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Cada classe social define seu espaço próprio de existência, as relações intra e intráreas não
são mais do que relações entre classes sociais, com relações de dominância, contradições, luta
de classes. As classes sociais surgem da natureza das relações de produção do lugar, o espaço
geográfico é formação econômico-social, sendo uma formação totalmente espacial. Logo, a
estrutura da formação social determina a estrutura do espaço, mas é a conjuntura política de
cada momento constituída pela correlação de força entre as classes sociais de um lugar, que
comanda seus movimentos, processos e formas. Contudo, o estabelecimento das relações
capitalistas vem a mudança radical na organização espacial, como a mudança de estrutura de
classes com o fim do escravismo; durante nossa história sempre houveram formas de
organizações do espaço e da sociedade que encontram uma lógica na forma, volume e ritmo
da acumulação de capital. No processo colonial-escravista de acumulação do capital o tempo
de trabalho social global reparte-se em dois planos: espaço tempo de trabalho necessário e
espaço do tempo de sobretrabalho, esses dois momentos fundamentais do processo de
acumulação de capital reproduzem-se nitidamente na morfologia do espaço agrário pré-
capitalista, é o próprio campo o local onde se realiza a produção e a reprodução da força de
trabalho, o que agora em um sistema capitalista não ocorre, porque a reprodução da força de
trabalho passa pela mediação mercantil do espaço urbano, com isto através da produção o
setor agrícola transfere à urbano-industrialização capitalista parte de sua renda.
Existem três formas básicas de relação de produção: escravista, de transição e capitalista, que
tem suas três formações distintas: A formação social escravista-mercantil, a formação social
de transição e a formação social capitalista, sendo correspondentes a formações espaciais. O
espaço agrário sob relações escravistas, se caracteriza por duas formas espaciais distintas,
mais articuladas de se produzir, que é a produção agromercantil exportadora e de
subsistência. As cidades são local colonial da capital mercantil e dos aparelhos de dominação
da Coroa; há um forte determinante social baseado no monopólio da terra, que constitui o
lado logístico básico de acumulação, juntamente com a relação de trabalho escravista. A
indústria canavieira se desenvolve a partir de três classes fundamentais: Os senhores de
escravos proprietários de engenho, senhores de engenho não proprietários do engenho e
escravos, dessas relações se deriva um espaço fragmentado-integrado logo, a maior parte das
terras se produzia para exportar, restando poucas para agricultura de subsistência. Com a
maior demanda de exportação, o gado que foi introduzido para subsidiar os engenhos de
açúcar em alimento e assim é mandando para o interior, expandido independente e
indefinidamente, onde começa a dominar o trabalho semi livre do peão. Já sob o espaço
agrário sob as relações de transição o final do século XIX, é marcado o momento final da
formação espacial escravocrata e o papel do capitalismo de produção dominante. ainda não
exclusivo, mas que redefine o papel das outras formas de organização da economia e da
sociedade a seu favor, já as relações capitalistas no espaço agrário, é no planalto cafeeiro de
São Paulo que a formação espacial brasileira é levada a ultrapassar a fase do modo de
produção de mercadorias, com a urbano-industrialização que brota das entranhas do próprio
capital agromercantil. E se realiza na transferência do centro geográfico de acumulação do
campo para a cidade, agora a cidade é a local sede do novo padrão de acumulação, mudando
inteiramente sua feição socioeconômica. Essa forma tem uma rede urbana hierarquizada que
tem por papel ordenar a captura e circulação em escala nacional do excedente rural para fins
de acúmulo industrial do Sudeste. O espaço agrário onde a penetração das relações
capitalistas de produção completou-se a lavoura não capitalista de subsistência é
transformada completamente, porém ainda não é extinta, tendo como resultado a relativa
homogeneização do espaço nacional pelas relações de produção capitalistas, a qual se
incorporam territorialmente as relações não capitalistas. É assim que se integram na divisão
territorial de trabalho e de trocas voltada para o desenvolvimento nacional centrado na
indústria todo o leque de produção em que a estrutura agrária se diferencia.
A plantation é menos evidente que na pecuária e na mineração, porém isto não importa tanto
porque a força da classe dominante não vem da terra, mais do número de escravos que o
senhor possui. O fim do ciclo de mineração e o retorno à economia de agroexportação através
do ciclo de café de um lado devolve a formação espacial aos processos e formas de arranjo do
plantacionismo, de outro deixa claramente exposto os seus limites de uma estrutura fundante
de uma nação, o período de sobrevida plantocionista rearruma a tempo que reafirma o arranjo
da pluralidade das formas da formação espacial assenta nos três primeiros séculos do período
colonial, declarando essa pluralidade a base de erguimento do Estado-Nação que substitui o
estado colonial português.