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ECG - Eixo

Elétrico do
Coração
SUMÁRIO
1. O vetor elétrico cardíaco......................................................................................... 3

2. E de onde vem o círculo de Cabrera?...................................................................... 5


Derivações do plano frontal ............................................................................................................... 5

3. Cálculo do eixo cardíaco....................................................................................... 10

4. Mas como calcular o eixo elétrico cardíaco?........................................................ 11


O método simplificado: ......................................................................................................................12
Método completo ................................................................................................................................14

5. Análise do eixo no plano horizontal (derivações precordiais)............................... 19

Referências bibliográficas.................................................................................................22
O eixo elétrico cardíaco ou eixo elétrico do complexo QRS nada mais é que a dire-
ção do vetor de despolarização dos ventrículos. Em outras palavras, o eixo elétrico
é a principal direção do estímulo elétrico em seu caminho através dos ventrículos.
Vamos entender esse conceito um pouco melhor...

1. O VETOR ELÉTRICO CARDÍACO

A corrente de despolarização das células cardíacas ocorre na direção dos átrios


para os ventrículos e do endocárdio para o epicárdio. Logo no início da despolariza-
ção ventricular, três grandes áreas são ativadas: região parasseptal anterior (próxima
ao músculo papilar anterior), o centro da face esquerda do septo e uma área póste-
ro-lateral. No início, o septo interventricular é ativado em suas faces esquerda (com
maior massa e amplitude de vetor) e direita, além do início da parede livre do ventrícu-
lo esquerdo (VE). Já a segunda fase da despolarização leva em consideração a pare-
de livre do VE e do ventrículo direito (VD) e a transmissão da onda de despolarização
para o epicárdio. E a última fase denota a despolarização das porções basais de am-
bos os ventrículos. Essas três fases formam três vetores (Figura 1).

Figura 1. Vetores de despolarização do coração.


Fonte: Acervo Sanar.

O primeiro vetor é a representação da ativação do septo do endocárdio e também


da parede livre. Dessa forma, esse vetor aponta da direita para esquerda, e de cima

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para baixo. Já o segundo vetor de despolarização, em situações normais, aponta de
cima para baixo e da direita para esquerda. Note que, devido à ativação de grande
massa cardíaca, esse vetor terá uma representação maior no eletrocardiograma. A
despolarização das porções basais é representada pelo vetor 3.
Esses vetores serão somados, e o vetor de despolarização ventricular será repre-
sentado apenas por um único vetor resultante, que é utilizado para calcular o eixo
cardíaco (Figura 2). Devido à magnitude da área cardíaca despolarizada representa-
da pelo vetor de despolarização 2, ele acabará definindo o vetor resultante (de supe-
rior para inferior e da direita para esquerda).

Figura 2. Vetor de despolarização resultante.


Fonte: Acervo Sanar.

O coração é uma estrutura tridimensional, sendo assim é mais bem retratado em


dois planos ao invés de um. Desse modo, a corrente elétrica que passa pelo coração
também será melhor representada em dois planos.
Para determinarmos o eixo do coração é necessário imaginarmos o coração den-
tro do círculo de Cabrera (Figura 3). Em situações normais, o eixo do coração estará
entre -30º e +90º desse círculo.

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Figura 3. Coração alocado no círculo de Cabrera, dentro do ei-
xo da normalidade, entre -30º(aVL) e +90º(aVF).
Fonte: Acervo Sanar.

2. E DE ONDE VEM O CÍRCULO


DE CABRERA?

O círculo de Cabrera é formado através das interseções das derivações do plano


frontal sendo, então, a junção de sistemas triaxiais formando um sistema hexaxial.
Vamos relembrar como são classificadas cada derivação e os sistemas formados
por elas.

Derivações do plano frontal


No plano frontal as derivações podem ser bipolares ou unipolares.
Derivações bipolares: São ditas bipolares pois essas derivações terão um único
polo positivo e um único negativo. Vejamos cada derivação.
DI: Derivação que vai da direita para esquerda, ou seja, do polo negativo para o
positivo (Figura 4).

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Figura 4. Direção e sentido da derivação DI.
Fonte: Elaborada pelo autor.

DII: Derivação que vai da direita para esquerda e de superior para inferior, tam-
bém do polo negativo para o positivo (Figura 5).

Figura 5. Direção e sentido da derivação DII.


Fonte: Elaborada pelo autor.

