Você está na página 1de 8

Citologia clínica

ESPERMOGRAMA Prof: Vera Cavalli

É um exame laboratorial que analisa a qualidade do sêmen do paciente, segundo alguns critérios definidos pela
Organização Mundial da Saúde, a partir de uma amostra coletada pelo homem por meio de masturbação. Ele analisa
desde o aspecto do ejaculado em si, até a quantidade e as condições dos espermatozoides na amostra, podendo
assim verificar como está à fertilidade do homem. Também pode ser utilizado para o controle de vasectomia.
A infertilidade masculina pode ser devida a etiologia hormonal e não hormonal; doença testicular primária, obstrução
da passagem do esperma ou presença de anticorpos anti-espermatozoides, anomalias cromossômicas, varicocele,
infecções (caxumba) e algumas doenças sexualmente transmissíveis como gonorreia e sífilis.
O sêmen humano é um líquido espesso, branco-acinzentado e opalescente, representando uma mistura de
secreções das glândulas bulbouretrais e uretrais, dos testículos e epidídimos, da próstata e das vesículas seminais.
Os espermatozoides são produzidos nos testículos e amadurecem no epidídimo. São responsáveis por pequena
parte do volume total do sêmen, cuja maior parte é fornecido pelas vesículas seminais na forma de fluido viscoso que
fornece frutose e outros nutrientes para manter os espermatozoides. Outra contribuição importante é a da próstata e
consiste em um fluido leitoso que contém fosfatase ácida e enzimas proteolíticas que agem sobre o fluido
proveniente das vesículas seminais, provocando a coagulação e a liquefação do sêmen. Adquire um aspecto
gelatinoso logo após a ejaculação e até aos 60 minutos, transforma-se num líquido fluído, de escassa viscosidade. A
demora na liquefação e o aumento da viscosidade dificultam a livre movimentação dos espermatozoides, reduzindo
assim, sua capacidade migratória.

ORIENTAÇÕES SOBRE A COLETA DO SÊMEN

Obs: O homem deve receber instruções claras, orais ou escritas, sobre a coleta da amostra de sêmen;

1. O paciente deve estar em abstinência sexual (sem relações sexuais ou masturbações) por um período de no
mínimo 2 dias e no máximo de 7 dias;

2. O esperma deverá ser colhido por masturbação sem uso de preservativo (o látex possui intensa ação
espermicida). O paciente não deverá usar nenhum tipo de lubrificantes, mineral, sintético, saliva nem sabonete. Não
é possível a coleta através de coito interrompido devido à possibilidade de contaminação do esperma com secreções
vaginais;

3. O paciente deverá lavar as mãos e o pênis com sabonete e enxugá-los com toalha limpa ou papel toalha;

4. É importantíssimo que o paciente não perca partes do ejaculado (a primeira ejaculação é rica em
espermatozoides) e deverá certificar-se que o frasco esteja bem fechado. Se possível anotar a hora exata em que
terminou a coleta;

5. De maneira ideal, a amostra deverá ser coletada no laboratório, porém não obrigatório;

6. Se a coleta for realizada em domicílio, o paciente receberá frasco estéril e descartável oferecido pelo laboratório,
próprio para esta finalidade. O material coletado deverá ser entregue no prazo máximo de 60 minutos e não deverá
ser transportado a temperaturas inferiores a 20°C ou superiores a 37°C;

7. O jejum não é obrigatório, exceto quando solicitado à dosagem de frutose, pois níveis elevados de glicose podem
interferir na dosagem.

MANIPULAÇÃO SEGURA DE AMOSTRAS

As amostras de sêmen podem conter agentes infecciosos perigosos (por exemplo, vírus da imunodeficiência humana
(HIV), vírus da hepatite ou vírus herpes simples) e devem, portanto, ser tratadas como um risco biológico.

ANÁLISE DA AMOSTRA:

Colocar a amostra recebida em banho-maria ou estufa a 37°C para que ocorra liquefação.

