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Eu sabia que a Destiny não tinha acabado comigo.

E que ela
estava só se aquecendo, mas não fazia ideia do quão forte
meu mundo desabaria sobre mim.

Pensei que teria meu casamento de conto de fadas e me


casaria com o homem dos meus sonhos.

Estava errada.

Agora, entre ter meu mundo dividido e expor a Terra dos Fae,
tenho que fazer escolhas que nunca pensei que faria.

Estou dividida entre dois mundos e preciso decidir até onde


vou para recuperar o que foi roubado de mim.

Antigos inimigos estão se aproximando, novos inimigos estão


sendo revelados e aliados surpreendentes estão entrando no
campo de jogo.

A guerra está no horizonte e está vindo direto para nós.

Se chegou até aqui, deve tá cansada(o) de saber que essa série está ligada a
um universo maior, o , que nos levam a outras séries dos personagens
presentes nessa história. Então só vamos avisar que a narrativa deste livro é APÓS os
acontecimentos dos primeiros quatro livros dessa série e também dos acontecimentos
dos livros e respectivamente
pertencentes a grande
série. Portanto, é obrigatória a leitura na sequência da grande série. Para mais
informações, verifique o banner abaixo.
Senti meu cabelo sendo puxado e a dor rasgou meu estômago
quando algo atingiu ele. Um gemido de dor escorregou dos meus lábios.
Algo quente e úmido escorreu pelo meu rosto e gritei ainda mais alto
do que antes. Estávamos sob ataque! Murmurei para Ryder chamar a
Guarda de Elite e soltar a besta sobre quem invadiu nosso quarto e
estava atacando.
— Synthia. — Um profundo estrondo soou, aquela risada misturada
com barulhos borbulhantes, me forçou a abrir um olho. Parecia que
cada pálpebra era mantida no lugar por chumbo. — Não acho que
precisamos da Guarda de Elite ou da Besta para lidar com os bebês.
— Que droga está falando, eles não são bebês, são monstros. Que
merda eles têm contra o sono? — Murmurei enquanto assistia
Kahleena borbulhar e continuar babando no meu rosto e pescoço
enquanto olhava para mim com um sorriso angelical. — Servos das
trevas é isso que eles são. Enviados pelos Magos para nos torturar
lentamente por falta de sono e fofura.
A cabeça de Zander bateu no meu estômago enquanto Kahleena
puxou um punhado de cabelo para se sustentar melhor. Cade chutou
continuamente o outro lado do meu estômago enquanto chupava
avidamente seu punho minúsculo. Já estava repensando seriamente a
ideia de diminuir os deveres das criadas para nos dar mais tempo como
família.
— Eles queriam a mãe. — Disse ele, seus olhos dourados brilhando
de tanto rir. — Duvido que sejam enviados pelos Magos, Animalzinho.
Eles estão saindo muito com Ristan e acho que gostam de travessuras.
— Riu com voz rouca. O som tomou conta de mim e sorri, incapaz de
resistir ao som do seu timbre rouco. Ele voltou para a cama e sentou
ao nosso lado, levantando Kahleena enquanto ele desembaraçava meu
cabelo da mão minúscula dela e cuidadosamente moveu Zander e me
deu espaço suficiente para que eu pudesse me sentar.
Depois que consegui sentar, sorri para os monstrinhos que me
observavam. Me inclinei, beijando Kahleena na bochecha e observei
seus olhos dourados, que eram tão parecidos com os de seu pai,
brilhando, como se estivessem iluminados por dentro. Minha pequena
estava crescendo e era de longe a mais desagradável dos três e era a
líder, e suspeito que ela seja a mais inteligente do trio. Enquanto Cade
parecia ser o músculo, Zander observava alegremente o caos que os
outros dois causavam em nós, e Zahruk especulava que ele se tornaria
letal à medida que crescesse. E tenho certeza de que Kahleena puxou
sua inteligência de mim, mesmo que Ryder fosse rápido em assumir o
crédito por isso.
— Meus monstrinhos. — Sussurrei suavemente. Minha garganta
se apertou enquanto considerava o quão abençoados éramos. Peguei
Cade e o aconcheguei no meu peito. Zander assistiu, seus pequenos
lábios tremendo até Ryder o pegar em seu braço livre e descansar na
cama ao meu lado.
— Eles precisam dormir mais cedo ou mais tarde, certo? Estou
começando a entender porque meu pai manteve sua ninhada de
crianças trancadas no pavilhão.
Bati no braço dele e sorri.
— Talvez devêssemos nos trancar no pavilhão? — Falei rindo e vi
quando ele franziu a testa.
— Nós poderíamos, mas estamos planejando um casamento,
lembra? — Ele murmurou, se inclinando para dar um beijo suave na
minha têmpora.
— Nós sempre poderíamos fugir. Las Vegas ainda é uma opção
viável. — Ofereci. — Além do mais, tenho uma queda por Elvis e todo o
seu brilho. Aquelas lantejoulas. — Suspirei pesadamente e adicionei
um pequeno rosnado no fundo da garganta. — É sexy pra caralho.
— O reino inteiro está aguardando este casamento, Synthia. Os
Magos ficaram quietos por um tempo, e pretendo me casar com você
adequadamente. Diga, quem é esse Elvis e onde posso encontrar ele
para matar?
— Ele já está morto, e você e eu estamos exaustos. E não posso nem
manter meus olhos abertos. Se os Magos aparecessem, eles poderiam
literalmente me empurrar e eu seria um caso perdido. Estou ficando
um pouco preocupada que Danu esteja tão quieta. Ela é constante
desde a última vez que os Magos tentaram alguma coisa, e agora é só
silêncio. Não é típico dela, sei que ela estava mantendo distância por
causa do que aconteceu entre ela e Ristan, mas ela nunca ficou
completamente às escuras antes. Isso me deixa curiosa sobre o que
realmente aconteceu entre os dois, e como isso pode ser tão ruim. —
Pensei alto enquanto meus dedos acariciavam distraidamente os
cachos macios de Cade, abraçando ele um pouco mais apertado
quando o pensamento de guerra tocou em minha mente. — E também
estou preocupada com o futuro deles e o que isso vai trazer.
— Eles têm uma Deusa como mãe. O futuro deles será o que eles
desejarem. Serão amados e criados para serem fortes e justos com os
outros. Vamos vencer esta guerra e curar este mundo. Não vou permitir
nada menos. Nossos filhos terão o mundo, o que escolherem, na ponta
dos dedos, e estaremos logo atrás deles, criando eles. — Ele olhou para
mim com um sorriso de diversão. — As coisas estão mudando
rapidamente para todos nós. Pareço me lembrar que não faz muito
tempo que você pensou que o Rei da Horda andava de salto alto e
batom, Animalzinho. Já percorremos um longo caminho desde então.
— Eu disse isso, não disse? — Fiz uma careta e ele assentiu.
— Você era perspicaz e cautelosa naquela época. Agora, só balanço
minhas sobrancelhas e suas roupas caem. — Ele riu.
— Não é assim que funciona. Você as tira com magia, tenho muito
pouco a ver com isso. — Gemi. — Deuses me salvem, mas amo você.
Mesmo que você me enlouqueça, Fada. — Sorri. — Mas não pode saber
o que o futuro reserva. Tudo pode mudar em um piscar de olhos por
aqui. Vamos só tentar focar no hoje. — Sussurrei quando me inclinei
para beijá-lo, só para ouvir os três bebês começarem a bufar e chorar.
Eles tinham algo contra mamãe e papai se beijando. Era bonito e
irritante ao mesmo tempo. Zander agarrou os cabelos de seu pai e
Kahleena chorou enquanto derramava grandes lágrimas de crocodilo
enquanto tentava me afastar dele. Cade... bem, Cade rosnou como um
filhote, uma característica que ele herdou de seu pai.
— Talvez eles tenham sido enviados pelos Magos. — Ele gemeu e se
afastou.
— Eu te disse. — Eu ri, quando uma batida na porta interrompeu a
felicidade dentro do quarto, assisti enquanto Ryder olhava na minha
direção, rapidamente me enfeitiçava com jeans e camiseta preta. Assim
que ficou satisfeito com o fato de eu estava vestida adequadamente,
rapidamente beijou minha bochecha, para desgosto dos bebês, se os
olhares descontentes em seus rostos fossem algo para contar.
— Entre. — Ele gritou, seus olhos brilhando quando Kahleena fez
um barulho rosnado enquanto o observava, com os lábios franzidos.
— Já era hora de você levantar, porra. — Ristan brincou enquanto
olhava para nós, com os olhos cheios de riso. Ele se encostou no
batente, para o deleite de Kahleena, que engoliu o choro e ergueu os
braços, ignorando o pai por seu tio favorito. Ele devolveu o sorriso dela,
balançando os dedos em um olá. — Temos um grande problema. Um
que não pode esperar vocês se olhando ou acariciando essas pequenas
bestas. — Ele disse suavemente.
— O que é? — Perguntei, curiosa para saber por que seu humor
mudou tão rapidamente de brincalhão para cauteloso.
— Acho que sei por que continua sentindo dor e por que estamos
sentindo uma perturbação na Terra dos Fae. Tomei a liberdade de
chamar as criadas. Elas vão levar os bebês para o berçário e a Guarda
de Elite está esperando lá embaixo que você se junte a nós. O que
acabamos de descobrir é algo difícil de explicar sem te mostrar.
A dor que percorria meu corpo aleatoriamente havia piorado nos
últimos dias, o que também contribuía para a falta de sono. Danu tinha
me conectado à Terra dos Fae para que eu pudesse protegê-los, mas,
diferentemente dela, se a terra morresse, eu não.
Observei Darynda entrar graciosamente no quarto com uma xícara
fumegante de café, que ela colocou na mesa de cabeceira. Ela teve o
cuidado de manter longe das mãozinhas enquanto se endireitava e
sorria suavemente para Cade, que colocou a cabeça contra meus seios
e a olhou com cuidado. Cade era um filhinho da mamãe em sua
essência, ele adorava abraçar e passava inúmeras horas ouvindo meu
coração, ao contrário de Kahleena, que preferia o pai, ou Zander, que
costumava nos assistir com uma carranca na testa pequena e fofa. Só
alguns meses e eles atingiriam marcos que me aterrorizavam.
O fato de que não tínhamos ideia de quanto tempo permaneceriam
pequenos me incomodava. Crianças Fae crescem mais rápido que
crianças humanas, enquanto os deuses podiam amadurecer da
infância até a fase adulta em alguns dias. Com sua genética mista, nos
restava tentar adivinhar e esperar para ver o quão rápido eles
amadureceriam. Eliran fez todos os tipos de testes, mas todos foram
inconclusivos, e isso nos deixou sem saber qual seria a resposta.
Isso é parte do motivo pelo qual dispensei as criadas do berçário à
noite, para sua grande consternação decidi cuidar deles e aproveitar
seu tempo como crianças ao máximo. O pensamento de perder isso me
aterrorizava. Nem mesmo Danu conseguiu nos dizer se envelheceriam
rápido ou lentamente.
Entreguei um Cade agitado para Darynda e observei enquanto ela o
embalava como se ele fosse quebrar. Então, ela acenou para as outras
meninas, que esperavam a permissão de Ryder.
— O que é? — Ryder perguntou, seus olhos dourados se enchendo
de preto quando se virou e acenou para Darynda, que por sua vez
acenou para a mais próxima das criadas para pegar os bebês.
— Meu palpite? É o começo de uma enorme confusão, que você
precisa ver para acreditar. — Afirmou Ristan enquanto se inclinava e
beijava Kahleena que saia do quarto. Ela franziu a testa e acenou com
os braços para ele pegar ela, e sua testa franziu com uma pitada de
preocupação quando ele se voltou para o rei.
Senti meu estômago revirar, sabendo que deve ser algo enorme para
deixar Ristan com um humor tão tenso que não gastou alguns
momentos para atender os caprichos da minha filha. Aceitei a mão de
Ryder e me levantei, ignorando o café que estava me chamando de vadia
da mesa de cabeceira.
— Quão ruim? — Sussurrei e engoli em seco enquanto pensava em
enterrar minha cabeça debaixo dos travesseiros.
— No início, presumimos que a merda de Lucian estava dando
errado, mas não tenho mais tanta certeza disso. — Ristan forneceu.
— Espere, a merda de Lucian era enorme. Tipo, quebrar paredes,
coisas que mudam o mundo. — Gemi. Não teríamos uma pausa. — Não
é tão grande, certo? — Meus olhos seguraram os dele quando engoliu
em seco e não fez nada para impedir a direção que meus pensamentos
se moveram. Engoli em seco de novo. O nó na minha garganta se alojou
com firmeza e se recusou a se mexer. — Vamos lá.
— Concordo. — Afirmou Ryder. Sua mão roçou a minha, seus dedos
entrelaçaram os meus e levou minha mão aos lábios e beijou meus
dedos. — Um dia de cada vez, bruxa. — Ele me lembrou quando saímos
do quarto.
A Guarda de Elite esperou no Salão Principal, provavelmente
impaciente para que fôssemos até eles. Ryder me puxou para mais
perto e acenou para os homens, provavelmente usando o vínculo
mental com seus irmãos que perdi a capacidade de usar nas últimas
duas semanas. Algo me impediu de ser capaz de canalizar, e atribuímos
ao que estava acontecendo na Terra dos Fae. Isso ou porque meus
novos poderes estavam brincando de esconde-esconde comigo
enquanto eu tentava aprender a usar corretamente.
— Vá em frente, avise quando for seguro levar Synthia. — Ryder
ordenou.
Depois que os homens se separaram, me virei e olhei para ele.
— Não sou de vidro e não quebro facilmente.
— Eu sei, mas não temos bebês por perto agora que vão chorar
quando eu fizer isso. — Ele murmurou, me empurrando contra a
parede e passando seus lábios nos meus. Gentil no começo, mas esse
calor cresceu, como se estivesse conectado a tudo dentro de mim que
me fazia mulher. Rosnei contra seus lábios enquanto aprofundava o
beijo, sentindo a falta dele contra mim sem o radar dos bebês
enlouquecendo e a inevitável confusão que explodiria. Suas mãos
seguraram minha bunda, e ele me levantou quando sua boca fez meu
interior gritar por mais. Uma tosse alta atrás de nós me forçou a soltar
seus lábios, soltei um sorriso atrevido e uma risada abafada enquanto
Ristan assistia.
— Continuem. Ficarei aqui, assistindo. — Comentou Ristan. — Se
necessário, ficarei feliz em dar algumas dicas também.
— Sim, aposto que você faria, pervertido. — Gemi.
— Definitivamente, Flor. — Ele riu. — Se terminaram de brincar, a
área está limpa e estamos prontos para vocês.
— Estamos. — Ryder rosnou, pressionando um beijo na minha
testa. — Os bebês podem ficar com as criadas hoje à noite.
— Vamos ver o que está acontecendo e qual a porra do problema.
Depois, podemos dar um longo passeio nas Piscinas das Fadas.
Deixei minhas pernas caírem lentamente no chão antes de me
aconchegar no abraço protetor de Ryder enquanto nos
transportávamos e a paisagem de nosso novo local se materializou na
minha frente. Meus olhos perceberam a perturbação, meu estômago
caiu e lágrimas queimaram meus olhos. Isso é pior do que eu poderia
imaginar. Minhas mãos tremiam quando o que via entrou totalmente
em foco.
— Isso é Spokane. — Sussurrei. — Como Spokane está na Terra dos
Fae? — Exigi, incapaz de calcular que merda meus olhos viam.
— Dê um passo para trás e olhe de novo. — Disse Ristan
severamente, sua arrogância usual ausente de seu tom.
Recuei e exalei quando a magnitude disso me atingiu. O portal
parecia novo e era enorme. Não tinha nada que impedisse que os Fae
deixassem a Terra dos Fae, ou que os humanos entrassem neste belo
mundo, mas mortal.
— E os outros portais? — Perguntei, tentando entender o que isso
significava para ambas as raças.
— Há mais um como este, os permanentes parecem não ser
afetados. — Ele nos informou cuidadosamente. — O próximo ao
pavilhão parece estável. Este e o outro estão se comportando como algo
que os fez abrir e crescer; nada do que fazemos está funcionando para
impedir que isso aconteça. Tentamos combinar magia, e isso só os faz
crescer mais rápido. Sem saber qual o catalisador ou feitiço que
desencadeou isso, é difícil impedir que mais se abram e cresçam. Além
da magia, estamos sem saber como parar. No ritmo em que estão
crescendo agora, não seremos capazes de proteger eles efetivamente
por muito mais tempo. — Interrompeu Zahruk, seus luminosos olhos
azuis sondando os meus por um momento antes de se virar e olhar
intensamente para Ryder.
Ryder olhou o portal por alguns momentos e levantou as duas mãos
em direção a ele, fechou os olhos e inclinou a cabeça para o lado, se
concentrando. Um pequeno vinco apareceu em sua testa quando as
bordas do portal assumiram um tom dourado que brilhava
intensamente por alguns instantes, depois desapareceram quando
suas mãos pareciam perder o controle e deslizaram para os lados do
portal que ele devia estar imaginando. Ryder balançou a cabeça em
descrença e tentou de novo, só para ter o mesmo resultado.
— Os portais tendem a parecer da mesma maneira que um tecido,
posso rasgar um ou selar um com pouca interrupção. Posso sentir esse
portal, mas não vai me permitir manipular ou puxar em qualquer
direção. — Ele falou cautelosamente.
— Ristan e Cailean disseram a mesma coisa quando tentaram. Os
portais que você abre são muito maiores que os que eles criam, então
esperávamos que você pudesse fechar este. — Zahruk desviou os olhos
de Ryder e olhou para mim. — Synthia, talvez você consiga impedir que
cresça. Sua magia parece funcionar de maneira diferente da nossa.
— Estraguei tudo, Zahruk, ou meu último acidente deslizou em sua
mente com tanta facilidade? — Bati em frustração. — Não consigo usar
meus poderes adequadamente, e o que vai acontecer se eu tentar e
piorar as coisas?
— Não custa tentar. — Respondeu. — Não vamos perder nada
tentando, e não tenho certeza se poderia ficar pior do que já está. Tem
uma maldita porta aberta que entra e sai da Terra dos Fae, não pode
ficar muito pior que isso.
Olhei para o portal e assenti. Ele estava certo, que mal faria tentar?
Estou conectada à terra e posso sentir ela, algo maior do que eu
entendia estava trabalhando para abrir esses portais. Fechei os olhos,
puxei o poder da Terra dos Fae para mim e enviei a sensação. Sussurrei
o feitiço que aprendi com a Aliança para ganhar força.
Antigos hábitos, mas com o buraco entre os mundos, preciso de
todos os truques para ser forte o suficiente para curar o dano. Chamei
Danu, Hécate e quem mais pudesse lembrar para ter força e coragem,
e rezei aos deuses antigos por qualquer bênção adicional com o feitiço.
Porra, nada aconteceu.
Abri os olhos e balancei a cabeça, e me encontrei brilhando com um
tom azul iridescente que já vi uma vez antes – em Danu, quando ela
estava chateada.
— Merda. — Gritei ao sentir o intenso poder fluindo através de mim.
— Não tenho certeza se estou no controle aqui. Vocês... provavelmente
deveriam voltar. — Sussurrei e me virei, apontei a mão para o portal e
o poder disparou da minha mão e através do portal, atingindo um
prédio que começou a desmoronar quando o feixe de energia o atingiu.
— Não é bom. — Gemi, puxando a magia de volta para mim, vendo
como o mundo parecia voltar e o prédio voltou ao seu estado original,
pedra por pedra, até a condição em que estava antes que eu estragasse
tudo.
— Deuses. — Ryder sussurrou — Viu isso? — Perguntou a ninguém
em particular, e me virei para olhar ele.
— Sim, vi, mas não tenho certeza se acredito. — Respondeu Zahruk.
— Flor, aponte as mãos para as bordas do portal e tente de novo. —
Ristan dirigiu.
Virei e apontei as mãos para o portal e soltei o poder da ponta dos
meus dedos, e o som ecoou através de mim, pouco antes de sermos
jogados para trás por uma mudança de poder invisível, quando olhei
para o portal ainda ofegante vi que ele crescia e quase triplicou de
tamanho até chegar ao tamanho de um campo de futebol.
— Simplesmente ótimo. — Murmurei. — Quebrei a Terra dos Fae.
— Você não quebrou. — Zahruk saiu em minha defesa, tentando
aliviar minha culpa. — Se a Horda descobrir que tem uma saída...
— Eles já sabem. — Interrompi. — Eles devem saber, é a única coisa
que explica os relatórios que recebemos de criaturas da Horda
causando estragos na Terra. Só não entendo por que os portais
continuam crescendo. E se encontraram um feitiço ou maneira de
erradicar a própria fibra das fadas e tirar o véu fino entre os mundos?
Ristan nos disse que viu um novo portal que não fazia parte deste
mundo antes e se além desses dois que você sabe, outros estiverem
surgindo?
— Se estão, ainda não encontramos. — Zahruk resmungou. — Na
semana passada, fizemos uma verificação no portal para ver se algum
tinha sido aberto por magia não vinculada à Terra dos Fae; não
encontramos nada. Quando fizemos nossa checagem semanal esta
manhã, encontramos esse e o outro totalmente abertos, mas, não tinha
vestígios de magia ou mancha dos Magos. Tentamos algumas coisas
para fechar eles, mas nada funcionou. Quanto mais tentávamos fechar,
maior ficavam. Queríamos esgotar todas as opções antes de levarmos
para você, mas como estão crescendo, não podemos esperar mais. —
Zahruk franziu a testa, preocupado tanto quanto eu com o que esses
portais significavam para os dois mundos.
— Você sabia disso horas atrás e está me dizendo só agora? — Ryder
exigiu.
— Queríamos que vocês tivessem pelo menos um pouco de tempo
juntos antes de trazermos outro problema para você. Nós esgotamos
todas as ideias que poderíamos pensar antes de te arrastar para isso.
— Zahruk encolheu os ombros e soltou um suspiro de frustração.
— Podemos cancelar o casamento, pelo menos até que possamos
descobrir isso. — Murmurei. — Os Fae vêm em primeiro lugar.
— Não vamos cancelar o casamento. — Ryder rosnou. — Isso não é
uma opção. Dá esperança às pessoas. Nós podemos gerenciar isso. Não
discuta comigo. — Ele acrescentou rapidamente quando abri minha
boca para fazer exatamente isso.
— Poderíamos fazer isso agora, reunir todos e só fazer nossos votos.
— Ofereci. Sei que ele não faria isso. Madisyn estava ansiosa por isso,
e Ryder queria que eu tivesse o grande casamento que daria uma
declaração a todas as castas Fae. Já me perguntei se parte dessa
pressão por esse casamento luxuoso vem de como ele foi criado.
Normalmente, em seu mundo, os casamentos reais nunca eram por
amor, eles eram para ganho político e grandes negócios. Ah, ele disse
todas as coisas apropriadas, como se quisesse me dar um casamento
que eu sempre quis – ou o que pensava que eu queria – e o amo por
isso, mas esse era o nosso mundo. E não preciso de uma grande
cerimônia para saber que ele é meu, ou para provar que amo ele. Só
amava, tão simples assim. E ficaria bem em dizer nossos votos com os
pés descalços em um prado, desde que ele estivesse ao meu lado.
— Darei a você um casamento para entrar para os livros de história.
Prometi a ambas as mães que faria isso corretamente, e estamos
fazendo. Passamos por coisas piores juntos. — Ele sussurrou e se
inclinou beijando minha bochecha. — Vamos nos casar corretamente
e teremos nossa lua de mel. Quando o casamento acontecer, ninguém
mais vai questionar sua posição ou a qual mundo você pertence.
Levantei uma sobrancelha e fiz uma careta.
— Alguém questionou?
— Muitos, a maioria não pensa que você é verdadeiramente uma
deusa. Alguns já foram resolvidos. — Anunciou Ryder.
— Você os matou por me questionar?
— Já matei por muito menos, Animalzinho. — Ele sorriu. — Além
disso, se deixasse eles viver depois de falar mal da minha rainha, outros
fariam também. Não posso mostrar fraqueza, esta é a Horda e a Horda
é governada por força e medo.
— Você sabe que se os matar, vão aparecer outros com uma teoria
ou opinião pior. — Afirmei, e ele sorriu friamente.
— Deixe virem. — Ele sorriu.
— Tudo bem, faremos o maldito casamento. Temos muito a fazer e
tudo ao mesmo tempo. Precisamos começar a reconstruir a Aliança,
formar professores e um grupo forte para proteger ela de qualquer
pessoa que desafie nosso direito de liderar. Vamos consertar essa
bagunça com os portais – e assim que fizermos tudo isso, vamos caçar
Faolán como a porra de um cachorro, concorda? — Meus olhos se
encontraram com os dele em uma batalha silenciosa, um aceno sutil
foi o único acordo que ele deu.
— Maldita garota sanguinária. — Ele sussurrou enquanto estreitava
os olhos nos meus lábios. — Adoro quando você fala assim, me lembra
a bruxinha atrevida que entrou na Fortaleza Negra e sacudiu a porra
do meu mundo como um globo de neve.
— Você sabe o que é um globo de neve, mas não sabe quem é Elvis?
— Perguntei rindo.
— Precisamos voltar ao castelo e descobrir o que fazer para colocar
mais guardas nos portais. Se algum humano entrar, este mundo o
consumiria antes que percebêssemos que ele estava aqui. — Afirmou
enquanto me observava, ignorando minha piada do Elvis.
— Vou ver se Danu vai atender meu chamado. — Falei, olhando
para Spokane através do portal que continuava aumentando enquanto
eu observava. — Vamos precisar de muita ajuda se continuar
crescendo assim.
— Se continuar no ritmo que está, a Terra dos Fae e a Tèrra serão
um mundo só antes mesmo de termos a chance de parar.
í
Andei de um lado para o outro do quarto enquanto Ryder estava
encostado na parede, estávamos tensos e minhas mãos continuamente
se fechavam enquanto eu tentava formular um plano. O portal agora
estava com aproximadamente o comprimento de North Spokane e era
grande demais para se vigiar, e era necessário poupar mão de obra ou
deixaríamos o castelo da Horda desprotegido e já estávamos em guerra.
— Acha que essa é a melhor opção? — Seus olhos dourados ficaram
tensos e uma ligeira linha de expressão franziu a testa.
— Não, mas vê outra solução? — Perguntei enquanto levantei as
mãos, impotente. — Quanto tempo antes que as criaturas da Horda
que escolheram não te seguir deixem a Terra dos Fae, ou as pessoas
que seu pai irritou notem que tem um maldito buraco pelo qual eles
podem se esgueirar e atacar os desprotegidos? — Minha voz estava
desligada, cheia de dor e incerteza do que pedi para ele aceitar.
— Synthia, temos tempo para esperar por Danu. — Ofereceu.
— Não, não temos. Ela desapareceu, e isso me assusta, e agora
existem buracos gigantescos na Terra dos Fae e não temos ideia de
como consertar esses buracos. Não podemos deixá-los aqui. Você me
disse muitas vezes que a Horda vai procurar uma fraqueza e usar
contra você. Eles têm três agora. E não vou ficar por aqui e assistir os
Magos – ou qualquer um dos nossos outros inimigos – tentarem tirar
eles de nós, porque agora você e eu sabemos que eles estão cientes dos
enormes buracos de merda no nosso mundo. Todo mundo espera que
nós os enviemos para Danu, então não faremos isso. Vamos mudar de
tática e os enviar para o Reino do Sangue, e eles vão permanecer lá até
o casamento. Ninguém pode saber, exceto aqueles que precisam
absolutamente saber, e essa lista inclui só aqueles com acesso direto
aos bebês. Somente seus irmãos e entre eles, só os poucos em quem
você confia, vão saber para onde vamos enviar os bebês. Madisyn e meu
pai vão proteger eles com suas vidas, sabemos disso. É o último lugar
no mundo que alguém esperaria que os enviássemos.
— E se crescerem e perdermos isso? — Sua voz se encheu de dor
quando considerou perder qualquer coisa da preciosa infância deles.
— Então vamos perder. — Sussurrei através de um nó na garganta.
— Não sei o que Destiny planejou, mas sei que, como pais, não
podemos permitir que eles permaneçam onde estão, em perigo. Eles
sabem que nós os amamos mais do que qualquer outra coisa neste
mundo, mas nossos inimigos também. Acho que devemos enviar
Cailean e provavelmente Sinjinn junto para esconder e proteger eles.
Preciso colocar a Aliança em funcionamento. Você tem um reino inteiro
para administrar. Se muitos saírem da Terra dos Fae, o mundo inteiro
vai saber que estão fracos e desprotegidos. Você me disse uma vez que
decidir deve ser sua prioridade, e isso não deve mudar. Entendo isso
agora, Fada. Entendo que me entregou porque amou este mundo o
suficiente para sacrificar sua própria felicidade por ele. Não posso pedir
para você mudar isso agora, não quando a Terra dos Fae mais precisa
de você, nem espero que ignore seus deveres, já chamei Madisyn e meu
pai e vão estar aqui dentro de uma hora. Preciso preparar os bebês
para viajarem, e você precisa preparar Cailean e Sinjinn e manter todo
mundo longe desses quartos.
— Eu te amo. — Ele se aproximou e passou os braços em volta de
mim. — E odeio a ideia de ficar longe deles, mas está certa. Eles são a
única coisa que pode ser usada contra nós e não podemos arriscar. Não
com os portais crescendo a cada hora. Se me fizessem escolher entre
você e os bebês, e este mundo, escolheria minha família todas as vezes.
— Oro aos deuses que sejam misericordiosos e permitam que eles
continuem bebês um pouco mais. Madisyn vai trazer eles para casa
para o casamento e, por enquanto, vamos fingir que ainda estão aqui.
Vamos trancar o andar e manter só aqueles que precisam estar a par
do que está acontecendo. Makayla vai com os bebês e Darynda vai ficar
aqui. Perceberiam que tem algo errado se Darynda fosse embora, mas
Makayla é nova. Para que esse plano funcione, teremos que ir ao quarto
deles e ficar lá durante o tempo que normalmente visitamos os bebês.
Vamos fingir que tudo está igual e esperamos que nossos inimigos
acreditem.
Parece que sempre tivemos inimigos rastejando desde que Ryder
subiu ao trono. Foram alguns meses tensos, com alguns pequenos
atendados contra sua vida, e ninguém foi ousado o suficiente para fazer
um movimento em seus filhos, mas sacrifícios estavam prestes a ser
feitos para proteger este mundo, e não sou estúpida o suficiente para
assumir que conseguiríamos passar ilesos. Estávamos mandando os
bebês embora para proteger eles, mas também para me proteger de
fazer o impensável. Se os bebês acabassem nas mãos do inimigo, eu
faria qualquer coisa para recuperar eles, destruiria mundos para
mantê-los seguros, e esse pensamento aterrorizou minha alma. Eles
eram mais do que uma fraqueza, eram tudo para nós.
— Vou buscar Sinjinn e pedir que ele traga Cailean, também vou
chamar um conselho de guerra só com a Guarda de Elite, o que não
vai parecer errado, considerando o que está acontecendo. — Sussurrou
enquanto seus dedos cruzavam os meus me puxando para mais perto.
— Você prepara nossos filhos para visitar seus avós, e nós vamos
descobrir isso. Prometo a você, eles só vão embora por alguns dias.
— Aqui. — Enfeiticei outra roupa de bebê para Darynda colocar nas
malas enquanto gritava mentalmente para Danu me responder. —
Kahleena não consegue dormir sem o urso. Ristan o comprou de
alguma butique na França e ela adora. Por favor, verifique se está
embalado também.
— Vou pegar, minha senhora. — Makayla sussurrou, uma carranca
puxando seus lábios carnudos enquanto limpava uma lágrima que
estava descendo por sua bochecha.
— Parem, todas vocês. Olhem para mim. — Exigi. — Eu mal estou
segurando minha merda, então vocês têm que ser fortes. Isto não é
para sempre, é só até as festividades do casamento.
— Nós só nos preocupamos por você. — Darynda ofereceu enquanto
seus olhos verdes me observavam. — Você é a mãe deles, e mandar eles
embora não devem ser fácil para você.
— Não, não é, mas vai manter eles seguro. — Sussurrei enquanto
engolia o caroço que parecia permanentemente preso na garganta. —
No final, manter eles seguros e protegidos é o que importa.
Nossas mãos congelaram e nossas cabeças viraram para a porta
quando ela se abriu. Olivia timidamente entrou e meneou os dedos em
saudação silenciosa.
— Ristan me enviou. — Ela timidamente fez seu caminho até mim e
as pilhas de roupas dobradas na cama. — Ele disse que você
provavelmente poderia usar uma amiga e talvez um par extra de mãos?
Olivia e eu tivemos um começo difícil, não gostava dela pelo que
aconteceu com Ristan, mas ela cresceu em mim depois que derrubei
minhas defesas e a deixei passar. Ela era a melhor metade de Ristan
agora, e eles estavam apaixonados. Entendi por que ela assumiu o pior
com ele, e como ela foi julgada tão facilmente pelos Anciões da Aliança,
desde que aconteceu o mesmo comigo.
— Ajuda é sempre bem-vinda, Olivia. Nem imagina quantas coisas
três bebês precisam para ir a qualquer lugar. É insano. Preciso de sacos
de fraldas cheios de roupas e o essencial. Minha mãe e meu pai vão
estar aqui em breve para levar eles em segurança. — Conversei
alegremente, como se meu mundo inteiro não estivesse desmoronando.
— Ei, Alden já falou com você sobre a nova Aliança? — Eu precisava
mudar de assunto, rápido. Meus olhos observaram enquanto ela olhava
distraidamente o quarto. — Olivia? — Chamei quando parei o que
estava fazendo para olhar ela.
— Desculpe, o que? — Ela sussurrou timidamente, seus olhos se
enchendo de lágrimas não derramadas.
Eu precisava estripar alguma coisa, separar com as mãos nuas para
me afastar da merda, porque estava prestes a me juntar a ela e me
tornar uma idiota chorona.
— O que é? — Perguntei, observando ela por algum sinal de que algo
estivesse errado. Suas mãos tremiam quando pegou e começou a
dobrar uma pequena camisa com uma infinidade de minúsculos
dragões azuis espalhados pelo tecido. — Desembucha.
— Sabe se Ristan quer filhos? — Ela abaixou a voz e mordeu o lábio
nervosamente enquanto olhava para as outras no quarto. — Quero
dizer, sei que ele é realmente bom com seus bebês e que absolutamente
adora eles, mas ele quer ter seus próprios filhos? Seu pai era um
pedaço de merda abusivo e foi brutal pra ele. E não o culparia se nunca
quisesse ter os próprios filhos, mas estamos juntos, e meio que quero
e preciso saber.
Fiquei boquiaberta, vendo suas mãos distraidamente tocarem sua
barriga antes que ela engolisse e olhasse de volta para mim.
— Você está grávida. — Adivinhei e observei a cor sumir de seu rosto
enquanto ela olhava para as outras no quarto. — Elas vão manter seu
segredo, elas estão ligadas a mim.
— Estou atrasada, muito atrasada. — Ela torceu as mãos. — E
sempre quis filhos, muitos e muitos. Mas agora que pode ser real, estou
apavorada, nem sei se estou pronta para isso. Quero dizer, pensar que
você quer e realmente ter não é a mesma coisa, nem tenho certeza se
seria uma boa mãe, pois nunca tive uma. Realmente não sei nada sobre
bebês, crianças talvez. Sou ótima com crianças, mas elas não nascem
conversando. Eu adorava ensinar, mas quando a campainha tocava,
enviava eles para seus dormitórios, nunca tive um bebê, muito menos
cuidei de um. Não sei se consigo. Estou enlouquecendo, não estou? —
Ela balbuciou, fechando os olhos suspirando.
— Darynda, traga Cade por favor. — Não tirei os olhos de Olivia
enquanto ela tentava combater as lágrimas que ameaçavam
transbordar. Assim que Darynda estava com o Sr. Macaco Abraçador
nos braços e caminhava em minha direção, balancei a cabeça. —
Entregue para Olivia, ela precisa praticar.
— Eu... uh... realmente não consigo segurar um bebê. — Olivia
chiou com os olhos arregalados quando Cade foi empurrado em seus
braços e arrulhou feliz. O pânico consumiu suas feições e ela começou
a segurar ele longe de seu corpo, levantei uma sobrancelha para ela
quando ele começou a mexer. — Qual o problema dele?
— Segure ele mais perto do seu corpo e observe sua cabeça. Ele
gosta de dar cabeçada às vezes. Aleatoriamente, sem aviso prévio. —
Esperei até que ela fizesse o que falei antes de voltar as roupas
enfeitiçadas e dobrar. — Os bebês não são complicados. Entendo que
você esteja enlouquecendo, mas eles são bem fáceis, a menos que você
não esteja dormindo e eles não queiram voltar para cama. Eles também
são parciais em acordar você no meio da noite por nenhuma outra
razão senão ver se você abre os olhos. — Ri quando ela fez uma careta.
— Mas sou só uma bibliotecária e não vou poder enviar um bebê
para um dormitório durante a noite. — Ela murmurou.
— Eu era uma assassina que matava pessoas. Era mortal e boa no
que fazia. Você é professora e bibliotecária. Você ensina crianças, e eu
fui mantida longe delas. Se consigo fazer isso, você também pode.
Segurar eles é metade da batalha, mas quando é seu próprio filho, isso
vem naturalmente. Eu sentia medo de machucar ou derrubar eles, mas
não fiz nenhuma dessas coisas. O que quero dizer é que, se uma
assassina treinada pode ser domesticada e descobrir como trocar um
bebê, você vai ficar bem. — Terminei com um sorriso amigável quando
ela começou a balançar Cade suavemente em seus braços. — Cade é
fácil, gosta de peitos e encher o estômago com praticamente qualquer
coisa que as criadas inventem. — Cade olhou para Olivia e ofereceu um
sorriso desdentado antes de descansar a cabeça nos seios dela.
— Como você faz isso? — Ela sentou em uma das muitas cadeiras
de balanço do quarto. — Como encara os Fae todos os dias, sabendo
que matou uma quantidade impressionante deles em nosso mundo? —
Ela questionou enquanto olhava para Cade nervosamente e de volta
para mim. — Sei que você fez isso, pois arquivei a papelada, todos os
relatórios de todas as missões que executou foram arquivados. Agora
você tem que viver entre eles sabendo exatamente do que são capazes.
Faz parecer fácil, como se nunca estivesse do outro lado, contra eles.
Escolhi minhas palavras com cuidado, pois ela estava tentando se
adaptar a um mundo e estilo de vida que eu mal conseguia entender.
— Eu não era só boa nisso, Olivia. Era a melhor assassina licenciada
da Aliança de Spokane. Essa parte da minha vida, e a sua, é parte do
passado. Eles mataram os nossos, e nós matamos os deles. Bem, não
o nosso por si só, mas entende o que quero dizer. Os seres humanos e
os Fae estão em guerra muito antes de termos nascido, moro entre eles,
sim, mas eles sabem exatamente quem eu sou. Não escondo meu
passado deles, pelo contrário, sou muito aberta. É quem eu sou, e só
porque estamos aqui agora não muda o que somos ou como chegamos
aqui. Se consegue tirar a cegueira e olhar além do ódio que os dois
lados têm um pelo outro, também pode ver o bem neles. É uma escolha,
como tudo na vida. Você escolhe o que faz e como faz. Escolhi ser feliz
e amar Ryder, e qualquer outra coisa além disso, para mim, é trivial.
— Assisti enquanto uma pequena linha enrugava sua sobrancelha e
uma pequena carranca brincava em sua boca. — Te incomoda, viver
entre criaturas que odiamos cegamente e que fomos ensinadas a odiar?
— Não, bem, às vezes. Acho que sim. — Olivia engoliu em seco. —
Ocasionalmente, vejo um deles e sei exatamente como mata e o que
fazem com os seres humanos, e não posso deixar de odiar ele. Tenho
todos os arquivos e palavras que já escrevi sobre eles presas na cabeça.
Não posso desligar e sei que muito disso não passava de mentira, mas
parte disso era verdade e algumas das criaturas aqui são horríveis.
— Sim, são. — Concordei. — Aqui, porém, eles não são os mesmos.
Lá fora, em nosso mundo, é um playground diferente para eles.
Precisam de regras, como todo mundo. Como a maioria das crianças,
quando deixadas por conta própria, elas criam o caos. Ryder mata
aqueles que matam os humanos maliciosamente. Ele aplica suas
regras e leis, protege os humanos porque pedi a ele. É nisso que escolho
focar. Olhe para os humanos... quero dizer, alguns são criaturas cruéis
e odiosas criadas nas entranhas do inferno. Nem todos são bons e nem
todos são maus. Satanás era um anjo que foi expulso do céu. Ele era o
filho favorito de Deus. É a prova de que qualquer um pode cair, e
qualquer um pode optar por ser bom ou ruim. Não é só uma raça ou
um tipo de criatura que é ruim.
— Acho que ele gosta de mim. — Disse ela, sorrindo timidamente
para Cade, que a observava com grande interesse enquanto chupava
os dedos.
— Você disse a Ristan que está atrasada? — Sorri distraidamente
para a maneira como os dedos de Cade que não estavam enfiados na
boca dele envolveram os de Olivia.
— Não, eu precisava de mais alguém para conversar pois estava
pirando. No começo, pensei que fossem só todas as mudanças pelas
quais passei e todo o drama que estava acontecendo ao nosso redor.
Elijah saberia mais sobre minha fisiologia, mas não me sinto à vontade
para conversar com ele sobre isso. Ristan está preocupado com vocês
e o fiasco do portal, então não achei que fosse a hora certa para
aumentar o estresse dele. — Ela desviou o olhar nervosamente e
começou a fazer pequenos barulhinhos para Cade.
— Ele é muito descontraído e você sempre pode lhe oferecer um
coração para mastigar enquanto fala.
— O que? — Ela perguntou assustada. — O bebê mastiga corações?
— Ristan, mas não importa, provavelmente não é uma boa ideia de
qualquer maneira. — Respondi rindo.
— Se arrepende de não poder alimentar seus filhos naturalmente?
— Ela desviou o olhar, tímida ao fazer uma pergunta tão pessoal.
Estremeci e depois encolhi os ombros.
— Isso me matou, mas não é como se eu tivesse outra escolha. Não
posso reclamar, considerando que ainda estou aqui para curtir meus
bebês. No final, nada mais importa e desejo encontrar aqueles que
tentaram matar eu e meus filhos. E pretendo arrancar a cabeça deles
enquanto ainda estão vivos, mas isso é uma história para outra hora.
— Você só disse com um sorriso no rosto que planeja matar alguém.
— Ela riu nervosamente.
— Olivia, sejamos realistas por um momento. Você realmente acha
que mudei quem eu era, só porque estou nesse mundo? — Parei de
dobrar as roupas dos bebês para conversar. Os bebês tinham muita
merda que precisavam levar, e mal havíamos arranhado a superfície.
Claro, meus pais podiam enfeitiçar qualquer coisa que os bebês
precisassem, mas prefiro que eles cuidassem das coisas mimadas e
mundanas. Tornava a ligação mais fácil, e me apegava a isso. — Eu
mudei, mas sou a mesma garota que você leu, a garota que foi criada
na Aliança para matar. Meu irmão assassinou meus pais adotivos
porque acreditava que tinha alguma maneira mágica de desviar meus
poderes para si e se tornar o Herdeiro de Sangue no meu lugar. Ele
estuprou minha mãe adotiva, deixando ela como um ser irracional e
uma viciada em sexo enquanto meu pai assistia. E tive que ficar quieta
atrás de um painel escondido na parede enquanto observava tudo o
que ele e seus amigos idiotas faziam. Ambos foram mortos na minha
frente, e minha mãe não se importou porque tinha perdido a cabeça.
Alden e Marie me salvaram, mas o que aconteceu se tornou uma grande
parte de mim. Isso me levou a ser a melhor. Aquele psicopata tentou
me estuprar quando eu estava em trabalho de parto, e se alguém não
tivesse impedido que isso acontecesse, ele teria conseguido. Faolán
nunca vai parar até que um de nós esteja morto. Não pretendo morrer,
o que significa que terei que matar ele. E tenho que ganhar. Ganhar
significa que nunca mais terei que olhar por cima do ombro. Ele é o
tipo de pessoa que este mundo estará mais seguro sem.
— Eu não sabia sobre seus pais. — Ela murmurou. — Quero dizer,
sabia um pouco sobre seus pais, mas eles não arquivaram os detalhes.
Se fizeram, alguém removeu porque éramos todos curiosos e espiamos
uma ou duas vezes. Na verdade, não posso te culpar por querer ele
morto. — Balancei a cabeça distraidamente em reconhecimento à sua
genuína tristeza por meus pais e pelo que Faolán causou a mim e aos
meus pais adotivos.
— Então. — Comecei, redirecionando o assunto para ela, já que
estava desviando. — Tem medo que Ristan te deixe se disser que está
grávida? — Sem querer, li suas emoções. Ultimamente, tem sido um
desafio controlar meus poderes, um dos efeitos colaterais mais
incômodos estava surgindo aleatoriamente nos pensamentos que se
passavam na cabeça de outras pessoas. Senti seu desconforto, sua
incapacidade de dizer a ele por medo de que reagisse mal e que o que
eles tinham desmoronasse. Ela também ainda estava assustada com a
maternidade e o território desconhecido que trazia. Como acabei de
experimentar isso, posso entender.
— Estou aterrorizada. Quero filhos, mas o pensamento de que isso
esteja acontecendo tão rápido me assusta, não tive mãe e não sei quase
nada sobre ter filhos ou o que acontece quando você tem um.
— Ristan nunca deixaria você. Ele é leal e, sim, pode ser teimoso
pra caralho, mas ele ama você, Olivia. E ama crianças. É verdade, e
não é segredo que sua própria infância foi uma merda, mas a de Ryder
também. Ryder é uma tarefa fácil quando se trata de nossos bebês. Ele
ficou com medo deles no começo, com o fato de estarmos tendo um
bebê, depois dois bebês. Ele é o melhor pai que poderia pedir para meus
filhos. Ele é seu protetor e sua calma, seu conforto. Ele só precisa
segurar Kahleena e ele derrete. Toda a Guarda de Elite é composta
pelos guerreiros mais ferozes da Horda, e todos eles se transformam
em crianças gigantes quando entram no berçário.
— Isso é reconfortante, mas gostaria de manter isso entre nós por
enquanto. Pelo menos até ter certeza de que estou grávida e descobrir
como dar a notícia. Ele já tem muito no prato, e não quero acrescentar.
Estudei ela e assenti, não queria esconder isso de Ristan, mas era
o lugar dela contar a ele quando estivesse pronta. Mulheres precisam
ficar juntas nesse momento, já que os números não estavam
exatamente do nosso lado.
— Tudo bem, mas Cade está dormindo e preciso de ajuda para fazer
as malas. — Eu ri. — Coloque ele no berço e me ajude a arrumar essas
malas. Meus pais logo vão estar aqui e preciso pelo menos pegar seus
cobertores e brinquedos favoritos. Adam e Ristan continuam trazendo
mais e eles ficam estragados. — Expliquei e observei enquanto ela
sorria e assentia, os cachos vermelhos saltando enquanto concordava.
— Vou para a Aliança amanhã para ver o que é necessário para a
reconstrução, você gostaria de vir comigo?
— A última vez que estive lá, os níveis superiores eram todos
escombros. — Ela fez uma careta quando suas bochechas coraram com
culpa injustificada.
— Praticamente, mas o nível principal está estável e as catacumbas
ainda estão seguras. — Esclareci. — Temos que colocar o mais rápido