DIII: Derivação que vai de superior para inferior e da esquerda para direita, mais
uma vez do polo negativo para positivo (Figura 6).

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Figura 6. Direção e sentido da derivação DIII.
Fonte: Elaborada pelo autor.

As três derivações juntas formam um sistema triaxial (Figura 7).

Figura 7. Sistema triaxial formado pelas derivações DI, DII e DIII.


Fonte: Elaborada pelo autor.

Derivações unipolares: são ditas unipolares pois só há um polo positivo, enquan-


to todos os outros funcionam como polos negativos, saindo sempre desses últimos.

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aVL: Derivação que vai de inferior para superior e da direita para esquerda
(Figura 8).

Figura 8. Direção e sentido da derivação aVF.


Fonte: Elaborada pelo autor.

aVR: Derivação que vai de inferior para superior e da esquerda para direita
(Figura 9).

Figura 9. Direção e sentido da derivação aVR.


Fonte: Elaborada pelo autor.

aVF: Derivação que vai de superior para inferior (Figura 10).

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Figura 10. Direção e sentido da derivação aVF.
Fonte: Elaborada pelo autor.

Essas três derivações juntas formam mais um sistema triaxial (Figura 11).

Figura 11. Direção e sentido da derivação aVF.


Fonte: Elaborada pelo autor.

Juntando os dois sistemas, forma-se um sistema hexaxial, que dá origem ao cír-


culo de Cabrera (Figura 12).

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O círculo de Cabrera possui 360° e tem fatias de 30°. Por convenção, o eletro-
do positivo de DI fica na posição de 0° e o eletrodo negativo de DI está na posi-
ção de 180°.

Figura 12. Círculo de Cabrera (sistema hexaxial) formado pela junção de dois sistemas triaxiais. Sendo
um circulo de 360 graus com fatias de 30 graus.
Fonte: Acervo Sanar.

3. CÁLCULO DO EIXO CARDÍACO

Calcular o eixo nada mais é do que encaixar o eixo elétrico do coração no círculo
de Cabrera. Relembrando, por convenção, o eletrodo positivo de DI está na posição
de 0° e o eletrodo negativo de DI está na posição de 180º. A partir daí, é possível
determinar em que angulação as outras derivações se encontram. O eixo cardíaco
normalmente está localizado entre -30º e +90º. A depender da localização do eixo
podemos dizer se o coração está ou não desviado e sugerir condições que levam a
esse desvio.

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Vejamos na tabela a seguir (Tabela 1):

Tabela 1. Relação dos eixos e principais condições que levam à sua alteração.

Eixo Grausº Imagem Condições

Normais
*Entre -30 a +60 pode-
Normal -30 a +90
mos encontrar bloqueio
de ramo esquerdo (BRE)

Bloqueio divisional an-


terossuperior (BDAS),
Desvio à esquerda -90 a -30 hipertrofia de ventrí-
culo esquerdo, infarto
de parede inferior

Bloqueio divisional pós-


tero-inferior, hipertensão
Desvio à direita -90 a +180 pulmonar, cardiopatias
congênitas, dextrocar-
dia, sobrecarga de VD

Cardiopatias congê-
Desvio à extrema -90 a +180 nitas, dextrocardia,
sobrecarga de VD

Fonte: Elaborada pelo autor.

4. MAS COMO CALCULAR O EIXO


ELÉTRICO CARDÍACO?

Antes de começarmos, é preciso entender dois princípios:

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Toda derivação possui uma derivação perpendicular a ela. DI é perpendicular a
aVF, DII é perpendicular a aVL e DIII é perpendicular a aVR.
Tudo que estiver na parte direita do semicírculo de Cabrera será positivo e tudo
que estiver no semicírculo inferior será positivo.
Existem alguns meios de se determinar o eixo cardíaco. Vamos nos ater a dois
principais.

O método simplificado:
Passos:
Procure um complexo QRS isodifásico, um complexo neutro que tem a mesma
área positiva e negativa. Assim, procura-se um complexo que tem uma onda R e on-
da S com a mesma amplitude (Figura 13).

Figura 13. Traçado com complexo QRS isodifásico.


Fonte: Acervo Sanar.

O eixo será determinado pela derivação perpendicular. Nesse caso, olhamos se o


complexo QRS dessa derivação é positivo ou negativo. Lembre-se: toda derivação
possui uma derivação perpendicular.
Vamos ver um exemplo:

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Figura 14. Traçado de eletrocardiograma com ênfase nas derivações do plano frontal.
Fonte: Thitiporntaingpan/Shutterstock.com.

