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Universidade Estadual de Londrina

Centro de Letras e Ciências Humanas


Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem

Disciplina: 2 LET 789 – Estudos Avançados em Linguagem e Significação I: O


Método Arqueológico em Michel Foucault e suas contribuições para os estudos
discursivos.
Docente: Drª Priscila Céspede Cupello
Discente: Juliana de Barros Souto

A obra A Arqueologia do Saber, de Michel Foucault, surge após as obras


História da Loucura, Nascimento da Clínica e As palavras e as coisas, com o intuito de
aperfeiçoar certos conceitos ordenados e trabalhados pelo autor.
Para tanto, em sua obra A Arqueologia do Saber, Foucault (1986) quer entender
como os discursos foram cristalizados enquanto um saber-poder. Segundo o autor, essa
cristalização ocorre porque foi possível concebe-los em uma determinada época, uma
vez que produziram efeitos de sentido, como, por exemplo, o conceito de poder, em que
sempre presumimos que é algo negativo, no entanto, para Foucault (1988), o poder é
algo bom, pois ele produz saberes. Assim, ele desconstrói conhecimentos que foram
consolidados no decorrer da História a partir de sua metodologia arqueológica.
Dessa forma, o filósofo passa a tecer críticas sobre como a História foi escrita,
buscando ressignificar determinados conceitos, como o de documento que, para o autor,
deixa de ser o registro de um fato para se tornar um acontecimento, uma vez que a
História não é linear, ela possui rupturas. Logo, o autor redefine o conceito
documento/monumento, em que o documento agora é analisado em unidades e séries e
o monumento pela sua “descrição intrínseca” (FOUCAULT, 1986, p. 8).
Além disso, o autor vai se ancorar no método arqueológico, que se constitui em
um procedimento que não está interessado em descobrir a origem e o fim, tal qual a
linearidade da História, mas sim pensar nos eventos históricos como acontecimentos,
uma vez que, para Foucault (1986), esses eventos são sempre interpretações e não fatos,
pois o fato pressupõe uma verdade que não foi interpretada e sim descrita.
O pensador também sinaliza sobre como esses eventos foram descritos e
separados em disciplinas por sujeitos autorizados a dizê-los. Nesse sentido, a
metodologia de Michel Foucault busca desfazer a ideia de disciplina para se pensar
saberes e não fragmentá-los e hierarquizá-los, colocando os sujeitos num mesmo
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patamar para se pensar as relações de poder que permeiam os


discursos e o porquê que uns estão autorizados a dizê-los e outros não.
Diante disso, em sua metodologia, Foucault (1986) emprega o conceito de
enunciado, distinguindo-o do que foi definido pela Linguística, pois, para o autor, essa
concepção

[...] trata-se, antes, de uma função que se exerce verticalmente, em relação às


diversas unidades, e que permite dizer, a propósito de uma série de signos, se
elas estão aí presentes ou não. O enunciado não é, pois, uma estrutura (isto é,
um conjunto de relações entre elementos variáveis, autorizando assim um
número talvez infinito de modelos concretos); é uma função de existência
que pertence, exclusivamente, aos signos, e a partir da qual se pode decidir,
em seguida, pela análise ou pela intuição, se eles "fazem sentido" ou não,
segundo que regra se sucedem ou se justapõem, de que são signos, e que
espécie de ato se encontra realizado por sua formulação (oral ou escrita).
(FOUCAULT, 1986, p. 98-99)

Portanto, para Foucault (1986), o enunciado é um produto, ou seja, o resultado


dos efeitos de sentidos que são produzidos pelos discursos e, por isso, a arqueologia
deve ser entendida como uma análise desses discursos a partir do conjunto dos
enunciados.
No meu projeto, intitulado A constituição do Maracatu de Baque Solto como
Patrimônio Imaterial Brasileiro: uma análise discursiva sobre o Dossiê do Maracatu de
Baque Solto, busca-se compreender como ocorreu esse processo, a partir dos estudos
discursivos foucaultianos, verificando no documento elaborado no interior de uma
instituição, neste caso, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN), os discursos que foram produzidos, mobilizando os conceitos de proveniência
e emergência, que encadearam e permitiram que essa manifestação cultural pudesse se
tornar um patrimônio a ser salvaguardado, além de apontar as relações de poder que
permearam esse movimento.

REFERÊNCIAS

FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária,


1986.
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro:
Graal, 1988.

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