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Raízes

v.35, n.1, jan-jun /2015

A CRIMINALIZAÇÃO DO MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA


(MST): UM BALANÇO DA LITERATURA E O ESTUDO DO CASO POCINHOS (PB)

Gonzalo Adrian Rojas, Paula Oliveira Adissi


RESUMO
O objetivo deste artigo é fazer um balanço da literatura sobre a criminalização dos movimentos
sociais (MS) no Brasil, focalizando o caso do Movimento dos Sem Terra (MST) em Pocinhos
-Paraíba. Fazemos uma breve apresentação do caso, com base em documentos judiciais, decla-
rações das vítimas, da Ouvidoria da Polícia da Paraíba e entrevistas com membros do referido
movimento. Em seguida apresentamos uma revisão da literatura sobre criminalização dos mo-
vimentos sociais no Brasil, a partir de seis tópicos: a criminalização dos MS de modo geral; a
criminalização do MST; os meios de comunicação e o poder judiciário na criminalização dos
MS; a criminalização dos MS nas ciências sociais; a criminalização dos MS, a violência no cam-
po na Paraíba; e, finalmente, a criminalização e violência do MST na Paraíba.

Palavras-chave: Criminalização; Movimentos Sociais; MST.

THE CRIMINALIZATION OF LANDLESS WORKERS’ MOVEMENT (MST): A BIBLIO-


GRAPHICAL REVIEW AND CASE ANALYSIS OF POCINHOS (PARAIBA STATE, BRAZIL)

ABSTRACT
The purpose of this article is to make a bibliographical review on the criminalization of social
movements (SM) in Brazil taking specifically in account the case of the Landless Movement
(MST) in Pocinhos (Paraiba State, Brazil). We make a brief presentation of the case, based on
court documents, on statements of victims, on the Police Ombudsman’s Office of Paraiba and
on interviews with the MST members. Then we review the bibliography on criminalization of
social movements in Brazil presenting it under six topics: criminalization of social movements
in general; the criminalization of MST; media and judiciary in the criminalization of SM; the
criminalization of SM in social sciences; the criminalization of SM or rural violence in Paraíba
and finally criminalization and violence of the MST in Paraiba.

Keywords: Criminalization; Social Movements; MST.

Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), Professor de Ciência Política na Universidade Federal de
Campina Grande (UFCG). E-mail: gonzalorojas@usp.com.br
Jornalista pela Universidade Federal de Paraíba (UFPB), Doutoranda no Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais pela
Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). E-mail: paulaadissi@gmail.com

Raízes, v.35, n.1, jan-jun /2015


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O CASO POCINHOS NA PARAÍBA O grupo paramilitar foi acompanhado
durante todo o episódio da violência extrale-
Este relato tem como fonte principal as gal, pelo irmão da proprietária, o Sr. Constân-
entrevistas realizadas com seis integrantes do cio Magno Cavalcante, e em alguns momen-
MST, entre participantes e vítimas do Caso, tos também esteve a própria proprietária do
com o advogado de defesa dos trabalhadores imóvel, Maria do Rosário Magno Cavalcan-
e com a coordenadora estadual do movimen- te. Os homens encapuzados espancaram e tor-
to. Outras fontes, que ser viram de base para turaram durante cerca de cinco horas os se-
esse relato são os documentos judiciais do Ca- te membros do MST, entre os quais dois, que
so, e documentos da Ouvidoria Pública da Po- eram menores de idade.
licia Militar da Paraíba. As agressões ao sem-terra, foram de to-
O caso Pocinhos foi um caso particu- dos os tipos, socos, chutes, queimaduras, ata-
lar em comparação a processos de criminaliza- ques verbais e ameaças de morte para todos.
ção anteriores, levando em conta a história do Os homens mascarados incendiaram o car-
MST de mais de vinte anos de presença políti- ro de um militante do movimento que esta-
ca no estado. É particular pelo tipo de repres- va no local e despejou querosene nos corpos
são que passaram os trabalhadores rurais sem- dos sem-terra ameaçando queimá-los vivos.
terra, ao receberem ameaças de morte acom- Um dos sem-terra torturado é trancado num
panhadas por tortura e prisão. quarto, do que foi outrora a casa dos caseiros
da propriedade e, em seguida, atearam fogo
O caso ocorreu em 1º de maio de 2009,
no município de Pocinhos, no estado da Paraí- no interior da casa, no entanto, o membro do
ba. Neste dia, um grupo de 60 famílias, que vi- MST consegui escapar por uma janela.
viam principalmente na cidade de Pocinhos, fo- Em algum momento na madrugada
ram organizadas pelo MST para ocupar as mar- um veículo da Polícia Militar da Paraíba (PM)
gens de uma grande propriedade, a Fazenda chega ao local. Os trabalhadores torturados
Cabeça de Boi. Esta propriedade estava decre- reconhecem alguns desses policiais como os
tada pelo Governo Federal para desapropria- mesmos que estavam agredindo-os horas an-
ção para fins de reforma agrária, em decreto tes. Após a tortura e a tentativa de homicí-
de dezembro de 2008. Portanto, os líderes do dio, sete trabalhadores sem-terra são coloca-
MST, acreditaram que o acampamento, que ti- dos um sobre o outro no corredor do ônibus
nha como objetivo acelerar o processo de as- que tinha transportado as famílias para onde
sentamento de famílias na área, não sofreria re- iriam acampar. Ao serem deitados e empilha-
presálias nem do Estado nem dos proprietários. dos dentro do ônibus um dos homens enca-
Mas as coisas aconteceram de forma puzados joga mais querosene neles e ameaça
diferente. As famílias chegaram à área perto queima-los no interior do veículo.
das 22 horas e entraram na propriedade para O ônibus sai da fazenda pegando a BR
coletar lenha e água. Perto da meia-noite um 230 e a poucos metros da propriedade apa-
grupo de sete ativistas são surpreendidos por rece um veículo da Polícia Rodoviária Fede-
dois carros com vários homens encapuzados ral (PRF) e pede que o ônibus pare. Neste mo-
e fortemente armados. Estes homens chegam mento não há mais nenhum homem encapu-
atirando para os lados e para alto, e rendem zado, só homens com roupas da PM e outro
sete membros do MST. As famílias que mon- com roupas de polícia florestal. Os trabalha-
tavam acampamento fogem na escuridão, es- dores sem-terra agredidos são levados para
condendo-se no mato de xique-xique1 ou nas um posto da PRF, que era relativamente per-
grandes pedras da fazenda. to da fazenda. Lá são algemados uns aos ou-

