pensar por esse ponto
de vista, levando em conta que a realidade é diferente. Talvez ele
nunca tivesse conhecido uma mulher de verdade, naquela escola ele
não encontraria mesmo. Nem mesmo eu com dezoito anos não me
considerava uma mulher.
“Isso é confuso.” Murmurou ele.
“Então me diga: Por que me ignora? Quatro anos um ao lado
do outro e eu consigo contar nos dedos quantas vezes você falou
comigo. Você é completamente diferente longe daqui.”
“Você não consegue entender...” ele foi interrompido ao
ouvir passos.
Nós nos escondemos na ultima cabine que era a mais
escondida, Liam sorria silenciosamente e eu fazia sinal para ele
parar. O lugar era apertado e ficamos parados, qualquer movimento
faria barulho. Olhávamos um para o outro em silencio vê-lo de tão
perto parecia ser surreal, como se estivesse em um sonho e que a
qualquer momento eu acordaria, porém sabia que não era sonho
algum e percebi a mudança no olhar de Liam. Ele parecia analisar
alguma coisa.
Ouvi barulho de descarga, logo depois alguns passos até o
barulho da água caindo da torneira. Enfim mais alguns passos e
depois sumiram. Finalmente foi embora, olhei para Liam e ele
continuava a me encarar. Eu sorri, agora eu podia.
“Eu sou apaixonado por você.” Ele sussurrou de repente
pegando a minha mão e acariciando-a. “Não sabia como dizer isso.”
Aquilo foi um choque, apenas piscava perplexa. Não sentia
nem mesmo seu toque na minha mão. O analisei por algum tempo,
olhei para seu rosto que estava vermelho, para seu cabelo castanho,
seus olhos verdes, seus músculos e sua mão na minha. De repente
me vi sendo encostada com rapidez na parede e beijada por Liam.
Não soube como reagir àquilo. Não sabia se retribuía o beijo
ou permanecia parada. Na duvida empurrei Liam cautelosamente.
Ele se afastou um pouco e me olhou com tristeza, permaneci em
silêncio olhando-o, não encontrava as palavras. Na verdade parecia
que eu nem sabia falar.
“Eu sei que você tem motivos para não me querer.”
Murmurou ele. “Só queria que você soubesse os meus verdadeiros
sentimentos em relação a você.”
Continuei olhando-o sem falar, eu sabia que ele queria
alguma reação. Além de negar seu beijo.
“Quando isso começou?” Enfim eu falei alguma coisa.
“Há um bom tempo, na verdade não sei direito. Desde que
começamos a estudar aqui talvez ou um pouco depois.” Ele me
olhava com tanta tristeza que senti pena.
“Por que não me disse nada?” perguntei confusa. “Por que
agora?”
“São raras as oportunidades de ficar a sós com você.” Ele
disse desviando o olhar rapidamente.
Observei suas reações a cada palavra que falava e de repente
percebi a farsa por trás daquilo.
“Isso é mentira.” Eu disse fitando-o.
Ele me olhou surpreso.
“Você acha mesmo que pode me enganar? Tem vergonha de
mim, sempre teve e se sente alguma coisa por mim de verdade teria
falado antes. Não pode ser visto comigo, não sou nada que ajude na
sua popularidade.”
Liam mudou sua expressão, ele passou as mãos pelo cabelo e
agora olhava para os lados impacientemente.
“Tudo bem!” ele disse com raiva. “Tinha vergonha de você
sim, por isso achei melhor esconder e pra mim era apenas uma
paixão qualquer. O problema é que nunca esqueci e eu nunca tive
um contato direto com você, isso é o que sempre me deixa confuso.
Apenas a observava de longe. Eram raras as vezes que falava com
você e ainda me forçava a ser ríspido com a garota que amo. Você
enfeitiçou a mim com a sua personalidade forte, você sempre tem
uma resposta, além de ser tão inteligente. Se soubesse o quanto você
me fascina.” Ele hesitou por um momento. “É uma mulher que
qualquer garoto trataria como um troféu valioso para uma coleção,
mas eu nunca pensei assim. Eu sei que pessoas como você não deve
fazer parte de coleções, mas pra ser cativada uma vez para todo o
sempre.”
Encarei Liam por alguns segundos, aquilo só podia ser
palhaçada. Corri até ele e comecei a batê-lo de raiva. Como ele
podia fazer esse tipo de brincadeira comigo. Me ignorar tudo bem,
mas querer me iludir já era demais.
 “Por que... está... Fazendo isso... Comigo?” eu batia nele com
tanta raiva e ele tentava me fazer parar até que conseguiu. “Que tipo
de aposta fez com seus amigos Liam? Foi Martin, não foi? Ficou
com raiva depois do que eu disse para ele.”
Ele me olhou chocado, eu não sabia se era pelas perguntas ou
se por minha atitude agressiva.
“Como pode pensar isso?” perguntou ele ainda chocado.
“Você me fez acreditar durante todo esse tempo que era
indiferente a mim.” Eu disse quase gritando. “Me fez acreditar que
era orgulhoso demais, um garanhão imbecil. Pegava todas e agora
vem dizer que sempre quis apenas uma garota.”
Eu elevava a voz a cada palavra, minha raiva só aumentava e
eu já podia sentir as lágrimas chegarem.
“Você é uma idiota.” Ele disse com raiva também.
Arregalei os olhos e comecei a agredi-lo novamente, desta
vez ele conseguiu me segurar.
“Eu sou idiota?” perguntei ameaçadoramente.
“Sim é idiota por não acreditar em mim. Estou falando a
verdade, eu disse que não seria mais arrogante com você nem com
ninguém. Eu não aguento mais ter que olhar pra você e não poder
tocá-la por medo do que irão falar. Isso se tornou ridículo pra mim.”
Eu hesitei por um momento, fiz ele me soltar e me afastei por
um momento, mas permaneci olhando-o. Então não sei o que me
levou a fazer isso, apenas o beijei, não era um beijo como outros que
já havia acontecido comigo, este era como se eu o esperasse por um
bom tempo, era urgente e tinha um misto de paixão com sentimentos
mais intensos.
Senti a parede nas minhas costas e Liam me beijava
delicadamente e com breve urgência. Ele me puxou a ponto de
ficarmos completamente colados um no outro. Sua língua invadia a
minha boca com uma mistura de ternura e urgência como se
estivesse loucamente procurando por algo difícil de encontrar. Eu
sabia que se eu não parasse por ali as coisas ficaram mais intensas,
mas ao mesmo tempo me corpo era difícil de controlar.
Simplesmente eu queria ficar ali e deixar ele fazer o que quisesse
comigo.
Liam traçou um caminho de beijos pelo meu pescoço
murmurando meu nome como uma oração, segurava-me com força
com uma de suas mãos na minha cintura e a outra descendo até as
nádegas. Cada vez mais ficava difícil raciocinar e por um momento
eu mesma acreditei que cederia ali mesmo naquele banheiro.
A verdade era que eu sempre gostei de Liam, grande parte do
tempo imaginei que fosse um tipo de paixão platônica, mas nunca
poderia imaginar que chegaria um dia em que isso fosse acontecer.
Era como se eu fosse a Terra e ele o Sol, um completamente
diferente do outro, mas mesmo assim estava acontecendo naquele
momento e eu podia agarrar ou deixar passar.
A mão que estava na minha cintura de repente subiu para o
meu seio me fazendo lembrar de raciocinar por um momento e então
delicadamente parei o beijo e o encarei. Seus olhos estavam mais
vivos e ele sorria. Aquele lindo sorriso e quase eu voltei a tocar meu
lábios nos dele.
“Você é um idiota.” Eu murmurei.
“Você também é.” Ele disse. “Você é uma idiota por retribuir
a tudo isso que sinto, não mereço isso. Eu sou um tremendo idiota.”
Larguei suas mãos e apenas fiquei olhando-o.
“Nisso você tem razão. Eu sempre tive uma opinião formada
sobre você Liam, mas isso mudou há algum tempo.” Eu disse
cautelosamente.
“E que opinião era essa?” perguntou ele erguendo uma de
suas sobrancelhas. “com certeza não era das boas.”
“Não acreditava que você tivesse um lado bom, na verdade
você é uma boa pessoa, mas pensei que isso não existia em você. Era
um rapaz arrogante por natureza mesmo, pois você não falava
comigo nem quando me via fora da escola, não apenas comigo e isso
mudou...” eu me aproximei. “quando vi que não era bem como eu
pensava, você escondia o que você tem de melhor. Levei quase
quatro anos pra descobrir isso sabia?”
Ele sorriu fraco como se estivesse desapontado com alguma
coisa.
“Me perdoe.” Pediu ele.
“Pelo o quê?” perguntei com seriedade.
“Você ainda pergunta?” disse ele assustado. “Não tenho sido
uma das melhores pessoas nesse mundo, não sei se percebeu isso.”
Eu sorri sem jeito.
“Quer saber de uma coisa?” perguntei. “Desde que você não
tenha mais vergonha de mim, tudo bem.”
“Eu já falei que parei com isso.” Ele resmungou.
“Lucy estranharia você falando comigo.” Disse virando para
a porta. “Não sei como consegue beijá-la.” Eu parei pra pensar um
pouco. “Não! Eu sei sim.”
Virei para Liam e sorri com malícia. Ele entendeu o que eu
quis dizer.
“Nem pensar.” Ele disse sem graça.
“Ah Liam, por favor! Não negue!” eu disse impaciente, mas
estava me divertindo. “Ela é bonita, tem um corpo... Interessante e
pelo jeito que me beijou aqui, com ela deve ser algo bem mais
quente.”
Ele franziu o cenho.
“Me acha quente?”
“Perdemos metade da aula.” Comentei pegando o
esparadrapo e ignorando completamente a pergunta dele. “Vou
deixa-lo.”
“Não precisa ir.” Ele disse e eu virei para ele.
Liam tirou sua jaqueta de couro preta e colocou por sobre o
ombro. Eu observava cada movimento seu, eu sei que eu sempre
fazia isso com as pessoas, porém era mais interessante fazer isso
com Liam. Ele não parecia se importar como se soubesse todas as
minhas manias e aceitasse sem problemas.
“Não é a mim que você escolheria.” Eu murmurei. “Você diz
que vai mudar, mas não sei como seria para você as pessoas
comentando sobre nós dois andando de mãos dadas pelos corredores.
Gosto de você Liam, mas sei que está confuso. Também sei que está
querendo tomar decisões que eu acho que seriam precipitadas sem
antes pensar.”
“Aonde quer chegar?” perguntou ele confuso.
“Que esqueçamos o que aconteceu aqui. Por hora.” Disse
com convicção, mas por dentro estava triste.
Sorri de leve para ele e o deixei sozinho. Segui para o meu
carro onde guardei as minhas coisas de volta na maleta e lentamente
fui para a sala de aula. Estava triste e feliz ao mesmo tempo, não
queria assistir aula, meus pensamentos não me deixariam prestar
atenção. Mesmo assim entrei na sala de aula e todos olharam para
mim.
“Srta. Hale! Onde estava?” perguntou o professor Santiago
que ensinava química.
“Na enfermaria.” Disse pegando na faixa em minha cabeça.
O professor sorriu e pediu para que eu sentasse no meu lugar.
Tentei evitar os olhares curiosos de Katherine que eu podia ver neles
milhares de perguntas. O professor continuou com sua aula e tentei
prestar atenção, porém Liam não saia da minha cabeça.
O beijo intenso e a delicadeza de Liam era apenas o que
vinha em mente. Eu esperava muita coisa dele menos aquilo, me
considerar uma mulher fascinante, não sei se acreditava naquilo. Não
via mulher alguma em mim apenas uma adolescente sem rumo.
Lembrei de suas delicadas palavras: “uma mulher que qualquer
garoto trataria como um troféu valioso para uma coleção, mas eu
nunca pensei assim.”
 Finalmente ele estava mostrando ser quem realmente era, isso
já estava bom demais para mim. Eu sabia que ele me procuraria para
pelo menos conversar ou eu o encontraria aos beijos com Lucy pelos
corredores, agradeceria muito se a segunda opção não acontecesse.
Olhei para Lucy que sentava no meio da sala. Ela olhava
atentamente para o professor.
No geral era uma situação muito abrupta e embaraçosa. Podia
até acreditar em tudo aquilo, mas ao mesmo tempo era muito difícil.
Eu não queria ser a outra de ninguém e também não queria ser uma
segunda opção e isso era justamente o que estava acontecendo. Liam
namorava Lucy, mas disse que estava apaixonado por mim. Nem
mesmo Lucy merecia ser traída, não é algo que se faça com
ninguém. Por um momento me senti mal e me surpreendi por isso,
nunca pensei que um dia eu me sentiria mal por Lucy, mas aquilo
realmente estava acontecendo.
Levantei a cabeça logo quando o professor Santiago chamou
pelo nome de Liam.
“Senhor Knight.” Murmurou o Santiago olhando de Liam
para mim. Pareceu desconfiado.
Desviei o olhar e abaixei minha cabeça para o caderno
parecendo entediada.
“Fui chamado na direção.” Ouvi Liam falando.
“Ah, tudo bem!” disse o professor Santiago.
Levantei a cabeça a tempo de vê Liam se sentando e olhando
para a minha direção. Ele sentava não muito longe de mim e podia
vê-lo sem que alguém percebesse, até mesmo Katherine que sentava
uma cadeira a frente e mim. Liam também podia fazer o mesmo e
era isso que ele estava fazendo agora. Fingi não senti-lo me
observando tentando prestar atenção no que Santiago falava, mas
sem muito sucesso, então apenas olhava para o professor sem nem
ao menos ouvi-lo e assim permaneci até a aula acabar.
Quando finalmente o sinal tocou eu guardei meu caderno e
estava quase saindo quando ouvi Katherine com um turbilhão de
perguntas. Para não deixa-la chateada disse que minha cabeça estava
doendo e que queria ir para casa o mais rápido possível, ela entendeu
e me acompanhou até o carro.
Cheguei em casa e não tinha ninguém além de mim. Minha
mãe estava no trabalho, provavelmente chegaria em uma ou duas
horas.
Entrei no meu quarto, joguei minha mochila no chão e me
sentei na beirada da cama fitando o chão. Eu estava tensa com
aquela situação, justo no primeiro dia de aula? Porque não esperou
uma semana ou mais? Melhor ainda, por que não me contou antes?
Por que eu o beijei se sabia que eu me afastaria? Não sabia
responder nada disso. Tudo era estranho.
 Meus pensamentos vagaram em todas as vezes que eu
contemplava Liam de longe, era natural. Mesmo com a minha
consciência me repreendendo em alimentar algo por Liam eu nunca
a dei ouvidos, mas ainda assim a decepção por Liam em seguir um
caminho estranho para a sua popularidade era enorme.
Ele era tão reservado, sua comunicação comigo sempre
foram limitadas: um aceno sem humor, um olhar sem expressão que
se cruza com os meus sem querer, palavras monossilábicas com
desgosto na voz e etc. Quando penso nisso uma raiva me invade
profundamente porque eu fui idiota em sentir uma pontada de
afeição por ele durante esses quatro anos? Honestamente mesmo
minha opinião sobre o seu caráter melhorado eu não sinto vontade de
olhá-lo e nem mesmo lhe dirigir uma palavra, por mais
absurdamente lindo que ele fosse.
Minha raiva me fez lembrar de Martin, outra criatura que eu
não tinha vontade de lhe dirigir nada.
“Não percebeu que eu não estou afim de falar com você.”
Lembrei de suas palavras. Muito idiota por sinal esse Martin. Com
certeza manter-me longe dessas pessoas foi uma sabia escolha.
Olhei ao redor brevemente, então me levantei indo ao
banheiro e tomei um banho para refrescar a cabeça. Depois me vesti
e deitei em minha cama, peguei minha edição de “Orgulho e
Preconceito”, abri onde estava marcado com um pedaço de papel.
Além disso eu leio os romances ingleses dos séculos passados
porque me fascinam de maneira inexplicável. Não que um dia eu
esperasse por ter um romance igual a algum deles, nos tempos atuais
é meio impossível. Tenho plena consciência que as mulheres no
século XIX não se casavam (em sua maioria) por amor, mas por
dinheiro e com os homens sei que eram pra procriar, mas talvez eu
poderia sonhar em ser uma heroína de Jane Austen ou mesmo de
Charlotte Bronte. Mas nos dias atuais é muito raro você encontrar
alguém que realmente se importe com você além dos pais.
