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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES


MÚSICA - LICENCIATURA

GABRIEL RODRIGUES CAMPOS

JOGOS MUSICAIS NO PROCESSO DE MUSICALIZAÇÃO INFANTIL: UM


ESTUDO DE CASO NA ESCOLA ESPAÇO DA CRIANÇA

Cuiabá
2019
GABRIEL RODRIGUES CAMPOS

JOGOS MUSICAIS NO PROCESSO DE MUSICALIZAÇÃO INFANTIL: UM


ESTUDO DE CASO NA ESCOLA ESPAÇO DA CRIANÇA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Licenciatura em Música da Universidade
Federal de Mato Grosso, como requisito do curso para
obtenção de Título de Licenciado em Música.

Orientadora: Prof. Drª Taís Helena Palhares

Cuiabá
2019
Sumário
Introdução ................................................................................................................................... 5

1 Referencial Teórico ............................................................................................................ 7

1.1 A Musicalização Infantil .............................................................................................. 7

1.2 O Jogo ............................................................................................................................. 10

2 Jogando com a turma ............................................................................................................. 14

2.1 O Caso Estudado ............................................................................................................ 14

2.2 Jogos Selecionados ......................................................................................................... 16

2.2.1 - Qual é o instrumento que falta?............................................................................. 16

2.2.2 - Troquem de Cadeiras! ........................................................................................... 17

2.2.3 - Quem tem a voz mais forte ................................................................................... 17

2.2.4 - Stop! ...................................................................................................................... 17

2.2.5 - Quente! .................................................................................................................. 18

2.2.6 – A Dança da Chave ................................................................................................ 18

3 Análise dos Resultados .......................................................................................................... 21

3.1 O processo e observações do pesquisador ................................................................... 21

3.2 Juíza Independente ......................................................................................................... 22

3.3 Comparação dos Dados .................................................................................................. 23

Considerações finais ................................................................................................................. 27

Referências ............................................................................................................................... 28

Anexo ....................................................................................................................................... 29
Lista de Quadros

Quadro 1 - Jogos e aptidões pretendidas ________________________________________19

Quadro 2 - Apontamentos realizados no primeiro dia______________________________24

Quadro 3 - Apontamentos realizados no segundo dia _____________________________ 25

Quadro 4 - Apontamentos realizados no terceiro dia ______________________________ 26


5

Introdução

O presente trabalho tem intuito de trazer uma abordagem sobre jogos musicais no
processo de musicalização infantil. Assim como vários educadores musicais
(SWANWICK, 2013; PALHARES, 2010; entre outros) defendem que a música é algo
essencial e importante no desenvolvimento das pessoas, compactuo da mesma ideia. É na
primeira parte da vida do ser humano que ele acaba se desenvolvendo mais, ou seja,
quando criança. Nesse momento também que se inicia o progresso musical. Quanto a isso
acredito que os jogos musicais são relevantes para o aprendizado da criança, pois se trata
de atividades lúdicas que sempre estimulam e motivam aqueles que participam.
Outro ponto que deve ser considerado é a socialização estimulada por todas as
atividades que as crianças participam, inclusive pela música. Os jogos, em especial os
musicais, contribuem para o desenvolvimento desta socialização, os quais estimulam a
criança a desenvolver sua relação interpessoal.
A importância do presente trabalho é poder contribuir com as discussões acerca
do tema por meio de um estudo de caso com crianças na idade de 5 anos. Por isso o
objetivo é desenvolver uma experiencia musical com essa faixa etária através de jogos
musicais. Com isso, trataremos especificamente sobre as aptidões desenvolvidas através
dos jogos, a socialização entre as crianças, e o comportamento das mesmas.
Utilizei como base para este trabalho conceitos e propostas de cerca de quatro
autores: Miranda (2013), Silveira (2013), Storms (2000), Swanwick (2003), os quais
discutem questões relacionadas aos jogos musicais. Estes autores nortearam essa
pesquisa, contribuindo significativamente com as questões levantadas. Storms (2000) traz
todo o estudo prático no desenvolvimento dos jogos musicais em seu livro, organizando
um esquema de atividades no qual possuem mais de 100 jogos envolvendo música, para
várias faixas etárias. Seus jogos possuem diversos objetivos que abrangem desde o
trabalho da escuta, até jogos de criação e improvisação e, a partir dos jogos apresentados
por este autor, foram selecionados os jogos aplicados neste estudo.
Miranda (2013) trata da questão da humanização na musicalização infantil e a
socialização mediante a jogos, mostrando a importância de se brincar nessa etapa
fundamental que é a da infância. Silveira (2013) também acrescenta sua experiencia com
jogos desenvolvidos numa escola municipal. A contribuição de Swanwick (2003), entre
6

outros autores, para esse trabalho foi na questão do desenvolvimento musical mediante
as faixas etárias. Através desse processo pude selecionar atividades fazendo as devidas
adaptações para os alunos na faixa etária escolhida (5 anos). Através disso, elaborei um
sistema de avaliação, abrangendo o processo musical, social e comportamental dos
alunos.
Para fundamentar a análise da coleta de dados, consultei também outros estudiosos
e pesquisadores que abordam este tema, cujas referências serão apresentadas quando
necessário.
O trabalho foi organizado da seguinte forma: no primeiro capítulo foi abordado
todo o referencial teórico, trazendo as bases para a questão da musicalização infantil e
para o uso do jogo. Esta fase da pesquisa foi primordial para se verificar o que outros
estudiosos e pesquisadores já escreveram sobre o assunto.
No segundo capitulo foi apresentada a parte metodológica da pesquisa, discutindo
o caso estudado, a turma escolhida, a seleção dos jogos e as ferramentas para análise.
Como se trata de um estudo de caso, com o qual o pesquisador possui um envolvimento
afetivo, foi necessário o auxílio de uma juíza independente, a fim de que a pesquisa tivesse
validade.
Os resultados da pesquisa foram apresentados no último capítulo, dialogando com
todas as observações acerca da aplicação dos jogos, os pareceres dados por mim e pela
juíza independente e a comparação entre as duas visões.
Após as Considerações Finais, encontram-se as referências e o Anexo, no qual
pode se verificar o questionário desenvolvido pelo pesquisador como ferramenta para a
coleta de dados.
7

