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SINOPSE

Da autora best-seller do USA Today, Marni Mann vem Before You, um


novo romance contemporâneo e um exame devastador das coisas que
encontramos, das coisas que fazemos e das coisas que perdemos.
Era para ser uma típica viagem de trabalho. Nova York a São Francisco,
assento na janela, fila de saída. Talvez uma mimosa.
Em seguida, o assento 14B ao meu lado foi ocupado. Quando nossos
olhos se encontraram, o voo se tornou tudo menos rotineiro.
Eu poderia identificar os momentos da minha vida em que tudo mudou
para sempre.
Conhecer Jared naquele voo foi o primeiro.
Apaixonar-se por ele foi o segundo.
Descobrir os segredos que ele guardava era o terceiro.
Colocar meu eu quebrado de volta e esquecer o que aprendi seria
difícil. Perdoar Jared seria impossível.
Ele disse, antes de mim, nada importava. Mas depois dele, nada mais
seria o mesmo.
Para você, papai, e para a comida. Porque é coisa nossa.
PRÓLOGO

PORTLAND, MAINE - PRIMAVERA DE 1989

— Você acha que Casey estará na escola hoje? — Brandon


perguntou a sua namorada enquanto parava na terceira fila do
estacionamento dos estudantes, estacionando no final.
Como juniors, os três tinham duas semanas antes das férias de
verão. Nesta época, no próximo ano, eles estarão se formando como os
veteranos fizeram ontem. Uma vez que receberem seus diplomas,
Brandon e sua namorada fariam uma mala e se mudariam para a
Califórnia, um plano que eles traçaram no primeiro ano quando
começaram a namorar.
— Não — ela respondeu, olhando pelo para-brisa, balançando a
cabeça. — Tenho a sensação de que nunca mais veremos Casey.
Quando Brandon soube do que havia acontecido com seu melhor
amigo na noite da festa, ele estava em seu quarto com sua garota,
dormindo. Se fosse qualquer outra manhã, a mãe de Brandon teria
ficado furiosa ao encontrá-lo na cama com ela. Ela não tinha permissão
para passar a noite. Mas naquela manhã, a mãe de Brandon não gritou,
nem mencionou isso quando sacudiu o filho para acordar. Em uma voz
calma e tranquila, ela contou a eles tudo o que tinha ouvido sobre Casey.
As duas mulheres imediatamente começaram a chorar.
Não Brandon. Ele se levantou da cama e caminhou pelo pequeno
espaço entre a mesa de cabeceira e o armário, tentando processar as
notícias. Quando sua mãe não foi capaz de responder a nenhuma das
perguntas que ele fez, ele correu escada abaixo para o telefone na
cozinha e ligou para a casa de Casey.
Ninguém atendeu, nem mesmo a secretária eletrônica.
Brandon então tentou ligar para um de seus amigos para ver se
eles tinham ouvido alguma coisa. E foi assim que ele acabou passando o
dia inteiro, ligando para todo mundo cujo número ele tinha, ouvindo
suas versões da história.
Uma coisa todos concordaram: ninguém tinha ouvido falar de
Casey desde a festa.
Após o anoitecer, Brandon e sua namorada foram até a casa de
Casey. Seus outros amigos já haviam feito o mesmo, mas Brandon
esperava que o resultado fosse diferente. Exceto que, quando chegaram
lá, não havia nenhuma luz acesa lá dentro, a porta da frente estava
trancada e ninguém respondeu à campainha. Eles deram a volta e
Brandon jogou uma pedra na janela de Casey. Ele esperou vários
minutos, jogando mais pedras, antes que chegasse a hora de partirem.
— Você realmente acha... — Brandon começou a responder, sua
voz sumindo enquanto considerava a possibilidade de nunca mais sair
com seu melhor amigo. Quando tudo realmente o atingiu, ele agarrou o
volante e gritou: — Foda-se!
— Isso poderia ter acontecido com qualquer um de nós... você
sabe disso — ela disse suavemente.
Todos estavam na festa naquela noite. Era realizado no mesmo
campo todos os anos, na sexta-feira anterior à formatura. Todos foram
alunos do ensino médio, ex-alunos e amigos das cidades vizinhas. Era
tradição. E em todos os anos, nunca houve um incidente.
Até agora.
Brandon estendeu a mão no banco da frente e apertou a mão dela,
sentindo o peso de tudo. — Graças a Deus isso não aconteceu conosco.
Algumas histórias tinham o poder de mudar vidas para sempre.
Essa história mudou uma cidade inteira.
CAPÍTULO UM

BILLIE

— O que eu daria para colocar meus lábios em volta daquela


costela de cordeiro — Ally disse pelo alto-falante do meu telefone.
Eu ri da resposta da minha melhor amiga para a foto que eu postei
esta manhã. Sua apreciação pela comida tinha crescido ao longo dos
anos por minha causa. A garota que eu conheci todos aqueles anos atrás
não sabia que geléia tinha outros sabores além de uva.
— Estava suculento — eu disse a ela, fechando os olhos e
respirando fundo como se o prato ainda estivesse na minha frente. —
Toda a refeição foi além das palavras. — Quando abri as pálpebras
novamente, coloquei o último cubo de embalagem na minha mala e
fechei-a. — Eu convenci o chef a me dar a receita de suas couves de
Bruxelas. Vou fazê-los para a nossa próxima noite de garotas.
— Que é quando?
Apertei a tela do meu telefone enquanto ele estava em uma
prateleira de sapatos, percorrendo minha agenda. — Pode ser dia
dezoito?
— Isso é daqui a duas semanas, Billie.
Verifiquei novamente, tentando ver se conseguia mover alguma
coisa. — Você sabe que eu chegaria mais cedo se pudesse.
— Eu sei, querida. Coloque-nos para o dia dezoito. Vou mandar
uma mensagem para as meninas assim que desligar o telefone para
avisá-las.
Ally e eu fomos colegas de quarto todos os quatro anos na NYU e
por mais cinco depois que nos formamos. Então, aos vinte e sete,
finalmente conseguimos nossos próprios apartamentos. O meu era um
loft em Greenwich Village, onde morei nos últimos três anos. O de Ally
era um estúdio no Upper West Side, que ela dividia com o namorado. Ele
agora era seu marido, e eu tinha três plantas — todas elas ervas.
Eu bloqueei a noite inteira e sai do aplicativo. — Você está na
minha agenda.
— Então, para onde você está indo agora, senhorita Wanderlust?
— São Francisco é italiano — eu disse, referindo-me ao
restaurante que eu estaria avaliando, enquanto caminhava para a
cozinha.
Na faculdade, sempre que eu comia fora, tirava fotos e avaliava a
comida, postando nas redes sociais. Era uma paixão que lentamente se
transformou em uma carreira, e agora eu era uma vlogger de comida em
tempo integral. Fui contratada por restaurantes de todo o país para
comer e rever sua culinária, compartilhando com meus seguidores que
se aproximavam de dez milhões.
— Um dos seus favoritos. — Houve um amassado de papel ao
fundo e, em seguida, o som de mastigação pesada e pegajosa.
— O que você está comendo?
— Gooey red fish1.
Eu tinha servido uma taça de vinho e aberto os recipientes de
carne de porco Szechuan e couve chinesa salteada com alho antes de
começar a fazer as malas. Agora que tinha esfriado, peguei os pauzinhos
e dei uma mexida rápida na comida.
— Você não está atrasada... está? — Eu perguntei antes de colocar
a primeira mordida na minha boca.
— Acabei de deixar o anticoncepcional há dois meses. Não pode
acontecer tão rápido.
Mas poderia e ela sabia disso.
E eu tinha certeza que tinha um porque — Ally, você está comendo
doce.
Ela não tinha desejo por doces, nem mesmo bolo no aniversário
dela.
— Oh meu Deus. — Cada mastigação soava como uma ventosa. —
Eu nem percebi que tinha aberto o saco, mas eu estava na frente da
geladeira, colocando na minha boca como pipoca.
— Eu sei. O mundo inteiro pode ouvir você comendo.
— Sinto muuuito. — Ela fez uma pausa. — Você realmente acha
que estou grávida? Não. Eu não posso estar. Eu... — O barulho se

1
Doce gelatinoso em formato de peixe
intensificou, me dizendo que ela colocou mais na boca. — Estou prestes
a comer essa sacola inteira, Billie e depois vou caminhar até a bodega no
quarteirão seguinte e comprar outra.
Abri em um aplicativo de entrega no meu telefone, adicionei cinco
sacos de peixe vermelho pegajoso e três testes de gravidez ao meu
carrinho, dei a eles o endereço de Ally antes de enviar o pedido.
— Não precisa — eu disse, voltando aos pauzinhos, usando-os
para dar outra mordida. — Haverá alguns entregues em seu
apartamento em cerca de vinte minutos.
— Eu te amo.
Minha ingestão terminou com um suspiro. — É por faltar à
consulta com o médico que tenho a sensação de que você irá nos
próximos dias.
Robert a levaria - eu tinha certeza disso - mas eu queria estar lá
depois para comemorar.
E eu não estaria.
Essa foi uma das coisas ruins da minha carreira, perder as coisas
em casa quando o trabalho exigia que eu ficasse muito longe. Mas viajar
fazia parte do trabalho e eu adorava isso.
Havia um equilíbrio e, na maioria das vezes, eu o encontrava.
— Você realmente acha que vamos ter um bebê? — ela perguntou
suavemente.
A emoção em sua voz abriu caminho em meu peito. Ally queria um
bebê desde que eu a conhecia. Pode ter acontecido rapidamente, mas os
anos que levou para chegar aqui não foram nada rápidos.
Esperei até que meu peito se acalmasse antes de dizer: — Já estou
planejando o que vou servir na festa.
— Acabei de ficar com mais fome.
— Vou pedir mais para você...
— Ouça-me, Billie Paige. Eu não vou ser a garota que ganha cem
quilos com sua primeira gravidez. Você me entendeu?
— Está bem, está bem. — Eu ri, jogando os recipientes vazios no
lixo e levando o vinho para o meu quarto. — Me mande uma mensagem
assim que souber de alguma coisa.
— Não será até amanhã. Robert está trabalhando esta noite e
quero esperar por ele.
— Espero que o Wi-Fi não seja irregular no avião, porque é mais
provável que eu esteja sem sinal quando você descobrir.
— Você não vai precisar de um sinal, você vai me ouvir gritar todo
o caminho do céu.
Eu sorri enquanto subia na cama. — Eu me sentirei mal pelo
mundo quando você entrar em trabalho de parto.
— Muito engraçado. — Ela mastigou novamente, gemendo
enquanto engolia. — Obrigada pelo doce, idiota.
— Te amo — eu disse e desliguei.
Essa era a nossa amizade. Como um rolo de atum picante, simples
com um chute.
CAPÍTULO DOIS

JARED

Carreguei minha pasta e empurrei uma pequena bagagem de mão


pelo saguão do meu prédio, acenando para o porteiro antes de sair.
Meu motorista estacionou o SUV ao longo do meio-fio e estava
parado ao lado do banco de trás, abrindo a porta para mim. — Bom dia,
Sr. Morgan.
Eu dei a ele ambas as alças, liberando minhas mãos. — Bom dia,
Tony.
Subi na parte de trás, pegando o New York Times do outro assento
e colocando-o no meu colo. Estava nítido e fechado, do jeito que eu
gostava do meu jornal todas as manhãs, como Tony sempre o trazia.
— Sua assistente enviou as informações do seu voo — disse ele,
enquanto se sentava no banco do motorista. — Eu só quero confirmar
que você está pegando um voo comercial saindo de JFK?
Olhei para cima da dobra, pegando seu olhar no retrovisor.
Ele estava dirigindo para mim por um longo tempo. Dez anos pelo
menos.
Se ele não tivesse perguntado, não estaria fazendo seu trabalho.
— Isso mesmo — eu disse.
Apaguei a pequena luz de leitura e olhei pela janela no momento
em que Tony estava entrando na estrada. Manhattan parecia uma
caverna àquela hora do dia. Prédios bloqueavam a luz da lua e o sol
ainda não havia nascido no céu de outono.
Era muito cedo para estar acordado.
Mas se eu não estivesse a caminho do aeroporto, provavelmente
não estaria dormindo de qualquer maneira.
Quando entramos na Belt Parkway, meu celular vibrou no bolso
interno do meu terno. Estendi a mão para ele, sorrindo enquanto
segurava o telefone no ouvido.
— Marcus. — Ainda estava no meio da noite na Costa Oeste, mas
não fiquei surpreso que meu amigo de longa data não estivesse
dormindo.
— A caminho do JFK?
Verifiquei a janela à minha esquerda enquanto Tony mudava de
faixa. — Isso mesmo.
— Jared, eu me sinto péssimo com isso, mas não vou poder te
pegar no aeroporto. Vou enviar um dos meus rapazes. Ele estará do lado
de fora da esteira de bagagens. Vou mandar uma mensagem de texto
com o carro e a placa dele…
— Não se preocupe, minha assistente cuidou de tudo isso.
— Eu me sinto terrível — disse ele. — Eu sou toda a razão pela
qual você está vindo aqui e nada disso estaria acontecendo se não fosse
por você.
Ao longo dos anos, observei os diferentes estágios da carreira de
Marcus enquanto ele trabalhava na indústria, ganhando mais
conhecimento e responsabilidade.
Agora, ele era o chefe que eu sabia que ele seria.
— Bobagem — eu disse, falando sério. — Vá ter algum descanso.
Eu preciso de você vivo pelos próximos dias.
Ele riu. — Vejo você em breve, amigo.
Desliguei e peguei o café que Tony tinha trazido para mim,
tomando um gole enquanto ele nos levava para o Brooklyn. Na maioria
das manhãs, a cerveja preta amarga teria sido o complemento perfeito
para o jornal, já que eu terminava os dois no banco de trás antes de
embarcar no jato particular da minha empresa.
Esta manhã não foi como a maioria.
E o que eu desejava que estivesse neste copo fosse um licor tão
esfumaçado e dominante, que me forçaria a relaxar, então eu não
pensaria no verdadeiro motivo pelo qual eu estava embarcando neste
avião. A que não tinha nada a ver com Marcus.
Nada neste mundo era forte o suficiente para tirar esses
pensamentos.
Nem uísque.
— Há alguma coisa que eu possa conseguir para você, Sr. Morgan?
Olhei para o céu escuro, minha mão apertando a xícara quente. —
Você pode ligar o rádio.
— O canal de notícias que você costuma ouvir?
Meu olhar caiu para a placa que dizia que estávamos a 12 milhas
do aeroporto. — Não, encontre algum rock — eu disse a ele. — E, Tony?
— Eu respirei. — Toque alto.
CAPÍTULO TRÊS
HONEY

PRIMAVERA DE 1984

A primeira vez que Honey ouviu a voz de Andrew, viu estrelas.


Isso porque ela estava em uma cama, sendo rolada pela sala de
emergência e as luzes acima a estavam cegando completamente. Mas os
flashes de luz em sua visão também eram de dor. Cada vez que uma
cãibra intensa atingia seu abdômen, sua visão ficava turva e embaçada.
Quando ele se juntou a ela, Andrew se apresentou como o médico
assistente do departamento de emergência do Maine Medical Center e
fez perguntas a ela durante toda a viagem pelo corredor. Quando
chegaram à sala de exames, uma enfermeira havia colocado uma toalha
fria sobre o rosto de Honey, para que ela não tivesse que se esforçar para
manter os olhos fechados.
— Eu vou tocar sua barriga — disse Andrew uma vez que as rodas
da cama foram travadas. — Você pode ficar na posição em que está. Eu
só preciso que você me diga se dói.
— Isso dói! — Honey gritou no segundo em que ele pressionou
seu lado direito. Ela tentou lutar contra a tortura enquanto ele se movia
para suas costas, mas era demais. — Ai!
— Honey, respire fundo por mim.
Mesmo que soasse mais como um termo carinhoso, ela não se
concentrou nisso. Deitada de lado, manteve o rosto entre os joelhos, os
olhos fechados e tentou abrir os pulmões, inspirando o ar o mais
devagar que podia.
— Que tal aqui? — ele perguntou, seus dedos retornando, agora
em um ponto mais baixo.
Uma agonia lancinante a atravessou, e sua bravura desapareceu.
— Faça parar. — Ela respirou fundo. — Por favor, doutor. Eu não
aguento.
— Eu pedi alguns raios-X, que vamos fazer agora. Se for
apendicite, o que acredito que seja, levaremos você para a cirurgia.
— Cirurgia?
Com sua colega de quarto no trabalho, Honey dirigiu-se ao
hospital. Nem em todo o tempo que ela esteve doente durante as horas
em seu apartamento antes de ir para o hospital, durante a viagem
quando parou para vomitar, quando ela entrou no estacionamento,
dobrada de dor achou que ela precisaria de cirurgia.
— Fazemos cerca de cinquenta por mês — disse ele. — É muito
comum.
Ela tinha que ver seu rosto, sua voz não era suficiente. Então,
lentamente, Honey começou a desenrolar seu corpo e levantar a cabeça,
a toalha caindo de seus olhos. Eles não estavam abertos mais do que uma
fresta quando uma onda de náusea passou por ela, e ela se jogou na
cama, imediatamente cobrindo o rosto novamente. — Apenas me
conserte.
Seus dedos foram para o ombro dela. — Você está em boas mãos.
Havia algo em seu toque que a tranquilizou, que realmente a fez
acreditar que ia ficar bem. Ela não sabia por que acreditava nele ou como
a ponta dos dedos de alguém poderia fazê-la se sentir assim.
Mas o dele sim.
— Existe alguém que podemos chamar para você? — ele
perguntou. — Um marido? Amigo?
— Não. — Sua perna se contraiu quando uma cãibra a atravessou.
— Meus pais estão fora da cidade e minha colega de quarto está no
trabalho. Você nunca será capaz de alcançar nenhum deles.
— Não se preocupe, não vamos deixá-la sozinha.
Honey não tinha passado muito tempo dentro de hospitais ou
consultórios médicos, mas não conseguia se lembrar de quando um
médico havia sido tão gentil com ela. Especialmente um que
provavelmente tinha uma sala de emergência cheia de pacientes.
Ela estendeu a mão e quando sentiu o pulso dele, ela circulou os
dedos ao redor. — Obrigada.
— Vamos levantá-la — disse Andrew e foi quando Honey ouviu
mais pessoas entrando na sala. — Então, vamos tirar os raios-X.
Ela respirou fundo, querendo gritar quando a dor veio com tanta
força. — Tudo bem.
— Você pode apertar minha mão se doer.
Ela não agradeceu de novo, mas seu aperto aumentou no minuto
em que ela estava no ar e não parou de agarrá-lo até que o remédio em
seu IV fez tudo passar de escuro para preto.
CAPÍTULO QUATRO

BILLIE

Eu não era uma diva quando se tratava de viajar. Pelo menos, não
em comparação com os outros vloggers do meu setor, cuja lista de
requisitos era muito mais extensa do que a minha. Havia apenas duas
coisas que eu pedia e isso era um mínimo de um hotel de quatro estrelas
e um assento na janela em uma fileira que tinha apenas um pouco de
espaço extra para as pernas.
Não achei que fossem pedidos irracionais.
Eu certamente apreciava os poucos centímetros adicionais de
espaço nos voos mais longos, como o que eu estava fazendo hoje.
Quando cheguei à fileira quatorze, que era a fileira da saída de
emergência, guardei minha bolsa no compartimento superior, levando
meu tablet, fones de ouvido e café para o assento comigo. A cortina
estava abaixada, então eu a levantei, e através da escuridão lá fora, eu vi
o avião branco reluzente próximo ao nosso. Dois homens estavam
carregando bagagem sobre a barriga, levantando malas como se
pesassem apenas alguns quilos. Eu estava tão concentrada no que eles
estavam fazendo que quase não vi o reflexo na janela do homem parado
atrás de mim.
Quando você voava semanalmente, você realmente notava as
pessoas com quem se sentava. Como uma pessoa observadora por
natureza que captava os detalhes mais sutis, não pude deixar de ver as
suas características. Quando meus olhos viajaram pelo acrílico, observei
sua estatura e constituição. Ambos foram impressionantes o suficiente,
então me virei para ver mais e fiquei tão alta quanto seu peito quando
ele se abaixou. Em um segundo, eu tinha todo o seu rosto memorizado.
Até as pequenas linhas nos cantos de suas pálpebras, as mais duras em
sua testa e os pedaços de sua barba que estavam salpicados de cinza. A
mais exigente de todas as suas feições eram os seus olhos. Eles eram da
cor de calda de chocolate e tão pesados quanto a sobremesa grossa.
Você não olhava para este homem por causa de sua aparência,
embora ele fosse extremamente bonito. Você o encarava porque debaixo
de seu olhar penetrante e terno caro havia alguém profundo.
Aprendi isso depois de um segundo olhar e isso me pegou
completamente desprevenida, a ponto de um — bom dia — sair
aleatoriamente da minha boca.
Ele já estava sentado, os olhos no jornal que estava no colo. — Dia.
Sua voz era extremamente masculina, profunda e um pouco
áspera como a barba que cobria suas bochechas.
Percebendo que ainda estava olhando para ele, virei para o meu
tablet, abrindo o site do restaurante que visitaria amanhã à noite.
Estudar o cardápio era o primeiro passo, sempre fazia isso antes de
chegar. O menu me deu o tom e me preparou um pouco para o que
esperar. Coisas como fontes e adjetivos me diziam muito sobre um chef.
Quando olhei para o menu do Basil, a simplicidade foi o que me
veio à mente. Os pratos não estavam saturados com os lados. Eles
também não eram ricos em descrição. Três, quatro palavras no máximo,
com fonte script. Vários dos pratos principais foram nomeados após a
avó Sofia.
Este restaurante gritava tradicional.
Eu estava clicando na página, quando o homem ao meu lado se
inclinou e colocou o braço no ar. Seu outro braço também se levantou e
ele começou a tirar o paletó. Uma vez que ele retirou o paletó, se
levantou para colocá-lo no espaço superior. Quando voltou para o seu
lugar, lembrei do que eu tinha sentido antes quando ele se sentou. Não
era uma colônia avassaladora. Era fresca, fresca como o meio da floresta
durante uma tempestade.
Um perfume que eu compraria para um namorado... se houvesse
um.
Algumas coisas eu poderia justificar na minha cabeça, mas
precisando ouvir mais da voz desse homem, eu não podia. Seria mais de
seis horas de voo que teria que passar trabalhando, então não havia
motivo para puxar conversa. Mas o desejo de saber mais sobre ele era
mais forte do que querer ser pega no meu e-mail.
Eu o encarei novamente. — Você está indo para São Francisco
para trabalhar ou se divertir... ou talvez seja sua casa?
Seus olhos lentamente se voltaram para mim, suas mãos ainda
segurando o papel na vertical, o que me disse que ele planejava voltar a
ele. Várias batidas de silêncio se passaram, o poder em seu olhar tão
denso quando ele havia embarcado.
E assim que ele abriu a boca, uma comissária de bordo veio pelo
interfone e disse: — Obrigada por embarcar no voo 88 com serviço sem
escalas para São Francisco — interrompendo-o.
CAPÍTULO CINCO

JARED

— Você está disposto e capaz de ajudar no caso de uma situação


de emergência? — a comissária de bordo perguntou enquanto ela estava
ao lado de nossa fileira. Ela apareceu logo após o anúncio que nos
informou que todos os passageiros estavam agora a bordo do avião para
São Francisco e os pilotos estavam fazendo seus preparativos finais
antes que o voo 88 se afastasse do portão.
— Sim — respondi e deveria ter voltado ao artigo sobre o
mercado imobiliário na parte baixa de Manhattan que comecei quando
estava esperando para embarcar. Em vez disso, meus olhos estavam
sobre ela.
A garota no assento 14A.
Ela tinha cabelos escuros que iam bem abaixo de seus ombros,
uma mancha de sardas sob cada um de seus olhos, lábios carnudos e
cheios. Ela não era bonita. Ela era requintada.
E ela não fazia a menor ideia.
Nos quarenta e sete anos em que estive vivo, aprendi algo sobre
as mulheres. Havia aqueles que você não podia deixar de olhar e aqueles
que você simplesmente não deveria olhar.
Ela era os dois.
Isso era raro.
— Sim — ela respondeu à comissária de bordo e então ela olhou
para mim.
Antes de todas as interrupções, ela perguntou por que eu estava
indo para a Califórnia. Finalmente respondi: — Algum trabalho, prazer.
E você?
— O mesmo. — Suas pálpebras se estreitaram. — Você é de
Manhattan? Eu não detecto um sotaque.
Senti o papel em minhas mãos e sabia que não havia como voltar
a ele. Não ainda, pelo menos, não com seu olhar verde ardente em mim.
— Quando você mora em Nova York há tanto tempo quanto eu,
você diz às pessoas que é de lá. É mais fácil.
Ela riu e isso me fez continuar olhando para ela. — Também estou
aqui há algum tempo e concordo. Uma vez que Nova York se torna o lar,
você parece esquecer todos os outros lugares em que viveu. — Ela
colocou um pouco de cabelo atrás da orelha. — Por que isso?
Quando pedi à minha assistente para reservar este voo, não
pensei que voar comercial me colocaria em posição de conversa, como
a que ela acabara de começar. Eu não tinha pensado muito sobre o voo
real além de saber que eu tinha que estar nele.
Mas agora que eu estava aqui, eu não tinha ideia do que diabos eu
estava pensando.
Eu realmente não deveria estar indo para São Francisco.
Desviei o olhar dela para olhar para frente. A porta principal
estava fechada, me dizendo que era tarde demais para sair do avião. A
única coisa que eu podia fazer neste momento era pegar um pouco de
ar.
Pedi licença, no meio do caminho, sabendo que estávamos a
minutos de sair do portão e deveríamos estar em nossos lugares, e desci
o corredor. — Serei rápido — eu disse a uma das comissárias de bordo
quando ela se aproximou de mim e continuei até o banheiro.
Quando entrei, tranquei a porta atrás de mim, achando que tinha
cerca de trinta segundos antes de ouvir uma batida.
Se eu estivesse em qualquer outro banheiro, teria lavado o rosto,
mas não faria isso com a água de um avião. O que eu precisava desse
espaço apertado e estreito era recuperar o fôlego.
Porque tudo tinha sido sugado de mim e não havia ar na fileira
quatorze.
Agarrei a borda da pia estreita, me olhando no espelho embaçado.
No início desta manhã, quando eu não conseguia dormir, raspei as
pontas da minha barba e cortei o comprimento. Eu estava vestindo um
dos meus ternos favoritos. O nó Windsor na base da minha garganta era
perfeito.
Talvez eu não estivesse pronto, mas com certeza parecia.
Afastei-me da pia e saí do banheiro, imediatamente sendo
cumprimentado pela comissária de bordo que estava com a mão no ar
como se estivesse prestes a bater.
— Por favor, sente-se — disse ela.
Eu sabia que deveria perguntar a ela se havia um assento da
primeira classe disponível com mais espaço para as pernas e menos
conversa.
Ao não fazer isso, eu sabia que estava cometendo um erro.
— Voador nervoso? — a garota perguntou quando voltei para o
meu lugar, prendendo o cinto na minha cintura.
Foi o som de sua voz que me fez olhar para ela.
Esse foi meu segundo erro.
E o que quer que acontecesse a seguir seria o terceiro.
CAPÍTULO SEIS

BILLIE

Tomei um gole do meu café, virando-me um pouco mais para o


homem sentado ao meu lado quando ele respondeu: — Vou ficar bem.
Eu perguntei se ele era um voador nervoso depois que ele se
levantou no meio da nossa conversa para ir ao banheiro. Fazia mais
sentido desde que ele se levantou tão abruptamente, quebrando um
olhar que eu senti em meus dedos dos pés. A ansiedade era algo que eu
sabia como lidar, então, quando o avião começou a se afastar do portão,
baixei a cortina. Não todo o caminho, apenas o suficiente para não ter
uma visão direta do lado de fora, o que ajudaria se ele não gostasse de
altura.
— Que tal um coquetel quando estivermos no ar? — Eu sugeri,
encarando-o novamente. — Depois de alguns, garanto a você, este voo e
tudo nele pareceram perfeitos.
Ele apenas olhou para mim.
E um, dois, três segundos se passaram antes que ele dissesse: —
Pode ser um pouco cedo para isso.
Eu ri, em parte porque eu estava contando a ele um pequeno
segredo e em parte porque eu queria ver se isso iria aliviar as coisas. —
Eu vivo pelo lema de que são cinco horas em algum lugar. Se você quer
uma bebida, tome uma. Não perca tempo discutindo isso. A vida é muito
curta para isso.
Ele não estava sorrindo, mas seus lábios não estavam duros como
quando ele tinha se sentado. — Você vai se juntar a mim então?
Quando um cliente estava pagando minha viagem, eu tinha regras.
Não ficar bêbada era uma delas. Mas não havia razão para que eu não
pudesse beber uma mimosa, considerando que eu não iria ao
restaurante por mais doze horas. Além disso, esta noite, eu estava
apenas tirando fotos e gravando vídeos. Amanhã era quando eu estaria
comendo.
— Eu vou ter um.
Seus olhos se estreitaram. — O que aconteceria se você tivesse
dois?
— Eu ficaria bem. Três de estômago vazio é questionável. Quatro
seria feio e provavelmente me demitiria.
— Chefe rigoroso.
Enquanto eu me posicionava novamente, meu corpo agora de
frente para ele ainda mais, notei que seu papel tinha amassado em seu
colo e ele não estava mais segurando-o na vertical. Eu sorri com a visão,
colocando meu café na minha coxa enquanto dizia: — Você está olhando
para ela. — Senti que estávamos fazendo uma curva para seguir para a
pista. Manter sua mente ocupada ajudaria seus nervos e a única maneira
de fazer isso era enterrá-lo na conversa. — Deixe-me esclarecer… meu
trabalho é centrado em comida e alimentação. Isso não combina bem
com ressaca.
Ele acenou com a cabeça em direção ao meu tablet, que mostrava
o site de Basil e fotos de alguns de seus pratos. — Você fez isso?
— Oh, não. — Desliguei a tela. — Sou uma vlogger de comida, não
uma chef.
Mesmo que ele não mostrasse nenhuma emoção, parecia que
estava se aquecendo um pouco. Eu acreditei especialmente nisso
quando ele disse: — Conte-me mais sobre este trabalho.
— Bem... por onde eu começo...
— Fomos informados de que estamos em segundo lugar na
decolagem — disse o piloto pelo interfone, me interrompendo. —
Comissárias de bordo, por favor, preparem-se para a partida.
Por hábito, olhei para a janela. Com as luzes internas ainda acesas,
tive a foto perfeita do que estava à minha frente e da vista diretamente
atrás de mim.
Estávamos sentados na pista, prontos.
Mas então meus olhos mudaram, absorvendo o reflexo e a
intensidade voltou ao meu corpo. Era a mesma sensação que ele havia
causado antes e que quebrou quando foi ao banheiro.
Isso porque, entre o acrílico, eu vi seus olhos.
E eles estavam conectados com os meus.
CAPÍTULO SETE

HONEY
PRIMAVERA DE 1984

— Você tem um quarto de canto grande e bonito só para você —


a enfermeira disse a Honey enquanto ela estava ao lado de sua cama.
Ela foi colocada no andar pós-cirúrgico onde ficaria até amanhã,
supondo que estivesse bem o suficiente para receber alta.
— O médico vem me verificar? — Honey perguntou.
Ela ainda estava tão grogue da cirurgia, a boca seca, os lábios
rachados. Mas se lembrou do homem que foi tão gentil quando ela
entrou no hospital, que ficou com ela até que fosse preparada para a
cirurgia e ela queria agradecer a ele.
— Você já o viu — disse a enfermeira, verificando a conexão no
IV. — Ele falou com você quando estava em recuperação.
Honey tentou se lembrar da conversa, mas nenhuma palavra lhe
veio à mente. Nem mesmo seu rosto, que ela teria visto pela primeira
vez.
— O que ele me disse?
A enfermeira apoiou o travesseiro de Honey um pouco mais alto.
— Ele disse a você como tudo correu bem.
— Eu quero que ele… — ela não podia acreditar o quão pesado
seus olhos estavam ficando, como seus membros pareciam chumbo —
…volte. — Um formigamento estava se espalhando, como pequenas
manchas de sol explodindo dentro de seu sangue. — Eu estou tão
cansada.
A enfermeira puxou o cobertor até o queixo de Honey e então ela
adormeceu.
***
— Olá? — Honey sussurrou no receptor do telefone, sua garganta
tão arranhada que estava queimando.
O toque a acordou de um sono profundo.
— O que em nome de Deus aconteceu com você? — Valentine
gritou.
A voz de sua colega de quarto estava tão alta que ela teve que
afastar o telefone do ouvido.
Uma vez que Honey percebeu que Valentine estava procurando
uma resposta, ela passou a língua pelos dentes, tentando produzir um
pouco de saliva que pudesse umedecer sua boca. — Eu não tenho ideia
— ela finalmente disse. — Voltei para casa do trabalho, não me sentindo
bem. Continuei ficando doente e acabei aqui.
— Provavelmente é da sua comida.
— Não me faça rir. — Ela segurou seu abdômen, sentindo o puxão
de seus pontos. — Estou terrivelmente dolorida, mesmo com todos os
medicamentos.
— Acabei de chegar em casa e ouvi a mensagem na secretária
eletrônica. Vou me trocar e estarei aí em alguns minutos.
— Que mensagem?
Honey havia deixado um bilhete na mesa da cozinha, dizendo que
ela estava indo para o hospital, mas não foi isso que sua colega de quarto
disse.
— O médico deixou uma para mim — Valentine respondeu. — E
então eu vi o que você tinha escrito. Liguei para o hospital e eles me
conectaram ao seu quarto.
Se seu estômago não estivesse tão apertado, ela teria disparado na
cama. — Ele fez? — Ela se lembrou da conversa que teve com o médico,
dizendo que ele não poderia entrar em contato com sua colega de quarto
ou pais.
Seu aviso não o impediu de tentar.
Foi apenas mais um ato de bondade do homem cujo rosto ela
ainda não tinha visto.
— Isso foi muito legal da parte dele — disse Honey.
— Também achei. Vejo você em breve. Mantenha-se firme.

***
— Bom dia — disse um homem quando entrou no quarto de
Honey.
Ela tinha acabado de tomar o café da manhã e estava assistindo ao
noticiário. Seu jaleco branco lhe dizia que ele era médico, mas era sua
voz que o identificava.
— É você — ela disse. — O cirurgião de ontem à noite. Andrew…
O médico sorriu enquanto se aproximava de sua cama. — Este sou
eu. — Ele checou o monitor, anotando algo no prontuário que estava
segurando.
Honey não conseguia parar de olhar para ele. Ele era bonito de um
jeito juvenil, mas ela podia dizer que ele tinha pelo menos trinta anos.
Ele tinha olhos que brilhavam como se suas íris estivessem cercadas por
fogos de artifício. Um sorriso encantador e diabólico. E então havia suas
mãos com aqueles dedos incrivelmente fortes.
Mãos que cortaram seu corpo.
Um corpo que agora estava curado por causa dele.
— Seus números estão ótimos — disse ele, olhando entre o
monitor e seu gráfico. — Os sinais vitais são perfeitos. O exame de
sangue voltou… — ele virou uma página e então olhou para ela — … tudo
normal. Então, não vejo por que você não pode receber alta hoje. — Ele
colocou a papelada na mesa e então foi até a cama, esfregando as mãos
como se estivesse tentando aquecê-las. — Eu só vou verificar sua
incisão.
Honey encheu seus pulmões de ar e o segurou enquanto ele
examinava sua barriga. Seu toque era suave, seus dedos muito mais
quentes do que ela pensou que seriam.
— Exatamente do jeito que eu quero que pareça — disse ele,
cobrindo-a de volta. — Vou ter um gerente de caso trabalhando em seus
planos de alta. Sua colega de quarto irá buscá-la?
Honey não podia acreditar em quão rude ela tinha sido. Durante
toda a manhã, ela havia planejado o que diria se tivesse a oportunidade.
E aqui estava ele e ela ainda não tinha dito nada.
— Sim — ela respondeu.
Ela estava prestes a dizer mais quando o médico acrescentou: —
Conseguimos tirá-la daqui em uma hora, duas no máximo. Siga as
instruções da enfermeira sobre cuidados posteriores e agende uma
visita com seu médico principal. Você estará em boa forma.
— Obrigada. — Ela levantou o braço e o segurou sobre a barriga,
seu corpo já se sentindo menos sensível do que quando ela acordou. —
Você foi maravilhoso comigo ontem à noite. Obrigada parece tão simples
por tudo o que você fez… — ela olhou para o IV em sua mão — …mas eu
realmente quero dizer isso.
O médico ficou de frente para ela, ainda de pé a apenas alguns
centímetros da cama. — Estou feliz que você esteja se sentindo melhor.
— Seus olhos desceram para a boca dela. — Você tem alguma pergunta
para mim?
Havia uma que estava em sua mente desde que Valentine a visitou
na noite passada, uma que ambas as meninas queriam a resposta.
— Você é tão legal com todos os seus pacientes? — Assim que ela
disse isso, desejou que não tivesse dito. — Eu sinto muito. Eu... — Ela fez
uma pausa, sem saber para onde ir a partir daqui, seu rosto ficando mais
vermelho a cada segundo.
O médico sorriu, sua mão movendo-se para a grade lateral de sua
cama. — Você não se lembra de mim, não é?
Honey empurrou a cabeça no travesseiro, seus olhos se
estreitando enquanto ela olhava para ele, procurando em sua memória
por seu rosto. Lentamente, enquanto ela continuava a encará-lo, a névoa
começou a se dissipar.
E veio a ela.
— Eu lembro.
CAPÍTULO OITO

JARED

— Sou Billie Paige — ela disse, estendendo a mão para mim.


Seu aperto não era pequeno ou fraco. Nem era sua personalidade.
O que ela tinha era uma alma velha que ia além de sua idade, me dizendo
que não havia nada de imaturo na bela mulher sentada ao meu lado.
— Parece um pouco bobo — ela continuou. — Acabei de te contar
metade da história da minha vida e você nem sabia meu nome. Talvez
devêssemos nos encontrar ao contrário.
Já havíamos voado através das nuvens e eu não tinha dito mais do
que algumas palavras.
Eu gostava assim e eu gostava de ouvi-la falar.
Mas sentar nesta cadeira, neste avião, foi a maior sorte da minha
vida.
Ainda segurando a mão dela, eu disse: — Jared Morgan. Prazer em
conhecê-la, Billie.
Sua cabeça inclinou um pouco para o lado, um sorriso cobrindo
sua boca. — Você pode perguntar. — Seu aperto afrouxou, mas ela
demorou a puxar a mão. — Todo mundo faz.
Levei um segundo para descobrir a que ela estava se referindo e
então fui com a escolha óbvia. — Alguém que é fã de Billie Holiday?
Ela balançou a cabeça. — Billie Burke.
— Billie Burke — eu repeti e então me ocorreu. — Do Mágico de
Oz.
— Ela era Glinda, a Bruxa Boa, e também a atriz favorita da minha
mãe.
Quando o sorriso dela mudou, quando se aprofundou – ficando
ainda mais genuíno, mais deslumbrante – eu desviei o olhar, olhando
para minhas mãos, mantendo meu olhar lá. Isso era muito mais seguro
do que olhar para ela.
— Estou impressionada que você sabe disso — disse ela.
Ouvi alguém se aproximar por trás e me virei bem a tempo de ver
uma comissária prestes a passar pela nossa fileira, a primeira a chegar
desde que decolamos.
— Desculpe. — Ela parou na frente do meu lugar e eu acrescentei:
— Tem alguma maneira de você nos trazer algumas bebidas?
— Uma vez que atingimos a altitude do voo, isso não deve ser um
problema. O que posso te dar?
— Vou tomar um uísque com gelo. A melhor marca que você tem.
Billie respondeu: — Mimosa, obrigada.
— Apenas me dê alguns minutos — ela respondeu e continuou
pelo corredor.
A pausa que tirei dos olhos de Billie não foi longa, mas eu
precisava. Especialmente quando nossos olhares se conectaram
novamente e seus olhos estavam ainda mais ardentes do que antes.
— O que você faz, Jared?
Logo, eu estaria com uma bebida na mão, estaríamos em um ritmo
constante e parecia que eu tinha sobrevivido à decolagem.
Eu tinha certeza que ela pensaria isso.
Exceto que o sentimento que eu tinha dentro de mim não era
sobre a decolagem.
CAPÍTULO NOVE

BILLIE

Eu conheci centenas de pessoas durante minhas viagens,


características variando do mais interessante ao dolorosamente chato e
todos os níveis intermediários. Não havia nada sem graça sobre Jared
Morgan. Tudo o que eu tinha visto até agora só me intrigou mais e eu
queria desesperadamente que ele continuasse falando.
Ironicamente, ele era um homem de poucas palavras.
Ele esfregou a mão na coxa e finalmente respondeu à minha
pergunta: — Eu trabalho no setor de segurança.
Cada passagem sobre sua perna me enviava mais de seu cheiro.
Mesmo que fosse sutil, estava presente, e quando senti o cheiro do meu
café, me peguei procurando por sua colônia.
— Isso significa que você é técnico ou do tipo protetor. — Meu
olhar se aprofundou quando olhei em seu rosto, mas não precisava. Eu
sabia tudo, junto com a resposta. — Protetor. Definitivamente.
— Você está certa.
Eu ia ter que cavar.
Eu estava bem com isso.
— Conte-me sua história, Jared. Quero saber como alguém entra
no seu ramo.
Ele cruzou a perna, o salto do sapato de couro veio na minha
direção. Ele não me notou olhando para o tamanho dele porque estava
focado na frente do avião.
— Na faculdade, eu era um bom amigo de alguns dos caras do
time de futebol. Um deles foi convocado na primeira rodada da NFL e
conseguiu uma posição inicial. — Sua mão foi para a gravata, afrouxando
o nó. — Ele era um ímã para problemas e seus treinadores insistiam em
um guarda-costas. Ele me ligou.
Isso foi o máximo que ele falou e houve uma mudança em sua voz.
Uma suavidade que eu não tinha ouvido antes, como se o filtro tivesse
sumido e estivesse liberando uma pista.
— Por quanto tempo você foi guarda-costas dele?
Ele estava olhando para o pulso quando disse: — Três anos. — Ele
desabotoou a abotoadura e começou a enrolar a manga. — Uma lesão o
obrigou a se aposentar.
— Imagino que você tenha se juntado com outra pessoa?
Ele parou logo abaixo do cotovelo, revelando um antebraço
bronzeado e cabelos escuros. — As coisas estavam ocupadas naquele
momento. — Ele começou a enrolar a manga do outro braço. — Eu já
tinha alguns guarda-costas trabalhando para mim e alguns funcionários
do escritório, e continuamos a crescer.
— Quantos funcionários você tem agora?
Os músculos de sua mandíbula flexionam como se ele estivesse
rangendo os dentes. — Trezentos.
— Uau. — Meus olhos se arregalaram, meus lábios ficaram
separados. Eu não esperava que ele dissesse isso. — Parabéns. Isso é
uma baita realização.
Ele me deu um aceno de cabeça e se eu não estivesse olhando para
ele, eu teria perdido.
Ele não aceitava bem os elogios.
Eu aprendi isso imediatamente.
A comissária de bordo apareceu de repente com nossas bebidas.
— Aqui está — ela falou, abrindo a bandeja de Jared e colocando seu
uísque sobre ela. Ela fez o mesmo com a minha e colocou a mimosa no
meio.
Eu mal tinha meus dedos ao redor do copo quando Jared entregou
a ela um cartão e disse: — Para ambos.
— Eu não posso deixar você pagar — eu disse a ele.
Ele não olhou para mim. Ele apenas deu-lhe um sinal e ela enfiou
o cartão em seu dispositivo portátil.
Esperei até que ela fosse embora para dizer: — Obrigada. — Seu
cartão voltou ao bolso e quando sua bebida estava em sua mão, estendi
a minha em sua direção. — Mesmo que esta rodada tinha que ter sido
por minha conta, aplausos.
Ele observou nossos copos tilintarem e então seus olhos
lentamente se ergueram para os meus. — Saúde.
Era uma palavra.
Uma única sílaba.
Não havia nada de especial na combinação de letras.
Mas quando eles saíram da boca de Jared, misturados com a
dureza de sua voz, um calor escorreu pela minha pele e um sorriso abriu
caminho pelo meu rosto.
Ele não percebeu. Seu olhar estava agora no copo que ele estava
levando aos lábios. Ele tomou um único gole antes de colocá-lo na
bandeja.
Eu fiz o mesmo, parando quando ouvi o ding no alto-falante e o
anúncio que se seguiu.
— O capitão desligou o sinal do cinto de segurança. Agora você
está livre para se mover pela cabine.
Tirei o cinto de segurança e deslizei para o final do meu assento.
Esta foi a única parte que eu não gostei de estar ao lado da janela. — É a
minha vez — eu disse a ele agora que seu olhar voltou para o jornal.
Ele rapidamente olhou para mim e então se levantou, recuando
para o corredor. Segurando meu café e mimosa e fechando minha mesa
de bandeja, passei por seu assento e entrei no espaço na frente dele.
Normalmente, eu não pensaria em estar tão perto. Morando em
Manhattan, estávamos acostumados a áreas apertadas nas calçadas,
trens, em nossos pequenos apartamentos.
Mas minha mente não estava cheia de nada enquanto eu estava na
frente de Jared.
E esses pensamentos, apenas ingredientes neste momento, me
fizeram parar.
Naquele breve momento, senti seu cheiro mais uma vez e o calor
de seu corpo que estava a centímetros de distância e me perguntei por
que ele não tinha me dado mais espaço. E quando me virei, sussurrei —
Obrigada — antes de me dirigir para a frente do avião.
CAPÍTULO DEZ

HONEY
PRIMAVERA DE 1984

Enquanto honey olhava para o belo médico, as memórias de seu


primeiro encontro começaram a se desenrolar em sua cabeça.
Acontecera na semana anterior, causando uma boa impressão nela. Foi
por isso que ela ficou surpresa por não tê-lo reconhecido quando ele
entrou.
— Você estava com muita dor na noite passada — disse ele. — Eu
sabia que você não tinha feito a conexão.
Honey concordou. — Não consegui abrir os olhos, mas não tenho
desculpa para hoje. — A vergonha estava aparecendo em seu rosto e ela
desejou poder se enterrar sob o cobertor.
— Você esteve anestesiada e nós a mantivemos bem medicada.
Confie em mim quando digo, não vou usar isso contra você.
Ele estava sorrindo agora e Honey se viu fazendo o mesmo,
exatamente como quando o conheceu no DMV2 na semana passada.
Ela trabalhava lá desde a formatura do ensino médio e era
responsável por fazer as identidades. Andrew entrou para uma nova
licença, trocando sua licença da Virgínia para se tornar um residente do
Maine.
Honey tirou a foto e pediu-lhe que sorrisse enquanto apontava a
lente para seu lindo rosto.
Uma vez que essa parte acabou, a maioria das pessoas sentou-se
na área de espera, não se aproximando do balcão novamente, a menos
que Honey chama-se o número deles.
Não Andrew.

