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Fichamento: Formação Espacial Brasileira: Espaço Agrário e as Classes

Rurais na Sociedade Brasileira; Plantation e Formação Espacial, As raízes


do Estado nação no Brasil, Ruy Moreira.

1.1 Espaço agrário e Classes Rurais.

Cada classe social define seu espaço próprio de existência, as relações intra e intráreas não
são mais do que relações entre classes sociais, com relações de dominância, contradições, luta
de classes. As classes sociais surgem da natureza das relações de produção do lugar, o espaço
geográfico é formação econômico-social, sendo uma formação totalmente espacial. Logo, a
estrutura da formação social determina a estrutura do espaço, mas é a conjuntura política de
cada momento constituída pela correlação de força entre as classes sociais de um lugar, que
comanda seus movimentos, processos e formas. Contudo, o estabelecimento das relações
capitalistas vem a mudança radical na organização espacial, como a mudança de estrutura de
classes com o fim do escravismo; durante nossa história sempre houveram formas de
organizações do espaço e da sociedade que encontram uma lógica na forma, volume e ritmo
da acumulação de capital. No processo colonial-escravista de acumulação do capital o tempo
de trabalho social global reparte-se em dois planos: espaço tempo de trabalho necessário e
espaço do tempo de sobretrabalho, esses dois momentos fundamentais do processo de
acumulação de capital reproduzem-se nitidamente na morfologia do espaço agrário pré-
capitalista, é o próprio campo o local onde se realiza a produção e a reprodução da força de
trabalho, o que agora em um sistema capitalista não ocorre, porque a reprodução da força de
trabalho passa pela mediação mercantil do espaço urbano, com isto através da produção o
setor agrícola transfere à urbano-industrialização capitalista parte de sua renda.

Existem três formas básicas de relação de produção: escravista, de transição e capitalista, que
tem suas três formações distintas: A formação social escravista-mercantil, a formação social
de transição e a formação social capitalista, sendo correspondentes a formações espaciais. O
espaço agrário sob relações escravistas, se caracteriza por duas formas espaciais distintas,
mais articuladas de se produzir, que é a produção agromercantil exportadora e de
subsistência. As cidades são local colonial da capital mercantil e dos aparelhos de dominação
da Coroa; há um forte determinante social baseado no monopólio da terra, que constitui o
lado logístico básico de acumulação, juntamente com a relação de trabalho escravista. A
indústria canavieira se desenvolve a partir de três classes fundamentais: Os senhores de
escravos proprietários de engenho, senhores de engenho não proprietários do engenho e
escravos, dessas relações se deriva um espaço fragmentado-integrado logo, a maior parte das
terras se produzia para exportar, restando poucas para agricultura de subsistência. Com a
maior demanda de exportação, o gado que foi introduzido para subsidiar os engenhos de
açúcar em alimento e assim é mandando para o interior, expandido independente e
indefinidamente, onde começa a dominar o trabalho semi livre do peão. Já sob o espaço
agrário sob as relações de transição o final do século XIX, é marcado o momento final da
formação espacial escravocrata e o papel do capitalismo de produção dominante. ainda não
exclusivo, mas que redefine o papel das outras formas de organização da economia e da
sociedade a seu favor, já as relações capitalistas no espaço agrário, é no planalto cafeeiro de
São Paulo que a formação espacial brasileira é levada a ultrapassar a fase do modo de
produção de mercadorias, com a urbano-industrialização que brota das entranhas do próprio
capital agromercantil. E se realiza na transferência do centro geográfico de acumulação do
campo para a cidade, agora a cidade é a local sede do novo padrão de acumulação, mudando
inteiramente sua feição socioeconômica. Essa forma tem uma rede urbana hierarquizada que
tem por papel ordenar a captura e circulação em escala nacional do excedente rural para fins
de acúmulo industrial do Sudeste. O espaço agrário onde a penetração das relações
capitalistas de produção completou-se a lavoura não capitalista de subsistência é
transformada completamente, porém ainda não é extinta, tendo como resultado a relativa
homogeneização do espaço nacional pelas relações de produção capitalistas, a qual se
incorporam territorialmente as relações não capitalistas. É assim que se integram na divisão
territorial de trabalho e de trocas voltada para o desenvolvimento nacional centrado na
indústria todo o leque de produção em que a estrutura agrária se diferencia.