possível em funcionamento. Com os problemas com os portais, agora
será necessária mais do que nunca.
— Mmm, lindas garotas com bebês lindos... tão domesticada. — O
riso masculino acompanhou um barítono suave e uniforme. Isso me fez
sorrir, levantei os olhos para a voz familiar e encontrei olhos prateados
me observando enquanto Vlad se inclinava contra o batente da porta
preguiçosamente. — Nunca te identifiquei como uma criatura
domesticada, Synthia. Mas fica bem em você.
— Drácula, essa é Olivia. — Apresento. — A cara-metade de Ristan.
— Já tivemos o prazer de nos conhecer. — Respondeu secamente, e
piscou para Olivia quando ela saiu do quarto. — Ryder disse que você
planeja ir para a Aliança. Em breve?
— Muito em breve. — Concordei.
— Ele explicou a situação, você tem certeza de que é sensato?
— Não, provavelmente não é, mas que outra escolha temos? Não
vou permitir que a Horda massacre minha cidade natal. No momento,
acho que está um caos por aí.
— Você está correta. — Ele se sentou na cadeira de balanço que
Olivia acabou de desocupar. — Conflito e caos total. — Meditou
enquanto cruzava as mãos no colo e olhava para mim. — Lucian está
usando magia antiga para manter os portões do inferno fechados, mas
não vai durar para sempre. As Bruxas em Metaline Falls também não
têm ideia do que está acontecendo ao seu redor. Inteligente, mas, de
novo, ele parece mais do que capaz de gerenciar o caos do que a maioria
das pessoas. No entanto, a Aliança está em frangalhos, e está sendo
cuidada por um pequeno grupo de Executores de Seattle. Parece que
estão sentados lá desde a última visita que fizemos. Meu palpite é que
eles estão esperando por você.
— E?
— E você vai mesmo assim. — Ele resmungou.
— Sim, eu vou. Diga a Lucian que espero que ele nos faça uma visita
e que preciso de Alden por algumas horas amanhã. Ele pode garantir
que meu tio seja escoltado e entregue em segurança. Vou garantir que
ele volte mais tarde, quando terminarmos com o novo layout e
nomearmos a nova Aliança.
— Você espera que eu diga a Lucian o que você quer que ele faça?
— Vlad levantou uma sobrancelha com ceticismo. — Ele não vai fazer
o que pedimos, Synthia. Ele está lidando com sua própria bagunça, e
pelo que vi, ele não está feliz. Só estou ciente do que está acontecendo,
porque tenho pessoas o observando e relatando, o que tenho certeza de
que ele está ciente. Não passa muito despercebido.
— Ele tem as mãos ocupadas, tenho certeza. Não posso imaginar
que ele esteja gostando de ficar longe de Lena. Mas isso não muda
nada. Preciso de Alden comigo amanhã, prometi a ele que o manteria
atualizado sobre qualquer coisa que pertença à nova Aliança. Não
tenho medo de Lucian e entendo que um único erro pode derrubar tudo
em que ele trabalhou desde que os deixamos. Pensando bem, você
mantém Ryder ocupado, e eu vou. — Falei, com um sorriso malicioso
nos lábios enquanto Vlad xingava violentamente, depois xingou de novo
quando Zander riu de suas palavras enquanto eu desaparecia.
Entrei na boate luxuosa, meus olhos procurando qualquer ameaça
oculta enquanto ia para o bar. Atrás do bar tinha uma raposa prateada,
seus olhos verdes me observavam atentamente enquanto me aproximei
dele. Sua mandíbula estava coberta por uma barba por fazer, e os
primeiros botões de sua camisa branca engomada estavam desfeitos.
Pensei em pedir uma bebida, mas o esquivo proprietário já estava
ciente da minha presença em seu estabelecimento.
— O que a senhora gostaria? — O barman se moveu na minha frente
e colocou as mãos na barra polida. Seus olhos deslizaram lentamente
pelo meu corpo até que encontrou as marcas pulsantes que enfeiticei.
— Fae? — Ele sorriu. — Não temos muitos Fae aqui, não antes que o
clube do térreo esteja aberto para negócios.
— Não estou aqui para isso. — Ronronei, sorrindo e deixando ele
assumir que eu não era uma ameaça.
— Synthia, Lucian vai te ver em seu escritório. — Um dos homens
de Lucian interrompeu quando colocou a mão no meu ombro nu. —
Agora. — Ele rosnou quando não consegui me virar rápido o suficiente.
Me virei, sorri brilhantemente e coloquei minhas mãos em seu peito
enorme.
— Acalme seus peitos, homem-coque, antes de rasgar sua camisa
por acidente. — Eu ri. Seus olhos se estreitaram quando soltou um
pouco de seu poder, segui o exemplo, fingindo ignorar a maneira como
seus lábios se abriram em surpresa, ou a maneira como aqueles dentro
do clube se viraram para olhar quando deixei escapar um pouco de
energia demais. — Não estou aqui pra causar problemas, simplesmente
vim falar com seu chefe. Então, mostre o caminho. — Completei,
observando enquanto ele fechava os lábios e balançava a cabeça uma
vez para reconhecer o que falei.
— Por aqui, deusa. — Ele caminhou em direção à parte de trás do
clube sem olhar para trás para ver se eu estava seguindo sua liderança.
— Ele refez este lugar desde que estivemos aqui pela última vez. —
Comentei.
— Vamos ficar aqui mais tempo do que ele pretendia. — Homem-
coque encolheu os ombros. — É melhor aproveitar o tempo em que
vamos ficar presos aqui.
— Justo e você convidou outras criaturas para dentro da barreira?
— Curiosamente, notei que algumas das criaturas espalhadas pela
boate não eram humanas, mas sem olhar mais de perto, não consegui
entender o que eram.
— Mantenha seus amigos por perto e seus inimigos mais perto. —
Ele murmurou, sem parecer feliz com isso.
— Ou mate eles e acabe com isso. — Sorri quando seus ombros
tremeram em uma risada silenciosa.
— Inteligente e bonita, pela minha experiência uma combinação
mortal. — Ele riu.
— E você tem muita experiência? — Subi as escadas e entrei no
corredor escuro. A maioria das paredes era de vidro, dando ao
proprietário um vislumbre de seu clube e de quem entrasse.
— Não tanto quanto Lucian, mas de novo, não persigo, sou
perseguido. — Ele murmurou antes de se virar e andar para trás
facilmente. — Por que correr atrás se não precisa? Faça as mulheres
trabalharem.
— Nada que valha a pena vem com facilidade. — Observei.
— Nada que valha a pena vem facilmente e ainda assim, aqui está
você, linda. — Ele sorriu.
— Sou comprometida. — Respondi sem perder o ritmo.
— Merdas acontecem. — Ele sorriu maliciosamente.
— Isso é verdade, mas se a merda acontecer, nada e ninguém vai
me impedir de trazer ele de volta. — Avisei.
— Às vezes o mundo não precisa de outro herói e sim de um
monstro. — Ele parou em frente às enormes portas do escritório de
Lucian. — Os heróis se importam se as pessoas estão feridas, mas às
vezes você não pode salvar elas, é melhor ter alguém que não se importe
com danos colaterais. — Murmurou. Seus olhos se estreitaram como
se ele estivesse tentando me fazer entender o que estava dizendo.
— Entendo. — Concordei. — E às vezes o mundo precisa de um
herói e um vilão para equilibrar as coisas e salvar os inocentes e os
culpados. Às vezes, o monstro pode ser ambos. — A porta se abriu e
me virei, dando ao dono do clube um sorriso sedutor.
— Lucian. — Cumprimentei com um aceno de cabeça suave em
reconhecimento. — É bom ver que decidiu ficar por aqui. — Nós dois
sabíamos que ele não iria a lugar nenhum tão cedo. Não com Lena
ainda sob seu feitiço.
— Synthia, a que devo essa visita inesperada? — Seus olhos afiados
e divertidos se voltaram para as marcas enfeitiçadas e de volta para os
meus. — Seu noivo está bem? — Lentamente, aqueles olhos da meia-
noite se moveram para o homem ao meu lado em silenciosa demissão
antes de voltar para os meus.
— O Rei da Horda está bem. — Respondi.
— E deixou você vir aqui sozinha? — Ele me deu um olhar avaliador.
— Não pedi permissão. — Entrei em seu escritório e suas alas
chiaram com a minha presença. — Sou meu próprio guardião e não
estou em perigo aqui. E me matar não serviria a um propósito. Você
tem muito conhecimento e eu simplesmente preciso esclarecer algumas
coisas com você. Responda ou não, a escolha é sua. Você pode abaixar
suas alas. Não vim começar uma guerra com você.
Não respondeu, e ainda assim senti as alas quando as neutralizou.
Ele não moveu um único dedo, o que significa que é mais poderoso do
que pensávamos inicialmente. Seus olhos me observavam, e me
perguntei se ele achava que eu estava aqui pelo prazer que seu clube
abaixo oferecia, ou se já estava ciente da minha razão de estar aqui.
Meus olhos percorreram o escritório em busca de qualquer sinal de
ameaças ocultas e pararam diante de uma pintura que parecia ter
vários séculos de idade. A mulher na pintura parecia muito com
Madalena, mas certas coisas estavam erradas, como a inclinação dos
lábios e a cor dos olhos.
— Ela descobriu que renasceu? — Olhei por cima do ombro. Senti
que Lucian estava um pouco perto demais para meu conforto, mas
também senti seu desconforto ao examinar o retrato. Eu estava
pescando aqui, e sabia disso, mas não tínhamos ideia do que Lena
realmente era, além de poderosa – e perigosa, se ela decidisse ser.
— Não tem provas de que seja ela. — Ele evitou. — Elas parecem
semelhantes, mas nada é certo, nem suspeito que ela seja a alma
renascida de Katarina. Lúcifer não levou Lena, ele levou Kendra.
— Posso ver algumas semelhanças nas duas mulheres, o que
significa que você também pode. Você protege ela, o que diz muito.
Poderia ter matado ela, e ainda assim hesitou. Eu te assisti, se você
ainda não está apaixonado pela garota, está se apaixonando por ela.
Depois, tem o retrato, que tem uma estrutura óssea familiar, de modo
que ela pelo menos nasceu na árvore genealógica de Katarina, mas isso
também não significa muito.
— Você está pescando. — Ele rosnou e o senti tentando empurrar
as paredes em minha mente.
— E você precisa ficar fora da minha cabeça. Estou pescando porque
você não gosta de pedir ajuda, mas tem caso precise. Lena pode não
ser a pessoa que detém o selo, mas ela é muito poderosa e é pura pelo
que vi. Ela é inocente de qualquer pecado passado, ou pelo menos sua
alma foi absolvida de qualquer um. Você acha que o selo permitiria que
continuasse assim se ela o tivesse?
— O tempo vai revelar a verdade. — Disse ele suavemente, e depois
mudou de assunto, encerrando a discussão. — Você está mudando. —
Seus olhos me observavam como os meus acabaram de fazer com ele.
— Bruxa, Fae, e agora uma deusa. É uma atualização e tanto, não é?
Você precisava ter alguém bem no topo da cadeia alimentar para ajudá-
la a chegar onde está.
— Isso não foi uma pergunta.
— Não, não foi. Foi uma observação. A Aliança foi arrasada? — Seu
tom era inocentemente curioso, mas seus olhos o denunciaram.
— Não brinque comigo. Sei que assistiu às notícias ou leu o jornal.
Você é, afinal, um homem de negócios. Sabe que está nivelado, e usou
essa destruição para seu proveito quando Ristan levou Olivia para
dentro para conseguir algumas coisas que você ou seus homens não
conseguiam alcançar. — Falei cuidadosamente. — E tenho percebido
seus homens saindo dos escombros da Aliança, o que me diz que você
precisa de algo mais que está escondido lá dentro. Algo que está nas
profundezas das catacumbas, que ainda estão fortemente protegidas,
seria o meu palpite.
— Isso não é da sua conta.
— Discordo. — Rebati. — Estou prestes a reconstruir ela e, se
houver algo que você precise... bem, posso ser razoável.
— Você não me parece alguém que implora por algo, Synthia. Espera
que eu negocie minha propriedade? — Embora o tom da voz parecesse
calmo e regular, o poder dentro da sala estava ficando desconfortável,
e não tenho certeza se ele pretendia que fosse assim. O que quer que a
Aliança tivesse, ele queria de volta.
— Você conseguiu entrar? — Inclinei a cabeça para o lado enquanto
o observava. — Não, acho que não. Seja o que for, está fortemente
protegido diretamente contra você ou sua espécie. Você precisaria de
alguém que as alas não atacariam, e você não tem ninguém, ou já teria
pego. Se estou certa, você estava verificando se Ristan ou Olivia
poderiam acessar quando enviou eles pela última vez. Como falei, posso
ser razoável, mas, em troca, pediria algo a você.
— Entendo, e pensei que você era diferente dos outros. — Ele
zombou.
— Tenho perguntas, você tem o conhecimento. Não é como se eu
estivesse pedindo sua alma, Lucian, preciso de respostas, é simples.
Ele se virou e foi até sua mesa, sua postura rígida quando contornou
a mesa de madeira se sentando atrás dela e se recostou como se não
estivesse nem um pouco preocupado com o que eu pretendia
perguntar, ignorei seu convite quando acenou com a mão no assento
em frente à sua mesa. Ao invés disso, fui até uma garrafa aberta de
uísque escocês envelhecido e copos gelados que esperavam em uma
mesa próxima. Ele estava esperando companhia? Eu estava me
intrometendo nos planos ou ele sempre mantinha os copos gelados em
espera? Dei de ombros para as perguntas e peguei os dois copos e a
garrafa de uísque antes de caminhar até a mesa dele, me movi até ficar
do mesmo lado que ele, depois coloquei os copos antes de me sentar na
superfície de sua mesa, deixando minhas pernas balançarem enquanto
eu servia o uísque para nós dois.
— O que a Aliança pode ter levado que você queira o suficiente para
me dar respostas? — Pensei, mais para mim do que para ele, sabendo
que ele não estava gostando dessa linha de questionamento. — Não
deve ser um arquivo, ou você teria acrescentado isso à sua barganha
com Vlad, então deve ser algo que não queria que soubéssemos que
estava lá. E, claro, você pegou todos os arquivos da casa de Lena que
Kendra copiou do Coven. Então, acho que é algo que você mataria para
possuir. Tudo o que estou pedindo em troca é que responda minhas
perguntas.
— Então, ao invés de barganhar, você espera que eu responda suas
perguntas pra recuperar minha propriedade? — Rosnou permanecendo
imóvel enquanto me observava.
— Sim. — Sorri. — Você realmente acha que eu estaria aqui se não
fosse importante? Ryder não sabe que estou aqui agora, e ele não vai
ficar feliz quando descobrir onde estou. Arrisquei muito vindo aqui,
então isso deve lhe dizer exatamente o que significa.
— Ele não sabe que você veio até mim. — Ele meditou com um
sorriso de lobo. — Posso te prender e trocar pelo que eu quero, com a
mesma facilidade com que você faria. Só que eu não teria que responder
merda nenhuma.
— Não estou pedindo merda, Lucian. — Balancei as sobrancelhas,
sabendo que ele não se arriscaria a fazer novos inimigos enquanto ele
tivesse um baralho de cartas que poderia cair a qualquer momento. —
E prometo que nenhuma das minhas perguntas é sobre você, ou
qualquer coisa que envolva você. Não é sobre a sua bruxa, nem vai
machucar ninguém responder.
— Isso tem a ver com os portais falhando? — Ele questionou
enquanto lhe entreguei um copo.
— Pode ser. — Respondi com cuidado.
— Tudo bem, mas aqui está o negócio, Synthia. Não vou te dizer o
que preciso, até que esteja preparado para recuperar. Nesse momento,
você vai me dar o que quero, sem perguntas. Em troca, respondo a
todas as perguntas que você me fizer agora, desde que não faça
perguntas sobre quem ou o que sou, ou por que estou aqui.
— Combinado, mas você vai responder com sinceridade ou com o
melhor de seu conhecimento.
— Tudo bem, prometo não mentir para você. Podemos selar o acordo
com um beijo. — Sua boca se curvou em um sorriso suave e astuto.
— Podemos fechar o acordo com um aperto de mão. — Estendi a
mão enquanto seus lábios se erguiam nos cantos e ele lutava contra
um sorriso.
— Combinado, você não pode culpar um sujeito por tentar roubar
um beijo da futura rainha da Horda, pode?
— Na verdade, eu poderia, mas estaria mentindo se dissesse que
não estou nem um pouco intrigada com o que faz com as bruxas por
aqui para tornar elas alheias ao que você realmente é. Meu palpite é
que pisca esses lindos olhos azuis e elas ficam com os joelhos fracos.
— Faço muito mais que isso. — Ele murmurou.
— Não, você não faz. Você só tem interesse em uma bruxa neste
mundo e, no momento, ela nem sabe, não é?
Ele rosnou e balançou a cabeça.
— Não vá lá, não quando estou me sentindo generoso.
— Primeira pergunta, — comecei, permitindo uma pausa dos
problemas da namorada — o que você sabe sobre os portais da Terra
dos Fae?
— Não muito, a não ser que alguém encontrou uma maneira de abrir
alguns e que eles cresceram em proporções enormes. Mesmo agora, os
Fae selvagens estão escapando e causando pânico com os humanos.
— Você sabe se os seus problemas poderiam ter causado isso?
— Se meus problemas tivessem desencadeado isso, Synthia, não
seria a abertura de portais e sim os véus entre mundos caindo. Toda a
fenda que protege a Terra dos Fae desapareceria e se tornaria parte da
Terra. Se isso acontecer, o inferno e a terra também vão se tornar um.
— Sabe como consertar isso? — Meu coração encolheu um pouco
ao pensar no que ele estava descrevendo.
— Não. Não tenho certeza se pode ser corrigido. Assim como os
portões do inferno, uma vez que eles estão quebrados, você precisa
fechar para sempre ou selar todo o acesso a este mundo a partir da
Terra dos Fae. Você também não seria mais capaz de abrir portais para
voltar. Não seria possível deixar nenhum aberto ou fazer novos.
Engoli o nó que ficou preso na garganta quando suas palavras me
atingiram. Eu nunca seria capaz de voltar aqui, nunca. Perderia Alden
e Adrian. Seríamos incapazes de vigiar os Fae que estavam neste
mundo, ou aqueles que autorizamos estar aqui.
— A Aliança de Seattle, sei que você tem pessoas vigiando. Eles
enviaram alguém para Spokane?
— Sim, mas nós intervimos e mantivemos livre de qualquer um de
seus Executores. Na maior parte, para proteger meus interesses. — Ele
respondeu cuidadosamente.
— Matou eles? — Me senti um pouco doente ao pensar em mais
mortes na Aliança.
— Sim, mas teriam matado você, então considere um favor. Sei que
você seria a única a reconstruir a Aliança aqui, Alden me contou isso
quando me aproximei dele sobre alguns outros artefatos que a Aliança
possuía.
— A Aliança de Seattle enviou eles para me matar?
— Eles tinham balas de ferro e fotos suas e de um homem com
longos cabelos escuros e olhos verdes, que assumo ser o verdadeiro
Príncipe da Escuridão. A Aliança não gosta de deixar aqueles que
conhecem seus segredos viverem. Você sabe disso, então sua surpresa
desperta minha curiosidade. Pensou que eles te deixariam em paz?
— Não, não sou tão ingênua, sei que viriam, mas imaginei que
mandariam Magos, já que são eles que realmente me querem morta.
De volta à coisa do portal, vi Ryder criar alguns portais bem grandes e
conheço alguns outros que também podem abrir e fechar. Você conhece
alguém mais que possa ser forte o suficiente para mexer com os portais,
como abrir essas bundas gigantes que não podem ser fechadas por
mais ninguém?
— Conheço muitos que são fortes o suficiente. Isso exige
conhecimento e um amplo entendimento de como os portais
funcionam. Você provavelmente está procurando alguém que mora
dentro da Terra dos Fae e queira ser libertado, não uma ameaça
externa. A Aliança quer que os Fae vão embora. Os Magos são
anarquistas que querem destruir os Fae, mas não têm o conhecimento
necessário para realizar algo assim. Eles moravam fora da Terra dos
Fae e não têm ideia de como quebrar portais. Sua ameaça está, mais
do que provavelmente, dentro da Terra dos Fae, fazendo isso debaixo
do seu nariz. Algo dentro desse mundo quer sair.
— Excelente. — Bufei quando inclinei a cabeça para trás e fechei os
olhos. — Tem alguma ideia de quantas criaturas residem nesse
mundo? — Perguntei, sem esperar uma resposta.
— Claro que sim. Mas você não está procurando uma agulha no
palheiro. Você está procurando uma raça que tenha a capacidade de
se mover sem ser vista e faça parte da própria terra. Não tem muitas
raças que tenham poder e conhecimento para fazer algo nessa escala.
Minha pergunta é: como você pretende manter os Fae dentro quando
tantos querem sair?
— Isso é fácil, nós os destruiremos se eles tentarem sair. — Dei um
sorriso malicioso. — Nós só permitimos que a besta chacoalhe sua
gaiola e fique livre tempo suficiente para garantir que eles saibam que
não estamos brincando.
— Não acha que isso colocaria a Horda contra o seu recém coroado
rei? — Ele tomou um gole de bebida e me observou com um brilho de
especulação em seus olhos.
— Acredito que ele precisa mostrar a eles que é um rei justo, mas
que em momentos de necessidade, pode ser um monstro. É a Horda.
Precisam seguir o rei e se ajoelhar diante dele e se eles se recusarem a
se ajoelhar, ele vai precisar lembrar eles de que é o monstro mais
assustador do mundo.
— Às vezes é preciso um monstro para governar. — Ele concordou.
— E às vezes o monstro se torna o herói. — Pensei, e vi seus olhos
se afastarem do copo para relutantemente segurar os meus.
— Nós terminamos? — Ele resmungou.
— Você ama ela o suficiente para deixar ela ir, se não quiser se
tornar Lena de novo? — Encolhi interiormente quando ele ficou tenso.
— Matei Katarina para libertar ela. — Sua voz era suave, pensativa.
— Lena é diferente, ela é muito mais do que Katarina jamais foi e é
forte. Se tem uma chance de que ela seja quem estou procurando, não
tem como proteger ela do que vai despertar. Lúcifer acha que Kendra
aguenta, e espero que ele esteja certo. Não tem sinal dele e, no entanto,
os véus ainda estão se erguendo... e confie em mim, saberíamos se eles
descessem.
— Então Lúcifer pode estar errado ao assumir que Kendra prendeu
a alma e o selo?
— Ele levou Kendra porque seus lacaios pensavam que ela era Lena,
ele não sabia que eram gêmeas idênticas. Não fazia ideia se ela
segurava o selo, e nós também não. Isso explicaria por que os véus
ainda estão firmes. Ou ele simplesmente não se arrastou para fora do
caminho e seguiu para o inferno ainda. Ele não tem ideia do que está
procurando, mas aqui está o soco nos dentes: nós também não.
— Portanto, pode ser qualquer pessoa no Coven. — Mordi o lábio
inferior por um momento antes de completar a linha de pensamento.
— Até Lena. — Sussurrei com uma pontada de arrependimento.
— Quase quero orar para que seja qualquer outra pessoa – quase.
— Porque você tem sentimentos por Lena. — Pensei. — Não invejo
sua situação e, embora possa facilmente matar eles e acabar com isso,
você encontrou uma maneira de lhes dar misericórdia. Eu admiro isso.
Mas este é um castelo de cartas seriamente fodido, e não importa como
empilhe, eventualmente vai cair. Oro pelo seu bem e pelo bem dos
mundos, que quando se trata disso, você não seja forçado a fazer essa
escolha. É mórbido, mas serei sincera, sempre gostei de uma boa
história de romance. Você é um bom homem, mesmo que não queira
ser. Você não é tão mau quanto deseja que todos acreditem, e isso deve
contar para alguma coisa, Lucian. Mas não se preocupe, não vou
sussurrar uma palavra disso para mais ninguém, nem mesmo para
Ryder. A guerra está chegando à Terra dos Fae. Espero que, quando
chegar a hora, você nos ajude. Podemos usar alguns aliados poderosos
e teríamos o prazer de lhe agradecer por isso.
— Entrarei em contato com você, Synthia. Quando estiver pronta,
você me dará o que eu pedir. — Ele me afastou com um movimento da
mão, propositalmente ignorando meu pedido.
— Na verdade, nós não apertamos as mãos nisso. — Pulei de sua
mesa e olhei quando ele se levantou em toda a sua altura. E assisti
seus olhos ficarem vermelhos quando ele pensou em arrancar minha
cabeça. — É uma coisa boa que eu seja honrada. — Sorri enquanto
estendi minha mão e o observei franzir a testa. — Nem todo idiota está
caçando você, Lucian. Nem todo mundo espera algo de você, e alguns
de nós podem até considerá-lo um aliado. Às vezes você tem que confiar
nas pessoas ao seu lado. — Falei enquanto pegava sua mão e deslizava
meus dedos contra os dele. — E vou precisar do meu tio amanhã, e
prefiro não ser a pessoa que interfere no que está acontecendo aqui.
Estarei aqui por volta de uma ou duas, por favor, tenha ele aqui e vou
garantir que ele saia sem incidentes e seja devolvido no momento em
que terminar com ele. Se eu não vier, significa que decidi que não é
seguro o suficiente para ele estar lá.
— Você poderia ter derrubado as barreiras, por que não fez? — Ele
deu a volta na mesa.
— Porque fiz um acordo, e você respondeu minhas perguntas. Tem
também o fato de você ter Alden. Você me prometeu que ele não seria
prejudicado, e pretendo mantê-lo nisso. E, de novo, alguns de nós não
querem foder com você. Agora sabe que, se fizermos um acordo, sempre
vou honrar. Se lembre disso, porque posso precisar da sua ajuda em
breve. E para este eu quase venderia minha alma para realizar. Quase.
— Sussurrei enquanto apertava sua mão, beijava sua bochecha e
desaparecia.
Me materializei nas câmaras que Ryder e eu compartilhamos, com
um Ryder rosnando, e não parecia nem um pouco feliz. Fui em direção
a ele devagar.
— Sim, sei que você não queria que eu me encontrasse com Lucian,
mas alguém precisava ir... e se você fosse, ele teria pedido mais do que
pediu.
— E o que diabos ele poderia ter dito que valia a pena trocar alguma
coisa? — Ele perdeu a cabeça.
— Acho que sei como restringir a lista de quem poderia estar
abrindo novos portais. — Tentei manter meu tom brilhante e positivo.
Seus olhos dourados brilhavam com raiva mal reprimida.
— O que você prometeu a ele, Animalzinho?
— Ele ainda não me contou, mas tenho certeza de que será algo que
está dentro das catacumbas da Aliança de Spokane. — Murmurei e
desviei o olhar dos olhos dele. Negociar com Lucian era um risco
enorme.
Ele relaxou e me puxou para seus braços.
— Não faça isso de novo. — Ele murmurou contra o meu ouvido.
— Lucian não é tão horrível quanto todo mundo faz parecer. Ele tem
um coração embaixo dessa armadura, que bate por Lena. Ele sabe que
conhecemos sua fraqueza e sabe que pode confiar em nós agora.
— Você já pensou que talvez ele queira que o subestimemos? — Ele
beijou minha testa e a lateral do meu pescoço, fazendo meu pulso
acelerar descontroladamente. — Seus pais estão na sala de guerra com
os bebês. É hora de dizer adeus.
Sentei entre Madisyn e Darynda enquanto as malas eram entregues
à pequena comitiva que veio buscar os bebês. Liam franziu a testa
quando pegou mais uma bolsa e a ergueu por cima do ombro.
— Nós sabemos como enfeitiçar no Reino de Sangue, irmã. — Ele
resmungou quando recebeu outra mala pesada. A familiaridade com a
qual ele me chamou de irmã aqueceu meu coração.
— Eu não disse que você não podia. — Respondi enquanto me movia
para sentar no chão com os bebês.
— Ela quer cuidar do guarda-roupa deles. É perfeitamente normal,
e não é uma coisa fácil quando você sabe que seu filho está te deixando.
— Madisyn apertou meu ombro em encorajamento. Ela provavelmente
fez exatamente a mesma coisa quando me enviou para minha própria
segurança. — Nós os protegeremos com nossas vidas, e o berçário que
montamos fica na ala mais distante do palácio, protegido por magia. E
ninguém pode entrar a menos que sejam sancionados por você e Ryder.
— Eles não dormem muito e não gostam de se separar, e se você
tentar andar com Kahleena fora da vista deles, eles tendem a gritar. —
Aconselhei, lutando contra as emoções dentro de mim. Meu estômago
revirou e meus olhos queimaram. Eu queria abraçá-los e nunca os
deixar ir, mas tinha muita coisa que exigia atenção de Ryder e minha
agora, e sei em meu coração que essa é a coisa certa a fazer pelas
crianças. — Cade gosta de abraçar e Zander sempre quer se alimentar
primeiro. — Engoli. — Zander não gosta de ser segurado muito tempo.
Se o irmão e a irmã forem segurados e ele não for, ele fica com ciúmes
e então permite.
— Kahleena gosta de ficar entre eles quando dorme. — Acrescentou
Ryder. Ele sentiu que eu estava prestes a me perder e se ajoelhou ao
meu lado. — Cade não gosta de banhos, mas ele não se importa tanto
com eles se não estiver sozinho. Nós os lavamos juntos para impedir
que ele grite.
— Synthia. — Liam colocou a mão sobre o coração. — Eles serão
amados, e mais do que isso, estarão seguros, tenho meus protetores
mais ferozes comigo e morreremos antes de permitir que alguém os
machuque. São sangue do meu sangue, e juro que nunca permitiremos
que eles se machuquem.
— Eu sei, e estou enviando Cailean com você. Ele protegerá meus
filhos e cuidará deles. Ele fez isso por mim. — Olhei para o homem
silencioso que estava ao meu lado, observando minha dor. — Sei que
você quer ficar aqui, mas preciso de você com meus filhos, Cailean.
Os olhos castanhos escuros e verdes da primavera de Cailean se
voltaram para mim e ele franziu o cenho.
— Gostaria de ficar com você e protegê-la.
— Eu sei, mas não preciso ser protegida, Ryder e seus irmãos têm
essa coisa de proteção. — Sorri fracamente. — Meus filhos precisam de
você, e você prometeu protegê-los. Estou cobrando esse voto. Você irá
com eles para o Reino de Sangue e os protegerá com seu último suspiro,
caso seja necessário. Ninguém conhece Faolán como você, e será ele
quem os perseguirá. Você não falhará duas vezes, nós dois sabemos
disso. Você me pediu para perdoá-lo por não me proteger. Aqui é onde
você me mostra o seu valor.
— Como desejar, minha princesa. — Disse ele, acenando em
reconhecimento, o que fez com que seus cabelos loiros claros se
movessem na frente de seu rosto. — Eu os protegerei para você, juro.
Demorou mais de uma hora antes que eu estivesse finalmente
disposta a me despedir dos bebês, e mesmo assim demorou mais tempo
para me tirar da sala de guerra e entrar na sala do trono, onde ouvimos
as queixas das pessoas pelo resto do dia.
Todo mundo fingiu que tudo estava normal. Darynda e o resto das
criadas fariam turnos no berçário, e a Guarda de Elite colocou alas
pesadas, selando os pontos de entrada com barreiras de magias para
impedir que alguém não autorizado entrasse nos andares dos
aposentos. Novas alas foram colocadas à vista das pessoas dentro do
castelo e, para elas, parecia que estávamos simplesmente adicionando
às existentes para proteger os trigêmeos.
Tudo estava normal, exceto que Ryder não estava ouvindo as
pessoas que entraram e reclamavam de merdas mundanas – meu
coração também não estava nisso.
— Meu rei? — Um Fae baixo perguntou, seus cabelos e olhos
castanhos procurando no meu rosto antes de voltar para os de Ryder.
— Nos conte novamente. — Tentei redirecionar minha atenção para
a situação em questão.
— Minha vila foi invadida por shifters. A vila e as fazendas vizinhas
foram completamente saqueadas e arruinadas. Eles pegaram nossa
comida, atearam fogo em nossas casas e roubaram algumas de nossas
fêmeas. — Explicou a casta inferior Fae.
— Como sabe que foram os shifters que fizeram isso? — Levantei
uma sobrancelha especulativamente.
— Porque eles assumiram a forma de dragões e não mais andam
pelas terras ou voam pelos céus. Todos foram massacrados por ordem
de Alazander. — Ele gaguejou e se abaixou no chão enquanto se
ajoelhava. Ele balançou a cabeça como se tivesse cometido um grande
erro ao seu rei. — Não quero desrespeitar meu rei, só que é a verdade
do que aconteceu. — Senti Ryder tenso com a menção de Dragões, ou
talvez fosse a menção de seu pai, mas chamou minha atenção.
— Fale livremente. — Ryder disse suavemente. — Estou ciente das
ações de meu pai.
— Espere, dragões são reais? — Interrompi, meus olhos se
arregalando um pouco.
— Milhares de anos atrás, eles vagavam pelos céus dessas terras.
— Reconheceu Ryder. — Eventualmente, o número deles diminuiu e,
tem algumas centenas de anos, meu pai ordenou o massacre do que
restava de seu povo.
— Ele matou uma raça inteira? — Não estava certa se ouvi direito,
e pensei que Hitler fosse o pior assassino da nossa história, mas
Alazander provavelmente estava no inferno tomando café com ele
agora.
— Alazander ordenou que todo dragão na Terra dos Fae fosse
abatido, até as fêmeas e seus filhotes. Ninguém foi poupado e,
posteriormente, o castelo do Lord Dragão foi queimado com nada mais
do que um lembrete enegrecido de que Alazander não tinha piedade de
sua alma. Pessoalmente, posso garantir que não tem mais dragões na
Terra dos Fae, desde que eu estava presente quando o último dragão
caiu. — Ryder resmungou.
— Eu juro, meu rei, vi com meus próprios olhos. Era um dragão. —
Argumentou o Fae.
— Ok, então você viu um dragão. — Acenei minha mão um pouco
para tentar acalmar o Fae com raiva na minha frente. — Como você
pode ter certeza de que não era um tipo diferente de shifter?
— Porque o tipo de shifter que pode imitar um dragão não pode
manter a forma por muito tempo... na melhor das hipóteses. —
Divulgou o Fae menor.
— Você o olhou o tempo todo? — Estreitei meus olhos para ele
enquanto minha mente pulava de cenário em cenário. — Ou poderia
ter mudado de forma várias vezes quando você o viu? Como você está
vivo e sua esposa está desaparecida, suponho que você não estava
perto da vila quando aconteceu. — Ou ele era o maior imbecil do
mundo.
— Eu não estava na vila, mas estava perto o suficiente para saber o
que vi e vi Dragões. — Ele murmurou nervosamente.
— E para onde os Dragões levaram sua esposa...? — Ryder o
observou com cuidado. Ok, então parecia que Ryder estava recebendo
a mesma vibração que eu estava recebendo desse rapaz.
— Haggis, senhor. — Ele se curvou novamente. — Meu nome é
Haggis. Eu os segui até o mundo mortal, até o portal. Eles passaram
por ele. Encontrei pedaços do vestido dela e outras coisas... e sangue,
tanto sangue.
— Quais são as chances de que fosse um verdadeiro dragão? —
Olhei para Ryder, que se virou e considerou minha pergunta. — E se o
seu pai não matou todos eles?
— Reze ao seu Deus que ele fez, porque se eles se esconderem por
centenas de anos e estiverem se reproduzindo esse tempo todo,
provavelmente enfrentaremos uma guerra com eles. Temos o suficiente
para lidar atualmente, Dragões não são algo que quero acrescentar. —
Ele fez uma pausa, olhou para Haggis e exalou. — Enviarei homens
para investigar essa alegação e informaremos nossas descobertas. Uma
última pergunta: você tem certeza de que eles atravessaram o reino
mortal ou poderiam levá-lo até lá para fazer você acreditar que eles
passaram por ele?
— Acho que eles podem ter voltado, mas como é proibido passar
pelo portal, me virei e vim diretamente para cá, meu rei. — Ele
murmurou, apertando as mãos com preocupação.
— Obrigado por sua honestidade, analisaremos esse assunto
imediatamente. — Ryder levantou, se virou para os guardas que o
observavam e falou alto. — O tribunal será retomado amanhã,
quaisquer outras queixas esperarão até então para serem ouvidas.
Levantei para segui-lo quando as alas começaram a brilhar ao nosso
redor. Fiz uma pausa e me virei para ver a Guarda de Elite nos cercar.
Os Fae menores foram expulsos da sala e mais guardas entraram para
guardar as portas quando Ryder se virou e me levou em direção à sala
de guerra situada atrás do trono.
— Alguém violou os alojamentos. — Ryder rosnou, e meu estômago
deu uma cambalhota. Parei de andar e olhei para ele, meu coração
preso na garganta enquanto eu rosnava também.
— Vá, descubra quem é e não lhes mostre piedade. Ninguém entra
em nossa casa e tenta prejudicar nossos filhos. Seus corpos podem
ficar pendurados na entrada do castelo como um aviso para quem
tentar prejudicar os bebês.
— Droga. — Ristan suspirou. — A megera sedenta de sangue
combina com você, Flor.
— Sei que você não vai se eu for, Ryder, vou esperar aqui com
Ristan. — Respondi com firmeza, vendo suas roupas desaparecerem e
a besta diante de mim em toda a sua glória alada. — Vá destruí-los.
Deixe o suficiente de seus corpos para servir de aviso a qualquer outro
que ouse mexer com nossos pequenos animais.
Fui seguida até a sala de guerra por Ristan, Olivia e alguns guardas.
Não me sentei como Ristan sugeriu. Ao invés disso, andei pela sala
inteira até perceber Ristan inclinando a cabeça para o lado, como se
estivesse ouvindo alguém falando com ele. Inclinei a minha, mas estava
em silêncio. As alas dentro da sala continuavam pulsando em alarme
silencioso, e meus poderes fracassaram em ouvir os homens quando
eles falavam em seus canais na cabeça um do outro, e ainda assim eu
tinha esperança de que eventualmente pudesse ouvi-los de novo.
— O que é? — Inclinei para mais perto, como se pudesse captar
magicamente o que estava sendo dito ao longo do caminho mental.
— Darynda está machucada, mas ela vai viver. Zahruk a levará para
Eliran, mas Ciara se foi. Eles não conseguem encontrar ela, e Darynda
diz que ela foi levada. Não podemos alcançá-la no elo mental, e Ryder
não pode sentir sua presença dentro do castelo. A pulseira que ele deu
a ela, com um feitiço de rastreamento, foi arrancada de seu pulso.
Também há sinais de luta e muito sangue.
— Por que alguém levaria Ciara? Achei que ela estava no pavilhão?
— Questionei.
— Ela queria ajudar com as novas alas e fazia parte do rodízio com
as criadas que fingiam estar no berçário, não tinha razão para não
permitir. Não com a quantidade de guardas que protegem os
alojamentos.
— Eles escaparam? — Gostaria de saber como isso era possível com
um exército inteiro na residência. — Como isso é possível?
— Não tenho certeza, mas Ryder e Zahruk estão indo procurar o
local com o resto da Guarda de Elite, com exceção de mim. Estou preso
como babá até... Ow. — Ele gemeu e levantei meus olhos para
encontrar Olivia sacudindo a mão depois de socar o ombro de Ristan,
lhe dando o olhar. Ele ergueu as mãos para ela inocentemente. — Ei,
estou aqui protegendo vocês duas até que eles voltem.
— Como alguém entra no castelo sem ser visto? — Ponderei. — A
menos que já estivessem lá dentro, só esperando sua chance de atacar.
— Murmurei. Mentalmente, comecei a passar por todos os cenários em
que conseguia pensar, sabendo que Ristan gritaria se algum fizesse
sentido.
— Eles poderiam estar lá dentro, isso é possível. Estávamos
permitindo que mais Fae de castas menores entrassem no castelo
desde que Ryder assumiu o trono, e Ciara teve permissão para sair do
pavilhão quase ao mesmo tempo. Ela é a única filha reconhecida de
Alazander, e uma vez que o resto das mulheres foi libertada do
Pavilhão, não tinha mais como manter ela lá, mesmo que ela fosse um
alvo para nossos inimigos. As notícias dos trigêmeos ainda não
chegaram às Terras Distantes, e temos muitos inimigos por lá.
— O povo das Terras Distantes saberia abrir portais? — Testei e
observei sua expressão enquanto ele a considerava.
— Tudo é possível, mas eles são principalmente agricultores e
pacíficos. É por isso que moram longe do castelo da Horda. Parece que
causamos caos, por mais que tentemos não fazer. Nos últimos
cinquenta anos, mais ou menos, teve relatos crescentes de nossos
inimigos se escondendo entre os agricultores pacíficos.
— Onde estão localizadas as Terras Distantes? — Fui até a cadeira
de Ryder e me sentei nela, pois sabia que ele sentiria que eu estava lá
e isso lhe daria minhas forças enquanto procurava por sua irmãzinha.
Ristan abriu um sorriso torto e balançou a cabeça.
— Longe. É por isso que se chama Terras Distantes.
— Espertinho. — Gemi enquanto esfregava minhas têmporas. —
Onde os dragões moravam?
— Mais perto daqui, em um castelo no extremo norte do lado das
terras da Horda. Eles eram da Horda, ou pelo menos eram até que o
pai os destruiu.
— Como saberíamos se alguém sobreviveu? — Deixei minhas mãos
caírem sobre a mesa enquanto passava o dedo sobre o brasão e o nome
de Ryder.
— Eles não conseguiram. Ele os caçou e os que fugiram foram
descobertos, e ele não parou até que todos os Dragões fossem
removidos deste mundo. — A voz de Ristan era suave e seus ombros
caíram quando se sentou e puxou Olivia para sentar em seu colo. —
Acho que foi quase seiscentos anos atrás quando aconteceu. O Lord
Dragão se recusou a enviar sua filha para ser uma das concubinas de
Alazander. Eles eram um povo orgulhoso e é claro, ouviram os rumores
dos horrores que o pai fez a suas esposas e concubinas. Fury não quis
enviar sua filha única ao rei da Horda. Em um esforço para esconder
ela, ele a enviou ao Rei da Luz, que prometeu proteger ela. Só que ele
não pretendia esconder ela, ao invés disso, ele a entregou a nosso pai
na frente do Lord Dragão, e Alazander a despedaçou quando sua
Guarda de Elite segurou Fury. Depois que ela morreu, Alazander
torturou Fury lentamente antes de matar. — Ele fechou os olhos e algo
que parecia arrependimento passou por suas feições enquanto
suspirava profundamente. — De vez em quando, enquanto o sono me
leva, posso ouvir os gritos dela se misturando com a ira do Lord Dragão,
enquanto ele lutava para escapar de nós e ainda posso ouvir os gritos
das crianças quando elas eram massacradas quando marchamos em
sua fortaleza. — Olivia estremeceu em seus braços quando ele abriu
seus estranhos olhos prateados e olhou para mim com tristeza. — Sem
o seu senhor, os dragões caíram com facilidade e, eventualmente, se
tornaram pouco mais que um mito da nossa história.
— Bem, então. — Fiz uma careta ao imaginar os horrores que eles
tinham feito em uma raça inteira. — Isso me diz que ele presumiu ter
destruído todos eles, mas ainda acho que devemos verificar o castelo.
Porque se não estiverem todos mortos, certamente têm um motivo para
querer nos matar, e não posso culpá-los.
— Nem eu, mas não é Alazander que eles querem agora. Ryder
liderou os ataques. Se não tivesse feito, Alazander teria tentado matar
ele ou, pelo menos, retaliado contra ele. Lembre que Ryder era o
herdeiro na época. — Ristan olhou para mim significativamente.
— Ryder matou? — Sussurrei e senti a cadeira aquecer embaixo de
mim. — Droga, isso explica por que ele disse que todos estavam mortos.
— Não tínhamos escolha naquela época, nem sabemos ao certo se
ele mataria Ryder ou Alazander o faria assistir enquanto matava
alguém que ele era próximo. Zahruk e eu tínhamos vários outros
irmãos naquela época, de quem gostávamos, Aodhan era só uma
criança então.
Mordi o lábio enquanto considerava Ryder naquela época, tendo que
seguir as ordens de um imbecil assassino. Era difícil entender como ele
se manteve honrado e não foi manchado pelo mal que era seu pai. As
pessoas ainda pensavam que ele era sujo, porque Alazander o forçou a
fazer coisas horríveis, e se não o fizesse, aqueles que amava teriam pago
o preço.
— Acho que devemos visitar o castelo, só para ter certeza. — Falei
com firmeza, observando Ristan se contorcer em sua cadeira. — Temos
que saber se alguém sobreviveu, e se sobreviveram, precisamos
explicar o lado de Ryder. Vamos esperar pelos homens, é claro, mas
que outra pista temos? Ciara está lá fora, e ela pode estar machucada,
já que tinha tanto sangue. — Exalei e me repreendi mentalmente por
pensar que já era tarde demais para salvar ela.
í
— De jeito nenhum. — Ryder rosnou, as mãos em punhos ao seu
lado enquanto rondava a sala. Continuou até eu ficar no seu caminho.
— Nós não podemos ficar sem fazer nada, Ryder! — Argumentei,
meus olhos se estreitando. — Não me olhe assim.
— Tenho batedores vasculhando os céus e procurando cada
centímetro da Terra dos Fae por ela. — Ele retrucou.
Abracei ele, segurando com força.
— Também tenho medo, mas Haggis disse que viu um dragão.
Outros shifters não podem assumir essa forma, e só algumas criaturas
podem manter ela por mais de alguns minutos. O que vai doer olhar e
ter certeza? Podemos alcançá-lo ao anoitecer, e se alguém a encontrar
antes, você vai saber, certo? — Perguntei.
— Destruí o castelo, Synthia. Não passa de uma casca queimada.
— Já vi pessoas sem-teto dormirem em caixas de papelão.
Seus lábios puxaram uma careta confusa enquanto ele pensava nas
minhas palavras.
— Por que alguém moraria em uma caixa?
— Porque não podiam pagar aluguel. — Encolhi os ombros,
realmente não querendo discutir os detalhes de como os humanos
acabaram sem teto. Ele continuou olhando. — Quando as pessoas não
têm condições de pagar por um lugar para dormir e os abrigos se
enchem, acabam do lado de fora. Às vezes as pessoas preferem estar
do lado de fora. Então dormem no que podem encontrar, escuta, não é
esse o ponto. Estou dizendo que, se alguém sobrevivesse, faria sentido
que voltasse para casa. É familiar, e não importa o quão ruim o lugar
esteja, ainda é a casa deles.
— Se você for, vai ver o que fiz com eles. — Sua voz era suave, quase
dolorida quando observou meu rosto atentamente. — Isso não é algo
que eu queria que você visse, nunca.
— Não. Verei o que seu pai imbecil forçou você a fazer com eles. Ser
coagido com a vida de outro na balança não é justo e te conheço, Ryder;
sei que você faria o que fosse necessário para proteger sua família.
— Se lembre disso. — Ele murmurou. — Tudo bem, nós vamos, mas
vai usar a armadura da Guarda de Elite e, vendo que está insistindo
nessa loucura, a Guarda completa vai junto, para te deixar a salvo.
— Tudo bem. — Concordei, vendo como ele franziu a testa. — Oh,
pelo amor de Deus, não vou discutir isso. Nós podemos precisar
enfrentar dragões!
— Quando voltarmos, precisamos discutir planos de casamento. —
Murmurou. — O momento é ruim e com Ciara desaparecida,
provavelmente devemos adiar, mas não posso. Quero me casar com
você e as pessoas precisam nos ver continuando, mesmo através do
caos. Eles precisam saber que ficaremos bem.
— Nós ficaremos bem, Fada. Mesmo se a Terra dos Fae estiver bem
aberta, ficaremos bem. Somos nós, passamos por muito agora para não
ficar bem.