1 Referencial Teórico
1.1 A Musicalização Infantil
A criança entra em contato com a música desde muito cedo, logo na primeira fase
da vida. Quando bebê, suas primeiras vivências surgem em momentos afetivos entre mãe
e filho. Ao balançar, ao amamentar e ao fazer dormir aparecem as primeiras canções de
ninar, que acalentam o bebê, trazendo segurança e bem-estar. (SILVEIRA, 2013).
Alguns pesquisadores ainda afirmam que antes mesmo do nascimento, o feto já
recebe os primeiros estímulos musicais. Brito (2003) é uma das estudiosas que defende
que os bebês acabam por conviverem com sons produzidos pelo próprio corpo da mãe,
como por exemplo o sangue correndo pelas veias, o movimento do intestino, e até mesmo
a respiração.
Esses primeiros contatos sonoros constituem a primeira vivência sonora
proporcionada ao ser humano. Mediante isso, inicia-se a trajetória sonora/musical das
crianças.
Quando as crianças crescem, começam a se desenvolver como um todo,
cognitivamente, fisicamente, emocionalmente, etc. a música acaba se fazendo presente
também nessas etapas. Incontáveis pesquisas discutem dados relacionados a música e a
sua importância para o desenvolvimento cognitivo das crianças (ver: BRITO, 2003;
SWANWICK, 2014; KAIL, 2004, entre outros); estudiosos propõem atividades lúdicas
e jogos musicais para serem desenvolvidas com crianças, inclusive se preocupando com
o desenvolvimento da socialização (ver: STORMS, 2000; SILVEIRA, 2013; MIRANDA,
2013; HUIZINGA, 2000). Outros pesquisadores estudam habilidades cognitivas e
musicais (ver: BRÉSCIA, 2003); e todos eles contribuem para a ampliação de discussões
na área da educação musical.
No processo educacional e no desenvolvimento da criança, Piaget traz em sua
teoria grandes contribuições relacionadas ao processo de aprendizagem e
desenvolvimento cognitivo, envolvendo crianças e adultos. Apesar de não ter trabalhado
diretamente com a música, Piaget traz um importante conhecimento sobre o
desenvolvimento cognitivo infantil que muitos estudiosos da área da música estudam,
além de ser mencionado e estudado também em várias outras áreas acadêmicas. Caviccha
(2014) realizou um estudo sobre Piaget e apresenta uma ideia relativa ao pensamento do
teórico referente ao desenvolvimento cognitivo.
8

A capacidade de organizar e estruturar a experiência vivida vem da


própria atividade das estruturas mentais que funcionam seriando,
ordenando, classificando, estabelecendo relações. Há um isomorfismo
entre a forma pela qual a criança organiza a sua experiência e a lógica
de classes e relações. Os diferentes níveis de expressão dessa lógica são
o resultado do funcionamento das estruturas mentais em diferentes
momentos de sua construção. (CAVICCHIA, 2014, p.3)

Todo esse funcionamento, das atividades mentais citado por Caviccha (2014), é o
que Piaget denomina como estágios do desenvolvimento cognitivo. Esses estágios
representam as etapas pelo qual o mundo da criança é construído.
Sua teoria é dividida em quatro estágios que demonstram o processo evolutivo
cognitivo da criança. De forma resumida, esses estágios se complementam e respeitam
uma estrutura cronológica. São eles:

[...] estádio da inteligência sensório-motora (até, aproximadamente, os


2 anos); estádio da inteligência simbólica ou pré-operatória (2 a 7-8
anos); estádio da inteligência operatória concreta (7-8 a 11-12 anos); e
estádio da inteligência formal (a partir, aproximadamente, dos 12 anos).
(CAVICCHIA, 2014, p.3)

De acordo com essa mesma autora, a afetividade e socialização são interligadas


ao processo cognitivo. A ligação entre esses três pontos aparece evidente no processo de
musicalização infantil, quando, por exemplo, as crianças interagem com os colegas em
uma aula em grupo, ou mesmo com os pais. Em outro exemplo já citado anteriormente, a
afetividade acaba sendo gerada quando o bebê ouve os sons do corpo da mãe, é
acalentado, e também quando escuta as canções de ninar de sua mãe. Todo esse processo
se faz importante no desenvolvimento musical das crianças.
Este é outro ponto de progresso na musicalização infantil que acaba sendo gerada
por atividades, em especial de caráter lúdico. Segundo Bréscia (2003):

Ao trabalhar com os sons, a criança aguça sua audição, ao acompanhar


gestos e dançar ela está trabalhando a coordenação motora e a atenção,
ao cantar ou imitar sons ela está estabelecendo relações com o ambiente
em que vive. O aprendizado de música, além de favorecer o
desenvolvimento afetivo da criança, amplia a atividade cerebral,
melhora o desempenho escolar dos alunos e contribui para integrar
socialmente o indivíduo (BRÉSCIA, 2003, p. 81).

A socialização acaba então sendo inerente ao processo de musicalização. A


mesma se torna importante para o desenvolvimento da criança como ser humano. Assim
acontece com a afetividade e o processo cognitivo. Todos esses pontos acabam
caminhando juntos. Como uma criança pode se desenvolver sem esses três pontos?
9

Pensando em hipóteses, suponhamos que uma criança possa desenvolver apenas


cognitivamente. Esta criança, porém, terá dificuldades para conviver e relacionar-se com
outras pessoas, porque não desenvolveu a sociabilidade e afetividade. Ou mesmo,
desenvolveu a afetividade e o lado social, porém não a cognição, fará com que a mesma
não consiga progredir com o desenvolvimento dos processos mentais e ficará estagnada.
Esses pontos servem como pilares para o desenvolvimento total de qualquer indivíduo.
Por isso para musicalização infantil, esses três pontos são indispensáveis.
O entendimento desse processo é muito importante para a condução de situações
que envolvem o aprendizado musical das crianças. Hoje em dia, a musicalização infantil
tem crescido muito, devido ao crescente interesse de pais que desejam proporcionar uma
formação mais completa aos seus filhos, envolvendo a cognição, socialização e
afetividade.
No campo da educação musical, Swanwick (2014) em seu livro “Música, mente e
educação” reflete acerca do desenvolvimento musical das crianças, e elabora uma
abordagem baseando-se também nas ideias de Piaget. A partir de seus estudos, mostra
que as crianças têm seu desenvolvimento de forma gradativa e que a cada ano de vida vão
adquirindo habilidades.
Segundo ele, as crianças de 6 meses acabam focando a atenção no som como um
todo. Ao primeiro ano de vida, a criança começa a reproduzir os sons que ouve. Essa
habilidade é aperfeiçoada com o tempo. Swanwick (2014, p. 90 ) fala que “Há aqui, então,
uma clara indicação de uma mudança de interesse e deleite com o som para o controle
dos materiais: a primeira mudança importante no desenvolvimento musical de crianças
muito novas.”
Assim como essa é a primeira mudança significativa no desenvolvimento musical
das crianças, aos 2 anos de idade há uma outra mudança. A criança passa também a
utilizar movimentos em conjunto com a música, o que gera a habilidade de ritmo. A partir
dos 4 anos de idade, segundo este mesmo autor, a criança é capaz de demonstrar as
primeiras expressões de criação e composição, por mais que sejam simples, mas muito
significativas para a idade.
Para esse presente trabalho, foi escolhida a faixa etária dos 5 anos, idade na qual
os alunos têm uma boa compreensão de alguns elementos sonoros e são capazes de
demonstrar as primeiras expressões musicais significativas.
As crianças desta idade passam por grandes transformações, sendo elas físicas e
psicológicas. Como as crianças estão em constante crescimento, nota-se nessa faixa etária
10

um desenvolvimento físico e um aperfeiçoamento da habilidade motora. Kail (2004) diz


que o desenvolvimento é completo. As crianças se tornam mais fortes e o cérebro fica
mais poderoso, aumentando também as habilidades cognitivas.
Essas características foram consideradas no momento de selecionar jogos a serem
aplicados com a turma. A seguir falaremos um pouco mais sobre o jogo e sua importância
para o indivíduo.

