Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
APLICADA A
FARMÁCIA
Lucimar Filot da
Silva Brum
Farmacologia do
sistema respiratório
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
O sistema respiratório é dividido em porção superior e porção inferior e,
devido a sua característica anatômica, está sujeito a muitos distúrbios,
que podem ser causados por agentes que o atingem por meio do ar
inalado ou da corrente sanguínea, e que interferem na respiração e em
outras funções pulmonares.
A farmacologia do sistema respiratório compreende os efeitos dos fár-
macos sobre as patologias que acometem as vias respiratórias. Distúrbios
do sistema respiratório incluem as infecções respiratórias (pneumonia,
tuberculose), distúrbios alérgicos (rinites), distúrbios inflamatórios e dis-
túrbios que obstruem o fluxo de ar (asma, doença pulmonar obstrutiva
crônica) (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN; FINKEL;
PANAVELLI, 2016).
Com relação às vias de administração, os fármacos empregados para
o tratamento das doenças respiratórias podem ser aplicados topicamente
na mucosa nasal, inalados ou administrados por via oral ou parente-
ral para absorção sistêmica. Os métodos de aplicação local, como os
nebulizadores ou inaladores, são preferidos, pois o fármaco atinge o
tecido-alvo e minimiza os efeitos adversos sistêmicos (WHALEN; FINKEL;
PANAVELLI, 2016).
2 Farmacologia do sistema respiratório
Via oral: Os fármacos podem ser administrados por via oral para o trata-
mento de doenças no trato respiratório. No entanto, é necessário o uso de
dose muito maior do fármaco por via oral do que a dose inalada necessária
para obter o mesmo efeito farmacológico e, consequentemente, predispõe o
paciente aos efeitos colaterais sistêmicos. Ou seja, quando há a possibilidade
de escolha da via de administração de um fármaco, inalatória ou oral (agonista
β2-adrenérgico ou corticosteroide), a via inalatória é sempre preferível, e a via
oral deve ser reservada apenas para pacientes incapazes de usar inaladores
(crianças pequenas). Por outro lado, existem medicamentos que são ineficazes
por via inalatória (teofilina) e, portanto, devem ser administrados por via oral
(BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016).
Alergênio
Mastócitos
Broncoespasmo
Libera histamina, leucotrienos,
interleucinas e prostaglandinas
Aumento da
Inflamação das
responsividade
vias aéreas
das vias aéreas
Figura 1. Manifestações da asma brônquica iniciada pela IgE. Na resposta de fase inicial, o
broncoespasmo predomina, levando à redução do fluxo expiratório. Na resposta de fase
tardia, a inflamação das vias aéreas, o edema, aumento da produção de muco e a função
mucociliar prejudicada reduzem o fluxo expiratório. As fases inicial e tardia também estão
associadas a aumento da sensibilidade das vias aéreas a alergênios.
Fonte: Adaptada de KATZUNG (2011, p. 490).
Exposição ao antígeno
(pó, pólen)
Cromoglicato dissódico
Corticosteroides
Inibição Anticorpos monoclonais anti-IgE
(omalizumabe)
Zileutona
Antígeno e IgE
nos mastócitos
Ativação de mediadores da
broncoconstrição e inflamação
(exemplo: leucotrienos)
Inibição Inibição
Agonistas β2
Cromoglicato dissódico
Antagonistas muscarínicos
Costicosteroides
Antagonistas de leucotrienos
Antagonistas de leucotrienos
Teofilina
Resposta tardia:
Resposta inicial:
broncoconstrição inflamação e
hiperreatividade brônquica
Fármacos broncodilatadores
Metilxantinas
A teofilina e vários análogos são ativos por via oral e disponíveis em formas
de liberação imediata e lenta. A teofilina é um broncodilatador que promove
alívio na obstrução das vias aéreas, sendo útil no manejo e diminuição da
asma crônica (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016; WHALEN;
FINKEL; PANAVELLI, 2016).
Antagonistas muscarínicos
Fármacos anti-inflamatórios
Corticosteroides
Usos terapêuticos: Zileutona é um fármaco ativo por via oral, sendo eficaz
na prevenção do broncoespasmo induzido por exercícios e antígenos, bem
como contra a alergia ao ácido acetilsalicílico, que é o broncoespasmo cau-
sado pela ingestão de ácido acetilsalicílico. O zafirlucaste e montelucaste são
bloqueadores do receptor de leucotrienos, são ativos por via oral e usados
para profilaxia, sendo eficazes na prevenção dos ataques broncoespásticos
induzidos por exercício, antígenos e ácido acetilsalicílico.