Depois que enfeiticei a armadura da Guarda de Elite, Ryder deslizou


uma capa leve e quase transparente em volta dos meus ombros e a
prendeu na base da minha garganta. Era uma capa que podia
funcionar como camuflagem, assumindo as características do meu
entorno com um mero pensamento – e continha um feitiço para que os
membros da Guarda de Elite pudessem rastrear facilmente onde eu
estava. Ryder usava um semelhante e me disse que era uma maneira
de ficar escondido do inimigo enquanto era facilmente encontrado e
protegido pelos homens.
Deixamos o castelo da Horda pensando no inimigo desconhecido
que tinha se infiltrado. Darynda ainda estava se recuperando na
enfermaria com Eliran, e mesmo que ele não admitisse, posso dizer que
Zahruk estava preocupado com ela, o encontrei andando do lado de
fora do quarto dela. Ele saiu no momento em que o descobri, mas o
ponto parecia discutível, já que o homem era uma laje de concreto
quando se tratava de emoções, ou discuti-las.
Meus olhos vagaram para Ryder, que parecia tenso, e por uma boa
causa. O grupo inteiro parecia sombrio e tenso, acho que porque eles
ouviram falar dos horrores do que aconteceu aqui sob as ordens de
Alazander, ou foram participantes da carnificina que aconteceu neste
lugar. Ristan explicou um pouco mais sobre o que aconteceu no dia da
batalha, e isso revirou meu estômago. O café que bebi ficou sem graça
e sem gosto enquanto ouvi silenciosamente suas palavras. Mesmo
quando pensei que os dragões eram criaturas míticas, nunca pensei
que fossem fracos, mas logicamente um exército Fae contra um exército
Dragão defendendo sua casa deveria ter perdido. Eles perderam porque
aqueles shifters, que assumiram a forma de Dragão, não eram páreo
para o homem que atualmente estava escondido pelo magnífico
embrulho do macho Fae que cavalgava do meu outro lado.
Faz séculos que esses homens estiveram aqui, por isso pegamos
enormes cavalos de guerra e o de Ryder tinha olhos vermelhos. Zahruk,
Dristan e Aodhan estavam em forma de lobo, farejando à frente para
ter certeza de que não tinha inimigos esperando para nos atacar.
— Depois que subirmos a próxima colina, o castelo ficará visível. —
Ryder anunciou sombriamente.
— Está em uma localização estratégica. — Gostaria de saber como
alguém conseguiu chegar tão longe a pé.
Quando chegamos ao topo da colina seguinte, os restos
carbonizados de um castelo outrora orgulhoso estavam à frente no
horizonte, posicionado entre as duas luas de Terra dos Fae. Uma
estátua de um dragão no meio do voo estava abandonada no pátio,
coberta de musgo por séculos de negligência, mas a forma ainda era
visível.
A descida da colina foi tensa. Restos esqueléticos que pareciam de
dragões e de humanos estavam espalhados pelos campos onde o início
da batalha ocorreu. As espadas descansavam com os guerreiros que
outrora às usaram orgulhosamente, cobertos de escombros de uma
batalha que aconteceu há tanto tempo que quase foi esquecida. Eu não
esperava isso, ver os caídos que ainda estavam no campo de batalha,
nunca reivindicaram o enterro. Isso mostrava exatamente a crueldade
com a qual Ryder realizou o ataque sob as ordens de Alazander.
Ninguém foi deixado vivo para enterrar os mortos, ninguém sobreviveu.
A muralha do castelo também estava coberta de musgo espesso e
plantas que se arrastavam através das rachaduras para alcançar o
calor do sol. Flores vibrantes brotavam da vegetação ao longo dos
muros altos do castelo. Parecia ter sido arrancada das páginas do livro
dum historiador da Idade Média. Bonito, mas abandonado e esquecido.
O lugar estava assustadoramente silencioso. Tão silencioso quanto
os mortos que cobriram o chão e se tornaram parte da terra. Era verde,
como se o chão tentasse esconder com sinais de vida os horrores que
ocorreram. Nada se mexeu, e o som dos cascos dos cavalos era o único
barulho que se ouvia.
Desmontamos no pátio, cercados por muros que foram construídos
para manter os inimigos afastados. Mas eles não tiveram chance contra
Ryder, uma criatura que lutaria contra os monstros do inferno para
proteger seus irmãos. Sei que o rei da Horda só poderia ser morto pelo
herdeiro da Horda, mas e o herdeiro? Ryder poderia ter sido morto por
outro antes de se tornar rei? E se Ryder morresse em batalha contra
os dragões? Seu pai teria se importado? Provavelmente não. Alazander
provavelmente teria ido ao próximo filho ou herdeiro para conquistar
ou destruir qualquer um que lutasse contra ele.
Ainda não tínhamos quebrado o silêncio do pátio sinistro, e não
ousei emitir nenhum som enquanto seguia Ryder pelas escadas até o
castelo. Ele abriu as portas e seus ombros caíram como se sentisse
vergonha do que aconteceu aqui.
— Alazander não te deu escolha. — Murmurei, quebrando o silêncio
enquanto seus irmãos nos circulavam protetoramente.
— Eu era forte o suficiente para destronar ele. E escolhi não fazer.
— Respondeu Ryder, passando pela soleira e entrando no castelo.
Tinha ossos espalhados pelo chão de pedra. Alguns dos restos ainda
tinham armas enterradas em seus torsos, e outros pareciam ter
morrido segurando elas. Eram tão velhos que pareciam fazer parte do
chão em que morreram. Foi um massacre, e não importa o que eu
dissesse, Ryder carregava a pesada culpa nos ombros. Quando
chegamos ao salão principal me encolhi. Pequenos ossos cobriam o
chão, esmagando sob nossos pés. Você não poderia controlar. Havia
muitos para conseguir evitar.
— Os dragões cercaram seus filhos e os mataram aqui quando
invadimos o pátio. — Ele murmurou distraidamente. A mão alcançou
a minha e deslizei meus dedos nos dele enquanto continuamos mais
fundo no interior escuro. A luz entrava pelas cortinas em
decomposição, expondo o horror das paredes carbonizadas e dos restos
da sala ao lado.
— O que tinha aqui? — Me virei para ver melhor as silhuetas
carbonizadas no chão.
— Os jovens. Crianças, cerca de um quarto das crianças mortas
eram bebês. Eles os mataram com fogo de dragão pois acharam que a
morte pelo fogo era melhor, qualquer coisa teria sido melhor do que nos
permitir pegá-los.
— Isso não foi sua culpa. — Protestei suavemente, e estendi meus
braços com a destruição. — Foi por isso que você me levou às ruínas,
não foi? Você disse que aquele lugar era um lembrete do que poderia
acontecer se nos afastássemos dos projetos dela para este mundo. Você
também estava falando sobre o que aconteceu aqui. — Tomei uma
enorme quantidade de ar enquanto pedaços se encaixavam. — Deuses,
você me disse que quando herdou as marcas de Herdeiro foi quando os
Dragões se formaram. Isso foi séculos antes de você ser forçado a fazer
isso – você foi forçado a acabar com um povo com quem compartilhava
um parentesco. — Minhas palavras se tornaram mais suaves com a dor
em seus olhos. — O desenho na areia dos dois dragões maiores e dos
três dragões bebês... era você, tentando passar algo do que aconteceu
com eles para mim e nossos filhos. Era culpa – sua culpa, para ser
exata. Você não percebe que aqueles que são verdadeiros monstros –
como você pensa que é – não voltam aos santuários daqueles que eles
injustos? Os monstros não se importam com as mortes que deixam
para trás e, com certeza, não retornam para honrar eles muito depois
de mortos.
— Olhe as cinzas, Synthia, e me diga que um monstro não decidiu
o destino deles. Que um monstro não forçou a mão neles. — Ele exigiu.
Meus olhos observaram as cinzas que ainda permaneciam no chão.
Lutei contra a acidez na garganta e estremeci quando arranquei minha
mão de Ryder para cobrir a boca. Engoli em seco e balancei a cabeça.
Eles mataram seus próprios bebês para protegê-los.
— Eu te disse que sou um monstro. — Eu mal podia ouvir suas
palavras quando ele desviou o olhar.
— Você não teve escolha. Um monstro escolheu o destino deles, com
certeza, mas você não é esse monstro. Seu pai fez isso, e você foi a arma
escolhida. — Falei assim que consegui falar sem vomitar. — E não
estou culpando você, então pare de tentar fazer isso, Fada. No meu
mundo, em um lugar chamado Okinawa durante a Segunda Guerra
Mundial, algo muito semelhante aconteceu. A guerra é confusa e, em
todas as guerras, os inocentes sofrem mais. A culpa é da pessoa no
topo que deu a ordem para atacar, não dos soldados que foram forçados
a seguir as ordens.
— Eu me culpo. — Ele murmurou. — Eles com certeza me culpam.
— Eles estão mortos, os mortos não odeiam. Eles não culpam, são
indiferentes a isso. Tenho certeza de que eles fizeram a melhor escolha
possível e escolheram tirar seus filhos desta vida em seus próprios
termos. Quem sabe o que seu pai faria com eles ou exigiria que você
fizesse? — Perguntei. — Ninguém sabe, então talvez tenham razão em
fazer o que fizeram. Eles não viveram, mas pelo menos não sofreram.
— Eles os queimaram até a morte, Synthia. — Ristan murmurou de
onde ele estava do outro lado da sala.
— Sim, mas não é melhor do que ser machucado repetidamente ou
forçado a fazer coisas horrendas a pedido de algum lunático
enlouquecido com um chute poderoso que não vai deixar você morrer?
Sempre tem algo pior que pode acontecer. Sempre. — Rosnei. — Você
não sabe se ele não os teria mantido como animais de estimação, e sim,
eu sei que ele já tinha feito isso com seus prisioneiros antes. E sei o
que ele fez com meu irmão e o que Ryder foi forçado a fazer para
proteger você e os outros. Ryder não é nada como seu pai, ele nunca
será como ele.
— A sala ao lado é onde a maioria de suas fêmeas foram mortas. —
A voz de Ryder era oca, e estremeceu como se tivesse voltado quando
isso aconteceu. — Algumas morreram mais horrivelmente que outras.
Não queria ver o que foi feito com as mulheres. Os ossos dos
soldados revelaram como caíram, e posso imaginar as atrocidades
causadas às mulheres inocentes. Ossos poderiam contar a história,
uma que os vivos poderiam tentar juntar e entender, me senti horrível
pelas pessoas que viveram e morreram dessa maneira. Ryder foi um
peão, usado por um monstro que ameaçava suas fraquezas. E agora
não tinha mais poder do que os mortos, que estavam esquecidos há
muito tempo no chão coberto de musgo e poeira em que estávamos.
Ryder abriu a porta e partículas de poeira encheram o ar.
Prendemos a respiração, nos preparando para ver que horrores as
portas de madeira escondiam do mundo. Entrei na sala e parei. O
quarto estava limpo e velas acesas brilhavam com a corrente de ar
fresco, a cera derretida se acumulando na superfície recém polida de
um piano.
— Que merda de Goonies1. — Ristan sussurrou, sua mão deslizando
na minha.
— O que você está fazendo? — Sussurrei.
— Estou assustado. Me abrace, Flor. — Franziu o cenho para mim
enquanto seus lábios lutavam para não se transformar em um sorriso.
— Este quarto não era assim, durante ou após o cerco. — Ryder
rosnou, seus olhos procurando no quarto e se virou para mim.
— Isso não significa necessariamente que os dragões sobreviveram,
falei sobre os sem-teto, talvez alguém ou alguma outra coisa tenha se
mudado. Alguém poderia ter decidido que era um lugar seguro para
ficar. — Ofereci.
Ristan pegou um medalhão de uma mesa lateral recém polida e
segurou na luz das velas, tinha um dragão de duas cabeças moldado