1.2 Plantation e Formação Espacial.

No século XVII, a distribuição espacial brasileira é desigual, contrastando "Marinha" e o


"Sertão", as plantations são dedicadas à agroindustrialização açucareira, têm localização
costeira e nuclear. Do interior dão conta a expansão progressiva mais constante das fazendas
de gado e dos sítios de extrativismo vegetal do vale amazônico, o surto minerador responde
em grande parte por esse povoamento da hinterlândia, para ela atraindo de modo intenso por
quase um século, com colonos novos, escravaria das regiões agrícolas em crise e gado do
Nordeste e do Sul. Porém, o povoamento prossegue costeiro, reforçando-se com o declínio
do ciclo da Mineração, o caráter exportador da economia colonial determina a fixação
costeira dos homens e aparelhos produtivos que se veem envolvidos na agroindústria
canavieira, a natureza portuária dos centros urbanos, ossatura linear e de penetração da rede
viária e a oposição marinha-sertão. A população segue três momentos distintos que são a
concentração costeira, interiorização meteórica e o retorno à concentração costeira, gerando
também o nascimento agrícola-mineração-renascimento-agrícola, porém, a repartição dos
aparelhos de Estado a Fonte de poder é quem determina a fixação dos limites e dimensão real
do território colonial. A análise a partir das determinações internas, realçando a estrutura de
relações de classe e poder dos detentores da terra, que permite a revelação da natureza mais
ampla do processo, a dimensão mais global do arranjo do espaço da formação espacial
colonial-escravista, uma vez que ela transporta o desenho do arranjo espacial econômico-
demográfico para o nível do arranjo jurídico-político.

Compreendido desse modo, o espaço colonial-escravista revela uma face de entendimento


diferente daquela da versão corrente, com a determinação do caráter exortador, o espaço
brasileiro, constitui-se de espaço arquipélago, com o objetivo de exportação estabelece laços
de relação das regiões exclusivos com o exterior, implicando inexistência com laços internos,
o açúcar implica com o estabelecimento de um todo de relações de reprodução que irá se
limitar ao contexto específico de plantation. No final do século XVII, encontramos na
totalidade espacial da formação social brasileira cinco macroformas: o espaço agrícola, o
espaço pastoril, espaço extrativo-vegetal e espaço urbano, o trabalho escravo e o caráter
exportador são relações gerais que dão conformidade unitária ao conjunto de recortes desse
espaço. A acumulação primitiva está em curso, e as colônias tem uma estrutura de relações de
produção, interna, cola com uma esfera de circulação e externa e subordinante. É na
plantation, que se desenrolam relações que a exceção do período da mineração, polarizam as
atenções da Coroa e do capital mercantil, a localização é necessariamente litorânea, onde há
núcleos densos e descontínuos, a localização dos engenhos se dá por três exigências terras
férteis, água e lenha.

A plantation é menos evidente que na pecuária e na mineração, porém isto não importa tanto
porque a força da classe dominante não vem da terra, mais do número de escravos que o
senhor possui. O fim do ciclo de mineração e o retorno à economia de agroexportação através
do ciclo de café de um lado devolve a formação espacial aos processos e formas de arranjo do
plantacionismo, de outro deixa claramente exposto os seus limites de uma estrutura fundante
de uma nação, o período de sobrevida plantocionista rearruma a tempo que reafirma o arranjo
da pluralidade das formas da formação espacial assenta nos três primeiros séculos do período
colonial, declarando essa pluralidade a base de erguimento do Estado-Nação que substitui o
estado colonial português.

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