1 Vegetação nativa da região do Curimataú, caracterizada por seus grandes espinhos. Muitas pessoas ficaram com várias parte do cor-
po perfurado pelos espinhos.
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tros em torno de um pilar e de um poste. Só algo invisível para a imprensa durante o perío-
então os sete são identificados, mas não os so- do inicial de cobertura da mídia. É importan-
licitam documentos. Os donos da proprieda- te ressaltar que precisamente nesses primeiros
de vão até lá e conversam com os policiais ro- dias temos o maior número de materiais jor-
doviários. Em seguida, os sete membros são nalísticos com foco sobre o caso. Será somen-
levados para a delegacia de Campina Grande. te após a intervenção de uma parte da socieda-
De lá, após declarações dos policiais e das viti- de civil para denunciar o presente caso, que a
mas, cinco são liberados e dois são presos em mídia local insere novas versões possíveis pa-
flagrante pelos crimes de apropriação de pro- ra o caso Pocinhos, mesmo mantendo o dis-
priedade alheia, incêndio e um deles também curso que criminaliza o MST e seus membros.
por posse ilegal de arma de fogo. Os dois mi- O fato que destacamos neste artigo é que du-
litantes são levados para a delegacia de polí- rante o tempo em que os dois trabalhadores
cia de Pocinhos, onde permanecem presos por sem-terra ficaram presos, a imprensa local pu-
três dias, e depois são transferidos para o pre- blicou 16 artigos sobre o caso, mas no dia em
sídio do Monte Santo em Campina Grande. que os membros do MST foram liberados foi
Após 35 dias de prisão é concedido aos publicado apenas uma única nota curta, ape-
trabalhadores rurais o direito de responder as nas em um dos jornais.
acusações em liberdade. Durante os dias de Os dois militantes responderam pro-
prisão, um conjunto de atividades de protes- cessos, até hoje não concluídos. Um deles que
to foram realizadas. Assentados e acampa- já sofria com problemas de saúde, após as tor-
dos, membros do MST, bloquearam vias fe- turas sofridas ficando ainda mais debilitado,
derais e estaduais no Estado, onde distribuí- falecendo em 2014. Ninguém foi punido pelas
ram panfletos denunciaram o que aconteceu e torturas aplicadas contra os sem-terra. Inter-
exigindo a libertação dos presos. Várias orga- namente a PM da Paraíba realizou investiga-
nizações da sociedade civil, como sindicatos, ções sobre as ações dos policiais militares, os
movimentos sociais, ONGs, instituições e co- guardas florestais e policiais civis no caso Po-
missões de direitos humanos, além de setores cinhos, que em nada resultou. A Fazenda Ca-
estudantis e da Igreja Católica, participaram beça de Boi foi expropriada em fevereiro de
de comitês para a libertação dos presos, atos e 2011 e transformada em assentamento da re-
documentos distribuídos para repudiar a ação forma agrária, onde hoje vivem 20 famílias. O
da Justiça e Polícia da Paraíba, e exigiram a li- assentamento foi nomeado de 1º de maio, em
bertação dos membros do MST. memória a luta e repressões sofridas na área.
Os quatro maiores jornais do estado (O
Norte, Jornal da Paraíba, Correio da Paraíba e
1. UM BREVE PANORAMA DA LITERATU-
Jornal da Borborema) deram cobertura ao ca-
RA SOBRE A CRIMINALIZAÇÃO DO MST
so em 17 artigos publicados nas suas páginas
a partir de 03 de maio até o dia da liberação,
em 5 de Junho de 2009. Os canais de televi- No Brasil, a questão da criminaliza-
são também deram cobertura para o caso sen- ção dos movimentos sociais tem sido estuda-
do transmitida a notícia nos três mais assisti- da principalmente nas áreas do direito e de co-
dos programas de notícias nas TVs Tambaú, municação social. Encontramos dissertações
Cabo Branco e Paraíba. de mestrado, teses de doutorado, monografias
A mídia local nos três primeiros dias de conclusão de cursos de graduação e algu-
do caso apenas divulgou as versões da polícia mas outras publicações sobre o assunto. Mas
e da dona da propriedade, não mencionando 80% desses trabalhos estão na área de direito.
em nenhum momento, por exemplo, o fato de A grande maioria destes estudos são
a área está decretada para desapropriação. A baseados em casos de criminalização dos mo-
ação ilegal do grupo “paramilitar” também é vimentos sociais no sul e sudeste do Brasil, es-
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pecialmente nos estados do Rio Grande do formas de criminalização, mas sim, salvaguar-
Sul (RS), Paraná (PR), São Paulo (SP) e Minas dando suas diferenças. Entendemos que a cri-
Gerais (MG). Não encontramos nenhum tra- minalização dos movimentos sociais tem a sua
balho em casos de criminalização dos movi- especificidade, uma vez que é a criminalização
mentos sociais ocorridos na região Nordeste de organizações populares, que tem formas de
do país. Mais de 90% desses estudos tem co- ação planejadas e coletivas. Os processos de
mo objeto principal, a criminalização do Mo- criminalização da pobreza em geral são dife-
vimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra rentes, estão instalados no meio da desordem
(MST). urbana, da miséria e da degradação humana,
ou sob os atos espontâneos de revolta e reivin-
dicação das camadas mais pobres. É importan-
2.1 Pesquisa geral sobre a criminalização dos
te verificarmos essa diferença, ainda que sutil,
movimentos sociais
para que possamos melhor caracterizar uma e
outra forma de criminalizar indivíduos e seto-
Na área do direito os estudos vão no res da classe trabalhadora.
sentido de, a partir das teorias criminológicas, Outra pesquisadora, entretanto, Da-
entender os casos de criminalização dos mo- niela Comin Martins, também na área de Di-
vimentos sociais. Estes estudos analisam vá- reito, estuda o processo de criminalização dos
rios processos contra militantes de movimen- trabalhadores rurais sem terra no município
tos sociais e teorias de rastreamento e análise de Quedas do Iguaçu, Paraná, diz que no cen-
sobre a natureza e a razão para essa evolução. tro do processo de criminalização do MST es-
Neste sentido, encontramos algumas diferen- tão os meios de comunicação, com todo o seu
ças entre os pesquisadores. poder para estigmatizar os setores e grupos
Para Maria Fernanda da Costa Vieira sociais. De modo que a Justiça agiria também
o processo de criminalização dos movimentos norteada por essa generalizada estigmatização
sociais está inserido em um contexto mais am- dos integrantes do MST.
plo, que é a criminalização da pobreza (Vieira, A autora parte da hipótese de que quan-
2005). Para essa pesquisadora o processo de to mais próximo a pessoa se sente do confli-
criminalização do MST se insere no processo to, maior a tendência e criminalizarem as con-
global de ampliação e fortalecimento do Esta- dutas dos sujeitos. Essa capacidade de aproxi-
do Penal, como forma de controle social sob mar as pessoas dos conflitos, e dos grupos in-
as camadas mais pobres da sociedade. No caso seridos nele, é feita através das mídias, através
do MST este tratamento se agravaria, por este de sua divulgação estereotipada e estigmatiza-
questionar a propriedade privada. da dos acontecimentos sociais que envolvem o
MST. Para essa autora o processo de criminali-
Entendemos que a criminalização ao MST zação tem uma origem maior na mídia que na
expressa essa conjuntura global de forta- própria Justiça (Martins C., 2007).
lecimento do Estado Penal, que necessi-
Nossa hipótese é diferente: nós enten-
ta impor freios, “cercas” aos que lhe são
avessos, embora não tenhamos perdido de demos que há uma complementaridade entre
vista que há um agravante no que se refere as instituições (mídia, Estado) e as ações ex-
ao MST, pois este provoca na raiz, um di- tralegais das classes dominantes no campo.
reito intocável, absoluto, na ótica burgue- Portanto neste sentido dizer que a criminali-
sa: a propriedade. (Vieira, 2005, s/p). zação emana de uma estigmatização propaga-
da pelos meios de comunicação é fragmentar e
Neste sentido acreditamos que é pos- paralisar o entendimento sobre o processo de
sível localizar a criminalização do MST den- criminalização do MST. A mídia cumpre sua
tro das formas mais gerais de criminalização função dentro do processo dinâmico da cri-
dos pobres, mas não homogeneizando estas minalização dos movimento sociais, mas vê-la
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como centro disso é limitar a análise e deixar tado usa diante dos movimentos sociais (Via-
de fora importantes sujeitos do processo. na, 2005).
Uma terceira forma que encontramos Esse debate sobre o conceito de cri-
de entendimento sobre o processo de crimi- minalização e repressão (ou violência) apare-
nalização aos movimentos sociais foi o fato de ce na discussão entre os autores Sauer e Aton
ser esta uma ação política das classes domi- Fon Filho. Sauer, em capítulo dedicado a cri-
nantes brasileiras de coibir as lutas populares. minalização dos movimentos sociais no inte-
Para esses pesquisadores do serviço social Bru- rior do seu livro Terra e modernidade: a rein-
no Bruziguessi e Cristina Simões Bezerra a cri- venção do campo brasileiro faz uma diferen-
minalização dos movimentos sociais é um fato ciação entre violência e criminalização. Crimi-
histórico que se insere na formação socioeco- nalizar seria o fato de “fazer pessoas e ações
nômica da sociedade capitalista. serem vistas e julgadas (pela opinião pública e
pelos órgãos estatais) como criminosas, ou se-
No que se refere especificamente ao caso ja, como ações realizadas a margem da lei e da
brasileiro, a criminalização tem um apor- ordem” (Sauer, 2010, p. 124,). Para este autor
te histórico, não só voltada para os sujeitos a criminalização se concentra no campo exclu-
penalizados individualmente, mas também sivamente ideológico, no campo discursivo da
às suas formas de organização política. mídia e da justiça.
Neste sentido, ao longo de todo o proces-
so de desenvolvimento das relações capita- No artigo intitulado Criminalização
listas no país, as organizações da socieda- dos movimentos sociais: democracia e repres-
de civil se mostraram como grandes amea- são dos direitos humanos, publicado no livro
ças a ordem estabelecida e foram conside- Criminalização dos protestos e movimentos
radas perigosas, do ponto de vista do Esta- sociais, Fon Filho traz um conceito diferente
do, para todo o resto da população. (Bru- de criminalização dos movimentos sociais. A
ziguessi e Bezerra, 2010, p. 51).
criminalização, para ele, inclui todas as for-
mas de repressão e violência contra as orga-
Essa percepção tem como pano de fun- nizações populares. Para o autor “a crimina-
do, e é diferente das analises anteriores, a ideia lização é um conjunto de formas repressivas,
que o Estado age sob interesse das classes do- sejam elas apenas ideológicas ou violentas/re-
minantes. As análises anteriores apesar de ca- pressivas” (Fon Filho, 2008).
racterizar o Estado de Direito como agente da
No estudo do caso Pocinhos, de acor-
criminalização do MST, com objetivo de fazer
do com nossa hipótese, é impossível dissociar
controle social sob as camadas mais pobres,
a criminalização da violência, porque a violên-
forma essa que se baseia na ampliação do Esta-
cia sofrida pelos trabalhadores sem terra es-
do Penal, em ambos os estudos fica a impres-
teve intimamente ligada a própria criminali-
são de que isso é um fato conjuntural, ou é a
zação legal e ideológica também sofridas por
imprensa que induz a Justiça a criminalizar os
eles. Assim, a definição de Fon Filho ajuda a
movimentos sociais.
entender o caso Pocinhos, tornando a sepa-
No que se refere especificamente ao ração tomada por Sauer arbitrária. Situações
conceito de criminalização é notável que o exemplares de criminalização dos movimen-
conceito, como vem sendo utilizado, se res- tos sociais serão mencionados a seguir.
tringe as ações institucionais do Estado e a co-
bertura jornalística das mídias e sua caracte-
rização quanto ao MST. Alguns autores am- 2.2 a investigação sobre casos esPecíficos de
pliam o conceito de criminalização inserin- criminalização dos movimentos sociais
do-o no de estigmatizacão (Foscarini, s/d), ou
ainda apontam o conceito de repressão co- O trabalho monográfico para conclu-
mo mais uma forma de tratamento que o Es- são do curso de graduação em Direito, intitu-
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lado Relatos do inimigo no campo: A Crimina- leira, em particular, estava em algum momen-
lização dos movimentos sociais no Rio Gran- to comprometido com as questões sociais le-
de do Sul (2006-2010) de Efendy Emiliano vantadas pelos movimentos sociais.
Maldonado Bravo, traz amplos aspectos entre Outras duas importantes pesquisas, in-
teóricos e empíricos do processo de crimina- clusive já citadas nesse artigo, são das profes-
lização no estado do Rio Grande do Sul (RS). soras de ciências jurídicas, Fernanda Maria da
Centralmente com base na teoria de Michel Costa Vieira e Daniele Comim Martins, am-
Foucault, o autor faz um estudo a partir dos bas das áreas de sociologia do Direito. As pes-
processos judiciais criminalizantes contra in- quisas são: Presos em nome da Lei? Estado Pe-
tegrantes do MST. Centralmente com base na nal e criminalização do MST (Vieira, s/d) e A
teoria de Michel Foucault, o autor estuda pro- criminalização dos movimentos sociais e a lu-
cessos judiciais que criminalizam os integran- ta por terras no interior do Paraná – o caso de
tes do MST. Quedas do Iguaçu (Martins, 2007).
Nesta pesquisa o autor estuda em espe- Viera estuda as ações do Ministério Pú-
cial as ações do Ministério Público gaúcho e blico do Rio Grande do Sul contra o MST, as
da Brigada Militar Estadual quanto a um rela-
mesmas que analisa Bravo. E como já foi di-
tório sigiloso entre estas duas instituições que
to, estuda a criminalização do MST a partir de
em seguida resultou no mandato de dissolu-
um contexto de ampliação do Estado Penal e
ção do MST. Essa medida em seguida foi ex-
de criminalização da pobreza ou o “encarcera-
cluída dos laudos. A outra ação estudada por
mento dos miseráveis” como se refere a pes-
ele foi a medida que criminalizou oito traba-
quisadora. Ela acredita que o Estado de bem
lhadores sem terra também no RS baseado na
estar social por estar vivendo uma crise, ado-
Lei de Segurança Nacional2.
ta a política do aprisionamento das camadas
A pesquisa contém uma rica análise ju- consideradas “perigosas”.
rídica dos processos de criminalização de tra-
C. Martins, por sua vez, faz um estu-
balhadores sem terra, chegando o autor a in-
do de caso sobre a criminalização do MST na
dicar os erros e a inconstitucionalidades dos
província do Paraná, mais especificamente na
processos contra o MST no RS. Mas quanto
cidade de Quedas do Iguaçu. A pesquisadora
a visão sobre o Estado faço a mesma crítica
a partir de dados empíricos de processos judi-
já apresentada a outras autoras, ele verifica os
maus procedimento jurídicos, as falhas e irre- ciais contra os membros dos trabalhadores do
gularidades nos laudos dos processos contra o MST confrontados com teorias da criminolo-
MST, e afirma que isso se dá ao fato do Esta- gia no quadro das teorias do direito. Com a
do de Direito estar se afastando das causas so- pesquisa conclui que o Estado e as suas agên-
ciais. Nós não estamos dizendo que não há re- cias e os interesses econômicos, constroem
levância no conhecimento das violações cons- uma aura de estigmatização em torno dos in-
titucionais de processos de criminalização dos tegrantes do MST, e a mídia perpetua e expan-
movimentos sociais, mas parece conter uma de a “estigmatização criminal” do MST.
fraqueza fundamentalmente teórica no sen- A dissertação de mestrado de Flávio
tido da interpretação da regra do direito ao Bortolozzi Júnior, no curso de pós-graduação
considerar que, desta forma o Estado estaria em Direito da Universidade Federal do Para-
se afastando de demandas sociais. Ela mistifi- ná, estuda a criminalização do MST e sua lu-
ca o Estado a crer que o Estado capitalista em ta contra-hegemônica. A pesquisa intitulada,
termos conceituais em geral e do Estado capi- A criminalização dos movimentos sociais co-
talista na formação econômica e social brasi- mo obstáculo à consolidação dos direitos fun-