1 É um filme americano de 1985 onde um grupo de crianças encontram um misterioso mapa do tesouro e começam a seguir as pistas,
entrando em um fabuloso mundo subterrâneo de passagens secretas, perigosas armadilhas e um antigo galeão pirata que esconde
moedas de ouro.
nele. Engoli em seco e de alguma forma consegui segurar o gemido que
tentou borbulhar.
— Eles poderiam ter pensado que seria legal. — Ofereci. Eu era a
mestre do Poderia Ter. — Não tem provas, lembra o que você me disse?
Isso é a Terra dos Fae, tudo pode acontecer. Nunca acredite até que
você realmente veja. Haggis provavelmente não viu um dragão, ele
correu covarde para salvar sua própria bunda. Se fosse minha esposa,
eu teria corrido atrás deles e não teria parado de segui-los até saber
com certeza o que tinha levado ela.
— Bizarro, Flor. — Ristan refletiu com um sorriso diabólico.
— Não enche, Demônio. — Avisei quando comecei a examinar as
paredes para descobrir como alguém poderia ter saído, além da porta
pela qual passamos. — Tem outra maneira de entrar nesta sala.
Alguém esteve aqui recentemente, e ninguém poderia ter passado por
aquela porta sem ser visto. — Expliquei quando os homens me olharam
interrogativamente. — Ninguém apareceu no nosso caminho, nada foi
perturbado até que nós o perturbássemos. Eles precisam ter outro
caminho para esta sala.
— Ela tem razão. — Concordou Aodhan. — Alguém realmente gosta
de armas e táticas de batalha dos Altos Fae. — Pensou, pegando livros
pesados que estavam empilhados no chão ao lado de um colchão sujo.
— Alguém pode estar pesquisando como tentar destruir Alto Fae por
vingança. — disse Ryder, olhando para mim. — Precisamos te levar de
volta ao castelo.
— Não vou a lugar nenhum. — Rosnei. — Escute, entendi que você
tem um passado sombrio, sei no que estou me inscrevendo, não sou
uma garota idiota que precisa ser protegida, Fada. O que quer que foda
com você vai precisar de proteção de mim, porque a Deusa seja avisada,
vou foder tudo e qualquer pessoa que procure prejudicar meu futuro
marido. Compreendeu?
— Onde me inscrevo para uma como ela? — Aodhan piscou.
Comecei a procurar uma passagem secreta quando um barulho
soou através da sala. Toda a Guarda de Elite, que nos seguiu, entrou
em ação. Fui empurrada para trás, meu corpo abraçado contra as
costas do corpo duro de Ryder. Sua arma foi sacada e esperamos para
ver quem entrou.
Ruídos de clique continuaram, e então o som de pedra deslizando
contra pedra ecoou pela sala. Ninguém respirou ou fez barulho até que
o ar fresco encheu a sala. Ryder relaxou e espiei pelas costas largas
para encontrar um Zahruk sem camisa nos olhando de uma porta
escondida.
— Segui um aroma fresco da floresta até um túnel nas margens.
Tem uma caverna embaixo do castelo que leva às masmorras deste
lugar. — Anunciou enquanto todos devolveram suas armas às bainhas.
— Provavelmente uma rota de fuga, caso o castelo fosse sitiado. — Ele
meditou. — Pena que eles não usaram quando chegamos. — Seus olhos
prenderam os de Ryder em solidariedade.
— Eles não podiam usar, nós os ladeamos e enviamos soldados para
a praia, caso eles tentassem, tudo foi revistado, para ter certeza de que
ninguém sobrevivesse. — Explicou Ryder.
— Alguém mais esteve aqui, ou alguém sobreviveu e está planejando
vingança. — Zahruk rosnou, ignorando o tom de culpa no tom de
Ryder. Eles estavam conectados de maneiras que eu nunca seria capaz
de entender, mas sei o suficiente para saber que, se Ryder sentisse
alguma coisa, seus irmãos sabiam exatamente o que era. — Tem algo
que você precisa ver.
Nós o seguimos por um caminho sinuoso, que levava a uma sala
nas entranhas do castelo. Lâminas de espada refletiam a luz das velas,
peguei uma e estava clara, apesar da lâmina ser forjada em ferro.
— Dragões eram Fae, certo? — Questionei.
— Sim. — Concordou Aodhan.
— Por que Fae faria lâminas de ferro?
— Eles não iriam, mas, Magos ou nossos outros inimigos poderiam.
— Ryder rosnou.
— Acho que acabamos de encontrar o estoque de armas para guerra
que se aproxima. — Sorri severamente. — Vamos destruí-las, não é?
— Não, substitua por um metal de peso semelhante. — Ryder
ordenou. — Deixe que eles venham até nós com armas que não vão nos
prejudicar tanto quanto o ferro. Deixe eles pensar que estão seguros
aqui. Pelo menos podemos monitorá-los agora que estamos cientes
disso. Vamos descobrir para onde esse túnel leva e partir daí.
Os dias se passaram e a cada momento eu sentia falta cada vez mais
dos meus filhos, mas não podia colocá-los em perigo, e com a guerra
se aproximando, não ousei me esgueirar para ver eles. Eu temia pelos
Fae e pelos humanos que se tornariam suas vítimas.
Vlad nos trouxe notícias de assassinatos humanos que ele e Adrian
investigaram e acreditavam terem sido mortos por Faes. Os casos de
humanos se tornando FIZ aumentaram a taxas alarmantes. Da mesma
forma, os clubes estavam lotados de Fae que saíram da Terra dos Fae
para um novo mundo, onde teriam comida e entretenimento ilimitados.
Tudo ficou fora de controle rapidamente, e por isso fiquei com
metade da Guarda de Elite na frente da Aliança de Spokane. Enviei
uma mensagem para Lucian através de Vlad, cancelando a reunião que
solicitei com Alden. Eu não queria ele aqui, exposto pois podia sentir
os olhos dos Executores em nós, e sabia que não nos atacariam aqui e
agora, mas não queria Alden jogado no meio disso, ele não precisava.
— Quantos? — Perguntei, sem me preocupar em virar a cabeça
quando Adrian retornou.
— Cinco ou mais, mas não parecem se mover. — Adrian confirmou
enquanto voltava para o meu lado. — Ninguém me é familiar. Não que
eu estivesse por perto quando o último grupo de Executores se formou
como membro desta Aliança. Estou a mais tempo do que você.
— Eles não vão fazer um movimento contra nós, não aqui. Eles
seriam expostos, e nós temos a vantagem. Também tem muitas
incógnitas. No momento, a única coisa de que têm certeza é que
podemos matar eles. Nós os superamos em número. Também
mantemos o coringa no poder e eles podem sentir isso. Tomei o cuidado
de tocar na Linha Ley para que isso chegasse perto o suficiente para
atrapalhar. Isso lhes dará uma pausa com a quantidade de energia que
eu costumava fazer.
— Enviando uma mensagem? — Perguntou, seus olhos turquesas
me olhando com de soslaio.
— Cresça ou vá para casa, certo? Estamos nos mudando e eles
precisam saber que não permitiremos que interfiram. Eles podem optar
por sair do nosso caminho ou serão jogados no chão. Isso funciona
para mim. — Pisquei, assustada quando Ryder se materializou na
minha frente. — Ainda protegida?
— É estável, mas uma bagunça do caralho. Lucian não foi o único
a tentar entrar. Pelo jeito, eu diria que tivemos algumas partes
interessadas tentando passar pelas alas. — Ele respondeu, seus olhos
passando por mim, por cima do meu ombro para onde os Executores
da Aliança provavelmente se esconderam.
— Ignore, eles são só macaquinhos curiosos, e vieram ver o que
estamos fazendo. — Sorri.
— São desconhecidos, e não gosto de desconhecido ou surpresas.
— Ele rosnou quando se aproximou, seus olhos se movendo de mim
para Adrian e voltando com irritação.
— Seja legal, Fada, estamos no território deles. Não pode ser fácil
nos ver pegá-lo bem embaixo do nariz deles.
— Eles estão vindo. — Ele avisou, e me virei, olhando por cima do
ombro.
— Certo como a merda, eles têm bolas. Estou impressionada. — Eu
lhes dei um sorriso atrevido, esperando que eles se comportassem, já
que Ryder poderia limpá-los da existência com um único pensamento.
Eu me virei, cruzei os braços e esperei.
— Você precisa sair daqui, os Fae não têm o direito de estar dentro
da nossa Aliança. — Gritou o líder, embora eu estivesse perto o
suficiente para ouvir muito bem. Ele era uma coisinha de trinta e
poucos anos, loiro e de olhos azuis, mas com poder suficiente para
causar danos, só não para nós.
— Não? — Rebati.
— Não, agora de a volta e saia do nosso mundo. — Ele zombou.
Me movi sem hesitar, agarrando seu braço e dobrando atrás das
costas, e forcei sua cabeça para o lado enquanto segurei uma faca na
garganta com a outra mão. Então, olhei para os outros com um sorriso
determinado.
— Não reconheço nenhum de vocês, então vocês não são desta
Aliança e não tem direito aqui. Sou Synthia, nascida dos Fae, mas
criada nesta Aliança. Posso não ter um direito de acordo com as leis da
Aliança, mas esta Aliança? Esta é minha. Se pensar em tirar isso de
mim, é melhor trazer mais do que esse pequeno grupo de Executores,
porque tenho a Horda e os Fae em sua totalidade em pé comigo. —
Olhei para cada um dos Executores assustados significativamente. —
Estamos juntos, e enquanto não queremos guerra, vou lutar para
manter esta Aliança. Pessoalmente, vou derrubar todas as fodidas
Alianças deste mundo para manter essa segura, então espero que,
quando você voltar aos seus Anciões, faça com que saibam que somos
da Terra dos Fae. Não queremos guerra, mas se tentar nos impedir,
vamos travar uma – e não se engane, vamos vencer. Estamos aqui para
derrubar os Fae que se alimentam dos humanos contra sua vontade e
em seu prejuízo. Mas, não vamos permitir mais que você os mate
publicamente nas escadas de suas Alianças para gerar hostilidade e
ódio entre a Aliança ou com os humanos. Depois do que a Aliança de
Seattle puxou, você tem sorte de não termos exigido sangue. Você
recebe um passe hoje, mas não terá um segundo. A Aliança tem uma
infestação que precisa ser erradicada. Quaisquer tentativas de
interferir aqui serão consideradas um ato de guerra e não hesitaremos
em retaliar. Agora vá embora, e se eu fosse você, começaria a correr. —
Rosnei enquanto empurrava o Executor para longe de mim e o
observava girar em minha direção. E não vacilei.
— Você não vai se safar disso. — Ele zombou, e sorri friamente.
Deixei meu poder envolver ele, sentindo o momento em que os Fae
atrás de mim seguiram minha liderança. O ar estalou ao nosso redor
até Ryder soltar o dele e as luzes ao nosso redor quebraram. As
lâmpadas da rua se apagaram, os alarmes dos carros dispararam e o
ar ao nosso redor estava denso com o rico aroma de ozônio. Eu senti
falta do seu poder único, a merda era viciante. Ele deslizou ao meu
redor, os pelos dos meus braços subiram em consciência da
eletricidade bruta que chiava dele. Empurrei mais, vendo se eu podia
combinar com o dele, e as janelas dos carros e edifícios ao nosso redor
explodiram para o exterior e choveram sobre todos em uma exibição
prismática e reluzente.
— Demais? — Perguntei a Ryder, fingindo inocência e ignorando os
rostos brancos dos Executores da Aliança.
— Sim, só um pouquinho, reduza um pouco e tente de novo. —
Adrian falou, os olhos sorrindo enquanto se virava para mim e piscava.
— Temos que pagar pelas janelas dos carros? — Estremeci.
— Podemos deixar notas. — Ele ofereceu.
— Sim, vamos dizer às pessoas para cobrar à Aliança, você sabe, a
Aliança deles, não a nossa. Eu odiaria começar com dívidas e eles meio
que nos devem.
— Que porra é você? — O Executor exigiu, o que me forçou a parar
de brincar com Adrian.
— Algo que você não poderia imaginar em seus piores pesadelos. —
Rosnei. Adrian riu. — Exagerei de novo? Porra, eu sempre quis dizer
isso. Ok, então sou idiota, mas posso viver com isso. Sério, porém,
somos a Horda. Os sussurrados nas lições de história da Aliança.
Aqueles sobre os quais você não sabe nada por que se acreditou que o
rei estivesse em uma jornada? Bem, encontrei ele, que vai me ajudar a
administrar esta Aliança, então, quando você disser à Aliança que
recebeu seu grito de Synthia McKenna, diga a eles que eu trouxe
amigos para restaurar essa Aliança que estamos reivindicando a Terra
dos Fae. Agora corra.
Assisti enquanto eles pararam, nos observando enquanto
consideravam qual era a melhor opção. Bati meu pé, me perguntando
onde diabos eles encontraram esse grupo.
— Adrian, quantos deles precisamos deixar viver para entregar uma
mensagem à Aliança?
— Um. — Ele sorriu friamente, e nós assistimos quando eles se
viraram e dobraram o rabo enquanto corriam por suas vidas.
— Eles vão voltar em breve, Animalzinho. — Ryder assentiu após os
Executores fugirem.
— Estou contando com isso. — Sorri e depois fiz uma careta quando
olhei para a Aliança silenciosa. — Agora, vamos verificar os danos.
— Encrenqueira. — Ryder sorriu. Sua cabeça inclinou e seus olhos
se estreitaram enquanto eu o observava. Quando ele endireitou a
cabeça, parecia rasgado.
— O que é? — Perguntei.
— Nós temos uma pista sobre Ciara. — Ele respondeu suavemente,
seus olhos procurando os meus enquanto franziu a testa.
— Vai. — Falei enquanto fiquei na ponta dos pés para beijar seus
lábios. — Vá encontrar ela. Traga ela para casa para sua família. Ficarei
e cuidarei disso.
— Não vou te deixar. — Ele argumentou.
— Não estou sozinha, Fada, tenho Adam, Adrian e Vlad comigo.
Ficarei perfeitamente bem. Você leva Ristan e Zahruk com você. —
Respondi confiante. — Seus homens já se certificaram de que é seguro
para mim e estão vasculhando cada centímetro das catacumbas em
busca de ameaças. Eu posso fazer isso e você encontra sua irmã. —
Ronronei enquanto estava na ponta dos pés para beijar ele de novo. —
Ninguém disse que seria fácil, mas, de novo, nada que vale a pena é.
Dois mundos precisam de nós. — Sorri enquanto colocava minhas
mãos em seu peito. — Seu e meu, lembra? Não podemos ficar trancados
no quadril a todo momento do dia. E posso lidar com a reconstrução
enquanto você procura por Ciara.
— É melhor você se transportar se tiver algum sinal de problema,
mulher. — Ele rosnou enquanto colocava um beijo suave na minha
testa. — Quero você em casa esta noite, não temos bebês em nossa
cama, e pretendo violar você.
— Me violar? Isso quase soa como uma ameaça? — Provoquei.
— Jesus. — Adam resmungou em falso desgosto, os olhos sorrindo
para mim.
— Vlad. — Ryder deu ao homem em questão um olhar aguçado. —
Ela não sai do seu lado. — Ele avisou quando seus dedos suavemente
entrelaçaram os meus enquanto levava meus dedos aos lábios. — Sob
nenhuma circunstância ela deixa sua vista.
— Não preciso de uma babá. — Murmurei enquanto afastava minha
mão e as colocava em meus quadris. — Sou uma mulher adulta.
— Acabei de te recuperar, bruxa. Não vou me arriscar com você. —
Riu enquanto piscava e se mexia antes que eu pudesse discutir mais.
í
O interior da Aliança parecia estar na mesma condição em que
estava da última vez que estivemos aqui limpando. Pilhas de detritos
ainda cobriam o chão e uma fina camada de poeira cobria tudo. Isso
apertou meu estômago e puxou minhas cordas do coração ao ver com
tanta desordem. O que antes foi uma fortaleza e um santuário
orgulhoso e forte para desajustados e órfãos, se tornou nada mais que
uma triste pilha de escombros. Passei a maior parte da minha vida aqui
dentro dessas paredes, pensando que fazia parte de alguma coisa. Esta
Aliança era uma parte de mim, e ver ela assim partia meu coração.
— Difícil ver ela assim. — A voz de Adam era suave quando olhou
em volta para os escombros. Seus grossos cabelos pretos estavam
grudados na testa da fonte quente incomum de Spokane. Olhos
tricolores em tons de verde esmeralda e limão me olharam com uma
perda compartilhada. Pouco importava o que tínhamos nos tornado,
esse lugar fazia parte de nós e sempre seria. — Não sei por que você
quer se preocupar com isso.
— Este era o nosso lar, Adam. Não podemos deixar assim. —
Murmurei. Andando por ela agora, vi o que ele viu. Levaria muito tempo
para colocar este lugar em funcionamento, mas agora mais do que
nunca, era necessário. — Vlad relatou que a Aliança de Seattle recusou
dois órfãos na semana passada. Temo que seja por nossa causa, porque
éramos órfãos que se tornaram Fae ao invés de bruxas. É nossa culpa
que estejam sendo rejeitados. Os dois órfãos estão em lares adotivos
humanos por enquanto, e você sabe que isso não vai funcionar bem,
então quero esse lugar em funcionamento, pelo menos o suficiente para
que possamos levar tão logo possível os que a Aliança rejeitar. Este
mundo também está prestes a ser invadido. Com os portais se abrindo
aleatoriamente e aumentando, alguém tem que ficar entre humanos e
Fae. Podemos salvar as pessoas de novo. — Sussurrei emocionada. —
Você não sente falta? — Eu sim. Senti falta da emoção que da caçada,
das missões para salvar os inocentes.
— Eu sinto falta. — Ele concordou com um firme aceno de cabeça.
— E tenho outras coisas, Syn. Nunca, nas minhas mais loucas
imaginações pensei que teria os tipos de responsabilidades que tenho
agora. Tenho deveres com toda uma raça de pessoas. Ah, e sem
mencionar, ainda tenho que encontrar a Herdeira da Luz.
— E o que você planeja fazer depois que encontrar ela? — Agora que
estava falando nisso, fiquei curiosa para saber seus sentimentos sobre
esse assunto.
— Foder ela. — Ele resmungou desanimado. — E colocar um
herdeiro na barriga dela.
— Volte um pouco! — Tossi para esconder o choque que senti por
suas palavras cansadas.
— Você me ouviu. — Ele murmurou baixinho.
— Isso é tudo o que ela será? Um útero para abrigar o filho da
profecia? — Voltei, observando atentamente.
— Isso é tudo que ela sempre será para mim, sim. Farei o que for
necessário para garantir um herdeiro, mas não espere que eu a ame.
Já tive o amor da minha vida e a perdi. — Ele retrucou, seus olhos
brilhando em um verde luminescente enquanto me olhava em desafio
aberto. Ele queria que eu discutisse, mas não porque ele estava louco,
ele ainda estava sofrendo.
Este não é o Adam que conheço tão bem. Aquele Adam era
despreocupado, sempre sorrindo e brincando, aquele homem era
minha família, ou foi até meu corpo morrer e eu voltar como uma
Deusa. O Adam após a morte da Larissa, após a transição, depois que
perdeu tudo o que ele conhecia e entendia, era alguém que me fazia
sentir constantemente que eu precisava pisar em ovos quando estava
perto dele.
Um pensamento perturbador passou pela minha mente. Foi por isso
que Adam foi tão complacente em se casar comigo quando pensou que
eu era a Herdeira da Luz, por que era uma maneira dele conseguir
cumprir o que era esperado dele? Era uma maneira dele cumprir seus
deveres sem ser forçado a tentar amar alguém e sentir que estava
traindo Larissa. Naquela época, estávamos à vontade um com o outro,
mas não tinha esse tipo de amor de esmagar a alma entre nós dois, e
ele sabia que eu não esperava isso dele.
— Nós dois perdemos ela, Adam. Nós dois amamos ela. — Sussurrei
enquanto inclinava a cabeça e franzi a testa enquanto observava a
garganta dele com emoção. — Está tudo bem amar de novo, sabe que
ela quer que faça. Larissa nunca foi egoísta, nem gostaria que você
vivesse sem amor. Ela esperava que a deixássemos ir, até nos pediu
para deixar ela ir, e ainda não fizemos.
— Não posso, fim da discussão.
Assisti enquanto ele andava na minha frente, as mãos fechadas com
força. Ele estava de luto, mas ao invés de chegar aos estágios finais,
ficou preso na raiva. Keir nos informou que Adam estava se
alimentando com voracidade, sem importar com quem se alimentava.
Os Fae que preferiam se alimentar da dor tendiam a gravitar em direção
a Adam, alguns começaram a seguir ele, o que dizia muito sobre a
quantidade de dor que ele sentia. Eu queria agarrar e sacudir Adam,
mas a dor era complicada. Todos a processam de maneira diferente.
— Ele está sofrendo. — Vlad murmurou ao meu lado, meu guarda-
costas silencioso.
— Eu sei, mas eventualmente ele precisa deixar ela ir. — Me virei
para olhar para Vlad, observando com que cuidado ele estava me
observando, então mudei rapidamente de assunto. — O construtor está
aqui?
— Você tem que deixar ela ir também. — Ele disse suavemente, se
recusando a me deixar fora do gancho. — O construtor está aqui e,
embora você não fique feliz a princípio, ficará com o que ele pode criar.
Olhei para Vlad e fiz uma careta para o seu significado enigmático
à medida que avançamos mais fundo nos escombros da Aliança. Ele
acenou com a cabeça para escada quebrada que levava à área da
biblioteca da Aliança, e reprimi um gemido quando a comitiva se moveu
lentamente em direção a ela. Uma vez lá, Vlad nos transportou sem
esperar para ver se eu faria isso sozinha. Sempre cavalheiro, ele nos
limpou dos destroços e soltou minha mão enquanto passávamos pelas
alas que os Fae colocaram na última vez que estivemos aqui.
— Posso ouvir seu coração batendo, Syn. — Vlad destacou com um
sorriso.
— Nosferatu2. — Assobiei com um sorriso sedutor nos lábios.
— De fato, menina bonita. — Ele sorriu enquanto estendia o cotovelo
num convite silencioso, aceitei, deslizando o braço pelo dele enquanto
ele evitava detritos espalhados pelo chão. Os Fae fizeram sua parte,
fortalecendo os tetos da última vez que estivemos aqui. Certificamos de
que era seguro o suficiente para entrarmos sem medo de cair em nossas
cabeças.
Eu estava perdida em pensamentos sobre o que teríamos que
enfrentar ao reconstruí-lo quando dobramos a última esquina e a
monstruosidade apareceu. Endureci ao lado de Vlad, meu estômago
tremeu quando náusea e ódio reviraram na minha barriga.
Adrian e Adam ficaram tensos ao meu lado e cada um pegou suas
armas e só hesitaram porque Vlad acenou com a mão em saudação ao

2 É um sinônimo de vampiro, mas também um filme inspirado na história do vampiro Drácula. Considerado ilegal até hoje, porque não
teve a autorização oficial para produzir a obra e o nome inclusive foi para disfarçar a inspiração, mas não escaparam de um processo.
monstro, que nos observava com cautela gravada em seus traços
grotescos.
— Está tudo bem. — Vlad nos garantiu. — Ele está do nosso lado.
Por enquanto.
A monstruosidade desviou o olhar de Vlad para mim. Tinha a pele
acinzentada que se agarrava frouxamente aos ossos, e mechas de
cabelo oleoso estavam grudadas no crânio enquanto algumas áreas da
cabeça não tinham pelos. Ele sorriu, revelando fileiras de dentes
afiados que eram marrons e amarelos, alguns ainda tinham pedaços
de um assassinato recente preso neles. Olhos vazios me observavam
divertidos enquanto eu engolia furiosamente para impedir que meu
almoço voltasse.
Adam e Adrian olharam para mim em busca de orientação,
enquanto nos aproximamos lenta e cuidadosamente. Seus instintos
espelhavam os meus, e Adam diminuiu a distância entre nós até que
sua mão estava a um fio de cabelo da minha, sempre vigilante e
protetor, como fazíamos antes de nos tornarmos Fae. Passamos anos
caçando monstros como este. Matamos muitos deles ao longo dos anos,
livrando os humanos da ameaça que essas criaturas representavam
para eles.
— Jesus. — Adam rosnou quando a outra mão tocou sua espada,
outros palavrões coloridos pareciam fluir livremente de seus lábios. A
sala inteira estava tensa com a silenciosa necessidade de matar o
monstro à espreita ao nosso alcance. Vlad rolou o pescoço e me
observou com inquietação. Ele sabia que nada estava bem dentro desta
sala e a tensão saindo de nós era espessa o suficiente para cortar com
uma faca.
Adam estava comigo quando reduzi o primeiro desses idiotas. Na
Terra dos Fae, essas coisas eram chamadas de Fiacla an éadóchais,
mas tínhamos nosso próprio nome na Aliança. Nós os chamamos de
Cadáveres Apodrecidos porque, para um humano, cheirava a chuva e
rosas para disfarçar o cheiro de carne podre e, a menos que se
alimentasse de carne com frequência, murchava até que sua própria
morte aparecesse. Os dentes que ele lambeu enquanto nos observava
podiam rasgar a carne dos ossos com precisão quase cirúrgica,
enquanto entorpeciam sua vítima da dor. Para um humano, eles viam
uma bela criatura e não sentiam nada além do intenso prazer que era
libertado das milhares de folhas de agulhas em seus dedos enquanto
sua carne e músculo eram arrancados. Essa era uma tática usada por
essas criaturas para que não atraíssem atenção indesejada enquanto
estavam se alimentando. A maioria dos que encontramos, no entanto,
apreciava o som de suas vítimas gritando e se alimentavam do terror
que rolava delas quando percebiam seu destino. A última vez que
matamos um, foi quando atacava uma criança que não poderia ter mais
de cinco anos. Essa foi uma das muitas razões pelas quais estávamos
ansiosos para deixar isso de lado e manter mais algumas pessoas em
segurança.
— Esse é Foul, ele é o construtor. — Vlad apresentou com um tom
firme em sua voz. Seus olhos passaram dos meus para os da criatura.
— Foul3, de fato. — Rosnei enquanto lutava contra o desejo de pular
sobre a mesa que estava entre nós e matar o monstro. Essas coisas não
pertencem a lugar algum do mundo.
— Ele pode construir o que precisamos em dias, ao invés de anos,
Synthia. Ele pode ter a Aliança em funcionamento esta semana, se lhe
pedirmos. — Explicou Vlad. — Foul está em uma trela muito curta do
Rei da Horda, um passo em falso e Ryder acaba com ele.
— Ela é linda, preciso provar. — Zombou quando começou a se
mover pela mesa, parando só quando todos pegaram as armas. Eu me