2
Departamento de veículos automotores, no Brasil, é chamado de DETRAN.
Ele ficou não muito longe de onde ela estava trabalhando,
iniciando uma conversa quase imediatamente. Foi então que ela soube
que ele havia acabado de se mudar para Portland e estava em busca de
coisas divertidas para fazer e bons lugares para comer. Então, enquanto
a foto dele era processada, ela contou a ele sobre suas trilhas favoritas e
os parques da região e alguns restaurantes da cidade. Quando ela lhe
entregou sua licença, ele tinha o suficiente para se manter ocupado por
semanas.
Antes de deixar o DMV, ele a agradeceu duas vezes.
— Eu aprecio isso — disse ela.
— Eu fui para Burnt Island Light alguns dias atrás. Fiz uma pausa
do hospital e comi meu almoço lá. Foi bonito.
Aquele era um dos faróis sobre os quais ela lhe falara e ficou
satisfeita por ele ter aceitado sua sugestão. — Adoro lá.
O monitor fez um barulho e o médico olhou para ele antes de
voltar a olhar para ela. — Naquele dia em que você me ajudou, eu fui
direto do hospital. — Ele suspirou, sua mão puxando seu cabelo. — Eu
não estava tendo um bom dia... até que eu vi você.
Honey sentiu que começava a se mexer na cama, cada turno um
lembrete de que acabara de fazer uma cirurgia ontem.
Dele.
O pensamento fez sua respiração acelerar.
— Você saiu do seu caminho, Honey... e como alguém novo nesta
cidade, isso significou muito para mim. — Ambas as mãos agora
descansavam no parapeito. Eles estavam perto, mas ainda sem tocá-la.
Ela sorriu. — Fico feliz em poder ajudar.
O médico sustentou seu olhar por mais alguns segundos e então
se afastou da cama. — Cuide dessas incisões — disse ele, então se virou
e saiu.
CAPÍTULO ONZE

JARED

Billie estava andando pelo corredor em direção ao banheiro na


frente do avião, mas segundos antes ela estava parada na minha frente.
Eu a mantive perto de propósito, querendo ver se a conexão era tão forte
quando estávamos de pé.
Era.
E então nossos olhos se encontraram, seus lábios se separaram e
eu vi através de seu olhar – o que ela estava sentindo, o que ela queria.
O que ela pensava de mim.
Era lisonjeiro que uma mulher tão linda e tão bem-sucedida
quanto Billie Paige se sentisse atraída por mim quando eu era
obviamente muito mais velho que ela. Mas isso era tudo o que era - uma
atração.
Porque Billie estava fora dos limites.
Logo antes de ela se virar para ir ao banheiro, meu olhar caiu para
sua bunda. Era perfeita, redonda na parte inferior, mergulhava de cada
lado que caberiam perfeitamente nas minhas mãos.
Obriguei-me a desviar o olhar, terminando a provocação, e olhei
pela janela do outro lado do avião e depois atrás de mim enquanto as
bebidas estavam sendo servidas. Prestei atenção em sons que pudessem
me distrair — o chocalho das garrafas de vidro de licor, a tagarelice
suave, o clique dos compartimentos superiores sendo abertos.
Não funcionou. Em todas as oportunidades que tive, procurei por
ela.
E a cada vez, eu me perguntava por quê.
Bebi o resto do uísque e estava mastigando um cubo de gelo
quando ela saiu. As roupas que vestia abraçavam seu corpo. Um corpo
que, de frente, tinha ainda mais curvas e arcos e…
Porra, Jared.
Colocar minha mente lá não estaria onde precisava estar.
Concentrei-me no chão e quando me levantei desta vez, mantive
meu olhar baixo e dei vários passos para trás, então ela não estava tão
perto.
— Obrigada — ela disse quando entrou na fileira.
Quando ela foi para o seu lugar, eu senti o cheiro dela no ar. O
cheiro era mais doce que baunilha, mais parecido com creme de
manteiga.
Isso não me surpreendeu.
— Jared... — ela disse depois de alguns segundos, me fazendo
olhar para cima, meu olhar se movendo de seus olhos para sua boca e de
volta. — Você... — O medo veio em seu rosto e suas mãos imediatamente
foram para os ouvidos onde ela pressionou as palmas contra eles.
Eu fiz o mesmo, exceto que não ajudou.
Nada poderia.
Porque o que perfurou meus ouvidos foi o som mais alto que eu já
ouvi na minha vida.
CAPÍTULO DOZE

HONEY
PRIMAVERA DE 1984

Quando Honey voltou para casa do hospital, Valentine a colocou


na cama e colocou um copo de água na mesa de cabeceira junto com uma
caixa de lenços e o controle remoto da TV. Ela até foi à farmácia e pegou
as receitas de Honey e trouxe um pouco de canja de galinha no caminho
de volta.
Como era uma sexta-feira, Honey teve o fim de semana inteiro
para relaxar. Valentine decidiu ligar para dizer que estava doente
também e as meninas passaram os próximos dois dias assistindo filmes
na cama de Honey. Eles estavam começando das 9 às 5 quando o
telefone tocou no final da manhã de domingo.
— Você pode alcançá-lo? — Valentine perguntou já que estava do
lado de Honey na cama.
Segurando seu lado, ela cuidadosamente rolou até que seus dedos
encontraram o telefone e então ela o levantou do gancho, o longo e
encaracolado fio seguindo-a enquanto ela o segurava em sua orelha. —
Olá?
— Honey?
Formigamento se espalhou por seu estômago quando ela ouviu a
voz do médico. — Sim.
— É Andrew, seu cirurgião.
Honey riu, segurando seu abdômen ainda mais apertado. Ela
nunca esqueceria como ele soava, e ela queria dizer isso a ele, mas em
vez disso disse: — Oi. — Ela olhou para Valentine e murmurou, é o
médico.
— Eu acordei você?
— Não, estava acordada.
Houve silêncio e então — Como você está se sentindo?
Fazia cerca de quarenta e oito horas desde que Honey deixou o
hospital. Ela sabia que ele não tinha obrigação de fazer esse telefonema.
Depois de receber alta, ela era responsável por fazer o acompanhamento
com seu próprio médico, não com Andrew.
Ele estava ligando porque se importava.
E isso significava o mundo para ela.
— Estou muito melhor do que quando você me viu pela última
vez. Isso é graças a você.
— Fico feliz em ouvir isso. — Havia sons de hospital ao fundo,
dizendo que ele estava no trabalho. — Eu quero te perguntar uma coisa.
Ela olhou para sua colega de quarto, seu coração batendo com
antecipação. — Tudo bem.
— Eu queria saber se você gostaria de jantar comigo amanhã à
noite.
Quando os olhos de Honey se arregalaram, Valentine disparou na
cama e ela se aproximou.
Honey segurou o telefone entre eles e respondeu: — Eu adoraria.
— Vou buscá-la às sete?
— Perfeito. — Ela sorriu quando Valentine gentilmente apertou
seu ombro. — Você precisa do meu endereço?
— Eu tenho — disse ele, sua voz ficando abafada pelo som de uma
sirene. — Tenho medo de ter que ir. Vejo você amanhã, Honey. Descanse
um pouco esta noite.
Quando ela colocou o telefone de volta no gancho, ela olhou para
sua colega de quarto e foi recebida com uma expressão interessante.
Ela estava prestes a perguntar o que significava o meio sorriso e a
inclinação da cabeça quando Valentine disse: — Parece que você quer
se casar com o homem.
Honey riu. — Ele é fofo. Isso é tudo. Estou lisonjeada por ele
querer sair comigo.
— Você não pode sair com ele.
Honey tinha certeza de que sua expressão combinava com a de sua
colega de quarto. Ela estava tão confusa, incapaz de pensar em uma
única razão pela qual ela não deveria jantar com ele. Com ela tendo
apenas vinte e três anos, ele era obviamente mais velho, mas ela não via
problema nisso.
Ela não via problema em nada disso.
— Por que não? — ela finalmente perguntou.
— Ele é casado.
Duas palavras que uma mulher solteira nunca quis ouvir.
Um aperto se formou no peito de Honey e havia um tremor em
suas mãos que fez seus dedos tremerem. — Como você sabe?
Valentine nunca o conheceu. Ele havia saído do quarto de Honey
muito antes de sua colega de quarto chegar ao hospital para buscá-la.
Mas quando ela recebeu alta, Andrew estava no posto das enfermeiras e
Honey o apontou para sua colega de quarto.
Honey acreditava que sua melhor amiga estava errada. Essa foi a
única conclusão que ela conseguiu chegar. Porque o que ela tinha
acabado de dizer não fazia o menor sentido.
— Ele estava usando uma aliança de ouro no dedo anelar. — Ela
abaixou a cabeça, questionando sua amiga. — Estou surpresa que você
não percebeu.
Honey também ficou surpresa com isso.
CAPÍTULO TREZE

BILLIE

Quando ouvi o barulho pela primeira vez, minhas mãos bateram


em meus ouvidos, meus dedos não eram grossos o suficiente para
bloquear o som. Nada tinha sido tão alto antes. Nem fogos de artifício,
nem o alcance das armas, nem mesmo o mais forte estrondo do trovão.
Isso era diferente de qualquer um deles. Era uma combinação de
trituração e gritos. Metal sobre metal. Velocidade misturada com força.
O avião estava tremendo. Caindo. Cada grande mudança de altitude fazia
meu estômago revirar.
Estava acontecendo a cada poucos segundos, o café e a mimosa
ameaçando subir.
Quando o som ficou mais alto, meu corpo tremeu ainda mais forte,
eu coloquei minhas pernas no meu peito e apertei meus cotovelos, meus
braços agora bloqueando a maior parte do meu rosto. Eu não sabia de
onde vinha o barulho. Se algo estava prestes a cair ou vir voando para
nós. Se estivéssemos prestes a cair do céu.
Oh Deus.
— Jared — eu gritei.
Eu não sabia por que eu disse o nome dele. Não me fez sentir
melhor. Eu não conseguia nem me ouvir dizendo isso e não havia como
ele me ouvir.
Quando fiquei sem ar, meu peito arfava por oxigênio.
Eu não conseguia inalar.
Muito medo estava pulsando através de mim.
Tudo o que eu podia fazer era apertar meu corpo dentro dessa
bola que eu tinha formado e apertar minhas orelhas com as palmas das
mãos e gritar: — Jared. — Eu gritei repetidamente, esperando por uma
resposta, esperando por algum alívio.
Esperando tudo parar.
Mas isso não aconteceu.
Ficou pior.
E foi quando eu o senti.
Foi apenas um aperto de seus dedos no meu braço, mas foi um
aperto que senti por todo o meu corpo e foi nisso que me concentrei até
o barulho parar.
A princípio, pensei que meus ouvidos estavam mentindo. Achei
que meus tímpanos haviam estourado e eu tinha ficado surda. Mas então
Jared estava separando meus braços e suas mãos estavam em mim
enquanto ele me examinava.
— Você está bem? — ele perguntou.
Havia um zumbido em meus ouvidos. Através dele, eu ainda o
ouvia, mas era difícil.
Eu balancei minha cabeça. — Não.
— Você está ferida?
Repeti a ação, esperando que o som parasse. — Eu não acho.
Ele passou por mim, empurrando a cortina até o topo, para que
pudesse ver pela janela.
— O que está acontecendo conosco? — Eu perguntei a ele.
Eu não sabia o que estava procurando, mas quando olhei através
da janela, não vi nada alarmante – nenhum objeto, nenhum dano, nem
mesmo uma nuvem escura.
— Eu não sei — disse ele, olhando para o outro lado do avião.
Olhei para os passageiros à nossa frente. O vômito cobriu a camisa
da mulher. O rosto do homem estava branco como tofu fresco. As coisas
estavam rolando pelo corredor. Vários dos compartimentos superiores
se abriram e as bagagens caíram.
O avião caiu novamente e sem o barulho, consegui segurar algo
além dos meus ouvidos. Uma mão foi para o braço e a outra agarrou
Jared enquanto eu era empurrada para o lado dele.
— Todo mundo, fiquem em seus lugares — disse uma comissária
de bordo pelo interfone.
Parecia que éramos uma pedra pulando na superfície do oceano,
cada mergulho tentando nos sugar. O avião estremecia seu caminho
através de outra área, lutando contra o ar, e nós descemos e subimos
novamente.
Minhas unhas estavam cravadas no antebraço de Jared. Eu não
conseguia parar. Ele não estava me dizendo para fazer isso. Ele nem
estava reconhecendo o que eu estava fazendo com ele.
— Que porra está acontecendo? — Eu gritei. — Por que eles não
estão nos dizendo nada?
— Acho que eles não sabem.
A mulher atrás de mim estava soluçando, cada mudança de
pressão fazendo-a ofegar. Ela ia começar a hiperventilar a qualquer
segundo.
Eu também.
O espaço dentro da nossa fileira não era grande o suficiente. Os
assentos estavam se fechando. O ar havia sumido.
Eu não conseguia respirar.
Eu mal podia segurar.
— Algo atingiu um dos motores — Jared disse enquanto olhava
para mim.
Eu não sabia o que isso significava.
Um avião pode sobreviver com um motor como uma pessoa pode
viver com apenas um rim?
— Como você sabe? — Perguntei a ele, segurando o apoio de
braço por baixo da mão quando passamos por cima de outra área.
— Eu posso vê-lo soltando fumaça.
Oh Deus.
— Jared... — Engoli em seco quando passamos por outro
solavanco. — Diga-me que vamos ficar bem.
O interfone tocou antes que ele tivesse a chance de responder. —
Este é o seu capitão falando. Vamos ter que fazer um pouso de
emergência. Todos, fiquem em seus assentos com os cintos de segurança
apertados. Por favor, tentem manter a calma. Notificaremos você
quando tivermos mais informações.
Olhei para Jared, lágrimas deixando seu rosto embaçado. —
Responda-me — eu sussurrei.
— Billie... eu não posso.
Imediatamente ouvi um grito.
Eu só não tinha certeza se era meu.
CAPÍTULO QUATORZE

HONEY
PRIMAVERA DE 1984

Honey se lembrava de olhar para as mãos do médico enquanto ele


estava em seu quarto, mas não conseguia se lembrar de nada dourado
ou brilhante que chamasse sua atenção. Claro, ela também não tinha
reconhecido o médico quando ele entrou pela primeira vez. E agora,
pensando no passado, várias outras coisas daquela manhã estavam
confusas.
Era um detalhe importante que ela havia perdido.
Um que mudou tudo.
Ainda assim, ela não conseguia entender por que ele a convidaria
para sair se fosse casado. Ele acha que ela é uma vadia e vai dar a ele algo
que sua esposa não vai? Ou talvez ele ache que ela é tão grata por tudo
que ele fez que vai ignorar seu anel.
Ela estava muito confusa para tirar uma conclusão, então virou a
cabeça para a direita, olhando para Valentine do outro lado da cama e
disse: — O que eu faço?
— Ou ligue para ele e cancele ou espere que ele apareça amanhã
à noite para fazer isso pessoalmente.
Andrew estava no hospital e, pelos sons do telefonema, estava
extremamente ocupado lá. Se ela mandasse uma mensagem, não sabia a
probabilidade de ele receber.
— Eu vou esperar até amanhã — Honey respondeu, pressionando
sua incisão. — E depois que ele aparecer, acho que vou fechar a porta na
cara dele.
— Por favor, chute-o nas bolas primeiro.
— Não me faça rir, isso dói. — Honey fechou os olhos, e uma
lembrança de Andrew sorrindo para ela veio em sua cabeça. — Ugh, ele
é tão fofo.
— Há muito mais fofos por aí. — Ela pegou a mão de Honey e a
envolveu. — Pare de pensar nele. Ele não vale a pena. Eu prometo, você
vai encontrar alguém que seja.
Honey tinha dito as mesmas palavras para Valentine no passado.
Isso era o que as melhores amigas faziam em situações como essa. Isso
não significava que Honey iria parar de pensar no médico ou que ela
seria tão facilmente capaz de drená-lo de sua mente.
À medida que as horas passavam, ela aprendeu que era
impossível.
Andrew era tudo em que ela pensava até ir para a cama e
novamente enquanto estava no DMV no dia seguinte. Quando ela voltou
para seu apartamento depois do trabalho, trocou de vestido, colocando
um par de jeans e uma camisa casual sem mangas. Ela borrifou em seu
cabelo comprido e brincou com sua franja, e então, limpou sua
maquiagem antes de ir para o sofá esperar por ele.
Faltavam alguns minutos para as sete quando a campainha tocou.
Havia um filme passando na TV e os olhos de Honey estavam na tela,
mas ela não tinha visto uma única cena. Estava muito ocupada pensando
no que ia dizer.
Seu coração batia forte enquanto ela se levantava e seus pés
formigavam enquanto caminhava. A alça de metal parecia escorregadia
enquanto ela a cercava com a mão suada. Seus olhos se fecharam por um
segundo e ela respirou fundo antes de abrir a porta lentamente.
Andrew estava do outro lado, segurando um buquê de rosas. O
vermelho luxuriante das flores imediatamente atraiu os olhos de Honey,
mas não antes de dar uma longa olhada em Andrew. Na brincadeira em
seus olhos e na malícia em seu sorriso.
— Você está linda, Honey.
Havia algo sobre ele que ela não conseguia o suficiente. Ela sentiu
isso nas duas últimas vezes em que o viu. E enquanto ela olhava para ele,
ela percebeu que era sua bondade. Podia sentir isso, mesmo de onde
estava.
Seu estômago parecia uma pia entupida, cheia de decepção e
pavor.
Especialmente quando ele segurou as flores em sua direção e ela
baixou o olhar para a mão dele.
Para a faixa de ouro em torno de seu dedo importante.
Valentine estava certa.
E isso a fez sentir-se doente.
Ela olhou para o anel dele por mais alguns segundos só para ter
certeza, então, olhou para ele e disse: — Eu não saio com homens
casados, Andrew. Por favor, nunca mais me ligue.
Ela voltou para dentro, deixando-o na soleira da porta e o trancou
do lado de fora. Não tendo energia para ir para seu quarto, empurrou as
costas contra a porta e deslizou lentamente até que sua bunda estava no
chão.
Seu peito estava miseravelmente apertado e sua barriga parecia a
mesmo.
Ele a curou uma vez.
E agora, parecia que ele estava rasgando esses pontos.
CAPÍTULO QUINZE

JARED

Eu sabia exatamente como era o terror. E enquanto eu olhava para


Billie, eu a estava encarando bem no rosto.
Mas essa era uma situação que eu não conseguia consertar. Eu não
poderia nos tirar com segurança do avião até que ele estivesse no chão.
Não podia ajudar os pilotos a pousar. Não conseguia consertar o motor.
Não havia uma maldita coisa que eu pudesse fazer além de mantê-
la calma e tão protegida quanto eu pudesse, garantindo que tivéssemos
a melhor chance de sobreviver a isso.
Fosse o que fosse.
E sem saber disso, eu não poderia responder à pergunta de Billie.
Eu não podia dizer a ela que ela ia ficar bem. Eu não acho que o piloto
poderia nos dizer isso também. Ele havia escolhido suas palavras
cuidadosamente durante o anúncio, usando um tom que não causaria
mais alarme.
Eu não podia confiar em receber atualizações dele ou dos
comissários de bordo. Eles seriam infrequentes e filtrados deste ponto
em diante. Eu tive que seguir meu instinto, meus instintos, meus
quarenta e sete anos de experiências de vida.
— Olhe para mim — eu disse para Billie.
Ambos os braços dela estavam me agarrando agora. Tudo o que
ela precisava fazer era olhar para cima.
E ela fez.
— Você está com o cinto de segurança?
Eu sabia que ela sabia. Eu já tinha verificado. Mas ela estava
paralisada e eu precisava que ela se movesse. Eu precisava de sua
atenção para mudar, mesmo que fosse apenas por alguns segundos. Seu
coração precisava de uma pausa do medo também.
Ela olhou para baixo, a turbulência fazendo sua cabeça balançar e
então de volta para mim. Lágrimas escorriam de seus olhos. — Sim.
— Eu preciso que você me escute, Billie. — Tentei me equilibrar
enquanto o avião era lançado para a frente, ricocheteando em bolsões
de ar.
— Não posso. — Seus lábios tremiam, seu peito arfava. — Estou
surtando, Jared. Completamente enlouquecida.
O avião deu um solavanco para o lado e Billie bateu no meu ombro.
Eu imediatamente levantei o braço que estava entre nós e meu braço
circulou atrás das costas dela, a parte externa de nossas coxas juntas. Eu
a puxei o mais perto que pude.
— Minta para mim se for preciso — ela falou enquanto olhava
para mim. — Apenas me diga que vamos ficar bem.
Apertei-a o mais forte que pude e disse a única coisa que poderia
prometer a ela: — Não vou deixar você ir.
CAPÍTULO DEZESSEIS

HONEY
PRIMAVERA DE 1984

— Honey — disse Andrew enquanto batia. — Por favor, abra a


porta e eu vou explicar tudo.
Honey não tinha se movido do chão, então ela sentia a madeira
vibrar atrás dela cada vez que os nós dos dedos de Andrew batiam nela.
E ela não respondeu porque não sabia o que havia para explicar. Ele
estava usando uma aliança de casamento e nem tentou escondê-la, o que
piorou a situação.
Ela fechou os olhos, seu rímel espalhado. — Apenas vá embora,
Andrew. Não há nada a dizer.
Ela ouviu um baque, e parecia que a mão dele havia batido na
porta.
— Você está errada. Há tanto a dizer. — Ele fez uma pausa. — Por
favor, não me faça expor tudo na rua.
Honey tinha vizinhos extremamente intrometidos. A última coisa
que ela queria era que um deles ouvisse e fofocasse sobre isso.
— Se você não gostar do que eu tenho a dizer, você pode me
expulsar — disse ele.
Honey não sabia se era por curiosidade ou medo de que alguém o
ouvisse, mas ela se levantou e abriu a porta. — Dois minutos. É isso —
ela disse a ele, segurando-a larga o suficiente para ele entrar.
Andrew ficou na entrada, colocando as rosas em uma mesa perto
da escada antes de olhar para sua mão esquerda. Ele estava segurando-
a na frente dele, dedos estendidos, o anel brilhando sob a luz do teto. —
Eu sei como isso parece. — Ele finalmente olhou para ela. — Você tem
todo o direito de se sentir como se sente.
— Você é casado?
Ela mal podia esperar que ele chegasse a essa parte da história.
Ela precisava saber imediatamente.
Segundos se passaram antes que ele respondesse: —
Tecnicamente, sim, já que o divórcio não será finalizado até o final desta
semana.
Essa notícia deveria ter feito Honey se sentir melhor. Ele estava
obviamente separado de sua esposa e esse era um cenário muito
diferente do que estava na cabeça dela. Mas não explicava por que ele
ainda estava usando um anel e isso a fez tirar outra conclusão.
— Você não queria o divórcio — disse ela.
Sua mão caiu do ar e ele a enfiou no bolso. — Durante a residência,
fiquei dias no hospital sem ir para casa. Às vezes, ficávamos tanto tempo
sem falar. Eu não tenho desculpas. Eu deveria ter me esforçado mais
para me comunicar. — Ele balançou a cabeça, o seu desapontamento
evidente em sua expressão. — Foram anos difíceis, mas ficaram para
trás. Eu era médico assistente em um hospital em Washington, DC, e
trabalhava em turnos diurnos.
Ela acenou com a cabeça em direção ao bolso dele. — Você ainda
está usando. — Sua voz suavizou, um pavor puxando-a ainda mais forte
do que antes.
Ele puxou a mão para olhar o anel novamente, usando o polegar
para circular a aliança em torno de seu dedo.
Honey não sabia como era o peso daquele anel. Ela não sabia se
sentiria falta do simbolismo e do peso dele em seu dedo. Ela não sabia
como se sentiria se fosse forçada a tirá-lo... como Andrew.
— Sou novo aqui — disse ele, agora olhando para ela. — E eu sou
solteiro. Quando os colegas de trabalho ouvem isso, especialmente os
enfermeiros, eles instantaneamente querem arrumar um par para você.
Vim para o Maine para praticar medicina e queria que esse fosse o foco.
Você... — Seu olhar se aprofundou, e aquela leveza juvenil voltou ao seu
rosto. — Você foi um acidente maravilhoso.
Honey não deixou que isso a distraísse. Ela precisava de mais,
então perguntou: — As pessoas não perguntaram sobre sua esposa?
— Estou aqui há duas semanas e hoje é meu primeiro dia de folga.
O hospital está tão ocupado que ninguém teve a chance de perguntar. —
Quando ela abriu a boca para responder, ele a parou. — Eu sei o que você
está perguntando, Honey, e não tenho nada a esconder. Se alguém
perguntar, receberá a mesma resposta que acabei de lhe dar.
Enquanto ela olhava para o médico, ela só queria que ele lhe desse
algo que a acalmasse, o suficiente para que ela considerasse sair com ele.
Porque, agora, não estava convencida de que ele havia superado sua ex-
mulher.
— Por que você está usando o anel esta noite, Andrew?
Ele deu um passo mais perto, puxando o anel de seu dedo e
quando a alcançou, colocou-o em sua palma. — Leia a gravura no
interior.
Honey o ergueu no ar e olhou para a escrita ornamentada que
havia sido gravada no metal dourado.
Esther e Irving
23 de março de 1946
Depois de lê-lo várias vezes, ela olhou para Andrew. — Não
entendo.
— Esta é a aliança de casamento do meu pai. Uso-o na mão direita
desde que ele morreu, há seis anos. Quando me mudei de casa, joguei
meu anel no chão e coloquei esse na minha mão esquerda.
— Eu sinto muito.
E ela sentia... por presumir e por automaticamente duvidar dele,
por reagir em vez de lhe fazer a pergunta.
Ela voltou seu foco para o anel, estudando o padrão único. Parecia
que uma trança francesa tinha sido tecida na frente enquanto era sólida
na parte de trás. Nas curvas do metal havia manchas mais escuras que
mostravam a idade do anel.
— É lindo — ela disse, devolvendo para ele.
Ele segurou-o de volta em seu dedo e olhou para ela com os olhos
mais honestos. — Faz um ano que nos separamos. Ela está noiva de
outro homem. Eu sempre vou me importar com ela, mas eu não a amo
mais.
Honey não sabia como responder. Ela não sabia qual era a coisa
apropriada a dizer. Então, fez a única coisa que parecia certa. Ela fechou
a pequena distância entre eles e o abraçou.
— Parece que você quer se casar com o homem.
Honey se lembrou de Valentine dizendo isso quando ela desligou
o telefone com Andrew.
Tinha sido verdade naquela época.
E ela suspeitava que era verdade novamente agora.
CAPÍTULO DEZESSETE

BILLIE

— Oh Meu Deus — eu engasguei quando o avião mergulhou pelo


ar ao que parecia ser a milionésima vez. Meu estômago continuou a
contrair, não me acostumando com a sensação, embora estivesse
acontecendo a cada poucos segundos. — Por que? — Eu disse a Jared. —
Porque, porque, porque?
Eu estava dizendo essa palavra repetidamente na minha cabeça.
Era hora de dizer isso a ele, esperando que ele tivesse uma
resposta.
Até agora, nem uma única pessoa neste avião sabia de nada. Nem
qualquer um dos outros passageiros ou a comissária de bordo que
passou pelo corredor, segurando uma toalha encharcada de sangue
contra a cabeça de um passageiro. Quando Jared perguntou a ela o que
estava acontecendo, ela disse que não sabia.
Mas havia mudanças a cada poucos segundos. Novos sons. Novas
sensações. Às vezes, parecia que tínhamos voado para dentro de uma
caixa, e nossas asas continuavam batendo nas laterais. Podíamos sentir
a energia que o avião estava usando. Sentimos cada centímetro de
movimento, então sabíamos que não iríamos cair.
Mas não sabíamos para onde estávamos indo.
Eu já tinha olhado para os passageiros atrás de mim. Não vi
nenhum líder. Ninguém se levantou, ninguém estava fazendo exigências
de seu assento. Jared não respondeu às minhas duas últimas perguntas,
mas isso não me impediu de expressar outra.
— Isso é um acidente, certo?
Ele estava olhando para a direita, mas instantaneamente se virou
para mim. — Se eu pensasse o contrário, não estaria neste lugar agora.
Eu acreditei nele.
O avião começou a chacoalhar, o metal soando como troco no
bolso de alguém, mas amplificado.
— Então, por quê?
Ele balançou sua cabeça. — Não sei. — Ele apertou mais minhas
costas. — Venha aqui. — Ele me puxou contra o lado dele, seu queixo
descansando em cima da minha cabeça. Ele estava de frente para a nossa
janela agora e eu apostaria que ele estava olhando por ela.
— Eles vão nos dizer a verdade? — Eu perguntei, referindo-me ao
piloto.
— Sim. — E então alguns segundos depois — A versão deles de
qualquer maneira.
Eu sempre estive do outro lado da ansiedade, a calma em uma
tempestade, aquela que não surta durante situações estressantes. Tinha
sido assim toda a minha vida.
Agora, até minha pele queria rastejar para fora de mim.
Eu não conseguia manter minha respiração sob controle ou minha
frequência cardíaca baixa. Eu não conseguia tirar minha mente do
desconhecido, do acidente, do...
Eu me agarrei a Jared ainda mais apertado antes de me perder
completamente. Mas assim que eu tenho minhas mãos em torno de seu
bíceps, senti outro mergulho. Foi o maior até agora.
— Foda-se — eu gemi, colocando meu rosto atrás de seu braço,
sentindo a frieza do assento contra minha bochecha. Fechei os olhos e
tentei inspirar pelo nariz e sair pela boca.
Eu não tinha mais do que algumas rodadas quando um novo som
martelou em meus ouvidos.
Por instinto, me abaixei o máximo que pude. O que eu não
esperava era Jared curvado sobre mim, seu corpo cobrindo a maior
parte da minha cabeça e ombros. Com meus braços enfiados em algum
lugar, minhas orelhas estavam descobertas. Era tão alto, ainda mais alto
que o primeiro barulho, que não importava.
Mas, ao contrário da primeira vez, esse som durou apenas alguns
segundos e, quando terminou, o avião inteiro tremeu.
— O que é que foi isso? — Eu gritei debaixo de Jared.
Algo caiu no meu lábio. Eu não tinha certeza se era uma lágrima
ou suor. E eu não tinha certeza se era dele ou minha. Mas eu engoli,
esperando, me perguntando se essa seria outra pergunta que ele não
respondeu.
E então, do nada, ele torceu o corpo, abrindo a caverna em que eu
estava. Quando me endireitei, minhas mãos agarraram seu braço e o
observei olhar para a parte traseira do avião.
Quando seus olhos se encontraram com os meus novamente, eu vi
algo. Foi breve, mas poderoso o suficiente para me assustar.
E então ficou pior porque ele abriu a boca e disse: — Foi o motor
explodindo.
CAPÍTULO DEZOITO

HONEY
VERÃO DE 1984

Honey acreditava que Andrew tinha aprendido tanto com a


destruição de seu casamento que, quando se tratava dela, ele sabia como
fazer tudo certo. Ele nunca fez planos que não pudesse cumprir. Ele se
deu uma janela de trinta minutos e nunca se atrasou. Ele a avisou com
antecedência se ele estava de plantão, então nunca houve nenhum
ressentimento se ele fosse chamado e tivesse que sair.
Honey não acreditava em competir com seu trabalho e aceitava
que, muitas vezes, teria que vir primeiro. Além disso, ela tinha muitas
amigas para mantê-la ocupada nas noites em que Andrew não podia.
Honey já tinha uma agenda social ocupada muito antes de conhecê-lo.
Ele não fez a vida dela, em vez disso, ele aprendeu a se encaixar nela.
E com o passar das semanas, ele parecia estar se adaptando cada
vez mais e ela ficava no apartamento dele quase todas as noites. Andrew
estava alugando uma casa de um quarto. Com seu contrato expirando,
ele estava falando em comprar um apartamento perto do hospital. O
contrato de Honey terminava na mesma época e Andrew sugeriu que
eles fossem morar juntos. Seu divórcio já estava finalizado, ele estava
além de seu período de experiência no hospital e agora era um médico
assistente. Então, quando ele olhou para ela em busca de uma resposta,
ela pesou tudo em sua cabeça. O relacionamento deles estava
progredindo rapidamente. Ainda assim, ela não viu motivo para adiar e
ela sorriu para ele e acenou com a cabeça.
Para comemorar, alguns dias depois, Andrew disse a ela para se
arrumar e fazer uma mala. Uma vez que ela chegou em casa do trabalho
naquela noite, colocou o vestido preto mais bonito que possuía, enfiou
algumas coisas em uma mochila e esperou que Andrew a pegasse.
Ela não sabia quanto tempo a viagem levaria e ficou surpresa
quando em menos de uma hora, o carro foi diminuindo a velocidade
quando chegaram ao cascalho, eventualmente parando em frente ao
White Barn Inn.
— Andrew... — Honey sussurrou depois de ler a placa. Ela se
virou para ele, incapaz de acreditar que eles estavam ali. — Isso é
demais.
— Não, baby. Isto é apenas o começo.
Ele saiu do carro e deu a volta para o lado do passageiro,
ajudando-a a sair. Enquanto caminhavam em direção à porta, ele
entregou as chaves a alguém e a escoltou até o restaurante. Embora
Honey tenha ido a Kennebunk muitas vezes, ela nunca havia visitado a
famosa estalagem ou seu restaurante.
Ambos estavam muito fora de sua faixa de preço.
Mas ela tinha ouvido histórias de amigos que tinham ido e se
lembrado das experiências que eles compartilharam de comer em algum
lugar tão mágico. Os homens sendo obrigados a usar jaquetas para
entrar na sala de jantar. Ter garçons entregando a comida de todos ao
mesmo tempo. Tomar bebidas com pequenas lascas de gelo raspadas
flutuando em cima com ervas congeladas dentro delas.
Eles estavam sentados ao lado da sala principal. Honey comeu o
hadoque3 mais incrível que ela já provou enquanto Andrew comia pato
e os dois provaram os pratos um do outro.
No final do jantar, logo antes da sobremesa, Andrew enfiou a mão
no bolso e tirou uma pequena caixa de veludo, colocando-a na frente de
Honey.
Enquanto ela olhava para ele, seu pulso acelerou. Suas pernas
começaram a ficar mais quentes em suas meias de náilon.
A caixa era grande demais para ser um anel, mas isso não
importava. Ele tinha conseguido suas jóias, e nenhum homem nunca
tinha feito isso por ela antes.
— Abra — disse ele.
Com as mãos trêmulas, Honey levantou lentamente a tampa da
caixa e engasgou quando seus olhos pousaram no que estava dentro.
Deitado no suporte de veludo estava um solitário de diamantes

3
É uma espécie de peixe.
pendurado em um colar de corrente de prata trançado, semelhante à
aliança de casamento de seu pai.
Era simples. Elegante. E o diamante mais lindo que ela já tinha
visto.
— Também é demais — ela disse, acrescentando ao que ela disse
antes quando eles dirigiram até a pousada.
Andrew alcançou a vela que estava no meio da mesa e colocou a
mão em cima da de Honey. — Use para mim.
Ela continuou olhando para ele, sem dizer nada.
— Eu quero mimar você. Por favor, não tente me impedir. — O
sorriso diabólico voltou. Era tão contagiante que Honey encontrou seus
lábios combinando com os dele. — Você vai ganhar muitas lutas, baby,
mas você não vai ganhar esta.
— Eu não preciso de coisas, Andrew. Eu apenas preciso de você.
— Você me tem.
Seu polegar acariciou o dela, e ela olhou para o anel em sua mão
esquerda. Cada vez que o via, amava ainda mais.
— Deixe-me ajudá-la a colocá-lo. — disse ele, levantando-se de
sua cadeira e dando a volta para o lado dela da mesa.
Quando Honey lhe entregou o colar, ele colocou a pedra em seu
peito e a apertou nas costas.
— Como se parece? — ela perguntou quando ele voltou para o
seu lugar.
— Como se tivesse sido feito para você.
Ela levantou o diamante de sua pele, tentando se acostumar com
a sensação dele. O peso. A forma como o metal inicialmente parecia frio
contra sua carne.
— Não sei como te agradecer — disse ela.
— Você faz isso todos os dias por estar comigo.
Enquanto um calor se espalhava pelo corpo de Honey, ela se
perguntou se as coisas entre ela e Andrew sempre seriam tão boas ou se
eventualmente haveria um momento em que as coisas não fossem tão
perfeitas.
Ela poderia lidar com ambos, desde que ela estivesse com ele.
CAPÍTULO DEZENOVE

JARED

— Atenção, passageiros — disse o capitão ao se aproximar do


alto-falante. — como a maioria de vocês provavelmente sabe, acabamos
de perder um de nossos motores. Em circunstâncias normais, isso não
seria um problema, mas quando nosso motor foi danificado, ele também
perfurou a asa e estamos tendo dificuldade em estabilizar. O controle de
tráfego aéreo determinou que não podemos continuar voando nesta
condição e precisamos fazer um pouso de emergência. Preciso que todos
vocês se certifiquem de que seus cintos de segurança estejam bem
apertados, as bandejas estejam trancadas e os pertences pessoais sejam
guardados o mais firmemente possível sem se levantar de seus assentos.
Vamos começar nossa descida muito em breve. Por favor, cubram suas
cabeças, fiquem em uma posição baixa e preparem seus corpos para o
impacto.
O anúncio terminou e houve silêncio no avião.
Uma quietude assustadora que eu não ouvia desde que o motor
foi atingido.
E foi quebrado quando alguém gritou — Deus nos ajude — do
outro lado da cabin e todos os pelos do meu corpo se eriçaram.
— Jared... — A voz de Billie era tão suave que eu quase não a ouvi.
Seus lábios estavam molhados de lágrimas. Seus olhos estavam tão
vermelhos que pareciam crus. — Vamos ficar bem?
Eu conhecia as estatísticas de pouso com um motor e uma asa que
só ficaria mais danificada quanto mais baixo estivéssemos.
Esses números me diziam que as coisas não pareciam boas.
— Ouça-me — eu exigi, enquanto ela se agarrava ao meu braço.
— Vou envolver meu corpo sobre o seu como fiz alguns minutos atrás.
Eu quero seu rosto dobrado perto da sua barriga e eu não quero que
você se mova até que o avião aterrisse. — Minha mão estava em seu
pescoço e comecei a guiá-la para a posição. — Eu não sei como será
quando estivermos no chão. Talvez precisemos nos mover rápido. As
coisas podem estar entrando pelas janelas ou nossos assentos podem
ficar soltos.
Seus olhos se arregalaram, mais terror crescendo em seu rosto.
— Billie, não perca a cabeça agora. — Enfatizei minhas palavras.
— Só estou te dizendo isso, então você está ciente das possibilidades e
nada vai te pegar de surpresa.
— Isso está realmente acontecendo.
Ela estava em choque.
Todos nesse avião estavam.
Eles não lidavam com emergências. Eles não trabalhavam na
indústria de segurança.
Eles não conheciam o terror como eu.
Aproximei meu rosto e coloquei minha mão atrás de sua cabeça.
— Isso está acontecendo e eu preciso que você confie em mim e siga
minhas instruções.
— Jared…
Não tivemos tempo para discutir isso e não houve negociação. Do
meu jeito era a única maneira de fazermos isso.
Mas já estávamos caindo. Eu podia sentir isso. E não ia demorar
muito para chegarmos ao chão.
— Faça isso agora, Billie.
Usando minha palma, eu a conduzi pelo resto do caminho,
colocando-a em uma bola antes de cobrí-la com meu corpo. A posição
me permitiu ver se alguma coisa entrava pelas janelas ou sobre os
assentos à nossa frente.
Alguém tinha que vigiar e garantir que ela tivesse a melhor chance
de sobreviver a isso.
Essa pessoa era eu.
— Jared — ela disse e eu a apertei em resposta. — Você vai falar
comigo? Eu não me importo com o que você diz. Eu só preciso ouvir sua
voz.
Era seu último pedido e não havia como negar isso a ela.
CAPÍTULO VINTE

BILLIE

Posicionada sob o corpo largo e musculoso de Jared, eu não


conseguia ver o que estava acontecendo. Eu tive que confiar em meus
sentidos, e eles estavam no limite.
Havia tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo. A sensação do
avião em movimento, a pressão da cabine mudando à medida que
descíamos em um ritmo tão rápido. Fomos empurrados para frente em
nossos assentos e jogados para trás.
Por tudo isso, Jared me segurou.
Ele nunca soltou.
E ele não parava de falar.
Eu não sabia o que ele disse. Era como a TV ligada durante os
poucos minutos antes de eu adormecer à noite, era apenas barulho, não
palavras, não música. E usei esses ruídos para desconectar minha
mente.
Agora não foi diferente.
Ao ouvir a voz de Jared, ignorei todo o resto, como os parafusos e
pregos que gritavam após cada salto. Como os outros passageiros
orando a Deus para salvá-los, gritando seus últimos desejos, dizendo à
família no chão o quanto os amava.
E o que saiu de mim foi o silêncio.
Eu não sabia como dizer adeus, como desejar a minha vida.
Como processar nada disso.
Então, eu não fiz.
Eu não pensei.
Eu não senti.
Eu nem esperava.
Eu apenas esperei.
— Billie…
Achei que era coisa da minha cabeça. Achei que a espera tivesse
voz, e era isso.
— Billie... — Jared avisou, e sua urgência me disse que eu não
tinha imaginado.
— Sim?
Seus dedos ficaram mais firmes e ele enfiou o rosto debaixo do
meu braço, para que eu pudesse sentir o ar que saía de sua boca. —
Segure firme.
CAPÍTULO VINTE E UM

HONEY
OUTONO DE 1984

— Eu Te Amo — disse Andrew suavemente.


Honey o ouvira dizer isso antes. Ele simplesmente não expressava
isso constantemente, então, quando o fazia, significava muito mais.
Com a mão agarrada à cintura dele, ela olhou para ele e
respondeu: — Te amo.
Eles estavam caminhando para o carro dele, o braço dele nas
costas dela, descansando em seu outro ombro, ambos com a barriga
cheia depois de um almoço tardio no Ogunquit Lobster Pound. Honey
havia ensinado a Andrew como desmembrar sua lagosta corretamente,
uma habilidade com a qual a maioria dos habitantes da Nova Inglaterra
tinha nascido. Eles dividiram a torta de mirtilo com sorvete de baunilha
para a sobremesa.
Quando estavam na metade do estacionamento, Andrew diminuiu
o passo e, quando parou, virou o corpo dela em direção ao dele. Suas
mãos foram para suas bochechas e ele inclinou o rosto para cima. — Eu
realmente quero.
Honey pressionou os dedos sobre os dele, os polegares os
prendendo no lugar. — Eu sinto o mesmo.
Enquanto ela olhava nos olhos de seu namorado, viu algo que ela
tinha visto apenas uma vez antes. Aconteceu depois de um turno de
vinte e quatro horas no hospital, assim que voltou para casa, ele a
agarrou em seus braços e não a soltou. Era aquele olhar inicial em seus
olhos, aquele desespero em suas garras que Honey nunca esqueceria.
Seu aperto agora não tinha tanta intensidade, mas seu olhar tinha.
E quando suas mãos caíram em seu peito, ela podia sentir seu coração
batendo tão rápido quanto o dela.
— Você quer falar sobre isso?
Ele tinha acabado de sair de um turno de quinze horas, então
Honey ficou surpresa por ele querer dirigir mais de quarenta e cinco
minutos para comer alguma coisa.
Andrew lentamente levou seus lábios até os de Honey e a beijou
gentilmente. Quando finalmente se afastou, continuou a segurá-la, seu
olhar se aprofundando.
Ela não sabia quanto tempo eles estavam ali em silêncio quando
ela sentiu a primeira gota de chuva. Atingiu sua testa, uma segundo
pousou em sua orelha. As gotas começaram a ficar maiores, caindo com
mais frequência, o cheiro de lama subindo no ar.
Ainda assim, eles não se moveram.
A mão de Andrew estava agora escorregadia em seu rosto, as
gotas escorrendo sobre seus dedos. — Eu quero te dizer uma coisa e eu
quero que você acredite em mim.
A emoção não estava sob seu controle, desta vez; estava em sua
voz em vez disso, e Honey sentiu como se seu coração fosse explodir com
o som disso.
— Tudo bem.
— Eu nunca vou te machucar.
Ela não podia imaginar como era olhar para a morte todos os dias.
Como seria difícil tentar salvar alguém, seus esforços não sendo
suficientes. Como seria desafiador voltar para casa e tentar deixar tudo
para trás.
Honey não sabia se o último turno de Andrew no hospital o havia
motivado a fazer isso. Ela não sabia se era apenas algo que ele estava
sentindo e tinha que dizer isso naquele momento.
Mas quando a chuva caiu ainda mais forte, ela ficou na ponta dos
pés e colocou os braços em volta do pescoço dele. Então, ela respondeu:
— Eu prometo nunca te machucar — antes de beijá-lo.
CAPÍTULO VINTE E DOIS

BILLIE

— Billie! — Ouvi Jared gritar quando o barulho e o movimento


pararam. — Billie, me responda!
Eu gemi.
Isso era tudo que eu podia fazer enquanto tudo dentro de mim
gritava – meus ossos, músculos, pele. Até meu cabelo.
Eu tinha que estar viva.
A morte seria indolor.
— Você está machucada?
Fui abrir minha boca para ter certeza de que ainda poderia fazer
isso. Exceto que já estava aberta e o ar estava entrando e saindo tão
rápido, mas na verdade não parecia que eu estava respirando. Parecia
que eu estava prendendo a respiração.
— Deixe-me sair — eu engasguei.
Onde quer que fosse, era um lugar quente e escuro, e tudo que eu
podia sentir era sangue. O sabor de metal grosso foi o suficiente para me
fazer engasgar.
Um peso enorme de repente saiu da minha nuca e ombros e no
topo da minha cabeça. Era como se um cobertor estivesse me cobrindo.
Um pesado.
Um que parecia Jared.
— Diga-me que você está bem — disse ele, suas mãos correndo
sobre mim como se estivesse me dando um raio-X.
Não consegui acompanhar sua velocidade.
Não consegui processar sua pergunta.
— Billie…
— Eu estou viva.
Era tudo que eu conseguia pensar.
Tudo que eu sabia.
Exceto que eu nem tinha certeza de que era verdade.
— Temos que sair deste avião — disse ele.
O avião.
A razão para isso. Porque havia fios batendo na minha cabeça e
pertences pessoais em meus pés.
Por que havia sangue.
Em cima de mim.
— Billie…
Meus ouvidos estavam zumbindo. Corpo formigando. Eu tinha
certeza de que meus pulmões iriam parar de encher se já não tivessem
parado.
Mas eu o ouvi.
E eu entendi.
Então, eu respondi: — Ok — e as coisas começaram a acontecer
tão rápido novamente.
Mas desta vez, foi por causa de Jared. Ele estava no controle. E
todo o movimento me envolveu.
Eu não consegui alcançá-lo. Eu não sabia se deveria ou se eu era
capaz. Antes que eu tentasse, eu estava fora do meu assento e no ar, e
Jared estava me segurando como um bebê.
Tudo se transformou em um borrão gigante de cores. Marinho,
off-white e um vermelho cintilante. Mais tons brilharam em meus olhos,
como quando eu olhava pela janela na passarela. Eles correram mais
rápido, misturando-se com a minha visão e uma rajada gigante de ar e
então...
Chuva.
Eu não sabia de onde vinha. Eu não sabia por que era tão bom. Mas
quando borrifou no meu rosto, nas minhas mãos e no meu pé descalço,
parecia amor.
A forma mais pura e crua.
Cada gota dele.
Cada respingo.
Eu senti isso em todos os lugares.
E então não senti absolutamente nada.
Porque só havia preto.
CAPÍTULO VINTE E TRÊS

JARED

Assisti a um documentário sobre um homem que fugiu de sua


terra natal durante a Segunda Guerra Mundial e, quando voltou,
quarenta anos depois, as câmeras estavam rodando para capturá-lo.
Após o voo de quatorze horas, o homem desceu os degraus do avião e,
assim que seus pés tocaram a pista, ele se ajoelhou e beijou o chão.
Seu corpo tremeu, suas mãos mal conseguiam segurar seu próprio
peso.
Mas ele não se moveu.
Ele ficou assim com o rosto escondido, respirando tudo, se
reconectando às suas raízes.
Eu sabia exatamente como o homem se sentia.
Uma vez que coloquei Billie em uma maca e aos cuidados de um
paramédico onde eu sabia que ela estava segura, dei apenas alguns
passos antes de cair de joelhos.
Minhas palmas atingiram a grama e então meus cotovelos.
Minhas mãos tremiam enquanto seguravam meu peso.
Eu pressionei meu rosto na lama molhada.
E quando cheirei a lama, beijei-a.
— Obrigado — eu sussurrei mesmo que ninguém pudesse me
ouvir.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO

HONEY
INVERNO DE 1984

— Eu não posso acreditar que está realmente acontecendo —


Valentine disse para Honey enquanto os carregadores levavam algumas
de suas caixas para fora de seu apartamento.
As meninas comemoraram na noite anterior, sua última noite
como colegas de quarto, pedindo pizza e bebendo vinho e nunca tirando
o pijama. Mesmo que estivessem extremamente empolgadas com suas
novas casas, elas temiam a separação. Felizmente, o apartamento que
Andrew havia comprado no centro de Portland para o qual Honey estava
se mudando ficava a apenas alguns quarteirões do novo lugar que
Valentine havia alugado.
— Eu sei — Honey suspirou, observando um dos caras colocar
uma caixa na caminhonete e voltar para dentro para mais. — Vou sentir
tanto a sua falta. — Ela encarou sua melhor amiga, diminuindo a
distância entre elas e a abraçou o mais forte que pôde.
— Você vai me ver o tempo todo.
— É melhor.
Honey ficou tão aliviada quando Valentine disse a ela que havia
encontrado um apartamento que ficava a apenas dois minutos a pé,
solidificando que ela veria sua melhor amiga tanto quanto ela esperava.
— É a única maneira de você se alimentar nas noites em que
Andrew trabalha, já que você não pode nem ferver água.
As duas garotas riram.
— Eu odeio como isso é verdade — Honey disse. Ela sentiu um nó
na garganta e aumentou a cada gole. — E eu odeio o quanto isso dói.
Não importava o quão perto Valentine estaria vivendo dela; ela
ainda não estaria dormindo no quarto ao lado e isso era uma grande
mudança.
Valentine a apertou de volta. — Você encontrou um bom homem.
Você está dando os próximos passos, exatamente como deveria. — Seus
dedos cravaram ainda mais forte. — Tenho certeza de que ele é a pessoa
certa para você.
Olhando por cima do ombro de Valentine, Honey viu Andrew
parar no meio-fio e estacionar. Ele tinha vindo direto do hospital e ainda
estava de casaco branco e jaleco, mas queria ter certeza de que as
meninas tinham toda a ajuda de que precisavam.
— Eu também tenho certeza — Honey disse, pegando a mão de
Valentine e segurando-a enquanto encarava o Andrew.
Ele tinha acabado de sair de seu carro, seus olhos
instantaneamente se conectando com os de Honey e o casal se
entreolhou enquanto ele caminhava pela calçada.
— Isso é amor — Valentine sussurrou quando ele ainda estava a
vários metros de distância.
— O que é? — ela perguntou a sua amiga.
— O jeito que aquele homem olha para você.
CAPÍTULO VINTE E CINCO