Eu não sei se eu tenho pai, se tenho ele deve está em algum
lugar desse mundo ou morto. Pra mim é como se não tivesse, já me
convenci disto. Emma não falava dele muitas vezes e eu não fazia
questão de perguntar, esse assunto não agradava a ninguém
principalmente ela. Emma era não apenas minha mãe, mas também
um pai e eu fazia questão de falar isso com muito orgulho. Ela me
criou sozinha e eu a admirava por isso, não é fácil criar um filho.
Minha relação com Emma era de pura amizade. Dificilmente
eu ocultava algo importante dela, mas ao mesmo tempo tinha a
relação mãe e filha, afinal ela era a minha mãe. Era ela o meu
exemplo, a minha inspiração e acho que eu não poderia ter tido
melhor inspiração.
Depois de ler alguns capítulos escutei um barulho no andar
debaixo e desci lentamente. Eu sabia que era Emma, mas queria
checar. Parei no topo da escada observando o corredor que levava
para a cozinha e Emma apareceu andando tranquilamente e parece
ter se assustado ao me vê, porém ela me ignorou e foi para a
cozinha.
Eu desci e fui para a cozinha, Emma depositou a sacola que
carregava na mesa. Ela parecia cansada.
“Boa noite!” ela murmurou para mim com um sorriso fraco.
“Estou morta de cansada.”
Bingo!
“Vou fazer nossa janta.” Eu disse indo para a geladeira. “o
que você quer comer?” perguntei.
“Você lembra quando eu fazia macarrão com queijo e você
adorava?” disse Emma sorrindo com a lembrança.
Olhei intrigada pra ela. Vagamente lembrei-me de uma Jane
com dez anos sorrindo comendo macarrão com queijo.
“É isso que você quer?” perguntei tentando disfarçar minha
surpresa.
Ela balançou a cabeça em acordo. Levantei uma sobrancelha
e dei de ombros. Tudo bem então!
Virei para a geladeira e peguei o queijo e coloquei a mesa,
em seguida peguei uma panela para fazer o macarrão. Emma olhava
para mim com serenidade.
“Vou tomar um banho.” Ela disse saindo da cozinha.
Eu apenas a observei. Que estranho ela estava agindo, com...
Tristeza? Ansiedade? Não sei dizer. Voltei a me concentrar no
macarrão e no queijo. Olhei para o relógio e já passava das oito da
noite.
Quando terminei de preparar a nossa janta Emma apareceu de
novo. Ela pegou os pratos e os arrumou na bancada um ao lado do
outro. Peguei meu prato e me servi, em seguida a servi. Assim
permanecemos o resto da noite: em silêncio. Já estava tarde quando
me deitei na cama e continuei lendo Orgulho e Preconceito.
Olhei para a janela e vi uma luz fraca. Olhei para o meu
relógio na mesa-de-cabeceira, eram sete horas. Hora de levantar. Me
sentei na cama e depois me levantei. Tomei um banho para
despertar, lavando meus cabelos e escovando os dentes. Vesti minha
calça jeans e uma blusa azul marinho com botões.
Desci e aparentemente Emma estava fazendo o café. Andei
até a cozinha e lá estava ela com o semblante de alegre de sempre,
completamente diferente da noite anterior. Ela sorriu quando entrei e
me sentei no banco da bancada.
“Bom dia!” ela murmurou. “Aqui está seus ovos com bacon.”
Ela depositou o prato na bancada.
 “Bom dia!” eu disse. “O que você tinha ontem?” não pude
deixar de perguntar.
Ela me encarou.
“Cansaço, Jane!” ela disse me encarando ainda. “Você sabe
como eu fico quando estou cansada.”
“Então pelo o que estou vendo você dormiu bem.” Eu
murmurei. “Não parece cansada.”
Comi um pouco e a observei.
“Com certeza!” ela disse sorrindo fraco. “Nem perguntei...
Como foi ontem na escola?”
Me mexi na cadeira desconfortavelmente lembrando dos
acontecimentos no dia anterior. Olhei para Emma que esperava por
alguma resposta.
“Não vejo a hora de acabar.” Eu disse sem humor algum.
Emma revirou os olhos.
“Para variar, não é mesmo Srta. Hale?” disse Emma com
sarcasmo. “Espero que tenha bons motivos para desejar isso.”
Eu balancei a cabeça positivamente para ela enquanto comia
um pouco mais os ovos com bacon. Eu estava com fome. Olhei para
o relógio na parede que marcavam oito e dez da manhã, Emma
seguiu meu olhar e pulou no banco ao meu lado.
“Nossa eu tenho que ir. Se não vou pegar o transito pesado.”
Ela disse saindo da cozinha me dando um beijo na bochecha. “E
você não demore. Tome cuidado!”
Ouvi seus passos rápidos e depois de alguns segundos a porta
da frente batendo. Continuei comendo enquanto observava o carro
sumir da frente da casa. Olhei além, para a casa de Liam e o Sr.
Knight saia com seu carro. Depois de alguns minutos Liam saiu com
o seu Audi cinza.
Terminei de comer e coloquei meu prato na lava-louças. Subi
para o meu quarto e arrumei minhas coisas para ir embora de uma
vez. Olhei para o meu relógio e já eram oito e meia, desci correndo
pegando a chave da minha Mercedes prateada que ganhei de Emma
tem alguns meses, na verdade eu ajudei a pagar.
Entrei no estacionamento da Albert Hill High School e para a
minha alegria encontrei uma vaga próximo à saída. Antes de saí me
olhei no espelho para vê a faixa vermelha na cabeça, arrumei-a um
pouco e saí. Olhei ao redor e longe vi o casal estrela todo beijos e
abraços, balancei a cabeça frustrada e segui para a escola. Seria um
longo dia.
 Humm, acho que vou pegar o livro de matemática. Eu
pensava olhando para o meu armário.
“Jane!” ouvi atrás de mim e virei para vê Katherine se
aproximando e sorrindo. “Bom dia!”
“Bom dia Katherine!” eu digo sorrindo.
“E então?” ela pergunta.
Eu a encaro sem entender e dou de ombros.
“Como vai ser com Martin hoje?” ela pergunta como se fosse
óbvio.
“Ah, eu não sei. Provavelmente serei ignorada e ele
também.” Eu disse pegando o livro de matemática e em seguida
fechando o armário. “Não quero nem pensar nisso Katherine.”
Katherine revirou os olhos. O sinal tocou.
“Vamos vê como vocês vão se sair.” Disse ela com um
sorriso malicioso, Desta vez eu revirei os olhos.
Joguei minha mochila nas costas e segui para a aula de
biologia. Para a minha sorte, Martin não havia chegado ainda. Segui
para a minha cadeira e sentei observando a através da janela o
estacionamento, ainda havia algumas pessoas chegando na escola.
Fui surpreendida com alguém sentando ao meu lado. Cabelos
acobreados e olhos verdes me encaravam com curiosidade.
“Bom dia Jane!” murmurou Liam com um sorriso no rosto.
Franzi o cenho e olhei ao redor rapidamente, ninguém olhava
para nós.
“O que você está fazendo?” perguntei assustada, isso pareceu
o divertir por um momento.
Ele ergueu uma de suas sobrancelhas e eu fiz o mesmo.
“Não sei se Martin virá hoje e é certo que a minha parceira
não virá. Então, a não ser que outra pessoa falte, ficaremos juntos
hoje.” Olhei desconfiada. “E eu ficaria muito feliz se Martin
realmente faltasse.”
Eu bufei.
“Eu não sei o que é pior.” Eu murmurei revirando os olhos.
“Por que está dizendo isso?” perguntou ele.
“Vamos dizer que seu amiguinho não me agrada nem um
pouco.” Eu disse sem humor algum. “Ele me tratou como um nada.”
Liam deu de ombros.
“Sinto muito por isso.” Desculpou-se ele.
 “Não é você quem deve se desculpar aqui.” Eu disse
encarando-o com raiva. “Aliás, a criatura que devia está no seu lugar
não está.”
Nesse momento a professora entrou na sala e Liam foi para o
seu lugar atrás de mim sem dizer uma palavra. Eu observei enquanto
a professora arrumava seus pertences na mesa.
Depois de algum tempo ela levantou a cabeça para nos olhar
e especialmente para mim e Liam atrás de mim.
“Knight junte-se com a Srta. Hale.” Disse lentamente. “Então
pessoal, vamos começar com a correção do exercício da aula
passada.”
Peguei minha folha na bolsa e tentei não dá atenção para
Liam sentando ao meu lado.
“Saiba que eu estou muito feliz Janette.” Sussurrou Liam
próximo ao meu ouvido.
Arrepiei-me. Ele estava pronunciando o meu nome inteiro,
era estranho e fascinante ao mesmo tempo. Cruzei meus braços e
tentei com dificuldade esconder um sorriso.
A Sra. Calton começou a corrigir as questões que eu
observava a cada acerto e fazia breves anotações quando alguma
questão estava errada. Estávamos na metade do exercício quando vi
uma mão empurrando um papel com cautela.
Você vai me ignorar?
Queria rir. Como poderia falar com o Adônis ao meu lado se
estávamos em uma aula? Então respondi.
Como você quer que eu fale com você se estamos em aula?
Olhei para a professora que explicava a questão e depois o
papel estava perto de mim novamente.
Não custa nada você fingir ajudar um pobre aluno com um
assunto. (risos)
Dessa vez eu não consegui conter o sorriso, coloquei minha
mão sobre minha boca despercebidamente, depois respondi.
Liam você já está se comunicando comigo.
Vi ele se mexer na cadeira e se curvar sobre o papel.
É verdade! Mas prefiro olhar em seus olhos e ouvir sua voz.
Respirei fundo. Ele sabia ser romântico e não sabia se isso
era bom ou não. Fechei meus olhos e balancei minha cabeça
negativamente.
“Algum problema Srta. Hale?” perguntou a Sra. Calton.
Olhei rapidamente pra ela.
 “Errei a questão por uma leseira, só isso.” Disse fazendo cara
de injustiçada.
Jenevive sorriu de leve.
“Jane sendo Jane.” Murmurou ela e eu sorri. “Continue
assim.”
Eu sorri em resposta, porém não era para ela que eu queria
me dirigir agora. Olhei para o papel e escrevi:
Por que está fazendo isso comigo?
Esperei pela resposta que demorou um pouco para vir.
O que eu estou fazendo com você?
Olhei para o papel não acreditando que ele me respondeu
com outra pergunta. Bufei. Não respondi mais, continuei decidida a
prestar atenção na aula, o que foi um pouco difícil, pois segurar o
meu impulso de querer olhar para Liam ao meu lado era difícil e
quando a aula finalmente terminou eu guardei minhas coisas na
mochila, eu queria saí correndo da sala, mas me permiti a andar em
passos largos. Eu sabia que isso não impediria de Katherine ou Liam
vir atrás de mim.
Virei no corredor ouvi passos apressados e depois Liam
estava na minha frente impedindo a minha passagem.
“Você vai me ignorar?” Perguntou ele tranquilo. “Se você for
eu finjo que não me importo.”
“Nossa isso não soa nada original para um cara que passou,
praticamente, o ensino médio inteiro me ignorando.” Eu disse
cruzando os braços.
Bingo! Ele estava corando.
“Por favor, o que é preciso fazer para convencê-la de que eu
realmente gosto de você?” ele quase implorava.
Olhei sem saber o que fazer.
“Você não precisa me convencer de nada.” Eu murmurei.
“Está claro os seus sentimentos.”
“Então por que não me aceita?” perguntou ele impaciente.
“Não entendo você Liam, hoje mesmo quando cheguei, para
meu inferno, a primeira coisa que vi foi você sendo todo abraços e
beijos com Lucy e agora está aqui, perguntando-me porque não o
aceito.” Eu disse com uma pontada de decepção. “Como posso
aceitar alguém que eu nem sei se me aceita? Eu disse... Você não me
escolheria.”
“Mas você acabou de dizer que os meus sentimentos estão
claros.”
 “Sentimentos são diferentes de escolhas e você não parou
para pensar que vê-lo se beijando com outra garota, aliás, a garota
que eu mais odeio e que me odeia...” Eu balancei a cabeça
impacientemente e continuei. “Enfim, você nunca parou para pensar
o quanto isso me fere? Então eu entendo que você deve gostar muito
de mim, mas amar ou está apaixonado eu creio que não.”
Olhei profundamente aqueles olhos verdes que agora estavam
envergonhados.
“As pessoas olham para mim e pensam que por eu ser um
tipo de nerd rebelde eu não tenho sentimentos e é aí que todos se
enganam, porque eu tenho sentimentos mais verdadeiros do que de
muitos por aí.”
Eu queria chorar, porque no fundo eu sentia algo por Liam
que era parecido com o que ele dizia sentir por mim. Sempre tentei
mostrar o quanto me importava com ele, porque eu acho que era a
única que via além do que muitos nesta escola viam. Ele, porém,
insistia em me ignorar e seguir um caminho complicado.
Observei cada ponto dele, os olhos verdes que me olhavam
com tristeza, o cabelo acobreado que estava um pouco arrumado, ele
vestia uma camisa social azul claro e uma calça jeans preta com um
casaco cinza por cima. Ele era lindo, eu poderia dizer que é lindo por
dentro e por fora se eu não estivesse tão decepcionada.
Olhei ao redor tentando me recompor, pronta para segurar as
lágrimas que ameaçavam cair a qualquer momento. Não tinha
ninguém por perto, a próxima aula geralmente demorava pra
começar, pois o professor Charlie Truscott demorava para ir à sala.
“Perdoe-me por fazê-la essas coisas.” Murmurou ele.
“Prometo não a incomodar novamente com esses assuntos.”
Olhei intrigada, ele mudou de postura de uma hora para
outra. Estava triste e pensativo, agora estava convicto.
“Não entendo.” Disse franzindo o cenho.
“Vou deixa-la em paz Jane.” Murmurou com altivez.
Analisei por um momento, ele estava fazendo a escolha dele.
De repente as lágrimas estavam a beira dos meus olhos, mas eu
consegui contê-las e levantei meu olhar, mas não sabia o que fazer,
saí correndo ou chorar ali mesmo. De repente a raiva me inundou e
agi sensatamente.
“Ah! Entendi, você está fazendo a sua escolha. Bem, eu
agradeço Liam por me mostrar que tipo de pessoa você é.” Eu disse
parecendo natural. “Agora com licença que a minha cabeça está
doendo.”
Vi de relance sua postura cair, mas não dei atenção apenas
fui direto para o banheiro. Entrei em um dos boxes, fechei a porta e
coloquei minha cabeça entre minhas mãos chorando, o desespero
saindo em alta velocidade pela minha garganta. Agradecia a divina
providencia por não ter ninguém junto comigo no banheiro.
Então aquela era sua decisão, ele a escolheu. Escolheu-a e
não a mim, eu sabia que ele a escolheria mesmo assim eu me permiti
alimentar algo por ele. Que decepção Janette Elizabeth Hale! Que
decepção! Eu pensava. Depois de tudo o que me disse, depois
daquele beijo e eu ainda conseguia sentir o gosto da sua boca.
Agora olha nos meus olhos e diz que vai me deixar em paz, como se
nada tivesse acontecido. Que idiota! Antes você sendo indiferente
como sempre foi. Eu pensava.
Eu estava com raiva, muita raiva. Não me interessava mais se
Liam tinha um coração bom, não me interessava se ele disse coisas
bonitas para mim, não me interessava se ele escolheu aquele projeto
de gente, eu não me importava mais. Eu não estava mais interessada,
eu estava desapontada, com raiva e triste. O RESTO QUE SE DANE!
Eu gritei em meus pensamentos. Liam não me conhecia.
Poderia passar o resto do dia chorando ali, mas eu tinha que
ir para a aula. Saí do box e lavei meu rosto na pia, olhei no espelho e
vi meus olhos molhados e um pouco vermelhos. Arrumei minha
faixa que estava incomodando, mas a dor de cabeça incomodava
muito mais e em seguida saí para o corredor em direção ao
estacionamento para pegar minha maleta.
Quando cheguei no estacionamento fui até à minha Mercedes
e peguei minha maleta. Olhei para o mesmo lugar que ontem vi Lucy
e Liam se beijando, senti uma lágrima descer pelo meu rosto. Este
dia podia ficar pior? Eu queria ir embora e não voltar mais, porém o
eu realmente tinha que ficar e lembrei que o dia ficaria pior ou talvez
o ano inteiro ao lembrar que em todas as minhas aulas Liam também
está.
Entrei na sala tentando ser natural, não queria deixar nada
transparecer. Eu poderia dizer que eu sou uma verdadeira atriz se as
vezes eu não cometesse alguns deslizes.
“Srta. Hale?” disse o Sr. Thompson surpreso.
Eu sorri de leve e levantei minha maleta e ele entendeu. O Sr.
Thompson continuou sua aula sobre a Revolução Francesa. Segui
para o único lugar vago que, para piorar ainda mais o dia, era ao lado
de Liam. Eu queria revirar os meus olhos, porém permaneci com a
minha naturalidade.
Coloquei minha maleta no chão ao lado da cadeira e a
mochila em cima da mesa. Não notei nenhum movimento de Liam
ao meu lado, porém sabia que ele estava incomodado, aliás eu
agradeceria se fosse apenas ele.
Para minha surpresa consegui me concentrar no Sr.
Thompson, talvez fosse porque Revolução Francesa era um assunto
fascinante para mim. A aula passou tranquilamente, como se a
situação anteriormente nunca tivesse existido. Quando o sinal tocou
eu lentamente guardei minhas coisas na mochila e apanhei minha
maleta. Não estava desesperada para saí, na verdade eu queria olhar
uma vez para Liam, o que não fiz. Meu subconsciente, finalmente se
apresentando a mim, me olhou satisfeito.
Não encontrei Katherine em lugar algum depois da aula de
história. Talvez juntara-se a outras pessoas para planejar alguma
atividade extracurricular, ela adorava essas coisas. Não me
incomodei nem um pouco com o seu sumiço, na verdade estava
agradecendo aos céus por pelo menos isto acontecer de bom hoje.
Essa bonança momentânea é muito estranha. Ouvi meu
subconsciente dizer olhando desconfiado para mim e eu realmente
considerei isso.
Depois do almoço segui para a aula de física. Eu gostava de
física, era uma das matéria que eu dominava diferente de Katherine,
ela detestava e para minha alegria esta aula era sem ela reclamando o
tempo todo.
Mais tarde cheguei em casa para minha felicidade e tomei um
banho de lavar até alma. Eu estava decidida a esquecer o que
acontecera, esquecer que Liam disse que estava apaixonado por mim
no dia anterior e hoje simplesmente me chutar da sua vida. Eu estava
decidida, mesmo sabendo que estas coisas não são fáceis. Eu já vi
antes, nunca aconteceu comigo, mas já havia visto antes.
Olhei-me no espelho e lá estava a garota de olhos castanhos
penetrantes. Soltei meu cabelo que caiu em uma cascata, de repente
uma ideia surgiu em minha mente. Olhei mais uma vez para meus
longos cabelos e decidi cortá-los. Eu cortaria a minha marca
registrada, meus cabelos cumpridos. Realmente está na hora de
mudar Srta. Janette Hale. Estava decidido, amanhã estaria com meu
cabelo cortado.
Depois do banho me vesti e desci para fazer o jantar. Fiz uma
breve perícia na geladeira e decidir fazer um simples empadão de
frango que Emma adorava. Peguei meus ingredientes e comecei meu
trabalho.
O empadão estava assando quando a campainha tocou. Ao
abrir a porta parei chocada com tanta ousadia. Liam Knight estava
parado com uma cara não muito boa, ele me observava como se
estivesse aliviado ou algo do tipo. Vestia uma camiseta branca de
linho com uma jaqueta preta e calça jeans. Ele parecia um Deus.
Prendi a respiração e mordi o lábio inferior.
“O que você...” Não consegui terminar a minha pergunta,
pois fui interrompida por um beijo inesperado.
Um beijo desesperado com alívio e mais alguma coisa que eu
não podia detectar. Queria empurra-lo para bem longe e expulsa-lo
da minha casa, porém ele estava me segurando firme e conduzindo-
me para dentro da casa. Ele estava tomando o controle da situação
com sua língua invadindo minha boca desesperadamente. COMO
ASSIM? Gritou meu subconsciente correndo de um lado para o outro
com as mãos na cabeça.
Tentei inutilmente me livrar dele, eu não conseguia mexer
meus braços. O beijo estava ficando muito intenso e num segundo
Liam parecia estar em todas as partes do meu corpo, na boca, no
pescoço, na bunda, nos seios. Eu já estava percebendo onde poderia
chegar nesse ritmo. Emma chegaria a qualquer momento, isso me
fez entrar em desespero e eu estava quase cedendo aos encantos de
Liam. Suas pernas. Murmurou meu subconsciente parando de
repente e me olhando com desdém.
Eu podia mexer minhas pernas e não pensei duas vezes antes
de choca-las com as partes intimas de Liam. Ele me soltou quase
caindo no chão sentido dor.
“Me perdoe, me perdoe.” Eu disse desesperada, não gostava
de vê ninguém sentindo dor. “Mas foi preciso.”
Ele se jogou no sofá fazendo careta, eu senti muita pena dele,
porém o que ele estava pensando? Vir na minha casa e me beijar
quase me levando pra cama.
“O que você quer Liam?” eu perguntei sem entender.
“Me perdoe.” Disse ele se recompondo. “Por favor, não
considere o que eu lhe disse hoje pela manhã.”
Franzi o cenho e cruzei os braços. Isso é uma piada. Ele se
levantou e eu observava cada movimento seu.
“Que tipo de pessoa você pensa que eu sou Liam?”
perguntou séria.
“Eu sei que você está com raiva.” Murmurou ele
tranquilamente. “Mas...”
“NÃO TEM MAS.” Eu gritei interrompendo-o. “EU NÃO...”
Eu parei e fechei meus olhos me tranquilizando, quando os abri
Liam estava me olhando com tranquilidade. “Eu não estou apenas
com raiva Liam. Estou decepcionada, angustiada e, além disso, estou
muito triste. Estou com mais raiva porque você aparece na porta da
minha casa e ME BEIJA COMO SE ISSO RESOLVERIA TUDO.
QUE DROGA!” Eu não consegui me controlar. “EU NÃO SOU
UMA BONECA QUE VOCÊ PODE FALAR QUE TEM CERTOS
SENTIMENTOS E DEPOIS VIRAR AS COSTAS COMO SE
NADA TIVESSE ACONTECIDO. EU NÃO SOU UM ROBÔ, EU
TENHO OS MEUS SENTIMENTOS.”
Eu parei por um momento andando de um lado para o outro
lentamente. Controle-se mulher! Disse pra mim mesma.
“Eu estou confuso.” Murmurou ele. “Jane eu realmente gosto
de você, por favor, acredite em mim. Quando você disse que eu não
a escolheria me irritei com você porque já tinha feito minha escolha
ha muito tempo. E depois você falou algo que eu considerei: Como
posso aceitar alguém que eu nem sei se me aceita? Claro que eu a
aceito, mas você parece que não aceita o fato de que eu sempre fui
louco por você.”
Parei de andar de um lado para o outro e o encarei com
sarcasmo.
“Você não parecia confuso ontem ou hoje mais cedo antes
daquele tapa na minha cara que me fez acordar para a realidade.” Eu
disse com um falso sorriso no rosto. “Eu saí daquele banheiro
deixando você com uma decisão. Se você realmente sentisse o que
diz sentir por mim, você não teria me permitido partir ou até mesmo
não teria dado o trabalho de beijar Lucy por aí e na minha cara
principalmente. Pra situação ficar melhor, eu ainda aceitei que você
gosta de mim.”
Ele me olhava com cautela e absorvia minhas ultimas
palavras com um pouco de satisfação. Continuei andando de um lado
para o outro.
“Mas quer saber Liam...” Eu parei de repente, uma ideia
surgindo em minha mente. Eu estava com muita raiva. Aproximei-
me dele e olhei para seus lábios. “Eu não quero saber se você está
confuso ou não.” Sussurrei.
Ele sorriu torto.
“Eu sei jogar esse jogo Jane.” Sussurrou ele também. “E eu
sou muito bom nisso.”
“Eu não sei que tipo de pessoa você pensa que eu sou, mas
posso garantir-lhe Sr. Knight que inocente com certeza eu não sou.”
Murmurei me afastando, ele se aproximou. “com licença eu tenho
que vê algo na cozinha.”
A verdade é que eu sempre jogo esse jogo, algo que o Liam
não espera de mim. Porém eu estava disposta a me rebaixar a tal
nível para ficar tranquila comigo mesma. Fui até a cozinha e apaguei
o fogo do forno e voltei para a sala. Que os jogos comecem. Eu disse
para mim mesma. Voltei e ele estava parado na janela, virou-se para
me vê. Ele era divino.
“Você cozinha?” perguntou ele, impressionado.
“Ficaria surpreso com as coisas que eu posso fazer.” Eu disse
tranquilamente, ele franziu o cenho como se não acreditasse muito
no que eu estava falando. “Você acha que não?”
“Não tenho certeza.” Murmurou ele, eu me aproximei dele.
“Você parece convincente, mas como eu disse antes eu sei jogar esse
jogo.”
“Eu sei que você sabe.” Aproximei-me ainda mais. “Porém
você não me intimida.”
Eu coloquei minhas mãos em seus ombros e lentamente tirei
sua jaqueta. Isso vai ser interessante. Eu disse a mim mesma. Ele
não tirava os olhos dos meus, por um momento vi a sombra de um
sorriso em seu rosto. A jaqueta caiu no chão e ele não pareceu se
importar. Minha atenção foi atraída pela camisa branca que caia
perfeitamente bem nele, andei a redor por um momento. Toquei em
seu bíceps esquerdo, ele era musculoso, muito musculoso.
“Você é interessante Liam.” Disse parecendo calma, mas por
dentro estava uma pequena guerra de hormônios femininos. Eu me
condenava por isto. Você não vai fazer sexo com esse rapaz. Eu
disse para mim mesma e meu subconsciente me olhava
satisfatoriamente. “Digo fisicamente.” Ele suspirou, estava
controlando alguma coisa.
Parei a sua frente bastante satisfeita, pois ele estava reagindo
aos meus movimentos. Toquei no seu peito, em cima do coração.
“Quanto ao que está aqui é difícil dizer.” Eu sussurrei,
sentindo os seus batimentos que estavam acelerados. “hmm...
Interessante.”
“Você não tem medo mesmo do que eu posso fazer, não é?”
murmurou ele me olhando sério.
E mais uma vez Liam estava me beijando, eu estava mais que
satisfeita com isso. Eu retribuí o beijo que esquentava mais e mais.
Ele me puxava pra bem perto do seu corpo a ponto de colar nele.
Quando vi eu já estava em cima dele no sofá. Ele me beijava
ferozmente e pronunciava meu nome várias vezes. Estava realmente
difícil de raciocinar, mas eu não podia fraquejar. Então eu parei
lentamente e o encarei.
“Você realmente pensa que eu vou me submeter a você?”
sussurrei ofegante e com um sorriso falso no rosto. “Eu creio que
não tenho motivos para fazê-lo.” Eu me levantei e lentamente ele fez
o mesmo. Ele estava com raiva e decepcionado. “Não me interessa
mais a sua decisão, não me interessa mais os seus sentimentos. Você
não me interessa mais, vá viver sua vida como achar justo para si
mesmo.”
Eu disse elevando um pouco a voz.
“Tudo bem.” Ele disse com raiva. “Você ganhou desta vez
Srta. Hale. Na próxima não a deixarei pensar muito.”
Revirei os olhos.
“Posso certificar-lhe que não haverá uma próxima vez Sr.
Knight.”
Ele me observou por um momento e sua expressão mudou
para tristeza. Era impressionante como as coisas mudavam
rapidamente entre nós, como se tivéssemos uma sintonia.
“Quando eu disse que você me enfeitiçou com a sua
personalidade forte, era verdade.” Murmurou ele. “Ou melhor, é
verdade. Eu a amo.”
Senti minhas pernas amolecerem por um momento, porém
tentei não mostrar minhas reações internas. Nada parecia mais
verdade, como se tivesse dissolvido o que havia dito antes e agora
estava começando tudo de novo, mas eu sabia que nada estava
começando de novo entre nós. Eu não me permitiria a isso mais,
pelo menos não com Liam.
“Acho melhor você ir Sr. Knight e de preferência nunca mais
voltar.” Eu disse com a voz mais forte que eu tinha no momento.
“Adeus!”
Liam me olhou um pouco surpreso.
“Adeus!” Disse ele tentando mostrar seu orgulho, porém eu
sabia que assim como o meu ele estava ferido.
Ele passou lentamente pela porta e eu o segui para fecha-la,
porém vi Emma chegando. Ela rapidamente conversou com Liam
que mostrou ser muito cavalheiro. Por que ele tem que ser tão
perfeito? Perguntei a mim mesma. Ele não é perfeito, quebrou o seu
coração. Disse meu subconsciente erguendo uma de suas
sobrancelhas.
Esperei Emma entrar e olhei para Liam que seguia seu
caminho para casa. Quando Emma passou fechei a porta.
“O que Liam Knight estava fazendo aqui?” perguntou ela
confusa e desconfiada. “Vocês dois estão...”
“Não mãe!” Eu disse sentando no sofá. “É complicado.”
Eu coloquei minha cabeça entre as mãos que estavam
apoiadas em minhas coxas. Ouvi Emma se aproximar e quando
levantei para olha-la, ela está se agachando na minha frente.
“Você quer conversar?” perguntou ela me mandando um
sorriso fraco.
Olhei para ela por um momento. Além de Katherine, Emma
era minha amiga, aliás é pra isso que servem as mães: para serem
amigas. Eu sempre contava as coisas para Emma, ou melhor, sempre
contava o que ela precisava saber.
“Vamos comer.” Eu disse levantando do sofá. “Eu fiz algo
que você gosta muito.”
Emma bufou baixo quando levantei. Fui até a cozinha e tirei
o empadão de frango do forno, que ainda estava quente, e o depositei
na bancada.
“Nossa!” disse Emma sorrindo. “Isso parece ótimo.”
Eu sorri e peguei os pratos e servi o empadão.
“Então mãe, eu descobri que Liam sempre gostou de mim.”
Murmurei. “Ele mesmo me falou na verdade. Pareceu uma farsa,
admito, mas depois eu percebi que ele realmente estava falando a
verdade.”
 Emma me olhava com cautela enquanto comia. Ela sempre
me dava bons conselhos.
“Farsa? Por que seria uma farsa? E por que é complicado?”
perguntou ela, tranquila.
“Liam é bonito e popular. Ele tem um coração que poucas
pessoas conhecem, mas ele nunca escuta o que o coração dele diz.
Toma decisões que obviamente não são o ideal e ele acaba ferindo
outras pessoas com isso. É tão confuso.”
“Ele a machucou?” perguntou ela, agora preocupada.
“Sim.” Eu disse baixinho. “Quando ele revelou os seus
sentimentos por mim, eu demorei um pouco para aceitar, mas
aceitei. Ele já tem alguém e eu sabia que ele não me escolheria, não
ousaria trocar a popularidade por mim e convenhamos, mãe, não
quero ser a segunda opção de ninguém.”
Abaixei o olhar para o meu prato, eu não sentia tanta fome.
“Então a escolha dele foi esta outra garota?” perguntou
Emma. Eu apenas assenti. “Se a escolha dele foi ela o que ele estava
fazendo aqui?”
Levantei meu olhar para Emma que comia um pouco mais do
empadão.
“Ele pediu para que eu esquecesse a decisão dele e que na
verdade queria escolher a mim.” Sussurrei. “Assim, como se eu não
tivesse sentimentos, como se tudo o que é dito a mim eu não dou
atenção.”
Emma me pareceu surpresa.
“Ele não fez isso?” disse Emma chocada. “Que garoto mais
egocêntrico.”