2 Lei instituída durante a ditadura militar que prevê punição dos que agiram individualmente ou em grupo contra o Estado
Democrático de Direito. Foi através dessa Lei que a maioria das prisões e perseguições a militantes políticos que lutavam con-
tra a ditadura foram decretadas judicialmente.
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damentais (Bortolozzi, 2008). O autor busca Os dois artigos de Leandro Gaspar Sca-
compreender a criminalização do MST fazen- 3
labrin , O crime de ser MST (Scalabrin, 2008)
do um panorama histórico sobre o desenvolvi- e Estado de exceção no Rio Grande do Sul e a
mento da propriedade privada e dos conflitos criminalização do MST (Scalabrin, 2009), tra-
no campo, no Brasil e na América Latina. Es- zem importantes análises sobre casos de cri-
pecificamente sobre a criminalização dos mo- minalização do MST no estado do Rio Gran-
vimentos sociais o autor diz que o Direito Pe- de do Sul. Os principais acontecimentos estu-
nal é utilizado de forma equivocada pelo Es- dados foram: a aplicação da Lei de Segurança
tado para resolução de problemas que são so- Nacional contra oito trabalhadores sem terra
ciais e não penais. que restringiam seus direitos legais como ci-
dadãos comuns; a ação conjunta entre Policia
A criminalização dos movimentos sociais Militar, Policia Federal, Policia Civil, Corpo
pelo Direito Penal como instrumento do de Bombeiros e Polícia Rodoviária Estadual
Poder, que se utiliza de categorias legais
para dissolver o XXIV Congresso Estadual do
abstratas para enquadrar as ações políti-
cas de grupos organizados em tipos pe- MST (RS) em 2008. A sua análise jurídica so-
nais e, assim, legitimar e autorizar o em- bre estes e outros casos, conclui que a Justiça
prego do monopólio da força, representa usa métodos e argumentos jurídicos da dita-
a estratégia da ideologia hegemônica para dura militar para criminalizar o MST nos dias
a manutenção das condições materiais de- de hoje no RS.
siguais de existência, através da institucio-
nalização da violência e do Direito Penal
não como política criminal, mas como po- 2.3 os meios de comunicação e o sistema judi-
lítica equivocada de resolução dos proble- ciário na criminalização dos movimentos sociais
mas sociais. (Bortolozzi, 2008, p. 58-59)