1.2 O Jogo
Para Huizinga (2000) apresentar um conceito ou um significado de jogo é
complicado. Em seus estudos, o autor aponta que jogo é basicamente uma expressão
lúdica que se manifesta no homem e que também se faz presente na vida nos animais.
Para ele:
Os animais brincam tal como os homens. Bastará que observemos os
cachorrinhos para constatar que, em suas alegres evoluções, encontram-
se presentes todos os elementos essenciais do jogo humano. Convidam-
se uns aos outros para brincar mediante um certo ritual de atitudes e
gestos. Respeitam a regra que os proíbe morderem, ou pelo menos com
violência, a orelha do próximo. Fingem ficar zangados e, o que é mais
importante, eles, em tudo isto, experimentam evidentemente imenso
prazer e divertimento. Essas brincadeiras dos cachorrinhos constituem
apenas uma das formas mais simples de jogo entre os animais. Existem
outras formas muito mais complexas, verdadeiras competições, belas
representações destinadas a um público. (HUIZINGA, 2000, p.1).

Essas atitudes tomadas pelos animais, como o brincar com o outro, sem morderem
sem machucar, se divertirem, apresentam bem os aspectos de socialização e afetividade,
mostrando que esses mesmos aspectos já citado no tópico anterior também são
fundamentais para os animais.
Todas essas características dos animais também aparecem nos seres humanos e
demonstram apenas uma simples forma de jogo, mas que define bem o sentido intrínseco
do mesmo. Dentro do jogo é possível identificarmos alguns pontos que são muito
importantes para seu fundamento: o sentido de brincar e de se divertir, as regras e o
espirito competitivo. Em todo e qualquer tipo de jogo, podemos ver um desses pontos
presentes.
Huizinga (2000) ainda levanta algumas teorias sobre o jogo, as quais atribuem um
significado e uma função para o mesmo.

Umas definem as origens e fundamento do jogo em termos de descarga


da energia vital superabundante, outras como satisfação de um certo
11

"instinto de imitação", ou ainda simplesmente como uma "necessidade"


de distensão. Segundo uma teoria, o jogo constitui uma preparação do
jovem para as tarefas sérias que mais tarde a vida dele exigirá, segundo
outra, trata-se de um exercício de autocontrole indispensável ao
indivíduo. Outras vêem o princípio do jogo como um impulso inato para
exercer uma certa faculdade, ou como desejo de dominar ou competir.
Teorias há, ainda, que o consideram uma "ab-reação", um escape para
impulsos prejudiciais, um restaurador da energia dispendida por uma
atividade unilateral, ou "realização do desejo", ou uma ficção destinada
a preservar o sentimento do valor pessoal etc. (HUIZINGA, 2000, p. 1-
2).

Algo em comum nessas hipóteses levantada por Huizinga (2000) são que todas
levam a uma suposição de que o jogo está ligado a algo que não seja o próprio jogo, mas
sim a uma finalidade biológica. Isso porque todas elas questionam o motivo e os objetivos
do jogo.
Por trás do jogo sempre há algo a mais. Podem haver vários sentidos como o
divertimento, ou uma realização pessoal, um sentimento por competir, ou mesmo
relacionar-se com o outro. Pode-se também desenvolver habilidades que se enquadram
na finalidade biológica citada por Huizinga.
Para esse presente trabalho, o objetivo do jogo está ligado a um conteúdo musical,
onde os objetivos são desenvolver aptidões musicais. O jogo também parte para o
desenvolvimento de outras habilidades como a concentração, o respeito, além de estarem
ligados a socialização, a afetividade e o desenvolvimento cognitivo, pontos citados
anteriormente, que são de extrema importância para que o jogo seja levado a diante.
Além desses aspectos, há que se considerar o divertimento e a boa relação com o outro
que qualquer atividade lúdica proporciona.
Abordando especialmente os jogos que envolvem aptidões musicais, Storms
(2000) possui um trabalho acerca desse tema, cujo livro apresenta diversos jogos para
serem aplicados com várias faixas etárias. Segundo ele, o uso da música para a criação de
jogos não é novo. Um exemplo dado por ele é um dos métodos de composição de Mozart
e também de John Cage.

Sabe-se, por exemplo, que Mozart, quando queria poupar a sua energia
criadora, compunha peças por dados de jogar. Nos nossos dias, John
Cage serve-se do velho oráculo chinês Yi King para determinar a linha
de uma composição. (STORMS, 2000, p. 12).

Os jogos desenvolvidos por este autor buscam colocar em destaque essas aptidões
citadas anteriormente, mas procuram também trabalhar a sociabilidade dos envolvidos. O
jogo tem um poder muito grande quando se trata da motivação, além de trazer ao jogador
12

um sentimento de prazer, contribuindo para o desenvolvimento, mais especificamente


musical, de forma natural. No caso da criança, esse sentimento é ainda mais forte, pois
para a mesma o brincar é o que tem de mais legal, prazeroso e motivador, elementos esses,
que são proporcionados também pelo jogo. Segundo Silveira (2013):

O jogo é uma fonte de prazer e descoberta para a criança, sendo, assim,


pode influenciar no processo de ensino e aprendizagem; porém tal
influência no desenvolvimento das atividades pedagógicas dependerá
da aplicação e condução do jogo, que são direcionadas pela concepção
que se tem do jogo. (SILVEIRA, 2013, p. 8)

Um ponto para o qual Silveira (2013) chama a atenção é o da condução do jogo.


De fato, isso é de suma importância para que os jogos realmente funcionem na prática.
Além do mais, é necessário também que haja um bom entendimento dos jogos, das regras
a serem seguidas, e também que haja o prazer por parte do condutor do jogo.
Esse prazer, sentido pelos envolvidos, inclusive o adulto, vem por conta da
ludicidade presente nos jogos e atividades. A criança acaba sendo guiada pelo prazer de
brincar. Miranda (2013) cita em seu livro o quão importante é o “brincar” na vida da
criança, e inclusive dedica seu livro àquelas que não tiveram a oportunidade de brincar.

