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ESPERMOGRAMA

A análise do líquido seminal visa descobrir a causa da infertilidade de um


casal; pode ser usada em medicina legal (pesquisando por exemplo, os casos de
violência sexual, etc); pode ser usada para verificação do sucesso ou não de uma
vasectomia.

O espermograma pretende englobar uma série de informações com o objetivo


de identificar: fertilidade, infertilidade reversível, infertilidade permanente.

Todos os dados determinados como sendo normais se baseiam na coleta de


material no período de 3 a 7 dias de abstinência sexual. Por uma questão de
padronização, costuma-se pedir ao paciente para realizar a coleta com 5 dias de
abstinência sexual. Entretanto isso não é lei, de modo que o próprio clínico pode
determinar um período maior ou menor a fim de obter resultados próximos aos
desejados. Caso não seja mantido o período de abstinência, deve-se citar ao final do
exame essa informação ao clínico.

Composição do líquido seminal:

Próstata: aproximadamente 25% do volume total do líquido seminal (ácido


cítrico, fosfatase ácida e enzimas fibrinolíticas);

Vesícula seminal: aproximadamente 60% do volume total do líquido seminal.


(frutose, fibrina);

Testículos: aproximadamente 5% do volume total do líquido seminal


(espermatozóides);

Órgãos e/ou glândulas anexas (Cowper, Litré e epidídimo): aproximadamente


10% do volume total do líquido seminal (contribuem com água, secreções, fluídos,
enzimas).

1. Coleta do material

O paciente deve ser muito bem orientado para a coleta do material. A coleta é
feita por manipulação auto-erótica (masturbação) onde o paciente fica isolado em
ambiente tranquilo e agradável e é orientado a colher todo o material ejaculado em
frasco de boca larga ou uma placa de Petri de modo a não perder nenhuma gota do

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material (isso porque a primeira gota do ejaculado é rica em espermatozóides, de
modo que a sua perda acarretará erro no resultado). O momento da ejaculação deve
ser anotado de maneira exata. Caso o paciente tenha problemas e não consiga
recolher o material, ele é orientado a voltar ao laboratório no dia seguinte sem urinar.
Isso porque a bexiga estando cheia comprime os órgãos genitais facilitando a
ejaculação. Em último caso, o paciente pode recolher o material em casa,
entretanto, recomenda-se sempre o cuidado em não se perder material e que o
transporte para o laboratório seja feito o mais rapidamente possível (no máximo em
1 hora). O paciente não deve esquecer de anotar o momento exato da ejaculação.
Neste caso, porém, as primeiras análises do esperma estarão prejudicadas, como o
tempo de coagulação/liquefação. Se o paciente, entretanto ainda não tiver
conseguido recolher o material, ele pode fazer uso do coito interrompido, o que
facilita a perda do material.

Deve-se observar sempre, que a coleta não deve ser feita em recipiente de
plástico pois estes podem conter substâncias espermicidas em sua composição.

2. Exame macroscópico

2.1.Volume

É determinado após a obtenção dos tempos de coagulação e liquefação, já


que estes requerem imediatismo após a coleta. Deve ser medido em tubo cônico
graduado, de vidro. O valor normal em média é de 3,5 mL, porém, existem casos de
normalidade em uma faixa variável de 1,5 a 5,0 mL (OMS, 2010) (respeitando-se o
tempo normal de abstinência). Pode-se classificar o volume em:

Normospermia: volume normal de ejaculado;

Hiperespermia: volume superior a 5 mL (pode ser causada por um tempo de


abstinência sexual muito grande ou por processos que levam à hiperatividade da
vesícula seminal, como processos inflamatórios ou infecciosos. Isso porque essa
glândula contribui com aproximadamente 60% do volume do líquido seminal;

Hipoespermia: em caso de não funcionamento normal da vesícula seminal ou


por não obediência ao período de abstinência estabelecido antes da coleta, o que
ocorre em 95% dos casos de hipoespermia. Deve-se lembrar, entretanto, que

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hipoespermia não é sinônimo de infertilidade, já que apesar de serem poucos, os
espermatozóides podem chegar a fecundar, caso sejam muito ativos.

