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A estes saberes que são produzidos e apropriados ao longo de sua história de vida, no
“chão” da escola, em sua prática pedagógica diária, nas relações entre professores, entre
estes e os alunos, entre os docentes, a escola e sua organização e entre os professores e os
seus próprios saberes, são classificados por diversos autores (BORGES, 1998; TARDIF,
2007; PIMENTA, 2002) como os saberes da experiência, ou seja, aqueles saberes que são
advindos da intervenção pedagógica do professor na escola, em suas turmas, na
organização do trabalho pedagógico, em sua própria história ao longo de sua vida.
É o que explica Tardif estes saberes “[...] não provém das instituições de formação nem
dos currículos. [...] não se encontram sistematizados em doutrinas ou teorias” (2002, p.
48,49). O professor diante deste saber é ao mesmo tempo produtor e sujeito.
Para Pimenta (2002, p.20) os saberes da experiência são aqueles advindos da história de
vida, das relações que os docentes, ou estão em formação para exercer este ofício,
obtiveram ao longo de suas vidas no contato com a escola. Para esta autora noções de
como ser docente, o que é ser um bom ou um mau professor, a desvalorização social dos
professores, os bons conteúdos, as boas turmas, as mudanças que ocorreram ao longo da
história a respeito do professor e seus saberes, vem desta experiência com a discência.
Estes saberes são produzidos na prática pedagógica quotidiana, como cita Therrien (apud
BORGES, 1998, p.51) que “em função de um contato muito elementar com os saberes da
formação profissional, tais professoras buscavam na prática outras fontes de referência
para a sua acção docente”. Borges (1998, p.51) chama este saber de “um saber social que
informa a prática”, sendo a ressignificação, a partir da prática, dos saberes da formação.
A experiência docente não pode ser limitada ao momento em que o futuro professor inicia
um curso de formação inicial, como afima Tardif (2007, p.71) “A socialização é um
processo de formação do indivíduo que se estende por toda a história de vida e comporta
rupturas e continuidades.” Borges (2004), Pimenta (1999) e Tardif (2007) identificam
uma quantidade de saberes que influenciam a prática docente, e que são anteriores a esta,
saberes provenientes da suas histórias de vida, da cultura familiar, saberes provenientes
de outros tipos de Educação, saberes provenientes da observação dos professores com os
quais manteve contato durante toda sua vida escolar, e saberes da experiência socialmente
construída.
O contato com alunos, professores, com os demais agente escolares, enfim a vida
profissional, propriamente dita, proporciona muitas aprendizagens, entre elas a
aquisição de saberes sobre como agir em diversas situações, trabalhar determinados
conteúdos, explorar o livro didático, abordar um conteúdo, extrair do programa os
conteúdos relativos à aprendizagem dos alunos, etc. (2004, p. 203)
Almeida (2007), Borges (2004) e Tardif (2007), concordam quando afirmam que os
saberes da experiência na docência são colocados pelos professores em uma hierarquia
relativa de maior estima, de acordo com sua utilização no trabalho.
A valorização exacerbada da experiência por parte dos docentes pode causar uma
marginalização de outros saberes. Na tentativa de ressignificar os saberes oriundos de
outras fontes, alguns professores, por acharem que não são necessários a sua prática
pedagógica, discriminam e desvalorizam os saberes da formação ou dos currículos e
disciplinas, supervalorizando suas próprias experiências. São nos momentos de aula, na
necessidade da sala de aula que os professores hierarquizam seus saberes.
O interesse em escutar a voz dos alunos não é novo (Mitra, 2004), uma vez que já nos
finais dos anos de 1960 e 1970 alguns investigadores educacionais se propuseram a
conhecer a sala de aula e a escola através das experiências dos alunos (Cusick, 1973;
Meighan, 1977; Woods, 1980). Contudo, é importante sublinhar que, embora essa
investigação fosse um espaço legítimo para os alunos envolvidos falarem da sua
aprendizagem, não era frequente dar-lhes feedback, nem
à aprendizagem, na qual os alunos possam ajudar a definir uma agenda prática, visando
melhorar a escola.
discentes, mas focar outras competências que se deveriam desenvolver na escola, tais
como a participação activa e democrática nas decisões escolares e curriculares e a
intervenção responsável nos órgãos de decisão, quer ao nível micro (sala de aula), quer
ao nível meso (escola).
No entanto, há actores educativos que pensam que consultar os alunos pouco mais é do
que aquilo que muitos professores já fazem ao ouvir os alunos informalmente na sala de
aula. Escutar os alunos como alguém que tem algo a dizer sobre a escola implica, para
Rudduck e Mclntyre (2007), que os discentes sejam explicitamente convidados a
pronunciarem-se sobre a sua própria aprendizagem e sobre ferramentas para aprender,
incluindo estratégias de ensino. Pressupõe-se, desse modo, que os discentes tenham
consciência de que estão a contribuir para a melhoria da escola e que as suas vozes podem
fazer a diferença (Rudduck & Flutter, 2004).