Ela sempre sabia as palavras que devia dizer, como se fosse
ensaiado. Desta vez eu percebi que Emma estava dando mais
atenção do que o normal, ela estava indignada com a atitude de Liam
assim como eu estava.
“Ele dá muita importância para o que tem e que superficial:
Beleza, mulher fácil e que proporciona a popularidade dele. Eu não
me importo mais com isso, tentei ajudar e minha ajuda não foi
aceita.”
Os olhos de Emma estavam tristes e eu sabia que era porque
eu estava triste. Ela desceu do banco e me abraçou por trás. Eu não
recusei aquele abraço tão afetuoso, mas me culpei por está
recebendo-o enquanto que algumas de minhas atitudes com o Liam
Knight não foram das mais respeitadas. Aquele meu jogo baixo
provou a mim mesma que eu teria que seguir em frente sem importar
com a dificuldade que seria. Isso me fez lembrar de algo.
 “Mãe eu preciso de um favor seu.” Murmurei para Emma que
ainda me abraçava.
“Qualquer coisa minha filha.” Sussurrou ela em meu ouvido.
Olhei pelo estacionamento e mortifiquei ao vê que as vagas
disponíveis ficavam muito longe da saída. Estacionei minha
Mercedes e rapidamente fui até meu armário pegar meus pertences.
“Eu não acredito nisso.” Virei para olhar Katherine
boquiaberta. “Você cortou seu cabelo e o que é isso?”
Ela se aproximou tanto que eu podia vê suas sardas.
“Você está usando maquiagem, pouca maquiagem, mas está
usando.” Ela deu um passo para trás e ergueu uma de suas
sobrancelhas. “Quem é você e o que fez com Janette Hale?”
Revirei os olhos. Não precisava aquele drama.
“Sério que você quer testar seus dotes artísticos aqui, comigo
e agora?” Disse com desaprovação. “Uma garota não pode mudar o
visual quando quer?”
Katherine deu de ombros.
“Jane esse seu cabelo tá fofo. Combinou com você mesmo,
mas a maquiagem é estranha.”
O sinal tocou e eu virei para ir para a sala.
“Você fala como se eu nunca tivesse usado maquiagem
antes.” Disse um pouco alto, pois o barulho ao redor era grande.
“Bom, você nunca usou maquiagem por vontade própria.”
Ela disse cruzando os braços. “Mas entendo que as vezes é bom
mudar.”
Ela sorriu para mim reconhecendo que eu não falaria a ela o
porquê disso tudo, além do fato de eu odiar muitas perguntas
principalmente com tom desconfiado.
Ao entrar na sala quase todo mundo parou o que fazia para
me olhar. Eu corei violentamente diante daqueles rostos me
encarando. Tentei parecer normal, olhando ao redor e meus olhos
pararam em Martin que era o único que não me olhava. As pessoas
voltaram a conversar e eu segui para o meu lugar ao lado daquele ser
absurdamente lindo.
Quando sentei ao seu lado ele finalmente pareceu ter me
notado e virou lentamente para me olhar. Ele demorou um pouco me
analisando, eu sei que ele estava surpreso por causa do cabelo. Para
a minha felicidade a Sra. Calton entrou na sala com seu habitual
humor alegre.
 “Bom dia queridinhos!” disse ela com a voz alta. “Sentem-se
em seus lugares porque hoje eu tenho um breve trabalho para
vocês.”
Semicerrei os olhos. Isso era algum tipo de piada? Eu fazer
trabalho com Martin Collins o garoto que não fala com o meu tipo
de gente? Eu bufei bem baixinho encolhendo os braços.
“Vamos lá.” Disse a Sra. Calton entregando uma folha.
Quando se aproximou ela ficou surpresa. “Jane vejo que enjoo
daquele seu cabelo longo.”
“Sempre é bom mudar um pouco.” Murmurei sorrindo.
“Você tem razão.” Disse ela me entregando a folha. “Ficou
muito bom.”
“Obrigada.” Murmurei em resposta e muito satisfeita.
Peguei a folha e li. Era um exercício sobre Ecologia e era
para ser feito com o par. Revirei os olhos e entreguei a folha a
Martin. Eu não olhava para ele, mas pelo meu campo de visão o vi
pegando a folha e lendo. Pigarreei alto.
“Então vamos fazer isso.” Eu disse parecendo séria. Na
verdade era esse o objetivo mesmo. “São questões objetivas então
assim fica mais fácil e com menos comunicação verbal.”
Ele depositou a folha na mesa e olhou para mim.
“Eu quero pedir-lhe desculpas.” Murmurou ele em tom sério.
“Não fui cavalheiro e nem um pouco justo.”
Eu me arrepiei e as palavras sumiram da minha mente por
alguns segundos. Pela primeira vez naquele dia eu me permiti
encara-lo e não pude esconder a minha surpresa e duvida. Sério que
ele está lhe pedindo perdão?
“Pelo o que exatamente está pedindo desculpas? Por me
tratar como uma inútil?” Perguntei encontrando as palavras e com
um pouco de sarcasmo. “Sabe Martin você é um mal educado e nem
um pouco cavalheiro.”
Martin arregalou os olhos.
“Jane estou pedindo desculpas porque reconheço que não fui
educado. Eu não deveria ter falado aquilo, mas é que... Ah... Você
sabe...” ele disse ficando sem graça.
Olhei-o com pena. Tudo indicava que ele queria realmente
que eu o perdoasse, além disso eu percebi sua curiosidade em
relação ao meu cabelo e tinha uma certa dúvida se era por isso que
ele estava falando comigo.
“Tudo bem.” Eu disse por fim e ele pareceu aliviado.
“Vamos fazer isso logo.”
 Eu puxei a folha e senti seu olhar em mim. O que será que ele
estava pensando? Não me permitir olhá-lo, tentei responder algumas
questões mentalmente.
“Ficou legal o seu cabelo.” Murmurou ele sorrindo e eu sorri,
eu estava certa. “Tem algum motivo para isso?”
Encarei-o por um tempo. Ele falou como se já soubesse de
alguma coisa. Liam deve ter contado.
“Obrigada!” eu disse. “Como eu disse à Sra. Calton: Sempre
é bom mudar um pouco.”
Martin sorriu, um sorriso espontâneo e delicado. O observei
por um momento, ele vestia calça jeans, camiseta azul claro e uma
jaqueta preta que realçava ainda mais os olhos azuis e o cabelo
castanho. Ele era musculoso como a maioria dos jogadores do time
de futebol. Eu não podia negar que Martin era lindo como Liam. Se
algum dia tivesse um concurso de beleza e os dois participassem eu
teria pena dos jurados.
“O que foi?” perguntou Martin arrancando-me tirando dos
meus devaneios.
“Ah..” Eu me concentrei. “Estava tentando lembrar o que a
professora disse sobre um assunto.”
Eu voltei para a folha e na verdade todas as questões já
estavam respondidas. Admito que eu sabia de muita coisa, mas não
ficava me gabando por aí como algumas pessoas fazem. Olhei
rapidamente para Lucy que estava sentada não muito longe. Ela
sempre tirava notas boas, mas fazia isso apenas para garantir sua
permanência como líder de torcida. Depois que conseguiu sabotar o
teste da pobre Olivia Newton para tomar o lugar de capitã do grupo
ela tentava ser melhor na turma, porém esse posto já tinha uma
pessoa que sou eu e depois Katherine, seguidas de James Newton
irmão de Olivia.
A questão é que Lucy se gabava por tirar notas altas, porém
era a mim que as pessoas procuravam para pedir ajuda com exceção
dos orgulhosos do time de futebol e é claro, Lucy e seu bando.
“Você é sempre assim?” perguntou Martin parecendo
impressionado com algo. Eu me assustei estava tão imersa em
pensamentos como sempre.
“Como assim?” perguntei confusa.
“Há pouco mais de cinco minutos atrás você estava com
raiva de mim e agora está tranquila.” Ele disse sorrindo. “Eu sei que
eu pedi perdão e você perdoo, mas geralmente as pessoas continuam
com raiva.”
Eu sorri. Ele realmente conseguiu observar isso? Perguntou
meu subconsciente impressionado. Martin não é idiota.
 “Eu não sou assim.” Eu murmurei sem graça. “Pelo menos
não com todo mundo. Quando eu percebo o que a pessoa realmente
quer eu considero.”
“Então você viu o que eu queria realmente?” perguntou
entusiasmado. “O que você viu?”
Encarei-o erguendo uma sobrancelha. Eu realmente tentava
entender as pessoas, observava seus comportamentos e por fim quais
as verdadeiras intenções.
“Você queria falar do meu cabelo.” Eu sorri. “E também sei
que se arrependeu do que disse na aula anterior na mesma hora, pois
pensou que me conhecia, mas não conhecia nem um pouco. Penso eu
que você parou para pensar nisso depois do que lhe falei quando o
deixei.”
Ele me olhou surpreso.
“Como chegou a essa conclusão?” perguntou animado com o
rumo que a conversa estava tomando. “Você lê mentes agora?”
“Bom, de acordo com a minha amiga Katherine e em seguida
confirmado por mim, na aula de história você me observava de dez
em dez minutos. Cheguei a tal conclusão quando o flagrei olhando
para mim e você se sentiu intimidado.” Eu respirei. “E eu não leio
mentes, mas leio as pessoas.”
“Sempre consegue fazer essas coisas?” murmurou sorrindo.
“É incrível Jane.”
Eu corei, era estranho como o meu nome soava ao som de
sua voz. Algo como uma música. Nunca ouvi coisa parecida, olhei
para Martin que lia a folha de exercício tentando responder alguma
questão.
“Vai me perdoar Jane, mas não sei responder estas
perguntas.” Disse ele me olhando com culpa.
“Eu já tinha respondido.” Eu murmurei sem graça.
Ele me olhou mais sem graça ainda. Nem mesmo eu
conseguia entender porque há um tempo atrás estava com raiva e
agora não mais. Eu deveria está, as coisas que ele disse não foram
nem um pouco legais, mas não conseguia sentir raiva. Olhei para as
minhas mãos com agonia, depois peguei uma caneta.
“Bom, eu vou marcar aqui...” Fui interrompida.
“Sr. Knight está muito atrasado.” Disse a Sra. Calton. “Sente-
se em seu lugar e faça o trabalho que pedi.”
Liam vinha para seu lugar logo atrás de nós e passou como
um avião ao meu lado, ignorando-me por completo.
“Nossa, alguém acordou do avesso hoje.” Murmurou Martin
distraído.
 “Como eu dizia, vou marcar logo as respostas.” Murmurei
pegando a folha.
“Tudo bem.”
A curiosidade em saber porque Liam chegara aquele horário
era enorme, eu tinha vontade de virar e olhar para ele, me contive na
cadeira e continuei marcando as respostas. Minha raiva era maior,
aliás ali estava o motivo de eu cortar meu cabelo, da mudança. Liam
Knight. Eu queria apenas esquece-lo, tirar as coisas ruins da cabeça,
mas era tão difícil. Agora eu só consegui uma dor de cabeça horrível
que eu tentava ignorar.
Depois que marquei todas as respostas entreguei a Martin e
este entregou a Sra. Calton. A aula estava próximo ao fim quando
Martin falou:
“E sua cabeça não melhora?” perguntou ele olhando para a
minha faixa. “Já deveria está melhor, não é?”
Eu dei de ombros e tirei a faixa.
“Uso a faixa porque gosto dela.” Eu disse sorrindo. “Mas eu
tenho que ter cuidado, ainda dói um pouco o meu corte.”
“Eu posso vê?” perguntou ele tranquilamente.
“Agora que cortei o cabelo fica melhor para ver.” Murmurei
virando de costas para ele e tocando em meu corte quase que
completamente cicatrizado. “Consegue vê?”
“Sim.” Respondeu com a voz suave, ele tocou no corte e
senti um arrepio. Martin percebeu. “Desculpe!”
“Tudo bem.” Eu disse retornando a minha posição normal.
Olhei ao redor e ninguém olhava para nós.
“Está quase curada.” Murmurou Martin.
O sinal tocou e eu guardei meu caderno na mochila. Martin
fazia o mesmo que eu.
“Você quer uma companhia para a próxima aula?” perguntou
ele sorrindo. O que era aquilo? “Se não for querer demais.”
Dei de ombros. Ele quer minha companhia? Perguntei a mim
mesma. Ele quer sua companhia, você não vê? Disse meu
subconsciente. Parei e analisei, não deveria encher minha cabeça
com falsas esperanças de novo.
“Por mim tudo bem.” Murmurei tentando disfarçar minha
curiosidade e confusão ao mesmo tempo.
Martin e eu seguimos para a aula de história, mas chegando a
aula procurei um lugar bem distante dele, não apenas para evita-lo,
mas também porque ele sentou ao lado de Liam que tinha um olha
vazio, parecia que estava em todo lugar menos na Terra. Sentei-me
próximo a Katherine.
Katherine e eu estávamos indo para o almoço, sabendo que
ela queria fazer várias perguntas, tentei distrai-la com outras coisas e
funcionou. Sentei em uma mesa próxima, eu não sentia fome então
esperei Katherine com seu almoço, ela ainda estava na fila quando vi
Liam se aproximar olhei para baixo disfarçando minha revirada de
olho.
“Então?” perguntou ele sentando ao meu lado. “O que está
rolando?”
Balancei a cabeça sem entender.
“O que foi?” perguntei olhando ao redor. “E por que está
aqui?”
Desta vez ele quem revirou os olhos.
“Até ontem você estava com muita raiva de Martin e hoje
estava toda sorrisos.” Ele falava baixo e bem perto para que apenas
nós dois pudéssemos ouvir. “E eu falei sério quando disse que não
me importava mais com o que os outros pensam.”
Eu suspirei e olhei para a mesa, ele não precisava mais saber
de nada sobre mim eu estava com raiva dele agora por ele ser tão
egocêntrico.
“Martin pediu desculpas e vi sinceridade em seus olhos.” Eu
disse impaciente. “Isso não interessa a você sabia? Ele é seu melhor
amigo poderia muito bem perguntar a ele ao invés de vir aqui na
frente de todo mundo que não imagina você falando com pessoas
como eu.”
“Você já parou para pensar que ele apenas fez isso pra buscar
vantagem a ele?” ele perguntou com cautela. “Eu o conheço muito
bem Jane para está lhe falando isso.”
Ele estava com raiva eu podia sentir, seus olhos verdes
estavam impacientes.
“Está dizendo que Martin pediu desculpas para melhorar as
notas dele em biologia?” Perguntei parecendo séria. Ele assentiu.
“Você está com ciúmes?”
Liam deu de ombros.
“Claro que não, só estou alertando-a.” ele disse um pouco
alto atraindo a atenção de algumas pessoas.
Eu distraidamente coloquei a mão sobre a minha boca para
conter um sorriso. Liam pareceu envergonhado.
“Como está sua cabeça?” perguntou ele ainda envergonhado.
“Está quase curada.” Disse não contendo minha satisfação.
“Você cortou o cabelo.” Murmurou ele. “Por que fez isso?”
 “Apenas uma mudança.” Eu disse com seriedade.
“Isso está relacionado a mim?” perguntou ele distraidamente,
a vergonha desaparecendo.
“Querido Liam, o mundo não gira em torno de você.” Eu
disse.
“Err... Oi” disse Katherine aparecendo de repente. Eu estava
agradecendo-a mentalmente. “O que você está fazendo aqui Liam?”
Katherine nos olhava confusa e eu ficaria do mesmo jeito se
fosse eu no lugar dela. Liam se afastou de mim e se ajeitou na
cadeira.
“Estava perguntando como está Jane. Meu pai pediu para
ficar de olho nela.” Ele disse tentando ser convincente e pareceu dá
certo. “Não sei se você sabe, mas ele que cuidou de Jane.”
Katherine sentou e sorriu, mas esse sorriso não tocou seus
olhos. Eu conhecia muito bem Katherine para saber que se antes ela
tinha milhões de perguntas a fazer, agora ela tinha o dobro. Era
muito difícil conviver com ela, pois tudo era motivo de curiosidade
eu gostava disso também e eu era assim as vezes.
“Jane me falou.” Murmurou ela olhando para nós dois.
“Liam!” disse Lucy se aproximando, seu tom era hostil. “O
que você está fazendo?”
Liam olhou surpreso para Lucy.
“Estou vendo se Jane está bem.” Disse ele com falsa
tranqüilidade. “A pedido do meu pai.”
Lucy me olhou sorrindo e eu sabia que aquele sorriso era
mais falso do que aquela beleza dela de maquiagem.
“Tudo bem. Eu gostaria de mostrar uma coisa.” Ela disse
oferecendo a mão para que ele a pegasse e foi o que ele fez.
Liam olhou para mim parecendo preocupado, mas eu sabia
que era fingimento. Uma atriz sempre sabe reconhecer um igual.
“Fique bem.” Ele disse, levantando-se e pegando a mão de
Lucy.
“Estarei ótima.” Eu disse sorrindo falso.
Eles se foram.
“Então... O que realmente ele veio falar com você?”
perguntou Katherine comendo. “Sabe eu não caí nessa.”
“Ele disse a verdade.” Eu disse serenamente.
Ela me olhou desconfiada.
“Jane não me esconda, por favor! Eu sou sua melhor amiga
lembra? Compartilhar e ajudar uma a outra.”
 Emma e Katherine eram as duas pessoas que eu podia
confiar, tive que aprender a confiar em outras pessoas além da minha
mãe e Katherine foi a única pessoa que consegui encontrar.
“Claro que eu lembro Katherine.” Eu disse sem esconder
minha emoção. “O que Liam disse é verdade.”
Ela me observou por um momento, procurando vestígios de
mentira, mas desistiu logo em seguida.
“Tudo bem é só que me preocupo. Você tem estado muito
distraída ultimamente.”
“Distraída eu?” perguntei. “Você poderia me dizer o que
estava fazendo ontem para ter sumido?”
“Alguns alunos estão se reunindo para dá aulas.” Franzi o
cenho. “Estamos nos reunindo para dividir as atividades. Você
poderia participar e ensinar alguma matéria.”
Balancei a cabeça.
“Não sou professora Katherine.” Murmurei.
“Apenas para tirar dúvidas das pessoas e você não estaria
sozinha.” Ela disse fazendo cara feia. “Encontraríamos alguém para
ajuda-la.”
Fitei Katherine e ela fazia uma cara engraçada, ela queria que
eu aceitasse e faria de tudo para me convencer. Eu bufei.
“Vou pensar.” Eu disse com a voz tediosa. “Não prometo
nada.”
Katherine sorriu.
“Eu sei que você vai aceitar.” Disse ela comendo seu almoço.
“Isso está bom.”
Sorri para ela.
Conforme os dias passavam eu me acostumava com a ideia
de até o fim do ano encontrar alguma coisa para fazer. As aulas
corriam tranquilamente isso me agradava e para a minha alegria
Martin mostrava seu cavalheirismo e eu me perguntava porque ele
me tratara daquela maneira no primeiro dia de aula. Nós não
conversávamos muito, não tinha o que falar. Às vezes ele perguntava
algumas coisas sobre mim, porém eu não dava muito detalhes sobre
isso, com certeza, não era de seu interesse.
Enquanto isso, Katherine estava focada em suas atividades
extracurriculares e estava distante. Um grande espaço foi aberto
entre nós e ela era a única que não se importava muito. Quando
falava comigo era apenas para saber se eu faria alguma coisa como
eu havia dito que pensaria e nem pensava nisso.
Quando o espaço que Katherine ocupava ficava vazio Martin
aparecia as vezes para me acompanhar nos intervalos das aulas, no
almoço e estávamos nos tornando bastante amigos e até mesmo
Katherine gostava da companhia dele quando estava presente.
Enquanto isso Liam se afastou, eram raros os momentos que falava
comigo e geralmente o via nos treinos do futebol durante as aulas de
educação física. Tudo voltara a ser como antes, com exceção de
Martin que agora era um amigo.
Eu estava em meu quarto como fazia na maioria das vezes
ouvindo música no meu IPod. Tinha sido um dia cansativo, Emma
acordou cedo dizendo que teria que ir mais cedo para o trabalho. Eu
tinha tantos exercícios para fazer e de várias matérias ao mesmo
tempo, como se todos os professores tivessem combinado. Eu bufei
me jogando na cama, peguei o IPod e procurei uma música, coloquei
“Life Is Beautiful” do Vega4. Peguei minha mochila na mesinha ao
lado da janela e parei ao vê Liam chegando em casa com seu pai.
Passou-se um pouco mais de um mês e eu ainda pensava
nele. Eu sabia que não seria fácil, ele estuda comigo e mora em
frente a minha casa. Precisaria de uma distração, mas era muito
difícil de encontrar alguém para saí um pouco. Katherine não largava
suas atividades extracurrilares o que me irritava.
O único jeito de me distrair seria participar de alguma coisa
que ela estava fazendo. Eu realmente não queria.
“Jane!” murmurou Emma me balançando.
Abri os olhos rapidamente.
“Você vai se atrasar.” Disse ela saindo do quarto.
Olhei para janela e vi uma luz fraca. Peguei o IPod que
estava jogado ao meu lado e coloquei-o na mesa-de-cabeceira.
Tomei meu banho, depois me arrumei rapidamente e desci.
Eu estava atrasada, então saí sem tomar café. Parei no posto para
abastecer minha Mercedes e em seguida fui rápido para a escola,
para minha tristeza a única vaga sobrando era longe da saída.
“Com licença Sra. Calton.” Eu disse parando na porta da sala.
Ela virou para me olhar e sorriu calorosamente.
“Entre Jane.” Ela disse. “Sente-se.”
Segui rapidamente para meu lugar e Martin estava lá
esperando. Sentei e tirei meu caderno da mochila.
“Oi!” sussurrou Martin sorrindo.
“Olá!” eu sussurrei de volta.
“Hoje ela está de bom humor.” Murmurou ele sorrindo ainda
mais.
Eu sorri também.
 “Eu percebi que o sorriso dela está maior que o de costume.”
Eu sussurrei disfarçadamente pegando uma caneta na mochila. “O
que será que aconteceu?”
Martin deu de ombros balançando a cabeça negativamente.
Eu sorri. Senti meu celular vibrar no bolso de trás e o peguei. Era
Katherine.
Está flertando com Martin? Ela tinha que está brincando.
Virei para olha-la, estava a duas mesas de mim. Fiz uma cara
séria e ela revirou os olhos. Martin prestava atenção na Sra. Calton e
eu procurei fazer o mesmo. Depois de explicar duas vezes todo o
processo da fotossíntese com algumas informações adicionais, a Sra.
Calton terminou sua aula.
“Você e sua amiga brigaram?” perguntou Martin
naturalmente. “Vocês estão se falando pouco ultimamente.”
“Não.” Eu disse sem graça. “Ela só está muito focada nas
atividades extracurriculares.”
“Eu me inscrevi para ensinar alguma coisa.” Ele disse
sorrindo.
Parei para olha-lo.
“Você?” perguntei surpresa. “Você faz essas coisas?”
Ele sorriu.
“É a primeira vez.” Ele murmurou envergonhado. “e você?”
“Eu já fiz algumas vezes, agora Katherine está insistindo para
que eu me inscreva em alguma coisa.” Eu bufei. “Estou pensando
em me inscrever. Ultimamente preciso me distrair um pouco.”
Virei para vê Katherine, mas ela já tinha saído.
“Você é diferente de sua irmã.” As palavras escaparam sem
querer.
Ele sorriu.
“Eu poderia discordar de você, porém está completamente
certa.” Ele disse. “Lucy pensa que é a dona do mundo. Eu sou
tranquilo.”
“Pensei que era igual, principalmente depois do primeiro dia
de aula.” Mais uma vez eu não me contive.
Ele deu de ombros.
“Desculpa.” Murmurei sem graça.
“Você está certa mais uma vez, eu fui um estúpido naquele
dia. Não sei onde eu estava com a cabeça.” Ele balançava a cabeça
negativamente, como se estivesse decepcionado consigo mesmo.
“Perdão por aquele papel que eu fiz.”
Eu corei, ele estava pedindo perdão de novo.
 “Eu não deveria ter tocado nesse assunto.” Eu disse pegando
minha mochila. “É melhor irmos.”
Ele sorriu, mas o sorriso não tocou em seus olhos.
“Somos amigos agora?” ele perguntou pegando a mochila.
“Você é realmente diferente das outras.”
Virei para ele e fiz uma cara de confusa. Não sabia se aquilo
era um elogio ou um insulto.
“Outras?” perguntei sem entender mesmo.
“Sim, eu já tentei fazer amizade com garotas, porém não
obtive muito sucesso.” Murmurou ele sorrindo. “Você tem todos os
motivos para me odiar, porém está aqui.”
“Deve ser difícil aguentar sua irmã.” Eu disse sorrindo, mas
analisava suas feições. “Desculpe.”
“Você tem razão.” Ele sorriu mais ainda. “Ela é muito chata.”
“Eu não gosto da sua irmã, acho que já deixei bem claro
isso.” Eu disse sem graça, estávamos a caminho do armário de
Martin.
“Vocês estão quites então, pois ela detesta você.” Ele
murmurou. “Por que não gosta dela?”
Cruzei os braços distraidamente. Martin parou para abrir o
armário.
“Não sei se você já percebeu, mas ela sempre me tratou mal.”
Eu murmurei.
Uma coisa no armário de Martin atraiu minha atenção, era
uma caixinha preta pequena que devia ter alguma joia pequena
dentro. Ele percebeu.
“Isso é um presente que comprei há um tempo.” Ele pegou a
caixinha. “Mas a pessoa não aceitou.”
Ele abriu a caixa e lá estava uma pulseira de dourada com
vários pingentes ao redor. Martin pegou a pulseira e colocou em
minha mão para eu vê-la melhor. Tinha um leão pequeno, um
coração, um livro e um diamante. Era tão linda.
“Você pode ficar com ela.” Martin disse tranquilamente.
Olhei assustada.
“Claro que não. Não era a mim que estava pensando em dar.”
Eu disse assustada, ele me pegou de surpresa. “Também acho que...”
“Você não tem que achar nada.” Ele me interrompeu.
Martin pegou a pulseira da minha mão e em seguida meu
pulso delicadamente. Eu o observei colocar a pulseira, estava
tranquilo.
 “Combina com você.” Ele disse sorrindo. “Olha só!” Ele
tocou no leão. “Você é brava como um leão.” Eu sorri e ele também,
em seguida pegou o livro. “Você é inteligente.” Pegou o coração e o
diamante entre os dedos. “Tem um coração bom e uma
personalidade forte.”
Ele me olhava com satisfação.
“Não posso aceitar isso.” Eu disse sem jeito.
“Eu não aceito de volta, se não quer dê a outra pessoa.” Ele
disse convencido o que me fez rir.
“A pessoa que você ofereceu antes não aceitou e eu tenho
que aceitar?” Eu disse rindo, ele assentiu. “Por quê?”
“Porque estou fazendo questão que aceite.”
Martin pegou o livro de história e fechou o armário. Eu
nunca parei para pensar em Martin antes, para mim ele era apenas o
melhor amigo de Liam. Pensei que ele se importava com a
popularidade que tinha, a única coisa que eu sabia sobre ele é que a
arrogância as vezes falava mais por ele e além disso ele era um dos
maiores garanhões da escola. Ele não era nenhum inocente e eu
esperava tanta coisa dele, mas andar comigo sem se preocupar,
presentes (mesmo que não fosse realmente para mim).
Mesmo que a beleza dele me afetasse eu sabia que nunca
teria chance com ele, então por que não aceitar sua amizade? As
vezes Martin fazia parecer que era o que mais esperava de mim, a
amizade.
Rapidamente seguimos para a próxima aula, o professor
ainda não havia chegado. Sentei ao lado de Katherine, ela estava tão
concentrada em seu celular que nem notou minha presença.
“Katherine.” Chamei. “Por que você não me esperou?”
“Desculpa Jane, eu tive que falar com um pessoal.” Ela enfim
largou o telefone.
Revirei os olhos.
“Ultimamente não temos nos falado direito.” Eu disse
baixinho com um pouco de tristeza na voz. “Você está tão
concentrada em suas atividades extracurriculares.”
Ela deu de ombros e corou. Eu sentia falta dela.
“Bom dia pessoal.” Disse o professor entusiasmado.
Katherine se ajeitou na cadeira, eu fiz o mesmo. Peguei meu
celular e comecei a digitar uma mensagem para Katherine.
O que vai fazer depois da aula? Digitei e enviei.
Demorou alguns minutos para ela responder.
Atividades Extra. Respondeu.
 Eu bufei. Ela não poderia dá um tempo nisso?
Tudo bem. Eu enviei.
Aquilo realmente estava ficando insuportável. Tentei prestar
atenção no que o professor falava sem muito sucesso, no entanto
assim eu permaneci até o fim da aula.
Eu estava comendo em uma das mesas do grande refeitório
quando Martin se juntou a mim. Ele sorriu para mim.
“Onde está sua amiga?” perguntou ele tomando um pouco de
suco.
Dei de ombros.
“Aparentemente fui trocada por outros alunos.” Eu disse.
“Que triste.” Ele disse sorrindo e eu não pude evitar. “Eu
desisti de dá aula.”
“Por quê?” perguntei, estava surpresa.
Martin sorriu, no entanto não havia humor algum naquele
sorriso ou em seu rosto.
“Não sei se conseguiria dá aula. Tem apenas duas matérias
que eu sou bom que são história e física e sinceramente é algo fácil
de entender, mas para ensinar ou até mesmo pra tirar uma dúvida é
difícil pra mim.”
Aquela revelação me pegou de surpresa, Martin era bom em
física e isso parecia ser inacreditável. Embora eu admita que as
vezes ele demonstrava ter um bom conhecimento em física, nunca
poderia imaginar que ele era bom nisso. Além disso era a matéria
que eu dominava, mas é claro, não tanto quanto história.
“Você é bom em história e física?” perguntei arregalando os
olhos de surpresa.
Ele corou. Você o fez corar? Perguntou meu subconsciente
olhando entusiasmado por sobre os óculos de meia lua.
“Sim.” Murmurou ele sem olhar para mim. “Meu pai era
professor de física. Ele era um pai rígido com Lucy e eu e nos
ensinava tudo o que sabia, depois que ele morreu as coisas
desandaram principalmente para Lucy.”
Martin levantou o olhar e seus olhos pareciam tranquilos.
“Eu sinto muito.” Eu disse. “Como ele se chamava?”
“George...” Ele sussurrou como se fosse chorar, eu morri por
dentro. “George Collins.” Repetiu limpando a garganta.
“Martin...” Eu disse pegando a sua mão um pouco
desesperada. “Me perdoe.”
 Ele balançou a cabeça negativamente e sua expressão ficou
serena.
“Não precisa pedi perdão. Você não fez nada de errado ou
que não agradasse.” Ele pegou a minha mão e começou a olha-la.
“Meu pai não me envergonhou de nada, era um bom homem e nos
ensinou valores e princípios até o seu ultimo suspiro.”
Martin analisava a minha mão, cada milímetro. Passando o
dedo pelo anel que ganhei da minha mãe quando eu era criança, ele
parou ali e me olhou como se esperasse uma explicação. Eu hesitei,
tínhamos realmente que falar sobre essas coisas? Além disso o clima
estava ficando estranho.
“Quando eu completei doze anos, minha mãe me presenteou
com esse anel. Ela disse que era apenas um objeto pra eu lembrar-me
dela.” Eu disse.
“Como se chama sua mãe?” quis saber Martin.
“Emma.” Respondi. “Eu amo minha mãe é uma verdadeira
inspiração.”
“E seu pai?” perguntou ele.
Olhei para o outro lado do refeitório.
“Não o conheci, não sei nada sobre ele e minha mãe nunca
toca nesse assunto.”
“Você tem curiosidade em conhece-lo?”
Voltei a olhar Martin que parecia estar achando interessante a
conversa.
“Na verdade não, mas se um dia surgisse a oportunidade
talvez eu iria atrás.”
Martin sorriu e continuou passando dedo indicador pela
minha mão, sobre as linhas que formava um “M” e em seguida
desceu para o meu pulso e sorriu ao tocar na pulseira. Aquilo era
estranho demais e sem pensar eu puxei minha mão para perto de
mim. Ele gosta de você. Disse meu subconsciente pulando
parecendo uma adolescente frenética apaixonada. Aquilo não era
verdade, em que mundo normal Martin iria gostar de alguém como
eu? Não seja ridícula Jane, é claro que é neste mundo. Continuou o
meu subconsciente.
“Eu tenho que ir.” Eu disse levantando.
“Tudo bem.” Disse Martin levantando-se também. “Vejo
você depois.”
Eu apenas sorri nervosamente e fui embora. Praticamente
corri até o meu armário para pegar meu livro de história, porém
quando abri o armário um papel caiu. Era uma carta destinada a
mim. Abri rapidamente para ver do que se tratava.
Senhorita Janette Hale,
 De acordo com o seu bom desempenho na matéria de
história, eu, professor Carl Brittan do componente curricular
história, a convoco para uma reunião dos membros da turma
avançada de história que se realizará às quatro horas da tarde do
dia 3 de março.
Assim espero a sua presença.
Carl
Brittan
Professor
coordenador
Arregalei os olhos para aquilo. Era algum tipo de
brincadeira? Até mesmo os nerds praticavam o tal bullying? Eu
queria rir, porém estava petrificada com aquela carta, era muita
informação pra digerir.
Turma avançada de história. Disse meu subconsciente com a
mão no queixo com se analisasse a situação. Não era algo que eu
esperava, mas eu não recusaria uma oferta assim principalmente
porque eu adoro história por isso minha dedicação. Li mais uma vez
a carta e outra vez, e mais outra, outra e outra vez.
Fechei o portão da garagem e peguei meus livros dentro do
carro. Hoje realmente eu tinha muita coisa para fazer, cada professor
passou uma atividade. Em geral eu não reclamaria, porém tinha
muito exercício para fazer até o fim da semana e eu começaria por
física, não era muito difícil porém era extenso.
Joguei minha mochila e livros na mesa do computador. Foi
um dia interessante, com direito a surpresa. Desci e fui para a
cozinha, perto da porta estava o lixo para pegar.
“Droga! Pensei que tinha jogado isso fora.” Eu disse pra mim
mesma.
e Peguei os dois sacos e os arrastei até a lata de lixo. Estavam
um pouco pesados e tive dificuldade para coloca-los dentro da lata.
Quando finalmente coloquei vi a BMW de Liam estacionando na
casa da frente e aquele Deus grego saí apressadamente.
Virei rapidamente para a minha casa ao ouvi meu nome
naquela voz perfeita. Eu sabia que Liam estava correndo para me
alcançar e eu corri também, passei pelo portão lateral e o tranquei
rapidamente.
“Jane, por favor!” pediu Liam batendo no portão.
“Vá embora Liam.” Eu disse ofegante.
“Tudo bem.” Ele disse.
Soltei a respiração aliviada e virei para entrar quando escutei
alguém pulando a cerca.
 “VOCÊ ESTÁ LOUCO?” Eu gritei desesperada.
Liam correu até mim e tampou a minha boca antes que eu
gritasse novamente.
“Não grite.” Ele murmurou. “Por favor!”
Eu falava várias palavras obscenas, porém ficavam
incompreensíveis com a mão de Liam na minha boca. Percebi que
enquanto eu não me acalmasse ele não tiraria a mão da minha boca
então fiquei quieta e ele tirou a mão.
“Você pirou?” perguntei impaciente. “O que você quer
pulando o muro da minha casa? Eu poderia denuncia-lo por invasão
sabia disso?”
“Você não faria isso.” Ele murmurou baixo demais. “Poderia
falar um pouco mais baixo?”
“Estou na minha casa, posso falar do jeito que eu quiser.” Eu
disse ainda impacientemente. “O que você quer Liam?”
“Preciso saber o que está acontecendo entre você e Martin.”
Exigiu ele como se fosse meu dono. “Percebe-se que está
acontecendo algo entre vocês.”
Revirei os olhos.
“Não está acontecendo nada e não devo satisfações da minha
vida a você. Somos amigos se isso o incomoda eu não posso fazer
nada. Aliás eu me pergunto como você pode ter um amigo como o
Martin.”
“Não sabia que pegar na mão agora é coisa de amigos.
Martin mal quer saí conosco agora e vive no mundo da lua. Eu digo
uma coisa a você: ele não é como você pensa que ele é.”
Eu não pude conter um sorriso. Então Liam estava sempre a
espreita.
“Ah, não me diga que o bom senso do seu amigo te incomoda
agora Liam, ele está certo em parar de andar com pessoas como você
e não venha me alertar sobre ele ser um egoísta garanhão, se for isso
não me surpreenderia muito, talvez aprendeu com um amigo. Além
disso você diz conhecer tanto seu amigo, mas nem sabe porque ele
está agindo desse jeito.” Eu disse séria. “Martin é meu amigo, pelo
menos ele demonstra isso e eu acredito que ele não seja como você,
mas obrigada pelo aviso.”
Liam balançou a cabeça impaciente e me apertou os meus
ombros. Ele parecia magoado.
“Você é muito cabeça dura.” Ele disse com raiva. “Mas
mesmo assim eu não consigo deixar de sentir o que eu sinto por
você.”
Revirei os olhos e sorri.
 “O que você sente por mim Liam?” eu perguntei
sarcasticamente. “Pena?”
Liam me olhou chocado e eu não tirei o meu sorriso cínico da
cara.
“Você brinca com isso, não é?” ele perguntou magoado.
“Quando vai acreditar em mim?”
“Quando você decidir em qual lado vai está: o meu ou Lucy.”
“Eu já fiz isso.” Disse ele sem entender.
“Fez mesmo Liam? Então talvez seja eu quem ficou louca de
vez.”
Eu estava ali parada enquanto as duas mãos de Liam estavam
em meus ombros. Não dava para negar que sempre que me
aproximava dele minhas pernas ficavam fracas, meu coração
acelerava, minhas mãos suavam e meu estomago revirava. Porém a
dor que tudo aquilo já havia causado antes, me fazia ignorar todos
aqueles sinais que me faziam crer que Liam me atraía tanto
emocionalmente, quanto fisicamente.
O que eu poderia pensar além de tudo isso é que ele
demonstrava um certo sentimento, mas eu conseguia vê que não era
tão profundo em relação aos meus sentimentos que eu sempre
tentava esconder dele. Embora fosse uma tarefa difícil eu me
esforçava e na maioria das vezes eu conseguia. Naquele momento eu
não estava certa sobre a intensidade da minha vontade de esconder
esse sentimento que me consumia por dentro.
Liam moveu sua mão esquerda lentamente e acariciou meu
pescoço e subiu para meu rosto. Eu o vi se aproximar lentamente
para o meu pescoço e para a minha surpresa era como se ele me
controlasse, como se eu fosse uma boneca em que ele poderia fazer
qualquer coisa, me levar para qualquer lugar. Senti a ponta do seu
nariz gelado na minha pele, ele se movia delicadamente.
“Adoro o seu cheiro.” Ele sussurrou no meu ouvido, isso me
fez arrepiar. “Adoro a sua pele.” Ele continuou subindo pelo meu
queixo e já estava na minha bochecha. “Eu amo você!”
Encontrando meus movimentos eu me afastei e observava
sua reação. Ele estava triste e por um momento fiquei com pena
dele, mas não me permitia sentir isso mais. Estava na hora de
colocar um ponto nisso, não me incomodaria de continuar falando
com ele desde que viesse com seus ciúmes em relação a Martin.
“Eu tenho que entrar.” Eu murmurei. “Tenho que fazer a
janta e meus exercícios que não são poucos. Você deveria fazer o
mesmo.”
Ele apenas assentiu e pegou o celular no bolso.
“Tenha uma boa noite Jane!” ele disse, provavelmente
discando um número. “Desculpa incomodar você.”
 Ele colocou o celular no ouvido e foi embora, por um
momento ouvi chamar o nome de Lucy e não me permiti a querer
ouvir mais alguma coisa. Aquilo era repugnante, com certeza cairia
na noite com ela e seu bando. Isso me fez lembrar de Martin e o que
Liam falou sobre não andar mais com eles com tanta frequência e
está no mundo da lua, isso era muito estranho.
Emma chegou em casa e eu já tinha preparado a janta, depois
do jantar fui fazer meus exercícios acumulados o que era muito.
Dormi apenas quando terminei o que tinha pra fazer.
Acordei e ainda estava escuro, algo me despertou um barulho
de pneu de carro e música alta. Andei até a janela para vê se algo
estava acontecendo e quando vi fiquei boquiaberta. Liam estava com
o carro estacionado na frente de casa e vomitava descontrolado na
grama da sua casa, porém ele não estava sozinho, pois Lucy estava
ao lado dele e também não parecia muito bem.
Olhei para o relógio que marcava quatro horas da manhã,
voltei a olhar para as duas pessoas lá embaixo e peguei meu casaco e
corri para fora de casa. Abri a porta e segui correndo para Lucy e
Liam.
“O que vocês andaram aprontando?” perguntei chegando até
Liam que estava com a aparência doentia, ele cheirava a álcool.
Olhei para Lucy.
“Você está bem?” perguntei pra ela que começou a sorrir
descontroladamente. “Liam você andou bebendo? Você está com um
cheiro forte de álcool. Vou chamar seu pai, é muito perigoso ficar
aqui fora.”
Corri até a campainha da casa de Liam e comecei a apertar o
botão desesperadamente. Meio minuto depois para minha felicidade
o Sr. Knight abriu a porta e pareceu assustado.
“Jane.” Disse ele assustado.
“Sr. Knight é o seu filho e a namorada dele. Ele andou
bebendo demais.” Eu disse ofegante.
O pai de Liam olhou na direção do filho e foi até ele.
“Jane ajude Liam a entrar, vou levar a moça para o quarto de
hospedes.”
Assenti e me aproximei de Liam. Coloquei meus braços na
sua cintura e o guiei para dentro da casa, ele era um pouco pesado.
Consegui leva-lo até o sofá da sala de estar. Em seguida o Sr. Knight
apareceu e parecia chateado.
“Jane obrigado por avisar, mas como sabia disso.” Perguntou
ele impaciente.
“Acordei com o barulho.” Murmurei olhando para Liam que
agora parecia dormir. “Ele bebeu demais.”
 Sr. Knight assentiu.
“Liam vem me dando trabalho desde que sua mãe morreu.”
Disse Sr. Knight. “Fico imaginando se eu não estou em casa uma
hora dessas, pois sou médico e tenho plantões quase todos os dias.
Mortifico-me em deixar Liam sozinho e chegar em casa e talvez nem
encontrar meu filho.” Sr. Knight parecia aflito. “Por outro lado fico
com muita raiva porque ele já é um homem, não mais uma criança
ou adolescente. Ele deve ter responsabilidades.”
Assenti para o Sr. Knight e ele sorriu gentilmente pra mim.
“Como está sua cabeça?” perguntou ele um pouco mais
aliviado.
“Está quase cem por cento, mas Sr. Knight praticamente
todos os dias venho sentindo dores de cabeça.”
“Ah, sei.” Ele me olhou com cautela. “Olha Jane essas dores
de cabeça pode ser por causa da queda, veremos isso. Vou marcar
uma consulta pra você. Liam irá lhe dizer quando.”
“Tudo bem.” Eu murmurei.
“Acho melhor você ir para casa.” Ele disse sorrindo.
“Também acho, se minha mãe acorda e não me vê na cama
eu sou uma pessoa morta.” Eu disse sorrindo.
“Obrigada mais uma vez Jane.” Disse ele tranquilo. “Vou
leva-la até a porta.”
Ajeitei meu casaco e segui até a porta, Sr. Knight abriu a
porta e eu saí. Estava frio demais e escuro. Entrei na casa e subi para
o meu quarto, deitei na minha cama e tentei dormir novamente, mas
não conseguiria se fosse lembrar de Liam vomitando e sua
namorada.
Eu sabia que era ela pra quem ele estava ligando e isso me
dava um desconforto total. Ele chamou a namorada pra beber até caí
e por causa de quê? Por minha causa? Preferia que não fosse.
Peguei meu exemplar de “Orgulho e Preconceito” e comecei
a ler, até pegar no sono de novo. Acordei com uma luz fraca na
janela, olhei para o relógio que marcava um pouco mais de oito
horas. Eu estava relativamente atrasada. Corri para o banheiro.
Quando desci Jane já não estava mais em casa, Não tomei
café apenas peguei minhas coisas e fui direto para o carro.
Para minha tristeza as vagas no estacionamento estavam
todas longe da saída. Eu já estava atrasada, mas não me importava
muito. Peguei os livros necessários no armário e segui para a sala de
aula.
“Jane, está atrasada.” Disse a Sra. Calton.
 Entrei na sala despreocupadamente, olhei para minha mesa e
Martin estava sentado olhando distraidamente para o quadro. Atrás
dele estava um Liam que parecia que estava bastante doente, mas eu
sabia bem que não era doença nenhuma. Provavelmente seu pai o
obrigara a vir a escola, se fosse eu não viria de jeito nenhum.
Sentei no meu lugar e peguei meu caderno, livro e caneta. Vi
Martin empurrando um papel pra mim.
Bom dia!
Peguei a caneta e respondi.
Bom dia!
Abri meu caderno e em seguida vi o papel de novo.
Perdeu a noção da hora?
Segurei um riso.
Sim. Não consegui dormir direito.
Empurrei o papel para Martin e esperei ele responder.
Posso saber por quê?
Olhei para o papel por um momento e escrevi.
Não sei o porque. Acordei de madrugada e não conseguia
voltar a dormir, quando dormi de novo já estava tarde. Insônia.
Esperei.
Entendo.
Olhei para o papel e o guardei no caderno. Não responderia
mais, preferi ocupar minha mente com o que a Sra. Calton falava ao
invés de lembrar da noite anterior. Não foi difícil se concentrar, pois
Martin também parecia submerso em seus pensamentos ou
realmente estava prestando atenção na aula. Devo admitir que ele
melhorou muito em pouco mais de um mês, pois conseguia
responder questões que antes não conseguia, era perceptível seu
comprometimento com os estudos e eu ficava feliz com isso.
As aulas passaram voando até o almoço, isso era bom.
Katherine não falara comigo e parecia nem fazer questão disto. Eu já
nem mostrava mais a minha raiva por esse comprometimento dela
com as atividades extracurriculares. Para minha felicidade eu teria a
reunião com o pessoal de história na semana que vem. Seria muito
bom entrar em uma turma avançada, mesmo não sabendo quem
estaria nessa turma, mas não poderia ser nada ruim.
Eu estava indo para o almoço quando escutei Katherine me
chamar e virei rapidamente. A melhor coisa que havia acontecido no
dia.
“Katherine.” Eu disse com emoção.
“Eu estava procurando você. Saiu tão rápido da sala que nem
a vi.” Ela disse parecendo aliviada. “Queria falar com você, nunca
mais conversamos direito. Eu sei que estou meio afastada por conta
das atividades extracurriculares.”
Revirei os olhos.
“Katherine sinto sua falta.” Eu disse impaciente. “Nem
conseguir ao menos dizer pra você que provavelmente eu seja
chamada para participar da turma avançada de história.”
“História?” Ela disse feliz. “Você ama história.”
Eu assenti.
Nós seguimos para o refeitório. Finalmente algo pra me
alegrar um pouco: Katherine. Entramos no refeitório e estava cheio,
mas a fila não estava grande e eu estava com fome porque não comi
nada desde o jantar da noite anterior.
“O que está rolando entre você e Martin?” perguntou ela
sorrindo. “Você o odiava no primeiro dia de aula.”
Eu sorri.
“Martin é bonito e legal, mas não está rolando nada
Katherine. Ele apenas pediu desculpa pelo tratamento dele no
primeiro dia e é muito diferente daquela irmã dele.” Eu disse
olhando ao redor procurando por Lucy.
“É mesmo? Parece que rolou uma química entre vocês.” Ela
disse sorrindo. “E ele não é bonito e sim lindo. Acho que ele gosta
de você.”
Eu sorri, Katherine e suas teorias.
“Não vou mentir, eu adoraria que isso fosse verdade, mas
acho que não é.” Eu disse meio alto por causa do barulho ao redor.
“Falando em Martin, hoje antes de tocar o sino eu o vi
conversando com Liam. Eu acho que Liam não estava muito feliz
com Martin.” Ela disse se aproximando. “Você viu o estado que
Liam chegou na escola hoje?”
Eu suspirei, isso era algo que Katherine podia saber.
“Vi e eu sei porque.” Eu disse pegando um suco e
hamburger. “Acordei de madrugada e me deparei com Martin e Lucy
chegando em casa vomitando de tão bêbados que estavam.”
Katherine arregalou os olhos.
“Sério?” disse ela agitada. “Mas isso foi na casa dele? Ele
levou Lucy pra lá?”
Eu assenti.
“O Sr. Knight é médico e tem vários plantões durante a
semana, eu não acordo de madrugada pra saber o que Liam faz.
Então não duvido nada que ele leve Lucy para lá.” Eu disse.
 Katherine sorriu. A vida sexual de Liam não me importava,
porém me preocupava com o Sr. Knight que cuidava do filho
sozinho e ele estava certo ao dizer que Liam precisava ter
responsabilidades.
“Por que será que Liam e Martin estavam discutindo?”
“Eu não faço a mínima ideia.” Eu murmurei.
Porém eu suspeitava o que seria. Após esclarecer a
desaprovação em relação da minha amizade com Martin, era
evidente a revolta de Liam com seu melhor amigo. Entretanto não
via motivo para argumentar algo que era entre mim e Martin.
Mesmo assim, procurei pensar em outras possibilidades.
Após a aula Katherine seguiu para suas atividades e eu para
minha casa. Embora eu odiasse que ela fizesse esforços demais para
essas atividades, eu entendia que ela gostava demais disso.
Na noite daquele dia Emma chegara menos cansada do que
de costume e jogamos cartas, era algo que sempre fazíamos para
aliviar a tensão do dia-a-dia, principalmente para Emma que
trabalhava demais. Seu trabalho de revisora de livros era pesado,
porém era algo que ela fazia com muito gosto. Esse era o motivo de
eu adorar livros.
Emma era querida por muitas pessoas, eu admirava a
facilidade que ela tinha em conhecer pessoas e compreende-las. Ela
culpava os tantos livros que já leu justificando que neles continham
situações, vidas, opiniões das mais variadas e que a faziam refletir
bastante. Eu não a entendia, mas talvez fosse um tipo de terapia.
Mesmo sendo uma pessoa maravilhosa, Emma tinha
características que eu não aprovava como a extrema discrição. Eu
não via problema em ser discreta em certas ocasiões ou com certas
pessoas, entretanto eu a criticava quando se tratava de mim. Para
alguém que sempre exigia a minha transparência, não devia haver
segredos por parte dela.
Eu não conheci meu pai e Emma nunca me permitiu saber se
ele estava vivo ou morto, nem mesmo porque ele nos deixou.
Embora ela me revelara este ultimo, eu gostaria de saber realmente
(com todos os detalhes) o que havia sucedido. Porém quando eu
tocava nesses assuntos ela se sentia triste e ofendida. Triste porque
ela não gostava de falar e sempre discutíamos no final, e ofendida
porque eu fazia sérias acusações a ela. Depois de tanto refletir eu
reconheci que não devia mais tocar nesse assunto, durante todo
aquele tempo eu não precisei de um pai e estava bastante satisfeita
com os cuidados que minha mãe teve comigo.
Fevereiro passou voando, talvez porque eu estava ocupada
demais com os exercícios da escola e quando finalmente chegava o
dia da minha reunião com os alunos da turma avançada de história,
minha animação surgiu em mim e era evidente para todos e até
Katherine, que no mês passado se afastou de mim por conta dos
trabalhos e atividades extracurriculares, voltou a se aproximar de
mim e compartilhava da minha animação.
“Jane o que você acha que irá acontecer?” perguntou ela,
enquanto estávamos sentadas na biblioteca fazendo uma pesquisa de
geografia. “Você será admitida para a turma de história?”
“Eu sinceramente não sei Katherine, mas eu espero que sim.”
Suspirei olhando para o livro. “Saberei disto hoje depois da aula.”
“Bom queria estar lá quando acontecesse.”
“Não acho que isso seja possível, desculpe.”
Ela sorriu.
“Eu sei Jane.”
Naquele dia eu estava animada, ansiosa e bastante
apreensiva. Antes eu tinha certeza que eu entraria na turma de
história, no entanto após certo tempo não tinha tanta certeza assim.
Mesmo assim, eu tentei me distrair com as aulas e mantive um foco
principal na aula de história.
Quando a aula terminou eu fui até meu carro deixar alguns
dos meus pertences e depois segui para a sala onde eu devia ir. A
sala era parecida com as outras, com exceção de vários cartazes nas
paredes que, olhando por um pequeno intervalo de tempo, percebi
que era uma linha do tempo, porém não pude ver de que ponto
histórico começava. Na parede do fundo da sala estava uma
prateleira abarrotada de livros e fiquei tentada em ir olhá-los, minha
atenção se voltou a mais ou menos oito pessoas que conversavam
animadamente e pareceram nem notar minha presença.
Um rapaz magro e alto com os olhos castanhos atraiu a
minha atenção e provavelmente eu atrai a atenção dele também, pois
ele me olhou com surpresa e veio em minha direção.
“Janet Hale?” perguntou ele, sua voz era suave.
“Sim.”
Ele chamou a atenção do pessoal.
“Janet Hale está aqui, pessoal.”
Todo mundo parou para me olhar, eu esperava que fosse
recebida com pessoas exigentes e sérias que talvez me
desaprovassem, entretanto o que eu vi e senti naquela sala foi imensa
amabilidade. Rapidamente me senti bem.
“Boa tarde, Jane!” disse uma garota. “Estamos apenas
esperando o Sr. Brittan chegar e depois conversaremos com você.
Meu nome é Rachel Stewart.”
Olhei para a bela garota que estava a minha frente, ela tinha
lindos cabelos enrolados e negros que ficava em grande contraste
com a pele morena. Tinha grandes olhos castanhos e exibia um belo
sorriso pra mim. Sem maquiagem ou qualquer outros adereço, eu
fiquei impressionada. A Srta. Stewart tinha o que chamamos de uma
beleza natural.
“Eu sou John Watson.” Disse o rapaz que antes havia me
chamado.
Nesse momento o Sr. Brittan entrou na sala chamando
atenção.
“Srta. Hale!” exclamou ele sorrindo. “Eu sinceramente pensei
não viria.”
“O senhor se enganou professor.” Eu murmurei.
“Jane quero que sente-se aqui.”
O Sr. Brittan indicou uma cadeira que ficava ao lado de sua
mesa e de frente para a turma, por um momento pensei que passaria
por uma sessão de questionamentos pesados, mas todos os alunos
sentaram e me olharam ainda sorridentes.
“Então Srta. Hale, espero que não se sinta intimidada
conosco porque deixaríamos uma péssima impressão se isso
acontecesse.” Ele disse, sorrindo para o pessoal e estes retribuíram.
“Convoquei esta reunião porque queremos que você faça parte...”
O Sr. Brittan foi interrompido por uma figura familiar que
apareceu na porta. Querido leitor, eu estava feliz até aquele
momento e mesmo depois de eu ter visto aquela figura eu estava
feliz, porém esse sentimento foi divido com a surpresa. Liam Knight
estava parado na porta com uma cara preocupada e intimidado.
“Sr. Knight pensei que não viria mais.” Disse o Sr. Brittan
sorrindo. “Entre e fique a vontade.”
Liam entrou e sentou ao lado de Rachel Stewart, esta sorria
radiante para ele. Um sorriso que nenhum homem em sã consciência
ignoraria, porém Liam sentou-se na cadeira e não olhou para a moça.
O Sr. Brittan prosseguiu.
“Como eu estava falando Srta. Hale: desejamos que fique
conosco, eu a acompanho desde que entrou nesta escola e sei que a
disciplina história é sua paixão.”
Eu ouvia o que o Sr. Brittan falava, mas não tinha reação a
nada. Eu não entendia o que Liam estava fazendo ali. Ele era aluno?
Há quanto tempo? E como eu não percebi isso? A verdade é que eu
não tinha uma relação próxima com ele e durante todos esses anos
não tive, não teria como saber o que ele gostava e nem o que ele
fazia durante o dia. Eu estava assustada.
“Janet?” perguntou o professor.
“Sim?” eu disse desviando meus pensamentos e voltando a
minha atenção ao professor.
“O que você decidiu?” perguntou ele.
 Olhei aos rostos que me olhavam com boas expectativas, mas
não olhei para ele. Aquelas pessoas me queriam ali e eu queria estar
ali, por mais que entre eles tivesse alguém que não me agradava
muito. Eu pensei por um tempo, o que eu teria a perder? Por causa
de uma pessoa eu desistiria? Não poderia permitir isso e então eu
olhei para o Sr. Brittan e disse:
“Eu fico com vocês.”
Todo mundo levantou sorrindo e batendo palmas. Meus olhos
saltaram de surpresa, pois eu não esperava aquela agitação e sorri.
Todos se aproximaram para apertar minha mão e desejar boas
vindas, todos menos uma pessoa e pensei que seria melhor assim
porque eu não saberia como reagir, então eu não me permiti olha-lo.
Estava mais surpresa com aquela situação porque eu não pensava
mais em Liam com tanta frequência, eu não me importava se ele
estava atrás de mim nas aulas de biologia ou pelo seu incomodo em
relação a minha amizade com Martin, até mesmo parei de questionar
sobre sua conduta. Eu não lembro o motivo daquilo, apenas o deixei
um pouco de lado e aquela sala era o ultimo lugar que eu poderia
pensar em encontra-lo.
Todos demonstraram que estavam muito contentes e
satisfeitos com a minha decisão, não sei o que eles apostavam em
mim. Admito que eu sabia bastante história e era a minha disciplina
preferida, entretanto todos que estavam ali não eram diferentes de
mim: ou eram bons na disciplina como em qualquer outra ou
gostavam da disciplina.
Depois de todas as demonstrações de carinho possíveis, o
professor nos dispensou e por um momento conversei com Rachel
Stewart que até aquele momento eu apenas admirava a beleza. Passei
a observa-la e parecia uma garota extrovertida e aberta, dava a sua
opinião sem se preocupar com o ouvinte, tinha bons modos e
gesticulava bastante ao falar.
“Então Janet você está em que ano?” perguntou Rachel.
“Ultimo ano.” Eu disse. “E você?”
“Estou no segundo.” Ela olhou-me por um tempo.
Esse comentário me fez ri e ela também.
“Eu estava pensando a mesma coisa.” Eu disse entre risos.
“Então você deve estudar com Liam Knight.”
De repente o sorriso desapareceu do meu rosto.
“Estudo com ele sim.” Eu disse, e lembrei de uma situação
que ocorreu mais cedo.
“E como é estudar com ele e os amigos dele?”
“Posso lhe garantir que não é muito diferente de você com
seus colegas de turma.” Eu disse sorrindo amarelo.
Ela pensou por um momento.
 “Eu percebi que quando ele entrou na sala hoje mais cedo,
você ficou bastante feliz.”
Rachel abaixou a cabeça e quando levantou eu consegui ver
suas bochechas vermelhas.
“Er... Eu... Sei lá...” Ela gaguejou e quando eu pensei que ela
não podia ficar mais vermelha, ela ficou.
“Você gosta dele, não é?” Eu disse. “Não precisa ficar
envergonhada.”
“Eu não tenho a menor chance, todos sabemos que ele cai de
amores por Lucy Newton, a irmã de Martin Newton que por sinal
também é lindo.” Ela suspirou. “Desde que chegou aqui, Liam não
demonstra nada além de uma amizade em relação a mim e eu o vejo
todos os dias com a Srta. Newton que já me convenci de que eles se
merecem.”
“Quanto tempo ele está aqui?” perguntei curiosa.
“Eu acho que há quase um ano. Admito que quando o vi
sentado naquela mesma cadeira em que você estava hoje pensei que
eu estava enlouquecendo, jamais poderia imaginar Liam Knight em
uma turma avançada de qualquer coisa. Já superei isso e hoje
tivemos um grande ganho com você se sujeitando a nós.” Rachel
olhou para o celular e disse: “Bom Jane eu tenho que ir. Foi bom
conhece-la.”
“Digo o mesmo.”
Quando eu estava chegando no estacionamento era a hora do
crepúsculo, parei para olhar o céu. Estava ventando um pouco e
puxei meu casaco mais pro corpo, foi quando percebi que alguém
estava se aproximando.
“Então Jane?” Disse Liam se aproximando. “Bem vinda!”
Ele vestia uma camisa de linho branca com a jaqueta de
couro preta e uma calça jeans, era divino.
“Obrigada.”
“Eu não viria hoje, pois eu sabia que você teria que vir, mas
eu não conseguia parar de pensar que eu tinha a oportunidade de vê-
la e ignorar seria um erro irreparável, pois sempre quero vê-la como
posso e pra falar a verdade Srta. Hale eu estou muito contente que
iremos nos ver todos os dias e a cada hora dos dias até este ano ter
seu fim.”
“Isso soa como um maníaco por minha atenção Sr. Knight.”
“Ultimamente eu estou meio inclinado a isso senhorita,
percebi que você não parece me notar e...” ele suspirou. “Isso dói.
Achei que essa seria uma boa oportunidade de você lembrar que eu
ainda existo e estou ao seu lado.”
 Olhei-o incrédula, ele percebeu que me afastei e que não me
importava com mais nada. Nesse momento dei-me conta de que eu
fiz um grande progresso, mas eu não via como continuar
progredindo em deixa-lo de lado já que todos os dias ele estaria ao
meu lado o dia inteiro ou como ele havia dito: está inclinado a
chamar a minha atenção para ele.
“Eu admito que fiquei assustada quando o vi entrando
naquela sala.”
“Por quê?”
“Porque sinceramente eu não sabia que você era bom em
alguma coisa. Nunca demonstrou interesse por estudos ou algo do
tipo.”
Aquelas palavras saíram em um jato e eu não pude deixar de
corar. Ele virou para mim como se estivesse indignado, mas eu
preferi não olhar para ele. Eu sabia exatamente o que poderia
encontrar naquele olhar.
“Você se enganou.”
“Eu percebi.”
Ele sorriu e eu não pude deixar de olha-lo.
“Jane sua sinceridade é incrível. Você é um mistério pra
mim, entende?”
“Eu não entendo.”
“Eu a observo durante anos e vejo apenas uma pessoa
reservada ou alguém que busca a tranquilidade, mas também faz um
julgamento das coisas e mesmo que queira guardar estes julgamentos
para si mesma, não consegue e os expele de forma... apropriada.”
Ele se encostou em meu carro e eu me uni a ele. “Vejo uma mulher
com pensamentos independentes e impede qualquer um de penetrar
em sua mente para muda-los.”
“Temos muitas coisas na vida Sr. Knight, no entanto os
nossos pensamentos e sentimentos são nossos bens mais preciosos.”
“Você os preserva muito bem Jane.” Ele sorriu. “Mas no
fundo eu sei que eles mudam constantemente, não é?”
“Inteiramente!” Eu disse, ficando frente a frente com Liam.
“As opiniões são inconstantes, assim como os sentimentos. Não
conheço ninguém que nasceu e morreu com os mesmos
pensamentos, pois deve levar em consideração que o próprio ser
humano muda e muda o mundo.”
“Isso é obvio para mim.”
Olhei ao redor, a escola estava deserta. Parecia que as únicas
almas naquele lugar eram as nossas e vi que era hora de ir embora,
então joguei minha mochila dentro do carro enquanto isso percebi
que Liam me observava como se quisesse falar algo. Parei para olha-
lo.
 “Quer falar algo?” encorajei-o. Ele não olhava para minha direção, olhava através da janela e
quando respondeu continuou olhando naquela direção.
“Eu estou sem carro...”
“Meu pai tirou-o de mim.”
Petrifiquei no olhar envergonhado de Liam Knight, ele
ruborizava e eu queria rir muito dele, mas tentei não demonstrar. A “Por que?”
solução para aquela situação era óbvia e estava em minhas mãos.