3 Aqui ela faz um trocadilho a “tradução” do nome dele, que pode ser: desagradável, imundo, entre outros.
encolhi quando seu corpo nu e flácido ficou à vista. Seu pênis pendia
frouxamente entre as pernas com carne solta caída de seus ossos.
— Foul, se você quiser continuar respirando, sugiro que não toque
na noiva do rei da Horda. Agora, coloque algo apropriado antes que eu
remova esse pênis inútil do seu corpo. — Vlad advertiu em um assobio
entrelaçado com a promessa de morte.
— Pena, essa carne lisa teria o sabor do céu. — Lamentou Foul com
um suspiro estridente. — Eu mudo o acordo, quero ela. — Ele assentiu,
fazendo a carne tremer antes de voltar ao corpo e mais uma vez se
agarrar frouxamente aos ossos. Ficou bem acima de dois metros, se
elevando sobre nós enquanto me observava com grande interesse. Não
me mexi ou me atrevi a mostrar um pingo de fraqueza, porque essa
coisa pode explodir com a velocidade da luz e não tenho dúvidas de que
isso chegaria a mim vivo. Mas estou de pé com assassinos treinados.
Ele não chegaria a um centímetro de mim antes que o despachassem
para o inferno.
— Foul, posso encontrar outro construtor que reconstruirá este
lugar, e não causará tantos problemas. — Vlad avisou, seus olhos
afiados de raiva enquanto observava cada movimento de Foul.
— Eu aceito. — Assobiou. — Tenho Layla. — Ele cantou e sorriu,
revelando mais fileiras de dentes serrilhados.
— Layla? — Questionei, olhando para Vlad. De jeito nenhum
negociaria com essa criatura a vida de outra pessoa.
— Layla tem dezessete anos e está morrendo de uma doença rara
do sangue que não pode ser curada. É incrivelmente doloroso para ela,
e essa é uma maneira dela ter pelo menos uma morte relativamente
indolor. — Explicou Vlad. — Ela quer deixar este mundo em seus
termos, e intermediei o acordo para a nova Aliança.
— Ela quer o que ele pode fazer? — Engoli o desejo de vomitar.
Algumas pessoas não podiam ser salvas de seus próprios desejos ou
estupidez. Foi uma lição que aprendi há muito tempo.
— Ela está morrendo e se aproximou de nós, querendo ser tomada
pelos Fae. — Disse Vlad enquanto me observava. — Os Fae não podem
corrigir o que tem de errado com ela e ela poderia ir para a Terra dos
Fae, mas ainda estaria em agonia e eventualmente morreria. Tentamos
mudá-la, mas ela quase matou o vampiro que escolheu gerá-la, o
sangue dela é mortal. Foul anseia pelo sabor da carne humana e
conhece o risco que o sangue dela representa para nós e
potencialmente representa para ele. Ele também sabe o que a Aliança
fará com ele se o pegar no ato de desfrutar de outro Pacote de Lanche
da variedade humana, e ele está disposto a correr o risco. Synthia,
acredite ou não, essa foi a opção mais agradável que tivemos para
colocar essa Aliança em funcionamento no menor tempo possível.
Meus olhos se moveram para Adrian, que assentiu, mas não foi o
que Vlad assumiu. Ele provavelmente imaginou que eu estava
verificando meus fatos com Adrian, mas na realidade, só estava
avisando Adrian que pretendia matar esse monstro no momento em
que a Aliança estivesse pronta. Não tinha como eu correr o risco de o
sangue da garota não fazer a ação por mim, nem deixaria Foul ter ela.
Se a morte é o que ela queria, pediria a Eliran para encontrar uma
maneira mais humana de ajudá-la a alcançar seu fim. Encontrei os
olhos de Adam brevemente, sentindo que seus próprios pensamentos
espelhavam os meus enquanto o perfume de rosas se apoderava da
sala. Quando meus olhos voltaram para a Fiacla an éadóchais, quis
vomitar.
— Foul, guarde seu pau e se comporte se quiser viver. — Adrian
assobiou, o aviso em seu tom absoluto quando ele puxou uma adaga e
a colocou sobre a mesa. — Não vai receber nenhum outro aviso.
Algo desagradável escorria dos lábios da criatura quando ele sorriu
para Adrian e depois enfeitiçou roupas. Assim que terminou, a sala
voltou a cheirar a mofo e bolor, o que era acolhedor, considerando a
alternativa.
Coloquei as mãos na mesa e nivelei o monstro com um olhar
arrepiante. Meu poder cobriu a sala, fazendo com que seus cabelos
finos se arrepiassem com a eletricidade estática que pulsava do meu
lado da mesa. Fui ladeada por Adam e Vlad, ambos em silêncio
enquanto dei uma demonstração de poder para deter as palhaçadas
rudes do monstro.
— Mostre os planos ou não terei uso para você. — Falei suavemente,
sem um pingo do ódio que estava sentindo no meu tom. E o observei
me olhando com aqueles olhos mortos enquanto meu poder encheu o
ar até que a sala foi eletrificada com ele.
— Não é divertida, essa aqui. — Zombou enquanto empurrava os
papéis para o lado e separava os dedos enquanto uma réplica em 3D
azul neon de um edifício tomava forma entre os dedos. A réplica cresceu
quando Foul abriu bem os braços, como se estivesse esticando um
caramelo. — É estrategicamente construído como o rei pediu que fosse.
— Ele assobiou. — As linhas aqui, tem magia o suficiente para
alimentar os feitiços que vão proteger as paredes e as portas. — A
Aliança 3D pulsava com magia que aparecia como raios verdes neon.
Cada saída continha uma barreira contra feitiços, ou assim assumi.
Quanto mais eu olhava para ele, mais via que as plantas da antiga
Aliança foram usadas, mas refeitas para serem mais funcionais. — As
portas vão alertar os que estão lá dentro para as hostilidades daqueles
que entram. As alas acima vão mudar para cores diferentes, baseadas
na intenção daqueles que entrarem. Ao invés de só ter os guardas na
entrada principal, colocaremos uma parede aqui. — Apontou uma
parede divisória. — A última teve vulnerabilidades lá. Agora não. O
prédio também estará protegido contra-ataques de barreiras de magias.
— Foul juntou os dedos e os ampliou, dando uma visão de todo o
edifício em 3D, para mostrar o plano de cada andar com muito mais
detalhes. — Nesta parte da construção, as pessoas serão capazes de
monitorar o que é cada criatura que entra. — Foul apontou alguns
quartos que estavam fechados. — Cada parede se abre nos andares
abaixo para a saída, caso as alas falhem. O rei disse que a segurança
é a maior preocupação para proteger aqueles que a administram, assim
como estudantes e aqueles que residem dentro dela.
— E a magia, como será entregue diretamente às alas? — Questionei
e vi quando ele moveu os dedos em um arco para revelar uma linha de
cor púrpura que fluía das catacumbas abaixo de nós. — As alas que
seriam necessárias para filtrar ou impedir aqueles que não deveriam
ter acesso à Aliança são geralmente colocadas por um mestre de feitiços
forte, mas podem falhar a menos que haja uma fonte confiável de poder.
— O poder bruto está abaixo. — Afirmou ele, me observando
atentamente. — Edifício será construído nas Linhas Ley. A Linha Ley
tem poder suficiente para administrar toda a cidade, se necessário.
Engoli em seco enquanto observava a Fiacla an éadóchais. Sabia
que o edifício foi construído nas Linhas Ley, o que significava que Foul
podia sentir o poder que pulsava através das paredes enquanto fluía
pelas ruínas da Aliança. Poucas criaturas conseguiram sentir as
linhas, o que me disse que essa poderia extrair poder delas. As
criaturas que podiam tocar as linhas sempre sabiam onde estavam.
Pode ser a diferença entre vida e morte. E não sabia que seu tipo
poderia tirar deles. Coloquei as informações no meu cérebro para mais
tarde.
— Continue. — Pedi, apesar de não querer aguentar mais um
segundo com o monstro.
— As linhas podem ser manipuladas com magia para fluir através
do edifício para fornecer energia suficiente para executar o que você
desejar. Se a cidade escurecesse, a Aliança ficaria como um farol sobre
ela. A entrada nas catacumbas foi um desafio. Decidimos fazer um
labirinto de salas, que se movem de acordo com um cronômetro.
Somente aqueles com liberação superior poderão acessar as salas ou
abrir as portas para eles. Vai demorar um pouco para aprender o
padrão de cada dia, mas vai impedir que seus inimigos atinjam o que
a Aliança esconde dentro dela. Os alojamentos serão o maior desafio,
depende de você como eles serão acessados. Vlad diz que é importante
proteger quem mora lá. Eu o construo para ler marcas, como
tatuagens. Ele alertará você sobre quem entra sem permissão. Pode
fazer eles anular o inimigo que entra sem o direito de estar lá também.
— Anular? — Questionei, observando enquanto seus olhos
afundados se erguiam do mapa 3D.
— Torná-los incapazes de se mover ou prejudicar alguém até que
alguém possa entrar e protegê-los. Demora alguns segundos Fae para
matar suas presas, e é por isso que anula qualquer coisa fora de lugar
dentro da sala de estar. Dessa forma, os que estão lá dentro podem
correr para se proteger até que alguém com liberação superior possa
remover a ameaça.
— Este quarto, qual é o seu propósito? — Apontei para um piso que
parecia vazio, mas que estava dividido por uma parede de vidro.
— Área de treinamento, com câmeras para monitorar o progresso
dos alunos e ferramentas para ensiná-los. — Disse ele, usando os
dedos para afastar os outros andares. Ele abriu bem os braços, o que
fez com que todos, menos eu, sacassem armas. — Calma, é só um
mapa. — Riu enquanto o mapa crescia para revelar pessoas em
miniatura treinando dentro das academias totalmente equipadas. Dois
ginásios, um para crianças e outro para crianças mais velhas, mais
avançadas. Tinha uma sala onde as crianças mexiam os dedos
enquanto linhas brilhantes se moviam ao redor da sala, revelando que
estava protegida enquanto praticavam magia.
Lembranças passaram pela minha mente enquanto eu observava
um conjunto de crianças brigando, tentando derrubar um ao outro
enquanto tentavam impressionar os outros, que os observavam do lado
do ginásio.
— Vlad e o Rei dizem que você precisaria treinar, a sala seria
enfeitiçada em caso de acidentes. Fiz o andar inteiro para o treino,
porque o rei disse que você queria espaço. Ele quer magia, impenetrável
do lado de fora. Eu fiz isso. Ele será conectado às linhas que fluem
abaixo. Todos os lados guardados, todas as entradas serão protegidas
para impedir a entrada de quem procura fazer mal. Não é isso que você
queria?
— É, mas por que nada foi construído aqui? — Apontei para os
andares inferiores que ainda não haviam sido mostrados para nós e
observei seus olhos sombrios se estreitarem.
— Nada de bom lá embaixo. Cheiro de morte e muitas coisas ruins.
— Ele riu, ou tentou. — Muito tempo depois da matança, a morte
continua a permanecer ao contrário acima. É matadouro, esse lugar de
horror. É protegido para manter coisas como eu fora. Lá embaixo, não
são minhas mortes, não é meu problema limpar. Não estava no acordo.
— Ele sussurrou friamente.
— O que isto quer dizer? — Cruzei os braços sobre o peito enquanto
o observava.
— Alguém tirou essas vidas por uma razão. Melhor deixar os mortos
lá embaixo, ao invés de aqui em cima. Amarrados ao santuário para o
qual estavam, sacrificados por um propósito. Não tem graça lá. — Ele
respondeu e, diante do meu olhar aguçado, começou de novo. — Eles
chegaram aqui primeiro, servem a um propósito. Este não era um
templo da magia, nenhum lugar sagrado da paz. Foi usado para
esconder segredos, vidas foram sacrificadas para que esses segredos
permanecessem nas sombras. Não é terra sagrada, mas uma casa de
horror que as bruxas criaram. O que está por baixo é o seu problema,
não o meu.
— Você não pode entrar lá em baixo, pode? — Imaginei.
— Digo que está protegido, você não me ouve. — Ele rosnou. — O
mal está abaixo, mais do que eu. Almas são necessárias, mas a
verdadeira morte não vem. O que dorme aumentará e, quando surgir,
não terá lugar seguro o suficiente para que qualquer um de nós se
esconda.
— Que merda isso significa? — Bufei, esperando para ver o quanto
ele sabia sobre o que estava escondido abaixo, mas quando ele não
respondeu e parecia que tinha terminado de falar sobre isso, cedi e
mudei de assunto. — Quanto tempo para construir a nova Aliança? —
Quero um prazo, porque no momento em que ele terminasse, ele estaria
deixando este mundo.
— Poucas horas, possivelmente um dia. As alas levam mais tempo,
mas esse é um problema do seu rei. Eu construo, ele ajusta.
— Algumas horas? — Soltei, e quando ele assentiu me virei para
confirmar com Vlad. — Adrian, Adam? — Perguntei, esperando para
ver o que eles disseram.
— Funciona e seria protegido. — Concordou Adrian.
— Precisamos que Alden examine e concorde. — Refletiu Adam. —
Esse tipo de magia está um pouco além do nosso escopo de
conhecimento, não acha? — Adam franziu a testa enquanto observava
as crianças empunhando a magia na réplica. — Ele deve ser incluído
nisso, e seu conhecimento é valioso e necessário nesta reconstrução.
— Falo com ele depois. — Suspirei enquanto levantei os olhos para
segurar o olhar do monstro. — Nós entraremos em contato, Foul.
Esperamos que ele fosse antes de virar para Vlad e o encarar.
— Da próxima vez, um aviso seria legal.
— Você teria matado ele se eu lhe dissesse o que ele era. Você
pessoalmente os perseguiu por diversão antes de nos conhecer.
— Porque eles matam crianças que são vítimas fáceis! O primeiro
que eu matei pegava crianças de uma escola e as mantinha dentro de
sua casa, que não passava de um armazém abandonado. Quando
estava pronto para se alimentar de sua carne, ele os deixava pensar
que tinham uma chance de viver e escapar dele. Isso os deixava correr
por dias dentro de sua casa, uma ilusão de feitiço de infinitos
corredores e quartos. Uma vez que eles vissem o que pensavam ser sua
liberdade, ele os matava. Quando meu Coven violou o armazém e o
matou, restavam apenas três crianças. E acho que mesmo com toda a
terapia do mundo, eles nunca vão viver vidas normais. Então, sim, eu
os caçava e matei cada um que encontrei. E faria isso de novo se isso
significasse que uma criança crescesse sem se preocupar se sua carne
era cremosa o suficiente para chamar a atenção de um cadáver em
decomposição. Ninguém merece morrer assim.
— Não é de admirar que odiasse os Fae, você só viu o mal. — Vlad
murmurou quando se virou e olhou ao redor da sala. — Precisamos te
levar para casa.
— Não, preciso ir até o templo e ver do que merda ele estava falando.
— Murmurei enquanto mordia meu lábio inferior. — Alden costumava
ir lá uma vez por semana e nunca fomos autorizados a descer, preciso
ver o que ele e os outros Anciões faziam lá. E preciso fazer isso direito,
e não tenho certeza se ele nos diria o que tem lá embaixo, mesmo que
perguntássemos, então é melhor dar uma olhada e descobrir por nós
mesmos.
— Como nos velhos tempos. — Adam refletiu com um sorriso de
lobo. — Quebrando as regras e nos esgueirando pelas tumbas.
— Bem, desta vez realmente não teremos problemas. — Apontei
enquanto caminhávamos pelas passagens até encontrarmos uma das
salas cerimoniais. — Sangue. — Sussurrei com uma careta profunda.
Não estava aqui a última vez que passamos. Não estava fresco, mas
pude ver as manchas marrom avermelhadas no chão.
— Merda. — Adrian riu. — Você não nos contou sobre isso antes?
— Ele deu um tapinha no meu ombro para chamar minha atenção. —
Além disso, lembro de outro sangue derramado aqui, mas não era tão
inocente. — Disse Adrian suavemente e minhas bochechas floresceram
com o calor. — Este lugar tem muita história.
— Foco. — Ri nervosamente e empurrei seu ombro enquanto seus
olhos se aqueciam. Ele tirou minha virgindade em uma dessas salas
cerimoniais. — E não sou mais aquela garotinha, vampiro.
— Você nunca foi uma garotinha. — Ele meditou e depois assentiu
enquanto Vlad fazia um aviso silencioso.
— Nós temos história. — Falei a Vlad. — Essa história é nossa. Não
pode ser lavada, não importa com quem estamos agora.
— Seja como for, Ryder terá minhas bolas se o garoto escorregar e
tentar te seduzir.
— É por isso que se chama história, Vlad. Está no passado. É onde
vai ficar. — Sorri timidamente e pisquei para Vlad. — Agora, vamos às
entranhas deste lugar e vejamos que merda perversa está na história
da Aliança, não é?
Ficamos na frente de uma porta grande que continha a marca de
um pentagrama e encaramos as intrincadas alas que a protegiam. Eu
as conhecia como a palma da mão, assisti inúmeras vezes enquanto os
Anciões teciam feitiços para as alas. Quando adolescente, eu estava
curiosa sobre o que tinha lá em baixo, e agora, eu não tenho tanta
certeza de que queria saber.
— É fortemente protegido. — Vlad quebrou o silêncio. — Não tenho
certeza se deveríamos ir lá.
— Então não vá, você espera aqui e nós descemos.
Vlad olhou para mim e balançou a cabeça.
— Estou ao seu lado. Mas não tenho certeza se Ryder aprovaria isso.
— Então não conte a ele. — Ofereci. Levantei meus dedos e comecei
a traçar o intrincado padrão para desfazer as alas, um por um eles
desceram, até que a porta era a única coisa que bloqueava nosso
caminho. Minha mão tocou a madeira e um arrepio percorreu minha
espinha.
Empurrei a porta e todos ficaram tensos quando o poder correu da
porta e entrou na câmara. Exalei e me aproximei, só para sentir Vlad
me puxar para trás quando uma forma feminina de um fantasma
apareceu e sorriu quando olhou através de nós. Recuamos quando ela
se moveu do topo da escada e flutuou até um altar em direção ao fundo
da câmara.
— Que porra é essa. — Adrian sussurrou, o que fez o fantasma se
virar para nós e inclinar a cabeça. Expondo o pescoço, que parecia ter
sido cortado no osso.
— Bem, não esperava por isso. — Adam sussurrou.
— É só um fantasma. — Murmurei, esperando que fosse tudo o que
tinha aqui embaixo. — Ela deve estar ligada a este local.
— Ela pode ter sido sacrificada. — Apontou Vlad. — Ela está com a
garganta cortada, o que é comum em sacrifícios.
Nós três encaramos Vlad com olhares preocupados.
— Quão velho você é? — Olhei para ele depois que ele bufou em
nossos rostos.
— Velho o suficiente para ter testemunhado muito. — Ele meditou
enquanto se movia na minha frente para bloquear meu caminho.
— Vlad. — Avisei.
— Vou primeiro. — Disse ele rapidamente. — Quem sabe que outras
merdas loucas estão esperando lá embaixo.
— Tudo bem. — Concordei, sabendo que ele não me deixaria ir
primeiro, já que ele prometeu a Ryder e já pressionei minha sorte. —
Como foi assistir alguém ser morto como sacrifício? — Eu me encolhi
com a minha tentativa estranha de conversa fiada.
— O primeiro que assisti, bem, foi horrível. Ela estava disposta a
poupar os outros em sua aldeia do monstro do castelo. — Murmurou.
— Monstro?
— Eu. — Ele rosnou. — O nome dela era Vatina, ela era linda e tão
ingênua. Seu povo acreditava que se uma virgem fosse sacrificada para
apaziguar o monstro, não teria mais cadáveres sem sangue.
— Você estava se alimentando da vila dela? — Deduzi, e ele apontou
para mim e assentiu, como se eu tivesse ganho algum tipo de prêmio.
— Eu era jovem nos termos de ser vampiro, ela era muito mais nova.
Valáquia era um lugar turbulento, com os turcos invadindo e, bem,
geralmente era fácil o suficiente culpar eles por minhas ações.
Eventualmente, um místico descobriu que alguns cadáveres tinham
sido sangrados. Na verdade, eles eram espiões que despachei para
proteger minha terra, mas os corpos eram suficientes para assustar os
aldeões. — Contou Vlad, perdido em suas memórias de outra época,
outro lugar. — Então eles ofereceram um sacrifício para limpar a terra
das minhas trevas. Ela se ofereceu, para homenagear sua família que
tinha feito algumas gerações erradas antes. Eu estava no meio da
multidão enquanto ela caminhava com tanto orgulho até o altar, tão
bonita. — Explicou ele com um olhar distante. — Ela nem sequer era
uma mulher, no que me dizia respeito, tinha apenas quatorze anos –
mas, naquela época, tinha idade suficiente para ter um marido e
procriar. Ela usava um vestido que expunha todas as curvas. — Ele
sussurrou e engoliu alto. — Ela me olhou bem nos olhos enquanto eu
estava lá entre eles, e implorou pela escuridão para deixar suas terras.
Ela sabia quem e o que eu era, como tinha me alimentado dela antes;
ela sabia que não tinha nada a temer de mim, mas deu a vida para
limpar a mancha do nome de sua família. Eles cortaram sua garganta.
Levou alguns segundos para sangrar. Eu considerei intervir, mas era o
que ela queria. Vatina não fazia ideia de que tinha sido sacrificada com
meu sangue correndo por suas veias. Depois que a enterraram, voltei
para buscar ela.
— Isso é distorcido. — Disse Adrian atrás de mim.
— Naquela época era a vida. — Explicou Vlad. — Ela era linda
demais para morrer tão jovem e por algo tão inútil. Até hoje, ela me
odeia pelo que fiz.
— Não é disso que estou falando. — Adrian murmurou enquanto
apontava para as paredes que nos cercavam, com crânios embutidos,
todos com um hexagrama esculpido na testa. Cada um deles marcado
com um numeral romano no centro do hexagrama.
— Uau. — Sussurrei quando levantei o dedo para traçar a linha de
um, só para ver que ele começou a brilhar com o meu toque. Os outros
que ladeavam a parede começaram a brilhar também. Engoli o desejo
de dobrar o rabo e voltar para cima, mas preciso saber o que tem aqui
embaixo. — Eles estão cheios de poder, mas é poder de proteção.
— É para proteger este lugar. — Vlad anunciou. — Tem algo aqui
embaixo que eles ofereceram sacrifícios para proteger. A julgar pelos
crânios, cada um era uma jovem.
— Como você sabe? — Meus olhos se moveram sobre vários dos
mais próximos enquanto tentei ver o que ele viu. Talvez fosse uma
superpotência de vampiros.
— Os homens tendem a ter crânios mais grossos que as mulheres.
— Explicou ele, enquanto bufei e tentei conter uma risadinha nervosa.
— Os crânios das mulheres são geralmente menores que os dos
homens, e a mandíbula é mais curta. Tem também a cavidade da
órbita. As mulheres têm uma vantagem mais acentuada do que os
homens, e há o fato flagrante que há um grupo de espíritos femininos
no pé da escada.
Olhei por cima do ombro dele e gemi. Fazia um tempo desde que eu
lidei com fantasmas, não voltei ao cemitério desde que estive lá com
Larissa, porque doía saber que ela tinha sacrificado qualquer poder que
tivesse para nos ajudar. Ela não estaria lá, e Adrian não estava
enterrado lá, obviamente. Eventualmente, porém, eu teria que ir ver os
espíritos lá, devo muito a eles.
— Eles não parecem se comunicar. — Disse Adrian suavemente,
mas duvido que fosse esse o caso.
— Ou eles não querem. — Respondi. — Os fantasmas são exigentes
com quem decidem se comunicar, e normalmente é preciso um
Necromante para falar ou se comunicar com eles adequadamente,
posso fazer isso, e eles sabem. Eles estão escolhendo não falar. O do
alto é mais recente que estes. Ela não se adaptou, o que explicaria por
que olhou através de nós. Esses podem nos ver.
— Amigo ou inimigo? — Adam perguntou.
— Eu não tenho ideia. — Murmurei enquanto observava alguém que
parecia estranhamente familiar. Ela ficou no fundo, nos observando
enquanto nós devagar e cuidadosamente descemos os degraus.
Quando nos aproximamos da grande sala na parte inferior da escada,
ela se transformou em caveira. — Há mais caveiras do que espíritos. —
Sussurrei enquanto tentava descobrir o que tinha naquele lugar.
Eu nunca os vi trazer garotas para cá e, ainda assim, algumas delas
usavam roupas deste século. Meu coração batia forte nas minhas
costelas enquanto tentava deduzir que merda aconteceu. Alden insistiu
que ficássemos longe daqui, mas assumi que era por causa das alas.
— Synthia, ela está vestindo uma camiseta de um show do Nirvana.
— Vlad apontou enquanto uma garota fantasmagórica caminhava pelos
outros e virou a cabeça para olhar através de nós enquanto os outros
nos observavam.
— Ela é mais nova. — Sussurrei. — Que merda a Aliança está
escondendo que precisa de sacrifícios humanos?
— A linha, talvez? — Adam perguntou.
— As Linhas Ley estavam aqui antes da Aliança ser construída. Elas
não precisam de sacrifício para permanecerem energizadas, só os ritos
do Samhain4 e alguns outros dias tradicionais do ano. O sacrifício
humano é reservado para magia negra ou feitiços antigos que a Aliança
não teria as bolas para usar sem um Changeling para lançar.
— Você quer dizer um mago. — Adrian murmurou prestativo.
— Não. — Balancei minha cabeça. — Atualização rápida: parece que
muito do que a Aliança nos ensinou é besteira. Ryder me disse que o
que a Aliança chamava de Druidas eram realmente Changelings. Bem,
pelo menos eram antes de se separarem em dois grupos. Alguns se