A vivência do brincar tem que se dar em um contexto de ações que


constituem o outro como legítimo outro, na convivência – ou seja, no
amor -, e esta deve ser levada a cabo no momento presente da relação.
Essas ações são as condições culturais em que se fundam os aspectos
de seres humanos. (MIRANDA, 2013, p. 40).

São essas relações que estimulam as crianças a se socializarem de uma forma


saudável e criarem vínculos e relações humanas. Nessa perspectiva, o autor ratifica a
questão da interligação entre cognição, socialização e afetividade, reforçando “questões
de auto respeito e respeito mútuo considerados suportes de transformação, autonomia e
ética” (MIRANDA, 2013, p.17).
Tendo estes estudiosos como fundamento, verifica-se que o uso da ludicidade é
uma prática pedagógica bastante utilizada na musicalização infantil. Com o brincar, as
crianças se desenvolvem musicalmente e aprendem a conviverem com outras crianças,
desenvolvendo também o lado social.
A partir disso, compreende-se que o jogo é uma prática a ser pensada e
desenvolvida nas aulas de música. Essa mesma pratica é a principal a ser desenvolvida
nesse trabalho. Através desses jogos será trabalhado o desenvolvimento de aptidões
musicais e também sociais. No próximo capitulo veremos toda a parte metodológica dessa
13

pesquisa, a qual apresenta o caso a ser estudado, os jogos selecionados e as ferramentas


de análise.
14

2 Jogando com a turma

A partir dos estudos apontados no capítulo anterior, que discutem o conceito da


utilização de jogos na educação e, mais especificamente, na educação musical, foram
selecionados alguns jogos para serem aplicados em sala de aula, com crianças na faixa
etária de 5 anos. Esses jogos, além de trabalharem a socialização, contribuíram também
para o aprendizado de determinados conteúdos musicais.
Com a aplicação desses jogos, a turma foi observada e, considerando as
ferramentas preestabelecidas, os dados foram coletados e analisados, com o auxílio de
uma juíza independente, que observou e analisou seguindo as mesmas ferramentas.

2.1 O Caso Estudado

André (1984) aborda que o estudo de caso apareceu em evidencia em uma


conferência em Cambridge em 1975, onde foi possível entender mais sobre esse tipo de
visão no campo educacional. Falando em definição, a ideia que o autor apresenta é que o
estudo de caso se define por uma linha especifica de investigação, podendo ser pesquisado
apenas um indivíduo, um grupo, ou até mesmo uma instituição. Este autor também
comenta sobre os equívocos referentes a abordagem do estudo de caso referindo-se ao
documento da conferência acima mencionada.

O documento esclarece que estudo de caso não é o nome de um pacote


metodológico padronizado, isto é, não é um método especifico de
pesquisa, mas uma forma particular de estudo. As técnicas de coleta de
dados utilizadas no estudo de caso se identificam com as técnicas do
trabalho de campo da sociologia e antropologia. Porém, a metodologia
do estudo de caso é eclética, incluindo, via de regra, observação,
entrevista, fotografias, gravações, documentos, anotações de campo e
negociações com os participantes do estudo. (ANDRÉ, 1984, p. 52)

Partindo do pressuposto de que o estudo de caso é uma “forma particular” de


estudo, o pesquisador a partir do momento que decide trabalhar com o estudo caso, tem
a possibilidade de optar por diversas estratégias na sua pesquisa. Segundo André (1984):

Os estudos de caso usam uma variedade de fontes de informação. Ao


desenvolver o estudo de caso o pesquisador faz uso frequente da
estratégia de triangulação, recorrendo para isso a uma variedade de
dados, coletados em diferentes momentos, em situações variadas e
15

provenientes de diferentes informantes. Ele pode usar também a


triangulação de métodos – checagem de um aspecto, questão ou
problema, através do uso de diferentes métodos. E pode recorrer ainda
à triangulação de investigadores – dois ou mais observadores
focalizando o mesmo objeto. Finalmente ele pode usar a triangulação
de teoria, isto é, analisar os dados à luz de diferentes pontos de vista
teóricos. E ainda, ele pode combinar os diferentes tipos de triangulação
no mesmo estudo. (ANDRÉ, 1984, p. 52)

Este autor apresenta que a gama de pesquisa e as possibilidades são enormes para
esse tipo de abordagem, deixando de certa forma o pesquisador mais livre para se
aventurar nesse tipo de estudo.
A presente pesquisa se caracteriza como estudo de caso, porque investiga um
grupo especifico de uma determinada faixa etária, valendo-se da observação de outras
pessoas envolvidas no processo, possibilitando a triangulação na análise dos dados. De
forma alguma se propõe uma generalização, mas sim, o estudo de um caso específico.
O grupo estudado faz parte da escola da rede privada Espaço da Criança,
localizada na cidade de Cuiabá-MT, no bairro Santa Cruz I, rua Castro Alves, nº 6, com
crianças da turma do Jardim II, com idade de 5 anos.
A turma escolhida normalmente possuía cerca de 10 alunos, porém como escola
estava em período de recesso, algumas crianças se ausentaram. Nesse período, a turma
contou com cerca de 7 alunos, sendo 5 meninos e 2 meninas. O aprendizado e contato
com a música na escola iniciou no ano de 2018, por meio do projeto de musicalização
infantil desenvolvido na escola. Durante esse tempo, foram trabalhados com os alunos
vários conteúdos que comtemplavam elementos musicais e habilidades tais como a
socialização. Os alunos dessa turma possuem uma sala destinada a eles. A mesma é
pequena, possui mesas e cadeiras e um armário onde são guardados os materiais da
professora titular. Os materiais musicais, como por exemplo os instrumentos, são de uso
particular do pesquisador, não fornecido pela escola.
Além dos conteúdos, com o tempo, foi gerado um vínculo afetivo com a turma.
As crianças sempre foram carismáticas e desde o começo reagiram bem às propostas
apresentadas nas aulas. Ao mesmo tempo que a turma se mostrou carismática, também
demonstrou alguns problemas. Alguns alunos expressaram não ter uma boa relação
interpessoal com os demais colegas. Em certos momentos, foram presenciados muitos
comportamentos indesejáveis entre os próprios alunos.
Essas vivências e as características específicas possibilitaram uma reflexão e
ajudaram-me a escolher essa turma para desenvolver essa pesquisa. A partir daí,
16

decidimos propor o ensino de música junto com o jogo, que é algo que eles gostam muito,
com a hipótese de obter melhores resultados com a turma.
Dentre o material encontrado que apresenta o jogo musical, optou-se pela
utilização do livro “100 Jogos Musicais” de Storms (2000), cujo conteúdo foi discutido
no capítulo anterior. De posse desse livro e das características da turma, foram
selecionados 6 jogos, os quais serão tratados no tópico a seguir.