EXAME MACROSCÓPICO INICIAL

A análise do sêmen deve começar com uma simples inspeção logo após a liquefação, preferencialmente em 30
minutos, mas não mais do que 1 hora após a ejaculação, para evitar que a desidratação ou mudanças na
temperatura afetem a qualidade do sêmen.
CARACTERÍSTICAS FÍSICO – QUÍMICAS

1) LIQUEFAÇÃO:
Imediatamente após a ejaculação no recipiente de coleta, o sêmen é tipicamente uma massa coagulada semissólida.
Dentro de alguns minutos à temperatura ambiente, o sêmen geralmente começa a se liquefazer (tornar-se mais fino),
momento em que uma mistura heterogênea de grumos será vista no fluido. À medida que a liquefação continua, o
sêmen se torna mais homogêneo e bastante aguado e nos estágios finais apenas pequenas áreas de coagulação
permanecem.
A amostra faz, geralmente, liquefação completa em 15 minutos à temperatura ambiente, embora raramente
possa levar até 60 minutos ou mais. Se a liquefação completa não ocorrer dentro de 60 minutos, deve ser
registrado. Amostras de sêmen coletadas em casa, normalmente estarão liquefeitas quando chegarem ao laboratório.

2) VISCOSIDADE:
Após a liquefação, a viscosidade da amostra pode ser estimada aspirando-a suavemente em uma pipeta descartável
de plástico de diâmetro largo (aproximadamente 1,5 mm de diâmetro), permitindo que o sêmen caia pela gravidade e
observando o comprimento de qualquer fio. Uma amostra normal deixa a pipeta em pequenas gotas discretas. Se a
viscosidade for anormal, a queda formará um fio com mais de 2 cm de comprimento (pode ser sinal de uma
inflamação na próstata ou disfunção nas vesículas seminais).
Alternativamente, a viscosidade pode ser avaliada introduzindo uma vareta de vidro na amostra e observando o
comprimento do fio que se forma após a retirada da vareta. A viscosidade deve ser registrada como anormal quando
o fio exceder 2 cm.

3) APARÊNCIA DO EJACULADO:

3.1 COR:
Normalmente o esperma apresenta-se de cor branco-acinzentado e opalescente. Pode parecer menos opaco se a
concentração de espermatozoides for muito baixa; a cor também pode ser diferente, isto é, marrom-avermelhada em
casos de hemorragias (algum problema na próstata, até mesmo um câncer) e amarelado (em casos de icterícia,
ingestão de determinados medicamentos ou infecções).

3.2 ASPECTO:
Após a liquefação, deve estar homogêneo. A presença de grumos indica alteração no processo de coagulação –
liquefação ou a presença de pús (processos infecciosos).

4) VOLUME:
O volume do líquido espermático pode ser medido utilizando-se um tubo cônico graduado ou através da sua
densidade (1 g/ml), pesando-se o frasco coletor antes e depois da coleta. Se o valor for menor do que 1,4 ml significa
o quadro de hipospermia, ou seja, o homem não tem grande quantidade de esperma por ejaculação, e isso pode
dificultar sua fertilidade. Isso pode ocorrer porque há alguma obstrução no canal seminal, infecção ou insuficiência
vesicular.
O limite inferior de referência para o volume de sêmen é de 1,4 mL.

5) pH:
O pH do sêmen reflete o balanço entre os valores de pH das diferentes secreções das glândulas acessórias,
principalmente a secreção vesicular seminal alcalina e a secreção prostática ácida. O pH deve ser medido após a
liquefação em um tempo uniforme, preferencialmente após 30 minutos, mas em qualquer caso dentro de 1 hora após
a ejaculação, uma vez que é influenciado pela perda de CO2 que ocorre após a produção.
Valor de referência: 7,2 como um valor limite mais baixo.
Menos do que 7,2 pode indicar alguma obstrução dos canais seminais. E mais do que 8,2 indica algum problema na
próstata.

6) ODOR:
O odor característico é semelhante ao de uma solução de hipoclorito de sódio e é devido á presença de poliaminas
alifáticas (espermina e espermidina), sendo rara a sua ausência.
O esperma pode apresentar um odor pútrido em processos bacterianos agudos.

EXAME MICROSCÓPICO

1- PROVAS DE VITALIDADE ESPERMÁTICA:

As provas de vitalidade devem ser realizadas imediatamente após a liquefação total do esperma (entre 30 e 60
minutos).

Esta prova refere-se a contagem relativa (percentual) de espermatozoides vivos com a de mortos, existentes no
material ejaculado. Corante Vital eosina amarela 0,5% penetra no espermatozoide morto fornecendo uma cor
vermelha ou rosa escuro, enquanto o espermatozoide vivo não se cora, cabeça branca ou rosa-claro.
Se o corante é limitado apenas a uma parte da região do pescoço, e o resto da área da cabeça não é corada, é
considerado como uma "membrana do pescoço com vazamento", não um sinal de morte celular e desintegração total
da membrana. Estas células devem ser avaliadas como vivas.