BILLIE

A enfermeira só abriu uma fresta da porta quando vi Jared. Ele


estava parado no corredor do lado de fora da sala de raios-X para a qual
eu tinha sido levada alguns minutos atrás. Antes de eu ser levada para
lá, ele estava comigo na ambulância quando fui levada ao hospital e bem
ao meu lado quando fui examinada pelo médico.
Eu não sabia se eu tinha pedido para ele ficar ou se ele me disse
que ficaria, mas ele não tinha saído do meu lado, e algo sobre isso
parecia certo.
— Billie — ele disse enquanto se aproximava, olhando para mim
na cadeira de rodas.
Sangue cobria sua camisa rasgada. A lama estava em todos os
outros lugares.
Olhei para minhas roupas e vi as mesmas cores.
— Posso ter um minuto a sós com ela? — ele perguntou à
enfermeira atrás de mim.
— O médico está esperando para examinar seus raios-X…
— Eu só preciso de um segundo — disse ele.
— Seja rápido — ela respondeu.
Eu a vi desaparecer no caos, e então, meus olhos lentamente
voltaram para Jared.
Tudo estava se movendo, exceto nós.
O hospital era como a Times Square. As pessoas estavam por toda
parte. Eu não conseguia acompanhar tudo – nem os cheiros, nem os
sons, nem as cores. As luzes brilhantes que ficavam cada vez mais
brilhantes.
E o volume que ficava cada vez mais alto.
Meus ouvidos estavam gritando.
Eu só queria que todos sussurrassem.
Eu queria que eles parassem de ir, ir, ir.
— Billie... — Jared disse novamente.
Meu olhar já estava nele. Eu apenas o orientei. Ampliado.
Piscou forte.
— Oi. — A palavra doeu quando saiu. Eu não sabia por que, mas
parecia que minha língua pesava cinquenta quilos.
Ele se ajoelhou na frente da cadeira de rodas e tudo o que vi foram
seus olhos.
Marrom. Como fofura.
Algo que eu não conseguia nem lembrar o sabor neste momento.
— Você vai ficar bem.
Eu estava esperando tanto tempo para ouvi-lo dizer isso.
Agora, quase não parecia real.
Ou possível.
— Jared, isso é tudo… — havia lágrimas em meus olhos. Eu não
sabia quando elas começaram ou que momento exato as havia
desencadeado ou por que elas não paravam de cair — …tanto.
— Billie, me escute.
Algo apertou. Eu não tinha certeza de onde tinha vindo, mas senti
o aperto.
— Você vai ficar bem.
Ele repetiu como se soubesse que era o que eu precisava ouvir.
E foi.
E eu disse isso na minha cabeça várias vezes.
E eu tentei me fazer acreditar nisso.
— E você? — Eu perguntei. — Você vai ficar bem?
Eu estive olhando para o rosto dele o tempo todo e não vi sangue.
Mas agora, vermelho era a única coisa na minha visão e estava
manchado através dos bigodes de sua barba, fresco e pingando em seu
colarinho.
— Você foi olhado? Você precisa de pontos?
Ocorreu-me que eu tinha sido tratada na ambulância e levada para
o hospital e para raios-X. Mas e o Jared? Ele tinha saído do meu lado
tempo suficiente para ser examinado por um médico?
— Eu tenho que ir, Billie.
Uma explosão atravessou meu peito como se tivéssemos caído do
ar novamente. — Não. Você não pode.
— Eu sinto muito.
Eu balancei minha cabeça, não acreditando que ele iria embora em
um momento como este.
Ele esteve aqui para tudo isso. Eu não sabia como seria sem ele.
— Por favor, não vá. Preciso de você aqui.
Meu olhar caiu para o meu colo, onde vi mais vermelho.
Fui cortada.
Machucada.
Eu me machuquei em todos os lugares.
Eles tinham certeza de que eu tinha várias costelas quebradas e
uma possível concussão.
Esse foi apenas o começo da lista.
Mas eu estava aqui e muito disso tinha a ver com Jared.
De alguma forma, eu tinha que agradecê-lo. Eu tive que levantar
meus braços e estender a mão e abraçar o homem que me salvou.
Exceto que eu não tive a chance.
Quando ele olhou para mim, seus dedos roçaram meu pé e ele se
levantou, ficando de pé. — Cuide-se, Billie.
Foi um olhar que eu não esqueceria.
Um que eu senti até os dedos dos pés.
Eu respondi: — Você também — mas ele não me ouviu.
Ele já tinha ido.
CAPÍTULO VINTE E SEIS

JARED

Deslizei meu polegar em direção ao topo do meu telefone e


quando uma nova foto apareceu, eu a estudei antes de passar para a
próxima. Havia milhares de fotografias. Um pouco de comida, um pouco
de sua vida. Algumas apenas de Billie.
Dolorosamente bela em cada uma.
Ela postava todos os dias, alternando o que estava destacando,
mas sempre mantendo o tema da comida. Sua marca era consistente e já
era há anos.
Exceto nos últimos quatro dias desde o acidente, onde ela não
havia postado nada.
Eu levantei o pequeno copo da cama e levei aos meus lábios,
engolindo o licor apimentado. Enquanto eu rebobinava os anos, indo
mais longe em suas fotos, ela mudou os penteados e os óculos – quando
os usava. O que eu mais notei foi a maturidade dela. Eu vi nos olhos dela.
Se eu os visse agora, eu garantiria que eles pareciam assombrados.
Mas eu não a tinha visto desde que a deixei no hospital.
Eu só sabia…
Porque o meu parecia do mesmo jeito.
Tomei outro gole e o coloquei de volta na cama, com as pontas dos
meus dedos encharcadas do copo molhado. E eu olhei para a última foto
dela mesma que ela havia compartilhado. A data era dois dias antes do
nosso voo para São Francisco. O local era Tribeca, a poucos quarteirões
de onde eu morava, em um café que ia com frequência. Ela estava
segurando sua bebida sob o queixo, mas o foco era o perfil de Billie. O
ângulo da fotografia começou na base de seu pescoço e se moveu em seu
rosto, a luz do sol da Church Street refletindo em sua pele.
Era assim que a felicidade parecia.
Paz. Contentamento.
Com certeza não se parecia com isso - uma cabeça cheia de tantos
pensamentos malditos que era o suficiente para me manter acordado. Vi
a luz da manhã entrar no meu quarto e meu dia começou. Os três últimos
foram preenchidos com reuniões. Contei a história à polícia e ao FBI, à
Segurança Interna e à FAA4. Eu respondi suas centenas de perguntas.
Todos nós tivemos.
Ontem foi o último e agora, deveríamos acompanhar nossos
médicos, terapeutas e todos os outros que precisávamos para nos ajudar
a voltar ao normal.
Levei o copo à boca e engoli até que apenas gotas de gelo desciam
pela minha garganta antes de colocá-lo na mesa de cabeceira. Então, eu
peguei meu travesseiro e apertei a penugem.
Normal.
Esses dias se foram.
Muito, muito longe.

4
Federal Aviation Administration - Administração federal de aviação.
CAPÍTULO VINTE E SETE

BILLIE

Fiquei na frente da janela da minha sala de estar, minha testa e


palmas das mãos pressionadas contra o vidro. Eu não sabia quanto
tempo eu estava aqui. Eu não estava olhando para nada em particular,
apenas para o borrão do movimento na rua abaixo.
Carros. Pessoas. Bicicletas.
E aqui estava eu, no meu apartamento, perfeitamente imóvel,
concentrada em tudo o que havia acontecido no céu e nas consequências
de como era na terra.
O campo na Pensilvânia em que caímos. Os veículos particulares
que nos levaram e nossas famílias de volta a Nova York.
As cento e dezesseis pessoas no total a bordo do avião.
As oito mortes.
Os oitenta de nós que foram feridos.
Eu não via isso como um filme onde eu poderia parar e começar
em qualquer lugar que eu quisesse. Também não foi executado em um
loop contínuo. O que eu vi foram flashes que duram apenas alguns
segundos. Essas pequenas janelas surgiram em ordem aleatória e
aconteceram em algum momento durante os quarenta e dois minutos
em que estávamos no ar.
Alguns eram de antes do drone atingir nosso motor.
A maioria era de depois.
Mas cada um veio forte, rápido, e meu cérebro gostava de servi-
los a cada hora mais ou menos como se fossem coquetéis.
Dias atrás, aconteceu várias vezes por minuto. De acordo com meu
médico, isso foi uma melhora.
O que não tinha retornado eram minhas papilas gustativas. Nada
tinha acontecido tecnicamente com eles, o acidente não machucou
minha língua. Eu simplesmente não tinha vontade de comer.
E eu não entendi.
A comida tinha sido um conforto durante toda a minha vida. Era a
maneira da minha família demonstrar amor. Comemos juntos e
alimentamos quem quer que viesse. Quando não estávamos comendo,
estávamos conversando sobre o que íamos comer.
A comida tornaria isso melhor.
Eu tinha que acreditar nisso.
Isso faria tudo parecer um pouco mais tolerável.
Peguei minha jaqueta do encosto da cadeira e, sem nem colocar
sutiã, saí no meio da noite.
Eu conhecia cada recanto de Greenwich Village. Mas enquanto eu
estava na calçada da Bleecker Street, olhando para cima e para baixo no
quarteirão, eu não conseguia descobrir qual direção seguir. Nem um
único restaurante da minha lista de favoritos estava vindo para mim.
Tudo estava confuso, como se eu não estivesse de óculos... exceto que eu
estava.
Comecei a andar e quando o frio fez meu nariz parecer que alguém
estava segurando um fósforo aceso na ponta, alcancei a maçaneta de
metal da porta e a abri. Um ding soou quando entrei. O cheiro de pipoca
velha me atingiu. Uma luz cintilou em meu rosto e eu queria proteger
meus olhos, era tão brilhante.
Havia filas e eu fui até elas, parando no meio do caminho, olhando
para as sacolas, estudando as fotos. Queijo Nacho, creme de leite e
cebola, sal e vinagre.
Nada.
Fui para o próximo corredor e o seguinte, lendo mais descrições,
olhando mais fotos enormes.
Esperando.
Ouvindo.
Não havia um único resmungo no meu estômago. Nem uma gota
de saliva na minha boca.
O que está acontecendo comigo?
Fui até os refrigeradores nos fundos e peguei algumas bebidas
com sabor de café – o que eu mais vivia desde o acidente. Eu os trouxe
até o registro.
— Olá — o homem atrás do balcão disse enquanto eu colocava as
garrafas na frente dele.
Apalpei minha cintura em busca de minha bolsa.
Não estava lá. Eu saí do meu apartamento apenas com minha
jaqueta.
— Sorriso.
Eu não tinha certeza do que eu estava olhando, mas agora, meus
olhos estavam presos nos dele. — O que você disse?
— Aposto que seu sorriso é muito mais bonito do que sua
carranca.
Havia algo no fundo da minha garganta e era enorme.
Eu só queria voltar aos dias em que eu costumava sorrir.
Agora, eu não conseguia nem lembrar como era levantar meus
lábios naquela direção.
E eu certamente não precisava desse estranho me lembrando.
Deixei as garrafas no balcão, virei as costas para o homem e saí
pela porta.
Eu não fui para casa. Também não fui a outra loja, mesmo depois
de encontrar algum dinheiro no bolso. Acabei de passear por Nova York.
Porque meus pés e esta cidade eram as duas únicas coisas que não
doíam.
CAPÍTULO VINTE E OITO

HONEY
INVERNO DE 1984

Andrew decidiu levar Honey para a Virgínia no Natal. Apesar de


estarem morando juntos e ela já ter conhecido a família dele, Andrew
não queria que ela se sentisse desconfortável na casa de seus pais, então
alugou um hotel para eles na capital. Eles pegaram um voo no final da
tarde e quando chegaram, ele a levou ao spa do hotel para uma
massagem, a primeira que ela já teve.
Depois de se vestirem para o jantar, Andrew disse a ela que o
restaurante não ficava longe e que eles iriam caminhar até lá, o que
Honey preferia de qualquer maneira — e ele sabia disso. Com o clima
mais quente do que no Maine, ela agasalhou um pouco mais e apertou
os dedos ao redor dos de Andrew, observando os diferentes locais que
ele apontava ao longo do caminho. Esta era sua primeira viagem a
Washington, DC, e ela queria ver tudo. Então, eles tomaram seu tempo,
e Honey pôde experimentar como a cidade parecia à noite, como os
postes de luz davam à cidade um brilho laranja romântico.
Ela sabia que o caminho que eles tinham acabado de virar não os
levaria ao restaurante, mas ela não disse uma palavra porque eles
estavam caminhando em direção a uma das estruturas mais bonitas que
ela já tinha visto.
— É o Lincoln Memorial — ele disse quando eles pararam bem na
frente dos degraus. — E é o meu favorito.
— Eu posso ver o porquê.
— Não, Honey, você ainda não viu nada. — Ainda segurando a
mão dela, ele a ajudou a subir as escadas e, quando chegaram ao topo,
ele a virou e se moveu atrás dela. De pé na plataforma com Lincoln atrás
deles, as mãos de Andrew foram para o umbigo dela e ele sussurrou em
seu pescoço: — Agora, você sabe por quê.
Honey ficou paralisada de espanto enquanto seus olhos viajavam
pelo National Mall até o Monumento a Washington. — É de tirar o fôlego.
O vento era forte o suficiente para fazer a água ondular, as luzes
refletindo nela agora dançando.
Andrew passou a mão para cima e para baixo em sua barriga, e
Honey sorriu com o gesto, os dois em silêncio enquanto olhavam para
tudo.
— Você tem que ver este lugar na primavera, quando as cerejeiras
estão em flor — ele finalmente disse depois de vários minutos.
— Eu quero.
— Você irá. — Ele beijou o topo de sua cabeça antes de descansar
o queixo sobre ela. — Vou te mostrar tudo.
Ela colocou as mãos nas dele e as apertou, mas ele não as deixou
ficar lá por muito tempo. Isso porque Andrew estava andando para o
outro lado dela. E depois que ele a beijou gentilmente, ele puxou uma
pequena caixa preta de sua jaqueta e se ajoelhou.
— Honey — ele começou, segurando a caixa na direção dela, mas
sem abrir a tampa, — eu estava neste exato lugar quando decidi que
queria ser médico, ajudando uma garotinha depois que ela caiu em
alguns degraus.
O coração de Honey batia forte enquanto ela observava a emoção
em seu rosto, seus olhos se encheram quando ele fez uma pausa para
respirar.
— Este lugar aqui é o que inspirou minha vida profissional, e
agora… — ele abriu a tampa, mostrando-lhe o diamante dentro — quero
que se torne o lugar onde eu lhe peço para ser minha esposa. — Ele tirou
o anel da caixa e o segurou. — Fique comigo para sempre. — Ele o
colocou na ponta do dedo dela. — Diga-me que você passará todos os
dias comigo pelo resto de sua vida.
Lágrimas transbordaram sobre suas pálpebras. — Não quero mais
nada. — Sem esperar que ele ficasse de pé, ela jogou os braços em volta
do pescoço dele. — Eu te amo muito, Andrew. — Quando o apertou, ela
o ouviu rir, o som a surpreendeu. — O que é tão engraçado?
— Você não me deixou colocar o anel.
Honey riu e se afastou, dando a mão a Andrew novamente,
observando-o deslizar o diamante em seu dedo. O anel era de ouro e
simples com uma única pedra em forma de pêra.
— Para sempre — ela sussurrou enquanto olhava para ele.
Ele estava de pé quando ela o abraçou novamente e, desta vez, ele
a ergueu no ar e disse: — É uma promessa.
CAPÍTULO VINTE E NOVE

JARED

O convite dizia que era uma festa de gala para celebrar os


passageiros e tripulantes sobreviventes do voo 88. Eu sabia que era
realmente a companhia aérea procurando uma oportunidade para criar
uma boa impressão. Mesmo que eles não fossem responsáveis pela
queda do avião, ter seu nome ligado a um acidente não era bom para os
negócios. Esta festa foi a tentativa da companhia aérea de colocar tudo
para descansar.
O que o convite não dizia era que o vice-presidente dos Estados
Unidos, o prefeito de Nova York e várias celebridades estavam lá.
Foi um maldito circo da mídia.
Só havia uma razão para eu ter vindo.
Billie.
Eu só tinha que colocar meus olhos nela. Acabou que ela era fácil
de identificar, assim como todos os outros que estavam em nosso voo
naquele dia. Todos nós mostramos os mesmos sintomas físicos –
olheiras, falta de atenção, medo de nossas bebidas ficarem muito baixas
em um ambiente público. Eu poderia dizer quem foi medicado. Eles
eram os únicos que conseguiam sorrir.
Foi assim que eu soube que Billie não estava tomando nada. Os
cantos de seus lábios não se levantaram uma vez desde que cheguei
aqui.
Ela estava do outro lado da sala em um vestido preto, segurando
uma pequena bolsa em uma mão e uma taça de vinho branco na outra.
Mesmo que ela estivesse pintada e de salto alto, ela não era a garota que
eu sentei ao lado no avião. A que mal podia deixar passar um momento
de silêncio entre nós, que sorriu todo o caminho do banheiro até seu
assento. Que tinha um corpo curvilíneo e sensual que eu não conseguia
parar de pensar.
O que eu estava olhando agora era uma versão cansada, muito
mais magra, parecendo completamente perdida.
Ainda assim, eu não tirei meus malditos olhos dela.
E mesmo sabendo que era perigoso e era exatamente o que eu
disse a mim mesmo para não fazer, eu a segui até o banheiro quando vi
sua cabeça daquele jeito.
Como já havia trabalhado neste salão de baile muitas vezes antes,
conhecia um caminho mais rápido e entrei no corredor pelo lado leste
da sala e a segui até ser cuspido diretamente na frente dos banheiros.
Billie estava a vários metros de distância, olhando para os
próprios pés. Ela não tinha ideia de que eu estava aqui. Ela não tinha me
visto. Eu tinha certeza disso.
— Billie…
Ela lentamente olhou para cima, o reconhecimento passando por
seu rosto. Não houve um sorriso, mas seus olhos se iluminaram. — Oi.
— Sua voz era tão suave. — Eu não achei que você viria... quero dizer, eu
imaginei que você já estaria aqui agora.
Eu a vi procurar por mim. Ela era fácil de esconder.
— Você está indo bem?
Fazia um mês desde o acidente e ela ainda não havia postado. E
então havia os olhos dela que ainda estavam tão assombrados. Eu sabia
a resposta. Eu não precisava que ela dissesse uma palavra.
Ela deu de ombros, deixando os ombros erguidos por alguns
segundos antes de deixá-los cair. Ela então respirou fundo, desviando o
olhar quando balançou a cabeça. — Não.
— Jesus Cristo — eu sussurrei quando seu olhar voltou, a crueza
me matando. Se alguém entendia esse sentimento... era eu. — Você está
recebendo ajuda? Falando com alguém?
Ela não poderia fazer isso sozinha. Ela precisava de apoio, mas
essa pessoa simplesmente não podia ser eu.
Ela assentiu. — Qualquer outro dia. Isso ajuda. — Ela passou os
braços em volta da cintura. — Reviver as partes que me lembro é
horrível.
— Eu sei.
Houve silêncio – não no corredor, mas entre nós.
E então — Jared...
Eu não tinha esquecido como soava quando ela dizia meu nome.
Eu tinha esquecido o quanto eu gostava disso.
— Tenho tanto que quero dizer, coisas que não tive a chance de
dizer no hospital.
— Você já me agradeceu, Billie.
Ela balançou a cabeça. — Isso vai além de agradecer.
Ela tinha começado a processar o que tinha acontecido. Eu
conhecia os estágios, como a terapia funcionava. Eu tinha ficado no
canto durante as sessões dos meus clientes.
Eu só queria que ela se concentrasse nela, não em nós.
— Ouça-me... — Quando meu olhar se estreitou, o dela
enfraqueceu ainda mais. — Quando você voltar à sua vida e ao seu
trabalho e ficar ocupada, tudo ficará melhor.
Ela puxou o cabelo para o ombro direito, expondo o esquerdo. No
topo havia o contorno mais tênue de uma contusão. Foi onde ela bateu
na lateral do avião quando as rodas tocaram o chão.
Minhas mãos se apertaram quando balancei a cabeça e disse: —
Confie em mim, Billie. Eu sei do que estou falando.
Seus olhos não estavam se enchendo de lágrimas, mas poderiam
muito bem estar.
Eu só queria envolvê-la em meus malditos braços e confortá-la e...
O que diabos eu estava pensando?
Eu nunca deveria ter vindo a este evento.
Eu nunca deveria tê-la encontrado no corredor.
O que ela precisava... eu não era aquele cara.
— Estou tentando — ela respondeu. — Eu realmente, realmente
estou.
Um grupo de pessoas estava andando em nossa direção e eu
queria tirá-la do caminho. Fiz sinal, para que ela estivesse ciente e então
coloquei minha mão na parte inferior das costas dela e a levei até a
parede.
Ela inclinou o ombro contra ela e se virou para mim.
— O que você precisa, Billie? — Eu perguntei quando procurei
seus olhos e não consegui ver a resposta.
— Um abraço.
Eu sei melhor, porra.
Meus dedos se apertaram novamente, rangendo os dentes.
Tocar era o que eu queria... e era pior coisa para nós dois.
Respirei fundo, afastando esses pensamentos e estendi a mão. Ela
caiu em mim como se estivesse cansada de ficar de pé e não pudesse
fazer isso por mais um segundo.
Ela não precisava com meus braços em volta dela.
Eu levaria todo o seu peso.
E eu fiz enquanto suas mãos se agarravam às minhas costas, e sua
bochecha pressionava contra meu peito. Senti tudo o que havia dentro
daquela garota – sua dor e tristeza. Eu queria tirá-la, segurá-la para que
ela pudesse voltar para sua vida. E foi isso que tentei fazer quando
coloquei meu rosto em seu pescoço, agarrando-a com todas as minhas
forças.
Ficamos assim.
Por minutos.
Até que ouvi: — Jared, toda a minha família está aqui e quero que
você os conheça.
Eu me avisei antes de abraçá-la.
Agora, era hora de ouvir.
Eu endireitei minhas costas, levantando meu rosto de seu
pescoço, e meus braços afrouxaram. Esperei até que ela se sentisse
estável o suficiente antes de dar alguns passos para trás e dizer: — Meu
motorista está lá fora. Tenho um voo para pegar.
Suas sobrancelhas franzidas, seu olhar saltando do meu olho
direito para o meu esquerdo. — Você não vai ficar? Você está... voando
esta noite?
Eu coloquei minha mão em seu outro ombro, o não marcado, o
mesmo lugar que eu segurei durante o acidente e tentei não deixar o
olhar em seu rosto me afetar. Porque se eu tomasse a dor em seus olhos,
eu nunca a deixaria. — Lembre-se, Billie... volte para sua vida. Eu
prometo, vai ajudar.
Eu deveria ir embora e não olhar para trás.
E eu fiz.
Mas não por alguns segundos. Eu tive que gravar aquele rosto
bonito uma última vez. Eu esperava que o mundo pudesse vê-la sorrir
novamente. O mesmo que eu tinha visto quando ela olhou pela janela do
avião e na foto dela no café. Aquele que merecia brilhar tanto.
— Espere — sussurrou quando eu virei de costas para ela.
Eu conhecia seus sons e o que eles significavam.
Sem parar, fui para o fundo do salão de baile e atravessei um
corredor até a saída onde Tony estava estacionado na porta.
— Casa?
— Sim — eu respondi uma vez que estava no meu lugar.
Mas minha mente estava no prédio atrás de nós e na garota que
acabei de deixar dentro dele.
CAPÍTULO TRINTA

BILLIE

Quando jared foi embora no hospital, eu não estava no estado de


espírito certo para entender o que estava acontecendo. Mas agora,
enquanto eu olhava para a parte de trás de seu corpo alto e largo
enquanto ele se movia pelo corredor movimentado, eu sabia o que isso
significava.
E eu odiava a sensação.
Quando estive perto dele esta noite, embora tenha sido breve, não
senti o peso da queda. Sua presença tinha dado uma pausa na minha dor,
mas fez meu peito apertar de uma forma que me lembrou antes - quando
eu só pensava nele como um companheiro de assento bonito e não uma
das pessoas que salvaram minha vida.
Agora, ele se foi, e eu não sabia se o veria novamente.
Um dos passageiros com quem falei anteriormente mencionou
que queria reunir todos no aniversário de um ano do acidente. Eu me
perguntei se essa seria a próxima vez que nos encontramos e então eu
questionei se Jared iria mesmo comparecer. Ele obviamente não era de
eventos em grupo. Ele pulou as fotos no início e não subiu ao palco
durante a cerimônia quando todos no voo foram reconhecidos.
Uma vez que ele virou a esquina do corredor, o topo de sua cabeça
desapareceu, um vazio retornou ao meu peito. Era a mesma sensação
que tinha vivido ali no último mês.
Aquele que não sentia nada como eu.
Eu me perguntei se isso era um efeito colateral da situação. Se foi
porque Jared me salvou ou se foi devido a algo mais.
Algo mais pesado.
Como emoções.
Sem ter a menor ideia, suspirei e voltei para o salão de baile, meu
desejo por ar – a razão pela qual eu vim por aqui em primeiro lugar – se
foi.
Não dei mais do que alguns passos quando ouvi meu pai dizer: —
Você está bem, Honey?
Olhei para cima, encontrando seu rosto preocupado, o que
significava que ele veio até aqui para me verificar.
Eu envolvi minhas mãos ao redor de seu braço, juntando-me ao
seu lado. — Estou bem, pai.
Minha família estava me rondando desde o acidente e sempre
havia alguém me verificando. Apreciei seus esforços, mas eles
simplesmente não entendiam e eu não conseguia explicar a eles.
— Eu encontrei Jared — eu disse.
Ele sorriu e era tão quente que eu queria me envolver nele.
— Onde ele está? Eu gostaria de agradecer a esse homem por
tudo que ele fez por você.
Dei de ombros. — Ele teve que sair.
Toda vez que eu contava a história, falava sobre Jared. Ele foi a
maior parte disso e eu disse a todos que ele era uma das principais
razões de eu estar viva. Esta não foi a primeira vez que meu pai
mencionou para mim que queria agradecer a Jared. A ideia era
absolutamente linda. Mas com a maneira como Jared parecia entrar e
sair, eu simplesmente não sabia se isso iria acontecer.
A mão de papai foi para minha bochecha, seu polegar roçando
meu nariz. — Se você quiser, todos nós podemos sair também. Todos
vão entender. Nós só viemos aqui por você.
Virei meu rosto, aninhando-me em sua palma. Não importava
quantos anos eu tivesse. Eu nunca pararia de fazer isso e nunca deixaria
de me sentir bem. — Não, pai, vamos ficar. É importante.
Foi o encerramento.
Para todos nós.
Eu tinha que olhar assim.
— Você tem certeza?
Eu balancei a cabeça e agarrei seus dedos que estavam no meu
rosto, segurando-os antes de eu os levantar e caminhei com ele para
onde minha família estava.
Os aperitivos estavam em seus pratos. Almôndegas, costeletas de
cordeiro e batatas fritas de atum. E eles estavam alternando entre goles
e mordidas. Agora que Ally estava comendo por dois, ela estava com os
punhos duplos.
Nem uma única coisa que eles estavam colocando em suas bocas
parecia bom para mim.
Essa parte ainda não havia retornado.
E eu queria desesperadamente aquele pedaço de mim de volta.
CAPÍTULO TRINTA E UM

JARED

Entrei pelo saguão principal da Morgan Security, dando bom dia


para a recepcionista antes de fazer meu caminho lentamente em direção
ao meu escritório. A cada poucos metros um funcionário me parava para
conversar e quando cheguei à minha cadeira, meu café estava frio. Liguei
para minha assistente, pedindo um novo, enquanto esperava meu
computador ligar.
Depois de digitar uma série de senhas, cliquei no meu e-mail.
Havia centenas esperando para serem abertos. Apenas um importava.
Chegou por volta das três da manhã e eu estava acordado quando meu
telefone tocou.
Já o tinha lido tantas vezes que o sabia de cor.
Cada vez, eu ouvia isso em sua voz.
E a cada vez, ela ficava mais quieta.
Como mencionei no meu último e-mail, eu era um dos passageiros
do voo 88 que vocês ouviram falar recentemente no noticiário. Tem sido
extremamente difícil me ajustar à vida após o acidente e temo que minha
cura esteja apenas começando. Embora eu tenha solicitado anteriormente
uma extensão de nosso contrato, estou escrevendo para informar que não
poderei cumpri-la da maneira que combinamos.

Para simplificar, não estou pronta para entrar em um avião e voar.

Entendo que viajar para o seu restaurante é obrigatório e que seu


estabelecimento fica muito longe para ir de carro. Por isso, gostaria de
oferecer outra opção antes que você cancele nosso contrato. Nas próximas
semanas, vou começar um novo recurso, permitindo que os restaurantes
exibam anúncios de trinta segundos em meus canais de mídia social. Peço
que você mostre sua cozinha e preparação, demonstrações de culinária,
pratos, sua equipe, sala de jantar - tudo o que puder caber sem exceder o
limite de tempo. Com o alcance que tenho, sinto que esta seria uma
oportunidade maravilhosa de mostrar uma parte única do seu negócio
para um público mundial de comedores.

Para ajudar na sua decisão, anexei os dados demográficos de cada


um dos meus canais e um relatório detalhado do meu engajamento e taxa
de cliques. Se isso for algo de seu interesse, ficarei feliz em discuti-lo mais
detalhadamente ou enviar um contrato revisado. Se você quiser cancelar
o contrato completamente, por favor me avise, e eu lhe enviarei o
formulário.

Por favor, saiba que esta não foi uma decisão fácil de tomar.
Dediquei minha vida a este trabalho e não quero nada mais do que voltar
a ele, comendo meu caminho pelo mundo. Um dia em breve, espero que
isso se torne realidade.

Noodles5 e Toodles6,
Billie Paige
— Aqui está um quente — disse minha assistente.
Eu arrastei meus olhos para longe da tela para vê-la colocando um
novo café na minha mesa antes de sair do meu escritório.
Eu não queria.
Nada naquela caneca faria a situação na minha tela parecer
melhor. Billie estava lutando e eu vi isso em cada palavra, exceto em sua
aprovação e assinatura, e essas foram geradas automaticamente. Ela
estava se desculpando quando não precisava. Justificando quando ela
não precisava fazer isso também. O peso do avião estava em suas costas.
Seu mundo inteiro parecia estar desmoronando e ela mal estava
aguentando.
Essa era a razão pela qual eu poderia ajudá-la.
Eu sabia como era... melhor do que ninguém.

5
Uma palavra de código para descrever uma garota fofa ou gostosa sem que ninguém perceba.
6
Uma versão anglicizada abreviada da frase francesa à tout à l'heure, que significa adeus.
Mas isso significava estender a mão e passar um tempo com ela
quando eu estava propositalmente me afastando.
— Receio que minha cura esteja apenas começando.
Essa linha continuou chamando minha atenção.
Eu li novamente.
E de novo.
Sabendo que isso seria uma das coisas mais desafiadoras que eu
já fiz – e provavelmente algo que eu iria me arrepender – eu peguei meu
telefone, abri uma nova mensagem de texto e digitei o número que
estava na parte inferior do e-mail dela.
Eu: Vamos nos encontrar para um café.
Eu coloquei meu celular ao lado da minha mesa e voltei para o
meu computador, trabalhando na minha caixa de entrada. Eu estava
escrevendo minha primeira resposta quando sua mensagem chegou.
Billie: Quem é esse?
Eu: Jared.
Billie: Uau.
Billie: Oi!
Billie: Como você conseguiu meu número?
Eu: Você está livre esta tarde?
Billie: Sim.
Eu: vou te mandar um endereço. Encontre-me lá às 3.
Billie: Ok.
Billie: Até breve, Jared.
CAPÍTULO TRINTA E DOIS

HONEY
PRIMAVERA DE 1985

Honey estava marcada para se casar com Andrew em uma tarde


de sábado em meados de março, três meses depois que ele a pediu em
casamento. Ela escolheu fazer a cerimônia do lado de fora, em frente a
um farol, apesar de estar um pouco frio. O cenário era um que ambos
amavam e parecia o lugar perfeito para trocar votos.
Na manhã do casamento, Honey colocou um vestido branco
simples, sem descrição, de mangas compridas, que ela havia encontrado
em uma loja de segunda mão em Boston alguns fins de semana antes.
Andrew usava um terno escuro. E porque ela queria experimentar o dia
inteiro com o marido, eles deixaram o apartamento juntos e entraram
na parte de trás da limusine que Andrew havia alugado.
Quando eles chegaram ao parque, sua família imediata, Valentine,
e o melhor amigo de Andrew estavam todos esperando. Como eram os
únicos convidados, caminharam como uma nova família até o farol, e o
padre ficou diante do casal e começou seu discurso.
Quando chegou a hora de trocar alianças, Honey não quis colocar
a aliança de Andrew no dedo que ele havia compartilhado com sua ex-
esposa. Ela queria uma nova mão, uma nova colocação, uma nova
memória. Foi por isso que a aliança de casamento de Andrew foi à sua
direita.
Quando foi a vez de Andrew, ele segurou a mão de Honey,
colocando primeiro a tradicional, seguida pelo anel de noivado. Ele não
a soltou, produzindo mais uma que ele segurou na ponta de sua unha,
deslizando-a lentamente, parando quando ela abraçou o outro lado de
seu diamante.
— Se é isso que estou usando na minha mão esquerda — disse ele
— quero que você tenha um que combine.
Era menor, mais fino, mais delicado do que o anel de seu pai, mas
não havia como confundir a trança dourada na frente.
Quando ela olhou para o marido, ela tinha lágrimas nos olhos. —
Eu amo isso.
— Eu te amo.
Honey sentiu-se corar ao olhar para o homem com quem estava
se casando. O homem que a havia curado quando ela estava com uma
imensa dor. O homem que tinha sido leal a ela desde que entrou em sua
vida. O homem que colocou não um, mas três anéis em seu dedo.
— Pelo poder investido em mim, eu os declaro marido e mulher
— disse o padre. — Você pode beijar a noiva.
— Para sempre — Andrew sussurrou para ela.
Honey sorriu, sentindo-o chegar até seus olhos. — Para todo
sempre.
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS

BILLIE

Minhas mãos tremiam os quatro quarteirões inteiros até o café.


Isso era o que eles estavam fazendo desde que recebi a mensagem de
Jared esta manhã. Sua mensagem veio do nada e eu ainda não tinha
certeza do que pensar sobre isso. Mas o pensamento de passar um
tempo com ele em um ambiente que não estava relacionado ao acidente
criou essa energia ansiosa que estava pulsando em mim o dia todo.
Quando passei pela porta da loja, eu o vi imediatamente. Ele
estava sentado no canto em uma pequena mesa, de frente para a
entrada, de costas para a parede.
Nossos olhos se conectaram.
A vibração no meu peito estava lá, mas o que se juntou a ela foi
uma calma que eu não sentia quando estava com Ally ou minha família.
Era algo que eu só sentia quando estava com ele.
Com seu olhar em mim, eu fiz meu caminho para a mesa. Ele se
levantou quando me aproximei e deu um passo à frente, encontrando-
me na minha cadeira. Alcançamos um ao outro ao mesmo tempo.
— Oi — eu disse suavemente, meus braços envolvendo seu
pescoço.
Esse abraço foi diferente daquele que tivemos no corredor. Era
mais curto e ele não me segurou com tanta força. Assim como eu estava
me sentindo confortável em seus braços, ele se afastou.
— Obrigado por vir — disse ele, enquanto eu me sentava no
banco em frente ao dele.
Seus olhos se estreitaram. Eu o senti ver todo o caminho até a boca
do meu estômago e me perguntei se ele viu o estrondo – o sangue que
nos cobriu, os gritos que saíram da minha boca, a sensação das minhas
mãos agarradas a ele.
Ou talvez quando ele olhou para mim, ele apenas me viu.
Sem quebrar o contato visual, ele levantou a mão e gritou: — Sue?
— Em poucos segundos, uma mulher veio até a mesa. — Você se importa
de pegar um café para minha amiga Billie?
— O que posso trazer? — ela me perguntou.
Cada pedido de café que eu já tinha feito era uma confusão de
palavras na minha cabeça. — Eu aceito qualquer coisa, só não muito
doce.
Ele esperou até que ela saísse antes de dizer: — Faz alguns dias
desde que eu te vi. Como você tem estado?
Era quase esmagador estar em sua presença novamente,
especialmente depois de pensar que isso não aconteceria por um longo
tempo, se é que aconteceria.
Eu não tinha uma resposta, então olhei pela janela. As pessoas
estavam passando. Todos eles se movendo tão rapidamente.
E eu... ainda não estava.
— Eu deveria estar em Vegas esta noite. — Engoli em seco e olhei
para ele. — Cancelei o voo e o contrato. — Havia um aperto na minha
garganta que estava crescendo tão rápido quanto minha boca estava
salivando. — Eu cancelei muitos contratos hoje.
— Por que?
Dei de ombros, o movimento fazendo com que um gotejamento
escorresse pela minha bochecha. Limpei-o, sem ter certeza de quando
ele se formou. — Dei uma opção aos meus clientes. Alguns o pegaram,
outros não.
Ele não respondeu imediatamente. — Porque você não pode voar
até eles.
Eu balancei a cabeça. — Eu sei que isso está me controlando. Eu
sei que estou deixando vencer, mas... eu simplesmente não posso.
Falei sobre isso com meu terapeuta, minha família e Ally.
Falar ajudou.
Mas não tirou.
A garçonete voltou para a nossa mesa, colocando um café na
minha frente. Agradeci e envolvi minhas mãos em torno dele.
— Como vai? — Perguntei a ele uma vez que ela se foi.
— Tenho dificuldade em dormir, mas estou bem.
Ele não parecia mais magro do que quando eu o conheci. Ele não
estava bêbado ou desgrenhado. Tudo o que eu podia ver eram orelhas
sob seus olhos. Ele estava lidando com isso e isso foi inspirador.
— Que parte te mantém acordado?
Seus dedos foram para a barba, penteando os cabelos. — O
silêncio.
Eu procurei seus olhos. — Quando isso aconteceu?
Alto era tudo que eu lembrava. Uma mistura de sons dolorosos
que ainda me davam vontade de tapar os ouvidos.
— O momento após o acidente, quando o avião parou de se
mover. — Ele se inclinou para frente, cruzando as mãos sobre a mesa.
— O momento logo antes de eu saber que você estava viva.
Eu não sabia o que dizer.
Fiquei literalmente sem palavras.
Se minha mente realmente fosse para lá, eu não sabia o que
aconteceria com meu coração, então evitei e perguntei: — Como você
está voando? Porque eu não consigo entender isso.
— Eu te disse, você tem que voltar para sua vida, para o seu
trabalho e ficar ocupada. Só assim vai melhorar.
Eu estava tentando fazer tudo isso.
Mas voar estava fora de questão.
Ele ficou na mesma posição, do outro lado da mesa curta, seus
dedos roçando sua caneca quando ele perguntou: — Qual é a parte que
te assusta?
Eu estive pensando muito sobre isso, e eu discuti isso na terapia.
Pelo menos uma vez por dia, eu tentava me imaginar no JFK, um
saco de Twizzlers na bolsa, um café na mão. Eu me imaginei entrando
no avião e ficando confortável no meu lugar.
O segundo em que me sentei foi quando o pânico se instalou e eu
desisti do exercício.
Toda vez.
— Que vai acontecer de novo — eu admiti.
— Não sobreviver uma segunda vez…
Eu balancei minha cabeça mais forte do que eu precisava. — Eu
não quero descobrir.
— Eu vou te colocar no ar.
Uma vibração se moveu em meu peito. Não do tipo que eu tinha
quando o vi. Esse era o tipo que apertava meu coração e não soltava.
— Nós iremos para algum lugar próximo. Nantucket, Martha's
Vineyard, Seaside Heights — uma delas. Vamos jantar e voar de volta
para a cidade.
— Há um restaurante peruano em Martha's Vineyard chamado
Selva — eu disse a ele. — Um dos melhores que já fui. O ceviche7 deles
é... — Esperei meu estômago roncar, sentir uma pontada de fome. Mas
não havia nada. — É bastante incrível.
— É para lá que iremos.
Eu não queria mais nada.
Mas eu disse: — Não posso — em vez disso.
— Não agora, mas você vai em breve.
Eu me perguntei se hoje era o início de uma contagem regressiva
ou se o vôo 88 era o último avião em que eu estaria.

7
Ceviche é um prato da culinária peruana e sul americana baseado em peixe cru ou camarão marinado
em suco de limão, lima ou outro cítrico.
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO

JARED

Quando me sentei em frente a Billie no café, eu a observei lutar


com suas emoções. Desde que ela chegou, houve lágrimas e silêncio, até
mesmo um momento em que eu a vi lutar contra um sorriso que nunca
saiu. Por tudo isso, ela tinha sido tão honesta. Ela não adoçou seus
sentimentos ou tentou escondê-los.
Sua franqueza a ajudaria a superar isso, ela só precisava de mais
tempo para se curar.
— Eu me preocupo que vamos entrar no ar — disse ela — e eu
vou enlouquecer completamente, fazendo uma cena para que o piloto
volte.
— Isso não vai acontecer.
— Como você sabe?
Inclinei-me ainda mais, o mais perto que pude da mesa sem mover
minha cadeira. — Porque você estará comigo.
Eu assisti aquilo atingi-la e então eu a vi tentar empurrar para
longe.
Jesus Cristo.
Mesmo que fosse verdade, eu precisava ser mais cuidadoso com
minhas respostas.
— Meu trabalho exige que eu voe toda semana — disse ela. —
Não posso colocar você no meu bolso e tirar você toda vez que sentir
que vou ter um ataque de pânico.
Não havia sarcasmo em seu tom. Era assim que o medo real se
parecia.
— Eu quero te dizer uma coisa... — Olhei para ela, para o balcão
onde Sue estava e depois de volta para a garota cujos olhos assombrados
eram muito parecidos com os meus. — A mulher que entregou seu café
perdeu o seu filho há dois anos para a leucemia. Ele tinha quatro anos.
— Houve uma mudança em sua expressão e era isso que eu estava
procurando. — A mulher que trabalha na cozinha é irmã de Sue. Cerca
de um ano atrás, seu marido a espancou até uma polegada de sua vida.
Ela fica na parte de trás porque precisa de várias outras cirurgias no
rosto e não quer que ninguém veja.
— Meu Deus.
— A razão pela qual estou lhe contando isso é porque elas
sobreviveram quando pensavam que não sobreviveriam. Eu sei que é
algo que você questiona todos os dias, se você vai passar por isso e eu
prometo a você, você vai. Você vai sobreviver a isso, Billie.
Ela virou a xícara em um círculo como se fosse uma taça de vinho.
— Por que você quer me ajudar, Jared?
Eu segurei seus olhos enquanto eu dizia — Porque eu posso — e
então eu empurrei minha cadeira para trás, sabendo que se eu olhasse
meu relógio, ele me diria que era hora de ir. — Desculpe, mas tenho um
voo para pegar.
Eu a vi ficar tensa com a menção disso.
Tomei um último gole do café, coloquei-o na mesa e me levantei.
— Vejo você quando voltar.
— Você irá?
Aproximei-me de sua cadeira e minha mão foi para seu ombro, os
leves hematomas em algum lugar embaixo. — De que outra forma eu
vou conseguir te colocar em um avião? — Esperei por um sorriso. Não
havia um. — Fique, termine sua bebida. Vou pedir a Sue que envie um
muffin de abóbora, ela faz o melhor.
— Acabei de comer — ela sussurrou — mas obrigada.
Saí do café, sabendo que foi a primeira vez que Billie mentiu para
mim.
CAPÍTULO TRINTA E CINCO

HONEY
VERÃO DE 1985

Em seu aniversário de três meses, Andrew levou Honey para


jantar.
Não era uma ocasião que eles tinham planejado para comemorar.
Honey nem tinha certeza de que ele voltaria do hospital antes que os
restaurantes fechassem. Mas quando ele entrou pela porta da frente por
volta das oito da noite e puxou sua esposa em seus braços, ambos
sugeriram ir jantar ao mesmo tempo.
Eles escolheram um restaurante italiano que ficava a um
quarteirão de seu apartamento, assim que terminaram a sobremesa,
Andrew estendeu a mão por cima da mesa e colocou a mão na dela.
— Quero falar com você sobre uma coisa.
Honey pressentiu que isso ia acontecer. Foi uma sensação que ela
teve no momento em que ele a abraçou depois do trabalho. Ela se
perguntou se ele tinha sido capaz de sentir a mesma coisa dela, já que
havia algo que ela também queria discutir com ele.
— Você pode me dizer qualquer coisa — disse ela, passando o
polegar sobre o pulso dele. — Você sabe disso.
Ele não veio direto com isso. Em vez disso, ele a encarou por vários
segundos, fazendo seu rosto ficar quente e seu corpo formigar. E
enquanto a expectativa crescia dentro dela, ele soltou: — Honey, estou
pronto para ser pai.
O calor de suas bochechas escorreu por seu pescoço e foi para sua
barriga, um lugar que ela estava observando desde que se casaram. Não
porque havia um bebê nele, mas porque ela desejava que houvesse.
— Andrew — ela sussurrou, sentindo as cócegas se moverem
para o fundo de sua boca — eu não quero nada mais do que ser mãe. —
A emoção em sua garganta a impediu de falar mais alto.
Sair do anticoncepcional era a conversa que ela queria ter com o
marido, então ela ficou em choque por ele ter tocado no assunto. Ao
mesmo tempo, ouvir que ambos estavam prontos e querer ser pais a
deixou tão satisfeita.
Honey sempre soube que Andrew queria filhos. Quando eles
discutiram tê-los no passado, eles nunca mencionaram uma linha do
tempo, apenas seu desejo de querer mais de um. Agora que estavam
casados, Honey começou a se sentir diferente e, obviamente, Andrew
também.
Honey apertou sua mão e sussurrou — Baby — do outro lado da
mesa. Ela deixou a palavra ferver entre eles, o momento se
desenrolando mais perfeitamente do que ela poderia ter imaginado. —
Você me faz tão incrivelmente feliz.
Ele sorriu aquele sorriso travesso. — Venha aqui.
Honey levantou- se da cadeira e caminhou até o lado da mesa de
Andrew. E como se fossem as únicas pessoas no restaurante, ela subiu
no colo dele e colocou os braços em volta do pescoço dele.
— Eu te amo tanto — ela disse em seu ouvido e ela sorriu quando
ele respondeu. Enquanto ela o segurava, ela sentiu as batidas de seu
coração e seu desejo endurecendo debaixo dela, aquecendo sua pele que
já estava tão quente. — Andrew... — ela respirou, apertando mais forte.
— É hora de ir para casa.
CAPÍTULO TRINTA E SEIS