2.2 Jogos Selecionados

Os jogos escolhidos para o desenvolvimento desse trabalho foram retirados do


livro de Storms (2000), o qual apresenta ideias de jogos envolvendo desde habilidades
musicais, a aspectos de sociabilidade, expressão e improvisação.
O autor divide seus jogos no livro em: jogos de desenvolvimento das aptidões
pessoais; jogos de desenvolvimento da sociabilidade; jogos de desenvolvimento do
espirito criativo. Dentro desses tópicos ainda possuem vários subtópicos que abordam
desde habilidade de escuta, concentração, comunicação, jogos-testes, improvisação, entre
outros. Outro aspecto que está presente no livro é a questão da faixa etária dos jogos, os
quais possuem divisões especificadas para crianças, crianças das séries primárias,
adolescentes e adultos.
Para esse trabalho, a escolha dos jogos foi feita pensando na faixa etária da turma,
e de forma a atender as necessidades e características da mesma. Um ponto que foi crucial
na seleção dos jogos foi a quantidade de alunos da turma e o tamanho do ambiente onde
os jogos foram executados. Como citado anteriormente, a sala era pequena, por isso os
jogos foram também pensados visando o ambiente no qual as crianças estariam. Os jogos
apresentados a seguir foram aplicados aleatoriamente, sem a pretensão de uma sequência
cronológica.

2.2.1 - Qual é o instrumento que falta?


Faixa etária: todas as idades (grupo pequeno)
Disposição de Material: um instrumento para cada um
O objetivo do jogo consistirá em uma escuta atenta. Um dos alunos será escolhido
para ser o jogador da vez. Cada um dos demais jogadores se organizará sentados em
círculo e receberá um instrumento diferente. O jogador da vez ouvirá o som de todos os
instrumentos que estarão com os colegas e em seguida virará de costas para os colegas e
17

será vendado. A partir disso, será escolhido um dos jogadores do círculo para não tocar.
Os demais tocarão os instrumentos ao mesmo tempo e o objetivo do jogador da vez será
dizer qual instrumento não foi tocado.

2.2.2 - Troquem de Cadeiras!


Faixa etária: ilimitada
Disposição e material: cadeiras
Será disposto em círculo várias cadeiras para que os jogadores possam sentar. Um
dos alunos será escolhido para ser o jogador da vez. O mesmo será vendado e posto no
meio do círculo, enquanto os demais jogadores receberão um número. O jogador da vez
não saberá quem está com os números, mas terá que chamar ao acaso dois desses
números. Os que forem chamados terão que trocar de lugar entre si. Porém, o objetivo do
jogador da vez será de apanhar um desses jogadores na troca, por isso é essencial que na
hora da troca, os jogadores sejam o mais discreto possível. Trata-se de um jogo de escuta.

2.2.3 - Quem tem a voz mais forte


Faixa etária: crianças
Nesse jogo o grupo poderá estar sentado ou de pé, porém em círculo. O jogador
da vez será escolhido para ser vendado e conduzido ao centro. Os demais jogadores
cantarão uma canção juntos, porém cada um em uma intensidade diferente. Essa
intensidade poderá ser definida previamente. O objetivo do jogador da vez é ouvir e
descobrir quem estará cantando mais forte a canção. Depois se locomoverá ao jogador
que cantou mais forte e o apanhará. Logo após poderá ser escolhido outro jogador para
assumir o posto da vez.

2.2.4 - Stop!
Faixa etária: ilimitada
Disposição e material: aparelho de som
Esse jogo consiste em concentração e atenção. Poderá ser colocada uma música,
a qual os jogadores poderão se movimentar, correr e até dançar. Quando a música parar,
todos os jogadores deverão parar exatamente na posição que estiverem. O mediador então
irá conferir se os jogadores não mexeram, dentro de 20 segundos poderá iniciar a música
novamente.
18

2.2.5 - Quente!
Faixa etária: ilimitada
Disposição e material: instrumentos e um compartimento grande
Nesse jogo um dos jogadores deve ser vendado, enquanto um outro escolhe um
lugar da sala para tomar como fixo. Os demais jogadores estarão de posse de um
instrumento musical. O objetivo é que o jogador vendado ache o outro jogador que estará
num ponto fixo. Para isso, os demais jogadores guiarão o jogador vendado através da
intensidade produzida pelos instrumentos. Quando o jogador da vez estiver perto do
outro, os instrumentos tocarão mais fortes, quando mesmo estiver longe do outro jogador,
os instrumentos tocarão mais fracos.

2.2.6 – A Dança da Chave


Faixa etária: crianças
Disposição e material: uma mesa grande, instrumentos e uma chave enfiada num fio.
Nesse jogo, todos devem estar sentados em círculo em volta de uma mesa grande.
Será entregue aos jogadores uma chave a qual deverá ser passada por todos. O mediador
então entoará uma canção que todos conheçam e assim a chave passará pela mão de todos
jogadores. Aquele jogador que estiver com a chave na hora da última palavra da música
cantada pelo mediador, perderá. O mesmo deverá se retirar, pegar um instrumento e
acompanhar a canção. O jogador que ficar até o fim será o ganhador. Caso não haja a
disponibilidade de uma chave, pode ser utilizado outro objeto que possa ser manuseado
com facilidade.

2.3 Ferramentas para a Análise

Para que a análise acontecesse de modo mais consistente, houve a participação de


uma pedagoga que foi observadora e esteve presente em todo o processo da aplicação dos
jogos, desempenhando a função de juíza independente. A escolha dessa juíza foi pensada
no conhecimento e laço afetivo que a mesma possuía com a turma, o que traria grande
contribuição para esta pesquisa. Para o estudo de caso, um juiz independente se faz
importante, como cita André (1984), quando fala da importância da triangulação na
análise de dados.
Como ferramenta de análise, foi elaborado um questionário para avaliar o
aprendizado musical e ao mesmo tempo, abordar a parte social e comportamental da
19

turma, o qual foi respondido por mim e pela juíza independente para posterior
comparação. Importante ressaltar que as respostas dos questionários foram comparadas
somente ao final do processo, justamente para que fosse mantida a validade e a
confiabilidade da pesquisa e que as respostas de cada respondente não influenciassem as
respostas do outro. Somente depois do termino da aplicação de todos os jogos que foi
possível observar e analisar os questionários em sua totalidade.
Esse questionário1 contemplou dimensões envolvendo os domínios de algumas
aptidões, como a musicalidade, o respeito, a socialização e o comportamento. A partir da
comparação das respostas obtidas, foi possível mensurar o desenvolvimento musical,
social e comportamental do ponto de vista do pesquisador e da professora titular da turma,
atuando como juíza independente.
A cada dia de aula, foram aplicados dois jogos de uma forma flexível, totalizando
06 jogos em 3 dias de encontros com a turma do Jardim II. O tempo destinado para a
aplicação dos jogos foi flexível de acordo com a duração dos mesmos.
Os jogos abordaram algumas aptidões a serem desenvolvidas pelos alunos. Dentro
dessas aptidões estavam alguns aspectos musicais como o timbre, intensidade e a escuta
atenta. Outros elementos como a movimentação, concentração, o respeito, socialização,
também entraram nessas aptidões. O quadro abaixo apresenta as aptidões trabalhadas em
cada jogo.

