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Biologia Marinha aula prática Nº 2, 09.03.

2006 2005/2006

Capacidade tampão da água do mar

O pH de uma solução é definido como o logaritmo negativo da concentração dos iões de hidrogénio,
expressa como concentração molar:
pH = -log [H+]
A concentração do ião hidrogénio de uma solução exprime a sua acidez. Trabalhando com
concentrações de iões hidrogénio é sempre útil utilizar a escala de pH. A escala vai de 0 a 14, sendo
0 um valor muito ácido e 14 uma solução fortemente alcalina. O valor 7 representa o ponto neutro
([H+] = [OH-]).

100 10-7 10-14


[H+]

0 7 14
pH
acídico ponto neutro alcalino

Adicionando a uma solução neutra um ácido resulta num excesso de iões de hidrogénio [H+] e
consequentemente numa solução ácida. Ao contrário, adicionando a uma solução neutra uma base
resulta num excesso de iões de hidróxido [OH-] e consequentemente numa solução alcalina.

Exercício

• O pH é determinado com a ajuda de um medidor de pH (eléctrodo de vidro; ver princípio de


funcionamento em GRASSHOFF et al., 1983). A sonda de medição de pH deve ser calibrada
anteriormente com duas soluções padrão conforme explicado no manual do equipamento. As
soluções devem ter uma temperatura conhecida, pois a medição de pH está dependente da
temperatura. Depois de cada medição o eléctrodo deve ser lavado com água destilada.
• A capacidade tampão será determinada através de uma titulação de uma amostra de água
(do mar, da torneira, destilada) com ácido clorídrico da concentração 0.01 Mol. À 100 ml da
amostra junta-se 1 ml do ácido da bureta e, depois de misturado, mede-se o pH. Repete-se
este procedimento até o pH não descer mais.
Pesquisa para o relatório: Como se explica a capacidade tampão da água do mar em comparação
com as outras amostras ? Qual a importância desta propriedade para os organismos marinhos ?

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Determinação de oxigénio dissolvido em água-do-mar


(Método de Winkler, segundo WINKLER, 1888)
Introdução
Água, tal como outros solventes, tem a capacidade de dissolver gases atmosféricos como nitrogénio,
oxigénio, dióxido de carbono e os gases nobres. Ao contrário do dióxido de carbono, que reage
parcialmente com água formando ácido carbónico e seus produtos de dissociação, o oxigénio é
dissolvido fisicamente.
A dissolução do oxigénio segue a lei de Henry: C = α * p.
Nesta equação C designa a concentração do oxigénio na água em mol/l, α o coeficiente de Bunsen e
p a pressão parcial do oxigénio no estado gasoso em equilibrio com a água. O coeficiente de
solubilidade do oxigénio a 10°C é de 0.038. A solubilidade do oxigénio puro em contacto com a água
a uma pressão de 1 bar e temperatura de 10°C é de 54.2 mg/l.
Ao contrário dos gases nobres, o oxigénio dissolvido na água-do-mar é consumido por respiração e
processos oxidativos microbiológicos. Do outro lado é reposto por fotosíntese e pelos processos
físicos de troca de gases na superfície do mar.
O conteudo de oxigénio dissolvido é por isso considerado um parámetro não-conservativo de uma
certa massa de água. Além da salinidade e da temperatura é o parámentro habitualmente
determinado em água salgada. O oxigénio dissolvido é um bom marcador de uma determinada
massa de água e além disso um indicador sensível para processos biológicos e químicos no mar. A
concentração de saturação do oxigénio depende da temperatura, da salinidade da humidade do ar e
da concentração de oxigénio no ar quando a água está em equilíbrio com a atmosfera.
O princípio da determinação do oxigénio dissolvido está baseado no método inicialmente descrito por
Winkler em 1888, que consiste na titulação iodométrica. O oxigénio dissolvido reage
quantitativamente com um excesso de hidróxido de manganês (II) transformando-o em hidróxido de
manganês (III) que se precipita (equ. b). Ao acidificar o hidróxido de manganês (III), este oxida o
iodeto para iodo. O iodo produzido equivale o oxigénio da amostra e pode ser quantificado com
tiosulfalto de sódio (equ. e). Um mol de oxigénio corresponde a dois mol de iodo e consequentemente
requer 4 mol de tiosulfato para sua determinação.
Este método pode ser descrito pelas equações seguintes:

a) Mn2+ + 2 OH- → Mn(OH)2 ↓

b) 2 Mn(OH)2 + ½ O2 + H2O → 2 Mn(OH)3 ↓

c) 2 Mn(OH)3 + 2 I- + 6 H+ → 2 Mn2+ + I2 + 6 H2O

d) I2 + I- ↔ I3-

e) I3- + 2 S2O32- → 3 I- + S4O62-


(ver página 63-64 em Grasshoff et al. para uma descrição exaustiva)

