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Pela Lei 9.605/98, os peritos oficiais devem valorar o dano ambiental. A falta de
padronização e a subjetividade de métodos levam a contestações e baixa aceitação
desses valores pelos operadores do direito. Analisam-se criticamente três métodos
de valoração.
INTRODUÇÃO
O conceito de desenvolvimento sustentável tem seu embrião no pensamento de
Ignacy Sachs, que defendia a possibilidade de conciliação entre o desenvolvimento
econômico e a preservação da qualidade ambiental. A grande maioria dos países
representados pela Organização das Nações Unidas – ONU – produziram instrumentos
internos de persecução dos objetivos da política internacional de Desenvolvimento
Sustentável.
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A Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.695/98) surge como mais uma ferramenta nacional
para a persecução dos objetivos do conceito globalizado de Desenvolvimento
Sustentável, encarado não só como um objeto de discussões acadêmicas, mas
principalmente como uma política mundial.
Ainda assim, não existe na criminalística, em sua parte voltada às infrações penais
ambientais, uma metodológica padronizada para o cálculo do montante do prejuízo.
Por essa razão, frequentemente, os profissionais da criminalística buscam em outras
áreas do conhecimento – como na contabilidade ambiental ou na economia ambiental
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OBJETIVO
O objetivo do presente estudo é realizar uma análise acerca do trabalho dos órgãos
de Polícia Técnico-Científica no que se refere à valoração do dano ambiental como
método de cálculo do montante do prejuízo causado, de acordo com o preconizado
pela Lei de Crimes Ambientais. Principalmente no contexto da valoração ambiental
como campo profissional, investigando a existência de metodologias padrão na
valoração dos danos ambientais ou as dificuldades para o estabelecimento de uma
metodologia comum aplicável em todo território nacional ou, ao menos, no âmbito das
instituições de Polícia Judiciária dos estados e da Federação.
Neste raciocínio, uma área qualquer que tenha sido palco de extração mineral –
atividade extremamente danosa ao meio ambiente – seria analisada unicamente pela
quantidade de minério extraída. Ignorar-se-ia que a retirada da cobertura vegetal e o
afugentamento da fauna endêmica comprometem visceralmente o ecossistema local.
Ainda seria ignorada a incapacidade de muitos ambientes prístinos retornarem aos
estados originais após uma intervenção humana. Ignorar então a singularidade desses
ambientes impede que se valore por completo a atividade danosa.
Por outro lado, a extrema simplicidade desta técnica tem como ponto positivo a
fácil assimilação e quantificação dos valores sobre os quais se concentra a avaliação.
Ou seja, é, para os profissionais alheios às técnicas de valoração ambiental ou de
conservação ambiental, uma atividade relativamente mais descomplicada de se
entender.
A técnica pressupõe que o local a ser examinado possui um valor global, que é
constituído por dois valores componentes: o Valor Inicial e o Valor Cênico – também
conhecido como Valor de Singularidade. Assim, para se determinar o valor de uma
determinada área, devemos considerar seu valor inicial associado à singularidade que
ele representa.
valor, da valoração dos bens totais ali presentes, adicionados às benfeitorias realizadas
por particulares, ou mesmo pelo Poder Público.[1]
esfera de compreensão dos operadores do Direito. Desta forma, cria-se maior espaço
para contestações e elucubrações desnecessárias utilizadas como forma de atribuir
descrédito ao trabalho dos profissionais da criminalística. Fato que é ainda amplificado
pela existência de considerações subjetivas relativas aos fatores corretivos aplicados
para a aquisição do Valor Cênico ou de Singularidade.
Por fim, ainda que se considera-se a metodologia como a mais adequada para a
valoração ambiental – como veremos que não é a realidade – ainda ter-se-ia que
encarar as limitações que esta técnica tem de ter sido desenvolvida com base na
valoração imobiliária. Enquadra-se, pois, apenas em uma diminuta parcela dos casos
envolvendo infrações penais ambientais.