Quadro 1 – jogos e aptidões pretendidas


Nome do Jogo Aptidões previstas
Qual é o instrumento que falta Timbre
Troquem de cadeiras Escuta atenta
Stop Movimentação
Quente Intensidade
Quem tem a voz mais forte Intensidade e escuta atenta
Dança da chave Movimentação e atenção
Fonte: Elaborado pelo autor.

O pesquisador foi o mediador de cada jogo, explicando todas as regras de forma


clara e concisa para que os alunos pudessem compreender. A partir da aplicação dos jogos

1
Este questionário pode ser verificado na íntegra no Anexo deste trabalho.
20

e ferramentas estabelecidas os dados foram coletados, analisados, e serão discutidos no


próximo capítulo.
21

3 Análise dos Resultados


3.1 O processo e observações do pesquisador
Como visto no capítulo anterior, para a análise dessa pesquisa foi solicitado a
presença de uma juíza independente que respondeu ao mesmo questionário submetido a
mim. O papel desta juíza foi bastante significativo, pois permitiu a análise considerando
aspectos levantados pela visão de outra pessoa, sem ligação alguma com os objetivos da
pesquisa, permitindo que fosse aplicado da técnica de triangulação de dados, citado
anteriormente. No questionário estavam algumas perguntas que faziam menção às
aptidões musicais, a concentração dos alunos, ao comportamento e também às relações
sociais, tanto dos alunos entre si, como do aluno com o professor. Nesta parte do trabalho
serão apresentadas as observações do pesquisador no questionário e as percepções in loco.
O processo foi realizado nos dias 11, 17 e 18 de julho, na escola Espaço da Criança
na turma do jardim II, período em que a escola se encontrava do recesso escolar como
dito anteriormente. No período anterior ao recesso, o encontro em sala de aula com essa
turma ocorria às quintas feiras. Porém, devido ao tempo disponível para a finalização
desta pesquisa, foi necessário a aplicação de mais jogos em um dia diferente, qual seja,
em uma quarta-feira.
No primeiro dia foram aplicados os jogos “Qual o instrumento que falta?” e
“Troquem de cadeiras!”. Nessa aula, os alunos desenvolveram algumas habilidades
através dos jogos como, por exemplo, o timbre e a escuta ativa. Houve uma dificuldade
em relação concentração no início da aula, pois os alunos não conseguiram se manter
focados nas explicações das regras, mas este comportamento era muito comum nesta
turma e não prejudicou a aplicação dos jogos. Apenas depois do início do jogo que os
mesmos conseguiram manter o foco. A socialização, no meu entender também foi boa.
Os alunos caminharam juntos nos jogos, mantendo o valor da afetividade. Um dos colegas
não se sentiu à vontade para ser vendado no jogo da cadeira, decisão que foi respeitada.
Já em questões de comportamento, foi detectado muita agitação por parte dos alunos, que
acabou influenciando nessa falta de concentração gerada no momento das explicações.
Os alunos agiram de forma diferente no segundo dia em termos do compromisso
com a prática. Os jogos desenvolvidos no dia foram o “Stop!” e o “Quente!”, que
desenvolvem as aptidões de movimentação e intensidade. A concentração da turma nesse
dia foi muito boa, os alunos conseguiram se manter focados nos jogos. Provavelmente a
movimentação presente nos jogos foi o motivo dos alunos terem prestado mais atenção
22

nos mesmos. A relação social dos alunos foi ainda melhor. Prestaram atenção nas
explicações dos jogos e também conseguiram se ajudar durante a realização dos mesmos.
A empolgação tomou conta dos alunos durante os jogos, o que corroborou para um bom
desenvolvimento da atividade.
Os jogos aplicados no terceiro dia foram o “Quem tem a voz a voz mais forte” e
a “Dança da chave”. As aptidões desenvolvidas foram: intensidade, escuta atenta,
movimentação e a atenção. Esse dia foi semelhante ao primeiro dia. Os alunos se
dispersaram durante as explicações, mas mantiveram o foco durante os jogos. A relação
entre eles também foi boa e os próprios alunos acabaram se ajudando durante o jogo. Ao
mesmo tempo entenderam a minha relação como mediador e seguiram as instruções
propostas durante os jogos. O comportamento observado nos alunos foi a agitação,
semelhante também ao primeiro dia. Em certos momentos, alguns alunos falavam forte
demais durante o jogo, chegando a gritar. Foi necessário intervir algumas vezes para que
os alunos compreendessem que cantar forte não era a mesma coisa de gritar. Em alguns
momentos também houve bastante conversas paralelas que atrapalhavam a explicação
dos jogos.
Uma dificuldade em comum que foi observada nos dias que os jogos foram
aplicados foi a falta de atenção e a concentração dos alunos durante as explicações dos
jogos. Foi perceptível uma grande dificuldade para parar e ouvir. Dentre os três dias, o
segundo pode ser destacado no que diz respeito a uma concentração maior por parte das
crianças. Este tipo de comportamento pode ser explicado, provavelmente, por ocasião do
horário e do dia, que foram diferentes do que como de costume. Isso gerou uma provável
quebra na rotina que motivou os alunos a participarem com mais foco na aula.
Partindo para o lado social, a relação afetiva e social dos alunos foi semelhante
em todos dias. Os mesmos se ajudaram muito durante os jogos, foram compreensivos por
exemplo, quando um colega não acertava que instrumento faltava no jogo dos
instrumentos. Durante os jogos, prestaram atenção nas indicações dadas por mim,
estabelecendo assim uma relação muito saudável entre mediador e jogadores.

3.2 Juíza Independente


A juíza independente que participou dessa pesquisa foi a própria professora titular
da turma, uma pedagoga. Como dito anteriormente, a escolha pela professora baseou-se
23

no vínculo que mesma possuía com a turma. Ela observou todas as aulas anotando todos
os quesitos propostos no questionário, os quais serão discutidos a seguir.
Em seu parecer, ela relatou no primeiro dia que as aptidões musicais foram
desenvolvidas com o passar da aula e que as crianças, em sua percepção, compreenderam
os jogos propostos. Houve dificuldades com a concentração, pois os alunos se
dispersaram quando viram os instrumentos musicais e queriam tocar todos ao mesmo
tempo. Na relação entre os alunos, ela observou alguns momentos de disputa por certos
instrumentos, em especial pelo tambor. Já na relação entre professor e alunos, a juíza
observou que os alunos ouviram as instruções ditas pelo mesmo. Tratando-se do
comportamento, houve uma criança que se recusou a participar, mas que foi respeitada a
decisão pelo professor.
Já no segundo dia, os alunos entenderam e conseguiram desenvolver os jogos
como foi instruído. A concentração dos alunos foi total no jogo do “Stop!”, diferente do
jogo “Quente”, onde a concentração foi desenvolvida de acordo com o tempo de
interação.
A relação entre os alunos foi tranquila, porém em um momento houve criança que
se recusava a participar, pois não queria dividir os instrumentos. Em relação ao professor,
houve tranquilidade na execução da aula. Outra observação feita por ela, foi do
comportamento. A juíza relatou o fato de alguns alunos se recusarem em compartilhar os
instrumentos, sendo necessário algumas intervenções por parte do professor.
No terceiro dia, na opinião da juíza, as crianças compreenderam o que foi
estabelecido nas atividades. No jogo “Quem tem a voz mais forte” as crianças não
conseguiram conter o volume da voz e acabaram gritando. Esse foi um comportamento
observado por ela, que gerou também uma falta de concentração na aula.

3.3 Comparação dos Dados


As respostas obtidas nos questionários pelo pesquisador e pela juíza foram
semelhantes. No que diz respeito a concentração, os apontamentos realizados pelo
pesquisador e pela juíza foram compatíveis. Da mesma forma, as relações sociais, tanto
dos alunos entre si, quanto com o professor foram consideradas, pelos dois, tranquilas e
com uma boa interação. Em cada dia de aplicação houveram situações que cabem ser
comparadas e analisadas. No primeiro dia, o ponto em comum que foi evidenciado pelo
24

pesquisador e pela juíza foi a não participação de um aluno no jogo “Troquem de


Cadeiras!”, como pode ser observado no Quadro 2.

Quadro 2 – Apontamentos realizados no primeiro dia


1º dia Pesquisador Juíza
Concentração - Se dispersaram no início da - Teve momentos que os
aula durante as explicações, alunos desconcentraram.
mas depois fluiu bem. Queriam tocar todos ao
mesmo tempo.
Relação aluno/aluno - Boa socialização. Apenas - Houve momento de disputas
um aluno não se sentiu à por certo instrumento.
vontade para ser vendado. (Tambor)
Relação aluno/professor - Relação boa - Ouviram as instruções do
professor
Comportamento - A agitação acabou - Recusa das crianças em
atrapalhando na hora das participar do jogo
explicações dos jogos. - Professor resolve a situação
com música.
Fonte: Elaborado pelo autor.

É provável que o aluno que não se sentiu à vontade para ser vendado e ir ao centro
da roda não gostasse de ser exposto. Em conversa com a professora da turma, a mesma
comentou que tal aluno age da mesma forma em todas as aulas, mostrando que o “se
reservar” é uma característica dele. Ainda segundo ela, as vezes ele participa e, as vezes,
não. Esse tipo de comportamento também foi observado pelo pesquisador no período
anterior a realização dessa pesquisa. Nos outros dias que ocorreram os jogos, o aluno
participou normalmente, pois não havia mais jogos que expusesse tanto os jogadores,
como este.
Certos tipos de comportamento podem não ser saudáveis nessa idade. Kail (2004)
retrata que na idade pré-escolar, um comportamento muito comum das crianças é a de
brincar solitariamente. Porém, existem alguns comportamentos nesse brincar que
precisam observados, explica o autor. Um deles é quando a criança ronda os colegas, se
mantem próximo, mas não participa. Com o tempo, isso pode ser algo prejudicial à
criança. O aluno observado nesse dia muitas vezes manifesta esse tipo de atitude apontado
pelo autor.
O comportamento deste aluno pode ser atribuído também a uma baixa autoestima.
Segundo Kail (2004), a autoestima vem à tona na idade pré-escolar, quando a criança
estipula valor sobre si mesma.

As crianças com autoestima elevada julgam a si próprias


favoravelmente e se sentem bem consigo mesma. Em contraste, as
25

crianças com baixa autoestima se julgam negativamente, sentem-se


infelizes em relação a si mesmas e muitas vezes prefeririam ser outra
pessoa. (KAIL, 2004, p. 272).

Hipoteticamente pode-se atribuir esse tipo de sentimento ao aluno que não quis
ser vendado, ou seja, ele preferiu se omitir a passar por uma situação em que estaria em
evidência. Porém, seria necessário a realização de mais pesquisas para tal afirmação.
Comparando o segundo dia, foi perceptível ver apontamentos um pouco
diferentes, como visto no Quadro 3, porém que se complementam.

Quadro 3 – Apontamentos realizados no segundo dia.


2º dia Pesquisador Juíza
Concentração - Melhor concentração - No jogo “Stop” eles
manteram a atenção total. Na
outra a concentração foi
desenvolvida com o tempo de
interação.
Relação aluno/aluno - Houve uma boa colaboração - Teve criança que se
entre eles em especial no jogo recusava em participar, pois
“quente” onde tinham que não queria dividir os
ajudar o colega vendado. instrumentos.
Relação aluno/professor - Relação boa. Estavam mais - Tranquilo na execução da
focados nas explicações. aula.
Comportamento - Houve uma empolgação no - Os alunos recusaram em
início da aula, mas depois compartilhar os instrumentos
fluiu bem. e assim o professor teve que
intervir para contornar a
situação.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Um ponto a ser destacado nesse dia foi a empolgação dos alunos. Houve uma
empolgação muito grande nesse dia pelo fato de os jogos terem sido mais dinâmicos e
com muita movimentação. Comparando as duas visões, essa empolgação acabou gerando
comportamentos bem contrastantes. Um deles foi a animação presente no primeiro jogo
que os levou a uma concentração total. A outra foi a questão dos instrumentos, nos quais
os alunos não queriam compartilhar. Diferentemente da primeira, que beneficiou o
andamento da atividade, a segunda atrasou alguns momentos do jogo. Porém não foi algo
que atrapalhou a aplicação. Esse tipo de atitude observado pode ser visto em crianças
dessa idade, como uma característica normal.
Já na comparação do terceiro dia, houveram semelhanças nas respostas
relacionadas à socialização (relação aluno/aluno e aluno/professor), como pode ser
observado no Quadro 4.
26

Quadro 4 – Apontamentos realizados no terceiro dia.


3º dia Pesquisador Juíza
Concentração - Muito dispersos nas - As crianças não
explicações, mas com o conseguiram conter o volume
decorrer dos jogos começou a da voz.
fluir bem.
Relação aluno/aluno - Se relacionaram bem. - Interagiram muito bem.
Alguns até ajudaram o colega
a entender o jogo.
Relação aluno/professor - Dispersaram muito durante - Tranquilo.
as explicações. Durante o
jogo conseguiram manter o
foco em mim.
Comportamento - Apenas conversas paralelas - As crianças não
e brincadeiras atrapalharam o conseguiram conter o volume
inicio da aula. da voz, conforme foi pedido.
Fonte: Elaborado pelo autor.