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Procedimento:
1. Amostragem:
• A amostra de água-do-mar é recolhido com a ajuda de uma garrafa Niskin de volume de 2.5
l que permite a recolha de uma amostra de água em qualquer profundidade.
• Imediatamente (porquê ?) a seguir à recolha do equipamento um frasco de Winkler
(importante: cada frasco tem a sua própria tampa) é destapado e o tubo transparente de
saída da garrafa Niskin é enfiado até ao fundo do frasco.
• Abre-se a válvula da garrafa Niskin e encha-se o frasco completamente deixando primeiro
sair a água com pelo menos o dobro do volume do frasco, evitando assim a retenção de
bolhas de ar no frasco (porquê isto é importante ?). Determina-se ao mesmo tempo a
temperatura da água.
• Logo em seguida junta-se 1 ml de MnCl2 e 1 ml de KOH/KI com a ajuda das respectivas
seringas ou pipetas no fundo do frasco (fixação do oxigénio dissolvido).
• Tapa-se o frasco de modo a não ficar nenhuma bolha de ar retida (porquê ?).
• Guarda-se o frasco no escuro durante 15-30 min (transportar os frascos ao laboratório para
a posterior análise).

2. Análise no laboratório:
Nota: Recomenda-se a utilização de bata, luvas e
óculos de protecção (manuseamento de ácido
sulfúrico que é extremamente corrosivo)

2.1 Calibração da solução de tiosulfato


• cerca de 100 ml de água destilada são colocados num balão Erlenmeyer
• juntam-se ao misturar a solução:
1. 2 ml de ácido sulfúrico,
2. 1 ml de KOH/KI,
3. 1 ml de MnCl2
• junta-se exactamente 10 ml da solução padrão (KIO3, 0.1667*10-2 mol/l)
• esta solução é imediatamente titulada com a solução de tiosulfato (Na2S2O3) até uma
coloração amarela clara
• junta-se uma pequena quantidade (ca. 1 ml; pipeta Pasteur) de indicador (solução de amido
com ZnI) e titula-se com a maior atenção até ao ponto final (desaparecimento da coloração
azul, solução fica clara, transparente)
• anota-se o volume de tiosulfato gasto

2.2 Titulação das amostras


• o frasco é destapado (um de cada vez) e junta-se imediatamente 2 ml de ácido sulfúrico
introduzindo a pipeta até ao fundo do frasco
• o frasco é de novo tapado e misturado
• todo o conteudo do frasco é transferido quantitativamente: lavagem da tampa e do frasco
com água destilada (~20 ml) para dentro de um Erlenmeyer
• esta solução é imediatamente titulada com a solução de tiosulfato até uma coloração
amarela clara

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• junta-se uma pequena quantidade (pipeta Pasteur) de indicador (solução de amido com ZnI)
e titula-se com a maior atenção até ao ponto final (desaparecimento da coloração azul,
solução fica clara, transparente)
• anota-se o volume de tiosulfato gasto juntamente com o volume do frasco correspondente
(gravado no frasco)

3. Cálculo dos resultados


Como se pode confirmar através das equações anteriormente apresentadas, 1 mol de oxigénio
(dois atómos) é equivalente a 4 mol de tiosulfato.

• o factor da calibração é calculado segundo

5
f =
VTSc

onde VTSc corresponde ao volume de tiosulfato gasto na titulação da calibração.

• calcula-se a quantidade de oxigénio dissolvido em ml de O2 / l segundo

VTSa * f * 0.112 *1000


ml O2 / l =
VFW − 2

onde VTSa corresponde ao volume de tiosulfato gasto na titulação da amostra, f ao factor da


calibração, VFW ao volume do frasco de Winkler.

alguns factores de conversão:

1 mmol O2 = 22.413 cm3 O2

1000 µmol O2 = 22.413 cm3 O2

44.615 µmol O2 = 1 cm3 O2

O2 ml/l * 44.615 → µmol/l O2

O2 mg * 0.7 → ml O2

ml/l O2 * 1.4286 → mg/l O2

4. Determinação da solubilidade esperada e saturação de oxigénio


• Determine a solubilidade esperada do oxigénio através da Fig. 1 unindo com uma régua os
valores de salinidade e temperatura conforme os valores medidos na amostra ou com a ajuda
da Tab. 1.
• calcule a saturação de oxigénio através da equação:

O2 medido
% saturação O2 = * 100
O2 esperado

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Fig. 1 Solubilidade esperada de oxigénio num determinado par de salinidade e temperatura (fonte:
HAEFNER, 1996)

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Tab. 1 Solubilidade esperada de oxigénio num determinado par de salinidade e temperatura (fonte:
GRASSHOFF et al., 1999)

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Bibliografia
GRASSHOFF, K., EHRHARDT, M. & KREMLING, K. (1983) Methods of seawater analysis. Verlag
Chemie, Weinheim.

GRASSHOFF, K., KREMLING, K. & EHRHARDT, M. (1999) Methods of Seawater Analysis. Wiley-
VCH, Weinheim.

HAEFNER, P. A. (1996) Exploring Marine Biology. Heath and Company, Lexington.

WINKLER, L. S. (1888) Die Bestimmung des im Wasser gelösten Sauerstoffes. Chem. Ber., 21: 2843-
2855.

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