Aspectos interessantes dessa pesquisa Dois estudos, ainda das ciências jurídi-
são as abordagens sobre as premissas ideológi- cas me chamaram a atenção por estudarem a
cas do sistema penal e a caracterização da mí- relação entre a mídia e a criminalização dos
dia como instituição de controle social infor- movimentos sociais. Um primeiro de Cristia-
mal e o Estado Penal como de controle social ne de Souza Reis, Por trás dos bastidores da
formal. Isso nos ajuda, por exemplo, na análi- mídia (REIS, 2004), e O discurso midiático
se de documentos legais do caso Pocinhos. nos meandros da Criminalização: contempo-
Outro artigo importante para nossa in- raneidade e movimentos Sociais de Léia Ta-
vestigação foi o citado Coerção e consenso: os tiana Foscarini (s/d). Ambos os estudos afir-
fundamentos da criminalização dos movimen- mam que a mídia reforça a criminalização ofi-
tos sociais no Brasil, dos pesquisadores Bruno cial das instituições do Estado contra os mo-
Bruziguessi e Cristina Simões Bezerra. Através vimentos sociais, e em ambos também se en-
de uma abordagem gramsciana, o caminho contra a análise de que há um caminho de vol-
teórico feito pelos autores é de primeiro ca- ta, que a mídia também incita a criminaliza-
racterizar o desenvolvimento do Estado na so- ção. Chegando a mídia interferir ou fomentar
ciedade capitalista, em seguida analisam a so- os procedimentos jurídicos de criminalização
ciedade civil e sua complexidade diante dos de grupos, e pessoas através da esteriotipação
instrumentos de coerção/consenso no esforço e estigmatização de setores sociais vistos como
das classes dominantes de manter sua domina- perigosos. De modo que a mídia também cria-
ção político-econômica sob as classes oprimi- ria a figura de quem é criminoso para a socie-
das (Bruziguessi e Bezerra, 2010). dade em geral e até para a própria justiça em

3 Advogado do MST e militante de organizações de direitos humanos. Publica muitos artigos em revistas acadêmicas e de or-
ganizações de direitos humanos sobre criminalização dos movimentos sociais e direitos humanos.
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particular, aí estariam incluídos os integran- tos sociais terem como principal base oficial
tes do MST. o tratamento, por parte da Justiça, dos pro-
Os dois estudos chegam a conclusões testos e reivindicações populares tratados co-
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semelhantes, diferem apenas em relação aos mo crimes comuns , esse tratamento é um tra-
procedimentos teóricos e metodológicos. Reis tamento acima de tudo político, mas travesti-
faz uma análise partindo das teorias sobre cri- do ideologicamente como um tratamento ju-
minalidade e criminalização, quem é crimino- rídico legal baseado na lei criminal. Mesmo
so, e o que é crime. Para em seguida afirmar a que nos laudos e argumentos jurídicos os tra-
partir de teorias sobre o tema, que o crime ou balhadores sem terra criminalizados no Caso
o criminoso só existem quando são normati- de Pocinhos (PB) tenham sido tratados como
zados pelo Estado, ou por instituições “infor- criminosos comuns, essa, segundo nossa hipó-
mais”, por exemplo, as mídias ou as escolas, tese, era apenas a aparência da criminalização.
que ele não existe em si mesmo, que, portan- De modo que utilizar as teorias da crimino-
to, é definido a partir dos interesses das classes logia para entender tanto a criminalização de
poderosas que controlam as instituições for- grupos políticos e a criminalização de grupos
mais e informais da sociedade. E, segundo ela, não políticos seria um erro, tanto pelo risco
é nesse meandro que se localizaria a criminali- de despolitizar o que é essencialmente políti-
zação do MST e seus integrantes. co como o de politizar o que é pouco ou não
Já Foscarini, por sua vez, chega a essas politizado.
conclusões partindo principalmente de análi- As investigações na área da comunica-
ses dos documentos da mídia sobre o MST, ção que pretendem estudar a relação entre a
e compreensões do significado e papel dos mídia e o MST, a maioria delas consistem em
meios de comunicação e do sistema penal na análises do discurso dos textos publicados so-
sociedade atual, e como eles criam e fortale- bre este movimento social. Um exemplo des-
cem a estigmatização e criminalização de gru- se tipo de estudo é: Do silencio a satanização:
pos e indivíduos. o discurso da Veja e o MST é uma publicação
Especificamente sobre os movimentos da dissertação de mestrado de Eduardo Fer-
sociais a autora assinala que a mídia age, de reira de Souza. Segundo ele, a estratégia da
modo a legitimar perante a sociedade a puni- imprensa contra o MST segue diferentes fa-
ção dos ativistas dos movimentos sociais e de ses, primeiro o silêncio sobre os acontecimen-
indivíduos já estigmatizados socialmente. As- tos, seguida da tentativa de cooptar o movi-
pectos interessantes de pesquisas já menciona- mento, não dando certo, a estratégia seguinte
das nos levam a questionar sobre como pode- é a de dividir internamente os militantes, por
mos analisar o processo de criminalização dos ultimo realizam a “demonização” do MST e
movimentos sociais e a criminalização de in- seus membros (Souza, 2004). É uma interes-
divíduos que comentem crimes comuns? Mi- sante análise, mas hoje talvez já ultrapassada,
nha questão é: utilizando teorias que explicam por um único motivo, o MST na época des-
a categorização do crime ou da criminaliza- sa pesquisa era um movimento social relativa-
ção referida a crimes comuns, para explicação mente novo, de modo que essa estratégia mi-
e entendimento da criminalização dos movi- diática já foi utilizada e hoje sofre alterações
mentos sociais é adequado? por um conjunto de questões não possíveis de
Estas são as principais questões que le- serem aqui aprofundadas.
vantamos a partir das leituras dos trabalhos Outra pesquisa que trata da criminali-
produzidos na área do direito. Apesar dos zação dos movimentos sociais promovida pe-
processos de criminalização dos movimen- la mídia é o artigo Poder e mídia: a criminali-

4 Exemplos comuns de processos que recaem sob os MST e seus integrantes são: o de formação de quadrilha, esbulho posses-
sório (invasão de imóvel alheio), degradação de prédio publico ou privado, entre outros.
101
zação dos movimentos sociais no Brasil nas úl- Não encontramos trabalhos e pesquisas
timas três décadas (Volanin, s/d). Partindo de de sociólogos especificamente sobre o proces-
uma perspectiva historiográfica o autor afir- so de criminalização dos movimentos sociais
ma que a mídia brasileira ao longo das ultimas nestes termos5. Mas já sobre o tema da violên-
três décadas tratou de forma criminalizante os cia no campo registra-se uma produção acadê-
movimentos sociais. O artigo mostra a fraque- mica mais variada. Em função do próprio ob-
za, pois, anuncia um marco no estudo sobre a jeto, o “Caso de Pocinhos”, ao tratar da crimi-
criminalização dos movimentos sociais nos úl- nalização não pudemos deixar de inserir tam-
timos trinta anos no Brasil, um período histó- bém a violência no campo, e por ser a crimi-
rico muito longo, e como seria de esperar não nalização dos movimentos sociais um debate
cumpri com a declaração, feita, o que faz são ainda pouco tratado no meio acadêmico, bus-
afirmações breves e superficiais. quei, e nos foram muito úteis, as fontes biblio-
gráficas sobre violência no campo, ou confli-
tos agrários.
2.4 a criminalização dos movimentos sociais
na Pesquisa de sociólogos e cientistas Políticos Traremos aqui dois trabalhos que, em
nossa opinião, são clássicos na área. O de Leo-
nilde Servolo de Medeiros em Dimensões polí-
Neste tópico abordaremos a pesqui- ticas da violência no campo (Medeiros, 1996)
sa sobre a criminalização dos movimentos so- e o de José de Souza Martins em Expropriação
ciais na área das ciências sociais, incluindo so- e violência (Martins, 1980).
ciologia e ciência política. Uma delas é um ar-
Medeiros destaca que a impunidade no
tigo curto intitulado O caráter da criminaliza-
campo revela uma face da violência, que de-
ção dos movimentos sociais no Brasil de Cé-
monstra “o profundo comprometimento do
sar Sanson que elabora uma tese principal que
Poder Judiciário com os interesses ligados à
aborda a questão da criminalização dos mo-
propriedade da terra, o que coloca um impasse
vimentos sociais durante o Governo Lula não
nessas situações de disputa” (Medeiros, 1996,
teria perdido força pois a coalização ampla da
p. 126). A autora completa afirmando que
constituição do Governo dissimulou os confli-
tos de classe cedendo espaço aos setores con-
servadores (Sanson, 2008) a violência no campo indica a existência
de uma face da sociedade incapaz de reco-
A tese de doutorado intitulada Nave- nhecer direitos e negociar interesses, visto
gando contra a maré: a relação entre MST e que nega o outro. Como há, de um lado, a
mídia (Vieira, 2007), de autoria de Fernando defesa dos interesses absolutos da proprie-
Antônio da Costa Vieira, se divide em duas dade, nega-se qualquer possibilidade de
partes: uma primeira sobre a grande mídia no discuti-los através da constituição de uma
outra concepção de direito que coloque
Brasil e elementos sobre a criminalização do
em pauta o tradicional lugar da proprie-
MST, e em uma segunda parte uma analise dos dade fundiária. (Medeiros, 1996, p. 139)
veículos de comunicação do próprio MST e a
sua luta contra-hegemônica.
Para a socióloga, a violência no cam-
po no Brasil tem uma natureza estrutural e faz
Sua luta intransigente pela terra, questio- parte da cultura política, em especial nos ato-
nando a inviabilidade da propriedade pri- res políticos do campo. Dessa forma, ela di-
vada, fez do movimento um alvo da mídia,
transformando o MST numa organização
rá, que a “violência persiste e reproduz-se e
que rompe com a esfera da ordem. E por em algumas situações particulares, intensifica-
isso deve ser criminalizada e isolada da so- se, alimentadas por determinadas práticas ins-
ciedade. (Vieira, 2007, p. 179) titucionais e por um determinado padrão de