2.2. Aspecto e Cor

Liquido espermático tem aspecto que se denomina “sui generis”, é branco


leitoso e se torna acinzentado quanto maior o tempo de abstinência. Sua cor pode
variar do branco-leitosa a amarelada, podendo entretanto ser:

Avermelhado ou róseo: ocorre por medicamentos ou espermatorréia, onde se


tem sangue proveniente do trato genital por trauma ou mesmo como conseqüência
de hipertensão, (rompimento das arteríolas do trato genital, que são muito sensíveis,
por conta do aumento da pressão arterial), misturando sangue ao esperma. Pode
ser proveniente também de um tumor prostático, que costuma, ser muito comum,
principalmente em homens mais velhos;

Raiado de vermelho: sangramento da uretra distal promovem tingimento do


esperma quando este passa pela uretra;

Amarelado: geralmente aparece assim em casos de icterícia;

Purulento: presença de pus por inflamações ou infecções do trato genital;

2.3. Odor

Quanto maior for o tempo de abstinência, mais forte o cheiro amoniacal do


esperma. Esse odor característico provém de substâncias como a espermina e a
espermidina e putrecina, as quais são produzidas mais intensamente na próstata.
Existem casos raros, em que a ejaculação não tem odor, o que pode ser proveniente
de doenças relacionadas com a próstata.

2.4. pH

Está compreendido entre 7,5 e 8,5, desde que tenha sido medido em
esperma recentemente emitido. No caso de se manter o esperma por muito tempo e
em recipiente aberto, ele se alcalinizará, já que tem como propriedade desprender
oxigênio.

pH ácido: indica hiperfunção de próstata já que esta contribui para a formação


do líquido seminal com substâncias ácidas;

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pH alcalino: hiperfunção da vesícula seminal, pois produz substâncias
alcalinas.

2.5. Tempo de coagulação/liquefação

O esperma é ejaculado na forma líquida, o que se denomina liquefação


primária. Ele permanece líquido por no máximo cinco minutos. Com o passar do
tempo após a ejaculação, ele começa a se coagular (por mecanismo semelhante ao
da coagulação do sangue, como por exemplo a fibrina – proveniente da vesícula
seminal). O esperma permanece coagulado por, no máximo 30 minutos, após os
quais ele se liqüefaz novamente, agora de forma definitiva. Isso ocorre por ação de
“enzimas fibrinolíticas” provenientes da próstata.

A liquefação é responsável pela sobrevivência dos espermatozóides no pH


altamente ácido da vagina. Quando o líquido seminal cai na vagina, ele quase que
imediatamente se coagula, mantendo os espermatozóides revestidos por um líquido
proveniente da próstata (que se mantém quase que liqüefeito) e um líquido
proveniente da vesícula seminal (este por ação da fibrina mantém a integridade do
coágulo formado). Esse coágulo vai aos poucos chegando próximo ao canal
cervical, enfrentando o pH ácido da vagina sem que os espermatozóides sofram
qualquer efeito. Próximo ao canal cervical, o coágulo vai se liqüefazendo de dentro
para fora a partir do líquido prostático (enzimas fibrinolíticas). Desse modo os
espermatozóides são lançados íntegros ao interior da cérvix, e o coágulo age como
um tampão ao pH vaginal e como proteção ao ataque de bactérias aos
espermatozóides.

No caso de uma hipofunção da vesícula seminal, a formação do coágulo


estará prejudicada, de modo que os espermatozóides, não estando protegidos,
morrerão ao pH ácido e à ação bacteriana vaginal. Também no caso de uma
hiperfunção de próstata, esse transporte de espermatozóides também estará
prejudicado, já que estando a liquefação aumentada, o coágulo se dissolverá muito
antes do tempo, de modo que os espermatozóides também se perdem antes de
chegar ao cérvix. Num caso contrário, onde o tempo de coagulação estiver
aumentado, ou por hiperfunção da vesícula seminal ou hipofunção de próstata (já
que as duas devem estar em equilíbrio para que o processo se cumpra

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eficientemente), o coágulo não se dissolverá de imediato ao chegar no canal
cervical.

