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Métodos para a valoração do dano


ambiental (Lei Federal 9.605, artigo 19).
O trabalho da polícia técnico-científica e sua receptividade pelos
operadores do direito
Marcos Patrício Macedo 17/10/2016 às 12:55

Pela Lei 9.605/98, os peritos oficiais devem valorar o dano ambiental. A falta de
padronização e a subjetividade de métodos levam a contestações e baixa aceitação
desses valores pelos operadores do direito. Analisam-se criticamente três métodos
de valoração.

INTRODUÇÃO
O conceito de desenvolvimento sustentável tem seu embrião no pensamento de
Ignacy Sachs, que defendia a possibilidade de conciliação entre o desenvolvimento
econômico e a preservação da qualidade ambiental. A grande maioria dos países
representados pela Organização das Nações Unidas – ONU – produziram instrumentos
internos de persecução dos objetivos da política internacional de Desenvolvimento
Sustentável.

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A Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.695/98) surge como mais uma ferramenta nacional
para a persecução dos objetivos do conceito globalizado de Desenvolvimento
Sustentável, encarado não só como um objeto de discussões acadêmicas, mas
principalmente como uma política mundial.

Deixada de lado a polêmica levantada quanto à responsabilização penal da pessoa


jurídica no direito pátrio, a Lei de Crimes Ambientais foi importante passo dado pelo
Estado brasileiro a fim de garantir a preservação da qualidade do meio ambiente e dos
recursos naturais.

A Lei de Crimes Ambientais prevê em seu artigo dezenove a valoração do dano


ambiental para a instrução processual penal, mormente para o cálculo de eventual multa
ou fiança. Tal dispositivo tem maior utilidade do que está expresso na lei, alcançando
maiores benefícios do que o previsto pelo legislador. A perícia, ao calcular o montante
do prejuízo causado pelo infrator e expressá-lo em moeda corrente ou qualquer valor
de maior familiaridade dos operadores do direito, torna o entendimento desses últimos
consideravelmente mais amplo a respeito da matéria. É forma de traduzir para
linguagem cotidiana a importância do bem afetado e a magnitude do dano que leva à
lide penal.

Dada a complexidade do tema – meio ambiente –, é tormentosa a tarefa de


determinar as reais extensões do dano, mesmo aos profissionais da área. Conceitos
complexos se correlacionam produzindo efeitos sinergéticos ou de abrandamento
levando a resultados de difícil interpretação e alvo de discordância mesmo entre
experts da área.

A valoração ambiental, contudo, não se resume à atuação criminal da justiça. Esta é


uma pequena parcela do campo de atuação dos profissionais que se dedicão à
valoração ambiental.

Ainda assim, não existe na criminalística, em sua parte voltada às infrações penais
ambientais, uma metodológica padronizada para o cálculo do montante do prejuízo.
Por essa razão,  frequentemente, os profissionais da criminalística buscam em outras
áreas do conhecimento – como na contabilidade ambiental ou na economia ambiental
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– instrumentos, sejam conceituais ou técnicos, que os auxiliem na tarefa de atribuir valor


aos recursos ambientais, gerando possibilidades e subsídios para o processo decisório
na esfera ambiental.

A existência de diversas técnicas, cada uma com suas vantagens e deficiências,


torna ainda mais árduo o papel dos operadores do direto que muitas vezes se deparam
com discussões sobre as quais têm pouco ou nenhum domínio, ficando a mercê de
profissionais de índole questionável. Resta, assim, prejudicada a eficácia deste
dispositivo legal vez que, alvo de muitas críticas é deixado de lado, tido como
inaplicável por alguns magistrados na apreciação do caso concreto. 

OBJETIVO
O objetivo do presente estudo é realizar uma análise acerca do trabalho dos órgãos
de Polícia Técnico-Científica no que se refere à valoração do dano ambiental como
método de cálculo do montante do prejuízo causado, de acordo com o preconizado
pela Lei de Crimes Ambientais. Principalmente no contexto da valoração ambiental
como campo profissional, investigando a existência de metodologias padrão na
valoração dos danos ambientais ou as dificuldades para o estabelecimento de uma
metodologia comum aplicável em todo território nacional ou, ao menos, no âmbito das
instituições de Polícia Judiciária dos estados e da Federação.

MÉTODOS DE VALORAÇÃO DO DANO AMBIENTAL


Valoração do dano por meio dos bens afetados pela ação:
O primeiro método de valoração do dano ambiental a ser analisado é o
apresentado na obra de Raggi e Moraes, Perícias Ambientais – Solução de Controvérsias
e Estudos de Casos – Ed. Qualitymark 2005.

Na obra, os autores analisam o trabalho pericial realizado em um prédio residencial


desmoronado no município de Belo Horizonte no ano de 1979. Entre dezembro de 1978
e fevereiro de 1979, houve um prolongado período de chuvas acarretando em sérios
danos materiais a diversos edifícios em Belo Horizonte. Entre estes, o Edifício Leonardo
não resistiu ao enorme volume de solo deslizante e teve sua estrutura abalada,
resultando na queda dos blocos de fundo.

No caso, realizou-se avaliação e conclusão dos danos, em perícia judicial, sendo um


dos quesitos respondidos pelos peritos o seguinte: “Qual o montante dos prejuízos
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sofridos pelos condôminos e pelo condomínio em conseqüência do(s)


desabamento(s)? Queiram os senhores peritos exprimir o total de danos também em
UPC (Unidade Padrão de Capital)”.

Evidentemente, não de trata de valoração ambiental nos termos do art. 19 da Lei de


Crimes Ambientais, contudo, é possível observar uma preocupação em se valorar o
prejuízo causado pela ocorrência do sinistro.

Em resposta ao quesito elaborado pelo magistrado, os peritos anotaram o valor


individual de cada apartamento – estipulado em ser equivalente a R$ 70.000,00
(setenta mil reais) – e determinaram o número de apartamentos atingidos pelo sinistro –
44 (quarenta e quatro ao total). Dessa forma, a multiplicação dos valores leva ao valor
final calculado para o dano.

Ainda hoje, muitos profissionais do direito optam por valorações de danos


ambientais que seguem o mesmo principio adotado pelo magistrado do caso em
questão. Quando deparados com alguma ação que cause degradação e dano
ambiental, tais profissionais optam por inquirir aos peritos, sejam eles criminais ou
judiciais, o valor monetário real do bem físico afetado pelo dano e não pela valoração
do meio ambiente. Assim, em uma área que tenha sofrido desmatamento valora-se o
dano ambiental infligido por meio da contagem da quantidade de madeira retirada e
pela atribuição do valor de mercado ao material lenhoso analisado.

Esta técnica é extremamente simplista e denota uma visão unicamente utilitarista do


meio ambiente, não considerando seus aspectos ecológicos de interdependência dos
diversos elementos ecológicos – bióticos e abióticos – tendo assim uma grande
desvantagem associada.

Neste raciocínio, uma área qualquer que tenha sido palco de extração mineral –
atividade extremamente danosa ao meio ambiente – seria analisada unicamente pela
quantidade de minério extraída. Ignorar-se-ia que a retirada da cobertura vegetal e o
afugentamento da fauna endêmica comprometem visceralmente o ecossistema local.
Ainda seria ignorada a incapacidade de muitos ambientes prístinos retornarem aos
estados originais após uma intervenção humana. Ignorar então a singularidade desses
ambientes impede que se valore por completo a atividade danosa.

Outra desvantagem da técnica apresentada, de se calcular o valor dos danos pelo


valor de uso dos objetos danificados ou extraídos apenas, e não levando em
consideração toda a potencialidade de uma determinada área. Ou seja, em caso de
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extração de mineral do subsolo de uma determinada área, tende-se a desconsiderar o


valor da flora que o recobre – até mesmo o valor utilitarista. Da mesma forma, quando se
depara com um caso de desmatamento, considerar-se-ia apenas o valora do montante
de material lenhoso extraído e não se levaria em consideração que tais árvores servem
de habitat para espécies da fauna ou mesmo prestam serviços ambientais, como a
regulação do nível dos corpos d’água ou o  a proteção natural contra a erosão do solo.

Por outro lado, a extrema simplicidade desta técnica tem como ponto positivo a
fácil assimilação e quantificação dos valores sobre os quais se concentra a avaliação.
Ou seja, é, para os profissionais alheios às técnicas de valoração ambiental ou de
conservação ambiental, uma atividade relativamente mais descomplicada de se
entender.

É, exemplificando o tema, mais fácil a um profissional do Direito associar os danos


ambientais e compreendê-los nessas  associações com bens comuns do dia-a-dia, ao
invés de assimilar novos conceitos de resiliência, interdependência ecológica ou dos
serviços ambientais.

Ressalte-se, contudo, que se trata de uma valoração superficial e conservadora,


que, apesar da fácil assimilação, não reflete de forma fidedigna a real extensão dos
danos.

Método da valoração global:


O método da valoração ambiental pelo valor global, descrito por Almeida, Panno e
Oliveira, na obra Perícia Ambiental, apresenta-se como uma alternativa, mais completa,
ao método analisado anteriormente.

Trata-se de avaliação desenvolvida inicialmente para estudos em caso de


indenizações originadas por ações desapropriatórias e que podem, com algumas
adaptações serem aplicadas à valoração do dano ambiental na esfera criminal.

A técnica pressupõe que o local a ser examinado possui um valor global, que é
constituído por dois valores componentes: o Valor Inicial e o Valor Cênico – também
conhecido como Valor de Singularidade. Assim, para se determinar o valor de uma
determinada área, devemos considerar seu valor inicial associado à singularidade que
ele representa.

O valor inicial é calculado apenas levando em consideração o valor da área em


questão. Trata-se simplesmente do valor imobiliário do local, ou mesmo, se de maior
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valor, da valoração dos bens totais ali presentes, adicionados às benfeitorias realizadas
por particulares, ou mesmo pelo Poder Público.[1]

Em seguida, calcula-se o valor cênico do objeto da avaliação, ou seja, seu valor de


singularidade. Este componente subdivide-se ainda em duas partes, que são o próprio
valor inicial do objeto e um coeficiente de raridade a ser calculado com base em sua
capacidade de atratividade e sua singularidade em três esferas, a municipal, a estadual e
a nacional – sendo consideradas como alternativas válidas as opções comum, raro e
exclusivo, para cada uma das esferas. Multiplica-se o valor inicial pelo coeficiente de
raridade.

Ao resultado do valor inicial multiplicado pelo coeficiente de raridade aplica-se


ainda um fator corretivo a ser calculado considerando-se a acessibilidade, a facilidade
de uso, a reputação turística e o visual paisagístico associados ao objeto da avaliação.
Tem-se assim o Valor Cênico do objeto analisado.

Esta metodologia estabelecida por Almeida e colaboradores, apresenta ainda


grande influência da metodologia analisada anteriormente, sendo caracterizada por
partir do valor do terreno estudado. Existe aí um traço marcante da concepção
utilitarista do meio ambiente, que orienta a metodologia descrita em primeiro
momento. Valem, ainda que parcialmente, as críticas reservadas a tal teoria também
neste caso, quais sejam se tratar de uma avaliação relativamente conservadora e
superficial, não refletindo com exatidão o valor ambiental do objeto dos estudos.

Ainda assim, se está diante de um grande avanço em relação à metodologia


apresentada anteriormente haja vista a inclusão de um importante fator na formação do
valor ambiental do objeto: o Valor Cênico ou de Singularidade.

É passo importante a inclusão da singularidade do bem na formação de seu valor


ambiental uma vez que represente o reconhecimento que existem falhas de mercado na
formação do preço de bens, principalmente os ambientais. Reconhece-se assim que o
valor de uma determinada área não é apenas a determinada pelo valor de troca dos
homens, mas que existem fatores outros que integram a formação do valor e que não
devem ser ignorados.

Contudo, trata-se de metodologia mais complexa e, ainda que não se obtenha um


valor real do foco da análise, um número maior de variáveis deve ser considerado. Isto
torna a metodologia mais complicada a profissionais que não atuem diretamente na
área. Torna-se, assim, o problema da valoração significativamente mais distante da
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esfera de compreensão dos operadores do Direito. Desta forma, cria-se maior espaço
para contestações e elucubrações desnecessárias utilizadas como forma de atribuir
descrédito ao trabalho dos profissionais da criminalística. Fato que é ainda amplificado
pela existência de considerações subjetivas relativas aos fatores corretivos aplicados
para a aquisição do Valor Cênico ou de Singularidade.

Por fim, ainda que se considera-se a metodologia como a mais adequada para a
valoração ambiental – como veremos que não é a realidade – ainda ter-se-ia que
encarar as limitações que esta técnica tem de ter sido desenvolvida com base na
valoração imobiliária. Enquadra-se, pois, apenas em uma diminuta parcela dos casos
envolvendo infrações penais ambientais.

Valoração dos danos baseada na recuperação ambiental


O terceiro método a ser analisado é o descrito por Rodrigo de Almeida no livro
Mineração e Áreas Degradadas no Cerrado, organizado por Studart e Baptista, em seu
capítulo seis (p. 105).

Almeida, ao apresentar seu trabalho demonstra clara preocupação em formular uma


metodologia que seja ao mesmo tempo simples, em suas aplicações e conceitos, e
estável – não apresentando grandes variações de resultados em casos semelhantes.
Nas palavras do perito criminal, “como podem os Peritos saírem dos conceitos gerais
para as reais estimativas das compensações exigidas pela Justiça e ao mesmo tempo,
apresentar valores idôneos e compreensíveis? ”. (STUDART & BAPTISTA, 2004).

Atento a essa problemática, o autor estabeleceu uma metodologia embasada em


algumas premissas consideradas pela equipe de profissionais da Polícia Civil do Distrito
Federal e apresentadas, resumidamente, a seguir.

Primeiramente, há degradação de uma área quando ocorre destruição, remoção ou


expulsão da vegetação nativa e da fauna, perda, remoção ou soterramento da camada
fértil do solo ou alteração da qualidade e do regime de águas e eólico.

Em segundo lugar, e à luz da lei, não há que se considerar como degradação ou


dano ao meio ambiente a alteração consentida pelo Estado, ainda que significativa,
desde que esteja o agente da alteração agindo dentro dos moldes pré-estabelecidos
pela legislação ou por órgão administrativo ambiental competente.

Considera-se ainda que para a avaliação dos danos causado ao meio ambiente é
necessário considerar os custos relativos à restauração da área pois estes guardam
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proporcionalidade óbvia com o dano causado. Consideram-se neste aspecto o custo


de remoção de obras civis, a recomposição da morfologia de solo, a reconstituição
paisagística da área examinada e a revegetação dos locais atingidos pelo sinistro
ambiental.

Assim, pode-se afirmar que a avaliação dos danos é proporcional ao custo de


restauração da área ao seu status quo ante. Isto não significa afirmar que a restauração
seja simples, até mesmo pois não é competência do perito criminal indicar a que
estado deve ser recuperado o objeto dos exames – tal tarefa cabe aos órgãos
ambientais competentes bem como às Casas Legislativas por meio de atos normativos
– seja na elaboração dos planos diretores ou da criação de unidade de conservação.

Até este ponto, a avaliação do dano ambiental é extremamente objetiva e de fácil


mensuração[2]. Surge, então, a necessidade de atribuir valores diferenciados às
diferentes áreas que desfrutem de tutela jurisdicional especial. Em outras palavras, não
seria razoável assumir que o desmatamento de uma área situada em terreno que não
goza de nenhum tipo de proteção especial representa dano da mesma magnitude do
que o desmate de uma área de iguais dimensões situada no interior de uma Unidade de
Conservação especialmente dedicada à preservação de uma espécie rara de planta.
Nem seria proporcional considerar que o tombamento de uma árvore em uma área
destinada ao desenvolvimento de atividade exclusivamente industrial teria o mesmo
valor que a retirada da mesma árvore de uma área destinada à proteção de mananciais e
à atividade recreativa da população.

Ainda, há que se considerar que os diversos usos a que podem se destinar o espaço
físico tornam as respectivas área de maior ou menos importância estratégica para a
conservação da qualidade ambiental. Assim, esta variação não pode ser ignorada no
estabelecimento do valor atribuído ao dano.

Para equacionar este problema, a equipe de peritos criminais sugeriu que os valores
atribuídos à recuperação objetiva da área sofressem alterações atribuídas tanto à
destinação que o Plano Diretor de Ocupação e Ordenamento Territorial (PDOT) ou o
Plano Diretor atribuam à área alvo dos exames, tanto quanto para o tratamento legal –
entendendo-se como tal a eventual inclusão da área em alguma categoria de Unidade
de Conservação ou em Área de Preservação Permanente. Desta forma, para se calcular o
valor total dos danos ambientais, deve-se multiplicar o valor monetário da recuperação
objetivamente pelo valor atribuído em tabelas pré-estabelecidas[3] aos locais
examinados.
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Este método tem grande valia por apresentar menor grau de subjetividade na
formação do valor final do dano ambiental, tornando maior a sua aceitação pelos
operadores do Direito a fim de aplicação do método ao caso concreto. Reduzindo-se a
parcela de subjetividade associada à técnica, temos ainda uma maior
proporcionalidade nas realizações de estudos em diferentes áreas, garantindo assim
maior justiça aos réus, que não ficam sujeitos às variações do humor do agente público.

  Outro importante fator associado a esse método é a clareza das ferramentas


aplicadas para a formação do valor final do dano ambiental. Excluindo-se a formação
dos multiplicadores atribuídos a cada item das tabelas mencionadas, os serviços e bens
elencados para a recuperação da área são claros e diretos, facilitando tanto a
compreensão das ferramentas utilizadas por parte do magistrado, quanto a discussão
dos dados obtidos e das medidas reparadoras indicadas por parte dos membros da
acusação – Ministério Público – e da defesa. Trata-se por conseqüência de tornar mais
próxima da plenitude a capacidade de se defender frente à acusação que da ensejo ao
processo penal.

  Por fim, pela primeira vez em se tratando de valoração ambiental para fins de
instrução criminal, propõe-se um método de valoração que tem seu foco
especificamente voltado para o dano ambiental ao invés de valorar o meio ambiente
existente anteriormente à ocorrência do sinistro.

Contudo, trata-se de metodologia desenvolvida para a mensuração de danos


relativos à atividade mineradora e, apesar de ser facilmente aplicável a casos de
desmatamento ou supressão vegetal em áreas protegidas, é inaplicável a certos tipos
de infrações penais ambientais, como o abate de animal ameaçado ou a pesca
predatória com uso de explosivos, por exemplo. Ainda assim, seus princípios podem ser
facilmente adaptados a tais casos, respeitadas as peculiaridades de cada tipo penal
ambiental.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Apresentados três métodos de valoração ambiental e tecidas considerações a
cerca de cada um deles, é possível notar que todos apresentam pontos positivos e
pontos indesejáveis. É possível separar ao menos três categorias de atributos inerentes
aos métodos em tela: o grau de subjetividade inerente à aplicação da metodologia, a
amplitude de situações às quais é possível a aplicação da técnica e, por fim, o grau de

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confiabilidade dos resultados gerados pelo método junto aos operadores do Direito e
agentes envolvidos com a aplicação da justiça.

A primeira das metodologias examinadas – da valoração pelos bens afetados –


possui como vantagem principal a grande simplicidade de sua aplicação e
entendimento por parte dos operadores do Direito pois associa bens de mensuração
ou concepção mais comuns à atividade lesiva. Contudo, por valorar apenas uma
amostra pontual das possibilidades e capacidades do meio ambiente, trata-se de
método extremamente conservador e sujeito a um alto grau de subjetividade,
exatamente no momento em que o avaliador elege o bem a ser valorado.

O método do valor global foi criado como alternativa à limitação de grande


conservadorismo da técnica anterior. Esse método se preocupa com a singularidade do
objeto da valoração ou sua situação espacial nas esferas nacional, estadual e municipal.
Possui nisto grande valor, contudo, ao incluir diversas variáveis, muitas delas com alto
grau de subjetividade, torna a metodologia de mais difícil compreensão pelas partes
envolvidas no processo, atribuindo-lhe maior descrédito. A escolha de variáveis sem a
indicação clara de parâmetros a serem mensurados aumenta a influência da convicção
íntima do profissional técnico a realizar a valoração.

Existe ainda a técnica da valoração por meio do custo de reparação do dano


causado. Esta metodologia tem a vantagem de ter sido elaborada pelo corpo de
peritos criminais da Seção de Engenharia Legal e Meio Ambiente da Polícia Civil do
Distrito Federal, sendo, portanto, desenhada a atender especificamente casos de
infrações penais sujeitas à investigação e processos de natureza criminal. Ao optar pode
valorar o dano ambiental ao invés de proceder com a avaliação do meio ambiente em
questão, o método torna-se mais adequado ao fim pregado pela Lei de Crimes
Ambientais, onerando a conduta criminosa com base na recuperação do meio
ambiente, uma das claras preocupações do legislador ao elaborar a lei 9.605/98.

Outro ponto positivo deste método é o fato de trabalhar com valores bem
objetivos e de fácil entendimento e mensuração, possibilitando a todos os envolvidos
no processo o acompanhamento dos fatores que geraram o resultado da perícia
técnica.

A metodologia em questão possui preocupação clara em dar proporcionalidade às


avaliações resultantes de sua aplicação, e o faz por meio da aplicação de tabelas
baseadas na proteção legal conferida à área examinada e à destinação a ela conferida

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pelo Plano Diretor local. Por outro lado, esse método desenvolvido para a avaliação de
áreas que sofreram extração mineral, contudo, seus princípios podem ser facilmente
adaptados a situações diversas, como desmatamentos ou mesmo comércio ilegal de
animais, o que torna a técnica de grande valor para a justiça e seus órgãos associados.

Percebe-se então que, apesar da grande complexidade do tema, é possível se


determinar metodologias de fácil assimilação para se tratar da valoração do dano
ambiental. Infelizmente, poucos são os profissionais da área que têm interesse no
assunto e isto faz com que a evolução natural das técnicas seja demasiadamente lenta.
Ainda assim, avanços significantes já podem ser percebidos. Há que se considerar ainda
que a Lei de Crimes Ambientais é relativamente nova, e fez nascer uma demanda até
então inexplorada. Frente a isso, é de se esperar que a quantidade e qualidade das
técnicas envolvidas na valoração do dano ambiental sobre significativa melhora,
exponencial, em sua qualidade e aplicabilidade.

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[1] Esta metodologia preocupa-se unicamente com a existência ou não de


benfeitorias, não se preocupando com a natureza e qualidade das mesmas. Ou seja, a
existência de benfeitorias é encarada, nesta metodologia, como uma variável
dicotômica.

[2] Isto pois considera-se apenas os dados e valores objetivos de retorno da área
ao padrão indicado pelo órgão ambiental. Contabilizam-se serviços e custos diretos a
serem empregados, como o número de mudas a serem plantadas ou a área de
construção a ser demolida.

[3] Tais tabelas se baseiam no grau de estruturação do ecossistema dos parâmetros


legais adotados e à possibilidade de alterações permitidas para tais áreas.

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Sobre o autor
Marcos Patrício Macedo
Biólogo formado pela Universidade de Brasília, também é perito em
criminalística formado pela Academia de Polícia Civil de Minas Gerais e
investigador criminal formado pela Academia de pela Polícia Civil do
Distrito Federal. Tem especialização em Direito Ambiental pela PUC-MG, em
Investigação Criminal pela Universidade Católica de Brasilia , e é Mestre em
Biologia Animal pela Universidade de Brasília. Doutorando em Ecologia pela
Universidade de Brasília. Foi Professor, Perito Criminal, e, atualmente é
Agente de Polícia lotado no Instituto de Criminalística - PCDF.

Como citar este texto (NBR 6023:2018 ABNT)


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MACEDO, Marcos Patrício. Métodos para a valoração do dano ambiental (Lei Federal 9.605,
artigo 19).: O trabalho da polícia técnico-científica e sua receptividade pelos operadores do
direito. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 21, n. 4856, 17 out. 2016. Disponível
em: https://jus.com.br/artigos/52354. Acesso em: 8 jun. 2023.

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