Considera-se ainda que para a avaliação dos danos causado ao meio ambiente é
necessário considerar os custos relativos à restauração da área pois estes guardam
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Ainda, há que se considerar que os diversos usos a que podem se destinar o espaço
físico tornam as respectivas área de maior ou menos importância estratégica para a
conservação da qualidade ambiental. Assim, esta variação não pode ser ignorada no
estabelecimento do valor atribuído ao dano.
Para equacionar este problema, a equipe de peritos criminais sugeriu que os valores
atribuídos à recuperação objetiva da área sofressem alterações atribuídas tanto à
destinação que o Plano Diretor de Ocupação e Ordenamento Territorial (PDOT) ou o
Plano Diretor atribuam à área alvo dos exames, tanto quanto para o tratamento legal –
entendendo-se como tal a eventual inclusão da área em alguma categoria de Unidade
de Conservação ou em Área de Preservação Permanente. Desta forma, para se calcular o
valor total dos danos ambientais, deve-se multiplicar o valor monetário da recuperação
objetivamente pelo valor atribuído em tabelas pré-estabelecidas[3] aos locais
examinados.
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Este método tem grande valia por apresentar menor grau de subjetividade na
formação do valor final do dano ambiental, tornando maior a sua aceitação pelos
operadores do Direito a fim de aplicação do método ao caso concreto. Reduzindo-se a
parcela de subjetividade associada à técnica, temos ainda uma maior
proporcionalidade nas realizações de estudos em diferentes áreas, garantindo assim
maior justiça aos réus, que não ficam sujeitos às variações do humor do agente público.
Por fim, pela primeira vez em se tratando de valoração ambiental para fins de
instrução criminal, propõe-se um método de valoração que tem seu foco
especificamente voltado para o dano ambiental ao invés de valorar o meio ambiente
existente anteriormente à ocorrência do sinistro.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Apresentados três métodos de valoração ambiental e tecidas considerações a
cerca de cada um deles, é possível notar que todos apresentam pontos positivos e
pontos indesejáveis. É possível separar ao menos três categorias de atributos inerentes
aos métodos em tela: o grau de subjetividade inerente à aplicação da metodologia, a
amplitude de situações às quais é possível a aplicação da técnica e, por fim, o grau de
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confiabilidade dos resultados gerados pelo método junto aos operadores do Direito e
agentes envolvidos com a aplicação da justiça.
Outro ponto positivo deste método é o fato de trabalhar com valores bem
objetivos e de fácil entendimento e mensuração, possibilitando a todos os envolvidos
no processo o acompanhamento dos fatores que geraram o resultado da perícia
técnica.
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pelo Plano Diretor local. Por outro lado, esse método desenvolvido para a avaliação de
áreas que sofreram extração mineral, contudo, seus princípios podem ser facilmente
adaptados a situações diversas, como desmatamentos ou mesmo comércio ilegal de
animais, o que torna a técnica de grande valor para a justiça e seus órgãos associados.
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[2] Isto pois considera-se apenas os dados e valores objetivos de retorno da área
ao padrão indicado pelo órgão ambiental. Contabilizam-se serviços e custos diretos a
serem empregados, como o número de mudas a serem plantadas ou a área de
construção a ser demolida.
Assuntos relacionados
Direito Penal Direito Processual Penal Direito Ambiental
Sobre o autor
Marcos Patrício Macedo
Biólogo formado pela Universidade de Brasília, também é perito em
criminalística formado pela Academia de Polícia Civil de Minas Gerais e
investigador criminal formado pela Academia de pela Polícia Civil do
Distrito Federal. Tem especialização em Direito Ambiental pela PUC-MG, em
Investigação Criminal pela Universidade Católica de Brasilia , e é Mestre em
Biologia Animal pela Universidade de Brasília. Doutorando em Ecologia pela
Universidade de Brasília. Foi Professor, Perito Criminal, e, atualmente é
Agente de Polícia lotado no Instituto de Criminalística - PCDF.
MACEDO, Marcos Patrício. Métodos para a valoração do dano ambiental (Lei Federal 9.605,
artigo 19).: O trabalho da polícia técnico-científica e sua receptividade pelos operadores do
direito. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 21, n. 4856, 17 out. 2016. Disponível
em: https://jus.com.br/artigos/52354. Acesso em: 8 jun. 2023.
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