Desse modo, os espermatozóides ficarão aprisionados, perdendo sua


viabilidade total por falta de nutrientes e outras condições adequadas para a
sobrevivência por um tempo mais longo.

O tempo de coagulação/liquefação pode ser determinado por observações


sucessivas do material em placa de Petri. O tempo deve ser marcado em relação ao
momento da ejaculação.

2.6 Viscosidade

Está diretamente ligada ao tempo de coagulação/liquefação, é determinada


suspendendo-se o esperma com o auxílio de um bastão de vidro, capilar ou pipeta
Pasteur e observando-se o filamento formado:

Normal: filamento de 2 cm;

Aumentada: filamento > 2 cm;

Diminuída: filamento < 2cm.

3. Exame microscópico

3.1. Contagem de espermatozóides

Classificação:

Normozoospermia: contagem superior a 20 milhões de espermatozóides por


ml.

Hiperzoospermia: contagem superior a 210 milhões de espermatozóides por


mL. Geralmente aparece em casos de abstinência prolongada, onde começam a se
evidenciar espermatozóides mais senis (velhos).

Oligozoospermia: contagem inferior a 20 milhões de espermatozóides por mL.


A Oligozoospermia ocorre em 26% dos casos por infecção do trato genital causada
por gonorréia, sífilis, tuberculose, caxumba gerando orquite e em próstato-
vesiculites. A tuberculose geralmente causa epididimite, 24% dos casos são
provenientes de varicocele e hidrocele. A varicocele impede um aporte eficiente de

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oxigênio aos órgãos reprodutores, de modo a gerar deficiência na produção de
esperma. No caso da hidrocele, o edema promove modificações estruturais no
espermatozóides, dado o estreitamento nos canais por onde ele deve passar. Desse
modo tem-se menos espermatozóides viáveis para a fecundação. Indivíduos com
oligozoospermia são fortes candidatos à infertilidade. Entretanto, sabe-se hoje que
homens com 10 milhões de espermatozóides/mL podem ser férteis caso tenham
espermatozóides em boas condições de fecundação.

Azoospermia: ausência de espermatozóides no ejaculado. Ocorre em


indivíduos vasectomizados e nos portadores de testículos não funcionantes.
Homens que tiveram Criptorquidismo bilateral ao nascerem, se não submetidos à
cirurgia entre os 2 e 4 anos, podem ser portadores de azoospermia, pois os
testículos permaneceram na cavidade abdominal e pelo aumento da temperatura
provocando a morte dos espermatozóides. Se a cirurgia é feita entre 2 e 4 anos de
idade há grande possibilidade dos testículos executarem suas funções normais.
Alterações hormonais (endócrinas) também podem levar o indivíduo a ter oligo ou
azoospermia dependendo da intensidade dessas alterações, secreções insuficientes
de FSH, LH e testosterona impedem uma maturação eficaz dos espermatozóides.

Aspermia: consiste na ausência de ejaculado. É um problema que pode estar


sendo causado por uma deficiência na válvula que fecha o canal espermático no
momento da micção, e fecha o canal da micção no momento da ejaculação. Esse
processo pode levar ao aparecimento de espermatozóides na urina (processo
denominado de retroejaculação). A aspermia também pode ocorrer em casos de
obstrução do ducto seminífero.

A contagem de espermatozóide/mL é feita em câmara de Newbauer fazendo-


se a seguinte diluição:

Solução diluente: 9,5 mL de solução fisiológica + 0,5 mL de formaldeído.

Após a solução diluente ter sido feita, preparar: 3,9 mL de solução diluente +
0,1 mL (100 µL) de esperma (diluição 1:40).

O formol permite a imobilização dos espermatozóides sem causar alteração


morfológica, permitido assim sua contagem.

Cálculo: Número de espermatozóides contados em um dos quadrantes


laterais da câmara de Newbauer X 400.000 (diluição foi de 1:40).
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OBS: Deve-se observar também a presença de células redondas no
ejaculado (células da espermatogênese, células epiteliais e leucócitos).