5 A exceção é o artigo de Cesar Sason já apresentado.


102
expressão de interesses ligados a propriedade sil. Inclusive é importante notar que os fatores
da terra” (Medeiros, 1996, p. 127). Para ela a geradores dessas tensões já são em si violentas.
violência no campo é também um demonstra- Outro interessante estudo, este mais
tivo de perda de poder. Quer dizer, ao se des- quantitativo, de Artur Zimerman, sociólogo
tacar lutas e, movimentos sociais, lideranças na sua pesquisa de pós-doutorado na Universi-
na luta pela terra, as classes dominantes vêm dade de São Paulo (USP) publica em alguns ar-
seu poder ameaçado, e para conservá-los elas tigos6 a tese que os regimes democráticos no
agem pela violência. Brasil matou mais camponeses que os regime
A autora fornece uma contribuição sig- autoritários. Baseia-se no fato de que foram as-
sassinados mais camponeses durante os gover-
nificativa para a compreensão sobre a violên-
nos democráticos (pós- 1985) do que em pe-
cia no campo, e em particular uma contribui-
ríodos de governos autoritários (1964-1985).
ção para nossa pesquisa, a questão da interfa-
ce entre a violência pública, a oficial, a do Es- A principal obra desse autor, neste te-
ma, é o livro sob o título de Terra Manchada de
tado, e a violência privada da pistolagem, ca-
Sangue - Conflitos agrários e mortes no campo
pangagem, a mão armada do latifúndio. A re-
no Brasil democrático, onde o professor Ar-
lação dos proprietários de terra e as polícias e
tur Zimerman busca explicar, de maneira sis-
dos proprietários e a Justiça.
temática, a violência agrária no país, no perío-
José de Souza Martins traz outros as- do democrático, com dados sobre as mortes
pectos sobre a violência no campo. Para ele de camponeses em disputas de terra. O autor
as origens dos conflitos rurais têm duas faces: apresenta a hipótese de que a maior concen-
o processo de expropriação e exploração dos tração da terra eleva o risco de mais violência
camponeses e suas lutas de resistência. Ambas e mortes agrárias.
essas faces são parte de um mesmo processo O material quantitativo mais comple-
que é a expansão do capitalismo no campo. to sobre violência rural no Brasil são os rela-
Os que não conseguem resistir a essa expan- tórios anuais da Comissão Pastoral da Terra
são transformam-se em proletários, os quais (CPT), organizado com o nome de Relatório
lutam contra a exploração a que são submeti- da violência no campo. Junto com os dados
dos. Ao passo que resistem ao avanço capita- quanto aos números de conflitos, de prisões,
lista no campo os camponeses lutam contra a de agressões, ameaças de morte, destruição de
permanente ameaça de expropriação que são lavoura ou de casas, assassinatos dentre ou-
submetidos. Complementa dizendo que: tros que retratam as varias formas de violên-
cia existentes no campo brasileiro, o relatório
também trás artigos analíticos sobre o tema.
A expropriação dissocia o trabalhador da
terra, seu principal meio de produção; Entre os artigos publicados no Rela-
prepara-o, desta maneira, para ser explo- tório da violência no campo podemos desta-
rado pelo capital, a quem deverá vender a car o item A luta por direitos e a criminali-
sua força de trabalho, convertida em mer- zação dos movimentos sociais: a qual Estado
cadoria. Porém, a expropriação acentua a de Direito serve o sistema de justiça? de An-
concentração fundiária, em detrimento, é tônio Filho e Darcy Frigo. Este artigo contri-
claro, da pequena exploração, que, con- buiu com a nossa definição de criminalização,
traditoriamente, não se extingue, multipli-
bem como a contribuição de Fon Filho. Para
ca-se. (Martins, 1980, p. 56)
esses autores integrantes de redes de direitos
humanos, a criminalização se dá através de um
E seriam essas relações no campo que processo estruturado de violência física e sim-
gerariam violência e tensões no interior do Bra- bólica, que adquire ares de violência institu-