BILLIE

Eu estava editando um vídeo para um novo cliente quando o som


de uma mensagem veio do meu telefone. Afastando meus olhos do meu
computador, verifiquei meu celular e vi o nome de Jared na tela.
Jared: Jantar amanhã à noite?
No café, ele me disse que entraria em contato quando voltasse de
sua viagem.
Eu certamente estava feliz por ele ter feito isso e meu corpo
respondeu, enchendo-se de uma energia nervosa.
Eu: adoraria.
Jared: Planeje para as 8. Eu mando o endereço para você amanhã.
Eu: Como foi sua viagem?
Apareceu a imagem de uma frigideira de ferro fundido com um
pedaço perfeito de linguado Dover no meio, acompanhado de batatas
raspadas multicoloridas e uma variedade de vegetais de raiz.
Ele não parecia o tipo de cara que tirava fotos de sua comida. Pelo
que pude dizer, ele nem sequer tinha contas pessoais de mídia social. Foi
por isso que tive a sensação de que ele havia tirado a foto só para mim.
Entrei nos meus emojis e escolhi o rosto com os olhos de coração,
enviando-o primeiro antes de digitar uma mensagem.
Eu: Parece delicioso.
Jared: Estava. Vejo você amanhã, Billie.
Continuei a olhar para a tela, sabendo que precisava editar o vídeo
do cliente logo para que fosse aprovado e enviado a tempo.
Mas eu simplesmente não conseguia voltar a isso. Eu estava muito
focada na mensagem de Jared, na foto, na ideia de vê-lo para jantar
amanhã. Eu ainda não sabia por que ele queria me ajudar e quando eu
perguntei, ele realmente não me deu uma resposta. Por enquanto, achei
que não importava. Eu aceitaria o que ele estivesse disposto a dar
apenas para passar mais tempo com ele.
Eu sabia que Ally seria uma grande fã da ideia. Ela ficou em êxtase
depois que soube que tínhamos ido tomar um café. Uma vez que eu lhe
contasse sobre o jantar, ela faria uma grande produção com isso. O
timing foi realmente perfeito. Fazia alguns dias desde que eu a vi, então
estávamos atrasados para uma visita de qualquer maneira.
Peguei meu telefone novamente e comecei a digitar.
Eu: Vou jantar com Jared amanhã à noite.
Ally: Eu sabia que amava aquele homem por uma razão.
Eu: Você só gosta que eu vou sair para comer.
Ally: É melhor você comer...
Eu: Acredite, eu quero. O pensamento de estar lá com ele e pastar
como este pássaro que me tornei me dá vontade de morrer.
Ally: Um copo de vinho antes de sair. Não negociável.
Ally: O que você vai vestir?
Eu: Roupas.
Ally: Não faça minha bunda grávida ir até aí e te arrumar.
Eu: Você nem está aparecendo ainda.
Ally: Te vejo em uma hora.
Eu: Foi fácil. ;)

— Aquela — Ally disse enquanto se sentava na ponta da minha


cama. — É o meu favorito de longe.
Eu estava na frente do espelho, vestindo uma roupa que ela
insistiu que eu experimentasse. Com o peso que havia perdido desde o
acidente, agora eu estava com minhas roupas largas. Essa era uma seção
do meu armário que eu não me aventuro há anos.
Eu estava comendo. Eu simplesmente não estava comendo como
eu.
Ainda assim, a cada dia, eu estava ficando mais forte,
adormecendo um pouco mais fácil, sentindo a névoa começar a
desaparecer do meu cérebro.
— O que você acha? — Ally perguntou da minha cama. — Nós
temos um vencedor?
Olhei para o meu corpo antes de olhar para ela. — O topo é
extremamente baixo.
— Acho que não é baixo o suficiente.
Eu me virei para o espelho novamente, sabendo que ela
provavelmente me faria usar lingerie se pudesse. — Só não quero enviar
a mensagem errada.
— Billie, os olhos de Jared vão estar em cima de você,
independentemente do que você vestir.
Toda vez que ela o trazia, meu rosto esquentava. — Não diga isso...
ele poderia ser casado.
— Nós duas sabemos que ele não é.
— Nós não sabemos nada — eu corrigi.
Ela me soltou para colocar as mãos nos quadris. — Bem, eu sei
tudo, e estou lhe dizendo, ele não é um homem casado.
Além de não ter presença na mídia social, uma pesquisa online não
revelou nenhuma informação pessoal sobre ele. Ele não usava um anel,
mas muitos homens não usavam.
Como não havia razão para discutir sobre isso, dei uma última
olhada em mim mesma, me virando para ver todos os ângulos. — Está
na lista de talvez, mas eu gosto muito.
— Isso significa que é um sim.
— Você é demais. — Entrei no meu armário, pendurei a roupa e
vesti a calça de ioga e a regata que eu usava antes.
Quando me juntei a ela na cama, ela estava comendo um saco de
gooey red fish que ela estendeu na minha direção. Eu removi dois,
mordiscando o primeiro.
— O que está em sua mente?
Olhei para cima, sem perceber que estava olhando para o chão. —
Ele. — Mesmo se eu tentasse esconder, ela veria através de mim. —
Minha cabeça está em todo lugar agora.
— Eu posso dizer — ela respondeu. — E eu posso dizer que você
tem sentimentos por ele.
Meu peito começou a apertar. — Ally…
— Ouça-me — disse ela, colocando o doce para descansar a outra
mão no meu ombro. — Quero deixar as coisas de casado de lado por um
segundo e me concentrar apenas em você. — Seu aperto aumentou. —
Você trata tudo como uma receita, Billie. Mas você não será capaz de
descobrir os ingredientes deste.
Suspirei. — Eu estava com medo disso.
— Pare de tentar resolver tudo na sua cabeça e apenas deixe
acontecer.
Várias respirações profundas entraram e saíram do meu peito. —
Vou tentar.
— É melhor você me ligar assim que chegar em casa... mesmo que
não seja até a manhã seguinte.
Eu não pude deixar de rir da expressão dela. — Você sempre tem
que levar isso para o próximo nível, não é?
— É por isso que eu sou sua melhor amiga, vadia.
CAPÍTULO TRINTA E SETE

JARED

O restaurante francês que escolhi ficava a três quarteirões do


apartamento de Billie. Eu sabia que era um lugar que ela gostava, ela o
havia revisado há cerca de um ano e dado cinco noodles, que era sua
classificação mais alta e que ela não distribuía com frequência.
A mesa que eu tinha pedido estava no canto dos fundos e cheguei
cedo para chegar antes dela. Eu queria vê-la entrar e depois de alguns
minutos sentado lá, aconteceu. Segurei minhas mãos debaixo da mesa e
fiz tudo o que pude para manter meu corpo calmo enquanto a observava
se mover pela sala de jantar.
Billie Paige estava mais bonita cada vez que a via.
Esta noite, ela estava excepcional.
— Oi — ela disse enquanto se aproximava.
Fazia cerca de uma semana, mas havia uma diferença em seus
olhos. Uma pitada de leveza que estava lá antes do acidente, mas que eu
não tinha visto desde então.
Até agora.
— Boa tarde. — Eu me levantei e me inclinei para frente,
passando um braço em suas costas, puxando-a contra mim. A
proximidade me enviou o cheiro dela e fechei os olhos por um segundo
enquanto engolia o ar com cheiro de Billie. Então, senti o roçar de seu
cabelo no meu queixo e a forma como seus dedos se agarraram às
minhas costas e eu sabia que era hora de me afastar.
— Oi — ela respondeu e tirou a jaqueta, seus ombros nus por
baixo. A camisa que ela usava envolvia apenas em torno de seu torso e
cortava entre os seios.
Quando seu casaco estava pendurado nas costas da cadeira, meus
olhos voltaram para seu rosto.
Ela estava mais magra, mas a mudança foi sutil, me dizendo que
ela também estava ficando um pouco melhor.
Eu gostava dela mais curvilínea.
Mesmo que eu não devesse ter uma maldita preferência.
— Obrigada pelo convite. — Ela estava sentada, olhando ao redor
da sala. — Faz tempo que não venho aqui, mas é um dos favoritos.
O garçom estava agora à nossa mesa, mostrando-me a garrafa de
cabernet sauvignon que eu havia pedido antes de Billie chegar. Esperei
pela degustação, girando-o na boca e aprovando-o com um aceno de
cabeça. Ambos os nossos copos estavam cheios antes que estivéssemos
sozinhos novamente.
Eu segurei meu vinho no ar. — Para um jantar delicioso.
A maquiagem escura deixou seus olhos mais verdes, seu olhar
mais intenso. — Saúde.
Nossos copos tilintaram e eu tomei um gole, observando-a fazer o
mesmo enquanto abria meu cardápio. — O que é bom?
— O escargot deles é divino — disse ela. — Assim como o pato e
a codorna assada. Seria um desserviço se você saísse daqui sem provar
o croque monsieur deles.
— Vendido. — Fechei o grande livro encadernado em couro e
chamei o garçom. — Vamos começar com o escargot e croque monsieur.
Teremos então o pato e a codorna. — Olhei para Billie. — Devemos
acrescentar mais alguma coisa?
Ela entregou seu cardápio ao garçom e disse: — Não.
Agora que suas mãos estavam livres, Billie parecia não saber o que
fazer com elas.
Para distraí-la, inclinei-me para mais perto, segurando minha taça
de vinho. — A próxima escolha é sua. — Ela não disse nada, então
acrescentei: — Não precisa ser um restaurante. Podemos nos encontrar
em qualquer lugar. Eu só quero que seja um lugar onde você se sinta
mais confortável.
Ela tirou um pedaço de pão da cesta, quebrando a ponta e
colocando-o na boca. — Posso te perguntar uma coisa?
Eu balancei a cabeça.
A cor subiu em suas bochechas e ela parou por alguns segundos.
— Existe uma esposa que vai ficar realmente chateada com esses
encontros?
Eu não ri. Eu não queria envergonhá-la. Era uma pergunta justa e
eu poderia dizer que tinha sido difícil para ela trazê-la à tona. Só ficou
fofo como o inferno, vindo dela.
— Não há esposa, Billie.
— Já houve uma?
Enquanto torcia o caule quente em minha mão, observei o
redemoinho de vinho escuro. — Não.
— Crianças? — Meus olhos voltaram para ela e ela acrescentou:
— Eu vou parar de questionar você, eu prometo.
Eu podia entender como era mais fácil para ela falar sobre mim.
Simplesmente não era um assunto que íamos ficar por muito
tempo.
— Não.
Ela exalou e disse: — Tudo bem.
Enfiei a mão na cesta de pão, tirando uma pequena baguete. —
Conte-me sobre o primeiro restaurante que você foi paga para avaliar.
Ela se mexeu na cadeira e senti o cheiro dela novamente. Isso me
lembrou de quando eu inicialmente senti o cheiro dela no avião, como
havia uma doçura, um aroma de creme de manteiga nela. Seus olhos se
encontraram com os meus e eu apertei minhas mãos debaixo da mesa
porque...
Mesmo com sua dor, eu ainda podia ver seu fogo.
CAPÍTULO TRINTA E OITO

BILLIE

— Você não tem ideia de como foi horrível — eu disse a Jared,


contando a ele sobre o primeiro restaurante que eu tinha sido paga para
avaliar. — Lá estava eu, na cozinha, ao lado de um dos melhores chefs
de Miami. Eu estava tão nervosa que meu cotovelo bateu na alça de uma
frigideira e o óleo quente derramou no gás. — Eu ri - eu podia agora, mas
não quando aconteceu. — Eles pararam o fogo antes que toda a cozinha
pegasse fogo, mas o corpo de bombeiros ainda tinha que vir. É um dos
momentos mais embaraçosos da minha vida. — Meu rosto estava tão
quente e eu sabia que seu olhar tinha muito a ver com isso. — Quando
saí, prometi enviar uma caixa de vinho de sua região favorita. Comico
será dizer que o chef não pagou pela avaliação que lhe dei.
Jared sorriu.
Foi a primeira vez que o vi fazer isso e foi lindo.
— Que vinho ele escolheu?
Esperei até que meu riso se acalmasse um pouco para responder:
— Ele não escolheu. Ele me disse que a mesma coisa aconteceu com ele
logo depois da escola de culinária e disse que era um rito de passagem.
Agora, sempre que estou em Miami, paro para vê-lo. Eu me tornei uma
boa amiga dele e de seu marido.
— Bom final para isso.
Eu balancei a cabeça. — Sua vez. Me conte sua experiência mais
embaraçosa.
Ele se recostou na cadeira, cruzando os braços. — Não sei quais
são os mais embaraçosos, mas tenho alguns realmente memoráveis.
Mastigando um pedaço de pão, cobri a boca com as costas da mão.
— Qual é seu favorito?
Ele balançou a cabeça, suas bochechas ficando levemente
vermelhas. — Eu fiz o parto de um bebê.
— Você está brincando comigo.
A expressão que veio em seu rosto alcançou todo o meu peito e
apertou cada formigamento que já estava pulsando.
— Eu estava no avião particular de um cliente e sua esposa entrou
em trabalho de parto logo após a decolagem.
Terminando meu pedaço de pão, segurei meu vinho e disse: —
Conte-me tudo.
— Ela estava tão adiantada que não deveria voar, exceto que eu
não sabia disso. Então, não estávamos nem nas nuvens e a bolsa dela
estourou. — Sua mão foi para sua barba, seu sorriso não cessou nem um
pouco. — Enquanto o piloto estava tentando nos levar a uma altitude
onde pudesse dar a volta, o bebê começou a nascer.
— Havia um médico a bordo? — Quando ele riu, eu soube
imediatamente a resposta. — Então, você brincou de médico.
— Esse não é um título que eu quero de novo, mas sim, foi o que
aconteceu, e eu não tinha ideia do que estava fazendo.
Segurei o copo contra o meu peito depois de tomar um gole. —
Mas você descobriu?
Ele estava rindo novamente. — Havia um bebê em seus braços
quando pousamos.
— E você?
Ele suspirou. — Ainda tentando se recuperar.
— Oh meu Deus. — Eu estava rindo tanto, havia lágrimas em
meus olhos. — Eu posso imaginar.
Ele logo estava fazendo o mesmo som que eu e eu não conseguia
o suficiente do barulho.
Senti o mesmo em relação ao rosto dele. A parte superior de suas
bochechas, onde não havia bigodes, estava ainda mais corada do que
antes, seus olhos semicerrados, as linhas em sua testa mais profundas
do que o normal.
Eu gostava do Jared engraçado.
E ainda estávamos rindo quando a garçonete veio à nossa mesa
para deixar o escargot e o croque monsieur.
Ele mergulhou um pedaço de pão em uma das tigelas minúsculas,
colocando o caracol em cima dela. Eu o vi entrar em sua boca e imaginei
a manteiga e o alho, a textura grossa da carne.
— Bom?
— Delicioso. — Ele estendeu a mão novamente, desta vez com seu
garfo e faca, e começou a cortar o sanduíche frito. Quando estava em
várias fatias, ele pegou a ponta e arrancou a metade. — Uau.
— Eles fazem o melhor. — Peguei a outra ponta na mão e
mordisquei o canto. A manteiga foi o primeiro sabor que me atingiu, tão
rico que fez o pão áspero desmoronar na minha boca. O presunto doce
veio em seguida, em camadas com Gruyère8, e ambos eram a quantidade
certa de suavidade que toda a combinação precisava.
Ficou tão gostoso que eu provavelmente comeria o pedaço inteiro.
O pensamento disso me fez sorrir tanto. — Você escolheu o lugar
perfeito — eu disse suavemente.
— É bom ver você feliz, Billie. — Antes que eu pudesse processar
esse comentário, ele continuou: — Conte-me sobre a melhor refeição
que você já teve.
— Me perguntam isso o tempo todo e sempre digo que não
consigo escolher um. — Engoli o resto do sanduíche e limpei minha
boca. — Mas eu tenho um favorito. Só não vou compartilhar com o
público porque é um lugar tão especial que quero só para mim.
Ele olhou para cima de seu pedaço de pão, o chocolate de seus
olhos tão escuro quando ele olhou para mim através de seus cílios. —
Você tem que me dizer.
Sorri enquanto levantava minha taça de vinho. — Minha melhor
amiga e eu fomos para Veneza, na Itália, alguns anos atrás. Na noite em
que chegamos, perguntei ao porteiro onde ele levaria o avô para jantar.
Para o registro, faço a mesma pergunta em todos os hotéis em que fico e
em média, as recomendações geralmente são excelentes. O porteiro
pegou um pedaço de papel e me desenhou um mapa e aquele
restaurante acabou sendo a melhor refeição de toda a minha vida.
Ele tinha um pedaço de pão na boca quando disse: — O que você
comeu?
— Não sei. — Eu ri quando percebi o quão ridículo isso soou. —
Não havia cardápio. Não havia nem uma placa do lado de fora, apenas
uma velha porta rosa com um número nove dourado no centro. Havia
8
O Gruyère é um queijo duro suíço, originário da cidade de Gruyères
apenas algumas mesas e um garçom, o interior autêntico em todos os
sentidos. O garçom perguntou qual a cor do vinho que queríamos e a
comida começou a chegar. — Tomei um gole do meu copo, saboreando
o peso antes de engolir. — Foi prato após prato – risotos, massas e
carnes. Eles eram honestamente indescritíveis, e isso vem de uma garota
que descreve detalhes para ganhar a vida.
— Eu preciso ir novamente.
Peguei minha bolsa e retirei meu telefone, percorrendo minhas
fotos até encontrar a que estava procurando. — Esse é o mapa. —
Entreguei-lhe meu celular e o observei olhar para a tela, suas grandes
mãos fazendo com que parecesse tão pequeno. Ele apertou alguns
botões, e eu tive a sensação de que ele estava mandando uma mensagem
para si mesmo com a foto. — Espero que um dia você experimente a
magia daquele restaurante.
— Você está me fazendo querer pegar um avião agora.
Eu ri, e desta vez não foi como nenhuma das outras. — Admiro sua
capacidade de seguir em frente e como você não deixa o medo te parar.
— Eu não queria que nossa conversa voltasse ao acidente ou a qualquer
uma das memórias que o cercavam, então mudei completamente de
assunto. — Onde você estudou, Jared?
— Universidade de Oregon.
Eu esperava uma escola com um excelente time de futebol com
base em como ele começou sua empresa. Eu só não tinha considerado
ele em uma faculdade que era tão longe. — Como você veio parar em
Nova York?
— Passei muito tempo aqui ao longo dos anos e conhecia bem a
cidade. Quando decidi sair da estrada e estacionar, parecia o lugar certo
para fazê-lo.
— Sem arrependimentos?
Ele suspirou, e eu não tinha certeza do que o som significava. —
Sobre Nova York? Não.
— Bem, então, e a vida?
Suas mãos estavam livres, e ele as rodeou ao redor de seu vinho.
— Estaria mentindo se dissesse não.
— Eu também, mas você quer ouvir algo aterrorizante? —
Quando ele assentiu, eu respirei fundo. — Tenho que acreditar que
entrar no avião não foi um deles.
***
Depois que a garçonete tirou todos os nossos pratos, ela voltou
para a nossa mesa e disse: — Sobremesa?
Eu segurei minha barriga e balancei minha cabeça. — Eu não
posso, mas o jantar foi tão incrível quanto eu me lembrava.
— Obrigada. — Ela olhou para Jared, que fez o mesmo gesto, e
então ela se foi.
Meus olhos voltaram para os dele e perguntei: — Você viaja
amanhã?
— Estou em casa por algumas semanas.
— Isso é incomum?
Ele deu de ombros, nunca tirando os olhos de mim. — Depende.
Mas quando voo, tento fazer várias paradas de uma vez para me dar
mais tempo em casa.
— Eu faço o mesmo. — Percebi a facilidade com que eu havia
respondido, mas como não se aplicava mais, me dando a necessidade de
esclarecer: — Fiz, quero dizer.
A garçonete estava de volta e colocou a conta na mesa, que Jared
pegou. Depois de enfiar o cartão de crédito na carteira de couro, ele a
entregou.
— Você vai novamente.
— Você sempre diz isso.
Suas sobrancelhas se juntaram. — Porque eu quero dizer isso.
A seriedade em seus olhos voltou, seu tom tão forte.
Ele queria que eu acreditasse nele.
Eu não queria mais nada.
— Obrigada pelo jantar. Você não precisava me trazer, mas eu
aprecio isso.
A garçonete deu-lhe o recibo e ele olhou para cima depois de
assinar seu nome.
— O prazer foi meu.
Tudo já estava tão quente. Quando ele sorriu, de repente ficou
quente.
— Pronta?
Eu balancei a cabeça e me levantei da minha cadeira. Sua mão mal
tocou minhas costas enquanto ele me escoltou pela sala de jantar e pela
frente.
— Onde você mora? — ele perguntou quando chegamos à
calçada.
Apontei para a minha direita. — Três quarteirões por aqui.
— Eu vou acompanhá-la.
Estava frio e eu apertei meu casaco mais apertado. — Você não
tem que fazer isso. Eu vou ficar bem…
— Billie…
Foi a maneira como ele disse meu nome. Tão protetor, dominante,
como se eu fosse tola até mesmo em questioná-lo neste momento.
Virei-me na mesma direção que ele e começamos a andar.
Depois de alguns passos, quebrei o silêncio. — Eu tenho que dizer,
é muito bom que você seja um foodie9, e é algo que você gosta de falar.
Seus olhos vieram para os meus e então eles estavam focados na
calçada.
— Obviamente, posso discutir isso sem parar. Eu apenas aprecio
alguém que não se cansa disso.
— Quanto mais velho fico, mais gosto de comer de verdade.
— Qual é a sua idade?
Eu cavei um pouco durante o jantar. Não havia razão para parar
agora.
— Quarenta e sete, o que é muito mais velho que você.
Foi uma resposta interessante.
Um que eu pensei e segurei enquanto me movia na outra direção
para evitar mais pessoas. Jared andou comigo, sua mão ainda é um
sussurro nas minhas costas.
Em vez de abordá-lo, apontei para o edifício à frente. — Esta sou
eu.
Ele não seguiu meu dedo, sua atenção permaneceu no meu rosto.
E ele me olhou com um olhar tão profundo e intenso que eu não
9
O termo “foodie“, que descreve aficionados de comida que não escolhem o restaurante pelo preço. A
expressão deriva da palavra em inglês Food que em português significa comida. Para os foodies, comer é
acima de tudo uma paixão. Um prazer a ser dividido com os outros, algo recheado de sensações,
sabores, cores e aromas.
conseguia sentir o chão embaixo de mim. Antes de cair, voltei meu foco
para a calçada até que estávamos a poucos metros da minha entrada.
Com minha barriga em uma mistura de nós e vibrando, eu parei.
Jared estava a apenas um braço de distância.
— Obrigada por me trazer para casa. — Meus dedos se
esfregaram, tentando mover um pouco dessa energia nervosa. — E por
tudo.
— Diga-me que você está pronta.
Esperei para ver se ele ia dizer mais. — Pronta... — E então veio a
mim, minhas mãos agora apertadas. — Não, eu não estou pronta.
— Então, parece que teremos que nos encontrar novamente.
Ele não iria parar até que eu dissesse sim.
Eu não sabia se isso o tornava o homem mais maravilhoso ou o
mais assustador. Eu só sabia que ele estava me pedindo para enfrentar
meu medo, e eu não conseguia lidar com isso ainda.
— Como está quinta-feira? — ele perguntou. — Lembre-se, a
escolha é sua.
Isso é daqui a cinco dias.
Eu não tive que olhar. — Vou pensar em algo e te mando uma
mensagem.
Cada farol que passava piscava em seu rosto. Eu não precisava do
lembrete. Eu sabia o quão bonito ele era. Que era maduro e protetor, em
uma idade que eu achava tão atraente, mesmo que ele fosse dezessete
anos mais velho que eu.
— Boa noite, Billie.
— Boa noite — eu disse, estendi a mão e envolvi meus braços ao
redor de seu pescoço.
Suas mãos pressionaram mais forte contra minha parte inferior
das costas e eu aumentei meu aperto. Mesmo que eu não fosse pequena,
eu me sentia assim contra ele. Assim que eu estava me acostumando
com a sensação de seu corpo, encontrando em uma baía onde eu me
encaixava perfeitamente, ele se afastou.
Quando ele fez, minhas mãos caíram em seu peito e ele parou,
então elas ficaram lá.
Ele olhou para elas e depois de volta para o meu rosto. — Billie…
Sua voz era tão baixa que me fez observar sua boca. Eu já sabia.
Cada mergulho. Eu podia até adivinhar como era. Mas eu ainda olhava.
E quando eu soube que ele tinha que estar em mim, meu olhar se
elevou para os olhos dele e eu disse: — Você pode me beijar, Jared. —
Meu peito estava batendo tão forte que fiquei surpresa por poder dizer
qualquer palavra.
Sua expiração foi profunda, quase selvagem. — Billie... — ele
repetiu, mas desta vez com mais força. — Escute-me.
Eu não sabia que suas mãos ainda estavam em mim, mas eu as
senti nas minhas costas.
— Eu quero ajudá-la a passar por isso e colocar minha boca em
cima de você… — seus olhos caíram, assim como meu estômago — só
vai complicar as coisas e tornar tudo bagunçado como o inferno entre
nós. — Seus dedos subiram, indo para o meu queixo, segurando-o firme.
— Vamos trabalhar para trazer a velha Billie de volta.
Ele só queria me fazer sentir melhor.
E por causa disso, eu não tinha palavras.
Tudo que eu tinha eram emoções – no meu peito, na minha
garganta, no meu coração. Elas estavam girando entre cada lugar,
atirando para frente e para trás. Um círculo que estava se movendo tão
rápido que eu não conseguia segurar.
— Me mande uma mensagem quando você decidir sobre a
próxima semana.
— Ok — eu respondi antes de acrescentar — Boa noite — e então
dei um passo para trás, minhas mãos caindo de seu peito, seus dedos
caindo do meu queixo.
Caminhei em direção à porta. Coloquei meu chaveiro na frente do
leitor e entrei no saguão. Eu não olhei para trás através da entrada de
vidro antes de entrar no elevador.
Eu também não respirei.
Eu não podia.
Porque até eu chegar no elevador, eu ainda podia sentir seus olhos
em mim e meu corpo estava gritando mais alto do que eu já tinha ouvido.
CAPÍTULO TRINTA E NOVE

JARED

Fiquei do lado de fora do prédio de Billie, observando-a atravessar


o saguão e desaparecer no elevador. Deste ângulo, eu não podia ver a
porta se fechar, mas tinha certeza de que ela estava segura.
Normalmente, eu a teria levado até lá para garantir isso, mas não
confiava em mim mesmo para chegar mais perto.
Não quando tinha feito tudo em meu maldito poder para me
impedir de beijá-la.
Billie Paige era exatamente o que eu queria em uma mulher –
inteligente, independente e linda.
Ela simplesmente não era uma mulher com quem eu poderia
estar.
E eu não levei isso de ânimo leve.
Meu propósito era ajudá-la a chegar ao outro lado disso, ser a
razão pela qual ela foi curada. Eu não estava aqui para fodê-la e fazê-la
se sentir pior.
Ainda assim, eu precisava me lembrar disso porque era tão fácil
me perder quando estava com ela.
Quanto melhor eu fizesse, mais cedo isso aconteceria.
E então eu teria ido.
Isso era o que eu dizia a mim mesmo depois de cada mensagem
que eu mandava para ela. Este foi apenas um arranjo temporário e isso
foi o melhor para todos nós.
Isso não significa que ela saiu da minha mente. Que quando eu
olhei para o saguão, eu não me vi carregando-a através dele, suas pernas
enroladas em minha cintura, minha boca na dela, trazendo-a para um
quarto onde eu poderia deixá-la nua.
Porra, eu queria isso mais do que tudo.
Eu simplesmente não podia tê-la.
Eu balancei minha cabeça, passando minha mão sobre minha
barba, e dei um passo para trás e depois outro, finalmente me virando
para ir para casa.
CAPÍTULO QUARENTA

HONEY
INVERNO DE 1985

Uma vez que Honey e Andrew tiveram a discussão sobre ter filhos,
Honey imediatamente parou de tomar seu anticoncepcional. E todas as
chances que podiam, eles estavam tentando engravidar. Era como se
essa decisão os tivesse sintonizado nos corpos um do outro de uma
maneira que não tinham sido antes.
Eles simplesmente não se cansavam um do outro.
Honey encontraria Andrew no hospital durante a hora do almoço
para fazer amor. Eles acordaram um ao outro no meio da noite e fizeram
isso de novo no chuveiro na manhã seguinte. Mesmo que houvesse uma
pequena janela a cada mês onde ela poderia engravidar, ela não estava
focada nisso. Ela estava gostando do marido, da intimidade, da conexão
que eles estavam construindo.
Mas ainda assim, todo mês, quando era hora de Honey menstruar,
ela esperava que não viesse.
E todo mês isso acontecia.
Após seis meses de tentativas, Honey começou a entrar em pânico.
Ela não tinha nem vinte e cinco anos de idade, estava sem controle
de natalidade por um período de tempo aceitável, ela e seu marido eram
saudáveis.
Então, ela não entendia por que ainda não estava grávida.
Andrew nunca falou sobre isso.
Então, novamente, ele não precisava. Honey deixava a pequena
caixa de absorventes na parte de trás do vaso sanitário assim que
começava. Quando a caixa voltou para debaixo da pia, foi a maneira de
Honey lhe dizer que poderiam tentar novamente.
Mas com o passar dos meses, Honey não parava no hospital
durante a hora do almoço e eles não estavam fazendo amor todas as
manhãs e novamente antes de dormir. Quando chegaram ao final do
nono mês, Honey sabia que precisava conversar com Andrew. Desde que
começaram a tentar, cada um deles comprou coisas para o bebê.
Agora, um berçário inteiro estava cheio.
Exceto... ainda não havia bebê.
E toda vez que Honey passava por ele, ela sentia como se seu corpo
estivesse falhando.
Em uma noite em que ela sabia que ele estava de folga, ela foi ao
restaurante favorito deles e pegou comida para viagem. Ao chegar em
casa, colocou-o em dois pratos e abriu uma garrafa de vinho. Sentaram-
se frente a frente na mesa da cozinha.
Honey esfaqueou a ponta de sua lasanha com o garfo. — Eu me
sinto completamente derrotada.
Andrew largou o dele e olhou para ela. — Por que?
Honey engoliu, sentindo o vinho queimar o fundo de sua garganta.
— Porque eu não posso te dar um bebê. — Seus olhos se encheram de
lágrimas, e ela estava se esforçando tanto para pegá-las antes que
caíssem.
Seus olhos suavizaram. — Ei, isso não é verdade e não há razão
para você ficar chateada com isso. A maioria das mulheres não
engravida por um ano e ainda estamos a meses disso.
Honey ouvia o marido. Como médico, ele saberia melhor do que
ninguém. Mas ainda assim, ela não conseguia entender por que as
mulheres em sua vida tinham engravidado muito mais rápido. A própria
mãe de Honey mal teve que tentar com ela. Várias de suas amigas
levaram apenas alguns meses.
— Você está certo — disse ela, convencendo-se de que não iria
insistir nisso. — Vai levar tempo e eu estou bem com isso. — Sua
garganta se acalmou e suas lágrimas começaram a recuar.
— Venha aqui, querida.
Ela respirou fundo, limpando o último pedaço de emoção de sua
voz, então ela se levantou e foi até o lado dele da mesa, sentando-se em
seu colo.
Ele pressionou os lábios contra a ponta de seu nariz e então sua
testa, beijando ambos tão gentilmente. — Eu não quero que você se
preocupe ou se estresse. Vai acontecer, eu prometo.
Seus braços rodearam o pescoço dele e ela sussurrou — Eu te amo
— em seu ouvido.
— Você nunca precisa se preocupar. É por isso que estou aqui.
Honey acreditou nele.
E ela o apertou de volta com tanta força para deixá-lo saber.
CAPÍTULO QUARENTA E UM

BILLIE

Jared chegaria em minha casa em trinta minutos e eu não estava


nem perto de estar pronta. Minha cozinha estava um desastre, eu ainda
estava vestindo calças de ioga e estava realmente começando a
questionar por que me ofereci para cozinhar para ele.
Quando entrei em contato com ele alguns dias atrás, tive esse forte
desejo de entrar na cozinha e fazer alguns pratos que eu pudesse
fotografar. Na verdade, eu não tinha considerado a logística de tê-lo em
meu apartamento e colocar meu cérebro em um espaço onde iríamos
comer juntos novamente – comida que eu faria, em um lugar
extremamente pessoal.
Eu tinha pensado sobre o menu durante todo o dia de ontem,
quebrando a cabeça para um prato que seria uma boa opção para nós. O
que eu decidi foi algo que eu tinha feito muitas vezes antes, uma refeição
que eu nem precisava de uma receita. Esta manhã, fui ao mercado e
comprei os ingredientes. Assim que voltei para casa, levei meu tempo
preparando tudo. Eu não me apressei no almoço. Mesmo esta tarde, eu
não estava com pressa. Eu sabia o que precisava ser feito para concluir
tudo e pensei que teria tempo de sobra para me preparar, para não ter
que me estressar antes que ele chegasse.
Exceto que era tudo o que eu estava fazendo e a contagem
regressiva havia começado.
Deixei tudo no forno e corri para o meu quarto, colocando um par
de jeans skinny e uma camiseta casual que amarrei na cintura. No meu
banheiro, prendi meu cabelo em um coque bagunçado, passei um pouco
de gloss nos lábios e me borrifei com um spray corporal antes de voltar
para a cozinha.
Eu estava terminando de lavar a louça quando ouvi o porteiro
chamar do tablet. Fui até a parte de trás da cozinha e apertei o botão
para nos conectar.
— Olá? — Eu disse no alto-falante.
— Sr. Morgan está aqui para você, Srta. Paige.
— Por favor, mande-o subir. Obrigada.
Minha barriga ficou tensa imediatamente, sentindo-me pesada e
ansiosa, meu coração acelerado enquanto eu caminhava até a porta. Era
um corredor curto. Assim que ele saísse do elevador, ele não teria que
andar muito, então eu estava lá alguns segundos depois que ele bateu.
— Ei — ele disse quando eu abri a porta.
Mesmo que este fosse o lado sério de Jared que olhava para mim,
eu lembrei instantaneamente por que eu queria tanto beijá-lo na outra
noite.
— Oi. Entre. — Eu recuei vários metros e me virei, andando mais
fundo no meu apartamento.
— Cheira muito bem aqui — disse ele enquanto eu fazia meu
caminho para a cozinha. Eu estava de pé na pia quando ele finalmente
entrou. — Lugar legal.
— É o que você imaginou? — Eu não sabia por que eu tinha
perguntado, mas por algum motivo, eu queria a resposta.
Ele se sentou em uma das banquetas e disse: — Sim.
Deslizei-lhe uma taça de vinho, decidindo que gostava do jeito que
ele ficava no meu espaço. — Por que? Eu tenho que ouvir isso.
Ele tomou um gole do copo, seus olhos nunca deixando os meus.
— Eu imaginei suave e discreto, mas brilhante e alegre ao mesmo tempo,
como sua personalidade.
— Obrigada… Eu acho. — Eu ri e fui até o balcão lateral.
Levantando a tábua de frios que havia feito, coloquei-a não muito
longe de onde ele estava sentado. Desde que eu combinei tudo com o
vinho e o jantar, concentrei-me em queijos mais leves e nozes. Frutas
secas e biscoitos com sabor de ervas. Eu tinha jogado vários chocolates
só para adoçar os cantos.
— Você vai me dizer o que você fez? — Ele colocou várias
cranberries na boca, seguidas por um pouco de brie10.

10
Os chamados brie são uma importante família de queijos de pasta mole e crosta branca, originários da
região de Brie, na França.
Agora que tudo estava finalmente em seu lugar, eu estava do outro
lado do balcão e balancei a cabeça. — Eu gostaria de mantê-lo em
suspense.
Mas como eu realmente precisava verificar a carne, deslizei minha
mão em uma luva e levantei a parte superior do forno holandês.
Verifiquei a cor e a quantidade de suco na panela e depois furei com um
garfo para ter certeza de que era a textura que eu queria. Satisfeita com
o que vi, coloquei a tampa de volta.
Quando voltei ao lugar em que estava antes, havia um presente
embrulhado no balcão.
— Abra — disse ele.
Olhei para a caixa retangular, metade do tamanho de um livro e
então meu olhar se moveu para ele. — Você não precisava me dar nada.
Ele acenou com a cabeça em direção ao presente e eu o peguei,
desembrulhando o papel pardo e o laço de barbante. Foi quando senti o
cheiro do que estava dentro.
— Você não... — Eu gemi quando levantei as pequenas abas do
topo, revelando as black truffles11 mais perfeitas que eu já tinha visto na
minha vida. — Você fez.
— Eles são direto da Itália.
— Oh, Jared... — Eu os trouxe até o meu nariz, inalando tão
suavemente, como se eu estivesse com medo que elas fossem
desaparecer. — Obrigada. — Ele assentiu e eu perguntei: — Onde você
encontrou isso?
Ele me deu o menor sorriso e era tão bonito. — Eu posso pegá-las
quando você quiser. Só preciso de alguns dias de antecedência.
Coloquei-os cuidadosamente no chão e fui até a cesta de pão.
Desde a nossa refeição francesa, eu comia baguetes, então foi isso que
eu peguei, cortei e pintei com uma camada de azeite extra-virgem.
Então, peguei uma das trufas, lavei na pia e ralei no pão. Eu guardei uma
peça para mim e entreguei a Jared a outra.
Eu o observei levar a baguete aos lábios, dando uma grande
mordida no canto.
— Excelente.

11
Uma trufa é o corpo frutífero de um fungo subterrâneo, predominantemente uma das muitas
espécies do gênero Tuber. Além do tubérculo, muitos outros gêneros de fungos são classificados como
trufas.
Fiz o mesmo, o sabor do fungo dominando completamente minha
língua. Não havia dúvida de quão incrível era. black truffles sempre
seriam uma iguaria na minha opinião. Mas algo ainda estava errado e
simplesmente não tinha o gosto de antes.
Eu realmente acreditei que voltaria.
Eu só não estava lá ainda.
— Deliciosa — eu finalmente respondi e coloquei o pão na mesa.
Ele esperou alguns segundos antes de dizer: — Mas...
Ele me leu. Foi tão fácil para ele. Eu só tinha dado uma mordida, e
ele sabia que havia algo errado.
Era aterrorizante pensar no que mais ele era capaz de sentir de
mim.
— Você tem que entender alguma coisa, comida sempre foi minha
coisa. Minha família cozinha e come, é tudo o que sabemos.
— E a comida não está te dando o amor que você precisa.
A emoção estava na minha garganta. Eu não deixaria ir mais longe,
mas queimou como o inferno. — Você está certo sobre isso.
Lágrimas ameaçavam se formar, meus lábios à beira de tremer. Eu
não poderia ceder a isso também. Não importava o quão fodida minha
vida estivesse agora. Eu não ia deixar isso me possuir esta noite.
— Eu entendo, Billie. Confie em mim.
Como se fosse uma deixa, o cronômetro disparou, me assustando.
Pisquei com força, recuando para pegar as luvas de forno. Uma vez
que minhas mãos estavam neles, eu tirei o forno holandês, colocando o
prato pesado no balcão. Precisava esfriar um pouco antes de cortar a
carne, então a mantive lá.
Para facilitar as coisas, cozinhei a maior parte da refeição no forno
holandês, então não precisei preparar muitos acompanhamentos extras.
Eu levava o pão para a mesa. A única coisa que restava fazer era cortar
e empratar, adicionando mais alguns acompanhamentos que estavam
na geladeira.
Voltei para onde Jared estava sentado e segurei a beirada do
balcão.
Havia um calor na boca do meu estômago e eu não sabia como
fazê-lo ir embora. Eu só sabia que queria ser a única a fazer as perguntas,
então eu disse: — Se a comida é o meu problema, onde estou mais
lutando, qual é o seu?
Ele olhou para o vinho, torcendo o caule entre os dedos. Ele
manteve os olhos lá, eventualmente movendo-os para mim.
Quando eles se fecharam com o meu, meu aperto no granito frio
ficou mais forte.
Quando ele abriu a boca — Você — saiu.
CAPÍTULO QUARENTA E DOIS

JARED

— O que isso significa? — Billie perguntou depois que eu disse a


ela que ela era minha luta.
A última vez que fiquei do lado de fora deste prédio, deixei claro
que não poderia beijá-la. Mas quando ela abriu a porta alguns momentos
atrás, nossa química era ainda mais forte. Seu rosto me disse que eu não
era o único que sentia isso. E então ela virou as costas, indo para a
cozinha, seu jeans apertado e camiseta curta me dando uma visão
perfeita de sua bunda.
Precisava parar. A química, as provocações — tudo isso. Eu tinha
que deixar minhas intenções claras e lembrá-la novamente de por que
eu estava aqui antes que isso fosse longe demais e eu não poderia nos
puxar de volta. Porque se realmente fôssemos lá, tudo que eu faria seria
machucá-la e ela não aguentaria mais dor.
Isso só significava que as coisas tinham que parar agora.
— Eu quero que você pegue um avião e volte para sua antiga vida,
Billie. É com isso que eu luto.
Eu poderia dizer que seus pensamentos estavam em outro lugar.
A percepção apareceu em seus olhos, duas belas janelas verdes que não
podiam mentir para mim.
— Você está pronta para isso? — Eu perguntei. — Jantar em
Martha's Vineyard? — Levantei-me da banqueta e fui até o balcão,
enchendo meu copo de vinho.
Enquanto eu estava servindo um pouco em seu copo, ouvi: — Não.
Eu coloquei a garrafa para baixo, empurrando minha bunda
contra a pedra dura enquanto eu a encarava. — Vou continuar
perguntando.
— Eu sei. — Sua voz ficou tão suave.
Quase tive a impressão de que ela estava andando até o pote de
cerâmica só para se distrair. Ela então tirou a tampa e pegou dois garfos.
Senti o cheiro do assado quando entrei e novamente quando ela
verificou a carne. Eu apenas pensei que meu nariz tinha me enganado.
Eu esperava uma refeição mais difícil, desafiando meu conhecimento de
sabor, não um jantar tradicional como ela havia escolhido.
Eu deveria saber melhor.
— Esse é um dos meus pratos favoritos — eu disse quando ela
começou a separar a carne.
Ela olhou para mim. — Meu também. — Quando ela terminou, ela
espetou uma pequena batata vermelha da mesma panela e deu alguns
passos para entregá-la para mim.
A pele estalou quando eu a mordi. — Droga, você sabe cozinhar.
Devolvi o garfo e ela fez o mesmo com um pedaço de carne.
— Agora, tente isso.
Enquanto eu cercava a carne com minha boca, meus olhos se
encontraram com os dela. — Jesus — eu gemi. O assado era suculento,
macio e rico em sabor. — Isso é inacreditável.
— Venha aqui. — Ela acenou para mim. — Vou fazer uma tigela
para você. É assim que eu gosto de comer o meu.
Ela tirou uma tigela de um armário e acrescentou um pouco de
carne, batatas e legumes antes de cobrir tudo com caldo.
Estendi a mão para pegá-la, seu olhar encontrando o meu ao
mesmo tempo em que minha mão tocou a tigela. O olhar voltou aos olhos
dela – o da outra noite que quase me fez beijá-la. O mesmo que forçou
uma guerra na minha cabeça para ter certeza de que eu não o faria.
E agora, eu estava aqui novamente.
— Billie... — Havia uma necessidade martelando em meu corpo,
endurecendo com o quanto eu queria estar dentro dela. E então havia o
lado lógico, a parte do meu cérebro que ficava me lembrando por que
isso era uma má ideia. O suficiente para que eu tivesse que dizer a ela
novamente: — Nós não podemos fazer isso. Não vai ajudar nenhum de
nós.
Ela olhou brevemente para baixo, sua língua passando pelo lábio
inferior. Estava molhado e brilhante, uma combinação que era
extremamente sexy para ela. Lentamente, aquele olhar penetrante
voltou para mim. — Então, por que você está me olhando desse jeito?
CAPÍTULO QUARENTA E TRÊS

HONEY
PRIMAVERA DE 1986

— Feliz aniversário de um ano, querida — Andrew disse no


ouvido de Honey.
Ela se inclinou para o lado dele, com a cabeça apoiada em seu
ombro, observando o pôr do sol na praia de Aruba. — Feliz Aniversário.
— Ela levou a taça de champanhe aos lábios e engoliu quando o sol
mergulhou no horizonte, adicionando mais cores ao céu já
deslumbrante.
Honey não podia acreditar, exatamente um ano atrás, que ela se
casou com Andrew em frente ao lindo farol. De certa forma, parecia que
o ano havia passado, muitas coisas em sua vida mudando durante esse
período. O apartamento deles agora estava totalmente decorado, ela
havia recebido uma promoção no DMV, Valentine tinha namorado e os
quatro tinham saído em vários encontros duplos. Mas de muitas
maneiras, o ano se arrastou, lembrando-a de quantas vezes ela ficou
menstruada, como ela teria que esperar mais um mês para ver se seus
esforços funcionaram.
A cada mês, os momentos ficavam mais sombrios.
Ninguém em sua vida parecia entender, então ela não falou com
ninguém sobre isso. A cada dia que passava, ela se tornava mais dura
consigo mesma. Ela era casada com o homem mais maravilhoso, eles
tinham uma casa linda e ela adorava seu trabalho. Tudo isso deveria ser
suficiente. E foi por um curto período e então o desejo de ser mãe veio
como uma vingança.
— Eu tenho uma coisa para você — disse Andrew, beijando o topo
de sua cabeça.
Ela se afastou de seu ombro e olhou para o marido. Eles já haviam
trocado presentes em Portland na semana passada e esta viagem tinha
sido o segundo presente de Andrew para ela. A caixa que ele acabara de
tirar do bolso era a terceira.
— Abra.
Ela balançou a cabeça, absorvendo o olhar do marido. — Andrew,
você faz muito por mim.
— Isto me faz feliz. — Ele acenou com a cabeça em direção à
palma da mão onde a caixa ainda estava, encorajando-a a tirá-la dele.
Ela finalmente o fez, removendo o papel dourado e levantando a
pequena tampa. Ao ver o que havia dentro, seus olhos se encheram de
lágrimas, seus lábios tremeram suavemente. — Eles são tão
incrivelmente lindos. — No fundo da caixa havia um par de brincos de
diamante, redondos, um tamanho maior do que os falsos que ela usava.
— Estou tão apaixonada por eles.
— Seu pulso é o próximo. — Ele levantou a mão dela, beijando o
centro dela, girando-a para acariciar o outro lado. — Talvez outro colar
depois disso.
Os olhos dela voltaram para os dele.
— Eu vou te dar tudo o que você sempre quis. — Sua mão se
moveu para sua bochecha, o polegar roçando para frente e para trás. —
E eu vou te dar um bebê.
Honey olhou para ele, o céu rosa escuro criando o brilho mais
quente sobre sua pele. As lágrimas que estavam em seus olhos
começaram a escorrer. Ele sabia. Ele sempre o fez, mas a atingiu mais
forte esta noite.
— Eu acredito em você — ela sussurrou.
Ele a beijou antes de se afastar. — Então, pare de pensar nisso e
confie em mim.
CAPÍTULO QUARENTA E QUATRO

JARED

Por que estou olhando para ela desse jeito?