A presença de leucócitos indica inflamação ou infecção que pode ser aguda


ou crônica. A contagem dessas células é realizada por observação do esfregaço
corado e o cálculo é feito segundo a fórmula: C = N x S
100
Onde:

N= número de células redondas contadas no mesmo campo onde se contou


100 gametas;

S= número de gametas em milhões/mL da amostra;

C= concentração de células redondas em milhões/mL da amostra.

O ejaculado não deve conter mais de 5 milhões de células redonda/mL,


enquanto que o número de leucócitos não deve exceder 1 milhão/mL para que seja
considerado normal, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Número de espermatozóides no volume total: basta se fazer a multiplicação


do número de espermatozóides contados por mL pelo volume total de ejaculado.

3.2. Motilidade dos gametas na amostra

Os espermatozóides podem ter formas normais e motilidade alterada. Sendo


que a motilidade consiste na tentativa de definir quantos espermatozóides estão
andando em linha reta e estes serão classificados como abaixo:

Móveis direcionais rápidos: grau A; Móveis direcionais lentos: grau B; móveis


sobre si mesmo, móveis não direcionais: grau C e espermatozóides sem movimento,
imóveis: grau D.

Teste de motilidade deve ser realizado a partir da primeira hora que o material
chega ao laboratório e nas 3 e 6 horas subsequentes, sendo que a cada hora que
passa o numero de espermatozóides móveis direcionais decresce de 10%.

Para observarmos o grau de motilidade dos espermatozóides na amostra


devemos pipetar 10 µl de sêmen bem homogeneizado em uma lâmina e cobrir com
uma lamínula de tamanho adequado.

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Observa-se então os graus de motilidade existentes relatando os resultados
em % fazendo-se uma comparação com o total.

Quando se relata a presença de espermatozóides de grau D, torna-se


necessário a determinação dos imóveis vivos e dos imóveis mortos realizando-se o
teste da eosina amarela a 5%.

Coloca-se 10 µL de sêmen em uma lâmina e 10 µL de eosina amarela a 5%,


cobrir com lamínula, aguardar 2 minutos para a estabilização e penetração do
corante nos gametas. A contagem também será expressa em % do total de
espermatozóides.

Os espermatozóides que estavam vivos serão visualizados com a coloração


da cabeça em amarelo, enquanto que os espermatozóides que estavam mortos
serão visualizados com a cabeça vermelha.

Cálculo: No de espermatozóides vivos


No total de espermatozóides (vivos + mortos)

Quando se tem grande número de espermatozóides mortos, diz-se ter


necroespermia, o que pode ser causado por varicocele, hidrocele, alterações
genéticas, traumas, etc.

Essa diferenciação entre espermatozóides mortos e vivos é muito importante


dada a existência da esterilidade imunitária, onde o indivíduo produz anticorpos anti-
espermatozóides, imobilizando-os. A utilização de corticóides no tratamento pode
levar o homem a ter uma fertilidade momentânea, já que os espermatozóides irão
adquirir motilidade quando na ausência de anticorpos.

Morfologia: espermatozóide tem estrutura própria e aerodinâmica para


desempenhar bem suas funções. Alterações de sua forma podem promover
infertilidade.

A forma do espermatozóide pode ser analisada através de um esfregaço


utilizando-se a técnica do deslizamento entre duas lâminas e depois de secar, corar
utilizando como corante o Leishmam ou o Giemsa, embora o mais indicado seja a
coloração de Papanicolaou.

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Conta-se preferencialmente 200 ou no mínimo 100 espermatozóides
utilizando-se a técnica de imersão no aumento de 1000x, relatando-se o resultado
em %.

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Espermatozóide oval
normal dimensão 5.0 x 3.5 Macrocéfalos Cabeça arredondada
um

Espermatozóide com
Cabeça de formato
Cabeça irregular cabeça mais fina
alterado
(alongada)

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Espermatzóide com forma Espermatzóide com Região acrossômica
de fita formato de pêra grande

Região acrossômica muito Região acrossômica


Presença de vacúolos
pequena pequena

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