6 Como por exemplo: Governos democráticos e as vitimas da luta pela terra (Zimerman, 2010).
103
cional (pública e privada), na medida em que mações por ela organizadas e deem continui-
os agentes se utilizam de suas “funções” para dade ao estudo.
atribuir uma natureza essencialmente crimino- No livro Capítulos de Geografia Agrá-
sa às manifestações sociais organizadas (Filho ria da Paraíba Emília Moreira e Ivan Targino,
e Frigo, 2010). partindo do estudo da geografia agrária e for-
mação econômica do Estado, traz ao final da
2.5 a investigação sobre a criminalização dos obra um capítulo intitulado “os movimentos
movimentos sociais e violência no camPo na sociais no campo e as conquistas da classe tra-
Paraíba balhadora” (Moreira e Targino, 1997). Neste
capítulo os autores trazem elementos sobre a
dinâmica dos conflitos no campo na Paraíba,
Especificamente sobre o processo de
quem são seus principais atores, como agem
criminalização dos movimentos sociais, não
os latifundiários, e como atua o Estado. Por
encontramos trabalho publicados que inves-
último caracterizam a violência no campo na
tigasse esse fenômeno no Estado da Paraíba.
Paraíba afirmando:
A exceção é um pequeno artigo de um grupo
de pesquisa na área de direito da Universidade
Federal da Paraíba. Na Paraíba a violência no campo tem as-
sumido ao longo do tempo, as mais diver-
No entanto, algumas fontes importan- sas formas: despejos, destruição de casas e
tes são bibliografias sobre conflitos e violência lavouras, prisões arbitrarias, torturas e as-
no campo. A grande maioria delas encontra- sassinatos. Nas áreas de conflito, nas gre-
se na área da Geografia. Citaremos algumas ves dos canaviais, dezenas de homens, mu-
dessas pesquisas que, segundo nossa avaliação, lheres e crianças foram espancados e feri-
trazem relevantes contribuições para estudar a dos a bala. Varias lideranças perderam sua
vida, vitimas da mão armada do latifúndio
criminalização do MST na Paraíba. no nosso estado. A grande maioria desses
Um texto clássico sobre os conflitos crimes – alguns deles praticados a luz do
por terra na Paraíba é o livro em dois volu- dia e na presença de autoridades publicas
mes, Por um pedaço de chão da professora de – permanecem na mais completa impuni-
Geografia da Universidade Federal da Paraí- dade: os mandantes e executores – cujos
nomes são de conhecimento publico – não
ba (UFPB), Emília Moreira. Nesses volumes a foram levado a julgamento e presos, o que
autora organiza, em forma de curtos relatos, é demonstrativo da omissão, quando não
todos os conflitos de terra na Paraíba de 1970 da cumplicidade do poder publico. (Mo-
a 1995. A pesquisa de Moreira faz um levan- reira e Targino, 1997, p. 322).
tamento denso de documentos, registros do
Instituto Nacional de Colonização e Refor- Também da área da geografia agrária
ma Agrária (INCRA), documentos de orga- encontramos um artigo, parte de uma pesqui-
nizações populares do campo, como a Fede- sa de mestrado, de titulo Questão agrária e Po-
ração dos Trabalhadores da Agricultura (FE- der Judiciário: uma análise das disputas terri-
TAG), a Comissão Pastoral de Terra (CPT), o toriais na Paraíba de Luanna Louyse Martins
MST; e ainda de documentos da imprensa lo- Rodrigues. Neste artigo a autora estuda o con-
cal. Além de pesquisa documental a pesquisa- flito agrário que se deu na Paraíba em 1997 no
dora realiza entrevistas com camponeses en- município de Itabaiana, na Fazenda Tanques.
volvidos nos conflitos. Esse conflito dura seis anos ocorrendo dois as-
Mas como a própria autora registra sassinatos. Rodrigues utiliza principalmente o
na introdução do livro, ela não consegue fa- conceito de judiciarização como fenômeno re-
zer uma analise critica dos dados que organiza corrente no conflito da Fazenda Tanques. “O
nos dois volumes, e aguarda tempo para fazê conceito de judiciarização expressa exatamen-
-lo e por pesquisadores que utilizem as infor- te essa imposição de obstáculos através da uti-
104
lização do código penal para impossibilitar as violência contra trabalhadores rurais no esta-
ações dos movimentos e outras entidades em do, por estas ações, o Judiciário se torna cri-
luta pela terra.” (Rodrigues, 2010, p. 4). minoso (Mitidiero, 2008, p. 392).
Ao observar os assassinatos de traba- O autor afirma que por um lado estão
lhadores rurais no interior dos conflitos no os camponeses, que prezam pelo “correto”,
campo na Paraíba, a autora aponta algumas pelo justo, pela lei, de outro os grandes pro-
características e fatos que se repetem nestes prietários de terra, que raramente usavam a
acontecimentos: (1) o envolvimento de poli- mediação da Justiça para resolver conflitos em
ciais na execução dos crimes; (2) a impunida- suas áreas, sejam eles de terra ou trabalhistas.
de dos mandantes; (3) as oligarquias rurais co- Para o autor “os proprietários rurais são figu-
mo mandantes e (4) a falta de justiça no cam- ras sociais que tradicionalmente recusaram a
po (Rodrigues, 2010). mediação das leis para resolver os problemas
Em outro artigo Rodrigues trata de um de terra e trabalhistas em suas áreas” (Mitidie-
mapeamento dos conflitos territoriais na Pa- ro, 2008, p. 379).
raíba, ou como preferimos chamar, os confli- Ainda segundo Mitidiero, quando oli-
tos por terra, e a constituição de assentamen- garquias rurais utilizam o judiciário como me-
tos da reforma agrária7. O artigo denomina- diador de conflitos utilizariam de duas formas
do de Disputas territoriais na Paraíba: em bus- principais: por meios de recursos jurídicos ba-
ca da construção de território(s) de esperança seados em leis, ou através de influências pes-
(Rodrigues, s/d), atualiza dados da pesquisa de soas, fazendo funcionários do judiciário os fa-
Moreira sobre os conflitos em áreas rurais do vorecer (tipo trocas de favores).
estado de 1996 a 20078. Neste sentido acreditamos que essas
Outra importante pesquisa também re- duas formas, apontadas por Mitidiero, que
lacionada com o tema da criminalização dos têm os fazendeiros oligarcas de se relacio-
movimentos sociais é a tese de doutorado de narem com o judiciário contra os campone-
Marco Antonio Mitidiero, intitulada A ação ses, podem aparecer de duas formas distintas
territorial de uma igreja radical: teologia da li- e podem conter as duas formas numa única.
bertação, luta pela terra e atuação da Comis- Mesmo sem discordar do autor, fica também
são Pastoral da Terra no estado da Paraíba. Mi- uma questão: o judiciário age contra os cam-
tidiero ao estudar a CPT da Paraíba, faz, den- poneses nos casos de conflito, exclusivamente
tre outros aspectos, um amplo estudo sobre por estarem sendo requisitados ou pressiona-
questões da geografia agrária da Paraíba e dis- dos pelos proprietários de terra? Ao estudar o
cussões sobre o comportamento do judiciário nosso caso, diríamos que estas duas formas al-
ao lidar com o conflito no Estado. vo de Mitidiero na relação entre proprietários
Em nossa pesquisa estávamos interessa- de terras e do Judiciário são insuficientes para
dos na análise dos conflitos no campo na Pa- entender essa relação complexa.
raíba e o geógrafo traz uma boa análise do pa- Outra pesquisa sobre os conflitos no
pel que desempenha o Judiciário nestes confli- campo na Paraíba é intitulada A violação de
tos, cunhando o termo criminalização do Ju- direitos civis de trabalhadores rurais envolvi-
diciário (Mitidiero, 2010, p. 376). Ele utili- dos em conflitos agrários na comarca de Ita-
za esse termo ao constatar que o Judiciário na baiana – PB (Martins e Tosi, 2006). Esta pes-
Paraíba estava sempre a inocentar assassinos, quisa da área do Direito, mas especificamen-
torturadores e mandantes de diversos atos de te relacionada ao tema dos direitos humanos,