Porque havia uma batalha acontecendo dentro da minha cabeça
novamente e eu estava fazendo tudo o que podia para não deixar cair
esta tigela e puxá-la em meus braços.
Eu não poderia fazer isso. Eu não podia ceder à tentação.
Eu não poderia ser o único a cruzar a maldita linha, mesmo que ao
lado dela fosse onde eu queria estar.
— Jared... — Ela estava me lembrando que tinha me feito uma
pergunta.
Quando eu não disse nada, ela soltou a tigela e eu imediatamente
a coloquei no balcão, meu olhar seguindo-a.
— Obrigada — ela disse suavemente, movendo-se até a panela
para fazer uma tigela para si mesma.
— Por que?
— Dando-me uma pausa de seus olhos. — Ela pegou algo da
gaveta.
— O que isso significa?
Ela se virou para mim, congelando quando nossos olhares se
conectaram, sua mão não se erguendo para me dar o utensílio. — Você
estava olhando para mim como se estivesse prestes a me devorar... do
mesmo jeito que você está olhando para mim agora.
Eu estava louco para ter esses pensamentos. Até mesmo
considerar as coisas que estavam se formando na minha cabeça.
Ela era muito jovem.
A situação não estava certa.
Nunca seria.
Mas havia algo mais pesado em minha mente. Algo que superava
tudo e essa era a minha necessidade de tê-la.
Eu sabia que quando eu falei — Venha aqui — eu estava
cometendo o maior erro.
Mas naquele momento, eu não me importei.
Um sorriso surgiu em seus lábios, alcançando todo o caminho até
seus olhos. Eu precisava provar.
— Depressa, Billie.
Ela colocou sua tigela para baixo e fechou o espaço entre nós.
Mas agora que eu a tinha bem na minha frente, minhas mãos
permaneciam ao meu lado e eu ainda estava lutando para tocá-la.
Billie Paige foi mais do que uma luta, ela era uma guerra do
caralho. E a cada segundo, eu negociava comigo mesmo, negociando o
que ganharia e perderia quando minhas mãos estivessem sobre ela.
Eu não podia esperar. Eu tinha que saber. Estendi a mão e as
pontas dos meus dedos roçaram sua cintura.
— Maldição — eu assobiei quando senti a sugestão de uma curva.
— Billie... — Meu tom era um aviso. Um último esforço, colocando a
responsabilidade sobre ela porque eu não era forte o suficiente para ir
embora. Agora não. — Diga-me para parar. — Eu a agarrei mais forte,
sua pele queimando enquanto minha mão subia mais alto. — Diga-me
que estou velho demais para você.
— Não pare — ela gemeu. Seus dentes morderam o lábio inferior
antes que ela respirasse — E você não é muito velho para mim. — Sua
mão foi para o minha barriga, palma plana, correndo lentamente pelo
meu abdômen.
— Diga-me para não ir mais longe. — Desta vez, eu não estava
mais alto do que um sussurro. — Diga-me para tirar as minhas mãos de
você.
Ela apertou os dedos ao redor dos meus, segurando-os contra ela
como se precisasse deles para ficar de pé.
— Billie, por favor, me diga para...
— Eu quero você, Jared.
Eu cerrei meus dentes enquanto repetia o som dela dizendo as
palavras mais quentes que eu já tinha ouvido. Cada eco me fez apertá-la
com mais força até que eu me vi agarrando sua camiseta fina, o tecido
ameaçando rasgar dela.
Eu queria que ela dissesse isso de novo. Eu queria que ela me
dissesse para parar.
Mas eu a queria mais.
Minha outra mão estava agora logo abaixo de suas costelas e com
cada golpe do meu polegar, suas costas arquearam.
Eu observei seu movimento, ela se curvando em mim, como se ela
estivesse me dando uma dança. — Você se sente tão bem.
Meus olhos demoraram para devorá-la, apreciando as curvas de
seu corpo como se ela fosse minha. Ela respondeu após cada centímetro
com uma rápida entrada de ar ou uma mudança de posição até que não
houvesse nada nos separando.
Eu ainda estava lutando. Ainda esperando encontrar forças para
recuar.
Era impossível.
Especialmente quando não havia nada que eu quisesse mais do
que prová-la.
Estendi a mão até que meus dedos estavam em seu rosto e a
segurei firme enquanto me aproximava, meus lábios eventualmente
pairando sobre os dela. Olhei para sua boca e depois de volta para seus
olhos. Foi a luta final ,- uma que só me provocou, e então eu lentamente
trouxe sua boca para a minha.
No segundo em que nos beijamos, todos os medos que eu tinha
foram confirmados.
Isso foi um erro.
Um que eu não poderia deixar de acontecer.
Mas um que me senti melhor do que qualquer coisa que eu já
experimentei na minha vida.
— Billie — eu sussurrei quando finalmente respirei, querendo
sentir o nome dela vibrar na minha língua. — Eu preciso de você mais
perto. — Meus dedos desceram para sua bunda e eu a levantei sobre o
balcão, espalhando suas pernas sobre a superfície dura para que eu
pudesse me mover entre elas.
Ela agarrou meus ombros, procurando meus olhos. — De onde
você veio, Jared? — Ela fez uma pausa e eu poderia dizer que ela não
tinha terminado. — Você estava sentado ao meu lado no avião. Apenas
um estranho que me salvou. E agora, você está aqui na minha casa... e eu
não quero que você vá embora.
Minhas mãos estavam em suas coxas, correndo para a quebra de
seus quadris e de volta para os joelhos.
Eu não queria ouvir isso.
Agora não.
Não quando eu sabia o quão errado isso era.
— Billie…
Ela parou de pentear os cabelos da minha barba. — Sim?
— Me beija.
Ela se inclinou para frente, envolvendo as pernas em volta da
minha cintura, apertando nossos corpos juntos. Seus lábios
gradualmente pressionaram contra os meus e eu dei a ela minha língua,
deslizando-a lentamente para dentro e para fora.
Enquanto ela segurava meu rosto, explorei o resto de seu corpo. E
eu fiz isso muito devagar, saboreando cada ponto que examinei.
Começando em seus quadris, subi por seus lados até a parte inferior de
suas costelas. Cada roçar de meus polegares a fazia respirar em minha
boca e continuei mais alto até alcançar seus mamilos.
— Jared — ela sussurrou, sua cabeça inclinada para trás. — Meu
Deus.
Meus lábios foram para seu pescoço, dedos apertando as pontas
duras através de seu sutiã e eu beijei ao longo da base de sua garganta,
até seu queixo e em sua orelha. Cada inspiração me dizia o quanto ela
queria isso. Quando cheguei em sua boca, ela estava sem fôlego. Ela
soltou minha camisa, às mãos deslizando para a fivela do meu cinto,
parando no fecho. Eu chupei seu lábio inferior, meu polegar tocando seu
mamilo.
— Quero você.
Eu não conseguia o suficiente dessas palavras, especialmente
quando as ouvi em sua voz. — Diga de novo, Billie. — Meu pau estava
tão duro que eu pensei que ia estourar pelas minhas calças.
— Eu — ela gemeu, seu corpo provocando a ponta da minha
ereção — quero você.
Eu abri o botão de sua calça jeans e abaixei seu zíper, levantando-
a apenas o suficiente para tirá-la. — Jesus — eu rosnei quando meus
olhos atingiram suas pernas e o belo mergulho que estava diretamente
entre elas. — Mal posso esperar para provar você.
— Jared — ela gemeu, exigindo minha boca novamente.
Meus dedos entraram em sua calcinha de renda, encontrando um
calor que eu tinha sonhado. — Porra, você está molhada.
Eu rocei seu clitóris. Apenas uma passagem, como um movimento
da minha língua. Ela respirou meu nome, resistindo contra a minha mão
e eu fui mais baixo. Enquanto minha boca devorava a dela, circulei as
pontas dos meus dedos, espalhando a umidade antes que dois dedos
mergulhassem nela. Minha palma foi para seu clitóris e trabalhei minha
mão junto.
— Sim — ela sussurrou, agarrando meus ombros, suas pernas
travando ainda mais apertadas ao meu redor.
Mesmo que meus dedos estivessem dentro dela, minha língua
precisava estar lá também.
Eu saí dela e agarrei sua bunda mais uma vez. Eu a levantei do
balcão, carregando-a pela sala de estar e virando a esquina onde eu tinha
a sensação de que seu quarto estava localizado. Uma vez que eu a
coloquei na cama, ela desabotoou meu cinto e eu desabotoei minha
camisa. Com todas as minhas roupas no chão, fui até a beirada do
colchão.
Ela estava olhando para o meu corpo com uma fome feroz que eu
não tinha visto em seus olhos antes. — Uau — ela engasgou.
Um rosnado saiu da minha boca quando eu arranquei sua
calcinha, camiseta e sutiã. Agora que ela estava despida, eu me ajoelhei
no chão e puxei sua bunda para a beirada da cama. Envolvi meus braços
sob suas coxas e me inclinei para frente, meu nariz descansando na base
dela.
Fechei os olhos e inalei.
Se eu ia experimentar a perfeição, era isso.
— Oh, porra — ela disse enquanto eu achatava minha língua,
arrastando-a para o topo de seu clitóris.
Eu gentilmente chupei em minha boca, sacudindo apenas o final.
Quando fiquei sem ar, lambi em cada direção – para cima e para baixo,
de um lado para o outro – mantendo constante fricção enquanto meus
dedos se dirigiam para sua umidade.
Eu pensei sobre como seria ter suas pernas em volta do meu
pescoço, que sabor encheria minha boca, como ela ficaria quando
gozasse na minha língua.
Eu estava recebendo todas essas respostas agora.
Suas costas arquearam, e seus pés foram para os meus ombros. —
Jared, não pare.
Ela não precisava se preocupar. Eu queria isso tanto quanto ela.
Eu me movi mais rápido, torcendo minha mão quando cheguei no
meio da minha junta, minha língua massageando a parte mais alta de seu
clitóris. Ele endureceu logo antes que ela começasse a apertar em torno
de mim. Cada impulso dos meus dedos, ela ficou mais molhada, cada
lambida fazendo-a gritar mais alto até que ela estava estremecendo, os
quadris balançando para frente e para trás, montando seu orgasmo.
Quando ela parou, dei-lhe alguns golpes finais, saboreando o gosto
dela. Então, eu lentamente subi, seu umbigo, beijando cada seio antes de
ir para sua boca, seus lábios imediatamente pressionando os meus.
Meus braços a cercaram, e eu a puxei mais para cima na cama. Uma vez
que sua cabeça estava em um travesseiro, eu me afastei para levar seu
mamilo em minha boca.
— Ahhh.
Ela era tão sensível, cada movimento causou o mesmo ruído.
Eu troquei e usei meus dentes, me revezando mordendo as
pontas, enquanto minhas mãos foram para sua bunda, ao redor de seu
estômago e de volta para seus seios.
Mesmo que eu pudesse ouvir o quanto ela estava gostando, cada
mordida, lambida, gole de seu corpo era para mim.
E enquanto eu continuava a prová-la, sua mão se moveu para o
meu pau, os dedos circulando-o e ela deslizou sobre minha coroa e
desceu para minhas bolas. Ela estava apertando, torcendo, bombeando
até a base.
— Diga-me que você tem uma camisinha — eu atravessei em sua
carne.
Eu não tinha trazido uma.
Eu não pretendia que isso acontecesse.
Afastei esse pensamento antes que se transformasse em mais e a
vi alcançar a mesa de cabeceira, pegando uma borracha da gaveta de
cima. Ela estava com a embalagem aberta quando voltou para mim,
segurando o látex contra minha ponta, rolando-o pelo meu
comprimento. Assim que ela estava me cobrindo, eu me posicionei,
meus lábios indo para sua boca.
— Jared... por favor, me foda.
Ela escolheu as únicas palavras que eu queria ouvir.
Mudei meus quadris e gradualmente me afundei em seu calor, sua
umidade e aperto me abraçando. — Você parece incrível.
Eu estava deslizando para dentro e para fora, indo um pouco mais
forte a cada vez, deixei sua boca vagar por sua pele, encontrando novos
lugares para beijar.
— Oh meu Deus. — Suas unhas cravadas em meus ombros, seus
quadris me cumprimentando, seu corpo se contraindo mais a cada
impulso.
Quando a senti começar a apertar, eu a levantei da cama e coloquei
minha bunda no colchão, montando-a sobre mim. Agora que minhas
mãos estavam livres, eu agarrei seu rosto, os lábios quase tocando os
dela. — Me monte.
Inclinei meus quadris assim que ela me enterrou nela. Suas mãos
então se moveram para o meu peito e ela começou a encontrar um ritmo.
— É isso, Billie.
Seus sons e sua pulsação me disseram o quão perto ela estava.
Tudo isso estava trazendo meu próprio orgasmo. Então, eu a ouvi gemer
meu nome e perdi a cabeça.
O orgasmo veio forte e rápido, ela pressionou sua boca na minha
e bombeou-se sobre mim, apertando enquanto nós dois ficamos mais
altos. Uma explosão de umidade instantaneamente me cobriu.
— Siiim — ela ofegou.
— Billie — eu rugi de volta, acariciando sua tensão, nossos corpos
tremendo juntos. Agarrei seu rosto com as duas mãos, boca na dela, e
me esvaziei.
Onda após onda e eu ainda não a deixei ir, tomando seu ar
enquanto a segurava.
Quando finalmente paramos de nos mover, ela ficou em cima de
mim e nos beijamos.
— Não vá — ela disse quando finalmente se afastou.
Eu não respondi imediatamente.
Deixei tudo ferver por alguns segundos, a saciedade, o
pensamento do que tinha acabado de acontecer entre nós, como eu
ainda estava dentro dela.
— Eu não vou — eu respondi.
Seu corpo relaxou quando ela ouviu minha resposta.
O meu endureceu.
CAPÍTULO QUARENTA E CINCO

BILLIE

Estava escuro no meu quarto quando meus olhos se abriram. A


mão de Jared estava na minha barriga, seu corpo pressionado contra
minhas costas, instantaneamente me dizendo que eu não estava
sozinha. Mesmo que ele não estivesse me tocando, eu ainda seria capaz
de sentir a sutileza de seu perfume no ar e sentir sua presença no meu
quarto.
Ele era tão forte.
E tê-lo aqui me deu a sensação mais quente, uma faísca
avassaladora em meu peito, um roer sexual que me lembrou da maneira
como me senti na noite passada. Aquele homem tinha poder sobre mim
– não apenas de uma forma que ele possuía meu corpo, mas ele também
tinha a habilidade de constantemente ocupar minha mente com outras
coisas além do acidente.
Assim como ele estava fazendo agora, mas ele ainda estava
dormindo.
Não querendo acordá-lo, rolei com o máximo de cuidado que pude
e usei a pequena luz que entrava pelas janelas para ver como ele era pela
manhã.
Havia uma calma tão quieta em seu rosto que ele não tinha quando
seus olhos estavam abertos. Um nível de maturidade que eu nunca tinha
experimentado antes, mas eu apreciei ainda mais agora que estávamos
juntos. Tudo parecia tão certo – tê-lo na minha cama, vê-lo dormir como
se o peso tivesse sido tirado de sua cabeça.
E como se ele concordasse, ele lentamente abriu os olhos.
Como protetor, ele deve ter sentido meu olhar e eu não fiquei
chocada por ele ter percebido. Eu estava feliz por ter tido alguns
segundos para desfrutar de sua paz antes de ser atingida pela
intensidade de seus olhos.
— Bom dia — ele sussurrou. Ele levantou a mão debaixo do lençol
e tocou minha bochecha, seu polegar tão quente enquanto roçava minha
pele.
Agora que o cobertor desceu um pouco, olhei para o peito dele,
para os pelos escuros que o cobriam e como era a quantidade certa. —
Dia. — Eu acariciei sua palma, fechando meus olhos quando seu cheiro
ficou mais forte. Eu me lembraria disso em qualquer lugar.
— Você sabe que horas são?
Era sexta-feira. Eu tinha esquecido que Jared provavelmente tinha
que ir trabalhar.
Olhei atrás de mim para o relógio na mesa de cabeceira e disse: —
Um pouco depois das sete — antes de me virar novamente.
Sua mão voltou para o meu rosto. — Você dormiu?
— Sim. — Eu sorri porque era tão bom dizer isso. — Umas sólidas
quatro horas e depois desligando e ligando por mais duas. Você?
Seu polegar pressionou o canto da minha boca. — O mesmo.
— Quando foi a última vez que você disse isso?
Ele não respondeu imediatamente. Não parecia que ele tinha que
pensar sobre isso, mais como se ele estivesse percebendo o quão longe
ele tinha chegado. — Antes do acidente.
Algo não estava sendo dito e eu senti que nós dois sabíamos.
Ele tinha sido tão inflexível sobre nós não ficarmos juntos,
avisando que tudo o que faria seria nos machucar. Mas eu não entendia
como a noite passada poderia ser um erro, especialmente quando ele
dormiu e eu acordei com a sensação mais leve no peito.
— Veja, eu sou bom para você. — Mais luz do sol estava entrando
no quarto, então eu sabia que ele podia ver meu sorriso. Quando seu
aperto aumentou, tomei isso como sua resposta e perguntei: — Você
tem tempo para o café da manhã?
Ele assentiu e eu me inclinei para frente e pressionei meus lábios
em sua bochecha, sentindo o cheiro de sua barba. Havia tantos traços de
nós naquele cabelo, das horas que passamos saboreando e agradando.
Nós nos mudamos para o chuveiro, depois para a cozinha e terminamos
no banco na frente da minha cama. Pelo menos uma hora de conversa se
seguiu sobre nossas vidas antes de finalmente adormecermos.
Eu odiava a ideia de que ele logo teria que sair.
— Dê-me alguns minutos — eu disse suavemente, beijando o
mesmo local, então me afastei e saí.
Sabendo que ele estava olhando para minha nudez, eu
gradualmente atravessei meu quarto até o banheiro, eventualmente
fechando a porta atrás de mim. Eu senti seus olhos em mim durante todo
o caminho. Essa foi uma das razões pelas quais meu rosto ficou
vermelho quando me olhei no espelho acima da pia. A outra razão era
porque fazia um tempo desde que eu me sentia assim sobre um homem
e o pensamento de Jared estava queimando através de mim.
***
Sentei-me ao lado de Jared no balcão, o mesmo lugar que eu
pretendia que comêssemos ontem à noite, antes que o jantar tomasse
um rumo muito diferente. Como não tinha planejado o café da manhã e
normalmente não comia mais do que um ovo, tive que improvisar.
Felizmente, encontrei alguns biscoitos de alecrim no freezer, que tostei.
Eu então mexi alguns ovos, cebolinha, cogumelos e eu servi um tomate
grelhado ao lado.
— Jesus, sua comida está ficando cada vez melhor — disse ele,
olhando para cima de seu prato meio comido, pegando sua caneca de
café.
— Obrigada. — Larguei a outra parte do biscoito e comecei a
cortar o tomate. — Espere até você realmente me sentir comendo.
Ele olhou para minha boca e sorriu. — Você diz isso como se fosse
um evento.
Nós dois começamos a rir e era necessário já que havia apenas
seriedade esta manhã.
— Só quero dizer, vai ser divertido quando eu realmente puder
me juntar a você — esclareci.
A comida estava descendo pela minha garganta e tudo tinha um
sabor delicioso. Essas foram grandes melhorias, mas eu ainda não
estava lá, e seu rosto me disse que ele sabia disso também.
— Acho que está ligado a voar.
Eu balancei a cabeça. — Eu acho que você está certo.
Sua outra mão foi para o meu rosto, e ele me virou um pouco mais
para ele. — Então, venha voando comigo. Vai resolver tudo isso.
Meu coração bateu no meu peito. Minhas mãos formigavam.
Enquanto eu o olhava nos olhos eu queria tanto dar a ele a
resposta que ele queria ouvir.
Mas eu não podia.
Eu não estava pronta.
Ele se inclinou para frente e colocou seus lábios na minha testa. —
Está bem. Eu sei. — Ele ficou assim por vários segundos até acrescentar:
— Billie, eu tenho que ir trabalhar.
Eu sabia que sua partida estava chegando. Ele já estava vestido, o
telefone no bolso, o som dele quase sem parar.
— Obrigado pelo café da manhã... e pela noite passada.
Ele se afastou depois que exalou sobre meu rosto e seus olhos
quase me tiraram o fôlego. Eles eram assombrados, tão dolorosamente
intensos. E como sua luta, eu era a razão disso.
— De nada — eu sussurrei e então eu saí do banco. — Eu vou levá-
lo até a porta.
Uma tristeza se infiltrou em meu peito enquanto eu me movia pela
cozinha em direção à frente do meu apartamento. Quando cheguei à
porta, eu a segurei aberta e ele parou na minha frente. Suas mãos foram
para minha cintura e ele me beijou. Bastou o menor toque de seus lábios
para reaquecer a paixão que havia pulsado entre nós na noite passada.
— Billie... — ele disse suavemente, recuando. — Eu falo com você
em breve.
E então ele se foi.
CAPÍTULO QUARENTA E SEIS

HONEY
OUTONO DE 1986

— A antecipação está literalmente me matando — Honey disse a


Andrew enquanto eles se sentavam na ponta da cama.
Os braços de Andrew estavam em volta de sua esposa desde que
ela se sentou alguns momentos atrás. O pensamento do que estava
esperando por ela no banheiro era tão avassalador. Se ele não a
segurasse, ela começaria a andar de um lado para o outro.
Porque …
Ela estava atrasada.
Quando ela não ficou menstruada, ela não contou a ele
imediatamente. Com todas as decepções que aconteciam com ela todos
os meses, ela tinha certeza de que iria aparecer a qualquer minuto. Mas
quando mais tempo passou, ela decidiu que não podia adiar mais e ele
trouxe para casa um teste esta manhã.
Agora, estava processando no balcão do banheiro.
— Seja qual for o resultado — disse ele — vamos ficar bem com
isso.
Honey olhou para o marido. Ela não queria fazer o teste em
primeiro lugar. Ela estava com medo de qual seria o resultado. Porque,
nos últimos quatorze meses, sua menstruação havia aparecido. E Honey
tinha a sensação de que se ela não ficasse grávida logo, definitivamente
havia algo errado com ela.
Ele estava procurando uma resposta e ela não podia lhe dar uma.
Pelo menos, não uma que ele gostaria de ouvir. Então, ela dobrou os
joelhos no peito e circulou os braços ao redor deles e então ela balançou
ao longo da beira da cama.
— Honey …
— Andrew, eu não posso. — Ela olhou para ele, apesar de doer.
— Quero dizer que um resultado negativo não vai me esmagar, mas não
posso prometer isso.
Ele passou o braço em volta dos ombros dela e pressionou os
lábios no topo de sua cabeça, segurando-os lá enquanto ela se movia
para frente e para trás.
Ao longo dos últimos meses, ela tentou não deixar que isso a
consumisse, mas estava ficando mais difícil a cada dia. Cada vez que
faziam sexo, Honey esperava que fizesse um bebê e essa estava
começando a ser a única razão pela qual ela queria ter intimidade com o
marido. Uma vez que ela percebesse que seus esforços eram em vão, o
pavor a encheria novamente, um nível de decepção que estava
começando a dominá-la.
— Nós vamos descobrir isso — ele sussurrou enquanto a
segurava. Seus lábios ainda estavam em seu cabelo, ambos os braços
sobre ela agora. — Eu prometo a você, baby, você não tem nada com que
se preocupar.
Honey estava contando os segundos silenciosamente,
concentrando-se nos números, marcando-os em sua mente. A cada um
que passava, seu peito apertava mais. Suas mãos começaram a tremer.
Uma agitação começou em seu estômago, e parecia tão forte que ela teve
que colocar a mão sobre ele, esperando que a pressão a acalmasse.
— Está na hora — disse Andrew.
Honey tinha estado tão concentrada nos números que tinha
esquecido exatamente o que estava contando.
Mas foi para isso - o resultado.
Exceto que ela não podia se mover. Ela não conseguia sair da
cama. Ela não podia entrar no banheiro e ver o resultado de algo que
estava tão fora de seu controle, mesmo que estivesse acontecendo em
seu próprio corpo.
— Você vai — disse ela, tentando respirar e não encontrando ar
suficiente. — Por favor... eu não posso.
Ele empurrou mais forte com os lábios, desta vez realmente
beijando sua cabeça. Ela o sentiu inspirá-la e ele exalou sobre ela. Ele
estava dando a ela todo o amor que ele tinha e ela realmente precisava,
especialmente porque ele estava se levantando da cama e indo para o
banheiro. Em poucos passos, ele já estava dentro. Honey havia deixado
o teste no balcão ao lado da pia. No tempo que passou, ela sabia que ele
já estava lá.
E que ele estava lendo o resultado.
E que ele sabia se ela estava grávida.
Ela se sentiu mal e se encolheu em uma bola ainda mais apertada,
balançando os pés sobre a borda do colchão. — Por favor — Honey
rezou baixinho. — Por favor, por favor, por favor.
Enquanto balançava, ela não ouviu nada de dentro do banheiro.
Silêncio não era o que ela queria. Ela queria comemorar, gritar, no
mínimo uma expressão de alegria.
O silêncio significava exatamente o que ela temia.
A náusea estava tomando conta de seu estômago. Os ovos e o café
que Andrew fizera ameaçavam subir.
Ela sabia que fazer o teste era uma má ideia. Ela deveria ter feito
isso na hora do almoço ou ter ido ao médico e esperado sozinha. Porque
uma coisa era lidar com a decepção, mas o pensamento de vê-la em seu
rosto seria demais para Honey suportar.
Ela nunca faria isso com ele novamente.
Justo quando ela achava que não aguentaria mais um segundo de
silêncio, ele apareceu na porta. — Ainda não foi totalmente processado.
— Ele olhou para o teste que estava segurando em sua mão e voltou para
ela. — Mas agora está.
— Andrew...
— Honey, estamos grávidos. — Ele segurou o teste para Honey
ver.
Ela sentiu a boca aberta, mas nada saiu dela. Ela estava em choque
demais. Ela não esperava esse resultado. Ela tinha certeza de que sabia
qual seria o resultado e certamente não era isso. Isso significava mais
um mês de tentativas, outra decepção esperando no final.
Mas esse não era o caso e ela não sabia o que fazer consigo mesma.
— Grávida? — ela sussurrou quando ele se ajoelhou na frente
dela, suas mãos segurando seus joelhos. — Você quer dizer, nós
realmente vamos ter um bebê?
Ele assentiu e ela imediatamente caiu em seus braços. Ele a ergueu
no ar, e ela envolveu seu corpo ao redor dele, um contentamento a
enchendo como no dia de seu casamento.
— Andrew — ela disse tão suavemente, saindo de seu pescoço
para que ela pudesse olhar para ele. — Finalmente vou ser mãe.
Ele assentiu.
E naquela manhã, ambos choraram.
CAPÍTULO QUARENTA E SETE

JARED

Não importava que eu tivesse saído do apartamento de Billie,


tomado banho e escovado os dentes, porque ainda podia sentir o cheiro
dela quando entrei no trabalho naquela manhã. O efeito que isso teve
em mim foi mais do que eu estava disposto a admitir para mim mesmo
e isso me assustou como o inferno.
Billie Paige não era um perfume que eu deveria ter inalado em
primeiro lugar. Mas agora que eu a tinha, eu não conseguia o suficiente.
Eu queria estar com ela novamente esta noite e amanhã de manhã e
todos os dias depois. E assim que eu estava passando minha mão
debaixo do meu nariz, sentindo o cheiro dela novamente, meu telefone
vibrou de uma chamada recebida.
Enfiei a mão no bolso e vi o nome do meu amigo na tela. — Marcus.
— Calculei rapidamente o tempo em São Francisco e presumi que ele
ainda não tinha ido para a cama. — Estou começando a me preocupar
que você nunca durma.
— Você sabe como é ser um novo empresário. Não há tempo para
isso. Tudo o que faço é me preocupar como um inferno e trabalhar como
um cachorro.
Eu ri. — Também não é diferente quando você é um antigo
empresário. — Eu balancei a cabeça para um dos seguranças quando
passei por ele no corredor e fechei a porta do meu escritório atrás de
mim. — Como vão as coisas?
— É por isso que estou ligando.
Sentei-me em minha mesa, digitando as senhas que meu
computador exigia para permitir que o e-mail chegasse. Uma vez
carregado, peguei o que Billie havia enviado ontem de manhã, horas
antes de eu ir para a casa dela.
Para: Marcus Campanella
Assunto: Basil's—Resultados de anúncios

Olá Marcus,

Já se passou uma semana inteira desde o lançamento do seu anúncio


de trinta segundos em meus canais de mídia social, então eu só queria
entrar em contato e fornecer um relatório detalhado dos dados e
atividades que o anúncio gerou. Em nossa última troca de e-mail, quando
discutimos seus objetivos, você foi específico no público que pretendia
alcançar. Bem, estou extremamente feliz em informar que não apenas
alcançamos esses números, mas também os superamos em muito, como
você verá na planilha anexada.

Como o anúncio será veiculado indefinidamente em todos os meus


canais, continuarei fornecendo relatórios detalhados para que você possa
ver como ele é produzido ao longo do tempo. A próxima planilha que
enviarei chegará aos trinta dias e, a partir daí, trimestralmente.

Não posso agradecer o suficiente por ser tão paciente e


compreensivo comigo enquanto encontro meu pé novamente nesta
indústria. Sei que não era exatamente isso que você tinha em mente
quando solicitou meus serviços, mas quero que saiba que realmente
aprecio você por ter me dado uma chance e espero que esteja satisfeito
com o lançamento de sua campanha.

Um dia, pretendo ir para a Costa Oeste e visitar o Basil's, em vez de


apenas admirá-lo através das fotos pecaminosas que você enviou. Quando
eu conseguir realizar esse sonho, com certeza entrarei em contato.

Noodles e Toodles,
Billie Paige

— Oh sim? — Eu disse ao telefone, desviando os olhos do e-mail


e me virando na cadeira para encarar a parede de janelas atrás de mim.
Eu me levantei quando ele disse: — A porra do telefone não parou
de tocar.
Eu sorri, batendo suavemente no painel de vidro com meu punho.
— Esta notícia não poderia me deixar mais feliz, meu amigo.
Conseguimos tudo o que pretendíamos.
— Sabe... quando você me disse que ia contratar algum revisor
online para vir comer na minha casa, eu não tinha grandes expectativas.
Eu certamente não acreditava que isso me daria seis meses sólidos de
reservas, mas foi o que aconteceu.
Eu balancei minha cabeça com espanto. — Jesus Cristo, Marcus. —
Pressionei meu ombro contra o vidro, olhando para a rua abaixo. — Isso
é tão merecido – tudo isso. Você trabalhou tão duro para chegar aqui.
— Minha família agradece, Jared. Isso vai mudar nossas vidas.
— Eu faria qualquer coisa por você, Charlene e as crianças. —
Olhei de volta para o meu computador, vendo o e-mail que Billie havia
enviado. — Tenho alguns dados sobre o desempenho da campanha. Uma
planilha que detalha cada canal e as taxas de cliques. Vou encaminhá-lo
para você assim que desligarmos o telefone.
— Soa bem. — Eu o ouvi tomar um gole e engolir. — Quando você
vem para a Costa Oeste?
— Você sabe que eu nunca posso ficar longe por muito tempo. —
Voltei para minha cadeira, coloquei a chamada no modo viva-voz e
coloquei o telefone na minha mesa.
— Na próxima vez que você estiver na cidade, vamos jantar no
restaurante — disse ele. — Quero que você prove alguns dos novos
pratos que tenho experimentado. Preciso de alguém com um paladar
honesto, como você.
— Eu ficaria honrado. — Olhei para o meu celular quando ouvi
uma mensagem chegar. Não apareceu na tela escura, então eu disse: —
Ouça, amigo, tenho que correr. Entrarei em contato quando souber
minha agenda.
Ele se despediu e desligamos, meu telefone instantaneamente
mudou para a tela inicial, onde cliquei nas minhas mensagens.
Quando vi o nome de Billie, tudo em meu maldito corpo começou
a pular.
Billie: Obrigada novamente por ontem à noite. Você é incrível, Jared.
Deixei meu telefone na mesa e saí do meu escritório.
CAPÍTULO QUARENTA E OITO

HONEY
OUTONO DE 1986

Como o grande prédio médico ficava a apenas alguns quarteirões


do apartamento de Honey e Andrew, eles decidiram caminhar, de mãos
dadas durante todo o caminho até a consulta. Assim que chegaram à
entrada da frente, Andrew escoltou sua esposa até o quarto andar, onde
ficava o consultório do Dr. Katz, o principal obstetra/ginecologista de
Portland. Depois que eles entraram, eles deram seus nomes para a
recepcionista e ela entregou a Honey uma prancheta, dizendo-lhe para
preencher cada folha na íntegra.
Depois de Honey ter ido ao laboratório para fazer exames de
sangue ontem, ela não conseguiu dormir a noite toda, se revirando e
pensando no que ia acontecer hoje. Ela nem tinha fechado os olhos, com
muito medo do que poderia sonhar. Como os testes em casa eram
conhecidos por relatar falsos positivos, ela não acreditaria que estava
grávida até que seu médico confirmasse.
Mas o desconhecido veio com a pior agitação mental que ela já
sentiu.
Enquanto Honey esperava que seu nome fosse chamado, ela
preencheu toda a papelada, descrevendo sua dolorosa história de
quatorze meses em detalhes. Ela ficou surpresa com o quanto ela havia
escrito. Quantas vezes ela ficou animada por estar alguns dias atrasada
para a menstruação. Como toda a sua vida tinha girado em torno de
tentar engravidar.
Quando ela terminou a última pergunta e devolveu a prancheta,
ela colocou a mão sobre o estômago durante a caminhada de volta ao
seu lugar. Ela até o manteve lá enquanto seus outros dedos se agarravam
aos de Andrew e ela olhou ao redor da sala de espera. Eles dividiam o
espaço com duas outras mulheres que Honey suspeitava serem alguns
anos mais velhas que ela e em estágios muito avançados de sua gravidez.
Uma tinha uma criança com ela.
Honey se perguntou se haveria um dia em que ela voltasse a este
escritório com uma criança ao seu lado, outra crescendo em sua barriga.
Mas esse pensamento veio com tantas perguntas. Ela vai demorar tanto
para engravidar pela segunda vez? Ela pode mentalmente passar por
isso novamente? Porque havia uma forte chance de que ela nem
estivesse grávida agora.
Ela tirou a mão da barriga e, como já estava segurando o marido,
agarrou o fundo da cadeira.
Felizmente, eles não tiveram que esperar muito. Nem mesmo
vinte minutos depois, Honey estava vestida com um vestido de algodão,
deitada na mesa de exames enquanto Andrew estava sentado ao seu
lado. Desde o minuto em que a Dr. Katz entrou na sala, ela começou a
fazer perguntas, e todas Honey respondeu.
Agora que eles estavam discutindo a linha do tempo dos eventos,
era Andrew quem falava. Honey ouviu o marido descrever sua história
de tentar engravidar. Era preciso, mesmo até as datas e como eles
rastrearam quando ela estava ovulando e as poucas vezes que ela estava
atrasada vários dias, mas então o sangue veio.
O que Andrew não contou a Dr. Katz foram os momentos que
Honey experimentou no banheiro. Quando ela olhou para baixo e viu
vermelho no interior de sua calcinha.
Como era isso.
Como aquelas lágrimas ardiam em suas bochechas.
Como ela se enfiou na bola mais apertada e se balançou no chão
de ladrilhos, perguntando a seu corpo por que estava falhando, por que
não podia lhe dar o que ela queria.
Andrew não saberia sobre aqueles tempos. Ele estava no trabalho
quando eles aconteceram porque Honey simplesmente não podia
compartilhar essa parte com ele.
— Acho que tenho tudo o que preciso por enquanto — disse o Dr.
Katz enquanto se levantava do banco, colocando o prontuário de Honey
no balcão. Ela caminhou até a mesa, esfregando as mãos como se
estivesse tentando aquecê-las. — Eu vou apenas sentir em torno de sua
barriga e então vamos fazer o ultra-som.
Mesmo que ela prendesse o cabelo depois que parecia sufocante
demais para deixá-lo solto, o suor se formou na nuca de Honey.
— Apenas respire normalmente — Dr. Katz disse a ela enquanto
ela gentilmente pressionava diferentes pontos no abdômen de Honey.
Seus dedos se moveram em um movimento circular antes que ela
deslizasse alguns centímetros e repetisse a ação. — Honey, por favor,
respire.
O lembrete fez Honey perceber que ela estava segurando o ar, não
deixando nada ir.
— Bom — Dr. Katz elogiou quando Honey exalou. — Você sente
alguma dor aqui?
Honey balançou a cabeça, não confiando em sua voz.
— Que tal aqui? — Quando Honey lhe deu a mesma resposta, o
Dr. Katz disse: — Tudo parece excelente até agora.
Ela foi até o balcão e tirou um par de luvas da caixa. Então, ela se
mudou para a máquina de ultra-som.
Andrew ainda estava segurando a mão de Honey, mas ele a
apertou, ganhando sua atenção. — Você está bem?
Ela assentiu, seus olhos voltando para o Dr. Katz, sua mente focada
no suor que agora cobria seu corpo e as sensações que ela estava
sentindo em seu estômago que ela sabia que eram apenas nervos.
— Não importa o que aconteça, tudo vai ficar bem. — Ele tirou
uma franja do olho dela, deixando a mão na testa dela. — Não se esqueça
disso, Honey.
Ele havia dito a mesma coisa quando ela acordou esta manhã e
logo antes de eles deixarem seu apartamento para o compromisso.
Honey não respondeu nenhuma das vezes.
Ela não podia.
E ela não podia agora também.
— Isso vai parecer frio — disse Dr. Katz enquanto colocava gel na
barriga de Honey.
— Respire — Andrew sussurrou em seu ouvido quando ela sentiu
o dispositivo na mão do médico se mover em sua barriga.
Ela seguiu as instruções do marido e se concentrou na tela ao lado
deles. Ela não tinha ideia do que deveria estar procurando, mas esperava
ver movimento. Uma batida, pulso, cintilação — qualquer coisa que
lembrasse a vida.
— Honey... — Andrew disse tão suavemente.
Ela arrastou os olhos para longe da máquina e olhou para ele. A
última vez que ele tinha falado assim foi quando recitou seus votos de
casamento.
Honey precisava saber o que isso significava.
A princípio, quando seus olhos se encontraram, a única coisa que
ela viu nele foi amor.
Mas então seu rosto se encheu de um sorriso caloroso e ele
apontou para a tela e disse para sua esposa: — Olhe o que fizemos,
Honey.
Honey rapidamente respirou fundo e virou-se para o Dr. Katz.
— Sim — ela confirmou — tanto o ultrassom quanto o exame de
sangue são positivos.
— Oh meu Deus — Honey chorou.
Ela sentiu um arrepio dentro do peito, como se eles estivessem
nadando na praia de Ogunquit e a maior onda estivesse se dirigindo para
eles. Ela sentiu lágrimas, como as que ela havia deixado no chão do
banheiro. Mais do que tudo, ela sentiu uma felicidade que ela não sabia
que existia.
Seu corpo finalmente ouviu. Depois de todas as súplicas e súplicas,
as promessas e negociações. O medo que a consumia porque se
preocupava em não poder ter filhos.
Agora, isso tudo se foi.
Porque seu corpo finalmente ouviu.
Ela colocou a mão sobre a boca, ainda olhando para a tela. —
Andrew…
Seus lábios estavam em sua bochecha. — Esse é o nosso bebê.
— Eu diria que você está com cerca de oito semanas — informou
o Dr. Katz.
Havia um nó tão grande no fundo da garganta de Honey que ela
não conseguiu conter as lágrimas.
Andrew limpou todos antes que caíssem. — Você me fez pai.
Os olhos de Honey se apertaram, lábios trêmulos, e quando ela os
abriu novamente, a tela não havia mudado. O feijão que ela estava
olhando ainda estava lá.
A mesma que logo a chamaria de mamãe.
CAPÍTULO QUARENTA E NOVE

JARED

Depois que tony me levou para um longo passeio pela cidade,


voltei ao meu escritório várias horas depois, vendo meu telefone ainda
no meio da minha mesa. O tempo que passei no banco de trás do SUV,
tentando resolver tudo na minha cabeça, ajudou a domar o que eu estava
sentindo. Mas ver meu celular novamente ameaçava trazê-lo de volta.
Eu conquistei muitas coisas na minha vida.
Ter um controle sobre mim mesmo quando se trata de Billie
deveria ser o mais fácil.
Estava provando ser o mais difícil.
Toquei a tela do meu telefone, encontrei a mensagem dela e a reli
várias vezes.
Havia muitas razões pelas quais éramos perfeitos um para o outro,
mas o mal superava o bem, e eu certamente não precisava do telefonema
de Marcus para me lembrar.
Havia apenas um problema.
O que eu aprendi sobre ela desde a primeira vez que estive em sua
presença foi que eu não conseguia o suficiente. Eu não podia ficar longe.
Eu não conseguia me impedir de tocá-la.
Isso não desculpava o que tinha acontecido na noite passada.
Mas agora, olhando para trás, não havia nada que eu pudesse ter
feito para evitá-lo.
Eu estava indefeso quando se tratava dela.
Só ela.
A culpa não iria embora, não importa o quê. Viveria no meu peito
pelo resto da minha vida, causando a mesma dor se eu estivesse com ela
uma segunda vez.
E uma terceira.
Então, não vi razão para parar... ainda.
Eu: Jantar este fim de semana?
Coloquei o telefone de volta na minha mesa e voltei minha atenção
para o meu computador, limpando minha caixa de entrada dos e-mails
que chegaram enquanto eu estava fora. Eu não consegui passar mais do
que alguns quando um texto apareceu na minha tela.
Billie: Acho que é a sua escolha, hein?
Eu: Você tinha algo em mente?
Billie: Eu adoraria experimentar sua comida.
Eu: Lol.12
Billie: Ah, você acha que estou brincando?
Eu sorri enquanto olhava para a tela.
Ela fez um pedido justo. Afinal, eu tinha estado na casa dela, então
não fiquei surpreso que ela quisesse ver a minha. Quanto à culinária, ela
sabia que eu não tinha o paladar de um novato e queria testar minhas
habilidades.
Eu tinha que dar crédito à garota.
Mas a diferença entre o convite dela e um que viria de mim era
que Billie e eu não tínhamos as mesmas dificuldades. Ela não tinha o
peso do nosso futuro pendurado em seu rosto como uma maldita
cenoura ou o conhecimento do que realmente nos uniu.
Algumas coisas na vida eram uma coincidência.
Meu encontro com Billie Paige não foi.
Eu: Desafio aceito. Que tal amanhã à noite?
Billie: Posso trazer alguma coisa?
Eu: Só você.
Eu: A menos que... você queira voar para Martha's Vineyard hoje à
noite?
Eu: Diga sim.
Billie: Eu não posso.
Eu: eu entendo. Vejo você amanhã.

12
Uma abreviação que significa "rir em voz alta".
Eu tinha certeza de que ela estava olhando para o telefone,
pensando em mim como o cara que a salvou, desapontada consigo
mesma porque ela continuava me recusando.
Billie não percebeu algo...
Eu ia machucá-la muito mais do que o voo 88.
CAPÍTULO CINQUENTA

BILLIE

Eu passei pelo prédio de Jared em Tribeca tantas vezes no


passado, nunca dando uma segunda olhada, nunca considerando um
herói e o homem por quem eu estava apaixonada morava lá. Mas esta
noite, fui até a entrada da frente e dei meu nome ao segurança. Ele
segurou um tablet no qual eu pressionei minha mão enquanto ele lia
minhas impressões e então ele escaneou minha licença antes de me
levar para um corredor curto onde havia um elevador. Eu teria
perguntado a ele qual botão eu precisava apertar, mas só havia um, e já
estava aceso.
A porta se fechou antes que ele dissesse uma palavra, e o elevador
começou a subir.
Eu mal tive tempo de recuperar o fôlego quando ela abriu. Eu não
me movi enquanto observava meus arredores, percebendo que não
estava em um corredor, mas na entrada de uma casa.
Jared está em casa, eu assumi.
Agarrando minha garrafa favorita de vinho e uma caixa de
sobremesa, entrei no saguão e dei um alto — Olá?
— Estou na cozinha — Jared chamou de volta, um pouco abafado.
Havia rock 'n' roll tocando em alto-falantes ocultos, iluminação
suave e obras de arte masculinas adornavam as paredes, juntos, eles dão
um tom inesquecível. Da entrada, virei uma pequena esquina e fui
jogada na entrada do apartamento mais impressionante em que já
estive. Seu teto tinha o dobro da altura do meu e os quartos eram abertos
e arejados com uma parede de nada além de vidro. O que preenchia o
enorme espaço eram os móveis mais lindos feitos em preto e prata.
Não era exatamente o que eu tinha imaginado.
Foi melhor.
— Você tem que estar brincando comigo — eu disse enquanto
caminhava mais para dentro, parando no meio do caminho entre a
cozinha e as janelas. — Esta vista… — respirei fundo — é... uau. — Era
um ângulo impressionante e desobstruído da parte baixa de Manhattan.
— Eu não posso acreditar que você acorda para ver isso todos os dias.
Meus olhos mudaram e no reflexo do vidro, eu podia vê-lo atrás
de mim na cozinha. Meu olhar se moveu novamente, e SoHo estava bem
na minha frente.
Mesmo que a situação fosse diferente, isso me lembrou o que eu
tinha feito no avião na primeira vez que vi Jared.
O pensamento era chocante.
— Boa noite, Billie.
Tentei encher meus pulmões e me virei. Ele estava a pelo menos
cinco metros atrás de mim, parado no estande com uma colher de pau
na mão, seu olhar fixo em mim enquanto se mexia.
— Oi.
Ele havia aparado a barba, então seu pescoço estava bem raspado,
e os bigodes ao redor eram um pouco mais curtos.
Eu senti a fome em seus olhos por todo o caminho daqui.
Eu tinha certeza agora que não conseguia respirar.
Exceto... eu não queria.
Fosse qual fosse esse sentimento, eu esperava que nunca fosse
embora.
Ele sorriu. Não totalmente. Apenas o suficiente para mostrar uma
pitada de dente, e suas pálpebras se estreitaram. — Você está linda.
Eu estava com um suéter comprido pendurado em um ombro,
jeans e um par de botas de cano alto. Não havia nada de bonito no que
eu estava vestindo. Mas eu não tinha a sensação de que Jared estava
falando sobre minhas roupas. Tive a sensação de que ele estava
descrevendo a maneira como ele pensava em mim.
Oh Deus.
Meus pés começaram a se mover, me levando para mais perto e
de repente eu estava na cozinha. Quando me aproximei, ele pousou a
colher e eu coloquei o vinho e a sobremesa no balcão. Eu caí em seus
braços. Enquanto ele me segurava, o cheiro mais incrível encheu meu
nariz. Parte era do fogão, um aroma que estava fazendo meu estômago
fazer mais do que formigar. O outro era apenas Jared, um cheiro que eu
estava começando a desejar quando não estava com ele.
Ele se inclinou para trás do nosso abraço e seus lábios foram para
os meus, me beijando com uma paixão que senti por todo o meu corpo.
Suas mãos começaram no meio das minhas costas, mas agora estavam
descendo para minha bunda, apertando enquanto nossas bocas se
fechavam.
Eu não sabia quanto tempo tinha passado quando ele finalmente
se separou. Eu só sabia, quando aconteceu, eu estava sem fôlego.
— Jared... — Eu senti minhas bochechas ficarem coradas, meu
peito arfando.
Sua mão foi para o meu queixo, segurando-o lá por alguns
segundos antes de voltar para a colher. — Está com fome? — Não tive
chance de responder antes que ele acrescentasse: — O jantar estará
pronto em quatro minutos.
Eu sorri enquanto olhava para a panela, observando o risoto girar
dentro. — Italiano, hein?
Ele riu, dobrando o pescoço para me beijar na bochecha. — Você
disse que é o seu favorito.
Eu tinha certeza que cada terminação nervosa estava gritando
dentro de mim. — Eu amo o quão bem você ouve. — Meu olhar se moveu
para o outro lado do balcão, onde vi várias garrafas de vinho. — Que tal
eu pegar uma bebida para nós?
Senti seu olhar em mim enquanto eu atravessava a cozinha,
tomando meu tempo para que eu pudesse realmente explorar a sala.
Quem projetou o espaço não poupou gastos. Ele tinha eletrodomésticos
de primeira linha, os mais novos em cada um, com uma pia de fazenda
que faria qualquer mãe babar. A única coisa que faltava era um toque
pessoal. O mesmo aconteceu com a sala de estar e a entrada.
Não havia como saber que este apartamento era de Jared e não de
outra pessoa.
Ele até se protegeu em sua própria casa.
Essa foi a decisão dele, e eu a respeitei, mas eu precisava de mais.
— Jared — eu disse, segurando uma das garrafas de vinho na
minha mão, esperando até que ele me olhasse por cima do ombro. —
Quais foram as últimas férias que você tirou e com quem foi?
Ele me encarou em silêncio, como se estivesse pensando na minha
pergunta. Até mesmo seu braço diminuiu de mexer, os segundos
passando antes que ele finalmente respondesse: — Foi uma semana
antes do acidente. Fui esquiar com meu melhor amigo em Aspen.
— Você tirou alguma foto?
Eu entendi não estar nas redes sociais. Minha família era da
mesma forma, nem uma única pessoa interessada no hype ou no aspecto
de compartilhar qualquer coisa com uma audiência virtual. Mas com sua
ausência online, senti que não havia janela para a vida de Jared.
Houve outra pausa e então ele enfiou a mão no bolso e tirou o
telefone. — Venha aqui.
Deixei a garrafa no balcão e voltei para o lado dele, olhando para
a foto dos dois homens na tela. Eles não se pareciam em nada, o cabelo
de seu melhor amigo loiro com olhos claros. Havia esquis nos pés e
bastões nas mãos.
Eu podia imaginá-lo depois de várias descidas da montanha,
bebendo um uísque rico com uma camada de neve ainda em seu cabelo.
A imagem era incrivelmente sexy.
— Ele é um SEAL 13 aposentado da Marinha — disse ele, ainda
segurando o telefone na nossa frente.
— Você o conhece há muito tempo?
— Minha vida inteira.
Quanto mais eu estudava a foto, mais eu podia ver o vínculo deles.
— Onde ele mora?
— Aqui. — Jared sorriu, mas era diferente de qualquer uma das
expressões que ele usou antes. Este era quase um olhar pacífico que eu
não tinha visto. — Ele trabalha para mim.
— Espero conhecê-lo um dia.
— Eu também — ele sussurrou e desligou o telefone, colocando-
o de volta no bolso, voltando ao risoto.
Fui até as garrafas novamente, decidindo que a que eu tinha
trazido era a melhor opção com base no que eu achava que ele estava
fazendo. — Vinho?
Quando ele olhou para mim do fogão, eu não prendi a respiração.
Eu simplesmente não conseguia respirar.

13
Um SEAL é um soldado de forças especiais altamente treinado da Marinha dos EUA.
— Por favor.
Era apenas uma palavra.
Mas eu senti isso em todos os lugares.