Nesse traçado do eletrocardiograma podemos notar o complexo QRS isodifásico


na derivação DI. O segundo passo é encontrar a derivação perpendicular a DI, que
nesse caso é aVF, sendo assim o eixo será -90º ou +90º (Figura 15.1). Ao olharmos
para a derivação aVF, vemos que o complexo QRS é predominantemente positivo.
Nesse caso, o eixo é +90º, pois como o complexo é predominantemente positivo ele
está se deslocando em sentido de aVF (Figura 15.2).

Figura 15.1 Figura 15.2

Figura 15. Cálculo de eixo pelo método simples.


Fonte: Elaborada pelo autor.

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Vamos para mais um exemplo:
Suponha que ao analisar um outro eletrocardiograma um complexo QRS isodifá-
sico é encontrado em DIII. Qual a derivação perpendicular a DIII? aVR. Desse modo
o eixo seria -150º ou +30º (Figura 16.1). Suponha que o complexo QRS de aVR seja
predominantemente negativo. Qual será o eixo? -150º, ou seja, temos um desvio à
extrema (Figura 16.2).

Figura 16.1 Figura 16.2

Figura 16. Cálculo de eixo pelo método simples.


Fonte: Elaborada pelo autor.

Método completo
Podemos usar esse método quando não identificamos nenhuma derivação isodi-
fásica no traçado eletrocardiográfico.
Princípios:
Ao analisar DI, tudo que estiver no semicírculo do lado direito do círculo de
Cabrera será positivo e o que estiver do lado esquerdo, negativo; isso porque, caso
a onda de despolarização se aproxime (aponte) para D1, o eletrodo enxergará uma
onda positiva e, caso se afaste, enxergará negativa. Lembre-se de que DI aponta da
direita para a esquerda do paciente.
Ao analisar aVF, tudo que estiver positivo estará no semicírculo inferior e o que
estiver do semicírculo superior será negativo. A lógica aplicada é a mesma que de-
mos em DI, porém devemos lembrar que aVF aponta para baixo.
Vejamos as imagens a seguir (Figura 17).

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Figura 17.1 Figura 17.2

DI aFV

Figura 17. Análise de DI e aVF.


Fonte: Elaborada pelo autor.

Passos:
Primeiro analisamos a polaridade predominante do QRS das derivações DI e aVF.
Ao fazermos isso, estaremos delimitando em que quadrante estará o eixo.
Por exemplo, suponha que aVF e DI sejam positivos, nesse caso o eixo estará no
quadrante onde há uma intersecção entre as áreas dessa derivação (Figura 18).

Figura 18. Quadrante do eixo caso aVF e DI sejam positivo.


Fonte: Elaborada pelo autor.

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O segundo passo é buscar uma das derivações mais próximas que não atraves-
sam o quadrante encontrado, determinar a polaridade do QRS dessa derivação e
identificar as áreas de intersecção entre o semicírculo da derivação e o quadrante já
encontrado.
Vamos treinar esses dois passos através da análise de um eletrocardiograma
(Figura 19).

Figura 19. Traçado de Eletrocardiograma.


Fonte: Acervo do autor.

Para calcular o eixo pelo eletrocardiograma da imagem, primeiro vamos determi-


nar o quadrante através da polaridade de D1 e aVF. Ao analisar o traçado vemos que
DI é positivo e aVF é negativo. Desse modo, o quadrante em que o eixo está locali-
zado está entre 0º e -90º.

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Figura 20. Intersecção das derivações DI (Positiva) e aVF (negativa) delimitando o quadrante do eixo.
Fonte: Elaborada pelo autor.

Agora que já identificamos o quadrante, vamos para o passo número dois e refi-
nar nossa análise. Nessa etapa, escolhemos uma das duas derivações adjacentes
ao quadrante encontrado, que nesse caso pode ser DII ou aVR. Vamos escolher
aVR por ser positivo. Ser positivo aqui implica que a onda de despolarização es-
tá indo no sentido de aVR (de baixo para cima e da esquerda para direita). Agora
vamos traçar um novo semicírculo a partir desse ponto (posição -150º). A área de
intersecção desse semicírculo com o quadrante encontrado anteriormente será a
área em que encontraremos o eixo, que nesse caso está entre -90º e -60º (Figura
21). Note que, caso aVR fosse negativo, a onda de despolarização estaria indo na
direção contrária do aVR e traçaríamos um semicírculo no sentido oposto, usando
a posição +30º como referência.