Porém as observações do quesito concentração e comportamento foram para lados


diferentes. Os momentos de dispersão, conversas paralelas em meio as explicações dos
jogos, foram semelhantes também as do primeiro dia. No jogo “quem tem a voz mais
forte” aconteceu que algumas crianças não conseguiram conter a intensidade da voz,
como citou a observadora. Esse comportamento ocasionou pequenas pausas durante o
jogo para que pusesse ser explicado que o cantar forte não era a mesma coisa que gritar.
Em crianças dessa idade, é comum elas levarem tudo ao extremo, gerando um
certo exagero. Foi pedido para que as crianças cantassem forte e as mesmas cantaram o
mais forte que conseguiram. Segundo Berryman e Hargreaves (2001), baseados na teoria
do desenvolvimento de Piaget, as crianças dessa faixa etária ainda estão no processo
intuitivo. Há uma construção dos conceitos que se desenvolvem de forma gradativa nesse
tempo. Isso explica o porquê de as crianças cantarem tão forte, pois a intuição os levou a
cantar de tal maneira.
Como podemos ver, houveram muitas semelhanças e também visões diferentes
por parte dos dois observadores. A questão da socialização foi respondida nos
questionários de forma similar. Em outros quesitos, o pesquisador acabou apresentando
uma visão mais direta, mostrando mais as ações das crianças, como por exemplo as
conversas paralelas e a empolgação. Já a juíza deu foco maior as dificuldades
apresentadas pelos alunos, como por exemplo, a dificuldade para compartilhar os
instrumentos e também de manterem a intensidade no jogo. Esses dois pontos de vistas
contribuíram muito para a pesquisa como um todo, pois as duas perspectivas se
complementaram, acrescentando valor e fortalecendo ainda mais o trabalho.
27

Considerações finais

No decorrer desses três encontros, foi possível perceber que as crianças realmente
gostam de música e tem o prazer em vivenciá-la. A proposta escolhida para esse presente
trabalho trouxe algo diferenciado aos alunos, que até então não tinham visto na aula de
música que é o jogo musical.
Os jogos desenvolvidos por Storms (2000) e que foram selecionados e aplicados
na turma, surtiram bons resultados no sentido de despertar e vivenciar aptidões. Em
alguns momentos os alunos estranharam o jogo na hora das explicações, pois não sabiam
o que ia acontecer. Quando o mesmo foi desenvolvido, os alunos passaram a conhecer e
a gostar do jogo. Estabeleceram boas relações com os colegas de sala e também com o
professor.
Ficou bem evidente nessa pesquisa a importância de brincar e de viver a infância.
Toda criança precisa brincar e estabelecer relações afetivas e sociais. Todas as
experiências obtidas nessa fase constituem o mundo da criança e o acompanharão por
toda vida, trazendo boas recordações.
Um grande aprendizado que ficou foi que o professor nunca deve se esquecer da
sua bagagem lúdica. Como diz Palhares (2010), muitas vezes a aula de música pode se
tornar cansativa devido a uma má aplicação, gerada pela desconsideração da bagagem
lúdica do próprio professor. E não é isso que queremos para a aula de música, mas sim,
aulas prazerosas. Como pesquisador e professor, preciso trazer também as minhas
vivências para a sala de aula.
Ressalto a importância da aula de música já nos primeiros anos de vida, para que
a criança vivencie e se desenvolva cognitivamente, afetivamente e socialmente. Destaco
também a importância da realização de mais pesquisas voltadas para área, especialmente
em relação ao jogo. São poucos os pesquisadores que tratam sobre o tema em especifico
e que criam jogos musicais. Essa escassez deve servir como motivação para os que gostam
e desejam pesquisar mais a fundo sobre o tema. Pretendo continuar pesquisando e
estudando, para contribuir com o assunto de jogos musicais.
28

Referências

ANDRÉ, Marli E. D. A. Estudo de Caso: seu potencial na educação. PUC do Rio de


Janeiro. Simpósio. Cad. Pesq. (49): Pg 51-54, maio. 1984.
BERRYMAN, Julia C.; HARGREAVES, David. A psicologia do desenvolvimento
humano. Trad. Maria Fernanda Oliveira. Lisboa. Eulama Literary Agency, 2001.
BRÉSCIA, Vera Lúcia Pessagno. Educação Musical: bases psicológicas e ação
preventiva. São Paulo: Átomo, 2003.
BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil: propostas para a formação
integral da criança. 2. Ed. São Paulo: Editora Fundação Peirópolis, 2003.
CAVICCHIA, Durlei de Carvalho. O desenvolvimento da criança nos primeiros anos
de vida. Artigo cientifico da Unesp. 2014. Disponível em: <
http:acervodigital.unesp.br/handle/123456789/224>. Acesso: 01/08/19.
HUINZINGA, Johan. Homo Ludens. Trad. João Paulo Monteiro. São Paulo: Editora
Perspectiva S.A. 2000.
KAIL, Robert V. A criança. Trad. Claudia Sant’Ana Martins. São Paulo: Prentice Hall,
2004.
MIRANDA, Paulo César Cardozo de. Jogo Musical e Humanização: um olhar lúdico,
complexo e sistêmico na educação. 1ª ed. São Paulo: Cultura Acadêmica. 2013.
PALHARES, Taís Helena. O jogo e a criança: algumas considerações. In: Ciclos das
Quartas. SESC-MT. 1ª Edição. Cuiabá: 2010.
SILVEIRA, Lidiane Vieira. Aula de Música na Escola Municipal Iraci Miranda
Kruger: jogos no processo de musicalização infantil. Monografia (Trabalho de
Conclusão de Curso de licenciatura em Artes). Universidade Federal do Paraná. 2013.
STORMS, Ger. 100 Jogos Musicais: Actividades Práticas na Escola. (Holanda 1989).
Tradução: Mário José Ferreira Pinto. 4ª ed. Portugal: Edições S.A. 2000.
SWANWICK, Keith. Ensinando Música Musicalmente. Trad. Alda Oliveira e Cristina
Tourinho. São Paulo. Moderna, 2003.
__, Desenvolvimento Musical: Os primeiros anos. In: Música, Mente e Educação. Trad.
Marcell Silva Steuernagel. Belo Horizonte: Autêntica, 2014.
29

Anexo
Questionário utilizado para a coleta de dados
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Questionário individual de respostas

Turma: Data:

Domínio dos Conteúdos

Na sua opinião:

1. Como foi a concentração dos alunos nas atividades de Sala de Aula?

2. Os alunos compreenderam o conteúdo musical desenvolvido em sala?

Comportamento, Respeito e Sociabilidade

Na sua opinião:

1. Como foi a relação entre alunos/alunos e alunos/professor?

2 O comportamento dos alunos, de alguma maneira, atrapalhou o


desenvolvimento da aula?

Observações:
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