Aquilo era novidade.
“Quer carona?” eu perguntei, tentando não rir.
“Porque, segundo ele, estou muito irresponsável.”
“Pode rir Jane. Eu sei que é uma situação engraçada.”
Soltei um olhar de satisfação. Felizmente Liam não olhava
Ele passou a mão na testa como se quisesse esconder a cara em minha direção.
envergonhada e eu não consegui segurar o riso por mais tempo.
Liam sorriu também, mas estava envergonhado demais pra rir como “E como foi pra escola hoje?”
eu. “Ele me deixou por lá.”
“Entra no carro Liam.” Eu disse rindo. “Eu levo você pra Voltamos a ficar em silêncio, era evidente que ele não queria
casa que, alias, é tão longe da minha.” falar muito e eu apenas respeitei esse desejo. Porém me dei conta de
“Já pode parar com as piadinhas senhorita.” Ele disse sério. algo.
“Eu espero que chegue vivo em casa.” “Liam eu sei que seu pai, geralmente, está de plantão e que
“Se preferir pode ir andando ou de taxi pra casa.” você fica sozinho.” Ele virou para me olhar, mas eu não olhei.
“Como vai fazer pra ir a escola?”
Ele sorriu levantando as mãos e entrou no carro.
“Não sei.”
Na metade do percurso permanecemos em um silêncio
constrangedor, então resolvi quebrar o gelo. “Posso dar carona se quiser.”

“Então...” comecei. “Por que está sem carro?”

 As palavras saíram sem mesmo eu pensar nelas. Eu percebi
que Liam reagiu a elas, mas eu não me atrevi a olhar. Só olhei a rua
a minha frente.
“Quanta generosidade Jane Hale.” Ele sorriu.
Dei um sorriso amarelo.
“Também acho.” Murmurei pra mim mesma.
“Eu sei que você falou isso sem querer Jane. Obrigado, mas
eu vou dar um jeito.”
Eu hesitei por um momento, ele percebeu que as palavras
eram vagas e me senti culpada. Eu sabia que não pensava mais nele
como antes ou que tinha me afastado e tudo parecia traze-lo pra mim
naquele momento. Liam estava passando por uma situação
complicada com seu pai e no fundo eu começava a suspeitar que ele
estava criando um sentimento de arrependimento. Olhei-o pelo canto
do olho, ele estava pensativo e sereno. Nunca imaginara antes que
poderia um dia dar carona a Liam, eu sorri fraco com meu
pensamento.
Estacionei o carro em frente a casa dele.
“Está entregue e vivo.”
Ele sorriu, mas não se moveu.
“Obrigado, Jane!”
Eu sorri, um sorriso fraco e hesitante.
“Eu estava falando sério sobre a carona.” Eu disse séria.
“Você não estava não. O que aconteceu foi apenas que você
pensou no assunto.”
“Você é esperto.”
“Eu tento ser, mas você é mais.”
Ele pegou a mochila e abriu a porta do carro preparado para
saí. Aquele Liam não era o que eu vi dias antes ou meses anteriores,
este estava sereno, pensativo e triste. Caro leitor, provavelmente já
devem ter sentido pena por alguém, um sentimento sereno que
muitas pessoas não gostam dele por causa do orgulho, um
sentimento que denota fraqueza no mais intimo de uma pessoa e que
muda a nossa mente. Foi este o sentimento que me peguei sentindo
por Liam, eu poderia tê-lo deixado sair daquele carro triste como
estava e seguido para minha casa do outro lado da rua, mas não o fiz.
“Liam!” chamei-o e ele olhou pela janela. “Você quer
conversar?”
Ele me encarou por um tempo, mas não me deu resposta
alguma. Eu não sabia se era certo, de repente eu esqueci de resistir a
ele como fazia há algum tempo. Então eu saí do carro e me juntei a
ele.
 “Está frio.” Ele disse, enfim, alguma coisa. “Quer entrar?”
Eu assenti e ele me puxou pela mão até a porta da sua casa.
Entrei e vi o ambiente já conhecido.
“Fique a vontade.” Liam disse gentilmente. “Volto em um
minuto.”
Nunca, antes, tive a oportunidade de observar
detalhadamente aquela casa e ela era interessante. As paredes da sala
eram brancas com vários quadros, apenas a parede do lado oeste
tinha um só quadro e este chamou a minha atenção, nele tinha o
rosto de uma bela mulher com sobrancelhas finas e nariz afilado, a
boca estava em um meio sorriso, o cabelo caia em uma trança do
lado direito. Aquele quadro não tinha aspecto de novo, parecia
bastante antigo e fora feito a lápis e com uma moldura de madeira
maciça, era muito interessante. Procurei por alguma identificação,
mas não tinha.
“Esta é Sophie Anabelle Knight, minha mãe.” Disse Liam
parado na metade da escada. “É claro que quando esse quadro foi
pintado ela era jovem.”
“Quem o fez?”
“Meu pai.”
Que revelação incrível. Olhei para Liam surpresa.
“Ele desenha?” perguntei assombrada.
“Sim.”
“E muito bem pelo o que vejo.” Virei para o quadro. “Sua
mãe era linda.”
“Eu também acho.” Murmurou Liam. Ele desceu a escada e
veio até meu lado. “Cinco anos já se passaram, mas não tem um dia
em que eu não pense nela. Como ela se preocupava comigo,
conversava comigo sem impor regras demais, aconselhava, me
amava. Meu pai diz que eu mudei depois que ela morreu, fiquei
rebelde e irresponsável. Talvez eu tenha ficado mesmo, mas não por
culpa da morte dela e sim da minha relação com ele que nunca foi
muito boa.”
“Eu gosto do seu pai.”
“Na verdade é ele quem gosta de você. Tudo depende disso
Jane. Se ele não gostasse de você, provavelmente você teria um
pensamento totalmente contraditório ao que tem agora.” Ele
suspirou. “Eu gosto dele, eu devo gostar. Ele é meu pai e eu o amo,
mas a morte da minha mãe foi decisivo para nosso relacionamento.
Imagine: você tem uma mãe e um pai, você tem uma inclinação
maior a sua mãe, mas não deixa o pai para trás. Esse pai é amoroso e
carinhoso com a sua família, mais tarde cai uma desgraça em sua
família e sua mãe é levada permanecendo apenas você e seu pai que
tornou-se um homem amargurado, rígido e grande parte do amor e
carinho se perderam em algum lugar desconhecido.”
Escutava atentamente o que ele dizia, eu pensei por momento
e disse:
“É uma situação difícil e uma dor horrível. Eu nunca senti
algo assim (meu pai sumiu antes mesmo de eu nascer e nem sei se
está vivo ainda) e nem imagino essa dor. Entretanto, devo ressaltar
com sinceridade que não parece que seu pai seja um amargurado.”
“Convivência é a base de tudo Jane.” Disse Martin tranquilo,
me olhando. “Eu o vejo e sei o que ele sente porque é o mesmo que
eu sinto. Tudo indica que ele encontrou a solução no trabalho. Ele
gosta de trabalhar e prefere trabalhar a ficar sem fazer nada, pois
tudo o leva a pensar na minha mãe.”
“Entendo.” Eu disse em voz baixa.
Ficamos em silêncio por um momento.
“Você não tem vontade de saber algo sobre seu pai?”
“Não. Emma é meu pai e minha mãe, não tenho que procurar
mais nada, pois tenho tudo o que preciso comigo.”
“Você já pensou na possibilidade de ele querer conhece-la?”
Eu hesitei.
“Pensei nessa possibilidade sim, mas eu acho que as chances
de acontecer algo assim é uma em um milhão. Se ele está vivo teve
os últimos dezoito anos para bater na porta da minha casa, se já
morreu provavelmente teve bastante tempo também para fazê-lo.”
“Vivemos em situações complicadas, não é?”
Eu não respondi, pois eu não tinha certeza se minha situação
era tão complicada quanto à dele. Olhei ao redor e segui para o outro
lado da sala onde tinha uma pequena estante de madeira abarrotada
de livros. Alguns livros estavam organizados e outros estavam
amontoados, vi que a maioria eram livros de medicina.
“Liam eu vejo em você.” Disse. “Um homem que está ligado
ao passado e que busca criar novas memórias no presente pra mais
tarde poder olhá-las e sentir-se feliz. Você se perdeu nesta busca e
sabe disso.”
De repente eu me dei conta de que Liam realmente falava a
verdade ao dizer que queria mudar. Este Liam ao meu lado estava
arrependido, estava implorando pra poder voltar e recomeçar uma
parte de sua vida. O Liam que eu vi meses antes estava começando a
cair na real e eu cega pelo orgulho não podia ver isto.
“Está arrependido.” Eu murmurei a mim mesma.
Houve uma pausa e eu olhava os livros organizados lado a
lado, esses eram romances.
 “Você está com fome?” perguntou ele de repente.
Eu disse que sim, meu estomago roncava. Ele me chamou
para segui-lo até a cozinha.
“Posso preparar alguma coisa para nós.” Continuou ele,
parando subitamente para me olhar. “Vou logo dizendo que só sei
preparar sanduiche.”
Eu ri.
“Está de bom tamanho Sr. Knight.”
A cozinha não era muito diferente da que tinha na minha
casa. Era grande com armários branco embutidos na parede e uma
geladeira cinza, o fogão estava ao lado da pia e tinha um grande
balcão de granito. A janela acima da pia estava abarrotada de vasos
de flores, tinha rosas brancas e margaridas, além da janela podia ver
o quintal bem iluminado que tinha um jardim lindo, cheio de plantas
pequenas e flores das mais variadas. Olhei por um momento
encantada e Liam disse:
“Minha mãe gostava dessas coisas.” Ele olhou para fora da
janela. “Era algo que a divertia muito. Meu pai não conseguiu deixar
isso de lado, mesmo que não tenha tempo para cuidar das flores (elas
precisam de bastante cuidado). Então ele contratou um jardineiro
que vem quase todos os dias para cuidar deste conservado jardim.”
Por que você não cuida então? Pensei.
“Eu não tenho vocação para essas coisas.” Ele gesticulou
para o jardim. “Mas, enfim, vou preparar um sanduiche.”
Ele pegou os ingredientes e começou a preparar os tais
sanduiches.
“Parece que sua mãe tinha um bom gosto para
divertimentos.” Eu disse. “É um jardim bonito.”
“Também acho.”
O silêncio caiu sobre nós. Estava descobrindo mais coisas
sobre Liam do que conseguia imaginar. Ele era um homem solitário
e seu pai também, duas pessoas que estavam feridas por um golpe do
destino. Pensei no Sr. Knight que como Liam dissera, tornou-se uma
pessoa amargurada e triste. Diante de tantos pensamentos
desgraçados eu me vi preocupada com aquela pequena família,
principalmente com Liam. Perguntava a mim mesma: e se fosse eu
em seu lugar? Nem de longe eu sabia a resposta. Talvez eu não era
tão espeta como Liam dizia.
“Estou feliz que esteja aqui, Jane.” Finalmente quebrou o
silêncio. “Fico mais aliviado que você ainda não tenha me
esquecido.”
“Não poderia mesmo que quisesse.”
“Você e meu amigo, Martin, se aproximaram bastante.” Ele
disse passando um sanduiche pra mim. “Eu não o entendo.”
 “Como assim?”
“Martin nunca deu muita importância para alguém além dele
mesmo. Se você pensa que eu sou um... Pegador, não sei o que
pensaria dele se o conhecesse como eu.”
“Eu não sei, confio no Martin que conheço.”
Ele sorriu.
“Você gosta dele e já deve ter percebido que ele tem certa
inclinação a você.” Continuou, comendo o sanduiche. “Eu admito
que ele esteja mudado e tenho medo disso.”
Fiquei intrigada. Liam estava com medo do comportamento
do amigo.
“Por quê?”
Ele pensou por um momento, seu rosto estava corado e
consegui ver alguns lampejos nos olhos.
“Deixa para outra hora Jane.”
Pensei que não podia ficar mais curiosa. Comi um pedaço do
sanduíche que estava bom.
“Isso está bom.”
Ele sorriu.
“Não sou bom apenas em história.”
“Não, não é!”
“Eu nunca tive a oportunidade de agradecer a você por ter
saído da sua casa de madrugada pra ajudar alguém que está bêbado
no meio da rua.”
Olhei para ele.
“Obrigado Srta. Hale. Você é um anjo.”
“Por nada!” Eu disse. “Mas esquece a parte do anjo.”
Liam levantou de seu banco e veio até mim. Estendeu uma
mão e eu lhe dei a minha, com a outra mão ele acariciou a minha.
“Você é um anjo para mim.” Ele disse. “Meus sentimentos
por você permanecem os mesmos, só que mais maduros. Reconheci
que estou errado e estou fazendo as coisas erradas na minha vida,
que adianta ser popular naquela maldita escola e andar com o
pessoal que pensam apenas nisso se isso não irá me ajudar mais
tarde? Não quero que mais tarde eu olhe para minha passagem pelo
ensino médio e me depare com um adolescente rebelde e mesquinho.
Não... Eu não quero isso pra mim Jane. Não seriam boas lembranças,
não para mim.”
Eu apenas olhava aqueles olhos que mostravam a tristeza e
decepção. Não conseguia falar nada, sentia-me estranha, como se
estivesse em um sonho. Aquilo era real? Minha mente parecia
anuviada.
“Isso pareceu filme adolescente agora.” Disse Martin
sorrindo.
Eu assenti, sorrindo também. Ficamos ali em silêncio por um
tempo e era totalmente desconfortável. Ao passe que eu queria sair
correndo, eu também queria permanecer ali e ninguém parecia
querer quebrar o silêncio. Levantei e disse que tinha que ir embora.
“Tudo bem. Levo você até seu carro.” Eu disse que não
precisava, mas ele insistiu e não pude dizer não.
Estava entrando no carro quando ele me parou.
“Jane estou apaixonado por você como nunca estive antes.”
Me coração parou e por um momento pensei que cairia dura
no chão, minhas mãos começaram a suar e meus pensamentos
estavam confusos. Ele ficou na minha frente de maneira que me
impedia de me mover, apenas poderia olhar para ele.
Calma Jane. Organize seus pensamentos. Ouvi minha
consciência.
“Liam eu não consigo sentir o mesmo.” Eu disse baixo, pois
não sabia como dizer isso.
“Eu entendo que você pensa que eu sou o pior tipo de
homem, mas eu não sou. Já fui, não sou mais.”
“Posso até continuar enganada em relação a isso, mas você
estar aqui na minha frente dizendo que me ama e ao mesmo tempo
namora com Lucy e simplesmente não a deixa.” Eu tentei me
controlar, mas não consegui. “Qual é o seu problema Liam? Você
sabe melhor do que ninguém que não sou nem um pouco fácil de ser
manipulada.”
Liam arregalou os olhos para mim como se não soubesse o
que falar.
“Não estou tentando manipula-la.” Ele disse exasperado.
“Ah, não?” Retruquei. “Você estar aqui na minha frente
dizendo que está apaixonado por mim como nunca esteve antes
esperando que eu o aceite sem nem mesmo mencionar que vai se
livrar de tudo o que faz você ser o “pior tipo de homem” e isso inclui
a sua namorada arrogante.”
“Jane você está totalmente enganada. Não namoro mais com
a Lucy desde a semana passada.”
Aquilo parecia um tapa na minha cara. Olhava para ele
incrédula sem acreditar que era verdade o que tinha acabado de
ouvir.
“o quê?”
 Liam tocou no meu rosto e acariciou-o, eu não entendia bem
quais eram os meus sentimentos naquele momento, estavam
confusos. Na verdade leitor, quando se tratava do Liam os meus
sentimentos eram confusos, pois eu não sabia ao certo o que eu
sentia de verdade por ele. Naquela noite eu passei a acreditar que ele
estava determinado a mudar. Naquela noite passei a conhece-lo
melhor e entender um pouco os motivos que o levaram a ser uma
pessoa arrogante.

“Qualquer dia desses você vai me matar sr. Night.” Eu

sussurrei.

Ele sorriu e me beijou, eu já estava familiarizada com aquele

beijo. Era urgente e apaixonado. Não medi esforços em retribuir da
melhor maneira possível.