— Uau. — Larguei meu garfo, literalmente incapaz de colocar


outra mordida na boca. — Isso foi incrível.
— Você parece surpresa. — Ele estava sorrindo, enxugando a
boca com o guardanapo.
Eu optei por nos sentar em uma mesa alta no canto de sua
varanda, em vez da sala de jantar que ele havia escolhido originalmente
para nós. Uma vez que ele acendeu a lâmpada de aquecimento, nenhum
de nós podia sentir o vento lá fora. A configuração não poderia ser mais
espetacular. E eu apreciei que ele não estava sentado longe, para que eu
pudesse absorver até os menores detalhes, apesar de já conhecê-los tão
bem.
— Estou, admito — eu disse a ele, olhando para o meu prato, onde
havia uma pequena quantidade de comida. — Só porque você come bem
e gosta de uma boa comida, não significa que você conhece uma cozinha.
— Eu ri enquanto pensava na habilidade de Ally de queimar quase tudo.
— Mas você sabe, e este jantar foi positivamente excelente.
Ele combinou o risoto de portobello com vieiras grelhadas e
berinjela assada e feijão verde. Eu comi quase toda a porção que ele
serviu. O fato de eu ter conseguido tanto me deixou incrivelmente feliz.
Mas foi muito mais profundo do que isso porque era uma refeição
que Jared tinha cozinhado só para mim.
Talvez as paredes dentro de seu apartamento estivessem faltando
fotos dele e de seus amigos, as superfícies sem artefatos pessoais que
me mostrassem um lado que eu ainda não tinha visto. Mas o que ele fez
em sua cozinha era algo que eu não seria capaz de sentir em uma
fotografia e isso significava mais para mim do que qualquer coisa.
— Obrigado. — Ele ergueu a taça de vinho e a levou à boca.
— Aqui é lindo. — Olhei para a varanda onde havia vários sofás e
uma TV. — Esta é sua única casa ou você tem outras?
Nós nunca discutimos dinheiro. Eu sempre presumi que ele era
bem-sucedido, mas isso não foi confirmado até hoje.
Eu amei isso.
A humildade era tão rara hoje em dia.
— Tenho uma casa em Aspen.
Tomei um gole do meu vinho. — Eu nunca esquiei para o oeste.
— Não?
Eu balancei minha cabeça. — Por toda a Nova Inglaterra. —
Quando seu sorriso começou a crescer e não caiu, acrescentei: — Tenho
a sensação de que sei o que você vai dizer e minha resposta ainda é não.
Ele mordeu o lábio. — Tentei.
Mesmo que agora ele estivesse olhando para o céu noturno,
continuei a olhar para ele, tentando ler sua expressão, entendendo o
mistério por trás daqueles olhos escuros.
— Eu tenho que te fazer uma pergunta. — Esperei que ele olhasse
para mim novamente antes de dizer: — Sua empresa obviamente está
indo muito bem e tenho que assumir que uma empresa do seu tamanho
tem um jato.
Seu rosto não mudou. Seu olhar nem se intensificou.
— Acho que o que estou perguntando é, por que você não estava
em seu próprio avião naquele dia?
Eu não tinha percebido que a pergunta seria tão difícil. Que a
resposta pode mudar tudo, e eu não gostei nada disso.
Ainda segurando seu vinho, ele virou o caule em sua mão, olhando
para as ondas cor de vinho antes de olhar para mim. — O jato da
empresa não estava disponível. — Ele colocou a bebida na mesa, sua
mão indo para minha coxa, seu polegar roçando o centro dela. — A
primeira classe estava esgotada e o assento 14B era o único que restava
com espaço extra para as pernas.
Eu coloquei minha mão em cima da dele, travando meus dedos no
lugar. — Estou muito grata por isso.
CAPÍTULO CINQUENTA E UM

JARED

Meus olhos se abriram como na faculdade quando ouvi alguém


tocar a maçaneta da minha porta. Da mesma forma que eles tinham feito
nos meus primeiros apartamentos antes que eu pudesse pagar um
prédio como o que eu morava agora. No segundo que alguém estava no
meu espaço, um alarme disparou na minha cabeça.
Foi o que me tornou perfeito para o meu trabalho.
O que me surpreendeu esta noite foi que eu tinha adormecido. Eu
não tinha pensado que isso aconteceria enquanto Billie estivesse aqui.
Eu nunca trouxe mulheres para minha casa. Mas quando finalmente
chegamos na minha cama, depois de um longo jantar, vinho na lareira e
sexo no chão em frente a ela, eu estava tão cansado.
Billie Paige me fez dormir.
Um conceito que era tão fodido quanto tê-la aqui.
Exceto que ela não estava exatamente aqui – pelo menos, não na
minha cama. Eu soube disso no minuto em que acordei sem ter que
estender a mão por cima do colchão. Sua ausência foi uma das razões
pelas quais eu tinha acordado em primeiro lugar.
Sentei-me alguns centímetros e ajeitei o travesseiro, vendo que a
porta do banheiro estava aberta e a luz apagada. Ela não estava aqui,
então peguei o tablet na mesa de cabeceira. Eu imediatamente a vi no
feed. Ela tinha colocado a camisa que eu estava usando mais cedo e
estava andando pelo corredor, longe do meu quarto. Seus pés estavam
descalços, seu longo cabelo escuro balançando sobre a parte de trás da
camisa azul-clara.
Quando ela alcançou a primeira porta, fez uma pausa. Era meu
escritório em casa e ela acendeu a luz. Ela não se moveu da entrada,
apenas inclinou o ombro na moldura e olhou para dentro. Havia um
diploma na parede junto com várias conquistas e artigos emoldurados
sobre a Morgan Security. No centro havia uma escrivaninha com várias
gavetas, com papéis que eu não podia deixá-la ler.
Depois de alguns segundos, ainda congelada no mesmo lugar, ela
apagou a luz e continuou andando pelo corredor.
A mesa estava trancada. Eu não era um amador. Mas o fato de ela
nem ter entrado no meu escritório se tornou uma das coisas mais sexy
sobre ela.
Quando ela foi para a cozinha, eu deslizei para fora da cama e
coloquei uma cueca boxer, seguindo o som dela. Quando cheguei, ela
estava de pé na frente da geladeira aberta, o peso se deslocando entre
os dois pés.
— Deixe-me ajudar — eu disse quando cheguei mais perto,
sabendo que ela ainda não tinha me ouvido. Ela não teve a chance de se
virar antes que eu tivesse um braço em volta de seu umbigo, meu rosto
em seu pescoço. — Mmm, você cheira bem.
O creme de manteiga era tão forte em sua clavícula e era isso que
eu estava desejando. Eu rapidamente a virei, minhas mãos indo para sua
bunda e a levantei para a ilha. Deixando-a lá por apenas um segundo,
peguei a sobremesa e trouxe para ela. Cortei o barbante que o prendia e
levantei as abas da caixa.
Biscoitos. Vários tipos diferentes e eu sabia o que ficaria perfeito
com eles.
— Excelente escolha — eu disse a ela quando encontrei uma
colher e um pouco de sorvete de baunilha.
— Isso é rainbow chip14. — Ela estava olhando para o que estava
na minha mão.
Com a caneca aberta, peguei um pouco no meio do biscoito e
estendi para ela. Em vez de pegá-lo da minha mão, ela se abaixou e
cercou a borda com os lábios.
Ela estava sem maquiagem. Tudo tinha passado no chuveiro
quando eu a carreguei para lá depois que fizemos sexo perto do fogo.
Seu cabelo tinha secado bagunçado.
Ela nunca esteve mais linda.

14
Cobertura de chips de arco-íris
Um deleite mágico que normalmente é comido em bolos, mas é simplesmente delicioso sozinho.
Enquanto ela mastigava, eu me aproximei, roçando minha boca na
dela e então lambi o local onde havíamos nos tocado. Uma pitada de
baunilha provocou minha língua.
Peguei um biscoito que parecia uma mistura de Oreo e gotas de
chocolate, adicionei sorvete e estendi na mesma direção de antes.
Sua boca se abriu novamente e com seus olhos não deixando os
meus, ela deu uma mordida.
Era tão bom vê-la comer sem hesitação. Mastigar e engolir sem
parecer que ela estava forçando.
— Billie... — Eu rosnei quando seu olhar se aprofundou,
colocando o biscoito na mesa.
Minhas mãos voltaram para sua bunda e eu a puxei para a borda
onde ela estava montada no balcão. Eu estava bem na frente dela e
desabotoei os quatro botões mantendo sua camisa fechada, observando-
a se abrir.
— Tão linda. — Eu segurei seus seios, polegares roçando seus
mamilos endurecidos. — Você quer que eu te beije, Billie?
Sua reação foi lenta, mas clara.
— Onde?
Mais cedo esta noite, eu tinha sido egoísta. Eu não beijei todas as
manchas em seu corpo que ela precisava. E mesmo que ela tivesse
gozado várias vezes, não fui devagar.
Agora, eu iria.
Sua mão se levantou do balcão, pousando em seu umbigo,
abaixando até parar entre suas pernas. — Aqui.
— Exatamente o que eu queria — eu respondi e foi lá que
coloquei meus lábios, chupando seu clitóris em minha boca.
Seus dedos estavam dobrados ao redor da borda da pedra e ela
estava olhando para baixo em suas coxas, um olhar que não estava se
movendo do meu. Então, enquanto ela me observava lambê-la para
frente e para trás, eu dei a ela dois dos meus dedos, empurrando-os para
dentro dela, curvando-os para alcançar aquele ponto que a faria gritar.
Não demorou muito para que isso acontecesse.
Dentro de algumas voltas do meu pulso, usando uma pressão mais
forte com a minha língua, eu a senti começar a se contrair.
Ela agarrou meu cabelo, puxando-o da raiz enquanto gritava: —
Jared!
Sua barriga estremeceu, eu continuei a lamber trazendo-a direto
através do corpo e muito além dela. E quando eu soube que seu corpo
ficou tão sensível, eu levantei e circulei suas pernas em volta da minha
cintura. Meu pau empurrou minha cueca boxer, me posicionando
perfeitamente.
Agarrei seu rosto com as duas mãos, segurando-a enquanto a
beijava. Eu podia sentir o prazer ainda se espalhando por ela enquanto
cada uma de suas respirações continuava a terminar em um gemido.
Quando finalmente me afastei, mantive meus dedos no lugar e
olhei em seus olhos. — Existe uma razão para eu precisar usar
camisinha?
Eu tinha colocado uma mais cedo, mas se eu não tivesse que deixá-
la agora, eu não queria.
— Não.
Eu lhe dei a mesma garantia. Então, larguei minha boxer e
imediatamente afundei em seu calor. — Maldição — eu assobiei, seu
aperto e umidade me engolindo.
Minhas mãos caíram e eu belisquei seus mamilos no meu caminho
para sua bunda, onde eu cavei em sua bochecha. A outra mão foi para
seu clitóris, que eu esfreguei enquanto movia meus quadris para frente
e para trás.
Ela se agarrou aos meus ombros, respirando em meu pescoço,
suas pernas me agarrando com tanta força que eu poderia levantá-la do
balcão.
— Oh meu Deus — ela gemeu, sua cabeça caindo para trás.
Ela começou a se mover comigo, usando os braços para balançar
o corpo. Eu a encontrei no meio, rangendo meus dedos simultaneamente
para que ela pudesse sentir a combinação de ambas as sensações.
Respirações estavam batendo por meus lábios enquanto ela ficava
mais molhada, e depois de cada estocada, ela ficava mais alta. Seu clitóris
estava endurecendo e eu sabia que ela estava tão perto.
Suas unhas apunhalaram minha pele quando senti uma pulsação
dentro dela e sabendo que ela estava se perdendo, eu a soltei.
Estávamos perdidos ao mesmo tempo e eu gemia — Billie — de
novo e de novo enquanto riachos saíam do meu corpo.
Ela empurrou seus quadris, me esvaziando até o ponto onde eu a
agarrei e a segurei com tanta força. Meu rosto foi para o lado de seu seio,
onde recuperei o fôlego. Senti seu coração bater abaixo de mim, seu
peito arfando. Suas mãos passaram de agarrar meu cabelo para correr
por ele.
Acabei de assimilar.
Todo momento.
E quando finalmente olhei para cima, olhei nos olhos dela e disse:
— Venha para a cama comigo?
Um sorriso surgiu lentamente em seus lábios. — Eu adoraria.
CAPÍTULO CINQUENTA E DOIS

HONEY
INVERNO DE 1986

— Desligue — sussurrou Honey quando Andrew entrou na porta


do banheiro e acendeu a luz.
Ele tinha acabado de chegar do aeroporto Logan depois de uma
conferência de três dias em Atlanta. Honey deveria estar animada para
vê-lo.
Ela não estava.
— Desligue isso? — ele perguntou, ignorando o pedido dela.
Quando ele entrou no banheiro, ela ergueu o braço, protegendo-
se do brilho da luz. Não tornava o assento do vaso mais confortável, o
local onde ela descansava o rosto a maior parte do dia.
Sua pele cheirava a vômito e o movimento enviou-lhe aquele
cheiro, fazendo-a engasgar. Ela estava esperando que nada saísse.
Desta vez, foi apenas cuspe.
Ainda assim, doeu.
Tudo doeu.
— Baby — Andrew disse, agora ajoelhando ao lado de Honey —
você está bem? Isso é apenas enjoo matinal?
Quando era muito doloroso manter a cabeça erguida, ela a apoiava
no assento como estava fazendo agora, alternando as posições para que
a cerâmica acabasse por esfriar seu rosto novamente. Ela só podia ficar
de pé por um certo tempo antes que a podridão voltasse, e então ela
ficaria de boca aberta e vomitando.
Seus olhos estavam queimando, embora ela não pudesse ver a luz.
— Não.
— É a gripe? — A mão dele estava nas costas dela, mas ele a
moveu para a testa e depois para o lado do pescoço. — Você não está
com temperatura alta. — Ele virou o rosto dela, levantando seu braço,
abrindo suas pálpebras. — Inchado e vermelho, mas claro. — Seu olhar
se aprofundou. — Honey, o que há de errado?
A mão dele caiu e, quando alcançou sua barriga, ela a afastou com
um tapa. Então, ela se inclinou na cerâmica e a bile começou a sair de
seus lábios.
Andrew afastou o cabelo do rosto de sua esposa e, com a voz mais
suave, disse: — Vai diminuir quando colocarmos algo em seu estômago.
A razão pela qual você está tão enjoada é...
— Não. — Seu rosto estava agora apoiado no assento de cerâmica,
mas ela virou a cabeça para olhar para ele.
A parte de trás de sua garganta queimava, sua língua parecia
quase grossa demais para falar. Durante cada respiração, Andrew
esfregava um círculo nas costas de Honey, cada arco de seus dedos
fazendo com que ela se sentisse mais enjoada.
— Andrew... — As lágrimas estavam tomando conta dela agora e
ela as sentiu passar por seu peito e em seu estômago. — Ele se foi. —
Sua mão foi sobre sua boca logo antes que ela sufocou um soluço.
Ele procurou seus olhos, apertando sua bochecha. — Não, querida.
Não por vomitar. Não pode acontecer assim.
Parecia que o peito de Honey estava rachando no centro. Ver os
olhos dele fez o rompimento de sua pele doer ainda mais.
— Não aconteceu por vomitar, Andrew.
A dor atravessou seu rosto tão rápido quanto uma bala.
Honey não apenas viu, ela sentiu.
E quando isso aconteceu, sentiu a mesma coisa de quando ela
esteve no consultório do médico esta manhã.
Ele ainda esfregou, mas seus círculos ficaram mais fortes e mais
rápidos. — Tenho certeza de que foi apenas uma mancha. Não há motivo
para pânico.
— Andrew... — Honey ofegou, a queimação em sua boca se
tornando muito. — Dr. Katz confirmou.
De repente, houve silêncio.
— Meu amor — ele disse tão suavemente e sua cabeça caiu.
Honey quis gritar com o gemido mais alto, mas se conteve e seu
corpo tremeu com isso.
— Por que você não me ligou, baby? — Seus dedos se moveram
para a parte de trás de sua cabeça.
— Você estava no aeroporto.
Ele gentilmente a levantou para longe do vaso sanitário e a puxou
em seus braços, segurando-a contra seu corpo enquanto ele balançava
para frente e para trás.
— Eu estava andando — ela sussurrou, seu rosto escondido entre
o ombro e o pescoço dele. — Apenas saindo para tomar um ar fresco. —
Ela contou a história ao Dr. Katz porque precisava saber se havia feito
algo errado. Agora, ela estava contando ao marido porque queria que ele
soubesse como seu corpo falhou com eles mais uma vez. — Algo parecia
errado. — Ela balançou a cabeça no pouco espaço que tinha. — Como se
eu tivesse me molhado... — Ela o abraçou com tanta força, ela sabia que
o estava fazendo tremer. Mas ela tinha que continuar e esta era a
maneira que ela tinha que fazer. — Eu estava a um quarteirão do
consultório do Dr. Katz. Eu fui lá. — Ela queria tanto olhar para o marido,
mas não conseguia. Ela não podia ver os olhos dele ao mesmo tempo que
sentia o vazio em sua barriga. — E foi aí que ele me disse... que eu tinha
abortado e tive um D e C15.
Ela não disse nada a Andrew sobre o depois. A parte em que suas
roupas estavam ensanguentadas demais para serem usadas em casa e
as enfermeiras a ajudaram a cobrir com roupões e uma a levou ao
apartamento deles. Como ela tomou banho e viu a banheira branca ficar
rosa.
Ela não disse nada sobre voltar ao chão do banheiro, um lugar que
ela conhecia muito bem, um canto onde ela balançou por muitos, muitos
meses.
— Eu te amo.
Ela esfregou os olhos sobre ele, sentindo o tecido de sua camisa
ficar encharcado.
— Nós vamos passar por isso.
As enfermeiras e o médico disseram que abortos espontâneos
eram comuns.

15
Dilatação e Curetagem.
Mas para Honey, era apenas um lembrete de que seu corpo não
poderia ter um bebê.
— Eu prometo.
Essa foi a última coisa que ele disse a ela naquela noite.
Foi também a primeira vez que ela duvidou dele.
CAPÍTULO CINQUENTA E TRÊS

BILLIE

O toque do meu telefone foi o que me acordou de um sono


profundo. Rolei para longe de Jared, certificando-me de que o som era o
que eu havia programado especificamente para meu pai e quando o ouvi
novamente, me levantei. Segui o barulho até encontrar meu telefone a
vários metros de distância no chão.
— Oi, pai — eu sussurrei, segurando meu celular contra meu
ouvido. — Está tudo bem? — Eu não queria acordar Jared, então fui na
ponta dos pés até o banheiro dele e fechei a porta atrás de mim.
— Honey, são onze da manhã. Por que não estaria tudo bem?
Onze?
Apertei o botão da tela inicial onde mostrava a hora e vi que ele
estava certo.
Jared baixou seus Blackout Shades16 antes de irmos para a cama,
mas eu nunca pensei que dormiria tão tarde novamente. Não quando, na
maioria das manhãs, eu acordava muito antes do sol. Onze era a hora
que meu pai ligava todas as manhãs quando estava voltando da
academia para casa.
— Como está Peter? — Eu perguntei, referindo-me ao seu
treinador.
Enquanto meu pai respondia, me contando as últimas fofocas que
circulavam no ginásio, eu andava entre o chuveiro e o banheiro de Jared.
Durante cada viagem, via meu reflexo nos espelhos acima da pia. Ally
ficaria tão orgulhosa. Eu parecia recém fodida. E eu certamente estava.
— Você vai poder voltar para casa?

16
blackout Shades são ótimos tons de escurecimento de janelas que são ideais para quartos, salas de
mídia e berçários para bebês.
E então esse pensamento foi completamente drenado da minha
cabeça, o som da pergunta do meu pai me fazendo parar na frente do
chuveiro.
Casa.
— Pai... — Eu balancei minha cabeça, segurando a maçaneta da
porta do chuveiro, sabendo o que ele estava realmente perguntando. Ele
simplesmente não precisava dizer todas as palavras. — Claro que
estarei aí.
Ele suspirou. — Só não queríamos colocar muita pressão em você
para nos visitar depois de tudo o que aconteceu.
Fui até a pia e coloquei minha bunda contra o balcão. — Não é
pressão nenhuma.
— Eu posso ir buscá-la se isso tornar as coisas mais fáceis.
— Não, pai. — Envolvi um braço em volta da minha barriga nua.
A última coisa que eu queria era que ele saísse do seu caminho e vir me
pegar seria exatamente isso. — Eu não preciso de uma carona. Por favor,
não se preocupe comigo.
— Tudo bem, menina. Eu te ligo amanhã.
Eu sorri. — Eu sei.
Nós nos despedimos e eu usei o banheiro, lavando minha boca
antes de voltar para a cama de Jared. Ele se mexeu quando eu subi e eu
pressionei meu rosto em suas costas, abraçando meu braço ao redor de
seu peito.
— Não se levante.
Ele riu, uma risada profunda da manhã. — É tarde demais para
isso.
— Você vai morrer quando eu disser que horas são.
Ele não tinha um relógio em seu quarto. Foi uma das coisas que
notei quando entrei na cama dele. E com as cortinas fechadas, a menos
que ele verificasse seu telefone, não havia como ele saber.
— São onze.
— Jesus Cristo.
Eu ri, beijando entre seus ombros. — Isso deveria ser um inferno,
sim.
Sua mão foi para a minha e ele se virou de costas. Ele pressionou
algo na mesa de cabeceira. Uma pequena luz no teto acendeu, dando a
quantidade perfeita de brilho para nos vermos.
— Tudo certo?
Eu balancei a cabeça. — Era apenas meu pai.
Seu dedo foi para o meu queixo e lentamente desceu pelo meu
peito até que descansou no meu quadril. — Qual é a sua opinião sobre o
café da manhã?
Arrepios cobriram minha pele e eu achei difícil inalar. — Seria
necessário ir embora?
Ele traçou mais baixo, descendo para a minha coxa. — Não
precisa.
— Então, que tal encontrarmos algo na sua geladeira para fazer,
então nenhum de nós tem que se vestir?
— Eu gosto daquela ideia.
Sorri e comecei a me levantar da cama.
Sua mão apertou ao meu redor, me puxando para seu peito. —
Ainda não. — Seus lábios estavam no topo da minha cabeça. — Eu
preciso de um minuto de você assim.
Eu estava deitada em seu peitoral e no pedaço de cabelo que os
cobria, e não senti nada além do cheiro dele. Meus olhos se fecharam. —
Eu poderia adormecer de novo.
— Eu também.
Eu sabia que deveria levar novos relacionamentos devagar,
mantendo certas coisas para si mesmo até que fosse o momento certo
de dizê-las. Mas quando você estava em um avião que caiu e foi um
milagre você e o homem que estava abraçando terem sobrevivido, essas
regras não se aplicavam mais.
— Jared — eu disse, olhando para cima, para que meus olhos
estivessem nos dele — eu poderia ficar assim para sempre.
Suas mãos cercaram meus lados e ele me puxou para cima de seu
corpo até meus lábios estarem nos dele.
E seu beijo foi melhor do que qualquer resposta que ele poderia
ter me dado.
CAPÍTULO CINQUENTA E QUATRO

JARED

Assistir a cura de billie foi uma jornada, uma que eu me recusei a


me apressar, então dediquei meu tempo para conhecer essa mulher
linda. Aprendi as diferentes curvas de seu sorriso e a maneira como ela
reagia quando eu beijava todas as manchas de seu corpo. Aprendi as
coisas que a entristeciam, os assuntos que realmente a faziam comer.
E saboreei cada segundo.
Você vê, o tempo era algo que quase foi tirado de nós, e agora,
estávamos passando a maior parte dele juntos.
Nós nos movemos rápido e eu até conheci Ally.
Quando nós três nos afastamos daquele jantar que tivemos juntos,
eu sabia que Ally achava que eu era o homem mais perfeito do mundo
para sua melhor amiga.
Eu desejei como o inferno que isso fosse verdade.
Eu queria que fosse.
Eu queria ser tudo que Billie precisava.
Eu queria ser o fim dela.
Mas isso nunca poderia acontecer. Era aí que o tempo estava
trabalhando contra mim. Não importa o que aconteça, essa sempre seria
uma situação temporária que nunca poderia se tornar permanente.
Então, fiz questão de me envolver em cada momento que passamos
juntos, da mesma forma que estava fazendo agora, agarrando sua
cintura enquanto caminhávamos pelo SoHo.
O ar estava fresco para a primavera, mas nós dois queríamos estar
do lado de fora. Havia um café na minha outra mão, um chá na dela.
Passamos a manhã cozinhando no meu apartamento e saímos para fazer
algumas compras. Não é minha coisa favorita, mas eu aprendi que era a
dela, e eu gostei da parte em que pude vê-la modelar as roupas.
Não estávamos a um quarteirão da minha casa quando ela me
levou a uma butique. Eu conhecia bem a loja, nós fomos várias vezes.
Quando ela me trouxe para dentro, presumi que ela iria para a seção
feminina, mas em vez disso, ela foi para a masculina. Eu a segui até uma
mesa de gravatas onde ela estava passando os dedos por elas.
— Pare.
Ela olhou para mim e eu acenei em direção ao que sua mão estava.
— É afiado.
Ela sorriu enquanto segurava a gravata listrada em preto e branco
em sua mão e então ela a colocou contra meu pescoço, mantendo-a la
enquanto ela olhava para mim. — Está perfeito.
— Para que?
Seu sorriso ficou ainda maior. — Próximo fim de semana.
Eu alcancei sua cintura em algum momento, segurando-a
enquanto ela colocava a gravata em mim. Agora, meu aperto estava
ameaçando apertar como a porra da minha mandíbula estava fazendo.
— Qual é o próximo fim de semana, Billie?
— Eu estou indo para casa para uma visita e eu estava esperando
que você viesse comigo.
Toda vez que ela mencionava deixar a cidade para esta viagem – e
neste ponto, tinha sido algumas vezes – eu não gostava.
Aqui, eu poderia protegê-la.
Aí não consegui.
Mas esta foi a primeira menção de eu ir com ela e seu rosto me
disse que ela queria mais do que tudo.
Ela tirou a gravata de mim e a colocou em seu braço de uma forma
que deduziu que ela iria comprá-la. — Vai ser divertido. Minha família é
incrível e eles estão morrendo de vontade de conhecê-lo. Eu prometo,
você terá um momento maravilhoso.
Ela me contou tudo sobre eles.
Eu sabia seus nomes. Ocupações. Hobbies.
Eu até sabia os nomes dos familiares que haviam falecido.
Quando Billie olhou para mim para lhe dar uma resposta, ela
olhou com tanta adoração em seus olhos. Tanta emoção. Comigo, aquela
garota não conseguia esconder seus sentimentos, não importa o quanto
ela tentasse. Ela mostrou tudo e eu devorei cada maldita expressão.
Foi por isso que me matou dizer: — Não posso. — Quando a
decepção apareceu em seu rosto, acrescentei: — Eu ia contar a você
sobre a festa que tenho que ir no próximo sábado. Simplesmente
escapou da minha mente.
Ela não disse nada.
— Você sabe que eu não perderia a chance de conhecer sua
família a menos que fosse extremamente importante. — Suspirei. — Eu
sinto muito. — Minha mão apertou com mais força, o que ela tomaria
como um pedido de desculpas.
E foi... por mentir.
Eu estava olhando para a mulher com quem me importava tão
profundamente, dizendo palavras que não estavam perto da verdade.
Essa era minha nova realidade.
O jeito que eu escolhi viver até que ela me desprezasse.
— Está bem. — Sua mão foi para o meu peito, onde ela a manteve
perto do meu coração. — Você sabe que eu entendo, Jared. Eu costumava
ser da mesma maneira sobre o trabalho.
Ela não concordou em voar, mas estava começando a se abrir para
a ideia.
Fazia seis meses desde o acidente. Eu considerei esse progresso
além do peso que ela ganhou, dando a ela o corpo que eu admirava no
avião.
Ela estava quase lá.
Foi nisso que me concentrei para manter meu batimento cardíaco
estável e então perguntei: — Como você vai chegar em casa?
Ela tomou um gole de seu chá. — Vou alugar um carro e dirigir.
— São umas boas seis horas se você não pegar nenhum trânsito.
— Coloquei meu café na mesa e peguei meu telefone para enviar uma
mensagem para minha assistente. — Eu vou pedir para Tony levar você.
— Não seja bobo, Jared. — Ela colocou a mão no meu pulso, me
impedindo de digitar. — Sou totalmente capaz de dirigir até o Maine.
Meus dentes rangeram novamente. — Deixe-me pelo menos dar-
lhe o meu carro. — Eu guardei meu telefone, meus dedos indo para o
rosto dela. — Diga sim — eu rosnei, olhando para seus lábios — porque
eu não vou deixar você dizer não.
Ela sorriu através do meu aperto. — Sim.
— Bom. Então, está resolvido.
Exceto que nada estava.
Nem uma maldita coisa.
CAPÍTULO CINQUENTA E CINCO

HONEY
INVERNO DE 1987

— Nós temos uma resposta — Dr. Katz disse ao casal enquanto


estava no final da cama de hospital de Honey.
Várias horas atrás, o médico havia concluído a cirurgia
exploratória abdominal de Honey, o teste final que precisava ser
realizado para que pudessem descobrir o que estava errado. Quando
Honey estava fora de recuperação e colocada em uma sala privada, ela
esperava ansiosamente que o médico lhes desse suas descobertas.
Infelizmente, ela teve outra cirurgia, então o casal teve que esperar para
ouvir a notícia.
Honey prendeu a respiração enquanto o Dr. Katz olhava para o
prontuário em suas mãos. — É endometriose.
Honey sentiu o aperto da mão de Andrew enquanto ele segurava
seus dedos e todos os medos que ela teve foram confirmados. Esta foi a
razão pela qual ela levou tanto tempo para engravidar, porque ela
abortou depois de oito semanas.
Se seu marido não fosse médico, ela provavelmente não teria feito
nenhum desses exames. Mas quando as coisas começaram a ficar mais
difíceis para Honey a cada mês, ela decidiu que precisava de respostas.
E Andrew lutou para consegui-las para ela.
Enquanto Honey passava por todas as rodadas de testes, ela fez
sua pesquisa, indo à Biblioteca de Portland e aprendendo tudo o que
podia sobre infertilidade feminina. Ela descobriu que não havia muita
informação sobre o assunto, mas havia o suficiente onde ela sabia o que
estava enfrentando.
Endometriose era um termo que aparecia com frequência.
Não havia cura e ela sabia que isso significava que a chance de
engravidar era pequena.
— Não é a pior notícia — disse o Dr. Katz. — Mas certamente
apresenta alguns desafios. Vou fazer você se curar e vir ao escritório na
próxima semana, para que possamos discutir as coisas. — Ele colocou a
mão no pé de Honey, que estava coberto com o cobertor. — Certifique-
se de descansar um pouco.
— Ela não vai levantar um dedo — disse Andrew.
Dr. Katz assentiu. — Se você precisar de alguma coisa, você tem o
meu número de casa.
— Obrigada — Honey respondeu suavemente, e ela viu o médico
sair de seu quarto.
Andrew estava sentado na cadeira ao lado da cama de Honey e
apertou seus dedos até que ela finalmente olhou para ele. — Você vai
ser mãe.
— Por favor, não diga isso. — Ela levantou a mão com o IV e
cobriu a boca com ela.
— Você quer que eu diga que estou desistindo? Que eu não acho
que nossos sonhos acabarão se tornando realidade? Porque eu não vou
fazer isso, baby. — Ele beijou o topo de seus dedos. — Eu sempre serei
positivo e essa é uma das razões pelas quais você se casou comigo.
Honey parou de lutar contra as lágrimas e as deixou cair. — Eu só
quero um bebê. — Ela odiava que a podridão tivesse retornado ao seu
estômago. O vazio. O medo de saber que nada jamais encheria sua
barriga, que seria vazia e triste para sempre, a consumia.
Hoje doeu tanto quanto quando ela abortou.
Exceto que hoje, ela descobriu o quão quebrado seu corpo
realmente estava.
— Você terá um — disse ele, roçando os lábios sobre sua pele. —
Eu prometo.
Honey estava grata por ter um homem tão maravilhoso ao seu
lado. Alguém que acreditava nela com uma força que ela mesma não
tinha. Alguém que nunca perdeu a esperança.
Ela esfregou o polegar no rosto do marido e sussurrou: — Estou
tão cansada.
— Você quer que eu vá?
— Não.
Andrew se levantou da cadeira e subiu na cama de hospital de
Honey. Ele teve o cuidado de não tocar na barriga dela para não
atrapalhar nenhuma das incisões, e se acomodou ao lado dela. Com ele
ali, ela sentiu como se pudesse finalmente fechar os olhos.
— Você vai ser mãe — ele disse logo antes que ela adormecesse.
Ela estava muito grogue para responder, mas se ela tivesse
energia, teria discordado dele.
CAPÍTULO CINQUENTA E SEIS

JARED

Assim que olhei para o meu telefone, coloquei meu dedo no ar,
sinalizando que precisava de um minuto e saí. Assim que cheguei à
calçada, passei a tela e segurei meu celular no ouvido. — Billie.
— Oi.
Eu amei o som de sua voz. A simplicidade de sua saudação, mas
sempre cheia de tanta emoção.
— Você está se divertindo no Maine?
Várias pessoas passaram por mim e eu recuei até a beira da
calçada, ficando perto do prédio de tijolos.
— Foi um dia extremamente ocupado. É o que acontece quando
eu volto depois de muito tempo longe.
Ela saiu de Manhattan às cinco da manhã, pegando um dos meus
SUVs para o norte. Eu suspeitava que ela estaria amarrada com
obrigações familiares desde o momento em que chegou. Parecia que eu
estava certo.
Verifiquei meu relógio e fiz as contas, calculando que era depois
das dez da noite. — Você está em casa agora?
— Escondida na minha velha cama como se eu tivesse dezessete
anos novamente.
Minha mão foi para minha testa e eu a escovei pelo meu cabelo. —
Jesus, o pensamento disso é incrivelmente quente e extremamente
inapropriado.
Ela riu e então seu tom ficou sério. — Queria que você estivesse
aqui
— O mesmo.
Ela ficou em silêncio por vários segundos. — LA17 parece ocupada.
O tráfego na Franklin Street era de pára-choque com pára-choque.
A calçada estava igualmente lotada.
Todas as cidades tinham os mesmos ruídos, então ela não seria
capaz de dizer que eu estava realmente em São Francisco.
— Nada que eu já não estivesse esperando — eu respondi,
olhando para a entrada do Basil's, vendo as partes entrarem em fila para
fazer suas reservas.
Tudo por causa dela.
— Você vai conseguir descansar um pouco?
— Mmm — ela gemeu, e eu poderia dizer que ela estava
engolindo. Tive a sensação de que provavelmente era vinho. —
Certamente vou tentar.
— Vou mandar uma mensagem para você quando voltar para o
meu hotel. Se você estiver acordada, eu ligo.
Ela riu. — Você acha que uma conversa com você vai me relaxar?
Eu descansei a parte de trás do meu pé contra o prédio. — Depois
que eu lhe disser o que fazer com as mãos, não tenho dúvidas de que
você estará dormindo em poucos minutos.
— Vale a pena ficar acordada — ela disse, seu tom mudando mais
uma vez.
Sorri e voltei para a entrada. — Vou tentar encerrar as coisas aqui
o mais rápido que puder.
Eu disse adeus e voltei para a cozinha onde Marcus estava na
frente das bocas, trabalhando várias panelas no fogão a gás ao mesmo
tempo.
— O primeiro é um vodka sauce — disse ele no segundo em que
me juntei ao seu lado.
Uma panela de macarrão foi jogada no ar, o molho foi adicionado
de uma panela diferente e os dois foram combinados. Uma vez que o
ziti 18 estava bem encharcado, ele jogou um pouco da mistura em um
prato e deslizou para mim.
Peguei um garfo e esperei ele polvilhar o topo com queijo
parmesão ralado antes de enfiar vários macarrão na boca. Mastiguei a
17
Los Angeles.
18
O ziti é uma caçarola popular com macarrão ziti e um molho à base de tomate ao estilo napolitano,
característico da culinária ítalo-americana.
textura esponjosa, deixando o sabor assentar antes de sugerir: — Só um
pouquinho de sal.
Ele enfiou a mão em uma tigela ao lado do fogão, beliscou os
grânulos brancos e jogou alguns na frigideira. Ele virou o macarrão
várias vezes, combinando tudo e então me deu um novo prato.
Com um garfo fresco, dei uma mordida, seguindo o mesmo
processo, mantendo os olhos na comida. Quando engoli, olhei para cima
e sorri para meu amigo. — É perfeito.
— Sim?
Eu balancei a cabeça. — Adicione-o ao menu e me dê outro prato
agora mesmo.
Sua mão foi para o meu ombro, batendo com força com a palma da
mão. — Ainda não. Tenho mais alguns pratos para você experimentar.
Ele deu vários passos pelo balcão, pegando uma garrafa de vinho.
Ele serviu dois copos, me entregando um. Nós os brindamos e ambos
tomaram um gole.
— Era ela?
Olhei para ele, minhas sobrancelhas subindo. — Quem?
— A garota que você está vendo.
Marcus não era meu amigo mais antigo, mas ele estava por perto
desde a faculdade e isso foi há muito tempo atrás. Eu não discuti sobre
Billie com ele, mas não fiquei surpreso que ele pudesse dizer que eu
estava feliz.
— Eu sou responsável por colocá-la na cama — eu disse — então
vamos ter que encurtar as coisas esta noite.
Ele tomou outro gole, rindo. — Faça-me um favor. Não foda isso.
Eu gostaria de pelo menos tê-la aqui para o jantar.
Ele não tinha ideia do que estava dizendo.
Mas eu tinha.
E eu queria dizer a ele que era tarde demais para isso.
Mas era inútil porque eu tinha a sensação de que da próxima vez
que ele me perguntasse sobre a mulher que eu estava saindo, Billie já
estaria fora da minha vida.
CAPÍTULO CINQUENTA E SETE

HONEY
PRIMAVERA DE 1987

Honey não esperava se lembrar da última coisa que Andrew


dissera antes de desmaiar após a cirurgia.
Mas ela fez.
Toda palavra.
E na manhã seguinte, quando ela acordou, ele disse que poderiam
discutir seu diagnóstico quando ela estivesse pronta. Honey não estava.
Ela queria se curar e voltar ao trabalho e se sentir um pouco mais normal
antes que eles falassem sobre tudo que estava quebrado dentro dela.
Mas enquanto ela estava esperando para ter aquela conversa com
Andrew, suas palavras continuaram a assombrá-la e ela não foi capaz de
deixá-las ir.
Uma semana se passou e quando chegou a hora de ir ao
consultório do Dr. Katz, eles ainda não tinham conversado sobre isso,
mas seu ginecologista não precisava lhes dizer as dificuldades que iriam
enfrentar. Enquanto Honey olhava para ela, seus próprios olhos
mostravam como ela estava petrificada com esta jornada.
Quando o casal deixou o compromisso, Honey prometeu não
tomar nenhuma decisão ainda. Ela queria ver como seu corpo
responderia se ela deixasse cair todas as expectativas. Se ela se desse
liberdade para aproveitar as coisas novamente, para experimentar o
sexo quando não era apenas para fazer um bebê.
Mas quando três meses se passaram, mais três vezes olhando para
baixo e vendo vermelho, Honey estava pronta para falar com Andrew.
Ela esperou por ele no sofá, sabendo que ele a veria no segundo
em que abrisse a porta, abraçada sob uma manta que sua mãe tinha
tricotado.
Quando ele entrou depois de seu turno, ele ainda estava com a
maçaneta na mão quando disse: — O que você está fazendo acordada
tão tarde, querida? — Ele deixou sua pasta e jaqueta na porta e sentou-
se ao lado dela.
Honey apertou o cobertor ao redor dela. — Não consegui dormir.
A mão dele passou por baixo da manta e, quando encontrou os
dedos dela, inclinou-se e beijou-a.
Ela podia sentir o cheiro do hospital nele. Isso a fez amá-lo mais.
— Você nunca está acordada quando eu chego em casa deste
turno. — Seus lábios se moveram para a testa dela. — Diga o que se
passa.
Ela teve que desviar o olhar por um minuto. Seus pensamentos
eram muito pesados e confusos. Ela tinha planejado o que ela ia dizer,
ensaiado muitas vezes, especialmente considerando que ela estava
neste sofá por horas. Mas agora que ele estava aqui, as palavras não
vinham tão facilmente.
— Honey…
Ela estava olhando para a mesa de centro de vidro na frente deles.
Ela esperava que, um dia, estivesse coberto de pequenas impressões
digitais, as bordas afiadas precisando ser embrulhadas para que não
mostrassem nenhum olho, o vaso de cerâmica no meio removido para
que não ficasse ao alcance da mão.
Todos os problemas que ela rezava para ter.
Foi por isso que ela olhou para o marido, apertando as duas mãos
dele, e disse: — Acho que devemos adotar.
Ele a agarrou de volta e Honey viu a resposta antes de dizer: — Eu
também. Eu tenho pensado muito sobre isso e é realmente algo que eu
quero.
Seus olhos se encheram de lágrimas enquanto ela olhava para ele.
Ele ainda estava em seu uniforme e jaleco branco, cabelo um pouco
desgrenhado, uma escuridão sob seus olhos dizendo a ela que tinha sido
um longo turno. Mas ele a olhava com tanta paciência e amor.
— Andrew, não aguento mais a decepção. — Ela lentamente
tentou inalar, enchendo seus pulmões todo o caminho. — Todos os
meses, sem falhas, é como um relógio. Recebo três semanas de
esperança e depois uma semana de tortura e depois esperança e tortura.
Eu não aguento.
Ele soltou a mão dela para acariciar sua bochecha, seu polegar
acariciando suavemente a borda de seu olho, cada toque obtendo mais
da umidade que havia caído. — Eu não quero que você se sinta assim.
Nem agora, nem nunca. Você me ouve? — Ele pressionou sua testa
contra a dela apenas para se aproximar. — Eu quero te dar tudo que
você sempre sonhou, Honey, e eu quero receber toda a sua dor e
sofrimento em troca.
Com cada palavra que Andrew falava, as lágrimas de Honey
começaram a escorrer mais rápido, e ele continuou a pegar cada uma.
Ela o amava com uma intensidade que ela não sabia que existia.
Um sentimento que ia além das palavras.
— Então, nos dê um bebê — ela sussurrou. Ela se agarrou a ele
com uma força que ela teve que cavar. — Fazer de você um pai é a única
coisa que eu quero.
Andrew afastou a testa e colocou a mão sob a cabeça de sua
esposa, cuidadosamente deitando-a no sofá. Com uma ternura que um
marido só tinha por sua esposa, as mãos de Andrew moveram-se
lentamente pela barriga de Honey, acariciando as cicatrizes de sua
cirurgia antes de tirar suas roupas.
Honey fez o mesmo com o de Andrew, incapaz de chegar perto o
suficiente, seus dedos tocando cada centímetro de sua pele.
Quando os dois ficaram nus, fizeram amor.
Pela primeira vez desde que decidiram engravidar, não houve
pressão. Honey podia desfrutar de seus lábios em seu corpo e lembrar
por que eles estavam ali. Ela podia sentir um prazer que não
experimentava há muito tempo.
E aquela noite se transformou em uma das melhores que ela já
teve.
CAPÍTULO CINQUENTA E OITO

JARED

Voltei para Manhattan dois dias antes de Billie voltar do Maine.