Procedimento:
- Colocar em lâmina:
- 10 μL de eosina amarela ou o corante de nigrosina e 10 μL de esperma, esperar 30 segundos
- fazer um esfregaço (igual de sangue)
- deixar secar (estufa 37º C)
- observar no microscópio, em imersão
- contar 100 sptz
- Registrar o número de células coradas (mortas) ou não coradas (vitais) com o auxílio de um contador de
laboratório.
- dar o percentual de sptz vivos (aparecerão com a cabeça de cor branca)
- dar o percentual de sptz mortos (aparecerão com a cabeça de cor vermelha)

obs: OMS sugere colocar entre lâmina e lamínula 10 μL de eosina amarela 0,5% e 10 μL de esperma, esperar 30
segundos e observar no microscópio.

Valor de referência: mais de 54% deverão estar vivos

2- MORFOLOGIA:
Confeccionar duas lâminas de esfregaço do esperma (com 10 ou 20uL). Levar para secagem em estufa. Quando o
material estiver completamente seco, borrifar spray fixador (o mesmo utilizado para esfregaço de raspado cervical
para exame de Papanicolau ou “Preventivo”). Deixar secar na estufa. Corar com corante hematológico e enviar para
microscopia. No microscópio, avaliar a morfologia dos espermatozoides, contando o número de espermatozoides
normais bem como aqueles com alterações de forma (anomalias de cabeça, anomalias de peça intermediária e
anomalias de cauda). Calcular a porcentagem de cada forma.

Valor de Referência:
- Morfologia normal em 30% dos sptz

Pesquisa de formas jovens:

No caso de haver muitas células jovens, fazer o diferencial destas células. Usar a mesma lâmina anterior, corada
pelo corante hematológico.

ESPERMATÓCITO II: Células de tamanho grande, mononucleares, membrana citoplasmática pouco delimitada,
citoplasma basófilo, sem granulação e geralmente vacuolizados.
Valor normal: até 3%

ESPERMÁTIDE: Células polinucleadas (2 a 4 núcleos), geralmente picnóticos, o citoplasma pode ser basófilo ou
acidófilo, podendo apresentar-se vacuolizado e com granulações, a membrana citoplasmática é bem definida.
Valor normal: até 10%

ESPERMATOZOIDES JOVENS: São aqueles que apresentam restos citoplasmáticos aderidos ao corpo ou ainda
aqueles que não formaram a cauda.
Valor normal: até 12%

3- CONTAGEM DE ESPERMATOZÓIDES, LEUCÓCITOS E HEMÁCIAS:

Se a contagem de espermatozoides for abaixo de 16 milhões por mililitro, condição chamada de oligozoospermia,
isso significa que há poucos espermatozoides no sêmen, o que pode ocasionar uma maior dificuldade na
fecundação. Pode haver também a ausência de gametas, a azoospermia.
Procedimento:
 Diluir o esperma 1:20 em salina formalada 1% como abaixo:
Esperma................................50 ul
Salina Formalada 1%........... 950 uL

(Para o preparo da salina formalada 1%, utilizar 60 mL de solução fisiológica e 1,5 mL de formol a 40%. Caso a
solução de formol tenha concentração diferente de 40% utilizar a fórmula V1.C1=V2.C2)

 Homogeneizar bem por inversão.


 Preencher a Câmara de Neubauer (com 20 ou 25uL).
 Deixar em repouso por 5 minutos.
 Contar o nº de espermatozoides existentes no quadrante central (5) 5a, 5b, 5c, 5d e 5e x fator de diluição (20)
x fator de multiplicação (50.000)

Valor de referência: Acima de 16 milhões de espermatozoides/mL.

Oligozoospermia: < 16.000.000/mL


Azoospermia : ausência de spz

Soma para quantidade ejaculada, calcula-se resultado do sptz/mL X volume ejaculado


(VR: ≥ 39.000.000/ejaculação).

 Contar as hemácias e leucócitos nos 5 quadrantes da câmara (4 laterais e o central) e multiplicar por 80, ou
então, contar o quadrante central e multiplicar por 400.

Valores de referência para hemácias e leucócitos até 1000/mm 3.


