Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CADERNO 29
CADERNO 29
CADERNO 29
CADERNO 29
CADERNO 29
CADERNO 29
constitui norma válida, mas não em dar critérios para que a norma
seja interpretada. Jamais quis dar uma indicação sobre como os jui-
zes devem decidir. É um equívoco confundir positivismo com
legalismo.
Isso também é colocado em questão pela teoria interpretativis-
ta do Dworkin, e mesmo pelo Lon Fuller. Aponta-se o positivismo
como defensor de um ideal de fidelidade à lei, o que é bastante
questionável. Mas o ponto importante do Dworkin está no reconhe-
cimento de que outros parâmetros normativos, não apenas as
normas postas, passam a ter força, como razão determinante para
as decisões. Portanto o conhecimento jurídico não pode se limitar
à descrição de um sistema de normas ou criar modelos descritivos
e “vazios”, como a subsunção, para as decisões. O saber jurídico, a
dogmática e mesmo a filosofia do direito, deveria se engajar nessa
mesma atividade de interpretação das normas e princípios informa-
dores do ordenamento.
A proposta do direito como integridade é que é possível
reconstruir o ordenamento com base nos princípios morais e de
políticas públicas que o informam, de forma a obter a melhor
interpretação possível do conjunto de decisões autoritativas (legis-
lativas ou de precedentes judiciais) em sua evolução. Dworkin, por
exemplo, acredita ser possível, dentro de cada comunidade jurídi-
ca, uma reconstrução global desses valores capaz de apontar, em
cada caso, qual a solução correta.
Coloca-se então o problema da racionalidade e da objetivida-
de. O que é essa “melhor interpretação possível”? Ou como se dá
o sopesamento dos princípios? O que colocar no lugar do mode-
lo subsuntivo?
Aparece aqui o segundo modelo de justificação de decisões que
é o modelo de ponderação. A noção chave aqui é aquela de coerência.
A idéia de “melhor interpretação possível” é dada como aquela deci-
são mais coerente, o que inclui tanto consistência quanto poder
explicativo daquelas decisões autoritativas prévias. A chave portan-
to, passa a ser a idéia de coerência. Deixa de ser a decisão com base
em um fundamento dado, do qual se deriva, para se encontrar uma
decisão que aumente a coerência do ordenamento como um todo.
Um ponto importante está no papel das decisões autoritativas
prévias. Elas deixam de ser razões conclusivas para a decisão e
123
CADERNO 29 - 6:CADERNO 27 5/25/09 6:32 PM Page 124
CADERNO 29
CADERNO 29
CADERNO 29
do bolo que ele acha mais interessante e não vai dar pra outro aque-
la parte do bolo com a qual não quer que outro fique. Então isso é
um protocolo e esse protocolo é racional. E é um modelo de racio-
nalidade absolutamente independente do conteúdo, simplesmente
das regras de interação entre os participantes de uma discussão.
Esse problema é bastante interessante. Existe um protocolo
proporcional para três jogadores, com sete etapas, e que pode ser
generalizado para n jogadores (protocolo de Steinhaus). Mas esse
protocolo não é isento de inveja. Há um protocolo isento de inve-
ja para três jogadores, e mesmo para quatro jogadores, que tem
se não me engano, vinte etapas e é bem complicado. Não sei se
há protocolos para cinco jogadores, sem sobras. É um problema
matemático. Mas isso é uma curiosidade. O importante é notar
que procedimentos de interação entre agentes podem ser cons-
truções racionais.
Feito esse pequeno desvio, o que eu queria apontar é que os
modelos de argumentação prática e de argumentação jurídica são
essencialmente protocolos, protocolos com regras para garantir que
os argumentos serão apresentados e apreciados criticamente (regras
de ônus da prova) e mesmo para garantir que os agentes se comu-
niquem de forma cooperativa (por exemplo, a regra de sinceridade).
Esses modelos de racionalidade para justificação de decisões
ou da interpretação devem se conjugar. Uma das noções que está
na base dos protocolos de argumentação é a de que o argumen-
to é dado por uma relação entre premissas e conclusão. Em lógicas
de argumentação derrotável, por exemplo, essa relação é de dedu-
ção. Cada argumento é uma dedução, mas o que derivo de um
conjunto de argumentos não é dado por uma relação de dedutibi-
lidade. Também quando penso em um modelo de sopesamento, devo
levar em conta que a relação entre um conjunto de normas e seus
objetivos ou seu fundamento moral deve ser fundamentada. E essa
racionalidade que está na fundamentação pode ser dada por um pro-
tocolo de argumentação.
Na medida em que conjugo esses modelos, posso reduzir a incer-
teza acerca de qual decisão deve ser tomada com base em decisões
passadas (judiciais ou legislativas). Já nem falei em apontar qual
a decisão correta, mas a um objetivo mais restrito de reduzir incer-
teza. Posso fazer isso quando adoto critérios aptos a me dizer na
129
CADERNO 29 - 6:CADERNO 27 5/25/09 6:32 PM Page 130
CADERNO 29