7 A autora utiliza para definição dessas áreas de assentamento um conceito de Moreira, território de esperança: “(...) aquele
conquistado e construído: pela luta de resistência camponesa para permanecer na terra; pela luta de ocupação de terra, pro-
movida pelos trabalhadores sem terra; pela luta de consolidação das diferentes formas de agricultura camponesa.” (Moreira,
p. 8, 2006)
8 A pesquisa Por um pedaço de chão (Moreira, 1997) registra os conflitos entre os anos de 1970 a 1995.
105
busca identificar as transgressões contra os di- da Silva Henrique estudante do curso de ciên-
reitos dos trabalhadores rurais inseridos em cias sociais e a outro escrita pela historiado e
conflitos no município de Itabaiana. Os auto- dirigente do MST-PB Dilei Aparecida Schio-
res trazem a questão da impunidade, das milí- chet, As origens do MST na Paraíba.
cias armadas no interior dos conflitos, da re- Através dos depoimentos coletados de
sistência dos trabalhadores, de como a vítima fundadores do MST no Estado, no momen-
torna-se ré, e relata dois casos conflituosos e to da primeira pesquisa pudemos recompor
violentos, o da Fazenda Tanques no município a trajetória de organização do movimento na
de Itabaiana (PB), e da Fazenda Mendonça lo- Paraíba. A segunda pesquisa, também apoia-
calizada no município de Mogeiro (PB). da em depoimentos, relata a primeira ocupa-
Este artigo traz importantes relatos so- ção de terra feita pelo MST nesse mesmo Esta-
bre esses dois casos que podemos chamá-los do, a ocupação da Fazenda Sapucaia em 1989.
(apesar de não ser assim denominado pelos au- Nesta primeira ocupação o MST foi brutal-
tores) de processo de criminalização dos tra- mente reprimido por pistoleiros, um dos mili-
balhadores rurais. O texto do artigo tem um tantes morreu durante a correria que se insta-
conteúdo parecido com uma espécie de rela- lou no acampamento. Os pistoleiros dispara-
tório de direitos humanos. Chegando os auto- vam para todo lado e espancavam os trabalha-
res a constatarem na conclusão do artigo que dores sem-terra (Schiochet, 2008).
Encontramos um curto artigo produzi-
Ora, não é necessário um grande esfor- do pelo Núcleo de Extensão Popular Flor de
ço de reflexão para constatar que a bru- Mandacaru das ciências jurídicas da Universi-
tal hierarquização oriunda do processo de dade Federal da Paraíba que analisa o Caso de
ocupação do nosso solo desencadeou os Pocinhos. Para esses pesquisadores o Caso de
conflitos agrários e, por conseguinte, os Pocinhos é um caso emblemático de violação
crimes perpetrados pelo poder do latifún- do direito humano a terra. Ao analisar os pro-
dio e pelas instâncias que lhe dão susten-
cedimentos do Poder Judiciário na criminali-
tação (o Estado, o Poder Judiciário) con-
tra os trabalhadores rurais sem terra. Es-
zação dos dois trabalhadores sem-terra presos
tes, além de privados do direito de aces- no Caso de Pocinhos eles chegam a seguinte
so à terra, são ainda vitimados por um Po- conclusão:
der Judiciário parcial, ou seja, pela total
ausência de justiça. O monopólio da ter- Diante da análise do comportamento es-
ra, revelado sob forma de concentração, e tatal em relação a tal caso emblemático, é
a prática patrimonialista do poder plasma- uma pré-valoração dos fenômenos da vi-
ram uma ordem institucional baseada na da social e uma pretensa sistematização
defesa de privilégios e no poder arbitrário coerente das relações de poder. (...) Pare-
da elite agrária. A lógica do poder oligár- ce evidente que a condição subjetiva dos
quico define os parâmetros de convivên- réus (porquanto integrantes do MST) foi
cia de uma sociedade em que a prática dis- fator determinante para uma primeira ca-
cricionária da justiça solapa o principio da tegoria valorativa de reprovabilidade que
equidade diante da lei, transformando fre- aponta, também, para os objetivos e moti-
quentemente a vítima em ré. (MARTINS vações de suas ações: a discriminante este-
L. & TOSI, 2006, p. 60) riotipização social (acolhida pela juíza) de
figura do trabalhador sem-terra – que con-
traria, no seu pensar e agir, os pilares da
2.6. sobre o mst na Paraíba e o caso Pocinhos. estrutura liberal-individualista do Direito
– força uma argumentação jurídica que se
remete, insistentemente, às construções da
Sobre pesquisas que estudam o MST
“opinião pública” (disseminada pela mídia
da Paraíba encontramos duas monografias de politizada) e do “bem social” como medi-
conclusão de curso: O MST na Paraíba: a his- das impositivas do status quo. (Memória,
toria por seus participantes escrita por Luciana et al., s\d, p. 6-7)
106
Apesar da brevidade dessa análise bi- lização do MST partindo do estudo do Caso
bliográfica e por ser ainda parte de uma inves- de Pocinhos (PB), que teve como objetivo en-
tigação inicial, apresentamos uma análise in- tender, na sua totalidade, o processo de crimi-
teressante sobre o caso Pocinhos e a crimina- nalização do MST da Paraíba via Estado, Mí-
lização dos trabalhadores sem-terra pela jus- dia e latifundiários.
tiça da Paraíba. Para os pesquisadores citados Concluímos o artigo apresentando três
é consenso o argumento explicativo sobre a
proposições:
origem da criminalização, em geral, esta to-
ma por baseada uma espécie de “pré-avalia- a) a questão da criminalização dos mo-
ção” dos fenômenos da vida social o que para vimentos sociais é uma questão importante e
nós, é precisamente a própria ideologia, que ainda carece de acadêmicos e políticos em ciên-
no processo de criminalização dos movimen- cias gerais e sociais no Brasil e América Latina;
tos sociais se materializa nos documentos jurí- b) o que deve ser estudado em outras
dicos, nas páginas de jornais e telas de TV e na investigações é que a criminalização sob regi-
própria violência física. mes democrático-liberais formais é uma for-
ma historicamente localizada de criminaliza-
CONCLUSÕES ção, mas que supostamente deixou orienta-
ções que são consideradas “progressista”, se
isso tem algum significado;
As pesquisas publicadas no Brasil so-
bre o tema da criminalização dos movimen- c) a defesa das liberdades democráticas
tos sociais, devem ser a todo momento atua- e dos direitos humanos é central em um con-
lizadas. Nossa pesquisa buscou compreender texto de crise geral do capitalismo e de seus
a criminalização como processo que aparece desdobramentos sobre a classe trabalhadora,
através da violência explícita, da ação do Esta- na negação e exclusão de direitos e na conten-
do e, no discurso da mídia. Em nossa visão to- ção das lutas sociais.
do esse processo se dá pelo estudo em separa-
do das distintas instituições envolvidas em ca- Recebido em: 25/02/2015
da processo e a relação de cada uma com os Aprovado em: 05/05/2015
movimentos sociais em sua ação criminalizan-
te, mas também, e acima de tudo, como o pro-
cesso se dá em seu conjunto, como este se tor- REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
na uma unidade na realidade social e como se
articulam no interior das estratégias das clas- BORTOLOZZI, F. J. A criminalização dos
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apresentação da experiência conhecida como
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