4 O 1º de novembro, comemorado pelos antigos celtas como um festival que marca o início do inverno. No livro Playing With Monsters
01 explica que é quando o véu entre os mundos é mais fácil de atravessar. Se não leu, pare agora de ler esse e vá ler :)
tornaram Magos e outros se tornaram Bruxas. A força da magia
lançada aqui deve ter sido obra de um dos antigos.
No momento em que nossos pés tocaram o chão, chamas saltaram
de velas para iluminar a sala em que estávamos. Glifos brilhavam nas
paredes pelos túneis sinuosos, que levavam para longe de onde
estávamos. Meu coração bateu forte quando algo passou pela minha
mente, como asas de borboleta em busca de minhas memórias.
— Pare com isso. — Rosnei, enquanto um dos fantasmas mais
velhos me observava, senti que ela era provavelmente a primeira do
grupo que foi sacrificada. — Fique fora da minha cabeça.
— Está escuro lá. — Disse ela suavemente. — Tanta escuridão para
alguém tão jovem. — Continuou enquanto flutuava em minha direção.
— Não se preocupe, fiz amizade com meus demônios há muito
tempo. Ocasionalmente, posso até convencer um deles a pintar minhas
unhas, se eu pedir com jeitinho. — Assegurei a ela quando a senti
revirando minhas memórias, deveria ter parado ela, mas senti que se
fizesse, ela pararia de falar. — O que é este lugar?
Senti outros fantasmas cavando a mente dos meus companheiros,
mas, como se estivessem todos conectados, eles se agarraram à minha
e engoli em seco quando os fantasmas cavaram minhas memórias. Eles
estavam procurando por algo, mas o que? Exalei enquanto a dor
passava pela minha mente enquanto vasculhavam as memórias
importantes, afastando cada uma delas quando decidiram que não era
necessária. Até que encontraram Ristan gritando para remover os
bebês do meu ventre, enquanto eu estava morrendo, então eles
pararam e se retiraram.
— Você deu à luz, você é mãe. — Sussurrou uma enquanto ela me
observava atentamente.
— Sim. — Admiti.
— Mas não neste corpo. — Outro disse suavemente, seus olhos
cheios de admiração. — Você está morta, mas viva. Como ela está. —
Ela sussurrou.
— Como quem está? — Perguntei, vendo como ficaram excitados. —
Quem aqui é como eu?
Assisti enquanto os fantasmas se moviam para um dos maiores
túneis e flutuavam, nos forçando a quase correr para acompanhar.
Quando pararam, também parei. E podia sentir o poder pulsando do
que quer que estivesse além da porta em que estávamos. Eles nos
observaram e me olharam com expectativa.
— Quem está atrás daquela porta? — Perguntei com cuidado.
— Ela que nunca pode morrer, mas também não tem permissão
para viver. — Respondeu alguém enigmaticamente.
— Ela é má? — Perguntei, imaginando se responderiam ou mesmo
se saberiam a resposta, já que, para eles, quem quer que fosse
provavelmente não pareceria ruim.
— Ela não é boa nem má, e nem vive nem morre. — Disse outra,
inclinando a cabeça, revelando o decote, que, como os outros, foi
fatiado até os ossos.
— Por que você foi sacrificada? — Perguntei, esperando que isso os
jogasse fora o suficiente para responder.
— Para alimentar ela. — Um sussurrou. — Para impedir ela de viver
ou morrer. — Disse a jovem com um sorriso suave. — Sangramos para
que ela permaneça como está.
— O que acontece se ela acordar? — Perguntei, tentando entender
em que diabos acabamos de entrar. Nenhum deles me respondeu e, um
a um, começaram a desaparecer. — Fique. — Chorei, mas era como se
temessem quem estava atrás da porta, e eles evaporaram para nada
além de névoa.
— Isso não é bom. — Adam murmurou, e Adrian concordou. —
Talvez não devêssemos abrir.
— E o que vamos fazer? Vamos reconstruir a Aliança sem saber se
estamos vivendo em cima de um monstro?
— Você tem razão, mas magia negra, magia de sangue e magia
antiga são complicadas. E se abrirmos a porta e acordarmos esse
monstro? — Os olhos turquesa de Adrian se encontraram nos meus
com preocupação.
— Não posso reabrir a Aliança sem saber tudo sobre isso. Não posso
trazer crianças aqui se não souber todos os fatos. Alguns desses
fantasmas são desta década, o que significa que eles morreram
enquanto morávamos aqui. Alguém ou alguma coisa fez sacrifícios
nesta Aliança sem que soubéssemos, e isso, bem, isso me assusta
muito. — Admiti enquanto usava minha magia para abrir a porta.
Dentro da sala tinha uma mulher eternamente jovem e bonita,
deitada em uma caixa de vidro gravada em glifos antigos, talvez
maldições. Como os sacrifícios, seus cabelos eram da cor da asa de um
corvo e ela tinha olhos azuis como gelo que pareciam olhar para algo
no teto. As mãos estavam juntas e parecia estar só dormindo. Sombrias
luzes azuis queimavam ao longo das paredes, que percebi estavam
ligadas às Linhas Ley que corriam logo abaixo da caixa de vidro.
— Porra, é quem eu penso que é? — Adrian sussurrou, e meus olhos
se voltaram para ele.
— Não é Hécate. — Sussurrei enquanto mordia meu lábio com os
dentes. — Se é quem eu penso que é, precisamos sair daqui e rápido.
Ninguém pode falar uma palavra disso fora desta cripta.
— Synthia. — Vlad avisou.
— Vlad, eu também não quero mentir para Ryder. Se ela é quem eu
penso que é, se ela acordar, a guerra será a menor das nossas
preocupações. Portais surgindo aleatoriamente serão brincadeira de
criança. Preciso ir até Alden e perguntar o que ele sabe. Até então, a
Aliança que está sendo reconstruída está em espera. Ninguém desce
aqui e ninguém fala do que está aqui embaixo. Deuses nos salvem se
ela acordar. — Sussurrei enquanto saía pela porta, esperando até que
eles me seguissem antes de começar a substituir as enfermarias.
— Synthia. — Vlad começou de novo, me observando enquanto eu
colocava proteção após proteção até começar a me cansar, cedi uma
vez que tinha certeza de que ninguém tentaria tocar a porta ou as
enfermarias.
— Vamos sair daqui, agora. — Insisti, ignorando enquanto passava
por ele e corria em direção às escadas como se os cães do inferno
estivessem beliscando meus calcanhares.
í
Minha mente girava com as complicações do que descobrimos, mas
também com os problemas que já tínhamos. Não conseguimos
recuperar o fôlego antes que mais problemas surgissem para nós.
Como Ryder esperava ter um casamento no meio do caos, me
incomodava.
Os planos de construção que Foul redigiu funcionariam, mas eu
precisava me sentar com Alden e discutir eles – e o corpo na caixa de
vidro embaixo da Aliança. Tinha histórias sobre Linhas Ley, centenas
delas, mas nenhuma que pudesse ser provada como verdadeira. A
maioria nos foi informada pelos bibliotecários da Aliança. Aquelas eram
de criaturas míticas, como deuses que nos deram magia para que as
bruxas continuassem a existir. Fábulas e histórias de ninar contadas
para fazer a mente das crianças florescer com esperança. Como adulta,
vivendo no mundo que eu vejo agora, pude entender como os grãos da
verdade poderiam florescer nessas histórias fantasiosas.
Meus olhos foram para a porta. Desde o momento que Ryder se foi,
me preocupei muito. Eu odiava me separar, mas meu dia também não
foi normal. Fui jogada uma curva após a outra, com o pior sendo o final
do dia. E detestava não poder só dizer a ele o que era, mas só de
sussurrar em voz alta me assustou. Fiquei paranoica que algo no
universo estivesse ouvindo e alertaria nossos inimigos sobre a bomba-
relógio abaixo da Aliança.
Eu estava vestindo uma camisola branca de estilo grego, com um
corpete império e tiras com pequenos laços nos ombros. Ela fluiu para
os meus tornozelos com a suavidade de cetim que flutuava a cada
passo que eu dava.
Merda, onde ele estava? Exalei e levei a mão ao ombro enquanto
tentava esfregar a tensão. Fechei os olhos quando o senti entrar no
quarto atrás de mim. Alívio tomou conta de mim. Uma das mãos dele
deslizou no meu ombro e ele esfregou onde as minhas estavam
enquanto as outras deslizavam pela minha cintura. Ele não disse nada,
mas o aroma de seu perfume único encheu meus sentidos, me
confortando. Não precisamos de palavras. Ryder e eu nos comunicamos
através do toque ou de um simples olhar que dizia mais do que palavras
jamais poderiam.
— Dia difícil, bruxa. — Ele murmurou quando seus lábios tocaram
o topo da minha espinha, roçando beijos suaves, enviando riachos
sensuais de calor para o meu núcleo.
— Odeio não poder falar e te encontrar e conversar com você sempre
que eu quiser. Sinto falta da conexão. — Murmurei, sem me preocupar
em me virar. Sua boca era o céu contra a minha carne. — Algum sinal
de Ciara?
— Descobrimos algumas coisas, mas nada certo ainda. — Ele
empurrou meu cabelo para longe do meu pescoço e acariciou minha
carne suavemente com seus lábios. Meu corpo apertou em resposta e
um gemido suave rasgou dos meus lábios. — Posso sentir seu cheiro.
— Ronronou enquanto continuava destruindo meu sistema com seus
lábios habilidosos. — Deuses, senti falta de te ver vulnerável. —
Murmurou.
— Eu nunca estou vulnerável. — Sorri quando senti a tira da
camisola deslizar do meu ombro, expondo o globo dos meus seios. Sua
mão segurou ela, testando o peso enquanto ele o acariciava.
— Você está errada. — Ele rosnou enquanto apertava, e ofeguei em
resposta. — Sei que você está, porque quando estou longe de você, sou
vulnerável. E me pego procurando por você. Por cima do ombro, aquele
vazio ao meu lado, me sinto como um animal louco te procurando
quando você não está comigo. — Sua voz caiu para um sussurro e ele
beijou meu ombro, suas mãos apertando meu peito e meu cabelo.
Sorri enquanto lágrimas enchiam meus olhos. Nós éramos a
fraqueza um do outro. Ele estava certo, quando não está por perto,
procuro por ele. Cada batida do relógio me lembrava que ele não estava
ao meu lado, e eu odiava, e ainda assim não mudava por nada.
— Teremos que conviver com isso, não é? — Pensei quando seus
dedos rolaram meu mamilo entre eles, o que fez meu estômago revirar
de emoção. Ele tem habilidade com aqueles lábios pecaminosos e é o
único homem que podia te beijar em um orgasmo sem tocar abaixo da
cintura. Ele moveu lentamente os lábios por cima do meu ombro,
beliscando a carne sensível. Sua mão passou do meu peito para
segurar meu queixo, e sua boca se moveu sobre minha orelha, o som
de seu rosnado rouco incendiou todos os nervos do meu corpo.
Ele puxou meu cabelo com mais força e gemi em resposta. Sua mão
soltou meu queixo e foi para a outra alça, deslizando para baixo do meu
corpo me deixando nua diante dele. A outra mão soltou meu cabelo
enquanto seus dedos traçavam minha espinha com toques suaves
como penas, ele demorou, desenhando pequenos círculos em minha
carne enquanto beijava seu caminho lentamente pela minha espinha.
— Senti falta disso. — Murmurou em um tom gutural que me fez
querer me virar e beijá-lo. Sua boca beijou a curva do meu quadril
quando ele lentamente enviou meu corpo a um surpreendente estado
de necessidade. Lentamente, ele beijou a parte de trás das minhas
coxas, seu hálito quente em minha bunda e boceta enquanto ele
trabalhava vagarosamente minha carne com seus lábios.
— Ryder, estou pendurada por um fio. — Choraminguei quando o
senti em pé atrás de mim. Ele afastou minhas pernas com uma leve
pressão de seus joelhos, permitindo que seus dedos deslizassem
através da bagunça escorregadia, separando lentamente minha carne
enquanto os corria por ela. Mas ele não me penetrou, provocou até
meus joelhos ameaçarem ceder.
— Me avise quando arrebentar. — Ryder riu rouco contra o meu
ouvido. — Não tenho intenção de deixar você gozar ainda. — Rosnou
quando seus dedos encontraram meu clitóris e lentamente se moveram
em um padrão circular. — Feche os olhos. — Ele ordenou, e obedeci,
mesmo quando a sensação de cair aumentou, me inclinei contra
enquanto ele continuava a trabalhar no meu sexo.
Um minuto estávamos em nosso quarto dentro do castelo, e no
outro estávamos parados nus em um belo prado. Flores brilhantes
iluminavam o chão enquanto pequenos vagalumes dançavam ao redor.
A brisa sussurrava no meu cabelo quando inclinei minha cabeça contra
ele, apreciando o cenário requintado ao nosso redor. Os únicos sons
eram nossos, seu toque continuou a puxar gemidos dos meus lábios
quando ele me levou à beira da sanidade e me balançou sobre a borda.
Em seguida me virou em sua direção, encontrando lentamente
minhas mãos enquanto me puxava para mais perto, até que seu pênis
estava nivelado contra a minha barriga, olhei para os cintilantes olhos
dourados que brilhavam com um milhão de pequenas estrelas
capturadas em suas profundezas.
— Eu quis te trazer aqui desde que você voltou para mim. — Ele
admitiu. — São os campos floridos, onde as fadas puxam uma magia
especial que faz as pedras das Piscinas das Fadas brilharem. É nisso
que penso quando penso em você. Você ilumina meu mundo,
Animalzinho, não importa o quanto esteja escuro, você reflete esse
campo na minha alma. — Ele sussurrou enquanto me levantava e
envolvi minhas pernas em torno dele.
Ryder não faz muita conversa doce, mas quando faz, isso me deixa
nua, me vira de dentro para fora e fode com minha cabeça como nada
mais consegue. Eu o beijei, reivindicando seus lábios em um beijo
suave enquanto minhas mãos passavam por seus cabelos. Ele gemeu
e exalei enquanto capturava sua língua, reivindicando em uma dança
tão antiga quanto o tempo. Este homem, esta criatura, é a minha alma.
— Eu te amo. — Sussurrei. E o quero enterrado dentro do meu calor,
já estava encharcada de necessidade por ele. Podia sentir aquela
pulsação agitando dentro de mim, uma que dançava em uma batida
que somente ele podia usar para fazer meu corpo cantar.
— Você me quer enterrado dentro de você, não é, Animalzinho? Essa
boceta me quer profundamente. — Ele rosnou quando agarrou meu
cabelo e puxou para trás, expondo meu pescoço aos seus lábios
gananciosos. Ele beijou e chupou meu pulso. — Quão profundo me
quer? — Perguntou, sua voz áspera enquanto lentamente continuou a
beijar meu pescoço, queixo e lábios.
— No fundo da alma. — Choraminguei quando senti sua carne
sedosa esfregando contra a minha, já estava tão perto, e ainda tão
longe. Ele amava o controle, e muito raramente desistia. Nesse
departamento, ele poderia ter, mas precisava merecer primeiro.
— A quem pertence? — Ele meditou, os olhos dourados iluminados
por dentro enquanto me observava atentamente.
— A mim. — Rosnei quando sua espessura deslizou através das
minhas dobras sem entrar nelas.
— A quem? — Perguntou, sua sobrancelha subindo enquanto me
observava. Deslizei as mãos pelos seus cabelos macios e puxei
enquanto reivindiquei sua boca com fome. — Adoro quando você se
esforça para conseguir, porque acaba com você dolorida e eu
alimentado. — Ele riu com voz rouca.
— É mesmo? — Sussurrei enquanto esfregava meu núcleo pelo
comprimento rígido, já estava tão perto de gozar sem a ajuda dele.
— Bruxinha travessa. — Ele rosnou com fome quando me colocou
no chão e me puxou com ele, estava tão perto que minha mente atingiu
a névoa, só segui entorpecida atrás dele, obediente quando me puxou
para uma lagoa que eu não tinha notado. A água verde brilhava das
pedras brilhantes que também aqueciam as piscinas. — Você não é
dona dessa boceta. Você pode fazer isso acontecer, mas eu deixo ela
molhada, a levo até o limite e tremendo por mais, e quando terminar
com você, estará absolutamente certa de quem é o dono.
— É parte do meu corpo. — Provoquei quando ele se virou e colocou
os dedos em volta da minha cintura e me levantou sobre uma rocha no
meio da água. Era suave, perfeita para se bronzear.
— Abra suas pernas. — Ele ordenou, e meus olhos voltaram para
os dele enquanto ele sorria. Âmbar líquido me observou quando me
recostei e abri as pernas. Tentei me concentrar nele, mas a multidão
de luzes fez meus olhos procurarem nos prados. Ele me observou,
nunca exigindo que eu parasse de apreciar a beleza ao nosso redor.
Este mundo era tão indomado e bonito quanto ele. Também era tão
perigoso quanto ele.
Ele manteve os olhos em mim enquanto olhei ao redor do prado,
observando a beleza que queria compartilhar comigo. Duas luas
brilhavam no céu, acrescentando sua luz à beleza dos campos
verdejantes. O aroma de jasmim e outras flores perfumadas encheu o
ar, flutuando na brisa.
— Isso é de tirar o fôlego. — Sussurrei, com medo de arruinar a
serenidade que os prados ofereciam.
— Esta é a nossa realidade. — Ele disse suavemente. — A magia
aqui pode matar mortais. — Ele sorriu como um lobo. — As flores
gostam de se alimentar de carne, mas normalmente elas tendem a
permanecer dormentes enquanto acrescentam sua beleza às terras.
— Se esta é a nossa realidade, uma terra de beleza mortal, aceitarei
se você estiver ao meu lado. — Engoli em seco quando meus olhos se
fixaram nele.
— Este mundo, assim como o seu, tentará nos separar, Synthia.
— Deixe eles tentarem. — Rosnei enquanto deslizava as pernas na
água aquecida. — Me recuso a viver em uma realidade onde não temos
isso. Nós. Isso. — Fiz um gesto entre nós com o dedo. — Somos mais
do que tudo, e o mundo pode continuar tentando nos separar, porque
isso só nos torna mais próximos e mais fortes. Então sim, eu sou sua.
Cada parte de mim pertence a você, Fada. Eu sempre fui sua. Estava
cega antes, mas agora posso ver tudo em você. Você é a minha outra
parte. Você é o que eu estava sentindo falta esse tempo todo. Agora que
te encontrei e esse amor entre nós, mataria para manter. E destruiria
mundos para estar com você.
— Eu me apaixono por você um pouco mais toda vez que te olho. —
Ele engoliu em seco. — Toda vez que você ri, algo se desenrola dentro
de mim e tenho que me beliscar para saber que você é real. Que você
me escolheu, mesmo que eu saiba que não te mereço. — Rosnou
enquanto segurava meu rosto entre as mãos e moveu os lábios a
centímetros dos meus. — Às vezes assisto esses lábios se moverem e
não tenho certeza do que quero mais. Beijar ou foder eles. — Ele riu
maliciosamente.
— Você sempre diz a merda mais doce, Fada. — Ri quando levantei
a cabeça e avancei para reivindicar sua boca em um beijo faminto que
terminou com uma fervorosa necessidade de nunca o deixar ir.
Ele mexeu os dedos e uma venda apareceu em suas mãos. Ele sorriu
e me observou enquanto eu sorria. Ele realmente ama o controle. E
posso ceder uma polegada, porque sei que estaria gritando o nome dele
e ele me possuiria quando terminássemos aqui. Me inclinei, esperando
que colocasse a venda em volta da minha cabeça, ao invés disso,
continuou a me observar.
Estava prestes a perguntar qual era o jogo dele, quando uma mão
masculina chegou ao meu lado e meus olhos se moveram para um
segundo Ryder. Comecei a me sentar, confusa com o que estava
acontecendo, quando o primeiro colocou a mão nas minhas coxas e me
impediu de fugir.
— Sou apenas eu, Animalzinho. — Ele prometeu, quando seu clone
tocou meu peito, testando o peso com o mesmo sorriso malicioso nos
lábios. — Meus poderes estão crescendo quanto mais me alimento de
você. — Murmurou enquanto o outro pegava a venda e se movia para
o outro lado da rocha lisa. Ele acariciou meu pescoço, beijando
suavemente enquanto desenhava a venda nos meus olhos e a amarrava
na parte de trás da minha cabeça. Meu coração acelerou quando o
mundo foi fechado. — Só quero que você me sinta, sou ambos. E posso
ser mais. — Ele riu. — Posso ser o que você precisa que eu seja.
— Ryder, isso é... novo. — Admiti insegura, quando meus seios
foram agarrados bruscamente e algo quente se espalhou contra minha
boceta ao mesmo tempo. — Nunca fiz isso antes. — Falei, o medo
aumentando enquanto o suor escorria pela minha espinha.
— Eu sei. — Ele riu enquanto chupava meu clitóris abruptamente,
puxando um grito dos meus lábios. — Não se preocupe, pretendo ir
com calma com você na primeira vez. Venha até mim, estenda os
braços. — Ordenou, e fiz, sentindo ele me puxando da rocha e entrando
na água enquanto os salpicos soavam do outro lado. — Eu sou os dois,
então quando ele estiver dentro de você, também serei eu. Ele é uma
extensão minha.
— Então você pode clonar? — Choraminguei quando suas mãos
agarraram minha bunda com força.
— Eu posso multiplicar, acho que tem algo a ver comigo fodendo
uma deusa. Você me alimenta de poder, por isso é a única razão pela
qual consigo pensar por que meu poder está crescendo. Então o
mínimo que posso fazer é testar seus limites em sua doce carne. — Ele
disse com voz rouca enquanto me entregava ao outro Ryder.
Estava enlouquecendo, senti o outro me levantando para ele
enquanto se sentava na pedra. Ele virou minhas costas contra seu
peito, me puxando para uma posição sentada em seu colo e
posicionando seu pau contra a minha carne, e antes que eu pudesse
dizer qualquer coisa, estava deslizando por seu pau grosso e rígido.
Suas mãos usaram meus quadris para me empurrar para baixo até que
se enterrou totalmente na minha boceta, senti algo quente em minha
carne e Ryder estava trabalhando círculos contra meu clitóris com a
boca enquanto seu clone me trouxe lentamente por seu comprimento.
O Ryder chupando meu clitóris gemeu quando fui empurrada para
baixo até que não houvesse mais nada para tirar do pênis de seu irmão
gêmeo. Sua boca faminta chupou, beijou e lambeu minha carne
descontroladamente, como se estivesse faminto e eu fosse seu jantar.
O som de seus gemidos foi suficiente para me enviar navegando pela
borda, mas no momento em que pensei em cair, ele me puxou de seu
pênis e me empurrou de bruços sobre a rocha.
Mãos se moveram, minhas pernas estavam abertas enquanto algo
macio e salgado pressionava contra meus lábios, esfregando contra eles
até que abri para aceitar o que estava sendo oferecido. E senti o outro
Ryder enterrando os dedos profundamente na minha boceta molhada
enquanto lutei para acomodar seu pau na minha boca.
— Agora isso é algo para se ver. — Ele rosnou enquanto pressionava
com força a base da minha espinha enquanto tentei arquear minha
bunda procurando seu pau. — Uma coisa tão gananciosa, você precisa
de mais, não é? — Ele cantou enquanto tirava os dedos e deslizou a
ponta molhada do seu pau sobre a minha carne. Eu o senti entrando
em mim e tentei me lembrar de que era exatamente a sua magia quando
ele costumava me encher. Só que nunca me senti tão cheia.
Eles balançaram meu corpo em ritmo perfeito, provando que era um
homem assumindo o controle e me levando ao limite sem retorno. A
brisa suave era o único lembrete de que estávamos do lado de fora,
expostos e em posição erótica para qualquer voyeur ver. Mãos
seguraram meus seios, em seguida, beliscaram meus mamilos
enquanto o outro trabalhava no meu clitóris até que estava gritando
em torno do enorme pau na minha boca enquanto eu me despedaçava.
As mãos me moveram no momento em que meu corpo começou a
cair de volta à terra, e estava na água quando um se moveu para ficar
atrás de mim, me levantando enquanto o outro se movia na minha
frente. Eu estava bem aberta, minhas pernas separadas por trás
enquanto o outro se aproximava da minha boceta exposta. Seu pau deu
um tapa na minha carne sensível e gritei, sabendo que ele logo entraria
em mim. Senti seu pau esfregando contra minha boceta, aproveitando
a umidade que isso lhe oferecia. Ele empurrou para dentro, e gemi
explosivamente quando ele e o outro se moveram. Um se inclinou
contra a rocha enquanto o outro me ajudou a abrir me expondo aos
dois pênis.
O outro não entrou em mim, em vez disso me segurou enquanto
Ryder me fodia sem piedade. Seu pênis se moveu com uma velocidade
desumana quando bateu na minha carne até que me senti caindo. Fui
arrancada de um pau, virada até minha bunda estar no ar, e então
gozei quando o outro beijou minha boca com fome. Foi esmagador, e
ainda assim eu queria tudo.
— Mais. — Gemi contra os lábios que me beijavam, e ouvi risos
sensuais atrás de mim. — Quero tudo isso.
— Minha. — Rosnou, e choraminguei quando senti mãos ásperas
agarrando minha bunda quando o pau dentro de mim cresceu até que
eu estava lutando para sair dele. Impulsos selvagens assumiram o
controle quando meu corpo foi arrebatado e levado ao limite. Ryder
cantou no meu ouvido, me implorando para ficar com ele, já que o que
estava atrás de mim ficou louco de desejo. A besta havia assumido o
controle de um dos clones e os dentes roçaram meu ombro. — Tão doce.
— Ronronou e me espalhei mais, levando mais do que jamais pensei
ser possível. Senti um pau tocando meus lábios, e então a venda foi
removida enquanto olhos âmbar observavam a besta por cima do meu
ombro.
— Deuses. — Ele sussurrou enquanto olhava para baixo para me
encontrar observando com a ponta do seu pau glorioso na minha boca.
Ele nunca vislumbrou seu próprio animal. Seus olhos estavam
selvagens de admiração, e não tenho certeza se era porque eu estava
pegando sua besta enquanto ele observava, ou porque ele ficou cara a
cara com seu próprio demônio interior, fui arrancada para trás do pênis
de Ryder. Meu instinto era lutar, porque Ryder não me salvaria se a
besta tivesse o controle de um de seus clones enquanto ele controlava
o outro. — Synthia. — Ele avisou, enquanto sua mão acariciava seu
pênis com a batida de seu monstro que balançava meu corpo como se
eu fosse uma boneca de pano. Eu estava sendo fodida enquanto ele
estava impotente para qualquer coisa, menos nos assistir. Garras
acariciaram meus seios, e eu sabia, sem me virar, que a besta estava
observando Ryder enquanto ele me fodia em desafio aberto.
— Me assista. — Choraminguei quando minha mão se moveu para
a minha carne e começou a acariciar. Eu não sabia ao certo o que
diabos estava acontecendo com eles, só que Ryder não podia lutar
contra sua besta porque era uma parte dele. Uma parte de si mesmo
que ele provavelmente nunca esperava ver. Seus olhos dourados
baixaram para a minha carne, e então ele se aproximou, choraminguei
quando fui arrancada de um pau grosso e empurrada de volta para a
rocha enquanto a besta olhava para Ryder.
Me virei, abri as pernas e dei um tapa em minha própria carne,
forçando o monstro e Ryder a me assistirem, em vez um ao outro. Eu
choraminguei quando a carne sensível protestou com dor, mas então a
besta estava lá, chupando minha carne com fome voraz quando me
enviou navegando pela borda, empurrando os dedos profundamente na
minha boceta e depois retirando quando se levantou e mostrou suas
presas territorialmente em Ryder. Asas se abriram de suas costas
quando ele empurrou seu pau até o talo dentro de mim, o que causou
um espasmo no meu corpo quando onda após onda de orgasmo
correram através de mim.
Ryder rosnou, seus olhos brilhando mais do que já os vi brilhar
antes, quando explodi em êxtase. Um minuto eu estava com a besta, e
no seguinte, era Ryder entre minhas pernas, dirigindo para a umidade
acolhedora da multidão de lançamentos do meu corpo. Quando ele
finalmente gozou, eu era pouco mais que uma bagunça desossada e
chorosa. Ele se inclinou e sussurrou palavras doces enquanto se
desculpava. Eu não estava chorando de dor, porque, sejamos honestos,
não andaria amanhã sem estremecer, mas porque ele viu sua besta e
recuperou o controle.
— Você ganhou. — Gemi quando ele se retirou e choveu beijos sobre
minha carne.
— O que? — Perguntou enquanto me sentava e olhava minha carne
machucada. — Deuses, Synthia...
— Não me venha com deuses, eu simplesmente adorei isso. — Ri
quando agarrei seu pau, acariciando-o novamente.
— Synthia, ele é um monstro do caralho. Ele estava te machucando.
— Ele rosnou. — Observei ele, — disse ele com um olhar de nojo que
me trouxe de volta — ele cresceu até machucar você e poderia ter te
despedaçado.
— Ele não vai me machucar. — Assegurei a ele. — Ele conhece meus
limites, e sim, assistir provavelmente foi diferente de ter a visão que
você está acostumado, mas ele me ama. E nunca me deu mais do que
posso suportar, e você também não. Quando ele começa a me
machucar, ele se afasta e você assume o controle. Você acha que ele
não lutaria com você por isso? — Perguntei, observando ele.
— Eu te amo. — Ele sussurrou enquanto me puxou em seus braços
e me beijou profundamente.
— Eu também te amo, você todo. Ele também é meu, Ryder. Você
não tem nada a temer dele no que me diz respeito. Teve muitas vezes
em que ele poderia me machucar e não machucou, e tenho certeza de
que nos ver juntos não fazia parte dos seus planos esta noite. Estou
feliz que você o conheceu cara a cara.
— Não tenho certeza de como você não correu gritando na primeira
vez que ele se mostrou para você. — Ele gemeu enquanto me abraçava
ainda mais.
— Não pode ver quando ele está no controle, pode? — Murmurei.
— Não, sinto e posso ver o que ele vê. — Ele encolheu os ombros. —
Mas só tive um vislumbre dele através dos seus olhos, e isso não foi o
suficiente para me preparar para hoje.
— Estou feliz que você me trouxe aqui, e mais do que isso, Fada,
estou feliz que você conheceu seu demônio. Ele faz parte de você e
aceito tudo o que você é e será. Você e eu, Fada. Para todo o sempre.
— Murmurei enquanto sorria para o homem com quem me casaria. Se
alguém tivesse me dito que esse seria o meu mundo, eu teria rido e o
chamado de louco. Agora, agora não consigo imaginar uma vida sem
ele.
— Você está se vangloriando? — Ristan zombou quando Ryder
sorriu para mim enquanto caminhávamos para o salão principal, onde
alguns membros da Guarda de Elite estavam se reunindo para que
pudéssemos planejar o que fazer com os portais fraturados.
— Estou. — Ele ronronou enquanto sorriu e piscou para mim.
— Deixe ele em paz. — Eu ri. — Amo esse sorriso.
— Deve. Você colocou lá, Flor. Ele nunca sorri assim para nós. —
Ristan zombou com uma piscada e acenou, enquanto seguia o caminho
para a sala grande e elegante.
— Você não faz o que ela faz para mim. — Respondeu Ryder, e um
rubor floresceu em minhas bochechas.
— Você está certo, não faço e nem vou tentar! — Ele riu, seus olhos
brilhando enquanto me observava remexer sob seu olhar conhecedor.
Foda excêntrica é algo que Ristan era especialista. — Alguma coisa de
Danu sobre os portais? — Ele girou em um ângulo estranho para
arranhar algo nas costas que parecia estar irritando quando mudou
para um tópico muito mais seguro.
— Não, ela está quieta por muito tempo. Tentei chamar de novo
ontem à noite, mas ela não me respondeu. Estou preocupada, isso não
é comum. Ela gosta muito de ser um incômodo, então esse silêncio me
preocupa.
— Talvez ela encontrou alguém para atormentar. — Ristan
murmurou baixinho, o que me fez pensar que merda aconteceu entre
eles. Danu esteve ausente cada vez mais desde que a turbulência neste
mundo aumentou – o que coincidiu com o momento em que Olivia e
Ristan começaram a passar mais tempo aqui na Terra dos Fae.
— Ela prometeu me treinar e, até agora, tenho certeza de que estou
estragando as ovelhas na Terra dos Fae. Outro dia, todo o rebanho
tentou escapar da baía assim que cheguei perto. E podia ver vocês se
contorcendo enquanto lutavam para não rir de mim.
Explodi uma ovelha, uma! Gah, eles agiram como se tivesse feito
intencionalmente.
— Pobre ovelha. — Ryder riu.
— Foi uma ovelha, uma! — Bufei. — Não é como se tivesse os
mesmos poderes de antes. Posso literalmente só mover meus dedos e a
merda explode. Ela precisa voltar e me ensinar como usar, antes que
os Magos cheguem e seja tarde demais para aprender.
Tínhamos acabado de entrar no salão principal quando Olivia se
aproximou de Ristan. Pelo canto do olho, notei que ela torcia as mãos
nervosamente, seus olhos estavam vermelhos e inchados e meu
coração deu um pulo quando me perguntei qual era a causa de sua
perturbação.
— Ristan. — Ela sussurrou, como se fosse só para os ouvidos dele.
— Preciso falar com você. — Ela mordeu o lábio com os dentes.
— Olivia. — Ele sorriu e a beijou, não se importando nem um pouco
com o fato de que todos estavam assistindo a sua troca. — Você está
linda, o que foi? — Ele gentilmente agarrou os ombros dela e olhou
para o seu rosto quando finalmente notou o inchaço.
— Preciso falar com você em particular. — Ela murmurou
apressadamente enquanto pulava nervosamente de um pé para outro.
— Olivia, estou bastante ocupado agora. — Respondeu Ristan
desconfortavelmente enquanto olhava ao redor da sala para a pequena
assembleia reunida. — Podemos falar sobre o que quer que seja depois?
— Isso não pode esperar mais. — Ela sussurrou impaciente. —
Preciso falar com você agora.
— Olivia. — Disse ele com cuidado. Os olhos dele captaram a energia
nervosa dela.
Cruzei os braços sobre o peito e assisti o desenrolar, posso dizer que
ele sentiu que algo estava errado, mas parece que não sentiu seu
pânico avassalador. Ela estava chateada e provavelmente visitou Eliran
como instruí. Ele normalmente podia ler ela, mas tínhamos muita coisa
acontecendo no momento, e sua preocupação por Ciara tirou muito
dele.
— Não posso sair agora. — Esclareceu Ristan pacientemente
quando ela não respondeu, seus olhos a observavam com confusão. Se
abaixaram lentamente para mãos dela que estavam segurando a parte
da cintura da saia que ela usava, como se tentasse segurar o pequeno
pedaço de tecido em busca de apoio. Os pés dela se embaralharam
quando ele lentamente trouxe os olhos de volta para os dela, um olhar
preocupado em suas belas profundezas.
— Estou atrasada! — Ela explodiu como se o segredo não pudesse
mais ser escondido. Oh, deuses. Suas mãos bateram em sua boca em
mortificação e ela olhou loucamente ao redor da sala em busca de
ajuda. Engoli em seco e pensei em como ajudar. Ela ergueu os ombros
e exalei enquanto ela continuou. — Estou atrasada e a culpa é sua. —
Ela rosnou significativamente enquanto cutucava o dedo no peito dele.
— Você não está atrasada, nós recém começamos. — Disse Ristan
lentamente, com um olhar cômico no rosto. Ele vacilou quando as
palavras dela começaram a afundar, e franziu a testa por um momento,
como se estivesse confuso sobre o que foi culpa dele. Hesitante, ele
tentou de novo. — Olivia, te enfeiticei e tentei te vestir para que você
não gastasse tanto tempo tentando descobrir o que vestir, mas você
não me deixou, então realmente não é minha culpa que esteja quase
atrasada para a reunião. Ainda não começou, então não tem razão para
ficar chateada, amor.
Eu ri silenciosamente com sua dedução triunfante, só para ver seu
sorriso murchar enquanto a observava, esperando por sua resposta. É
a única coisa que ele podia fazer ou estava só dizendo isso porque não
queria entender o que ela estava tentando dizer? Sufoquei um gemido
quando seus olhos se aproximaram dos meus com um pedido
silencioso de ajuda. Eu deveria oferecer a ela uma tábua de salvação,
mas queria lhe dar a chance de dizer a ele que ele seria pai.
— Estou atrasada. — Ela assobiou.
— Nós só... — Ele fez uma pausa enquanto entrei na conversa.
— Ela está atrasada, pois não menstruou. Ela não é amaldiçoada
pela Mãe Natureza há um tempo, e não será por algum tempo. —
Expliquei, e os olhos prateados rodopiantes se voltaram para mim, o
olhar de dor me pegou de surpresa quando seus olhos se moveram
entre mim e ela. O Demônio era ótimo com merda excêntrica, qualquer
posição sexual que você não pudesse nomear, ele poderia. Piadas? O
Demônio tem suprimentos infinitos à mão, e era uma enciclopédia dos
melhores filmes do mundo, mas, aparentemente, ele tem uma cabeça
dura. Este tópico pareceu passar direto sobre sua cabeça.
Assisti enquanto a cor de sua pele parecia flutuar entre vermelho e
voltar à sua habitual coloração de alabastro. E me perguntei se deveria
buscar um balde para ele ou Olivia para vomitarem seus biscoitos.
Ambos pareciam desconfortáveis, e os homens rindo ao nosso redor
não estavam ajudando a situação. Quando Ristan não disse mais nada,
continuei.
— Parabéns, você será pai. — Anunciei, gostando de poder
finalmente foder com ele. Afinal, ele me cortou e eu queria um pouco
de vingança, mesmo que o amasse por salvar meus bebês. Mas ele não
parecia feliz. Na verdade, parecia estar com raiva e machucado. Meus
olhos se moveram entre ele e Olivia, que estava assistindo à reação de
Ristan com uma mistura de horror e pânico. — Então, vamos chamar
a mistura de Demônio e Anjo de Dangel? Ou, o que realmente será? —
Perguntei, brincando sobre a combinação que melhor soava para aliviar
o clima.
— Não vamos chamar de nada. Não posso ter filhos. — Ristan
murmurou com raiva, o redemoinho em seus olhos prateados e pretos
frenético quando se prenderam aos de Olivia com um olhar de traição
e mágoa. Os cabelos da minha nuca se levantaram e engoli. Oh-oh.
— Bem, ela está tendo um bebê, seu bebê. Vocês provavelmente
deveriam fazer isso em particular, pense nisso. — Ofereci enquanto
meu estômago revirava com desconforto. Olivia não parecia o tipo que
dormia por aí. Ela ama Ristan, nisso eu apostaria minha vida. — Talvez
você deva falar com Eliran, acredito que ele possa ajudar vocês?
— Ela não está tendo meu filho. Não posso procriar. Alazander teve
certeza disso quando me esterilizou para que eu não fosse capaz de
criar vida. Ele não queria que eu adicionasse nada à piscina genética
da Horda. Então se certificou de que eu não seria capaz de procriar
quando tirou todo o resto de mim. — Ristan cuspiu furiosamente.
— Merda. — Ryder amaldiçoou quando seus olhos mudaram de
ouro para preto, sua raiva por seu pai pulsando profundamente.
— Bolas. — Sussurrei com uma careta.
— Isso não faz sentido. — Olivia chorou enquanto sua carranca
espelhava a minha enquanto as lágrimas deslizavam de seus olhos.
— É verdade. — Rosnou Ristan, sem precisar ler sua mente, percebi
que ele estava prestes a falar merda. — Não posso ter filhos, então se
você está esperando ...
— Não termine esse pensamento, Demônio. — Ordenei, e os olhos
furiosos e giratórios se voltaram para mim.
— Fique fora disso. — Ele sussurrou, e senti sua dor irradiando
profundamente dentro dele. Esta bela criatura queria bebês. Ele amava
os meus com uma ferocidade que só me fez amar mais o bastardo louco.
— Ristan. — Ryder avisou, mas dei um aceno com minha mão. Um
silêncio constrangedor encheu o salão enquanto todos esperavam para
ver o que aconteceria. Ristan olhou para mim e depois para Olivia,
enquanto Ryder olhava para mim. Ristan se mudou para Olivia e
colocou a boca perto do ouvido dela enquanto sussurrava para que
ninguém mais pudesse ouvir. Algo chamou minha atenção enquanto
esperávamos o que Olivia ou Ristan fariam em seguida.
Danu estava me observando do outro lado do grande salão, perto da
lareira apagada. Sua imagem brilhante, apareceu e desapareceu.
Assustada, pisquei, tentando encontrar ela de novo no salão
escassamente povoado, me virei, procurando por ela. Um toque suave
no meu ombro me virou para onde ela estava.
— O que você tem? — Soltei, mas ela levou um momento para
registrar minhas palavras.
— Eu fiz isso. — Sua voz era tão fraca que mal pude ouvir ela.
— Fez o que? — Perguntei com cuidado.
— Fiz isso por ele, Synthia. — Explicou ela, enquanto sua imagem
continuava brilhando e parecia ficar mais fraca a cada segundo que
passava. — Ele adora seus filhos, especialmente Kahleena, e merece
ser feliz com seus próprios filhos. Eu devia isso a ele. É o meu presente
para ele, a capacidade de poder reproduzir de novo, considerando tudo
o que ele perdeu, não é muito.
— O que exatamente você fez com ele? — Perguntei, sentindo a
tensão subir atrás de mim quando todos descobriram que eu estava
falando com Danu, que aparentemente desempenhou algum papel em
desfazer o que Alazander tinha feito a Ristan há muito tempo. Espero
que não seja nada tão estranho como substituir óvulos ou seus
pequenos nadadores pelos de outra pessoa.
— O que ocorreu entre Ristan e eu não é da sua conta, minha filha.
Você tem problemas maiores para se preocupar. Consertar a Árvore
não reparou a Terra dos Fae como esperávamos. Perdi o poder de ser
vista neste mundo, exceto pelos do meu próprio sangue. Estou
enfraquecendo. Algo muito maior está acontecendo, e você precisa
descobrir. A Terra dos Fae está com problemas, e eu também e se o
dano não puder ser consertado, deixarei de existir.
— Você está morrendo? — Perguntei quando minha garganta se
contraiu e lágrimas picaram nos meus olhos.
— Estou conectada à Terra dos Fae e ela está danificada. Você viu
os portais que não podem ser fechados. Se este mundo se conectar à
Tèrra5, vou desaparecer ao pó. Estou ligada a isso, Synthia. Você não.
Embora você possa sentir o que está acontecendo com a Terra dos Fae,
não está conectada no mesmo nível. Eu não poderia arriscar, não com
você.
— Por isso me trouxe de volta. — Sussurrei. — Porque se morrer,
alguém precisa tomar o seu lugar. — Exalei. — Você me amarrou aos
Fae e não a Terra dos Fae, de maneira que, se o mundo morrer, ainda
estarei amarrada aos Fae. Você sabia que isso poderia acontecer. —
Acusei. — Deveria ter me dito para que pudéssemos impedir que
chegasse tão longe. Você não me trouxe de volta para salvar a Terra
dos Fae, porque você já estava morrendo, o que significava que sabia
que a Terra dos Fae estava, não é?
— Eu fiz? Ou salvei egoisticamente minha filha da única maneira
que pude? Você é sangue do meu sangue e a única filha que não me
traiu. Você pode não entender, mas eu te amo muito, Synthia. — Ela
sussurrou. — Eu não poderia salvar este mundo e você. Tive que fazer
uma escolha. Escolhi você. Ao escolher você sobre esse lugar, os outros
notaram. Este mundo pode morrer, e você pode ter que abandoná-lo
em algum momento, mas não vai abandonar nosso povo. Sempre soube
que esse cenário poderia vir à tona, mas não tive dúvidas sobre sua

5 Lembrando que é como se referem ao nosso planeja terra.


lealdade no cenário geral. Se você não conseguir salvar este mundo,
tudo vai ficar bem. Vivi uma vida boa. Estou cansada.
— Não, não está tudo bem, Danu! — Gritei. — Se não salvarmos
este mundo, você morre, correto? Você se amarrou àquela maldita
árvore e ela não pode viver fora da Terra dos Fae, porque é o coração
deste mundo. Me diz o que fazer, me diz agora como consertar. —
Chorei. Minhas mãos se fecharam enquanto meus olhos ardiam com
lágrimas não derramadas. Lutei para manter a calma e para manter a
respiração sem me quebrar. — Não, me diz o que preciso fazer e farei.
— Não é tão simples assim. Tem outras coisas acontecendo no
mundo humano, e este mundo não é o único que está desmoronando.
Algo está perturbando o equilíbrio, e isso não é algo que podemos
controlar. Isso é maior que nós, filha. Farei o que puder para proteger
seus filhos pelo tempo que puder. Encontre o Cervo, ele pode saber
mais sobre os portais do que eu. Ele pode treinar você, Synthia e ele
pode ajudar onde eu não posso.
— Não quero que o Cervo me treine, quero você. Quero minha mãe.
— Argumentei, sabendo que ela não podia fazer isso. Senti como se
estivesse perdendo Danu, e que ela estava bem com isso acontecendo.
Por que ela não estava brigando? Por que não estava chateada?
— Porque escolhi você e, se dada a chance de fazer de novo, eu
escolheria você toda vez. Interferi e, se esse for o custo, terei prazer em
pagar. Diga a Ristan que sinto muito. Sinto por tudo o que seu pai lhe
fez e por não ter conseguido parar ou mudar, porque não devo interferir
diretamente. Já estou pagando o preço por desafiar eles, interferindo
com você. Portanto, não tem mais nada que eles possam fazer comigo
se eu interferir por ele agora. É por isso que posso devolver o que lhe
foi tirado fisicamente, quando não pude ajudar ele antes. Durante
séculos, ele me serviu fielmente e ele merece pelo menos isso. Só espero
que seja suficiente para restaurar tudo o que foi perdido. Meus poderes,
no entanto, não estão no máximo. — Sua voz era suave e cheia de
arrependimento quando sua forma brilhou e diminuiu e ela começou a
desaparecer da minha vista. — Amo você, filha, mais do que você
jamais poderia saber.
— Danu! — Gritei quando ela desapareceu. — Volte aqui! — Girei
em um amplo círculo enquanto a procurava. Parei quando meus olhos
se prenderam a Ryder como uma tábua de salvação e corri para seus
braços, enterrando meu rosto contra seu peito. As palavras de Danu
drenaram o calor do meu mundo, mas Ryder o recarregou quando seus
braços me envolveram enquanto sentia minha dor.
— Que porra Danu fez agora? — Ristan estalou com raiva, não o
culpo, mas estava com dor também.
— Ela me escolheu. — Sussurrei enquanto ignorei Ristan e olhei
nos olhos cor de âmbar que centralizavam meu mundo e impediam que
ele oscilasse além do limite. Ele me ancorou. — Ao me trazer de volta,
ela me escolheu, e sua própria vida agora está na balança como o preço
da minha. Ela está morrendo. — Engoli um soluço enquanto os braços
de Ryder me seguraram e me impedia de cair quando minhas pernas
se recusaram a me apoiar devido à dor que passava através de mim
enquanto eu dizia as palavras em voz alta. Quando encontrei meu
equilíbrio, me virei e olhei para Ristan, que estava congelado no lugar,
com um olhar de incerteza no rosto. Lágrimas queimaram e ameaçaram
cair. — Não sei o que aconteceu entre vocês dois, mas desde que vocês
dois escolheram nos deixar no escuro sobre isso, que assim seja. O que
quer que tenha acontecido, está no passado, então deixe lá. Danu está
morrendo. O que quer que tenha acontecido, não importa mais porque
temos um problema muito maior do que os portais quebrados. A Terra
dos Fae está morrendo. Precisamos trabalhar juntos para descobrir
como salvá-la. Ela disse que consertou o que Alazander quebrou e que
seus meninos... — meus olhos se moveram para o pau dele e voltaram
para ele com significado — podem nadar de novo. Fez parecer que você
pode ter outras coisas de volta, mas não disse quando. Parece que foi
o presente de despedida dela para o que quer que tenha acontecido
entre vocês, mesmo que não tenha dito isso. Só disse que não deveria
interferir e não foi até que quebrou as regras comigo que foi capaz de
fazer isso. Sem a Terra dos Fae, não tem Danu. Então, neste momento,
precisamos consertar este mundo e você pode voltar a odiar ela.
— Danu não pode morrer. — Ristan argumentou suavemente. Seus
olhos falavam de seus medos, mas não era por ele ou Olivia. Não tinha
gratidão pelo que quer que ele tenha de volta, só medo por Danu. Engoli
minha raiva e balancei minha cabeça. O que quer que tenha acontecido
entre os dois, ele a amou uma vez. Profundamente.
— Ela pode morrer pois está ligada à Terra dos Fae. Estou amarrada
ao povo e até que o último Fae respire, eu vou existir. Ela me disse
várias vezes que não podia interferir diretamente em nossos assuntos,
mas quando morri, ela me trouxe de volta. Ela deu sua vida pela minha,
e não aceito isso. Temos que consertar o que tem de errado com a Terra
dos Fae.
— Nós vamos, Synthia. — Ryder me assegurou. Sua mão deslizou
na minha e ele me puxou para perto de seu calor acolhedor. — Vamos
salvar ela, porque é o nosso mundo.
— Serei pai. — Ristan sussurrou, e me virei, observando enquanto
ele beijava Olivia profundamente com um olhar de admiração que
nunca vou esquecer. Por qualquer merda que Danu fez com ele, parece
que ela tentou acertar. Só não tenho certeza se era uma recompensa
por uma vida inteira de serviço, expiação ou ambos.
— E Ciara? Ela ainda está lá fora e pode se machucar. — Dristan se
perguntou em voz alta.
— Ciara é forte. Ela é esperta e vai ganhar tempo até que possamos
alcançar ela. — Ryder murmurou enquanto beijava o topo da minha
cabeça. — Vamos encontrar ela. Pode não ser hoje ou amanhã. Mas
vamos encontrar ela, tenho certeza disso. E quem levou ela, vai
entender o que a dor realmente é.
Andei no quarto das crianças, lentamente vendo os brinquedos e os
berços vazios. Meu coração parecia que estava se partindo, meu dever
com o reino e meus filhos deveria ser o mesmo, e ainda assim, para
salvar um, tive que mandar outro embora.
— Synthia. — A voz de Liam me assustou quando ele se materializou
dentro do quarto.
— Como se transportou aqui? — Exigi, a mão cobrindo meu coração.
— Ryder nos deu marcas específicas para poder fazer isso, ele queria
te surpreender hoje, já que Madisyn está vindo para ajudar nos planos
do casamento.
Ah sim, hoje vou me preparar para o vestido. Aquele em que andaria
pelo corredor e prometeria minha vida ao meu Rei e Reino.
— Estou surpresa. — Fiz uma careta, tentando não parecer
decepcionada por ele não ter trazido meus filhos com ele.
— Não, não sou a surpresa. — Ele riu, seus olhos tricolores sorrindo
enquanto franzi a testa. — Está aqui. — Ele girou a maçaneta para a
outra porta que dava para o quarto de jogos do berçário.
E vi quando ela se abriu e o belo som de bebês brincando me
cumprimentou, entrei e encontrei Ryder já no chão com nossa filha no
colo. Ele olhou para mim e sorriu, exalei e afundei lentamente no chão
na frente dele quando aceitei Cade de Sinjinn, que sorriu.
— Pensei que você poderia ter um lembrete de porque estamos
lutando tanto para salvar este mundo. — Ryder murmurou enquanto
beijava os cachos platina de Kahleena. Eles cresceram e, enquanto os
observava, Kahleena se levantou e deu um passo vacilante em minha
direção com as mãos estendidas.
— Ela pode andar? — Engoli.
— Ela está começando. — Ryder comentou quando se virou para
assistir Zander rastejando para nós. — Eles cresceram um pouco desde
que foram embora.
— Perdemos os primeiros passos dela? Os primeiros passos deles?
— Perguntei quando senti minha garganta apertar. — O que mais
perdemos? — Olhei para Liam quando ele se sentou ao meu lado, a
cicatriz em seu rosto apertando enquanto ele sorria. E assisti o sorriso
dele desaparecer enquanto lágrimas brilhavam nos meus olhos.
— Eles dizem algumas palavras agora, principalmente “mamãe”,
quando enfeitiçamos sua imagem para eles. Eles dizem “Fada” quando
mostramos Ryder, porque acho que você chama ele assim. — Disse
Liam com orgulho. — Eles são espertos. Mamãe diz que eles são mais
espertos do que a maioria dos bebês que ela já viu, e tenho certeza de
que eles já podem transportar. Kahleena está fazendo o maior
progresso. Ela é muito inteligente e determinada. Ela parece estar no
comando e os outros seguem sua liderança.
Sorri, eu avisei que minha filha ficaria encarregada de seus irmãos.
Seus dedos minúsculos tocaram meu rosto e sorri enquanto olhos
âmbar brilhavam no meu rosto e ela fez um barulho suave que puxou
meu coração, sabia que eles poderiam crescer um pouco, mas
perdemos muitas coisas no curto espaço de tempo em que estiveram
longe de nós.
— Mamãe. — Ela murmurou e depois riu animadamente.
— Você é tão grande agora. — Sussurrei quando me inclinei e beijei
seu nariz e testa. — Senti tanto a falta de todos vocês.
— Ela é como você. — Ryder bufou enquanto estendia a mão para
Zander, que tentou mostrar suas habilidades loucas com a caminhada
e acabou caindo de bunda depois de um momento. Seu pequeno lábio
sobressaiu quando fez beicinho, mas Ryder estendeu o dedo para a
mão minúscula de Zander e o ajudou a se levantar para que ele pudesse
caminhar a curta distância até seu pai. — Ei, Zander. — Ryder
sussurrou quando o puxou para perto e beijou sua cabeça escura.
— Deuses nos salvem se eles forem como você, Fada. — Eu ri
enquanto sorria para ele por cima da cabeça de Kahleena.
— Fada. — Cade disse em uma voz minúscula que me fez jogar a
cabeça para trás e latir de tanto rir.
— Você é incorrigível. — Ele rosnou enquanto nivelava seu olhar
com o de Cade e dizia “papai” várias vezes.
— Pa-pai. — Ele disse assistindo Ryder, seus olhos azul-arroxeados
iluminando com realização enquanto ele repetia.
Teve uma batida na porta e barulho quando Ristan e Olivia
entraram, os outros se aproximando. Um a um, a Guarda de Elite se
amontoou e se aproximou das paredes, até estarmos todos sentados
juntos com as crianças no meio.
— Vamos precisar de mais espaço em breve. — Ryder resmungou
de brincadeira. As crianças não eram exatamente abundantes na Terra
dos Fae, então cada criança era considerada uma alegria e uma bênção.
Mesmo com esse entendimento, sei no fundo do coração que seus
irmãos adoravam nossos filhos mais do que os Fae comuns sentiam
pelos jovens deste mundo, e nunca os impediríamos de visitá-los, pois
sabíamos que eles sentiam falta deles. Tanto quanto nós.
— Sim, vamos. — Concordei com um sorriso e assisti enquanto
Kahleena se levantava e se aproximava de Ristan, fazendo com que ele
soltasse uma maldição quando ela começou sua caminhada
desajeitada em sua direção.
— Ela caminha? — Ele sussurrou, provavelmente para não a
assustar enquanto ela balançava na direção dele. — Ela não podia nem
rastejar quando saiu. — Ele ofegou quando ela quase caiu, assisti
Olivia enquanto ela observava Ristan, toda vez que Kahleena quase
caía, ele se aproximava um pouco mais. E pude ver o esforço dele para
não se mover para ela e realmente permitir que minha filha chegasse
até ele.
— Ristan. — Ela murmurou quando finalmente o alcançou. Seu
queixo caiu e sorri, sim, ela era muito durona para uma criança. Ela
se inclinou contra ele e apoiou a cabeça no peito dele, enquanto
colocava o polegar na boca e me observava.
— Ela acabou de dizer meu nome. — Ele riu nervosamente. — Faz
só alguns dias.
— Eles cresceram muito. — Explicou Liam quando Sinjinn assentiu.
— Eles começaram a exibir magia, o que é muito raro nessa idade.
Nós os vimos trazer objetos para si mesmos quando querem algo. Dois
dias atrás, o ursinho de pelúcia de Zander parecia ganhar vida e estava
conversando. — Acrescentou Sinjinn. — Eles são agitados, mas quando
sentem que é esmagador para nós lidarmos, eles puxam e se acalmam.
É como se eles pudessem sentir nossas emoções. Teve alguns sinais de
que eles estavam transportando, mas ninguém realmente os pegou
fazendo isso, e não tenho certeza se já ouvi falar de algum Fae que já
tenha se transportado quando criança.
— Eles não são crianças. — Apontei e observei Ryder absorver o que
estava sendo dito. — Além disso, puxei Adam para mim. Ele era meu
familiar e lembro que minha mãe adotiva me contou sobre a magia que
fiz quando criança.
— Você é a verdadeira filha de Danu e tem o sangue dela,
animalzinho. Você também era metade Fae, então é lógico que seria
mais poderosa. — Ele argumentou enquanto tentava embalar Zander,
que não fazia parte disso. Eu vi quando ele se acomodou no colo do pai
e sorriu para mim.
— Sua mãe está lá embaixo. — Olivia falou suavemente. — Você tem
bolo para provar e vestidos para olhar hoje. Nós vamos ficar com os
bebês até que você termine. — Ela ofereceu timidamente enquanto suas
bochechas coravam de vergonha. — Eu acho que preciso da prática.
— Eles acabaram de chegar. — Fiz uma careta. — Isso não pode
esperar?
— Madisyn está animada para o seu grande dia. — Liam riu quando
se levantou e estendeu os braços para pegar Cade. — Ouvi dizer que a
celebração que Kier e Mari fizeram para você vai empalidecer em
comparação com a grandeza da celebração que nossa mãe planejou
para você.
— Não sei por que ela está planejando uma comemoração tão
grande. As últimas não correram muito bem... — Ristan resmungou
baixinho quando Olivia lançou um olhar curioso. — A última quase foi
a minha morte.
Dei a Ristan um olhar azedo quando abracei Cade e beijei sua
bochecha gordinha antes de entregá-lo ao meu irmão.
— Vamos garantir que você tenha algum tempo com eles antes de
voltarmos para casa. — Liam me assegurou.
Levantei e tirei o pó da bunda enquanto observava Ryder deixar
Zander e se virar para mim. Eu não queria planejar meu casamento,
queria só abraçar meus bebês e dormir ao som de seus barulhos doces.
— Vamos, Animalzinho. — Ryder disse enquanto pegava minha mão
e nos transportava para fora do berçário.
Eu estava sentada em uma mesa com Ryder, e parecia que testamos
todos os tipos de bolos já feitos. Tinha chocolate decadente, red velvet
e muito mais que perdemos de vista. Madisyn trouxe o chef da Tèrra
para fazer o bolo de casamento e os secundários que acompanham para
a Horda (literal e figurativamente) de Fae que viria para o casamento.
Ryder me disse com orgulho que o chef fazia parte de todo o “casamento
humano de conto de fadas” que ele estava tentando me dar.
— Isso é bom. — Ryder comentou enquanto colocava um bolo de
chocolate escuro com creme de manteiga na minha boca.
— Mmm. — Gemi em resposta. — Isso é muito bom.
— Tem vários outros para testar. — Disse Madisyn enquanto servia
a própria colherada de bolo e cantarolava enquanto balançava a
cabeça. — Isso é muito bom. Talvez devêssemos pedir que ele faça
pequenas amostras de cada tipo de bolo para os convidados. Você sabe,
como aqueles petit four6?
O chef ficou em pânico por um momento enquanto eu sorri e
balancei a cabeça.
— Acho que não será necessário e, só para constar, não posso mais
comer bolo hoje. — Limpei a boca e coloquei o guardanapo em cima da
mesa. — Gosto do chocolate amargo com a cobertura de creme de
manteiga para o bolo principal, você? — Olhei para Ryder quando ele
lambeu a cobertura de seus lábios.
— A escolha é sua. — Ele sorriu e não pude deixar de sorrir de volta.
— É o nosso dia. — Respondi. — Isso significa que você pode
escolher também, e como não vai ver meu vestido nem vai escolher,
você pode escolher o bolo.

6 é uma massa pequena e doce ou salgados da pastelaria clássica na culinária francesa.


— Chocolate amargo com cobertura de creme de manteiga. — O tom
de Ryder estava comandando, mesmo que ele me observasse com um
sorriso perverso que puxou meu coração.
— Precisamos de um design. — Disse Madisyn enquanto pegava o
catálogo e começava a folhear. Ela apontou várias ideias exageradas e
extravagantes. — Este é o meu favorito. — Disse ela, apontando para
um bolo com mais camadas do que qualquer um poderia precisar.
Engoli um gemido quando ela e Ryder começaram a discutir cores para
celebrar cada casta, bem como os representantes das outras criaturas
que habitavam a Terra dos Fae, que ele convidou para estar presente
durante a celebração. Isso significava que criaturas como Goblins,
Dearg Due, Chapéu Sangrento e Púcas estariam presentes, assim como
o anfitrião Sluagh7. Bem o que todo casamento de conto de fadas
precisava.
— Vermelho, preto, branco e ouro. — Madisyn concordou, dando
instruções detalhadas ao chef, que parecia um pouco perturbado por
seus projetos detalhados.
Puxei o catálogo em minha direção e comecei a examinar,
encontrando bolos menores com desenhos menos detalhados. Eu ainda
não estava convencida a ter um casamento enorme. Algo menor e
íntimo ficaria bem, mas eu não queria magoar os sentimentos de
Madisyn ou os de Ryder, já que ele também estava pressionando por
um casamento grande e elaborado que fizesse uma declaração para
todo o mundo Fae.

7 Goblins: criaturas geralmente verdes que se assemelham a duendes. Fazem parte do folclore nórdico, nas lendas eles vivem fazendo
brincadeiras de mau gosto. Podem ser equiparadas aos trasgos e tardos do folclore português. Dearg Due: Na lenda celta, significa
“sugadora de sangue vermelho”, é um demônio feminino – uma linda mulher irlandesa – que assombra as florestas na noite de Halloween.
Red Caps/Chapéu Sangrento: originários da mitologia escocesa/celta, são seres pequenos, variando entre duendes, fadas ou elfos
assassinos, que vivem em ruínas de castelos e torres, de preferência com um passado obscuros. Geralmente sem cabelos, com arcada
dentária deformada, pele enrugada e olhos vermelhos sedentos, eles trajam pesadas botas de ferro, armas semelhantes a bastões e
chapéus banhados no sangue de suas vítimas. Púcas é uma criatura travessa da mitologia e do folclore irlandês e galês, é uma das
várias espécies relacionadas aos elfos e fadas que se divertem em atrapalhar e até causar a morte de viajantes. Sua aparência nunca
foi descrita, pois ele a muda constantemente. Na maioria das descrições, aparece como um pequeno cavalo negro possuidor de uma luz
nas narinas e outras vezes, na boca, porém, é descrito como sendo um coelho, um macaco, um duende marrom e em outras descrições,
um misto de corvo e com o corpo feito de fumaça. Sluagh: No folclore irlandês e escocês eram os espíritos dos mortos sem descanso.
Algumas vezes eram encarados como pecadores, ou, geralmente, pessoas maléficas que não eram bem-vindas seja no céu seja no
inferno, ou mesmo no Outro Mundo pagão, tendo sido rejeitados pelas divindades celtas e pela própria terra.
— Synthia? — Ryder chamou e olhei para cima. O bolo que eles
criaram ocupou a mesa inteira. — Este?
— Isso é bolo suficiente para alimentar a China. — Sussurrei com
uma careta.
— Muitas pessoas vêm ao casamento. — Explicou. — Vamos
precisar de cinquenta ou mais bolos para alimentar a multidão.
Engoli em seco e forcei um sorriso.
— Parece ótimo. — Sendo Fae, nenhum deles percebeu que menti.
Esperei que voltassem ao planejamento e continuei a ler o catálogo.
Meus olhos deslizaram sobre um bolo feito para parecer um tronco de
árvore, e na geada marrom clara do tronco tinha iniciais gravadas no
centro de um coração. Sorri, virando a página para ver o outro lado que
dizia: “E eles viveram felizes para sempre”. Puxei a página do livro
enquanto os outros discutiam planos para a ordem, teria chocolate
suficiente para matar vinte homens adultos. Então, ouvi Madisyn e
Ryder darem ordens para o bolo monstro. O pobre chef parecia ter um
ataque cardíaco até Ryder lhe dizer que ele só precisaria fazer o bolo
enorme principal e vários bolos menores, e os Fae seriam capazes de
reproduzir seu trabalho para a multidão.
— Hora do vestido? — Madisyn perguntou e balancei minha cabeça.
— Local, onde vamos nos casar? — Perguntei, e ela parecia confusa.
— Aqui, é claro. Você está se casando com a Horda, então é
apropriado que seja feito aqui. A menos que queira se casar em uma
capela ou igreja como os humanos. — Ela franziu a testa e acho que
não poderia culpá-la, pois um castelo parecia mais um conto de fadas
do que uma capela. Obviamente, com base na escala de que Madisyn e
Ryder estavam falando, não seríamos capazes de encaixar todos em
uma capela, a menos que alguém tivesse um feitiço de sala extensível
que pudessem lançar nela!
Quando terminamos o planejamento, todos nós tínhamos algumas
linhas sérias. Balancei a cabeça e concordei que era bom fazer aqui, e
os vi piscar um para o outro enquanto fui escoltada por Ryder para o
grande salão, que foi decorado em carmesim, vermelho e dourado.
Pequenos vaga-lumes iluminavam as mesas e, quando me aproximei,
percebi que eram fadas. Pétalas de rosa vermelhas brilhantes foram
misturadas com brancas para cobrir o chão da sala inteira. Foi um
espetáculo de se ver, mas parecia errado, e quanto mais olhei em volta,
mais me senti oprimida pelo processo.
Madisyn queria isso, Ryder concordou porque pensava que era o
que eu queria, e concordei porque não queria magoar os sentimentos
de ninguém. Eu me casaria com Ryder nua nas Piscinas de Fadas, se
dependesse de mim. A mão de Ryder apertou a minha e olhei para cima,
encontrando seus olhos dourados procurando no meu rosto.
— Você não gosta? — Ele adivinhou, e eu engoli em seco.
— É lindo. — Respondi, porque realmente era, simplesmente não
era eu.
— É perfeito! — Madisyn gritou, e sorri com sua excitação. — São
nossas cores misturadas às dele, é claro que a Horda e os Fae de
Sangue nunca foram unidos, então a escala do evento será enorme. A
versão cerimonial real será assim. — Ela acenou com as mãos. Chamas
irromperam das velas enquanto ela movia as coisas para revelar fileiras
sentadas que se estendiam mais longe do que a sala permitia. A sala
nadava em tons de âmbar com tapetes vermelhos com pétalas brancas
cobrindo. — É assim que será, para começar.
— É bonito. — Assegurei a ela enquanto me observava.
— É demais? — Ela olhou para mim e Ryder, incerta.
— Nem um pouco. Vestidos? — Tentei não me encolher quando ela
bateu palmas alegremente.
— Preciso de uma lista de quem você quer para as damas de honra.
— Ela estava ocupada olhando para sua lista quando seu pedido
imediato me atingiu como um soco no estômago.
Fiz uma pausa, meu estômago caiu e balancei a cabeça.
— Eu realmente não tenho ninguém. — Respondi suavemente. O nó
na minha garganta ficou preso, minhas mãos suaram e meus olhos
ficaram nublados quando engoli a dor. Larissa deveria estar aqui, ela
deveria ser minha vadia de honra. Planejamos essa merda e agora ela
se foi. — Não preciso de ninguém.
— Você tem que ter alguns amigos? — Confusão tocou seus belos
traços, e ri.
— Posso perguntar a Adam. — Respondi. — Ele será minha dama
de honra, ou talvez ele possa ser o homem de honra. Tenho certeza que
ele não vai precisar de um vestido. — Sussurrei com voz rouca. —
Devemos experimentar o vestido de noiva. Quero voltar para os bebês
o mais rápido possível.
— É claro. — Ela murmurou baixinho, como se algo estivesse preso
em sua garganta.
Três horas depois, eu estava na frente do espelho no que deveria ter
sido o quinquagésimo vestido que Madisyn me fez experimentar. Tinha
um corpete de joias, que ela me informou que eram diamantes
genuínos. Correntes finas de ouro cruzavam as costas para prender o
corpete. A saia era enorme e com jardas de tecido que uma costureira
segurava em seus braços, ou tentava. Era pesado e, apesar de bonito,
era demais.
— É isso! — Madisyn bateu palmas.
Fechei os olhos quando me virei para olhar ela e balancei a cabeça.
Não era o meu vestido.
— Você pode fazer um vermelho? — Perguntei, observando a
costureira franzir a testa e assentir.
— Não é tradicional. — Ela ofereceu.
— Diga isso a todas as noivas hindus ou chinesas. — Resmunguei
quando Madisyn me ajudou a tirar o vestido pesado, e sorri quando a
costureira caminhou até o guarda-roupa e enfeitiçou uma adorável
criação de vermelho.
— Vermelho? — Madisyn perguntou enquanto mordeu o lábio e
tentou descobrir o que eu estava fazendo.
— Fae de Sangue. — Respondi enquanto aceitava o vestido e o vestia
com cuidado. O design era simples, uma cintura alta e um corpete sem
alças, com rendas vermelhas costuradas no design. A saia carmesim
caiu em dobras graciosas no chão. Não era o que eu escolheria se o
casamento fosse meu, mas era adorável.
— Você está linda. — Madisyn sussurrou enquanto enxugava as
lágrimas. — É esse.
— É. — Sorri. — Agora, quero ver meus bebês. — Resmunguei
quando mudei com um pensamento simples e gostei do tecido macio
que cobria meu corpo.
— Vamos ver eles então, você merece. — Ela respondeu enquanto
deslizava os dedos pelos meus e nós a transportamos ao berçário.
Os homens estavam observando os bebês quando entrei. Cada um
sorriu e continuou brincando com os bebês. Ryder sorriu e me
observou enquanto caminhei em sua direção e me abaixei para sentar
entre suas pernas.
— Você encontrou o vestido? — Ele murmurou contra o meu ouvido.
— Encontrei.
— Não fique muito apegada a ele, porque não prometo que estará
em uma peça depois que você proferir as palavras “eu aceito”.
— É mesmo? — Zombei quando Cade se virou, olhou para mim e
riu.
— É absolutamente verdade. — Ele riu enquanto passou os braços
em volta de mim e vimos as crianças brincando com seus irmãos.
Tínhamos que encontrar Ciara, porque, se não a encontrássemos,
ela perderia a infância inteira deles.
Passei uma hora com a organizadora de casamentos, que ofegou
com cada um dos meus pedidos e balançou a cabeça. Sei que era
estranho, mas tem alguns toques meus que quero acrescentar ao meu
casamento. Não entendi por que precisávamos de um planejador de
casamentos, Madisyn era como uma planejadora de casamentos com
esteroides e excesso de Red Bull. Depois que terminei, encontrei Ryder
no salão principal e expliquei que precisava me encontrar com Lucian,
interrompi sua resposta mal-humorada com uma mão enquanto
inclinava a cabeça e o encarava.
— Você vai procurar sua irmã. Nossos filhos estão de volta onde
estão seguros, e preciso falar com Alden. Não vou derrubar o castelo de
cartas no edifício de Lucian, e você precisa procurar por Ciara. Se não
conseguir encontrar ela até o casamento, Adam será meu homem de
honra.
— Você não vai poder me chamar se precisar de ajuda. — Rosnou.
— Vou levar Ristan e Adam comigo. — Argumentei. — Vou deixar
um grupo inteiro de babá, por isso não posso levar uma parte da
guarda armada comigo, e você sabe disso. Chama mais atenção do que
ajuda. Ristan vai chamar você se algo der errado. Te encontro aqui hoje
à noite, e então você pode me espancar por me comportar mal.
— Veja se Lucian descobriu mais alguma coisa sobre os portais... e
Syn, não preciso que você seja ruim para bater nessa bunda. — Ele
sorriu como lobo.
— Se cuide ou posso te amarrar e bater na sua bunda. — Avisei.
— Pode tentar, será interessante assistir. — Ele riu enquanto me
beijava. — Seja boa, bruxa, e não seja corajosa ou tente salvar alguém
quando eu não estiver com você.
— Tudo bem, não serei uma supermulher, entendi. — Brinquei
enquanto o beijava de novo e enfeitiçava calças de couro com uma
camisa branca que dizia: “Bruxas fazem melhor” no peito. — Prometo
não salvar nenhum animal vadio, lição aprendida.
— Espere, você acabou de admitir que aprendeu alguma coisa? —
Ele riu quando o olhei furiosamente.
— Cuidado. — Avisei enquanto me afastava. — Chame meus
guarda-costas, oh ancião. — Eu ri.
— Essa idade me dá a capacidade de saber coisas, como fazer você
gritar meu nome a noite toda, então não desdenhe, menina.
— Oh, ele tem habilidades. — Pisquei enquanto me remexia, dando
a última palavra já que ele não conseguia falar na minha mente. Entrei
na biblioteca e espiei por cima do ombro de Ristan enquanto ele
folheava uma brochura de Parenting for Dummies8. Eu ri e olhos
prateados e pretos se voltaram para mim. — Isso não vai ajudar. Você
sabe o que fazer, além disso, ouvi dizer que esse livro tem alguns
conselhos bastante impraticáveis.
— Eu só estava curioso, e algumas dicas aqui parecem muito boas.
Não que exista muitas dicas que um humano com doutorado possa dar
que se aplicará a uma criança que terá uma mistura de características
como a minha. As crianças demoníacas e Fae têm suas próprias
peculiaridades e são diferentes das humanas, então temos que levar
em consideração a paternidade única de Olivia, e não, não vou caçar
Elijah para conversar sobre as tendências das crianças angelicais. —
Ele disse enquanto balançava a cabeça.
— Olhe pra mim, Demônio. — Exigi suavemente enquanto apertava
seu rosto entre minhas mãos quando ele se virou. — Você entende disso