Anticorpo anti-IgE
duração de ação, esse fármaco exige três ou quatro administrações por dia,
o que afeta a aderência e limita o seu uso. As formulações nasal e em gotas
oftálmicas do cromoglicato dissódico estão disponíveis para a febre do feno,
sendo usada uma formulação oral para a alergia alimentar.
também pode ser deflagrada por medicamentos, como por exemplo os anti-
-hipertensivos da classe dos inibidores da enzima conversora de angiotensina
(captopril, enalapril) bem como a exposição a fatores irritantes ou alérgicos
(BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2016).
Assim, no manejo da tosse, torna-se importante identificar suas causas
para assegurar que o uso de medicamentos antitussígenos é necessário, pois
as diretrizes recomendam a prioridade de tratar a causa subjacente, quando
possível.
Esses fármacos podem ser prescritos isoladamente ou combinados entre si
ou com descongestionantes nasais ou anti-histamínicos, estando muitos deles
disponíveis como medicamentos isentos de prescrição, exceto os antitussígenos
da classe dos opioides (KATZUNG; TREVOR, 2017).
Antitussígenos
Os opioides naturais (codeína) e seus derivados, como o dextrometorfano,
suprimem o centro da tosse no bulbo, o que aumenta o limiar estimulatório
necessário para iniciar o reflexo da tosse (BRUNTON; CHABNER; KNOLL-
MANN, 2016).
Os opioides agem sobre os receptores opioides no centro medular da tosse,
mas há alguma evidência de que eles podem ter ação periférica adicional
sobre receptores da tosse nas vias respiratórias proximais. A morfina e a
metadona são eficazes, mas indicadas apenas para a tosse intratável associada
ao carcinoma brônquico. Importante ressaltar que os opioides podem reduzir
o impulso respiratório ao inibir os mecanismos respiratórios do tronco ence-
fálico, efeito que pode provocar hipercapnia, não tolerável por pacientes com
obstrução das vias aéreas.
A codeína é um opioide de ocorrência natural que é um analgésico fraco
em comparação com a morfina e exibe boa atividade antitussígena em doses
que não causam analgesia. A codeína diminui a sensibilidade do centro da
tosse no sistema nervoso central (SNC) aos estímulos periféricos e diminui a
secreção da mucosa. Esse efeito terapêutico ocorre com dosagens menores do
que as necessárias para analgesia. Contudo, podem ocorrer efeitos adversos
comuns, como constipação, disforia e fadiga. Além disso, a codeína tem
potencial de viciar.
16 Farmacologia do sistema respiratório
Na maioria das preparações contra tosse que não necessitam de receita, a codeína foi
substituída por fármacos como o dextrometorfano, um fármaco sintético depressor da
tosse que não possui propriedade analgésica e tem relativo baixo potencial de abuso,
nas doses antitussígenas usuais.
Expectorantes
Os expectorantes são os fármacos orais que supostamente melhoram a
depuração do muco. Embora expectorantes fossem comumente prescritos,
há pouca ou nenhuma evidência objetiva de sua eficácia. Em pacientes que
têm dificuldade para eliminar o muco, a hidratação adequada e inalação de
vapor podem ser relativamente benéficas.
A guaifenesina é o expectorante mais comum em preparações de venda
livre e está disponível como formulação de ingrediente único e também um
ingrediente comum em combinação com codeína ou dextrometorfano.
A guaifenesina ajuda na expectoração do muco do trato respiratório ao
estimular a produção de secreção, levando ao aumento do volume de fluido das
vias aéreas e à redução da viscosidade do muco. A guaifenesina pode provocar
desconforto do trato GI, vertigem e sonolência (BRUNTON; CHABNER;
KNOLLMANN, 2016).
Farmacologia do sistema respiratório 17
Mucolíticos
Vários agentes podem reduzir a viscosidade do escarro in vitro. Esses fármacos
também agem como antioxidantes e podem, portanto, reduzir a inflamação
das vias respiratórias. Exemplos incluem a N-acetilcisteína, carbocisteína,
metilcisteína, erdosteína e bromexina. Administrados por via oral, esses agentes
são relativamente bem tolerados, mas estudos clínicos na bronquite crônica,
asma e bronquiectasia têm sido decepcionantes (BRUNTON; CHABNER;
KNOLLMANN, 2016).
Leituras recomendadas
FUCHS, F. D.; WANNMACHER, L. Farmacologia clínica: fundamentos da terapêutica
racional. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
HAMMER, G. D.; MCPHEE, S. J. Fisiopatologia da doença: uma introdução à medicina
clínica. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. (Lange).
LÜLLMANN, H.; MOHR, K.; HEIN, L. Farmacologia: texto e atlas. 7. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2017.
SILVA, P. Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
WILLIAMSON, E.; DRIVER, S.; BAXTER, K. Interações medicamentosas de Stockley. Porto
Alegre: Artmed, 2010.
Conteúdo: