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Mutação
Variedade não é apenas o tempero da vida,
mas é o principal ingrediente da natureza. A
fonte dessa variedade é a mutação genética e,
prejudiciais ou benéficas, as mudanças no
DNA geram a maior parte da variação que
passa pela peneira evolutiva da seleção
natural.

O processo de evolução foi amplamente aceito pelos naturalistas


depois que Darwin publicou A origem das espécies em 1859. Mas,
enquanto muitos acreditavam que o livro defendia de forma
convincente a “descendência com modificação”, muitos também
duvidavam do mecanismo de Darwin quanto à força motriz: a
seleção natural. Como resultado, várias teorias concorrentes
foram apresentadas entre as décadas de 1880 e 1930, um período
conhecido como “o eclipse do darwinismo”.

Uma alternativa era a teoria da mutação, defendida pelo


botânico holandês Hugo de Vries, que ajudou a redescobrir os
experimentos de Mendel com plantas de ervilha. Depois de mais
de treze anos reproduzindo a prímula, De Vries descobriu
inúmeras variações que diferiam dos pais de linhagem pura, na
medida em que pareciam ser precursores de novas espécies. Em
vez de um processo gradual de mudança por meio da seleção
natural, De Vries sugeriu que as espécies se originaram em
saltos repentinos, ou “mutações”. Estudos posteriores
encontraram cromossomos rearranjados em suas plantas
mutantes, mas, no início dos anos 1900, a causa de mutações
não era conhecida.

Variação genética A palavra “mutação” associou-se a mudanças


genéticas depois que o biólogo norte-americano Thomas Hunt
Morgan provou, em 1910, que os genes estavam localizados nos
cromossomos. O progresso inicial na pesquisa genética foi lento
porque mutações naturais raramente eram encontradas. Esse
ponto crítico foi superado por Hermann Muller, ex-aluno de
Morgan, o primeiro geneticista a induzir mutações
artificialmente. Em 1927, Muller criou mais de cem mutantes,
expondo os espermatozoides das moscas a doses elevadas de
raios X, que recriaram mutantes naturais como as drosófilas de
olhos brancos de Morgan, bem como outras moscas com novos
fenótipos. Muller notou que os mutantes tinham rearranjos na
ordem linear dos genes nos cromossomos e, embora a radiação
fosse frequentemente letal ou causasse esterilidade, muitos
sobreviventes transmitiram mutações a gerações subsequentes.

Experimento de Luria-Delbrück
A seleção natural age sobre mutações preexistentes ou induz um
organismo a sofrer mutações? Se mutações acontecem de
antemão, colônias de bactérias resistentes a vírus (pretas)
deveriam ser distribuídas aleatoriamente. Se as mutações
ocorrerem depois, a resistência será mais desigual. O teste de
Salvador Luria e Max Delbrück sugeriu que as mutações são
espontâneas.
A evolução foi claramente alimentada pela variação genética e,
nos anos 1930, uma grande questão ainda restava: a mutação
ocorreu antes ou depois da seleção natural? Em princípio, a
seleção poderia atuar sobre mutações preexistentes ou induzir
um organismo a sofrer mutações. Em 1943, essas alternativas
foram testadas pelos biólogos Salvador Luria e Max Delbrück
(ver box), que concluíram que as mutações ocorrem
aleatoriamente ao longo do tempo, não em resposta à seleção
natural.

Mudanças de DNA As mutações genéticas têm uma diferença


importante do dano ao DNA: a estabilidade relativa permite que
elas sejam herdadas. Essas alterações no DNA podem ser
grandes ou pequenas. Os rearranjos observados nas plantas de
prímulas de De Vries e nas drosófilas de Morgan foram
mutações cromossômicas, resultado de inverter ou mover
pedaços de DNA (inversões e translocações) para outro
cromossomo. Uma região de um cromossomo também pode ser
excluída ou duplicada, talvez levando a uma “variação no
número de cópias”, que reduz ou aumenta o número de genes e,
por sua vez, diminui ou aumenta os níveis de proteína.

Mudar uma única letra do DNA resulta em uma “mutação


pontual”. Embora pequenas, essas mutações podem ter um
grande efeito se atingirem um gene.

Taxas de mutação humana


O quanto são comuns as novas mutações? Ao comparar
sequências de DNA de membros de uma família, os geneticistas
descobriram que a taxa de mutação pontual é de 0,000000012
por base por geração, ou uma em cada 83 milhões de letras.
Dado que o genoma humano tem mais de 3 bilhões de letras, isso
significa que se herdam cerca de quarenta novas mutações além
da combinação única de cromossomos dos progenitores. As
mutações só podem ser herdadas se ocorrerem em
mutações só podem ser herdadas se ocorrerem em
espermatozoides ou óvulos – a “linha germinativa” –, e não em
células do corpo de tecido somático. (É por isso que a
hipermutação somática, as alterações de DNA nos genes de
anticorpos que permitem a imunidade adquirida, não passam de
pais para filhos.) Em 1947, o biólogo britânico J. B. S. Haldane
propôs que os machos contribuem com mais mutações para a
evolução do que as fêmeas, conhecidas como mutações com
tendência masculina. Existem três a quatro vezes mais mutações
na linha germinativa masculina porque as células espermáticas
se dividem continuamente nos homens, introduzindo mutações
durante a replicação do DNA.

O código genético dita que os genes são lidos em grelhas de


palavras de três letras; portanto, adicionar ou remover uma ou
duas bases cria uma mutação “frameshift” (alteração de grelha)
que transforma instruções em palavras ininteligíveis, da mesma
forma que remover a primeira letra de “morcego mata
minhoca” resulta em “-orcego -ata -inhoca”. Quando uma base
é substituída por outra, isso também pode introduzir uma
mutação “sem sentido” que significa “parar” no código genético
ou alterar uma “parada” em um aminoácido, resultando em
uma proteína anormalmente alongada.

Substituições de letra única também podem alterar a tradução de


uma palavra genética e produzir o aminoácido errado. Uma
dessas mutações “sem sentido” ocorre em um gene humano
para a hemoglobina: ela substitui uma molécula que odeia água
por uma que adora água e faz com que as proteínas se juntem e
que os glóbulos vermelhos, normalmente em forma de disco, se
curvem para causar uma anemia de células falciformes (em
forma de foice). Essa condição é prejudicial se você tiver duas
cópias do gene mutante, pois as células deformadas são menos
capazes de transportar oxigênio e coagular vasos sanguíneos,
potencialmente obstruindo os tecidos e levando a um ataque
cardíaco ou derrame. Mas a doença também pode ser útil no
ambiente certo: carregar apenas um gene mutante protege as
pessoas da malária, cujo parasita tem problemas para infectar
células falciformes, de modo que a mutação é favorecida pela
seleção natural em populações com malária endêmica.

Agentes mutagênicos Mutações espontâneas podem ser


desencadeadas por fontes físicas, químicas ou biológicas, sendo
uma das mais comuns o calor. Outra é a luz ultravioleta, que
altera as letras de C para T e produz pequenas protuberâncias na
dupla-hélice.

O maquinário de reparo de DNA em células epidérmicas pode


corrigir essas mutações, mas pessoas com xeroderma
pigmentoso, uma doença rara de genes de reparo defeituosos,
têm 100% de chance de desenvolver câncer de pele, a menos que
fiquem em ambientes fechados. Agentes mutagênicos naturais,
como espécies reativas ao oxigênio (“radicais livres”), são
produzidos e absorvidos por processos celulares normais para
prevenir danos no DNA. Substâncias que provocam câncer
(carcinógenos) são agentes mutagênicos químicos bem
conhecidos, e o primeiro agente mutagênico artificial a ser
descoberto foi o gás mostarda, a arma química usada na
Primeira Guerra Mundial que tinha propriedades mutagênicas
descobertas pelos geneticistas Charlotte Auerbach e J. M. Robson
em 1942.

“Mutações genéticas formam a base


principal da evolução orgânica e, portanto, da
maioria das complexidades dos seres vivos.”
Hermann Muller

Para a evolução, as mutações mais significativas são criadas por


organismos e parasitas genéticos. Por exemplo, o movimento de
vírus e elementos transponíveis em torno de um genoma pode
levar o DNA a novos locais. Mutações também são introduzidas
por erros durante a replicação do DNA. As mutações espontâneas
são essenciais para a evolução, mas podem prejudicar os
indivíduos, e é por isso que as células as protegem usando o
reparo do DNA para corrigir as alterações.

A ideia condensada:
Alterações no DNA são a fonte da
variação biológica

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