4- MOTILIDADE

- Colocar 1 gota (ou 20uL) de esperma entre lâmina e lamínula e observar no MO em 400x
- Observar o tipo de movimento realizado pelos gametas. Eles podem ser classificados em:
Tipo A: gametas que se movem rapidamente para frente
Tipo B: gametas que se movem lentamente para frente
Tipo C: gametas que se movem, mas sem uma direção certa
Tipo D: gametas que não se movem.

Valor de referência:
• A > 25% ou A+B ≥ 32% (OMS, 2010)
• A+B < 32% e A ≤ 25%: Astenozoospermia, ou seja, os espermatozoides, por mais que tenham uma boa
contagem, não conseguem se mover de forma eficiente para as trompas, onde encontram com o óvulo.

* Modificado (OMS/2021)
- Colocar 1 gota (ou 20uL) de esperma entre lâmina e lamínula e observar no MO em 400x
- Observar o tipo de movimento realizado pelos gametas. Eles podem ser classificados em:
- Progressivos (rápidos + lentos) VR: acima de 30%
- Não progressivo
- imóveis VR: até 20%

5- OUTRAS PROVAS (somente se o médico solicitar)

- Frutose (avalia a função das vesículas seminais)


- Ac. Cítrico (avaliação da função prostática)
- Fosfatase ácida (próstata)
- Anticorpos anti-espermatozoides
- cultura do esperma

Referências:
- Manual de laboratório da OMS para o exame e processamento do sêmen humano - 5ª ed./2010 e 6ª ed./2021
- Espermograma: Manual de bancada e atlas. Orildo dos Santos Pereira
ESPERMOGRAMA – MODELO OMS até 2021

Nome: ______________________________ idade: _______ data: _______ Abstinência sexual de:__________ dias

Material: Líquido seminal


Método: Diversos

EXAME MACROSCÓPICO

CARACTERES FÍSICO-QUÍMICOS valores de referência

Cor: _____________________________ branco opalescente/acinzentado

pH: _________________________ > 7.2

volume: _________________________ > 1,5 mL

viscosidade: ________________________ normal

liquefação: _________________________ 15 a 30 minutos

EXAME MICROSCÓPICO

Contagem de espermatozoides
Contagem por mL: ____________________ ≥ 15 milhões/mL

Contagem por volume: _________________ ≥ 39 milhões/ejaculação

Teste de Motilidade
- Grau A ____________________________ Progressão linear e rápida: > 25%

- Grau B ____________________________ Progressão linear lenta ou não linear


(Soma de A+B ≥ 32%)
- Grau C ____________________________ Motilidade não progressiva

- Grau D ____________________________ Imóveis

Citomorfologia
Normal ____________________________ ≥ 30 %

Defeitos de cabeça____________________

Defeitos de pescoço___________________

Defeitos de cauda____________________

Teste-Membrana/Vitalidade
- formas vivas ________________________ ≥ 58 % de formas vivas

- formas mortas _______________________

Citologia
- Leucócitos ________________________ < 1.000 mm 3

- Hemácias ___________________________ < 1.000 mm 3

Observações:
ESPERMOGRAMA – MODELO após OMS/2021

Nome: ______________________________ idade: _______ data: _______ Abstinência sexual de:__________ dias

Material: Líquido seminal


Método: Diversos

EXAME MACROSCÓPICO

CARACTERES FÍSICO-QUÍMICOS valores de referência

Cor: _____________________________ branco opalescente

pH: _________________________ > 7.2

volume: _________________________ > 1,4 mL

viscosidade: ________________________ normal

liquefação: _________________________ completa até 60 minutos

EXAME MICROSCÓPICO

Contagem de espermatozoides
Contagem por mL: ____________________ ≥ 16 milhões/mL

Contagem por volume: _________________ ≥ 39 milhões/ejaculação

Motilidade espermática
- Progressivos (rápidos + lentos) _________ acima de 30 %

- Não progressivo _____________________

- imóveis ____________________________ até 20 %

Citomorfologia
Normal ____________________________ ≥ 30 %

Defeitos de cabeça____________________

Defeitos de pescoço___________________

Defeitos de cauda____________________

Teste-Membrana/Vitalidade
- formas vivas ________________________ ≥ 54 % de formas vivas

- formas mortas _______________________

Citologia
- Leucócitos ________________________ < 1.000 mm 3

- Hemácias ___________________________ < 1.000 mm 3

Observações:

Você também pode gostar