Meu plano era passar o tempo todo no escritório. O trabalho tinha
sofrido desde que voltei toda a minha atenção para ela. Eu estava
delegando muitas das minhas responsabilidades, adiando as viagens
que precisava fazer apenas para que ela pudesse passar a noite em meus
braços.
Não duraria para sempre. Um dia, escolhê-la não seria uma opção.
Mas agora, ela era minha.
E era isso que eu dizia a mim mesmo toda vez que a escolhia em
vez do trabalho.
Com ela fora, isso me deu a chance de alcançá-la. Eu não tinha mais
de duas horas no meu dia quando um e-mail chegou ao meu telefone.
Veio da conta que tinha sua própria notificação especial, um som que me
fazia olhar para a tela, não importa o que eu estivesse fazendo.
Desta vez, o e-mail era da empresa de cartão de crédito,
informando que meu extrato estava pronto.
Era um cartão que não servia mais para nada.
Como a rede do meu escritório era a mais segura, usei meu
desktop para fazer login. Como o cartão não tinha saldo, entrei em
Configurações e encontrei o botão que encerrava a conta. Então, voltei
ao meu e-mail.
Guardados na caixa de entrada estavam todos os extratos mensais
que chegaram desde que o cartão foi aberto. Eles apresentaram saldo
zero, exceto por um mês.
Jatos da Embaixada, US$ 876
O custo total que paguei pelos assentos 14A e 14B.
Realmente, foi o custo que Marcus pagou porque o cartão estava
em seu nome.
Exceto que Marcus não sabia nada sobre nada disso.
E depois de hoje, eu ia apagar o histórico de seu crédito,
garantindo que ele nunca descobrisse. Não que ele o monitorasse ou
precisasse de acesso ao seu crédito. Eu era o financiador do Basil's, que
era a janela que eu precisava para montar tudo isso.
Limpei o resto da caixa de entrada, deixando apenas os vinte e seis
e-mails de Billie. Eram mensagens entre nós dois onde discutimos seus
serviços, o novo anúncio que ela estava promovendo após o acidente e
os relatórios que ela enviou para mostrar os resultados da campanha.
Todos foram endereçados a Marcus.
Cada resposta que eu enviava, eu fazia questão de assinar o nome
dele.
Ele não sabia de um único.
Por enquanto, a conta de e-mail permaneceria aberta, mas era
apenas uma questão de tempo até que ela fosse excluída também.
Minha vida com Billie Paige... apagada.
Como se ela pudesse sentir que eu estava pensando nela, meu
telefone se iluminou com a foto dela na tela. Isso me fazia sorrir toda vez
que ela ligava, da mesma forma que eu estava fazendo agora. Eu tinha
tirado a foto no mês passado quando ela estava olhando pela janela no
banco de trás do meu SUV, o sol começando a beijar seu rosto.
Agora, era um pedaço de tempo que eu ia guardar para sempre.
— Bom dia, linda — eu disse, segurando meu celular no meu
ouvido.
— Mmm — ela bocejou. — É tão cedo em LA, e você não parece
nem um pouco grogue.
Eu cerrei meus dentes e me levantei da minha mesa para
caminhar até a janela. — Estou acordado há horas. Você sabe que não
consigo dormir quando estou longe de você.
— Eu também não dormi bem. Talvez seja apenas energia
nervosa sobre hoje. Não sei.
Pressionei a palma da mão contra o vidro frio e olhei para a cidade.
— Fale comigo sobre isso.
— É apenas um longo e difícil acúmulo e, em seguida, muitas
emoções que se seguem. Não é assim toda vez que chego em casa, mas
este fim de semana é o mesmo todos os anos.
Fechei minha mão em um punho e pressionei meus dedos contra
a janela. Eu não deixaria minha mente ir para lá. Eu não iria deixá-la
processar o que ela estava falando. Eu não podia. Ou este telefonema
seguiria um caminho muito diferente.
— Eu odeio que você esteja sofrendo, Billie.
— Você me acalma. Eu sei que parece tolice, mas eu realmente
poderia usar um pouco disso agora.
— Estou aqui.
— Não, você não está.
Fechei os olhos e os mantive fechados, meus dentes roendo meu
lábio inferior.
E quando o silêncio realmente começou a aumentar, ela
acrescentou: — Eu não disse isso para fazer você se sentir mal. Eu disse
isso porque eu sinceramente gostaria que você estivesse aqui. Eu
preciso de você. Estou tão mal agora.
— Billie…
— Não se preocupe. Eu vou ficar bem.
Se eu pudesse, eu teria batido a porra da minha cabeça no vidro
até que a janela inteira se estilhaçasse. — Eu sinto muito
— Não sinta.
Eu podia sentir sua dor no ar.
Eu tinha que dizer alguma coisa. Eu tinha que melhorar isso de
alguma forma.
— Ei... — Meus olhos se abriram e eu olhei para os prédios à
minha frente. Eu não pisquei. Meu coração estava gritando. Se houvesse
uma lágrima neste corpo, eu a teria derramado. — Eu te amo.
Eu a ouvi respirar. Eu juro, eu podia até ouvir seus olhos se
fecharem.
— Eu também te amo.
Eu queria estar lá com ela, mesmo que fosse impossível.
Tudo sobre esta situação era impossível.
Mas eu a amava.
Eu não pude evitar.
— Estou aqui se você precisar de mim. Tudo bem?
— Eu sei. — A voz dela mudou. — Eu estava apenas dizendo ao
meu pai o quão incrível você é. — Ela respirou fundo e pude ouvi-la
tentar sorrir. — Ele está muito animado para conhecer o homem que me
faz tão feliz.
Minha mão achatada contra a janela. — Estou ansioso para
conhecê-lo... — Senti uma dor atravessar minha mandíbula enquanto ela
apertava e eu cravava a parte superior dos meus dedos na janela. Meu
peito estava prestes a explodir. — Eu tenho que ir. Eu te ligo mais tarde.
— Tchau — ela disse antes de eu colocar meu telefone no bolso.
De certa forma, desejei estar de volta ao voo 88.
Pelo menos no ar, eu só estava preocupado com a sobrevivência
dela. Eu não estava preocupado em destruir a porra do seu coração.
CAPÍTULO CINQUENTA E NOVE

HONEY
INVERNO DE 1987

— Eu não posso escolher um — Honey gritou enquanto Andrew


fazia cócegas nela do chão de sua sala de estar. — Você tem que tomar a
decisão. — Suas mãos se moveram para os lados dela, e a cada mudança,
ela gritava mais alto. — Eu recuso.
— Então, eu vou continuar fazendo cócegas em você.
— Nããão.
Mesmo que ela estivesse rindo em meio às lágrimas e se
contorcendo em todo o tapete, ela não queria que ele parasse. Foi por
isso que ela não disse a ele o filme que ela realmente queria assistir
quando era sua vez de escolher – o ponto que começou a guerra das
cócegas em primeiro lugar. Porque uma vez que Andrew obtivesse essa
resposta, ele colocaria o filme, e Honey estava gostando demais de sua
atenção para que isso acontecesse agora.
— Qual deles? — ele disse, seus lábios tão perto que ela podia
sentir o gosto do vinho neles.
O mesmo sabor estava em sua língua da garrafa que ela abriu mais
cedo. Fazia parte da programação que ela havia montado um piquenique
à tarde no chão de seu apartamento com cobertores e travesseiros
enquanto assistiam a filmes e ficariam preguiçosos o dia todo. Só que
agora que os créditos de Rocky IV tinham acabado de terminar, era hora
de tomar uma decisão.
— Ahhh! — Honey gritou quando suas mãos a penetraram,
aumentando a velocidade para fazê-la gritar o mais alto que tinha sido.
— Diz.
— Você vai odiar isso — ela chorou, incapaz de segurá-lo por mais
tempo.
Suas mãos suavizaram, o sorriso permanecendo em seu rosto. —
Me teste.
— Está entre dois — St. Elmo’s Fire e Footloose.
Andrew ficou perto de sua esposa, segurando-a em vez de fazer
cócegas, suas mãos nunca saindo. — Footloose. — Ele aninhou o nariz
na ponta do dela. — Porque você prefere ver um sobre o outro.
Ela só teria que caminhar até a TV, levantar a fita VHS da prateleira
embaixo dela e inserir o filme no videocassete assim que o filme anterior
fosse lançado. Mas em vez disso, ela colocou as mãos no rosto de Andrew
e o puxou para um beijo longo e profundo.
Seus dedos estavam começando a puxar a cintura dela quando o
telefone tocou.
Andrew e Honey tinham uma regra de que não importava a hora
em que uma ligação chegasse, eles sempre atendiam para o caso de ser
o hospital. Então, Andrew relutantemente tirou a boca de Honey e foi
para a cozinha onde o telefone estava localizado.
— Olá? — Honey o ouviu dizer ao telefone.
Ela observou o rosto do marido enquanto ele ouvia quem estava
falando e, depois de alguns segundos, ele disse: — Oi, Stephanie. Não é
problema. Não estamos ocupados agora.
Com os olhos fixos em Andrew, Honey tentou pensar em todas as
mulheres que conhecia chamadas Stephanie e só fazia sentido que uma
delas estivesse ao telefone.
Nossa advogada? Honey sussurrou.
Quando Andrew assentiu, ela saiu do chão e correu para a cozinha,
ficando ao lado dele enquanto ele segurava o telefone longe de seu
ouvido para que os dois pudessem ouvir.
— Não quero incomodá-lo no fim de semana — disse Stephanie
— mas tenho algumas notícias interessantes que acho que vão
desculpar minha interrupção e eu realmente quero dar a você
imediatamente.
A mão de Honey foi sobre sua boca, segurando os nervos que
agora estavam explodindo em seu estômago.
— Honey está aqui — disse Andrew ao telefone — e estamos
prontos para ouvir o que você tem a dizer.
Honey jurou que teve que esperar vários minutos antes que a
advogada falasse novamente.
Mas quando o fez, ela disse: — Encontrei um bebê para você
adotar.
Ela olhou para o marido incrédula. Eles só haviam se encontrado
com Stephanie há alguns meses, uma recomendação de um dos outros
médicos do hospital que tinha ouvido falar dela através de um irmão.
Como seu escritório ficava em Nova York, eles tiraram o dia de folga do
trabalho e dirigiram seis horas para o sul para vê-la.
Stephanie havia avisado o casal que poderia levar meses,
possivelmente até dois anos, antes que ela lhes encontrasse uma
criança. Ela queria que eles estabelecessem expectativas realistas,
então, quando Honey e Andrew saíram daquela reunião, eles tinham um
longo cronograma em mente.
Nunca imaginaram que isso aconteceria tão cedo.
— A informação que posso lhe dar até agora é que a mãe mora em
New Hampshire. Ela tem dezessete anos, aproximadamente dezoito
semanas. Falei com ela e com o pai várias vezes e ambos concordaram
em abrir mão de seus direitos paternos.
Andrew pegou a mão de Honey e ela apertou de volta.
— Eu sei que há perguntas que eu deveria fazer a você — disse
ele a Stephanie — mas eu não esperava que você ligasse e não tenho
nada preparado.
— Eu entendo — ela respondeu. — Notícias como essa podem ser
extremamente avassaladoras e continuarão sendo durante todo o
processo de adoção. Esta é a coisa mais emocional que você já
experimentou em sua vida.
Honey não conseguiu conter as lágrimas. Ela nem tentou. A
esperança que ela estava sentindo em seu coração a estava consumindo
de uma forma que ela sentiu que finalmente poderia respirar.
Andrew havia prometido a ela um filho. Ele nunca deixou de
acreditar.
E agora, estava se tornando realidade.
— Estamos prontos para isso — Honey respondeu, sua voz suave,
mas clara.
— Você estaria disponível para vir na próxima semana? —
Stephanie perguntou. — Precisaremos começar a papelada o mais
rápido possível.
Andrew verificou o calendário que Honey mantinha na cozinha,
que listava seus horários de trabalho e todos os eventos que eles tinham
que comparecer para o hospital.
Ele apontou para uma data e, quando Honey assentiu, ele disse: —
Que tal quinta-feira?
— Isso funciona.
Eles concordaram em um horário e, assim que desligaram, as
mãos de Andrew estavam nas bochechas de sua esposa, inclinando-as
para olhar para ele.
— Nós vamos ter um bebê — disse ela, a alegria se espalhando
por seu rosto.
Honey apertou seu peito, consumida pelo amor mais intenso por
ele e pelo pensamento desse bebê que eles criariam juntos.
— É isso — disse ele. — Eu posso sentir isso.
Tudo o que Honey pôde fazer foi assentir.
Porque em seu intestino, ela sentia a mesma coisa.
CAPÍTULO SESSENTA

BILLIE

Hoje foi o dia mais difícil do ano. Todos nós tínhamos uma — uma
lembrança de um certo período de nossa vida que revisitamos quando o
aniversário se aproximava.
A minha não era exatamente uma memória. Era um pouco mais
complicado do que isso, mas a data era 20 de maio. E todos os anos, eu
voltava para casa para passar com minha família, onde comemoramos
com risos, comida e bebida.
Afinal, a comida era como nos comunicávamos. A maneira como
mostramos nosso amor um pelo outro. Comida era o que abraçava e
escutava quando ninguém entendia nossa dor.
Haveria música tocando e luzes penduradas na varanda, baldes de
cerveja gelada por todo o quintal.
Seria uma festa e era assim que deveria ser.
E essa era a razão pela qual eu queria Jared aqui – para
comemorar com minha família, para finalmente conhecê-los.
Ele tinha que trabalhar e essa era uma desculpa razoável. Só não
tornou o dia de hoje mais fácil.
Porque, apesar de ser uma comemoração, hoje foi a minha luta.
A festa estava marcada para começar hoje à noite às seis. Alto-
falantes estavam posicionados ao redor dos arbustos, travessas de
comida esperavam na geladeira e caixas de cerveja e álcool ocupavam
um terço da garagem.
Tudo estava no lugar.
Simplesmente não era hora.
Agora que estávamos todos juntos de volta em casa e todos
estavam no andar de baixo, subi as escadas para um momento de
silêncio. Ainda usando meu vestido preto de mais cedo, caminhei até
meu antigo quarto, mas quando cheguei à porta, não parei. Continuei
pelo corredor até o quarto dos meus pais.
Parei por um segundo na porta deles, respirando fundo e então
me sentei do lado da minha mãe no colchão.
Esta foi a primeira vez que eu vim aqui desde que voltei para
Portland alguns dias atrás.
Não era um lugar que eu evitava. Passei muitas noites da minha
infância nesta cama.
Mas em 20 de maio, era um lugar difícil de se estar.
Inclinei-me para frente, pegando a foto emoldurada do criado-
mudo, segurando-a entre minhas mãos. Era uma foto dos meus pais no
dia do casamento. Minha mãe usava um vestido branco casual e meu pai
estava de terno preto.
Eles eram tão incrivelmente lindos juntos.
Segurei a moldura contra o meu peito e fechei os olhos enquanto
tentava me lembrar de cada detalhe que ele já me contou.
CAPÍTULO SESSENTA E UM

HONEY
INVERNO DE 1988

Honey estava na pia do banheiro, olhando para si mesma no


espelho. A garota olhando para ela era muito diferente daquela que
estava aqui quando ela foi morar com Andrew. Ela era ainda diferente
da garota que tinha agarrado a borda desta pia seis meses atrás.
Tudo em sua vida havia mudado.
Honey olhou para o anel de noivado e a aliança de casamento que
abraçavam o dedo da mão esquerda. Quando ela disse seus votos, ela
não tinha ideia do passeio que ela estava prestes a fazer com Andrew, as
experiências que eles iriam viver.
Que ingenuidade da parte dela pensar que as coisas seriam
simples.
Mesmo agora, enquanto olhava em seus olhos, ela via a situação
mais complexa de toda a sua vida.
Ela pegou sua escova de dentes, passou um pouco de pasta nas
cerdas e começou a escovar os dentes. Uma vez que ela enxaguou a boca,
esguichou um pouco de limpador na palma da mão e esfregou o rosto.
Quando ela estava limpa e se sentindo um pouco melhor, ela foi
para o quarto onde Andrew estava dormindo e subiu ao lado dele. Ela
descansou o rosto contra o ombro dele, absorvendo seu calor, fazendo
cócegas com as unhas para cima e para baixo em seu braço de uma
maneira que ele amava.
— Não pare — ele gemeu quando ela desacelerou em seu pulso.
Ela podia sentir os arrepios em sua pele, e isso a fez sorrir
enquanto coçava seu peito, mais inchaços crescendo enquanto ela
escorria por sua barriga e depois de volta para sua mão.
— Temos muito o que fazer hoje — ela o lembrou, já que era hora
de ambos se levantarem.
— Só mais alguns minutos. — Ele estendeu o braço sobre o corpo
dela, para que ela fizesse cócegas até a ponta dos dedos e depois até a
axila.
Ele era tão fácil de agradar. Se ela lhe trouxesse uma xícara de café,
ele estaria sorrindo o dia todo.
Ela tinha algo ainda melhor para lhe dar.
— Andrew, temos que ir às compras do berço.
Seu rosto estava coberto com um travesseiro, mas a penugem
branca se moveu quando ele virou o pescoço. — Você não gosta do que
compramos?
Ela se sentou, cruzando as pernas sobre a cama, ainda esfregando
as unhas no braço dele. — Eu amo aquele.
— Então, por que compraríamos um diferente?
Seus olhos se conectaram lentamente quando ele puxou o
travesseiro e ela disse: — Não é diferente, Andrew. Um segundo.
— Honey…
— Vá dar uma olhada no banheiro.
Ele se apressou para fora da cama e Honey o viu desaparecer pela
porta. Ela sabia que ele estava indo até o balcão onde ela havia deixado
um teste de gravidez, pegando-o nas mãos para ler os resultados na tela
da janela.
Sorrindo para o sinal de mais que estava bem no meio.
Honey soubera semanas antes que estava grávida. Ela já tinha
perdido seu período. Ela simplesmente não conseguia lidar com ver os
resultados ainda, então ela adiou até não poder mais.
Quando o marido dela apareceu novamente na porta, o cabelo
despenteado do sono, as marcas do lençol no rosto, ele disse: — Baby...
— tão baixinho.
Os olhos de Honey já estavam cheios de lágrimas, parando nas
bordas antes de rolar como barris gordos pelas colinas de suas
bochechas.
Ela acenou para ele e foi a melhor sensação.
Andrew se moveu tão rápido que ela mal o viu vir para a cama,
mas ela estava instantaneamente em seus braços, e ele a estava
segurando contra seu peito. O calor de sua pele era como um cobertor,
envolvendo-a neste ninho seguro e protegido.
— Oh Honey…
— Desta vez parece diferente — ela admitiu.
Ela não tinha certeza se deveria dizer isso em voz alta. Ela
certamente não queria azarar nada. Mas o que ela havia dito era
verdade. As coisas que ela havia sentido nos últimos dois meses eram
diferentes da vez anterior em que estivera grávida.
Uma de suas mãos desceu pelo corpo dela e parou quando
alcançou sua barriga. Seus dedos se abriram, e muito gentilmente, ele
esfregou pequenos círculos de bebê em seu umbigo. — Honey... — ele
disse tão suavemente.
Ela inclinou a cabeça para olhar em seus olhos. — Eu nunca pensei
que isso fosse acontecer.
— Eu fiz. — A expressão de Andrew suavizou quando ele a
apertou com mais força. — E eu acredito que tudo vai ficar bem. É
apenas algo que sinto no meu coração.
A Honey não sabia se ia carregar o filho até ao fim. Ela não sabia
se a mãe biológica mudaria de ideia sobre a adoção no último minuto.
Ela tinha tantas perguntas e nenhuma resposta para nada.
Mas uma coisa estava muito clara em sua mente.
— Eu acredito em você — disse ela.
CAPÍTULO SESSENTA E DOIS

BILLIE

Coloquei a foto do casamento dos meus pais de volta na mesa de


cabeceira, certificando-me de que estava no mesmo local em que estava
antes. Então, eu me levantei, lentamente fazendo meu caminho pelo
corredor. Passei novamente pelo meu antigo quarto e cheguei ao
patamar, desta vez virando na direção oposta, indo em direção ao
escritório do meu pai no final do corredor.
Onde alguns homens voltavam para casa depois do trabalho e
relaxavam em suas tocas, meu pai ia para seu escritório. Todo mundo
sabia que, se ele estivesse em casa, era onde você poderia encontrá-lo.
Era o único espaço em nossa casa onde ele podia realmente se
desconectar, embora ainda estivesse trabalhando quando estava lá.
Também aconteceu de ser onde eu passei a maior parte do meu tempo
quando criança.
Cobrindo as paredes aqui estavam fotos das viagens que fizemos
ao longo dos anos. Tínhamos ido esquiar e fazer caminhadas, fazer
cruzeiros e ir à Disney World. Havíamos viajado por todo o mundo. Em
quase todas as fotografias, havia algum tipo de comida em nossas mãos.
Tacos no México. Sopa de conchas em Key West. Gelato em Roma.
Falafel19 em Tel Aviv.
A cada foto vinha uma lembrança, uma atrás da outra, construindo
a base do que eu havia transformado em carreira.
E tudo isso foi por causa do meu pai.
Ele havia me ensinado tudo o que eu sabia sobre comida. Como
cozinhá-la, como usar minha língua para encontrar os ingredientes que
faltam, como realmente apreciar todos os diferentes sabores.

19
Falafel é um salgadinho originário do Oriente Médio. Consiste em bolinhos fritos de grão-de-bico ou
fava moídos, normalmente misturados com condimentos como alho, cebolinha, salsa, coentro e
cominho.
Eu devia meu paladar a ele.
Eu estava tão perto de conseguir tudo de volta. Eu só não estava
lá ainda.
Continuei andando pelo escritório dele, meus olhos vagando pela
linha do tempo de instantâneos, os diferentes penteados e roupas que
usei ao longo dos anos. Acabei no armário no canto mais distante de seu
quarto, e algo me fez abrir a porta estreita e puxar o cordão para acender
a luz do teto.
Meu pai havia convertido o armário em depósito, construindo
prateleiras nas três paredes. Assim que entrei, fui imediatamente para a
esquerda, pegando o grande caixote de plástico no fundo. A tampa
estava desgastada porque havia sido aberta e fechada centenas de vezes
ao longo dos anos.
Levei a lixeira até a mesa de papai e a coloquei em cima, sentando
em sua grande cadeira de couro. Eu normalmente repassava o conteúdo
durante o último dia da minha viagem, nunca no dia 20 de maio.
Este dia foi muito difícil.
Mas algo me fez olhar para a tampa, realmente estudando o nome
que estava escrito no topo com marcador preto.
E eu tracei meu dedo sobre ele e sussurrei: — Mãe.
CAPÍTULO SESSENTA E TRÊS

HONEY
VERÃO DE 1988

— Andrew, eu sinto que vou vomitar — Honey disse enquanto


andava de um lado para o outro no pequeno quarto do hospital de
Manchester.
Quando eles foram informados sobre onde a mãe biológica iria dar
à luz e eles receberam permissão para estar no hospital, Andrew
providenciou um quarto privado para os dois. Como eles não estariam
assistindo ao parto ou conhecendo a mãe, o pai ou qualquer pessoa da
família, isso lhes deu seu próprio espaço.
Também lhes dava seu próprio banheiro, o que era especialmente
importante porque Honey estava grávida, seus nervos mandando-a ao
banheiro a cada vinte minutos mais ou menos.
— Você só está com fome. — Andrew foi até a mesa ao lado da
cama onde havia colocado o refrigerador. Sabendo como a comida do
hospital era terrível, eles trouxeram a sua.
— Com fome. — Ela caminhou até a janela. — Ansiosa. — Ela
passou pela cama, esfregando a palma da mão na barriga, assombrada
pelos pensamentos daquela adolescente na sala de parto e pelo que ela
estava vivenciando. Agora que Honey estava grávida, ela estava dos dois
lados e eram lugares emocionais. Ela parou na porta e olhou para
Andrew. — E se ela mudar de ideia? — Ela respirou fundo, o ar
ricocheteando em seu peito. Ela estava enfrentando seu maior medo,
sentindo-o se mover pela garganta. — E se ela quiser ficar com ele,
Andrew? — Sua voz suavizou. — Eu já estou tão apaixonada pelo nosso
filho.
— Baby... — Honey viu seus olhos ficarem pesados, implorando
para que ela permanecesse positiva, e então ele estendeu os braços. —
Venha aqui.
Ela engoliu em seco, sua cabeça ainda se movendo em tantas
direções, mas a única coisa que ela viu claramente foi a comida que ele
estava tentando tirar da geladeira para ela. Ela sorriu, suas emoções
balançando novamente, até o ponto em que ela estava dando a si mesma
uma chicotada. — Por favor, me alimente.
Ele riu e colocou um sanduíche frio embrulhado em papel
alumínio na mão dela.
— Obrigada. — Ela o trouxe até a janela com um pequeno
recipiente de suco de maçã e usou o parapeito como mesa. — Ainda nem
decidimos um nome — ela falou por trás de sua mão, alternando
mordidas de presunto suíço com goles de suco.
— Eu pensei que você amava Jessica?
Honey deu de ombros. — Só não sei se é assim que devemos
chamar nossa filha.
— Você está decidida a batizá-lo com o nome do meu avô se for
um menino?
— Sim. — Ela não soou convincente. — Quero dizer... eu
realmente não sei.
Andrew se aproximou, parando na frente de sua esposa enquanto
ela comia. — Lembre-se do que Stephanie nos disse durante nossa
reunião na semana passada. Isso tudo vai parecer extremamente
esmagador, e tudo bem se não tivermos todas as respostas agora. Isso
inclui decidir como vamos nomear nosso bebê.
Desde o segundo trimestre, Honey não conseguia tomar uma
única decisão. Tudo estava em aberto, e a resolução parecia algo que ela
simplesmente não conseguia entender.
Ela colocou seu sanduíche para baixo, suas mãos caindo para os
lados. A realidade de onde eles estavam e o que eles estavam falando
estava batendo nela. E com ela veio onda após onda de emoção. — Você
vai me dizer que está morrendo de medo? — Andrew não teve tempo de
responder antes que ela acrescentasse: — Pensando bem, por favor,
não. Eu preciso que você seja forte, especialmente agora.
Ele se aproximou, suas mãos indo para a cintura dela. — Eu sei.
Ela não falou imediatamente. — E se o bebê nos odiar? — Seus
olhos se encontraram com os dele. — E se não conseguirmos lidar com
duas crianças ao mesmo tempo? E se estivermos tão privados de sono
que acidentalmente deixamos uma garrafa no fogão e queimamos nosso
apartamento?
Ele afastou o cabelo do rosto dela, mantendo os dedos ali. — Nós
seremos novos pais de dois bebês nascidos bem próximos um do outro.
Versões de todos os três vão acontecer, mas vamos lidar com isso.
Levaremos um dia de cada vez e faremos isso juntos, como sempre
fizemos.
Honey colocou as duas mãos na barriga — uma bem no topo, onde
a protuberância se projetava, a outra na parte inferior, onde ela
normalmente podia sentir a maior atividade. E ela olhou nos olhos de
Andrew, tentando encontrar uma maneira de dizer a ele o quanto ele
significava para ela. — O que eu fiz para merecer um homem como você?
Ele se inclinou e gentilmente pressionou seus lábios contra os
dela.
Honey acabara de sentir a ponta da língua de Andrew quando
alguém entrou em seu quarto e disse: — Com licença.
O casal rapidamente afastou seus rostos e olhou na direção da voz.
A enfermeira na porta disse: — Sabemos que você está esperando
há muito tempo, então alguém da sala de parto me mandou aqui para
lhe dizer que seu bebê nasceu. Eles estão finalizando a papelada agora e
sua advogada deve estar aqui muito em breve para trazer seu bebê.
— Oh meu Deus — Honey ofegou.
Andrew agarrou sua esposa com tanta força. — Você sabe o que
ela teve? — ele perguntou à enfermeira.
A enfermeira fez uma pausa. — Acho que ela disse um menino.
Honey gritou uma vez que eles estavam sozinhos novamente,
cobrindo o rosto com as mãos. — Andrew — ela soluçou. — Eles estão
nos trazendo nosso bebê. Nosso bebê. Nosso filho.
— Filho... — ele respirou, ainda segurando sua esposa.
Ela tirou as mãos do rosto para olhar nos olhos do marido. — Eu
não posso acreditar que isso está acontecendo.
— Eu posso.
Gradualmente, ela jogou os braços em volta do pescoço dele,
abraçando seu corpo contra o dele, enterrando o rosto no calor de seu
pescoço. Ela ficou lá, em um abraço que era tão seguro, até ouvir
Stephanie dizer: — Parabéns, Honey e Andrew.
Honey olhou por cima do ombro, vendo sua advogada entrar em
seu quarto, segurando um pacote em seus braços.
Ela continuou virando o corpo, movendo-se até que ela e Andrew
estivessem próximos um do outro, ambos indo na direção de Stephanie
ao mesmo tempo.
— Baby... — Andrew disse, segurando a mão de sua esposa.
Lágrimas escorriam pelo rosto de Honey a cada passo que davam.
As emoções em seu corpo eram quase demais para suportar, a sensação
de Andrew apertando seus dedos só aumentava a intensidade.
Quando eles estavam a poucos metros de distância, Stephanie
olhou para eles e disse: — Estou tão orgulhosa de apresentá-los à sua
filha.
— Filha? — Honey perguntou, olhando para o cobertor, que
escondia a maior parte do rosto do bebê.
— Uma enfermeira veio e disse que ela teve um menino —
respondeu Andrew.
Honey continuou avançando, seus braços estendidos na frente
dela.
Quando Stephanie estava perto o suficiente, ela colocou o bebê em
cima deles e respondeu: — Eu testemunhei a assinatura da certidão de
nascimento. É uma menina, eu lhe asseguro.
Honey não conseguia falar ao sentir o peso do bebê em seus
braços. Enquanto ela olhava o rostinho doce de sua filha, enquanto ela
inalava seu cheiro quente de talco. Enquanto ela pressionava os lábios
contra a pele de sua filha que parecia tão delicada quanto as asas de uma
borboleta.
— Honey... — Andrew chorou, seu rosto do outro lado de sua
filhinha, fazendo a mesma coisa que sua esposa. — Eu não posso
acreditar que ela é nossa.
Honey sentiu uma lágrima cair sobre sua filha, uma que tinha
vindo de seus próprios olhos. — Eu posso. — Ela continuou a respirar o
bebê deles, seus lábios não se movendo de sua pequena bochecha, e de
repente, veio a ela, como se ela tivesse desejado o tempo todo. —
Andrew, eu sei qual deve ser o nome dela.
CAPÍTULO SESSENTA E QUATRO

BILLIE

Tirei meu dedo da tampa da caixa e levantei a tampa, colocando-a


atrás de mim. Então, voltei minha atenção para todo o conteúdo dentro.
Meu pai guardou tudo. Ele era meticulosamente organizado, todos
os itens rotulados e datados como o interior do refrigerador de um
restaurante. Mas aqui havia artigos de jornal e relatórios médicos. Meu
nome foi listado em alguns.
Assim como o do meu irmão.
E da minha mãe.
Camada após camada de registros e recortes e detalhes.
Quando cheguei ao último artigo, foi aí que as fotos começaram.
Devia haver mais de cinquenta. Cada ângulo foi capturado.
Grandes planos de pontos.
Contusão.
Lacerações abertas.
Essa não foi a parte mais difícil.
O que mais doeu foi ver todo o sangue.
CAPÍTULO SESSENTA E CINCO

HONEY
INVERNO DE 1989

Honey olhou para a filha que dormia em seus braços. Ela não podia
acreditar o quão bonita ela era. Ela tinha lábios cheios e arqueados com
os cílios mais longos e deslumbrantes. Olhos que eram brilhantes e
esmeralda.
Ela era a menina mais doce e atenciosa, e ela fez Honey e Andrew
tão ricos em amor e felicidade. Mesmo que ela não fosse feita do sangue
deles, ela era uma mistura perfeita dos dois. Ela tinha a personalidade
de Honey e a inteligência de Andrew. Ela adorava estar ao ar livre e tinha
um apetite farto. Para Honey, parecia que ela havia dado à luz este bebê
precioso, que ela sentiu cada pedacinho de crescimento dentro de sua
barriga, da mesma forma que ela sentiu seu filho.
Seu marido segurava o pequeno Andrew do outro lado do
berçário, balançando aquele menino bobo, que finalmente se acalmou
alguns momentos atrás. Nas noites em que Andrew chegava cedo do
trabalho, era assim que eles colocavam seus filhos para dormir. Cada um
deles teria uma criança em seus braços, canções de ninar tocando em
uma caixa de som na cômoda e eles balançariam em suas cadeiras,
balançando para frente e para trás até que os bebês adormecessem.
Assim que isso acontecesse, Honey e Andrew teriam tempo para
si mesmos.
— Como foi seu turno? — Honey sussurrou do outro lado da sala.
— Alguém trouxe uma cabra. — Ele riu e olhou para o pequeno
Andrew, certificando-se de não acordar com o som.
— Bem, o que aconteceu? — Honey riu. Ela poderia ser mais
barulhenta com sua filha, já que ela podia dormir com quase qualquer
coisa. — Você tratou a cabra?
— Estou feliz em informar, ela agora está com a perna esquerda
engessada.
Honey desatou a rir muito mais alto do que antes, sabendo que
estava sacudindo o bebê, mas não pôde evitar. — Ó meu Deus.
— Eu não podia mandar a pobre coisa embora. Estava com dor.
Honey olhou para o marido, absorvendo seu belo e diabólico
sorriso. E quando ele olhou para trás, ela teve certeza de que ele não viu
o cuspe em seu ombro ou a banana manchada em seu cabelo. Ele não foi
desligado pelo leite que escorria de seus seios quando ele os acariciava
durante seus momentos íntimos.
Ela o amava.
De um jeito que só ele conseguia entender porque o que eles
tinham era diferente.
Ambos sabiam disso desde o início.
— Andrew Paige — ela disse tão suavemente, mas foi o mais alto
que a emoção a deixou falar — você é um médico incrível, mas você é
um pai ainda melhor.
CAPÍTULO SESSENTA E SEIS

BILLIE

Eu segurava toda a pilha de fotos na palma da mão e, quando


terminava de olhar para uma, eu a colocava sobre a mesa e passava para
a próxima. Mãos e rostos e bochechas – eu vi todos eles. E mesmo que
eu olhasse as fotos todos os anos, cada vez parecia a primeira.
Porque ver esses instantâneos era como reviver um período da
minha vida que eu nunca tinha visto. E cada vez que o carretel girava, eu
via algo diferente. Um detalhe que eu não tinha capturado antes ou um
que estava pronto para se revelar ou um que eu desejava tanto poder
esquecer.
Quando cheguei à última foto e minhas mãos estavam vazias,
consegui passar os dedos no rosto. Não fiquei surpresa com o quão
molhada estava. Foi o que aconteceu comigo no dia 20 de maio. Embora
minha família comemorasse, nós também choramos.
As lágrimas faziam parte disso, um efeito colateral confuso
quando você experimentava o que tínhamos.
Quando puxei meus dedos, senti meu telefone vibrar e olhei para
o meu colo, onde deveria tê-lo colocado. Havia um texto na tela.
Jared: Eu sinto sua falta.
Ele sempre parecia saber quando eu precisava dele.
Eu só queria que ele pudesse vir.
Ainda assim, eu sorri, sentindo o calor das palavras de Jared e
voltei meu foco para a mesa, vendo as pilhas de fotos, os registros
médicos e os artigos.
Eles foram toda a minha vida…
Antes de você.
Eu balancei minha cabeça e recolhi todas as fotos, colocando-as
em uma pilha organizada novamente. Enquanto eu os colocava de volta
na sacola, vi uma pequena foto de cabeça para baixo no fundo de
plástico, que não fazia parte da pilha.
Nunca fez.
Eu conhecia bem a foto. Eu tinha visto isso tantas vezes quanto
todas as outras. Era sempre a última que eu olhava antes de fechar a
tampa da caixa por mais um ano.
Eu levantei a foto em minha mão e olhei para o rosto olhando para
mim.
Nos olhos.
Os lábios.
Havia algo …
Levei um segundo para colocá-lo.
E então …
Eu suguei todo o ar que meus pulmões podiam conter, minha mão
batendo na minha boca antes que um grito saísse dela.
Não poderia ser.
Não.
Não havia nenhuma maneira.
Mas quanto mais eu piscava, mais eu via a verdade. Um detalhe
que eu tinha perdido até agora.
Fechei meus dedos ao redor da foto, segurando-a contra a parte
interna da minha mão e desci correndo as escadas, procurando meu pai.
— Pai — eu disse quando o vi na cozinha, parado ao lado da
minha tia e primo. — Venha aqui.
Ele parecia preocupado enquanto dava alguns passos para se
aproximar de mim, seus dedos indo para minha testa. — Querida, o que
há de errado?
Eu estendi minha mão e lentamente abri minha palma, mostrando
a ele a foto que estava no meio. — Qual o nome dele?
Eu sabia.
Todos nesta casa sabiam.
Não havia razão para que eu precisasse ouvi-lo dizer isso.
Mas eu fiz.
Ele olhou para a fotografia e de volta para mim. — Esse é Casey
Rivers.
Não houve três palavras que doeram mais.
Eu caí de joelhos.
E meu pai foi a primeira pessoa ao meu lado.
CAPÍTULO SESSENTA E SETE

HONEY
PRIMAVERA DE 1989

— Eu sei, doce menino — Honey disse enquanto balançava


Andrew em seus braços. Ela também estava segurando o telefone no
ouvido, esperando o marido atender. — Eu prometo, vou fazer tudo o
que puder para fazer você se sentir melhor.
Seu filho estava com febre desde a hora de dormir e ela lhe dera
remédios, que funcionaram por um tempo. Mas à medida que as horas
passavam, sua temperatura havia subido novamente, e ela não gostou
do som de sua tosse.
— Sala de emergência. Esta é Meghan.
— Meghan... — Honey disse, conhecendo bem a enfermeira. Ela
era uma das enfermeiras que frequentemente trabalhavam com
Andrew. — É Honey. Andrew está livre?
— Oi querida. Ele acabou de levar um paciente para a cirurgia.
Está tudo bem?
Enquanto segurava o telefone com o ombro, Honey pressionou a
mão contra a testa, bochechas e peito de seu bebê. — É meu filho. Ele
estava com febre mais cedo, e Andrew sugeriu que eu lhe desse
Ibuprofeno líquido. Mas a febre voltou e o coitado está queimando,
tossindo. Estou ficando preocupado.
— Há quanto tempo você deu a ele ibuprofeno?
— Quatro horas. — Ela enxugou o polegar sob o nariz dele,
limpando-o e foi quando ela viu a vermelhidão. — Tem uma irritação no
pescoço.
— Você pode trazê-lo? — a enfermeira perguntou. — Quando eu
contar ao Dr. Paige, tenho certeza que ele vai concordar.
O instinto de Honey estava lhe dizendo que algo estava
definitivamente errado e essa foi a razão pela qual ela ligou em primeiro
lugar. Agora, ela só tinha que levar o pequeno Andrew para o hospital. E
porque eles moravam tão perto, ela podia caminhar até lá mais rápido
do que dirigir.
— Eu vou sair em dois minutos — Honey disse, agradecendo e
desligando.
Ela entrou no berçário e colocou Andrew em seu berço enquanto
ela se vestia. Ela então colocou tudo o que precisava na bolsa de fraldas,
pendurando-a na lateral do carrinho. Ela levantou Billie em seus braços,
beijando a princesa quente e sonolenta na testa enquanto ela a fechava
em um casaco. Sua filha nem se mexeu quando Honey a colocou no
carrinho. Quando ela voltou para Andrew, ela o envolveu em uma
jaqueta grande e bufante, arrulhando em seu rosto para distraí-lo de se
contorcer. Então, ela segurou o bebê contra o peito e amarrou um lenço
sobre ele. Mesmo com as tardes sendo mais quentes, já passava de uma
da manhã, e ia ficar frio lá fora. Ela certamente não queria que o vento
batesse no rosto dele e se sentiu afortunada por ter tomado essa decisão
assim que saiu.
Portland estava quieto a essa hora, as ruas quase desertas. As
lâmpadas forneciam bastante brilho, iluminando o caminho
extremamente bem para dar a Honey a visibilidade que ela precisava.
Havia uma mistura de casas e espaços comerciais em ambos os lados
dela, tudo tão escuro e silencioso.
Honey apertou Andrew enquanto se aproximavam do final do
quarteirão, parando no sinal de Pare. Seu nariz estava pingando e
borbulhando, deixando-o mais desconfortável enquanto chorava. Ela o
enxugou, e ele começou a chorar mais forte, virando a cabeça para cada
lado.
— Está tudo bem, meu amor. Estamos quase lá. Papai vai colocar
suas mãos mágicas em você e fazer você se sentir melhor.
Ela balançou o corpo, tentando acalmá-lo, enquanto verificava
Billie. A cabeça da filha descansava de lado com a boca aberta, dormindo
silenciosamente. Ela voltou para a alça do carrinho e o empurrou para o
outro lado da rua. Assim que chegaram à calçada, ela conseguiu ver o
hospital, o grande prédio de tijolos com vários andares.
Era o mesmo lugar para onde ela tinha ido às pressas quando se
sentiu doente, o lugar onde seu marido a havia curado, onde ele curaria
seu filho assim que ela chegasse lá.
Ela esteve neste caminho inúmeras vezes. Conhecia os buracos, os
lugares na calçada onde a calçada rachava e a grama crescia no meio,
então ela teceu o carrinho, evitando os solavancos e quedas.
Ao se aproximar do final do quarteirão, ela notou um carro na rua
transversal, vindo por cima do morro. Como o carro estava com o sinal
vermelho e o sinal na faixa de pedestres estava dizendo para ela ir, ela
começou a atravessar. A cada passo, ela mantinha a mão firmemente
apertada ao redor do carrinho, segurando Andrew com o outro braço,
onde ele estava mexendo sob o lenço.
— Está tudo bem, querido — ela cantou. — Sh. Está tudo bem.
O olhar de Honey se deslocou entre a calçada e o carro que agora
descia a colina em alta velocidade. Ela tinha certeza que ia parar. Não
havia como o motorista passar o sinal vermelho, especialmente com
uma mulher e seu carrinho passando pelo cruzamento.
Ainda assim, Honey se viu correndo, perguntando-se por que a
largura desta rua era o dobro da última. Seus pés só podiam se mover
tão rápido com as duas crianças, mas ela estava indo em um ritmo
acelerado quando chegou ao meio da estrada.
Foi nesse momento que ela percebeu que o carro não ia parar.
Ela levantou a mão no ar, acenando para chamar a atenção do
motorista. Quando alguns segundos se passaram e isso não funcionou,
ela congelou e gritou: — Oh meu Deus!
O medo estava tentando paralisá-la.
Ela não deixaria.
Especialmente porque a colina estava fazendo o carro andar mais
rápido e Honey estava ficando sem tempo.
Ela apertou Andrew e arrastou o carrinho vários passos para trás,
tentando se mover na direção oposta do carro. Ela foi capaz de obter
alguma folga, mas então o motorista desviou e os faróis estavam
apontando para eles mais uma vez.
— Não!
Ela não teve tempo para voltar.
Tudo o que ela podia fazer era correr para frente e torcer para
evitar o carro.
— Querida, espere! — ela gritou, apertando a alça de plástico. Seu
braço foi puxado para trás como se ela estivesse segurando a corda de
um arco e então ela empurrou o carrinho com toda a força.
Uma vez que estava fora de sua mão, ela envolveu seu corpo sobre
Andrew, tentando mantê-lo tão protegido quanto podia, e ela começou
a correr. Seus dedos pisaram na calçada quando ela deu seu primeiro
salto, seu próximo pé pousando e ela repetiu a mesma ação.
Ela estava a apenas alguns passos quando gritou — Pare — a
plenos pulmões, seus ouvidos se enchendo com o som mais alto que ela
já tinha ouvido.
Mais alto do que o barulho do trem em que ela havia viajado
quando criança, mais alto do que o tiro da única vez que ela foi caçar
veados. Mais alto que o mais forte estrondo de um trovão.
Enquanto ela observava o carrinho de Billie ir em segurança para
o outro lado da estrada, ela apertou o corpo ainda mais em torno de seu
filho, dando-lhe a maior proteção e ela carregou o bebê o mais longe que
pôde.
CAPÍTULO SESSENTA E OITO

JARED

Quando eu estava no segundo ano do ensino médio, eu quebrei


meu pulso. Agora, toda vez que as estações mudavam, eu podia sentir
isso naquele lugar. Eu sabia quando ia chover, quando o tempo ia ficar
extremamente frio. Meu pulso nunca estava errado.
Quando Billie entrou no meu SUV em 20 de maio e começou a
dirigir para o sul na I-95, eu sabia que uma tempestade estava chegando.
Não havia outra razão para ela sair do Maine hoje além de me
confrontar. Talvez fosse um pressentimento. Talvez, no fundo, eu
soubesse que este era o fim de semana em que ela descobriria tudo. Mas
eu sabia que tudo estava prestes a mudar.
A chamada veio quando ela estava ao norte de Boston. Ela foi
curta, me dizendo que ela tinha que voltar aqui, e perguntou onde eu
estaria quando ela voltasse. Ela sabia que eu já tinha voltado da
Califórnia, então eu disse a ela para me encontrar no meu apartamento.
Eu não saí. Eu não comi.
Andei de um lado para o outro, observando o ponto no meu
aplicativo de GPS se aproximar de Manhattan até que ela estava
entrando na garagem do meu prédio.
Eu tinha pedido isso.
Eu me coloquei nessa situação.
Eu sabia desde o início que havia uma data de validade para nós.
Um relacionamento entre Billie e eu não poderia funcionar
permanentemente. Foi por isso que eu lutei contra isso, porque eu lutei
como o inferno na minha cabeça. Mas quanto mais tempo passávamos
juntos, mais eu aprendia o quão perfeita ela era para mim e eu
simplesmente não tinha sido forte o suficiente para ficar longe.
Ou para me impedir de me apaixonar por ela.
Enquanto ela entrava no meu apartamento, todos os medos que
eu tinha confirmado, doía como o inferno saber que, depois de apenas
seis meses, já estávamos aqui. No final. E o olhar em seu rosto me disse
que eu tinha quebrado seu coração.
Eu não poderia me desprezar pior.
Mas eu fiz.
— Billie... — eu respirei quando ela chegou no meio da sala.
Seu passo era tão poderoso quanto sua expressão e ela não disse
nada enquanto se movia para o sofá. Eu estava sentado no meio, mas ela
parou em um dos lados e ficou atrás dele. Sua mão estendida sobre o
travesseiro de cabeça, os dedos agora se abrindo, uma foto deslizando
sobre a palma da mão que caiu na almofada inferior do sofá.
Meus olhos seguiram, vendo que era minha foto da escola do
primeiro ano.
Eu não tinha dúvidas antes, mas não havia dúvida agora.
Ela sabia exatamente quem eu era.
Enquanto meu coração batia forte no meu peito, meus dentes
rangendo, eu olhava para o garoto naquela foto. Eu não sabia mais quem
era aquele garoto, o garoto de dezessete anos que estava no time de
futebol americano, tirando notas decentes enquanto os recrutadores da
faculdade já estavam sussurrando em seu ouvido.
Aquele garoto havia morrido em 20 de maio.
No lugar dele estava eu.
E o único sobrevivente daquele acidente foi a garota olhando para
mim, cujos olhos marejados estavam me perfurando. Quem abriu a boca
e sussurrou: — Qual é o nome do menino nessa foto?
Minhas mãos estavam suando e eu as agarrei ao redor do sofá. Eu
não queria responder, mas eu devia isso a ela. E quando finalmente
consegui, estava transbordando de vergonha. — Casey Rivers. — Ouvir
meu nome de nascimento enviou um maldito tremor através de mim. Eu
não me chamava assim desde os dezessete anos.
Ela colocou os braços ao redor de sua barriga, seu rosto corando.
— Isso é você? Você é Casey Rivers?
Eu tinha visto esse momento se desenrolar muitas vezes na minha
cabeça.
Mas, Jesus Cristo, eu não tinha pensado que seria assim. — Sim.
Um gemido veio dela, sua pele ficando pálida. Lágrimas escorriam
por suas bochechas e ela não as enxugou. — Você é o homem que matou
minha mãe... e irmão... — Seus lábios permaneceram entreabertos e eles
estavam tão úmidos quanto seus olhos. — E você quase me matou.
Essas eram palavras que eu tinha ouvido antes quando seu pai
falou no tribunal. Mas ouvi-las de Billie era totalmente diferente. Elas
foram direto para a minha barriga, onde a culpa viveu por todos esses
anos, e elas torceram a maldita faca.
— Billie, por favor, deixe-me…
— Eu confiei em você.
Eu me levantei do sofá, indo para o outro lado. — Deixe-me
explicar — eu disse quando me aproximei.
Ela recuou. — Não se aproxime mais.
— Billie, por favor.
Seu peito arfava quando ela levantou a mão e retrucou: — Não!
Fique aí, porra.
— Eu não vou te machucar. — Engoli em seco, apesar de ter
doído, e sentei minha bunda no encosto do sofá, colocando vários
metros entre nós.
— Você não vai? — Sua voz ficou severa. — Porque você fez isso
no segundo em que entrou na minha vida.
Ela estava olhando para mim como se eu fosse um monstro.
Eu era.
— Billie…
— Pare de dizer meu nome. Você perdeu esse direito quando
mentiu para mim sobre quem você era. — Quando tentei interromper,
ela acrescentou: — Eu deixei você entrar na minha vida. Eu abri meu
coração para você. — Ela balançou a cabeça, as lágrimas caindo ainda
mais rápido, suas pálpebras tão vermelhas e cruas. — Eu te dei cada
pedaço de mim. — Ela tomou outra respiração, e uma dor lancinante
atravessou meu peito. — Eu te amei.
Esta foi a primeira vez que eu a ouvi dizer isso pessoalmente.
Era para ser um momento lindo.
Isso não.
Não cercado por toda a dor que eu causei.
Minhas mãos foram para o meu cabelo, agarrando os fios,
puxando-os das raízes. Eu sabia que ela iria se machucar, mas eu não
poderia ter me preparado para como me sentiria quando visse a
destruição em seu rosto e quando ela me dissesse que eu era a causa
disso.
Meu olhar se intensificou, meus dedos implorando para envolvê-
la. — Apenas deixe-me explicar. Por favor, Billie.
Suas lágrimas estavam escorrendo mais rápido e ela não as
enxugou. — Eu confiei em você — ela repetiu, e apunhalou ainda mais
forte pela segunda vez. — Jared - Casey - eu nem sei qual diabos é o seu
nome.
— É Jared. Meu nome é Jared.
— Você deveria ter me contado. Já se passaram meses e você não
disse nada. — Seus lábios tremeram quando ela inalou. — E agora, você
quer se explicar? É tarde demais para isso. — Suas pálpebras se
fecharam, um soluço estremecendo através dela. — Oh Deus …
Ela colocou a mão sobre o coração, tentando respirar e eu poderia
dizer que estava ficando mais difícil. Uma nova emoção estava surgindo,
e parecia uma das mais difíceis.
— Eu não sei se eu gostaria de conhecê-lo, Jared. Mas você tirou
essa escolha de mim. — Suas mãos não estavam perto de mim, mas eu
senti um tapa no meu rosto. — Seu filho da puta. — Ela recuou várias
distâncias.
— Billie... — Minha garganta estava apertando, não me deixando
falar mais alto do que um sussurro. — Não vá. Por favor.
Ela me ignorou e eu a segui até o elevador, onde gentilmente
peguei sua mão.
Ela o arrancou de mim. — Não me toque.
— Billie…
— Não me chame assim. Não me chame de nada. — Ela entrou no
elevador e, quando se virou, disse: — Fique bem longe de mim — logo
antes da porta se fechar.
— Billie... — Eu respirei pela última vez, olhando para a porta
preta do elevador.
O dia 20 de maio teve um novo significado, tornando este dia
ainda mais sombrio.
Foi o dia em que caí de novo... o dia em que Billie me tirou
completamente de sua vida.
CAPÍTULO SESSENTA E NOVE

BILLIE

Eu saí correndo do prédio de Jared. Corri para o final do


quarteirão onde havia uma lata de lixo pública e vomitei nela. Com o
vento soprando meu cabelo no meu rosto e lágrimas escorrendo pelo
meu rosto, eu vomitei, perdendo o pequeno café da manhã que eu tinha
comido muitas horas atrás.
Não sentindo um único olhar de ninguém passando por mim,
limpei minha mão com a boca e caminhei pela calçada. Eu não tinha ideia
de onde estava indo. Eu nem sabia em que rua eu estava.
Eu só sabia que tinha que estar do lado de fora.
Eu precisava de ar.
Meus pés queriam se mover, o tempo que passei em seu carro era
sufocante.
Durante a viagem, ensaiei o que ia dizer, sabendo que a conversa
teria que ser feita pessoalmente. Isso só significava que minha viagem
para Nova York foi a viagem mais longa da minha vida, meus
pensamentos marinando a cada quilômetro, minhas emoções
carbonizadas até o final.
Quando entrei em seu prédio, nada ficou mais claro. Eu ainda não
conseguia processar um único pensamento.
Por que ele entrou na minha vida?
Por que ele não me disse quem ele era?
Por que ele me tocou?
Por que ele me disse que me amava?
Por que ele deixou eu me apaixonar por ele?
Por que ele mentiu para mim?
Por que Casey Rivers era a mesma pessoa que Jared Morgan?
Oh Deus.
Eu coloquei meu braço contra minha barriga, precisando de
pressão para aliviar um pouco da dor. O movimento fez o anel em minha
mão brilhar, o poste de luz brilhando sobre o ouro. Era a aliança de
casamento da minha mãe que meu pai me deu quando achou que eu era
responsável o suficiente para não perdê-la. Eu o usei no avião quando
Jared me protegeu durante o acidente. Quando fizemos amor na cama
dele. Ele esfregou contra seus dedos toda vez que ele segurou minha
mão.
Nem uma vez em todos esses anos eu o tirei.
Eu não podia.
O anel era um pedaço dela que eu não largaria.
Porque Jared tinha tirado todos os outros pedaços dela de mim.
Eu congelei no meio da calçada, o roer rasgando meu corpo,
tornando muito difícil recuperar o fôlego.
Tudo doeu.
Meus músculos estavam gritando, minhas articulações
queimando.
Eu não conseguia respirar.
Porque em minha mente, eu vi a pequena foto de Casey que eu
estava segurando o dia todo, e eu vi o rosto de Jared logo antes da porta
do elevador se fechar.
Ambos eram como facas de chef de oito polegadas esfaqueando
direto no meu coração.
E então eu senti a vibração.
Veio do meu bolso, e eu não sabia o que me fez pegar meu telefone
ou por que olhei para a tela.
No segundo que fiz, me arrependi.
Jared: Por favor, me dê uma chance de me explicar. 5 minutos — é
tudo o que estou pedindo.
Jared: Não nos deixe terminar assim.
Corri para a lata de lixo mais próxima e perdi o resto do que estava
no meu estômago. Assim que me senti bem o suficiente, desliguei o
telefone e comecei a andar.
Eu só queria me desconectar de tudo.
CAPÍTULO SETENTA

JARED

Só porque eu tinha quebrado o coração da mulher que eu amava,


isso não significava que eu iria parar de lutar por ela. Então, eu mandei
uma mensagem para ela depois que ela saiu do meu apartamento e
novamente na manhã e noite seguintes. Se eu estava no meio do trabalho
ou voando, ela recebia uma mensagem pelo menos duas vezes por dia.
Algumas estavam implorando para ela me dar alguns minutos para
conversar. A maioria apenas disse a ela o quanto eu sentia a sua falta.
Porque eu sentia. Muito foda.
E esse sentimento só cresceu, assim como seu silêncio. Depois de
seis dias sem resposta, finalmente tive notícias dela.
Billie: Eu quero respostas. Nada mais.
Eu: Eu vou dar a você.
Billie: Venha amanhã à noite às 7.
Eu: Vejo você então. Obrigado, Billie.
Quando minha mão bateu na porta de Billie alguns minutos antes
das sete da noite seguinte, a única coisa que trouxe comigo foram
minhas mentiras e planejava desvendar cada uma delas.
Era hora de ela ouvir a verdade.
Uma vez que ela abriu a porta e eu vi sua expressão, isso me
lembrou do meu passado e da razão pela qual eu mudei meu nome em
primeiro lugar.
Isso era para evitar o que eu estava sentindo agora.
Mesmo se eu merecesse.
— Billie... — Meus olhos permaneceram em seu rosto,
absorvendo tudo.
Foi-se a garota que costumava sorrir para mim, que se aqueceu na
minha presença, derreteu quando minhas mãos a tocaram.
Em seu lugar estava a garota que eu tinha visto logo após o
acidente de avião.
Nós dois tínhamos mudado.
Novamente.
Por minha causa.
— Por favor, não — disse ela, levantando a mão.
Eu não tinha me aproximado. Eu não disse nada mais do que
apenas o nome dela. Parecia que até minha voz era demais para ela.
— Eu sinto muito.
Doeu para inalar.
Para olhar em seus lindos olhos perturbados.
E pensar que esta poderia ser a última vez que eu estive aqui.
Porra.
Billie respirou fundo algumas vezes e então se virou, deixando a
porta aberta para que eu pudesse segui-la. Fiquei vários passos atrás e,
quando ela chegou à sala, ficou de costas para uma das janelas e olhou
para o sofá.
Eu aceitei isso como o lugar onde ela queria que eu me sentasse e
coloquei minha bunda na almofada.
Minhas mãos se apertaram e eu me inclinei para frente, os
cotovelos apoiados nos joelhos. — Obrigado por me deixar voltar…
— Você não voltou. Você está me dando respostas. Vamos deixar
isso claro.
Seus olhos me disseram a mesma coisa.
Assim como sua postura.
E por mais que eu merecesse os dois, ver isso não tornava mais
fácil aceitar.
— Por onde você quer que eu comece, Billie?
— Quero toda a história. Comece pelo começo.
A última vez que voltei até aqui, Billie era pequena demais para
estar no tribunal para ouvir meu testemunho. Seu pai esteve lá em vez
disso.
Lembrei-me dos detalhes tão vividamente.
Olhei para baixo e juntei as palmas das mãos. — Era o final do ano.
Eu estava fazendo finais e jogando beisebol, e estávamos indo para os
playoffs20. Alguns dos meus amigos estavam se formando e se mudando
e eu estava tentando sair com eles o máximo possível.
Sentei-me em linha reta, minhas mãos caindo para a almofada de
cada lado de mim, segurando-a com firmeza. — Eu não estava dormindo
muito, eu estava tão cansado dos treinos e jogos e apenas fodendo o
tempo todo. Quando chegou a noite da festa, mal me restava energia.
A noite inteira estava em minha mente. Eu vi os barris espalhados
pela grama. Os garotos em pé bebendo. A música. Carros. Rindo.
Porra Jesus Cristo, houve tanto riso naquela noite.
— Eu tinha que acordar cedo para treinar e sabia que se eu
bebesse, isso me colocaria no sono, então eu enchi meu copo de plástico
com água e fiquei por lá até uma hora. — Eu me levantei, andando na
direção oposta, dando a ela bastante espaço. — Eu não tomei um gole de
álcool naquela festa.
Quando olhei para ela novamente, uma onda de emoção estava se
movendo em seus olhos. Não era o primeiro que eu via desde que
cheguei, mas este foi o que mais me atingiu.
Ela recuou até ficar encostada na janela e passou os braços em
volta da barriga. — Continue.
— Não me lembro de ter chegado ao topo da colina. — Passei
meus dedos pelo meu cabelo enquanto ela parecia se apertar ainda mais.
— Não me lembro do momento em que adormeci. — Eu puxei as pontas
dos fios, sentindo a dor, precisando tanto. — Eu tentei. Eu tentei pra
caralho. Eu simplesmente não consegui.
Um novo nível de crueza passou por seu rosto, a dor escorrendo
de seus olhos. A intensidade disso circulou minha garganta e me
estrangulou, mas eu tive que continuar. Eu tive que terminar.
— A única coisa que me lembro desses últimos segundos… — as
palavras ficaram presas na minha boca. Eu queria dizê-las e meu coração
queria explodir ao mesmo tempo — …é quando o carro bateu no buraco,
fazendo com que o volante se soltasse da minha mão e foi isso que me
acordou.
— É quando você pisa no freio.