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Figura 21. Eixo entre -60º e -90º definidos pela intersecção da área do quadran-
te definido por DI e aVF; e o semicírculo da derivação adjacente (aVR).
Fonte: Elaborada pelo autor.

Ao escolher uma das derivações adjacentes, pode ser que a sua primeira escolha
lhe dê uma área maior e mais abrangente de onde está localizado o eixo. Desse mo-
do, caso isso aconteça, você pode analisar a outra derivação adjacente para refinar
a área do eixo.

Se liga!  Para uma análise mais rápida no dia a dia da prática clínica,
se DI e aVF estiverem positivos, o eixo estará entre 0º e +90º, ou seja, você já sabe
que estará dentro da normalidade.

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5. ANÁLISE DO EIXO NO PLANO
HORIZONTAL (DERIVAÇÕES
PRECORDIAIS)

O plano horizontal é formado pelas derivações precordiais V1, V2, V3, V4, V5
e V6. Ao analisarmos o eixo no plano horizontal, poderemos determinar se há ou
não rotação do coração, que pode ser no sentido horário ou anti-horário. Para
isso, temos que analisar a morfologia do complexo QRS e suas mudanças ao
longo das derivações.
Em condições normais, o complexo QRS em V1 é predominantemente negativo e
evolui até estar predominantemente positivo em V6. A transição da morfologia de
negativo para positivo ocorre em V3 e V4 (Figura 22). Na figura, podemos ver clara-
mente que a transição ocorre em V4. Quando a transição ocorre em V1 ou V2, dize-
mos que o eixo está girado no sentido anti-horário. Já se a transição ocorrer em V5
ou V6, dizemos que o eixo está girado no sentido horário.

Figura 22. Traçado de eletrocardiograma com ênfase nas derivações do plano horizontal.
Fonte: Thitiporntaingpan/Shutterstock.com.

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CÁLCULO DE EIXO MÉTODO SIMPLES

Encontre a derivação em que o complexo QRS é isodifásico.

Escolha a derivação perpendicular a ela (aqui estará o eixo).

Analise se o complexo QRS é predominantemente + ou -.

Você encontrou o eixo.

Fluxograma 1. Cálculo de eixo método simples.


Fonte: Elaborado pelo autor.

CÁLCULO DE EIXO MÉTODO COMPLEXO

Tenha em mente (desenhe) o círculo de Cabrera (rosa dos ventos).

Analise polaridade do QRS de DI e aVF e delimite um quadrante.

Escolha uma das derivações adjacentes ao quadrante e analise se QRS é + ou -.

A depender da polaridade trace um semicírculo (180º) a partir dessa derivação.

A zona de intersecção do semicírculo com o quadrante encontrado em DI e aVF


será o intervalo que contém o eixo.

Fluxograma 2. Cálculo de eixo método complexo.


Fonte: Elaborado pelo autor.

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MAPA MENTAL GERAL

EIXO

Derivações Horizontais

Transição de QRS em V1-V2 Transição de QRS em V3-V4 Transição de QRS em V5-V6

Rotação anti-horária Rotação horária Rotação horária

Derivações Frontais

-30º a +90º -30º a -90º -90º a 180º +90º a 180º

Normal Desvio à esquerda Desvio à extrema Desvio à direita

Dica: DI e AF Causas Causas Causas


positivos = Eixo
normal Cardiopatias
BDAS Sobrecarga de VD
congênitas

Hipertrofia de VE Dextrocardia Dextrocardia

IAM de parede Bloqueio divisional


Sobrecarga de VD
inferior póstero-inferior
Cardiopatias
congênitas
Hipertensão
pulmonar
Fonte: Elaborada pelo autor.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Alencar Neto, J. N. de. Manual de ECG. 1. ed., v. 1. Salvador: Sanar, 2019.
Cirenza C, Póvia R. O eletrocardiograma na prática médica. v. 1. São Paulo: Atheneu,
2013.
Pastore CA, et al. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Ánalise e
Emissão de Laudos Eletrocardiográficos. Arq. Bras. Cardiol. [on-line]. 2009, v. 93, n. 3,
suppl. 2, p. 1-19.

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