20
Competições eliminatórias.
Ouvi-la dizer isso era diferente de tudo que eu já tinha
experimentado. Pior do que fraturar meu maldito pulso. Pior do que
estar no voo 88 quando o drone atingiu o motor. Pior do que quando o
avião estava caindo e caiu no campo.
Demorou vários segundos antes que eu pudesse acalmar meu
peito o suficiente para dizer: — Sim. Você tem razão.
Assim que meus lábios se fecharam, a sensação voltou ainda mais
forte do que antes. Porque não importava que eu tivesse pisado no freio,
o carro ainda havia atingido a Sra. Paige enquanto ela atravessava a rua
com o filho. A única razão de Billie ter sobrevivido foi porque sua mãe
levou alguns segundos extras para empurrar o carrinho e ele foi longe o
suficiente para não estar no meu caminho.
Se ela não tivesse feito isso, eu teria mais sangue em minhas mãos.
O sangue de Billie.
Eu desabotoei o topo da minha camisa, tudo parecendo tão
apertado. — Depois do julgamento, meus pais fizeram as malas e nos
mudamos para a Costa Oeste.
Era insignificante que os resultados do meu exame de sangue
tivessem sido lidos no tribunal, provando que não havia substâncias em
meu corpo. Ou que fui declarado inocente e as acusações foram
retiradas. Portland não me perdoou e a cidade não nos queria mais lá.
Essa foi a razão pela qual saímos.
— Como meu nome estava em todos os jornais da Nova Inglaterra
e os canais de notícias de todo o país traziam a história, havia apenas
uma maneira de impedir que ele me seguisse.
— Você mudou seu nome. — Seu tom era mais afiado do que
antes.
Eu balancei a cabeça e então fiz uma pausa, decidindo admitir algo
que eu não pretendia. — Eu ouvi pequenas coisas sobre você ao longo
dos anos, a vez em que você quebrou o recorde estadual em sua
competição de natação, o anúncio de formatura que foi publicado no
jornal. Nada substancial, apenas o suficiente para saber que era você…
— Viva.
— Sim. — Senti o suor começar a pingar no meu peito. — E então,
alguns anos atrás, não sei o que diabos me fez fazer isso, mas digitei seu
nome em um dos sites de mídia social e seu perfil apareceu. Acho que só
precisava ver se você estava seguindo em frente. Que você estava
vivendo, não apenas sobrevivendo. Foi egoísta da minha parte. Eu sei
disso, mas vi como você estava indo bem e como estava construindo esse
negócio incrível.
Ela gemeu e foi até a pequena mesa perto da janela. Pegando um
punhado de lenços da caixa, ela enxugou o rosto.
— Quando meu amigo decidiu abrir um restaurante italiano que
eu sabia que tinha todo o potencial do mundo, pensei em você. Eu tinha
visto o sucesso que você trouxe para outros restaurantes e sabia que
você seria uma boa opção para o dele.
Seus olhos se arregalaram e ela ainda estava acariciando os
tecidos debaixo deles enquanto eu a via juntar tudo isso. — Meu Deus,
era você. Basil está em São Francisco.
Eu balancei a cabeça. — Marcus é o proprietário, mas você está
falando comigo e eu comprei nossas passagens de avião.
Seu silêncio era quase tão poderoso quanto a nitidez que ela havia
usado antes e ela finalmente o quebrou com: — Eu não entendo por que
você queria que eu fosse para a Califórnia. Me contratar para ajudar seu
amigo, tudo bem. Eu entendo essa parte, mais ou menos. — Ela balançou
a cabeça, seu olhar se aprofundando. — Mas se juntar a mim no avião no
assento ao lado? Você sabe o quão louco isso é? Isso não faz o menor
sentido para mim.
Fez todo o sentido para mim.
Eu estava andando de novo, seus olhos em mim como se eu
estivesse deslizando em direção a ela, mas eu estava voltando para o
sofá. — Suas fotos não foram suficientes. Eu tinha que ver sua felicidade
com meus próprios olhos. Eu tinha que saber que você estava realmente
vivendo. Eu sei o quão egoísta isso soa, mas é por isso que eu fiz isso,
porque eu fiz a coisa toda.
Seus lábios tremeram e eu tinha certeza que os meus estavam
fazendo o mesmo.
— Mas, Jesus, Billie, não era para ir mais longe. O avião não
deveria cair. Eu não deveria ter que te proteger. Eu não deveria estar
amarrado a você por outro maldito acidente.
Enquanto meu peito arfava, pensei nos detalhes que havia deixado
de fora. A escuridão, as noites sem dormir. A forma como o acidente
vinha me atormentando todos os dias desde que aconteceu.
Ela não precisava ouvir nada disso.
Durante a pausa, observei a emoção crescer em seu rosto, as
lágrimas escorrendo mais rápido do que antes.
Eu estava fazendo tudo o que podia para me impedir de ir até ela
e foi por isso que ela perguntou: — Por que você nos deixou acontecer,
Jared? — Eu não estava pronto para isso.
Limpei a garganta, tentando afastar o ardor, tentando limpar
minha voz para que ela pudesse realmente me entender. — Lutei o
quanto pude, você precisa saber disso. Foi por isso que saí na noite da
gala e por isso demorou tanto para acontecer alguma coisa entre nós. —
Esfreguei as palmas das mãos nos olhos, sentindo o quão molhadas elas
estavam. — Eu não planejei isso, Billie. Eu certamente não planejava me
apaixonar por você.
— Oh meu Deus... eu não posso. — Ela se afastou da parede e foi
para o outro lado da sala onde andava pelo pequeno espaço.
Quando ela finalmente olhou para cima, eu vi todos os caminhos
diferentes que as lágrimas tinham tomado quando escorriam por suas
bochechas.
— Você ia me contar? — Ela respirou fundo e minha garganta
apertou. — Ou você iria apenas me prometer para sempre, sabendo
muito bem que era uma mentira?
Apertei minhas mãos e tentei inalar. E, ao mesmo tempo, tentei
parar os sentimentos que estavam batendo dentro do meu peito. — Eu
sabia que uma vez que você descobrisse, eu iria perder você.
Ela fez uma pausa longa o suficiente para seus olhos se
estreitarem e disse: — Isso é foda! — Ela deu mais alguns passos. — Tão
fodido!
Passei a mão pela barba, sentindo a umidade que havia caído ali.
Eu sabia que isso tornava tudo ainda pior, que eu era ainda mais
idiota por dizer isso, mas eu precisava que ela ouvisse a última parte da
verdade. Peguei cada emoção que estava explodindo em mim, e dei a ela,
esperando que isso a ajudasse a me perdoar. — Billie, em todos esses
anos, eu nunca amei ninguém... antes de você.
CAPÍTULO SETENTA E UM

BILLIE

— Porra! — Eu gritei, me afastando da parede, olhando para Jared


no sofá.
Ele estava me dizendo que eu era a primeira mulher que ele amou
na mesma conversa que ele admitiu mentir, escondendo sua identidade
porque ele sabia que me perderia.
E ele estava certo.
— Eu te odeio por nos colocar aqui. — Apertei o coque bagunçado
em cima da minha cabeça, tentando dar sentido aos meus pensamentos.
— Por me fazer enfrentar essa situação e por ser tão egoísta. — Olhei
para ele, cada centímetro de mim gritando, tudo por razões diferentes.
— Por me fazer me apaixonar por você. — Fechei meus dedos em
punhos, minhas lágrimas pingando na minha camisa. — Por destruir
minha família inteira.
Dei mais alguns passos e depois voltei para as janelas, refazendo
a mesma rota novamente. O ritmo não aliviou nada. Minhas emoções
estavam ficando ainda mais fortes. E quando finalmente me virei para
ele, vi como seus olhos estavam vermelhos e lacrimejantes. Parte de
mim estava satisfeita e a outra parte queria limpá-los. Foi a maior
confusão mental.
— Você mentiu para mim — eu sussurrei, mantendo minhas
mãos onde elas pertenciam.
— Eu precisei.
— Isso é treta. — Meus dedos se moveram para o meu coração.
Ele estava batendo tão rápido, doendo como se tivesse levado um soco.
— Eu tinha todo o direito de saber quem você realmente era e você não
tinha o direito de esconder isso de mim.
Minha palma achatada, meus dedos se espalhando para minha
garganta. Estava ficando mais difícil de engolir e eu esperava como o
inferno que a pressão ajudasse.
— Eu concordo, Billie. Mas eu só queria protegê-la.
— Jared, eu não era sua para proteger. — Havia tanta emoção na
minha garganta, até minha voz tremia. — Não é irônico como a pessoa
de quem eu realmente precisava ser protegida todo esse tempo era
você? Você destrói tudo com que entra em contato.
Abri a boca e, quando tentei inspirar, gritei. Minha mão foi sobre
meus lábios e eu mal conseguia segurar meu rosto, já que estava tão
molhado das lágrimas.
— Foi um acidente — disse ele, certificando-se de que eu o ouvi.
— Eu tinha apenas dezessete anos. Não bebi e nem usei drogas.
Adormeci ao volante e acabou por ser o maior erro da minha vida. —
Sua voz suavizou. — Eu vivo com essa culpa a cada segundo do dia.
Com minha mão ainda sobre minha boca, meu nariz queimando
enquanto eu tentava encher meus pulmões, meu coração se partiu
novamente. Porque naquele momento, eu sabia que estava acabado
entre nós.
Eu sabia antes mesmo dele entrar pela porta, mas estava mais
claro agora que eu vi a culpa em seu rosto e eu finalmente sabia o motivo
disso.
Nunca desapareceria. Nunca escureceria. Estaria lá toda vez que
ele olhasse para mim.
Para o resto das nossas vidas.
Suas feridas eram muito grossas.
Como a minha.
Jared não poderia ser o herói que me protegeu do acidente e o
homem que matou metade da minha família.
Era um ou outro.
Eu tive que fazer uma escolha.
— Eu sei que foi um acidente, mas eu... — Meus lábios tremeram
enquanto meu peito arfava, a dor se tornando insuportável. — Eu não
posso perdoar o que você fez com minha mãe e meu irmão. — Parecia
que meu maxilar estava travando e eu tive que desgrudá-lo. — Eu não
posso mais te ver. Não posso ter você na minha vida. Eu não posso... eu
não posso, porra. — Eu solucei, o ar entrando muito rápido agora. Eu
balancei minha cabeça, tentando me acalmar. — Acabou, Jared. Você
tem que sair do meu apartamento.
— Billie... me desculpe.
— Não importa. Vá.
— Eu sinto muito. — Ele se levantou, suas mãos moendo em suas
têmporas, seus olhos implorando com os meus. — Se eu pudesse voltar
naquela noite, eu voltaria. Isso me assombrou desde o momento em que
aconteceu. — Ele engoliu e eu vi um tremor em sua garganta. — E eu
sinto isso toda vez que olho para você.
— Você mentiu para mim — eu o lembrei, certificando-me de que
ele não esperava nenhuma simpatia. — E agora, você vai me perder. —
Quando minha barriga começou a se revirar, coloquei um braço em volta
dela e usei o outro para apontar para a porta. — Está na hora de você ir.
— Billie, por favor.
— Você não me deu escolha quando nos colocou naquele avião
juntos. — Eu não sabia se era raiva ou tristeza, mas eu sentia tanto de
ambos. — Dê-me um agora e respeite o que estou pedindo.
Sua boca se fechou e suas mãos ficaram plantadas em sua cabeça.
Ele me encarou por vários segundos e foi a pausa mais longa de
toda a minha vida. Senti cada batida, cada emoção. Eu ainda estava
lutando comigo mesma - metade de mim querendo dizer a ele para
correr, a outra metade querendo dizer a ele para me segurar porque eu
sofria tanto que pensei que ia desmaiar.
— Cai fora, Jared!
Ele se aproximou e meu corpo inteiro ficou tenso. Meu braço
apertou em volta da minha barriga. Eu tremi de tentar segurar meus
soluços. Quando fui dizer a ele para parar exatamente onde estava, ele
parou a poucos metros de distância.
E então ele sussurrou: — Adeus, Billie.
Este foi o mais forte que senti sua presença durante toda a noite.
A primeira vez que eu pude sentir o cheiro dele. Onde eu pudesse
estender meu braço para frente sem nem mesmo dobrar meu corpo e
tocar seu peito.
E com essa distância veio todo um novo conjunto de emoções.
Aqueles com os quais eu não tinha absolutamente nenhuma ideia
do que fazer.
Mas a proximidade durou apenas um segundo, me dando um
gostinho de como era estar perto de Jared Morgan. Então, ele caminhou
até a minha porta da frente, e eu a ouvi fechar, a fechadura automática
clicando no lugar.
Agora que eu sabia que ele realmente tinha ido embora, eu inalei,
e senti uma mistura de tantas sensações que eu nunca tinha
experimentado antes. Minhas mãos cobriram meu rosto. Meu corpo se
contraiu. Minha respiração estremeceu enquanto os gritos trabalhavam
através de mim.
Isso machuca.
Meu Deus, como doeu, e eu rastejei para o sofá e enrolei um
cobertor sobre mim. Eu não sabia quanto tempo fiquei lá tremendo ou
quanto tempo levou para minha respiração voltar. Mas quando
finalmente consegui controlar, tirei meu telefone do bolso de trás e
liguei para Ally.
— Você está bem?
— Não.
— Ele se foi?
Minha voz nem era mais reconhecível. — Sim.
— Conte-me tudo.
Eu vi a repetição da noite inteira na minha cabeça – cada
expressão e emoção no rosto de Jared, cada maldito pedido de
desculpas. E então eu vi suas costas enquanto ele se dirigia para a minha
porta.
Isso não foi o pior.
Havia uma imagem que meu cérebro mais gostava de me mostrar,
e essa era a imagem do menino que havia matado dois membros da
minha família.
— Eu não posso — eu resmunguei. — Eu vou, só não agora.
— Ah, querida.
Puxei o cobertor e o enfiei sob o queixo. — Não sei se alguma vez
me machuquei tanto.
— Isso é porque você o ama.
As lágrimas estavam contidas nos últimos minutos. Agora, elas
estavam transmitindo tão rápido quanto antes. — Ally... — Meu peito se
apertou a ponto de nada entrar ou sair. — Acho que não consigo
respirar.
— Estarei aí em quinze minutos — ela disse, e eu a ouvi se
movendo pelo apartamento. — Nós vamos superar isso, eu prometo.
CAPÍTULO SETENTA E DOIS

JARED

Eu: Eu sinto muito.

Eu: Eu nunca deveria ter mentido para você.

Eu: Eu sinto sua falta.


CAPÍTULO SETENTA E TRÊS

JARED

Cheguei da rua e fui para a cozinha. Depois de pegar dois copos e


colocar alguns cubos de gelo em cada um, enchi-os com uísque e os
trouxe para a varanda. Brandon estava sentado no sofá, eu lhe entreguei
sua bebida e sentei na cadeira ao lado dele.
Fazia duas semanas desde que estávamos em Nova York, pegando
a estrada na manhã depois que Billie me expulsou e não tínhamos
retornado até algumas horas atrás. Desde que Brandon se aposentou
dos SEALs, ele trabalhou como meu personal trainer e ele viajava para
todos os lugares que eu ia, então ele estava junto para o passeio.
Eu disse a minha assistente que queria estar ocupado. Eu queria
minha agenda tão cheia que não pensaria em Billie.
Minha assistente havia me prometido ambos.
Mas depois de duas semanas de tentativas fracassadas, eu disse a
ela para nos levar para casa. Billie era tudo em que eu pensava e eu não
podia aguentar mais um segundo disso. Agora que eu estava de volta a
Manhattan, eu só queria ligar para o piloto e dizer a ele para abastecer o
avião novamente. Se eu estivesse aqui, eu queria estar com ela e o fato
de que eu não poderia me despedaçar.
Tudo o que eu cheirava no meu apartamento era o cheiro de
creme de manteiga dela.
Tudo o que vi quando olhei ao redor foram imagens de todas as
vezes que fizemos amor aqui e das noites em que ela adormeceu no sofá
com a cabeça no meu colo e das manhãs em que fizemos café da manhã
juntos na minha cozinha.
Foda-me.
Levei o copo aos lábios antes que Brandon pudesse tentar me
animar e tomei um longo gole. Não havia nada que valesse a pena
comemorar agora.
Uma vez que as coisas entre Billie e eu ficaram sérias, contei a
Brandon toda a história. Ele era a única pessoa no meu mundo que
conhecia a nossa história. Ele a conheceu recentemente.
Ouvi os cubos baterem em seu copo quando ele se virou para mim,
finalmente quebrando o silêncio. — Quanto tempo vamos ficar na
cidade?
Fiquei olhando para frente, minha outra mão segurando o apoio
de braço. — Nós provavelmente partiremos amanhã. O mais tardar no
dia seguinte.
— Se você continuar trazendo todos esses novos negócios, terá
que contratar outro escritório de agentes.
Apesar do fato de que ele estava falando a verdade, sua tentativa
de me fazer rir não funcionou.
Fazia semanas desde que eu fiz aquele som.
— Adicione isso à lista, além de encontrar um novo lugar para
morar.
— Você não gosta mais daqui?
Eu balancei minha cabeça, meus dedos apertando a almofada com
tanta força que eu podia sentir a base de vime embaixo. — Toda vez que
estou aqui, eu apenas a vejo. — Baixei o copo e peguei meu telefone,
olhando para a última mensagem que enviei a ela vários dias atrás.
— Você ainda não ouviu falar dela?
Eu não estava surpreso que ele sabia o que eu estava olhando. —
Não. — Peguei a bebida novamente e tomei um gole. — E eu não vou. Eu
sei que mereço isso e vou continuar dizendo isso pelo resto da minha
vida, mas caramba, não está ficando mais fácil. — Eu chupei um pedaço
de gelo em minha boca. — E você sabe o que é tão triste? Toda vez que
uma mensagem chega ao meu telefone, olho para a tela e espero que seja
dela, mesmo sabendo que não será. — Joguei meu celular na mesa ao
meu lado.
— Você sabia que isso não seria fácil e você sabia que terminaria
assim.
— Eu sei.
As coisas com Billie se transformaram em um jogo gigante de
queimada. Eu tive que me esquivar toda vez que uma pergunta foi feita
que revelaria muito de quem eu era. Eu tive que evitar conhecer seu pai
ou qualquer membro de sua família, o que era tão fodido, mas minha
mente fazia sentido disso também.
Mas o que isso realmente significava era que Billie não conhecia
Casey. Ela nunca o conheceu. A pessoa por quem ela se apaixonou era
Jared.
Levantei-me da cadeira e caminhei até a beirada da varanda.
Havia uma grade de metal que percorria toda a largura, e eu pendurei
minhas mãos sobre ela, cruzando os dedos no ar. — Eu sei como é não
tê-la na minha vida.
— Tenho certeza de que é muito melhor tê-la nela.
— Não é a porra da verdade?
Quanto mais eu olhava ao redor, mais eu sentia a tempestade no
ar. E eu via a mudança em todos os lugares que olhava, mesmo sentindo
a cada inspiração. Eram lembretes que eu não precisava. Mais lugares
que gritavam sua ausência como se meu coração já não estivesse
sentindo o suficiente.
Porra, eu faria qualquer coisa para ter Billie de volta.
Mas as duas coisas que ela queria – sua mãe e seu irmão – eram
duas coisas que eu nunca poderia dar a ela.
CAPÍTULO SETENTA E QUATRO

JARED

Eu: Eu só quero que você me perdoe.

Billie: Talvez um dia.


CAPÍTULO SETENTA E CINCO

BILLIE

— Ei, veronica — eu disse para a barista que estava do outro lado


do balcão do café que eu ia todas as manhãs.
Ela sorriu, seus dedos circulando um copo de papel médio. — Seu
de sempre?
— Por favor.
Já sabendo o valor, tirei o dinheiro da minha bolsa e entreguei a
ela assim que ela me deu o café. Ela devolveu meu troco e passei pela fila
que se formou dentro do pequeno café. Eu estava me aproximando da
porta quando ouvi meu nome.
Afastei a xícara dos meus lábios, olhando para cima do chão para
ver quem tinha dito isso.
Se eu já não tivesse engolido o gole de café, teria engasgado.
Porque já estava na minha garganta, eu parei de respirar em vez disso.
Todos nós tínhamos fantasmas. O meu deixou pequenas penas
brancas quando eu menos esperava. Não sabia se tinham vindo da
minha mãe ou do meu irmão. Não importava. Quando vi um, fiz uma
pausa, enchendo-me com a emoção mais intensa.
Eu também tinha outro fantasma.
E ele estava segurando a porta do café aberta, olhando nos meus
olhos, e eu estava cheia de uma emoção que literalmente me tirou o
fôlego.
— Jared... — Eu tentei inalar e não consegui. — Oi.
Uma mulher esbarrou no meu ombro quando tentou passar, sua
bandeja de cafés ameaçando derramar e foi quando percebi que estava
parada no meio da porta.
Com ele ainda segurando a porta, eu fui em direção a ela e quando
cheguei ao seu lado, seus dedos foram para a parte inferior das minhas
costas para me abraçar, mas ele parou no meio do caminho. E então nós
dois olhamos para a mão dele que ainda estava pendurada no ar.
Ele a deixou lá, seu olhar se movendo até os meus olhos. — Como
vai você?
Deslizei para o lado da porta, para não bloquear a entrada. —
Estou bem.
Eu não tinha mentido para ele em nenhum momento enquanto
estávamos juntos, então eu não ia começar agora. Além disso, ele veria
através dele. Ele sabia como eu parecia no meu pior, e houve pontos
durante o nosso relacionamento em que ele definitivamente viu meu
sorriso no seu melhor.
O lugar em que eu estava agora, eu não sabia como se chamava.
No meio talvez.
Ele se juntou a mim contra o prédio de tijolos, pressionado contra
ele em um ponto onde não estávamos no caminho principal da calçada.
Onde ele se posicionou era apenas alguns metros de distância e isso
estava tornando ainda mais difícil para mim encontrar ar.
Fazia dois meses desde a última vez que o vi e várias semanas
desde que ele enviou uma mensagem. Eu entendi por que elas
diminuíram a velocidade e pararam.
Ainda assim, parte de mim sentia falta delas.
Não importa quanto tempo tenha passado, isso não ficou mais
fácil.
Especialmente agora que eu observei seu rosto bonito.
Beijar Jared me faria esquecer. Isso tiraria toda a dor, me dando o
gosto que eu estava desejando a cada minuto desde que o expulsei.
Mas eu tinha que ficar me lembrando que ele não poderia ser o
herói que me protegeu do acidente e o homem que matou metade da
minha família.
Eu não conseguia encontrar uma maneira de fazer isso se
estabelecer dentro de mim, então eu tinha feito uma escolha.
Ainda assim, quando olhei em seus olhos, lembrei-me de todos os
momentos felizes que tivemos juntos. E me lembrei do formigamento
que ele causou na minha barriga, do jeito que meu coração se apertou
quando pensei nele me tocando.
Eu coloquei minha mão direita sobre ele enquanto ele batia no
meu peito e disse: — Como você está?
Ele não respondeu imediatamente. Ele deixou seus olhos vagarem
pelo meu rosto, mergulhando em meus lábios, passando por minhas
bochechas antes de retornar ao meu olhar. — Não vou dizer que as
coisas estão boas.
Os círculos sob seus olhos estavam mais escuros do que antes. Eu
tinha certeza de que ele estava de volta a não dormir bem.
Ouvi um avião no alto, distraindo-me desse pensamento,
trazendo-me para um novo. — Você tem viajado?
Se Jared quisesse, ele poderia entrar em qualquer site de mídia
social e obter seu preenchimento virtual de mim. Ele podia assistir a
vídeos onde eu falava sobre comida e comia. Ele podia ver fotos da
minha vida, negócios que eu estava promovendo, lugares que visitei
durante minha recente viagem pela Nova Inglaterra.
Eu não vi nada dele.
Além das memórias que armazenei em meu cérebro e das fotos
que tirei com meu telefone, ele não existia. Então, essas foram as coisas
que eu segurei.
— Acabei de voltar para a cidade esta manhã — disse ele.
Eu não sabia por que eu precisava da resposta. Por que eu ainda
estava aqui, falando com ele. Mas este era o único lugar que eu queria
estar agora. — Quanto tempo você esteve fora?
— O tempo todo, Billie. — Ele deixou isso acontecer e
acrescentou: — Acabei de voltar para assinar os papéis finais.
Senti o choque estremecer meu peito. — Você está se mudando?
Seus olhos ficaram ainda mais intensos e ele moveu seu corpo
contra o prédio. Ele não se aproximou, mas me senti assim enquanto eu
inalava seu cheiro. Tentei ignorá-lo, concentrando-me em suas notícias
e não na maneira como meu corpo estava respondendo à sua colônia.
Jared amava seu apartamento. Ele havia trabalhado com o
arquiteto para projetá-lo do jeito que ele queria. Eu estava tão curiosa
para saber por que ele iria vendê-lo. Mas obter essa resposta me faria
sentir mais perto dele, e agora, eu estava tendo o momento mais difícil
de ficar mesmo tão longe.
— Como está o negócio de alimentos? — ele perguntou.
Enquanto ele mudava de assunto, olhei para sua camisa, parando
nos dois botões abertos e na pequena quantidade de cabelo que
espreitava.
Detalhes.
Eu estava mergulhando em cada um.
— Está ficando melhor — eu respondi. — Eu tenho reservado
trabalhos a uma curta distância. Minhas papilas gustativas ainda não são
o que eram, mas sou capaz de trabalhar e isso é uma grande melhoria.
— Eu apertei minhas mãos ao redor do café, tentando fazê-los parar de
tremer. — Enviei-lhe um e-mail. Foi devolvido.
Mesmo que Jared não estivesse mais na minha vida, ele pagou por
um serviço e eu estava sob contrato, então continuei a apresentar o
restaurante em meus canais. Antes de lhe enviar o relatório trimestral,
eu me perguntava se ele responderia ao meu e-mail. Eu certamente não
esperava que não fosse entregue, especialmente porque essa era uma
das nossas únicas linhas de comunicação abertas. Mas presumi que era
sua maneira de me dizer que o lado comercial do nosso acordo havia
acabado.
A última parte de nós se separou.
— Billie…
O som do meu nome doeu.
Eu ouvia isso o tempo todo em sua voz, mas era apenas na minha
cabeça. E com isso vieram seus braços, boca e língua, e estava tudo bem
porque não estava realmente acontecendo.
— Eu farei qualquer coisa para você me perdoar.
Com Jared fora, eu tive tempo para pensar e uma das coisas que
eu continuei circulando de volta foi o voo 88. O operador do drone não
pretendia que ele atingisse o motor do avião. Agora, era algo com o qual
ele viveria pelo resto de sua vida. E agora, os sobreviventes ficaram com
as consequências do acidente. Pelo operador admitir a culpa, não
facilitou nossa dor. Certamente não fez nada bem sobre o que tinha
acontecido. Mas isso nos deu um fechamento.
Isso era o que Jared e eu precisávamos.
Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu estava lutando contra
elas. Eu sabia que elas viriam eventualmente, mas eu estava tentando
segurá-las. — Quando você entrou no seu carro — eu disse, lambendo
as gotas dos meus lábios — eu sei que você não pretendia que aquele
acidente acontecesse. Eu sei que você estava apenas tentando chegar em
casa e adormecer ao volante é a última coisa que você queria. — Eu
respirei, minha garganta apertando. — E por isso, eu te perdoo. — Um
dia, eu esperava perdoá-lo por mentir para mim, mas eu ainda não
estava lá.
— Obrigado. — Seus olhos estavam se enchendo de emoção, e
isso fez tudo dentro de mim doer mais. — Eu ainda sinto muito, Billie.
— Eu sei.
Ele enxugou o fundo de suas pálpebras, mantendo sua voz baixa.
— Eu gostaria de poder levá-lo de volta. Tudo isso.
— Eu acredito em você.
Eu sabia que parecia loucura depois que eu o chamei de
mentiroso, mas era uma resposta honesta e eu tinha a sensação de que
ele poderia dizer.
Ele passou a mão pela barba como se estivesse secando o rosto
inteiro. — Venha voar comigo.
— Oh Deus. — Meus dedos foram para minha garganta para
passar um pouco do ar e eu empurrei minhas costas contra o tijolo. —
Não me pergunte isso, Jared. — Eu balancei minha cabeça para frente e
para trás, sentindo as lágrimas encherem meus olhos novamente.
Eu tinha chegado tão longe e estava me preparando para aquele
momento, mas ainda não estava lá. E ouvir essa pergunta era como ver
um velho amigo, que era a parte que mais doía.
Ele bateu-se no peito com o polegar. — Eu deveria estar lá com
você. — Ele fez isso de novo quando respirou fundo. — Eu deveria ter
certeza de que você está bem lá em cima.
Meu lábio inferior tremeu.
Meus ombros tremeram.
Eu queria isso e eu sabia que não deveria.
E era um sentimento que eu não conseguia nem começar a
processar.
— Jesus Cristo, venha aqui — ele disse e estendeu a mão tão
rápido, me puxando contra ele.
Senti o café cair da minha mão. Eu circulei meus braços ao redor
de seu corpo, enterrando meu rosto em seu peito e o abracei.
E enquanto eu apertava, perdi tudo.
As emoções reprimidas.
As noites sem dormir.
A ansiedade.
A desesperança.
E enquanto ele me segurava, eu me lembrei do porque eu amava
tanto esse homem. Como ele me protegeu em sua própria maneira
egoísta. Como ele me fez acreditar que ninguém mais existia. Como ele
me mostrou um amor que eu nunca senti antes. Um que eu
provavelmente nunca sentiria novamente.
Eu absorvi tudo, em conflito de uma forma que me fez agarrá-lo
com mais força, enchendo meu nariz com seu cheiro. E enquanto eu
apertava meu aperto, eu memorizei a sensação desse momento. Cada
segundo disso, especialmente aqueles onde seus lábios estavam
beijando o topo da minha cabeça. E quando eu sabia que meu coração
não aguentava mais, eu me afastei, meu corpo lentamente se desfazendo
do dele.
Com Jared não mais me cobrindo, fui instantaneamente atingida
por uma brisa gelada.
Antes que estivéssemos completamente separados, ele agarrou
minha mão, nossos dedos entrelaçados até que lentamente se
desfizeram também.
— Não me diga que esta é a última vez que vamos nos ver.
Enquanto meu olhar circulou seu rosto lindo e torturado, pensei
em meus pais, como mesmo depois de todos esses anos, meu pai ainda
estava tão apaixonado por minha mãe. Ele tinha namorado no passado
e estava em um relacionamento agora, mas nenhuma das mulheres
significava para ele o que minha mãe tinha.
Isso era o que acontecia quando você encontrava sua alma gêmea.
Você as amava para sempre.
Da mesma forma que eu amaria Jared.
Isso era o que tornava isso tão difícil de dizer. — Não estou pronta
para mais. Não posso. Eu não sei quando. Eu só... não sei.
O tormento em seus olhos se iluminou um pouco, a emoção saindo
de sua voz. — Eu posso aceitar isso, Billie.
Antes que as coisas tivessem avançado entre nós, eu nunca
entendi por que ele estava sempre me deixando em lugares quando
parecia que nossa conversa estava apenas começando. Quando eu
aprendi seu raciocínio, fez todo o sentido.
E foi da mesma forma que me senti agora.
Se eu ficasse neste lugar por mais um segundo, minha boca estaria
na dele. Eu não estava pronta para isso. Eu precisava me curar, precisava
encontrar alguma resolução dentro de mim, e não poderia fazer isso se
ele fosse um elemento presente em minha vida.
Por mais que doesse, eu estendi a mão, meu polegar suavemente
roçando o lado de seu lábio, como se meus dedos estivessem o beijando
em vez disso. Seu bigode arranhou minha pele e eu sussurrei: — Adeus,
Jared.
Senti seus olhos em mim enquanto me afastava do café e o ouvi
dizer meu nome enquanto eu dava mais um passo. Quando ele falou
novamente, eu pressionei um dedo contra cada uma das minhas orelhas,
da mesma forma que eu havia bloqueado o barulho no avião e continuei
me movendo mais para dentro de Greenwich Village.
Jared não era o som mais alto que eu já tinha ouvido, mas sua voz
fez meu peito doer ainda mais.
CAPÍTULO SETENTA E SEIS

JARED

Eu: Apenas diga as palavras, Billie...

Billie: Em breve.
CAPÍTULO SETENTA E SETE

BILLIE

— Esta é uma chamada de embarque para o voo 21 para Martha's


Vineyard. Todos os passageiros da primeira classe e da classe executiva
são bem-vindos a embarcar neste momento — disse o agente do portão
enquanto eu estava sentada ao lado de sua mesa.
Olhei para a bolsa enorme no meu colo que coloquei lá quando
chegamos ao portão. Nela, eu tinha embalado Twizzlers e bolachas e
muito chiclete. Também havia frascos de óleos essenciais nos quais eu
já estava ensaboada. Meu tablet, laptop e telefone estavam todos
carregados com entretenimento mais do que suficiente para nós.
Sabendo que era o anúncio que estávamos esperando, fui me
levantar e senti uma mão na minha perna. Ele ficou lá por apenas um
segundo e então encontrou meus dedos e os apertou com tanta força.
O contato me deu mais calma que eu precisava.
Olhei para a esquerda para responder. Eu não conseguia sorrir
ainda. Mas se fosse possível, eu teria. Em vez disso, respirei fundo e
deixei ferver por vários segundos antes de dizer: — Estou bem.
— Você está realmente pronta para fazer isso?
Olhei para a mão de Ally que estava em volta da minha e depois
para o rosto dela. — Sim.
— Estou tão orgulhosa de você agora.
Faltavam poucas semanas para o aniversário de um ano do
acidente.
Já era tempo.
E eu estava pronta para ter essa parte da minha vida de volta.
Aumentei meu aperto, minha maneira de responder, antes de
soltá-la. Então levantei as alças grossas da minha bolsa e a pendurei no
ombro. Assim que dei um passo, encontrei meu telefone e preparei meu
e-ticket.
— Bom dia — disse o agente do portão.
— Oi. — Coloquei meu telefone no leitor e esperei até que ele
apitasse antes de me mover para o lado, para que Ally pudesse fazer o
mesmo.
Assim que ela terminou, uniu sua mão com a minha novamente e
nós entramos na ponte de embarque.
— Fale comigo.
Senti seus olhos em mim e disse: — Estou realmente bem.
Esta não era a primeira vez que eu ia ao aeroporto desde o
acidente. Parte da minha terapia incluiu vir aqui em várias ocasiões
diferentes, onde desci uma ponte de jato, entrei em um avião e sentei em
uma das fileiras. A única coisa que eu não tinha feito era entrar no ar.
Ela trouxe meus dedos até sua boca e beijou meus dedos, fazendo
o mesmo som que ela usava quando estava tentando fazer sua filha rir.
— Quão bem você está? Tipo, nível de selfie ok?
Estávamos no início da ponte do avião me virei para ela. Meu
coração estava acelerado, mas não de uma maneira que eu não pudesse
lidar. Minhas mãos estavam inquietas, mas descobri que esse era o meu
novo normal.
Pensei em todas as pessoas que gostariam de ver aquela foto.
Dos rostos que sorririam quando a vissem.
— Que tal agora? — Fechei os olhos e dei outra longa inspiração,
segurando-a por apenas um segundo. — Eu vou fazer isso, mas só se
você enviar a foto para o meu pai.
Eu jurei, seus olhos lacrimejaram um pouco quando ela
respondeu: — Você tem um acordo.
Meus olhos fizeram o mesmo quando pensei na única pessoa para
quem eu enviaria a foto.
Aquele cuja presença eu podia sentir mesmo que sua mão não
estivesse segurando a minha.
CAPÍTULO SETENTA E OITO

JARED

Eu: Eu não poderia estar mais orgulhoso. Agora, vá começar a viver,


linda garota.
EPÍLOGO

JARED

Sentei-me na parte de trás do pequeno restaurante e encarei a


porta da frente. Eu sabia que o voo de Billie já havia chegado e tinha
certeza de que ela havia se registrado no hotel. A única coisa que eu não
podia prever era se ela jantaria em seu restaurante favorito na primeira
noite em que estivesse na Itália, da mesma forma que tinha feito na
última vez que visitou o país. Foi por isso que mantive meus olhos na
entrada, observando cada rosto que entrava.
Eu estava sentado aqui por algumas horas quando meu pulso
começou a doer. Esse foi o momento em que eu sabia que a mudança
estava chegando. Senti isso em meu coração, na brisa que soprou
quando a porta se abriu. Billie entrou no espaço íntimo, olhando em
ambas as direções.
Fazia quatorze meses desde o acidente e esta foi a primeira vez
que ela foi para o exterior desde que começou a voar novamente há
pouco mais de dois meses. Eu não tinha o hábito de checar as redes
sociais dela. Foi muito difícil, sabendo que ela não estava pronta para
ficar comigo. Mas quando vi o post dela sobre a viagem, entrei em
contato com Ally, querendo fazer uma surpresa para Billie em Veneza.
Depois de algum convencimento de que eu nunca machucaria sua
melhor amiga novamente, Ally se tornou minha principal fonte de
informação.
Meu Deus, eu pensei enquanto segurava a borda da mesa.
Eu não sabia como isso era possível, mas Billie estava ainda mais
linda do que da última vez que eu a segurei. Havia uma elegância em sua
estatura, um corpo que parecia curado e tão saudável. A beleza em seu
rosto me fez parar de respirar.
Eu não tive que ficar de pé ou levantar minha mão para chamar
sua atenção. O lugar não tinha mais de seis mesas, então seus olhos
naturalmente caíram em mim. Quando o fizeram, levou vários segundos
antes que ela percebesse para quem estava olhando.
Seus olhos se arregalaram, e seus lábios se separaram,
sobrancelhas tão altas quanto podiam ir. — Jared…
Ela estava do outro lado da sala e eu ainda a ouvia. Eu ainda sentia
o poder de sua voz como se ela estivesse sussurrando em meu ouvido.
Eu sabia que ela sentia isso também, porque ela não se mexeu no
começo. Ela ficou parada na porta, me observando, uma mistura de cada
emoção passando por seu rosto, e eu observei tudo – os pensamentos,
as respirações profundas, as perguntas. E então ela finalmente soltou o
lábio que estava roendo e fez seu caminho até mim.
— Oi. — ela disse enquanto se aproximava. — Jared, o que você
está fazendo aqui?
Levantei-me para cumprimentá-la e dei um passo à frente, minha
mão indo para sua cintura. Ela se inclinou em meus dedos e eu me
abaixei e beijei sua bochecha. Seus olhos se fecharam quando minha
boca pressionou contra sua pele. Deixei meus lábios lá por um segundo
a mais do que eu precisava antes de voltar ao meu lugar.
— Você gostaria de se juntar a mim para jantar? — Apontei para
a cadeira que ela agora segurava com as duas mãos.
Com choque ainda registrado em seu rosto, ela assentiu.
Um garçom veio à mesa assim que nos sentamos. Eu disse a ele
horas atrás que estava esperando por uma mulher, e quando ele se
juntou a nós, ele estava sorrindo.
— Vermelho ou branco? — ele perguntou.
— Vermelho — respondeu Billie.
— Igual — respondi.
Ela levantou o copo de água da mesa e tomou um grande gole.
Quando ela o colocou de volta para baixo, ela manteve suas mãos
circulando ao redor dele. — Estou tão surpresa que você esteja aqui —
disse ela, olhando para mim como se eu estivesse prestes a desaparecer.
— Como você sabia? Ou até mesmo encontrar este lugar?
Meu celular estava na minha jaqueta. Toquei na tela várias vezes,
mostrando a ela o mapa desenhado à mão. — Isso facilitou.
Ela continuou a olhar para ele. — Sempre me perguntei se você
havia mandado uma mensagem para si mesma com aquela foto do meu
telefone.
Eu não poderia levar todo o crédito.
Eu pisquei e acrescentei: — Um passarinho pode ter me ajudado
também.
Seus lábios se ergueram em um sorriso.
Jesus, ela estava tão requintada como sempre.
Contente.
Brilhante.
Não foi a Itália que a fez parecer tão magnífica. Era assim que Billie
era antes da queda do avião. E como ela era durante os momentos em
que estivemos juntos, quando eu era o motivo pelo qual ela sorria.
O garçom voltou com uma garrafa de vinho tinto sem rótulo que
derramou em dois copos pequenos e depois nos deixou mais uma vez.
Eu segurei o meu no ar, pensando na melhor maneira de abordar
este momento. — Para um jantar que espero que seja digno de cinco
Noodles.
Ela riu, mas eu também vi um vislumbre de uma lágrima. Não foi
de tristeza. O que eu vi naqueles lindos olhos fez o sorriso no meu rosto
ficar ainda maior.
Nós brindamos e ela tomou um gole. Quando ela o colocou para
baixo, ela apoiou os braços na mesa. A felicidade em seu rosto diminuiue
havia uma dose ainda mais pesada de emoção em seus olhos. Ela inalou
várias vezes e então disse: — Meu pai está voando amanhã.
Eu evitei o pai dela durante todo o tempo que estivemos juntos. E
eu tinha cruzado o Atlântico sem saber o que ele pensava de mim, se ele
me aceitaria, se Billie me deixaria entrar em sua vida.
Mas o pai dela era um obstáculo que eu precisava enfrentar, e vim
aqui preparado para isso. Só não sabia que teria a chance de fazer isso
enquanto estava na Itália.
— Eu gostaria de conhecê-lo — eu disse.
Lágrimas escorreram por suas pálpebras, seus lábios trêmulos. —
Você faria isso por mim? Por nós?
— Billie... — Eu balancei minha cabeça. — Eu faria qualquer coisa
por você.
Sua boca se abriu e quando ela estava prestes a responder, o
garçom colocou uma tigela de pão entre nossos copos de água.
— Focaccia21 caseira — disse ele, protelando. Ele olhou para Billie
enquanto ela enxugava os olhos. Quando as mãos dela se afastaram do
rosto, toda a emoção dela se foi e ele disse: — Diga-me, signorina22,o que
a traz a Veneza?
Ela limpou a garganta. — Vim de férias. — Ela fez uma pausa, seus
dentes retornando ao lábio. — E de alguma forma eu encontrei esse
homem encantador novamente.
— E você, signore? — o garçom perguntou.
Continuei a encarar o olhar verde ardente de Billie. Um que eu
estava pensando sem parar desde o momento em que me sentei ao lado
dela no avião. Eu não sabia então que teria esses sentimentos ou que a
seguiria pelo mundo. Mas enquanto eu olhava para ela, tudo fazia
sentido, cada decisão... porque cada uma me trouxe aqui.
Eu balancei a cabeça para a linda garota na minha frente. — Vim
dizer a esta aqui o quanto ainda a amo.

21
A focaccia é um pão baixo, feito de uma mistura de farinha, água, sal e fermento, que pode ser cozido
tanto no forno quanto na grelha.
22
Senhorita em Italiano.

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