8 O título traduzido seria Paternidade para leigos, é uma revista que fornece o conhecimento e as habilidades necessárias para ser pai
de crianças saudáveis e felizes.
e sabe que sim. Você segurou meus bebês, me ajudou com meus bebês.
Vai se sair bem.
— Não posso acreditar que ela já pode andar e falar. — Ele bufou
quando sua testa se enrugou um pouco, como se estivesse mais
chateado por ter perdido o tempo de seu bebê. — Kahleena não deveria
crescer, eu queria que ela ficasse pequena por, bem, para sempre. —
Ele riu.
— Concordo. — Murmurei. — Meus filhos são muito durões, mas
me assusta que eles já possam fazer tanta magia. O que me assusta,
no entanto, é que, se eles já podem tanto, o que vai acontecer quando
forem mais velhos?
— Eles vão nos pegar. — Ele respondeu, e fiz uma careta.
— Na verdade, preciso de sua ajuda em algumas coisas. Coisas
secretas. — Provoquei com um sorriso travesso. — Preciso que as
notícias do casamento cheguem a todos os cantos deste mundo e do
meu. Quero que grite dos telhados.
— Flor, se gritar dos telhados, todo mundo vai saber quando vai
acontecer.
— Quase todo mundo já sabe. — Resmunguei. — Tem uma pessoa
que preciso que ouça. Preciso dele aqui, mal posso esperar por ele.
— E por ele você quer dizer...? — Ele hesitou, estreitando os olhos
enquanto me observava.
— Não faça perguntas para as quais você não quer a resposta. —
Murmurei quando me virei e observei Adam entrar na sala.
— Existe uma razão pela qual Dristan acabou de me dizer que vou
ficar bem num vestido? — Perguntou, olhos verdes sondando os meus.
— Preciso que você seja minha dama de honra. — Sussurrei tão
baixo que sabia que ele não me ouviu, foi um teste, porque parecia
ridículo escorregar da minha língua.
— Desculpe? — Ele gaguejou, parando enquanto olhava para mim.
— Não tenho ninguém para ser minha dama de honra, ou damas de
honra, por falar nisso. — Respondi emocionada. — Larissa deveria ser
minha dama de honra, mas não vai poder ser. Ciara está desaparecida,
e se eu pedir a Darynda, várias servas vão ficar irritadas... além disso,
se eu perguntar, Madisyn vai ficar chateada por causa de toda essa
merda de hierarquia de castas. Fora essas duas, não conheço as
mulheres aqui o suficiente para serem minha dama de honra, então
tem que ser você, Adam. Você é meu melhor amigo. Mas não terá
vestidos para você. — Eu ri nervosamente.
— Synthia. — Ele resmungou enquanto me observava. — Tudo bem,
mas não vou segurar a mão de ninguém enquanto ando pelo corredor,
e serei o homem de honra. Darei um soco no primeiro idiota que me
chamar de dama de honra.
— Fechado. — Eu ri.
— Você não ouviu o resto. — Alertou.
— Não? — Isso não poderia ser bom.
— Não, Keir quer que eu case com a Herdeira da Luz quando a
encontrarmos, então vou precisar de um padrinho. Será você. — Ele
piscou enquanto se dirigia para a mesa olhando para o livro que Ristan
estava lendo. — Droga, você sabe mesmo que raça será?
— Não faço ideia, e não faço ideia de como chamar. — Admiti.
— Não será chamado de Dangel. — Resmungou Ristan.
— Isso parece errado. — Sorri, vendo como ele deu de ombros. —
Gostaria de saber se terá asas e cauda, provando que estamos todos
errados por sermos perfeitamente imperfeitos, assim como o pai dele.
— Reze para os deuses que ela não faça. Partes demônios têm uma
tendência a matar facilmente.
— Ela? — Sorri.
— Kahleena precisa de ajuda, ela está em menor número. — Ele
respondeu enquanto se levantava. — Vamos? Estamos desperdiçando
a luz do dia. — Meus olhos percorreram os outros livros que ele estava
lendo. Rito Dragão De Fogo, Mapas do Território do Dragão e A Arte do
Kama Sutra Durante a Gravidez.
— Kama Sutra durante a gravidez, hum? — Sorri e ele também
enquanto empurrava os livros em uma pilha arrumada na mesa de
madeira grossa.
— As mulheres ficam mais excitadas durante a gravidez e sempre
procuro maneiras de melhorar a experiência sexual da minha
companheira.
— Uau, olhe para você, aprimorando essas habilidades. — Ri
quando ele estendeu a mão. — Vamos invadir um clube de sexo, porque
não tem nada como um pouco de leitura antes de ir a um clube de sexo
pago, estou certa? — Bufei enquanto ele ria.
— Eu tenho todo o sexo que preciso agora, obrigado.
Ristan abriu um portal para nós, que nos deixou só alguns passos
das portas do clube. Atravessamos o portal e ele se fechou com um
estranho fluxo de ar atrás de Ristan. Sorri para o segurança quando
seus olhos leram as palavras impressas nos meus seios.
— Fazem realmente? — Ele ponderou enquanto levantava os olhos
para os meus.
— Claro, fazem tudo melhor. — Sorri quando ele acenou em direção
ao clube.
— É um festival de merda lá. Pode querer colocar isso. — Ele disse,
estendendo o braço me entregando um colar.
Lembrei do meu ataque quando Ryder tentou colocar um colar em
mim.
— Bane, você está tentando me encoleirar, garoto? — Eu ri.
— Eu não sonharia com isso, Bruxa. — Ele respondeu suavemente.
— Lucian está lá dentro, ele imaginou que você estava chegando. E já
enviou um carro para Alden. Ele deve chegar em breve.
— Ele é intuitivo, não é? — Perguntei, enquanto seguia Ristan pela
porta e com meus poderes examinava o colar. Quando determinei que
não tinha nada de magia nele o prendi em volta do pescoço. Lucian
dirigia um clube de sexo, um onde principalmente criaturas de outro
mundo e alguns seres humanos encontravam libertação da charada
cotidiana e chata que viviam.
— Lucian tenta antecipar e saber o que pode ser necessário antes
que seja necessário. — Ele sorriu, acenando com a cabeça em direção
à porta. — Entre, mas devo te avisar, vale tudo hoje à noite.
— Do jeito que gostamos. — Respondi perversamente enquanto
balançava minhas sobrancelhas para ele.
Percorremos a boate lotada, sabendo que no momento em que
entramos, todos os olhos se voltaram em nossa direção. Quando
cheguei ao bar, sentei e examinei a multidão turbulenta. Os humanos
observavam as criaturas, alguns com medo, enquanto outros
procuravam uma libertação que apenas os imortais poderiam oferecer.
Vi as diferentes castas de Fae, dançando e brincando com humanos ao
ar livre. Lena – ou devo dizer Kendra – também estava lá fora, dançando
num ritmo abafado com algumas bruxas familiares de seu Coven.
Nenhum homem ousou se aproximar dela, mas também poderia ter
algo a ver com Lucian observando ela de perto.
Meus olhos lentamente olharam para a roupa que ela usava,
observando a saia curta e os saltos. Cada movimento dela foi calculado,
cada curva balançava com a música sensual enquanto suas mãos
lentamente passavam pelos quadris. Ela olhou para algo no canto – ou
alguém. Cada batida da música aumentando o frenesi na pista de
dança. Meu ouvido pegou a compulsão sutil no tom e sorri.
— O que posso te servir? — Um barman atrás do bar gritou, me
forçando a voltar minha atenção para ele. Ele era mais jovem do que
eu esperava, nem um dia com mais de vinte e um, a julgar pelo pouco
que estava tentando crescer. Os glifos pulsavam sob a pele de seus
braços e pareciam muito com os dos Fae. Ele não era Fae, no entanto,
e aposto minha alma que foi criado a partir da magia para imitar os
Fae. Olhos azuis seguraram os meus quando estreitei meu olhar nos
dele. Ele não era humano, mas também não era algo em que eu podia
colocar meu dedo. Sorri vendo seus olhos se arregalarem quando
minhas marcas apareceram, pulsando sob a superfície.
— Gin e tônica. — Respondi, observando enquanto seus olhos
permaneciam nas marcas, como se estivesse encantado. — Gosta
delas? — Ouvi risadinhas de Adam e Ristan enquanto assistiam esse
aspirante a conseguir a realeza Fae. As marcas de Adam deslizaram
para a vida, sua mão tocou a barra e o garoto ficou encantado, mas no
momento em que os olhos de Adam começaram a brilhar, o garoto
perdeu a cor ao descobrir exatamente o que estava olhando.
— Você é tão bonita. — Ele engoliu em seco e suas mãos tremiam
um pouco. — Me leve com você.
— Desculpe? — Respondi surpresa.
— Isso agravou muito rapidamente. — Ristan riu. — E o que
exatamente ela levaria com ela?
— Não ligo para o que ela fizer. Me foda, me use ou acasale comigo.
Me faça incapaz de sentir essa dor, não posso mais ver ela. Sei que
mereço, mas não posso mais fazer isso. Ela nem se lembra de mim. —
Ele chorou, enxugando uma lágrima enquanto tentávamos descobrir
qual era o dano dele.
— Já chega, Brandon. Eles não estão aqui para salvar sua alma
arrependida. — O timbre profundo de Lucian puxou meu olhar para
onde ele estava atrás de nós.
— Não posso fazer isso pela eternidade! — Brandon gritou, se
afastando de onde Lucian se sentou no bar. — Nem um momento a
mais. — Ele soluçou, e assisti Lucian assentir e seus homens se
moverem, puxando o jovem barman para fora do bar enquanto a raposa
prateada tomava seu lugar.
— Desculpe por isso. — Lucian acenou com a cabeça para o novo
barman enquanto servia o gin e o tônico que pedi. — Brandon me deve
sua alma, então até que eu decida o contrário, ele deve assistir sua
antiga noiva todas as noites. Ela, no entanto, nem sabe quem ele é.
— E por que ele lhe deve sua alma?
— Brandon vendeu sua alma para se tornar Fae. — Os olhos de
Lucian seguraram os meus enquanto seus lábios se curvaram em um
sorriso. — É claro que expliquei que ninguém pode se tornar Fae a
menos que nasça como tal, mas ele não se importava com os detalhes,
desde que parecesse ser o que queria, um Alto Fae para conseguir a
garota. A namorada dele, por outro lado, vendeu a dela para esquecer
a dor que sofreu quando criança nas mãos do pai. Nenhum deles
especificou quaisquer detalhes. Então, aqui estão eles, em dívida
comigo. Mas Brandon quebrou as regras e tentou encontrar uma
brecha no acordo, então agora vai passar a eternidade observando o
amor de sua vida enquanto ela atende as mesas sem a menor pista de
quem ele é.
— Bem, tudo certo então. — Tomei um gole profundo. — Vejo que
Kendra está aqui, observando você. — Sorri quando deixei passar a
questão das almas e olhei para Lucian. Meus olhos piscaram na pista
de dança e depois de volta para ele. — Ela também não gosta que você
esteja sentado perto de mim.
Olhos da meia-noite me observavam com desapego frio. Esta
criatura era escura, e ainda assim sei que em seu âmago ele não estava
congelado. Tinha algo nele que me fazia querer abraçá-lo, e ainda assim
sei que não seria bem-vinda.
— Você parece o paraíso hoje à noite. — Seus olhos se moveram de
mim para a pista de dança.
— Você parece o inferno, por outro lado. — Respondi, vendo seus
olhos se virarem para mim. — Não sou sua amiga. Não vou mentir para
você. — Ofereci quando ele levantou uma sobrancelha para mim.
— Sem corte. — Ele riu, bebendo o uísque envelhecido sem pensar.
— Gíria americana de uma futura Rainha Fae?
Revirei os olhos e trouxe a conversa de volta para ele.
— Não pode ser fácil ver ela dançar. — Murmurei, sabendo que ele
ouviria. — Ela está te observando também, é um bom sinal.
— Você sabe disso como? — Ele sorriu.
— Eu tenho peitos. Isso me faz um juiz melhor daqueles que
também têm peitos. Acho que ela está realmente chateada por você
estar tão perto de mim.
— Você não pode saber disso. — Ele descartou meu comentário com
um leve movimento da mão enquanto se virava e espiava por cima do
ombro.
— Quer apostar? — Desafiei, e ao seu aceno, sorri. — Quer saber
como sei que ela está te observando? Que ela não está feliz por eu estar
tão perto de você? Vou mostrar. Não me beije e nem me toque. Só
observe a reação dela enquanto me aproximo muito de você. — Deslizei
da cadeira e fiquei na frente dele. — Abra suas pernas. — Sussurrei,
observando como seus penetrantes olhos azuis me observavam como
se eu fosse uma cobra, pronta para atacar. — Não tem truque aqui,
Lucian. Nada além de mostrar que ela está interessada em você. —
Assegurei a ele. Depois que ele abriu as pernas, deslizei entre elas,
colocando minhas mãos em suas coxas enquanto sorria e inclinei
minha cabeça. Ele cheirava divinamente, banho recém-tomado, com
um toque de algo puro exclusivamente masculino. Meus lábios se
inclinaram para um sorriso quando mordi meu lábio e olhei em seus
olhos. Minha mão levantou para afastar seus cabelos macios de sua
orelha enquanto coloquei meus lábios perto dele. — Toque meu ombro
e observe os olhos dela. Eles vão estreitar um pouco, enquanto as
pupilas dela se dilatam de raiva. No momento, seu coração está
disparado de raiva porque fui corajosa e por você estar me permitindo
ser assim. Em seguida, ela vai sinalizar para meninas para deixarem a
pista de dança, para que você não note que ela parou de se mover. —
Recuei e sorri. — Ela está aqui para seduzir e conquistar, aqueles saltos
são me foda. Essa saia é curta de propósito. Pode conhecer mulheres,
mas não sabe como é amar alguém e não entender o porquê. Lena está
assim, e ela provavelmente nem sabe por que está irritada.
— Ela esteve aqui três noites seguidas. — Ele resmungou quando
voltou para o bar.
— Três noites seguidas... em roupas semelhantes? — Tomei outro
gole da minha bebida.
— Saltos altos me foda, saia curta o suficiente para que um vento
forte me mostrasse aquela bunda perfeita dela. — Ele me saudou com
seu copo para enfatizar seu argumento.
— Bruxas fazem melhor. — Meditei e quando ele se virou e olhou
para mim, fiz uma careta. — Você tem certeza que ela não te definiu
como alvo? Três noites de salto me foda é um negócio sério, Lucian. —
Eu ri. — Ela está sendo treinada por Alden, então, se eu fosse você,
esperaria o inesperado. — Considerei o que Alden pode estar fazendo
aqui.
— Ela entra com seu Coven e tenta se misturar com os outros. Bem,
ela tenta, mas não deixa os machos se aproximarem dela. Acha que ela
está aqui por causa da intromissão do seu tio no Coven? — Seus olhos
se estreitaram enquanto observa Kendra balançar com a música lenta
que filtrava através do clube.
— Acho que ela tem o mesmo professor que eu, e acho que marcou
você. Você ou outra pessoa dentro deste clube. — Dei de ombros. — Eu
cuidaria dela, pelo menos. Alden era o melhor professor do Coven, se
sentiria compelido a ajudar, considerando tudo o que aconteceu aqui.
— Você não é o que eu esperava que fosse. — Seus lábios se
apertaram com uma pitada de carranca e ele balançou a cabeça
levemente. — Nenhum de vocês são idiotas.
— Desculpe quebrar sua ilusão de que todo mundo é um idiota e
quer algo de você. — Respondi. Meus olhos se moveram para a porta
quando Alden entrou. Exalei e me levantei. — Preciso de um lugar
tranquilo para conversar com meu tio, por favor.
— Pegue minha mesa. — Ele ofereceu, e fez um gesto em direção a
uma cabine nos fundos. — É protegida, e ninguém vai incomodar lá.
— Obrigada. — Levantei e senti Ristan e Adam se aproximando para
me seguir até o estande que Lucian tinha indicado. Quando eu estava
perto da mesa, parei, me virando para olhar Ristan, que assentiu e
puxou Adam com ele para ficar de guarda enquanto deslizei dentro da
cabine.
Depois que Alden se aproximou e deslizou para dentro da cabine ao
meu lado, virei e olhei para ele de perto. Ele estava feliz aqui e parecia
mais jovem, se isso fosse possível. Nenhuma expressão franziu seu
rosto, e o sorriso em seu rosto era genuíno.
— Precisamos conversar, velho. — Afirmei sem rodeios. — Sobre o
que está em uma câmara protegida e selada na parte mais profunda da
Aliança. — Informei. Ele levantou a cabeça e a expressão empalideceu
quase tão branca quanto a toalha em cima da mesa. Ele engoliu em
seco quando uma das garçonetes se aproximou da mesa e colocou o
uísque na frente de Alden, e uma gin tônica fresca na minha frente
antes de seguir em frente.
— Você viu as almas? — Ele levantou a bebida e não se incomodou
em cheirar primeiro, bebeu o conteúdo do copo e balançou a cabeça.
— Algumas delas. — Confirmei enquanto me inclinava para ele e
abaixei a voz. — E algo mais, algo que me assustou, Alden. Me diga que
ela não é quem acho que é.
— Viu ela? — Ele estremeceu quando a dor passou pelo rosto dele.
— Quem é ela? — Não tinha como desviar ou fugir dessa conversa.
— Não tem como pular o assunto, preciso saber antes de começarmos
a trazer as crianças para a Aliança de novo.
Ele inclinou a cabeça para o teto, como se estivesse lutando com o
que me dizer.
— Ela é tudo. Você não tem ideia do que fez ao assumir o controle
dessa Aliança, não é? — Ele abaixou a cabeça nas mãos.
— Não, e é por isso que vai me explicar exatamente quem ela é. —
Rosnei baixinho. — E então vai explicar por que as meninas foram
sacrificadas para manter ela parada. Agora sei por que a Aliança de
Seattle está disposta a lutar para ter o controle da Aliança de Spokane.
Seja o que for, ela é poderosa.
— Quando eu era criança na Aliança, fomos ensinados sobre as
Bruxas Originais. Foi um pequeno Coven que nasceu da linha direta
de Hécate. Até mesmo agora, se acredita que seus poucos descendentes
estejam entre as bruxas mais poderosas vivas. As Bruxas Originais, no
entanto, eram perigosas sozinhas, mas juntas poderiam destruir vilas,
ou até mesmo cidades inteiras, se quisessem. Ninguém as incomodou,
e elas estavam entre as criaturas mais poderosas deste mundo e
escolheram viver nas sombras. Elas estavam contentes em permanecer
lá, até as notícias dos julgamentos das bruxas chegarem aos seus
ouvidos. No começo, era um sussurro, e depois, com o passar do tempo,
eles ficaram mais altos. À medida que a tortura e os assassinatos
pioraram, as Bruxas Originais saíram das sombras e massacraram
vilas e cidades inteiras enquanto se dirigiam a Salem para encontrar
as pessoas responsáveis por matar seus filhos. Elas levaram os
Caçadores de Bruxas a cometerem suicídio e criaram pragas que
varreram as terras, matando milhares.
— Houve medo das bruxas que escaparam dos julgamentos e
estavam se escondendo. As Américas e a Inglaterra já estavam à beira
da guerra, mas adicionar Bruxas a ela, não era algo que pudessem
suportar. Foi nessa época que o Coven de Lena se separou dos outros,
e as Alianças foram formadas. As Bruxas Originais continuaram
matando, e a Aliança temia aniquilar qualquer chance de monitorar e
policiar os do Outro Mundo – na verdade, a Terra dos Fae – então
começaram a negociar com alguns dos chefes dos outros grupos, que
eventualmente se juntariam a eles. Criando as outras Alianças. Eles
colocaram seu caso diante dos Paladinos e formaram poderosos aliados
para ajudar a capturar e aprisionar as Bruxas Originais. A princípio, a
Aliança as capturou, mas mesmo em uma prisão com magia, elas
continuaram causando estragos. Estarem trancadas juntas as tornou
mais fortes. Isso as deixou mais irritadas, e logo os Covens começaram
a cair com doenças estranhas. Alguns perderam a magia, enquanto
outros enlouqueceram com as vozes dentro de suas cabeças. Muitos
pediram a morte dessas bruxas, mas todos estavam com medo de que
matar tantos da linha direta de Hécate pudesse causar sua ira em todos
nós. Agora os Paladinos têm sua própria magia, magia que não é deste
mundo. A Aliança e os Covens concordaram com sua ideia de colocar
as bruxas em estado de êxtase e usar as Linhas Ley sob as Alianças
para controlar o poder das bruxas para enfraquecer elas. Esta foi uma
maneira feliz de neutralizar as Bruxas, e não matar. Assim que os
Paladinos colocaram as Bruxas em êxtase, foram movidas para as
profundezas de treze Alianças diferentes. Quando as Alianças foram
fundadas no Centro-Oeste e na costa do Pacífico, três dessas Bruxas
foram transferidas – e uma delas foi enterrada sob a Aliança de
Spokane. Elas estão dormindo há muito tempo, e agora que você
assumiu o controle da Aliança de Spokane, a Aliança nacional não vai
deixar de lutar contra você até que ela volte aos seus cuidados, Synthia.
Se alguma delas acordar, irá atrás daqueles que consideram inimigos.
— Elas vão atrás da Aliança. — Sussurrei enquanto considerava no
que acabei de entrar.
— Ou nós, por estarmos na Aliança. — Ele corrigiu. — Sabemos que
elas estão conectadas, mas não como ou por que estão. Alguns
especulam que, se alguma acordasse, as outras a seguiriam, mas é
especulação, é claro. No entanto, se isso acontecer, Deus salve nossas
almas porque elas não terão piedade.
— E as almas? — Realmente não quero saber mais sobre a bruxa.
Entendi, muita merda nos últimos dias. Por que sempre é o pior
cenário? Por que não conseguimos encontrar uma situação que não
estivesse ligada a algum tipo de merda do fim do mundo?
— Sacrifícios para manter elas em êxtase. — Ele respondeu
calmamente e engoliu em seco. — A magia dos Paladino tem um custo
de sangue e pagamos. Treze almas por ano para conter treze bruxas.
— E Hécate não interferiu? Só permitiu que isso acontecesse com
as filhas?
— Ela não é vista ou ouvida desde pouco antes de sua linha direta
começar o massacre dos humanos. Nós nunca soubemos como ela se
sentia sobre isso, tudo o que sabemos é que ela não interveio para
salvar elas. Feitiços foram feitos no começo de todo esse caos, para
chamar Hécate para salvar os Covens do que suas filhas estavam
fazendo, e ela nunca veio. Ou ela não está mais entre nós, ou escolheu
nos abandonar. Não temos ideia de qual é a escolha. A Aliança continua
a ensinar sobre ela, mas têm pouco conhecimento real dela. Para nós,
ela é nosso Deus. Não tem mais provas de que ela exista e, no entanto,
ainda fazemos suas ofertas e seguimos suas regras.
Engoli as informações e observei atentamente enquanto fazia minha
próxima pergunta.
— Você matou para manter essa bruxa em êxtase?
— Sim. E faria isso de novo, e provavelmente farei. Só os Anciões
estão cientes do que está dormindo embaixo das Alianças. É nosso
dever manter elas lá, dormindo. Outra coisa a considerar, como a
Aliança das Bruxas se baseia nas mesmas Linhas Ley usadas para
manter elas fracas e em êxtase, essas treze bruxas agora conhecem
todas as bruxas vivas. Imagine se elas acordassem sabendo o que a
Aliança lhes fez?
— Elas poderiam acabar com todas as bruxas do continente. —
Gemi enquanto esfregava minhas têmporas. — Qualquer criatura que
toque nas Linhas Ley é de conhecimento das Bruxas Originais, não é?
— Sim, incluindo você. — Respondeu ele, fechando os olhos
brevemente e inclinando o copo, terminando sua bebida.
— Temos a caixa de Pandora dormindo embaixo da Aliança, onde
deveríamos estar abrindo caminho agora e construindo um novo
futuro. Como podemos trazer crianças inocentes pra lá sabendo disso?
— Porque este mundo precisa dessas crianças seguras e treinadas
corretamente, e precisamos delas agora mais do que nunca. —
Respondeu confiante. — Estou ciente dos Fae inundando este mundo.
Sei que você e aqueles encarregados da tutela dos portais permanentes
não permitiriam isso se você tivesse uma maneira de protegê-los. O que
significa que algo deu terrivelmente errado com os portais. — Ele disse
enfaticamente.
Senti medo de responder por um momento enquanto tentava
absorver tudo o que Alden me disse. Então pensei no que Ryder, Ristan
e Dristan me explicaram sobre a história da Terra dos Fae e como ela
se relacionava com as Bruxas e as Alianças, e mais peças do quebra-
cabeça começaram a ser preenchidas.
— Ok, direi que isso é besteira, meu velho. Você e eu sabemos que
a Aliança tem nos alimentado com uma história distorcida de onde
viemos e quem fez o que. Hécate é uma deusa como Danu. Eles não
deveriam interferir diretamente e se fizerem, terá sérias consequências.
Mas consequências de quem? — Falei devagar enquanto trabalhava
com Alden como minha caixa de ressonância. — As primeiras bruxas,
mesmo antes dos Druidas, eram Changelings pelo que Ryder me disse,
então isso significa que Hécate devia estar dançando mambo horizontal
com Changelings para criar essa linha, o que explica por que elas são
tão fortes. Elas não são só bruxas, são semideusas. — Alden piscou
lentamente e concordou que isso poderia ser verdade. — E se esse for
o caso, talvez Hécate ou algum outro Deus supremo tenha ajudado a
avançar no relacionamento entre os Covens e os Paladinos como uma
maneira indireta de neutralizar seus filhos. Dessa forma, eles
conseguiram matar elas e não seriam acusados de interferir. — Olhei
para Alden quando outro pensamento me ocorreu.
— Alden, os Paladinos não são exatamente abundantes, e a Aliança
normalmente os chama quando todo o inferno se abre. Quando tudo
aconteceu, você foi protegido por doze deles. Larissa me disse que não
sabia quem os enviou, você sabe? — Se isso estava indo para onde
penso, então tinha mais em jogo do que qualquer um de nós imaginava.
— Não. — Alden sacudiu a cabeça. — Supus que fosse alguém da
Aliança de Washington. Eles ficaram comigo só por um tempo, e então
a Aliança enviou seu próprio povo, não questionei e não vejo um desde
então. — Ele fez uma careta quando começou a ver a mesma imagem
que estava se formando em minha mente. Não sei muito sobre os
Paladinos, exceto que eles eram de fora do nosso mundo e sua magia
era diferente. Eles não eram Fae e não eram humanos, quem eles são
e a quem eles realmente se reportam?
— Então, para acordar uma, provavelmente precisaríamos de um
Paladino de verdade?
— Isso, ou possivelmente um Druida, eles não morreram quando as
bruxas foram colocadas em êxtase, e sei que eles faziam parte dos
aliados recrutados para colocar elas lá. Já faz muito tempo desde que
uma delas foi vista nos Estados Unidos.
— Os Changelings se tornaram os Druidas, que se separaram e se
tornaram a Aliança dos Magos e das Bruxas. — Recitei. — Um deles
poderia ter decidido não escolher um lado e se esconder? Você acha
que eles ainda estão vivos?
— É possível. Se eles eram meio-sangue, as chances de imortalidade
são maiores. E se essa história é o caso, então meu sangue está tão
enfraquecido, isso só me ajuda a parecer bem. — Alden riu.
— Ok, então tente isso. Se os Magos estão dominando as Alianças e
estão causando um desequilíbrio por causa de sua guerra com os Fae
é possível que alguém esteja envolvido? Alguém que enviou Paladinos
para te proteger? Paladinos que poderiam estar se reportando a quem
os controla sobre o que está acontecendo com as Alianças. — Refleti
enquanto analisava com ele.
— É possível. — Admitiu Alden. — Se for esse o caso, você deve se
perguntar se eles são amigáveis com os Fae ou contra os Fae?
— Essa é realmente uma boa pergunta. — Terminei minha bebida
quando Alden fez um gesto para uma garçonete para nos pegar outra
rodada de bebidas, depois me deu um olhar pensativo e suspirou.
— Nós vamos descobrir, enquanto isso, me mostre as plantas.
Passamos os próximos dias examinando todos os detalhes da nova
Aliança com os homens nos quais Ryder mais confiava. Quando não
estávamos planejando as sessões da Aliança, nosso tempo foi gasto
entre procurar qualquer vestígio ou sinal de Ciara e planejar o
casamento. Ryder e seus irmãos estavam aterrorizados com o que
poderia ter acontecido, e a cada dia que passava, qualquer esperança
de encontrar ela viva diminuía.
Odiei ser incapaz de dedicar mão de obra adicional ou tempo para
encontrar ela, mas com os portais crescendo e a Horda se espalhando,
simplesmente não era uma opção. Isso deixaria a fortaleza da Horda
mais exposta do que já estava.
O mundo ao nosso redor parecia calmo, sereno. Como se não
estivéssemos na beira da guerra que sabíamos que estava por vir. Como
se não houvesse um buraco neste mundo, um que não poderíamos
fechar, não importa quantos especialistas trouxemos para tentar. Nada
parecia impedir eles de se expandir lentamente.
Passei as manhãs planejando o casamento e depois sentindo falta
dos meus filhos à tarde. À meia-noite, me cansava, treinando até cair
na cama, exausta a ponto de chorar, mas sabendo o quão importante
era preparar meu corpo e mente para qualquer batalha que eu pudesse
enfrentar.
Essa paz frágil não duraria muito tempo, e todos esperávamos
ansiosamente pelo ponto de ruptura que nos levaria à guerra em
grande escala. Os Magos estavam calados. Quieto geralmente significa
que eles estavam tramando e planejando e, então ninguém permitiu
que nossa prontidão escapasse, ninguém relaxou com sua inatividade.
Pegamos uma grande parte do arsenal de armas deles quando pegamos
o Deus que eles pensavam que os tornaria invencíveis, e provavelmente
estavam lambendo seu orgulho ferido. Mesmo com esse conhecimento,
sabíamos que eles não esperariam muito antes de darem o próximo
passo e estaríamos prontos para eles quando chegasse a hora.
Faolán era outro problema que sei que estava à espreita, apenas
esperando para me esfaquear pelas costas quando menos esperava. Ele
não pararia de me caçar até que um de nós estivesse morto, e não seria
eu a cair. Planejei e planejei, e odeio o fato de que, quando eu
terminasse com a vida dele, Madisyn se machucaria com isso. Mas não
consegui encontrar uma maneira de contornar isso, não com sua
mancha ruim ameaçando a vida dos meus filhos. Ele cruzou uma linha
com o que fez e precisa ser parado.
— Ryder concordou que deveríamos ter áreas de banquete no pátio,
bem como nos arredores do castelo durante a recepção do casamento,
para qualquer pessoa que queira compartilhar a folia do seu
casamento. Afinal, entendo que, alguns séculos atrás, no mundo
humano, era costume o banquete acontecer por vários dias, quando a
realeza se casava. E acho que isso seria uma boa homenagem a essa
tradição! — Madisyn cantou, me afastando dos problemas na mente.
— O que? — Me afastei da janela para olhar na direção dela, e ela
estava sentada em uma cadeira delicada enquanto pegava a variedade
de cupcakes que Darynda trouxe mais cedo com o nosso chá.
— Você não ouviu nada do que falei a manhã toda, Synthia. — Ela
mexeu, apertando os lábios em uma carranca apertada. — Devo voltar
mais tarde?
— Não, parece bom. Configure onde quiser. — Dei de ombros
cansadamente. — Sinto muito, minha mente está em outro lugar.
— Obviamente, mas precisamos terminar de planejar este
casamento. — Sem um pingo de irritação, ela bateu no lugar vazio no
sofá ao seu lado. — Venha, sente comigo e te mostro o que planejei.
Ignorei a dica dela e fui para a cadeira oposta a ela na sala que
decidimos usar para planejar o casamento. Tinha fotos espalhadas com
opções adicionais de vestidos de damas de honra, bolos e layouts de
como seria o grande salão depois que o pessoal organizasse. Pensei que
já tínhamos decidido o que seria feito, mas pela expressão de
determinação nos olhos de Madisyn, ela estava com algumas ideias
muito diferentes em mente para o casamento.
— Este é o seu vestido, porque, embora eu aprecie que você queira
usar vermelho do Reino do Sangue, é inédito usar vermelho no seu
casamento. Ryder foi muito claro sobre o que nos foi permitido fazer
com o seu casamento, já que ele queria um tradicional, como o dos
humanos.
Ele mudou meu vestido? Olhei para a criação e fiz uma careta. Era
lindo, com uma saia em forma de sino e um corpete de renda com um
véu. Na verdade, eu o admirava quando estava com cerca de cinco anos,
mas isso era porque parecia com todos os clichês de todos os filmes
das Princesas da Disney já feitos.
— O que você acha? — Ela perguntou animadamente, e levantei
meus olhos para os dela e dei-lhe um sorriso suave.
— É lindo. — Era, mas não era eu. Meu estômago revirou e os nervos
subiram sem aviso. Eu faria isso, mas é frustrante, pois nada do que
eu dissesse ou fizesse impediria Madisyn ou Ryder de tornar esse
casamento enorme. — É muito tecido. — Forcei, tentando ser educada,
e vi como ela sorria.
— É perfeito, e acho que, de todos os vestidos que vi, esse vai melhor
destacar sua figura. E acho que você deve usar o cabelo para cima, em
cachos como esse. Ela agitou os dedos e pude sentir meu cabelo sendo
puxado para trás e torcido, e cachos macios emoldurando meu rosto.
— Veja! — Ela cantou animada e enfeitiçou um espelho de mão e olhei
para o penteado elaborado que ela criou. — Isso vai destacar seus
recursos e todos vão poder ver melhor os diamantes.
— Diamantes? — Perguntei secamente. Não fiquei chocada com
nada que os Fae pudessem criar. Fiquei surpresa que ela mencionou
diamantes, porque planejei usar pérolas.
— Este. — Ela apontou para um catálogo de joias. Os diamantes
eram do tamanho do punho de uma criança e gritantes, foram
colocadas em um cenário de platina com diamantes menores que
criaram um efeito cascata em todo o decote. — Isso fará seus olhos
arregalarem e chamará atenção para sua coroa. Ryder esteve
estudando conceitos diferentes a semana toda!
— Uma coroa? — Repeti, me perguntando quando diabos esses dois
tiveram tanto tempo para planejar essa merda. Mal o vi, a menos que
ele estivesse caindo na cama, cansado demais para fazer qualquer
outra coisa além de dormir. Não que os Fae realmente precisassem
dormir muito, mas precisavam se separar do mundo ou ficariam
loucos. No entanto, o homem estava planejando nosso casamento em
todos os detalhes com Madisyn. Foi nesse momento que suspeitei que
grande parte desse drama era mais da agenda de Madisyn do que de
Ryder ou da minha. Ryder me conhecia melhor do que isso, e embora
Madisyn não estivesse necessariamente mentindo, sei que ela estava
sendo muito esperta com as palavras que estava escolhendo cada vez
que lhe perguntava se uma mudança era ideia de Ryder. Tenho a
sensação de que Ryder e eu estamos sendo manipulados porque
nenhum de nós tem coragem de magoar seus sentimentos, e ela estava,
para todos os efeitos, se tornando mãezilla da noiva, disfarçada de uma
linda rainha Fae.
— Você é uma princesa. Você não pode se casar com a Horda sem
que seu status mude, portanto, quando você andar pelo corredor, terá
uma tiara e, quando ele colocar a coroa em sua cabeça, você será
elevada de Princesa do Sangue para a Rainha da Horda.
— É claro. — Sussurrei enquanto ela me passava desenhos que
variavam entre os da tiara com um rubi de sangue, até uma coroa de
ouro que estava embebida em centenas de diamantes e parecia pesada
pra caralho. Eu teria que trabalhar os músculos do pescoço se eles
esperassem que eu o usasse diariamente.
— Você se acostuma com isso. — Madisyn me assegurou enquanto
olhava minha carranca. — É um lembrete de sua posição aqui, e as
pessoas vão precisar te ver com ela. A Horda prospera com força, e se
eles a esquecerem por um momento, você precisar lembrar eles de
quem você é.
— Eu sei. — Assenti. — Faltam quantos dias para o casamento? —
Tomei um gole do chá que Darynda trouxe, camomila para acalmar os
nervos enquanto esperava os homens voltarem da procura por Ciara.
— Dois dias. — Ela franziu a testa. — Você não pode ter esquecido.
Você me ajudou a enviar os convites.
— Como eu poderia esquecer? — Resmunguei. Não me lembrava de
quem convidamos, porque tinha tantos que parei de perguntar quem
era quem. E realmente não me importei porque não queria esse grande
casamento, e fiquei secretamente mais impressionada com o exército
de pequenos Fae alados, encarregados da entrega de todos os envelopes
ostensivos.
— Então, faremos um ensaio amanhã, e acho que você deve
considerar mudar de ideia e permitir que os bebês estejam aqui para a
cerimônia. Eles deveriam estar aqui com você.
— Absolutamente não. — Respondi, muito mais severa do que
pretendia. — Madisyn, eu gostaria mais que qualquer coisa que eles
estivessem presentes, mas até que Faolán seja capturado e cuidado,
não vou arriscar que eles estejam onde ele possa usar eles contra nós.
Sinto muito, mas não vou arriscar.
— Entendo. — Ela disse suavemente. Seus olhos lacrimejaram
quando se afastou de mim, sei que é difícil para ela entender, mas seu
filho é um monstro, deixei de fora muitas das coisas que ele fez comigo,
mas não colocaria meus filhos na posição precária de serem usados
contra mim. Eles estavam indefesos e inocentes nisso.
— Mais alguma coisa que precise da minha atenção? — Suspirei.
— Sapatos; você ainda precisa escolher os que deseja usar. — Ela
vasculhou os papéis até encontrar o que estava procurando. Ela me
entregou uma página cheia do que parecia ser estilos diferentes de
sapatos brilhantes e quase transparentes. — Ryder disse que viu você
admirando alguns sapatos que um personagem das histórias usava.
Como ela se chamava… Cinderela? Ele descreveu a história, então
encontramos alguns desenhos para outros semelhantes.
Sorri quando olhei através dos delicados sapatos, e me acomodei em
um par com saltos pequenos e que não parecia que quebrariam se eu
os vestisse. Depois que terminamos com mais alguns detalhes, ela saiu,
me lembrando do ensaio do casamento amanhã, para que eu não me
perdesse quando chegasse a hora de caminhar pelo corredor até Ryder.
Depois que se transportou, fui para o escritório e peguei os mapas
que estava examinando antes dela chegar. Tinha um pedaço de terreno
acidentado e montanhas que os homens tiraram imediatamente da
grade de busca e, enquanto o rejeitavam, meus instintos foram atraídos
para ele. Se eu estivesse me escondendo da Horda, iria para o último
lugar neste mundo que eles pensariam em procurar. Mas ei, isso era
só eu. Ryder me explicou que ninguém olharia para lá porque não era
habitável, até a vida vegetal era carnívora. Ele me contou com detalhes
sobre isso e as criaturas monstruosas que faziam parte da própria
terra.
Fiz uma pausa e meu dedo se moveu sobre o mapa enquanto
enfeitiçava minha armadura, arrastei os cachos ridículos em um rabo
de cavalo e enfeiticei algumas bainhas inteligentemente ocultas para
punhais nas agulhas, quadris e botas. Fui em direção à janela e olhei
para os homens, que estavam voltando da busca, e pensei em esperar
por Ryder, mas enquanto o observei desmontar de seu cavalo com
ombros caídos, soube o que precisava fazer.
Odiava que toda vez que eles voltassem, estavam um pouco mais
derrotados com a possibilidade de que ela não estivesse lá fora para ser
salva. Tinha muito sangue no chão e móveis quando ela foi levada, e
era dela. Ela lutou com seu agressor, mas quanto isso lhe custou?
A vida dela?
Assisti quando os olhos cor de âmbar subiram aos meus, como se
sentisse minha presença na janela, e ele balançou a cabeça escura. A
derrota era nova para ele, mas não estava pronto para admitir ainda, e
eu também não.
Vasculhei a área que escolhi chamar de Montanhas Monstruosas.
Ryder, se trancou na sala de guerra com seus homens para examinar
mais tabelas. Ele vasculhou este mundo inteiro para encontrar ela, que
era a única filha reconhecida nascida de Alazander e a única irmã de
Ryder. Uma que ele prometeu proteger. Ser incapaz de encontrar estava
machucando a todos. Todos eles a amavam.
Me movi pelas trilhas lentamente por horas, procurando qualquer
ameaça oculta, qualquer coisa que provasse que Dragões ou qualquer
outra pessoa estivesse presente aqui. Atravessei um grupo de árvores
e parei congelada quando a visão na clareira apareceu.
O cheiro de carne cozinhando permanecia no ar quando a névoa se
separou momentaneamente e revelou um acampamento. Gênio, pois,
estavam escondidos entre a névoa, que normalmente era espessa
demais para enxergar.
Ouvi as vozes de homens e mulheres se movendo, e o som de
crianças brincando irrompeu quando gritos vieram de algum lugar
mais profundo do acampamento. Fiz o caminho para a beira do
acampamento enquanto meus olhos se ajustavam à densa névoa que
me rodeava. Percebi que tendas foram erguidas em torno do perímetro
externo, e as alas esculpidas em grandes pedras ao redor das barracas
para manter a magia da névoa e disfarçar essas pessoas dos intrusos,
provavelmente por isso ninguém sabia que estavam aqui.
Puxei um feitiço de invisibilidade em mim, depois percorri a beira
do acampamento para observar homens reunidos em grupos que
brigavam ou jogavam, e as mulheres cozinhavam em fogueiras ou
cuidavam das crianças. Algumas delas carregavam cestas pesadas de
roupas ou outras coisas. A névoa mudou, e percebi que não tinha só
várias tendas e sim centenas delas nesta clareira. Não era só um
acampamento montado da noite para o dia, era muito bem estabelecido
e devia estar aqui há anos. Conseguia distinguir pedras com runas
esculpidas nelas espalhadas pela fronteira do acampamento, e quanto
mais olhava, mais alas eu via.
Meu instinto foi recuar e buscar Ryder, mas se estes eram os
dragões, preciso de mais provas do que só suspeitas. Exalei e examinei
o acampamento, procurando a maior tenda. Não cheguei tão longe para
ir para casa sem provas ou sem procurar por Ciara.
Observei os homens, notando que eles tinham tatuagens ou glifos
de dragão que combinavam com os de Ryder. Ryder mencionou que as
marcas Dragão se desenvolveram logo após o recebimento das marcas
de Herdeiro. Essas se mexiam na pele, prova do que eram. Glifos não
podiam ser falsificados e permaneceram fiéis à raça, e esses eram
fodidos dragões. Santos peidos barulhentos de fadas. Dragões!
Recuei até ficar escondida na linha de árvores onde originalmente
vim, decidindo meu próximo passo. Eu deveria ter saído, corrido para
Ryder e contado a ele imediatamente sobre essa descoberta, mas não
faria isso. Esses homens pareciam quase humanos.
Alguns homens e mulheres estavam em volta de grandes fogueiras
e compartilhavam bebidas enquanto conversavam em seus pequenos
grupos. Garotinhos brincavam com espadas de madeira, e engoli um
pedaço quando percebi o que era aquilo.
Pessoas deslocadas que se uniram para sobreviver.
Se eu voltasse e dissesse a Ryder o que encontrei, ele precisaria
neutralizar a ameaça. Seria necessário e odeio saber que é
provavelmente o que preciso fazer. Por outro lado, precisávamos saber
mais sobre eles, o que estavam fazendo e planejando. Duvido que eles
pudessem perdoar facilmente, mesmo que ele só seguiu ordens. No
entanto, eles sobreviveram, ele não eliminou uma raça inteira, afinal.
Assisti enquanto um homem se movia para um espaço vazio,
assumindo a forma de um enorme dragão verde brilhante e, com um
movimento de suas asas gigantescas, subiu ao ar. Um batedor? Eles
permaneceram escondidos por tanto tempo porque foram inteligentes.
Eles se mudaram para um lugar que era considerado inabitável, e
ainda assim aqui estavam eles – malditos dragões.
Meus olhos voltaram para o acampamento e se estabeleceram na
maior tenda, com guardas em volta. Ou alguém importante estava lá,
ou eles mantinham alguém que não queriam que escapasse. Eu poderia
procurar nas outras tendas, mas minha aposta dinheiro estava na
tenda que parecia pertencer a quem estava encarregado deste lugar.
Lentamente fui até onde um poste de proteção estava no chão. Meus
dedos se estenderam, empurrando, testando as alas, e quando elas não
dispararam, eu as atravessei. Fiz uma pausa, esperando que soasse
uma sirene de alarme, mas não aconteceu. Depois que soube que era
seguro, caminhei mais fundo no campo, passei pelas crianças que
brincavam até onde dois homens jogavam um jogo com dados que
pareciam cristais enquanto aplaudiam e batiam palmas nas costas.
— Droga! Você deve estar trapaceando, Aiden, ninguém tem essa
sorte! — O homem que estava sentado em frente à mesa gritou quando
bateu as palmas das mãos na mesa e olhou em desafio aberto.
— São dados, não há como trapacear, Syphon. Olhe para eles! Então
observe sua língua antes de me acusar de te trair. — O outro rosnou,
a morte espiando de seus olhos enquanto observava seu oponente.
— Ninguém tem essa sorte. — Syphon estalou e tirou as mãos da
mesa. Me afastei deles, vigiando os que estavam ao meu redor, para
que ninguém corresse para mim. Fiz o caminho para a barraca mais
próxima e fiquei na frente dela por alguns momentos, ouvindo qualquer
um que pudesse estar dentro antes de passar para a próxima.
Barraca após barraca não revelaram som, sem barulho. Todos
pareciam estar do lado de fora, trabalhando ou brincando em grupos
diferentes. Tinha uma brecha nas tendas onde um grupo de mulheres
assava diferentes tipos de pão em fornos de pedra, conversando
rapidamente em tons excitados, fiz uma pausa quando ouvi referência
à prostituta da Horda.
— Ele vai mostrar a ela como nosso povo se sentiu quando eles
estupraram mulheres inocentes. — Comentou uma enquanto mexia
algo em uma tigela grande de madeira.
— Se você me perguntar, ele deve só pegar a cabeça dela e devolver
ao rei. Pois terminaria com isso, e poderíamos lavar as mãos dela. A
presença dela aqui coloca todos nós em perigo.
— Se ele fizesse isso, eles certamente viriam. Agora eles a procuram
em todos os lugares, mas nunca vão olhar aqui. Não quando tantos
outros monstros se escondem nessas montanhas. Eu, por exemplo,
estou cansada de estar aqui, me escondendo como ratos. Essas
montanhas estão congelando meus peitos.
— Faye querida, você mal tem peitos. — Brincou uma mulher mais
velha enquanto abafava uma risada atrás da mão enquanto a outra
mulher espiava seus seios. — Não são grandes o suficiente para
alimentar uma criança, garota. Agora todas vocês parem suas calúnias.
O Lord conhece os seus negócios, tudo o que ele decidir fazer com ela
é problema dele. Não é conversa para cozinha. Agora comecem a
trabalhar, essa comida não vai ficar pronta sozinha, você sabe. Além
disso, temos que lavar a roupa ou todos usaremos nossas roupas
íntimas em breve.
Engoli em seco e passei por elas, indo diretamente para a maior
tenda daqui. Quando cheguei lá, notei os guardas que vi mais cedo e
parei enquanto considerava algo que não tinha pensado antes de entrar
no acampamento, não conseguiria entrar em uma barraca sem eles
perceberem o movimento da aba. Prendi a respiração quando ouvi um
gemido do outro lado. A aba se abriu sem aviso prévio e entrei quando
um homem grande e corpulento saiu.
Meu coração parou de bater quando meus olhos se ajustaram à
escuridão da tenda e dei uma boa olhada em Ciara. Ela usava só um
vestido fino, rasgado e esfarrapado, e estava acorrentada a um dos
suportes da barraca de pé. Seus cabelos caíam em ondas
desgrenhadas, e suas bochechas estavam vermelhas quando ela olhou
para um homem que estava deitado em cima de uma cama cheia de
peles. Seu cabelo era castanho claro, atingindo alguns centímetros
abaixo dos ombros. Dragões gêmeos no meio do voo foram tatuados
nas costas vigorosas. Sua bunda era firme e seu pênis estava mole,
mesmo assim – era impressionante.
— Corando princesa da Horda? — Ele provocou, olhos azuis
cristalinos a observando a cada movimento. Ele se sentou e olhei sua
perfeição nua, o rubor de Ciara se intensificou mais ainda, quando ele
se levantou e se aproximou onde ela estava acorrentada. A mão dele
segurou o queixo dela e o ergueu até que ela foi forçada a fazer contato
visual com ele. — Você não tem nada a temer comigo, Ciara. Não forço
mulheres relutantes, como sua espécie é conhecida por fazer. E não
mato inocentes. Não, você não precisa temer que me rebaixe a te foder,
não importa o quanto eu aprecie essa bela carne. — Ele engoliu em
seco, e eu poderia dizer que estava levando tudo dele para não fazer
exatamente o que acabou de prometer que não faria. Ela se encolheu,
e foi preciso esforço para não puxar minhas lâminas e acabar com a
vida dele naquele momento.
— Faça o que quiser comigo, Blane, mas não vou ser usada para
atrair meus irmãos aqui para a morte deles. Você esquece, eu sou a
Horda. — Ela sussurrou enquanto seus olhos se moviam lentamente
do seu rosto para os outros traços com um olhar faminto. — Você terá
que me alimentar mais cedo ou mais tarde, ou me assistir murchar.
Preciso me alimentar regularmente e estou com fome. Diga, Dragão, o
que será? Vai me assistir e perder sua única ferramenta de vingança
ou me alimentar? — Ela provocou em um tom gutural que deixou pouco
para se entender qual era seu jogo: sedução.
Sorri. Todos preocupados com ela, e ela se defendendo, me senti tão
orgulhosa. Sobreviveu e não sentia medo dele. Pelo menos, não estava
mostrando. Ela moveu os quadris e o cinto fino em volta da cintura que
dava uma ideia de suas curvas soou como um alarme. Ela era uma
armadilha do caralho. Meus olhos se moveram lentamente para uma
corrente de ouro que descansava em seus quadris, e percebi as lascas
de metal finas que cavavam sua carne enquanto ela se movia.
Empalideci, mas mantive meu temperamento sob controle quando o
sangue apareceu onde as lascas penetraram sua pele exposta.
Os olhos de Blane também não perderam, ele engoliu em seco,
enquanto pequenos filetes de sangue escorriam pela cintura dela até
os restos do vestido, que estava com sangue seco cobrindo grande parte
dele. Ele engoliu em seco quando ela mexeu os quadris um pouco mais,
observando sua reação. Sua mão lentamente esfregou seu rosto
quando ele se virou e se moveu tão rapidamente que não tive nenhum
aviso para me mover. Felizmente, ele passou sem esbarrar em mim
quando saiu da tenda. Sorri para Ciara, sabendo que ela o abalou tanto
que ele saiu sem sequer se preocupar em pegar um par de calças.
Vi as feições de Ciara contraírem e seus olhos lacrimejarem,
lentamente me movi para o outro lado dela, notando que as marcas no
interior da tenda eram de fato alas para manter ela e qualquer outra
criatura da Horda dentro desta tenda, caso elas entrassem. Sim,
definitivamente uma armadilha.
— Ciara — sussurrei.
— Syn? — Ela chamou, e a silenciei.
— Calma ou os guardas vão ouvir. — Alertei. — Está machucada?
— Perguntei baixinho, e quando ela balançou a cabeça, soltei a
respiração que estava segurando. — Dragões, quem diria? —
Lentamente me abaixei para ficar ao nível dos olhos com a corrente e o
cinto que ela usava, para não criar mais dor a ela.
— Os meus irmãos? — Ela sussurrou.
— Loucos procurando por você. — Murmurei, me concentrando nos
elos estranhos.
— Eles não podem me encontrar aqui, Syn. — Ela correu, se
encolhendo quando uma das minúsculas lascas a cutucou um pouco
demais quando toquei a corrente. — É uma armadilha e, no momento
em que alguém da Horda entrar, não pode escapar. Todo o
acampamento está equipado para capturar eles, caso tentem entrar
furtivamente.
— Eu sei, estou ciente das alas... — Fiz uma pausa e acenei para a
tenda, ouvindo Blane se aproximar.
— Você precisa ir agora. — Ela sussurrou.
A aba foi aberta e Blane entrou, ainda nu e segurando um balde de
água que colocou aos pés dela. Ele a observou especulativamente por
alguns momentos.
— Falando consigo mesma? — Ele zombou, seus dedos lentamente
passando pelos seios dela enquanto o observava reagir. Eu poderia
levar ela, mas a reação dela a ele me deu uma pausa. Suas pupilas
dilataram e suas costas arquearam como se o toque dele a excitasse.
Fiquei em choque, Ciara, a diabinha travessa. Ela gostava dele.
— Eu não falo comigo mesma, falo com os deuses. — Ela zombou e
chutou o balde, enviando espuma sobre a lona que cobria o chão sob
seus pés.
— Isso foi estúpido. — Ele rosnou, e dois dos guardas abriram a aba
para ver do que se tratava a perturbação. Suas espadas em mãos,
prontas para cortar Ciara em tiras, se ela escapasse. — Você poderia
usar feitiço, e então não iria feder e nem precisaria que eu lavasse sua
carne, mulher.
Eu quase ri. Ela era esperta, a magia deixaria uma mancha no ar.
Se ela tivesse usado para se limpar, seus irmãos teriam seguido. Ela
sabia que eles estavam destruindo este mundo para encontrar ela, e
tudo o que teria que fazer era usar sua magia para trazer eles
diretamente a ela, e a essa armadilha bem armada que eles criaram a
usando como isca.
Vi quando ele agarrou um punhado de seus cabelos e girou a cabeça
para trás. Seus lábios avançaram em direção à orelha dela quando seu
corpo fechou a distância entre eles. Ele foi muito afetado só fingiu não
ser.
Minha mão lentamente se moveu para a adaga no meu quadril, mas
enquanto observei, ele lutou contra suas emoções. Não ousei tentar ler
sua mente, porque ele poderia sentir. Mas senti seu poder, intenso, cru
e quente. Quanto mais excitado ele ficava, mais quente era a
temperatura na tenda. Deu um novo significado à frase “maldição
quente”.
Os lábios dele roçaram os dela e ela gemeu quando abriu a boca em
um sorriso sutil, depois fechou os olhos ao sentir ele travar uma
batalha entre o que ele queria e o que pretendia fazer.
— Me alimente ou me liberte. — Ela murmurou contra seus lábios.
— Um ou outro, Dragão ou, me mate, e envie meus restos mortais para
meu irmão. Você terá que escolher em breve, porque tempo não é algo
que tenho.
— Você acha que eu cairia na sua merda? — Ele estalou friamente
enquanto se afastava dela, olhando com olhar assassino. — Sedutora
da Horda, você se alimenta de muitos homens? Separa essas coxas
para qualquer pau disposto a alimentá-la?
Quase rosnei, mas o riso dela me assustou.
— Qualquer um que estiver disposto, Dragão. — Ela riu e mexeu os
quadris, e mais sangue escorreu da corrente e pelo vestido. — Uma
menina tem que se alimentar e, meu apetite muitas vezes é o preferido.
— Não vai me adicionar aos seus números. — Ele rosnou. Suas
mãos se moveram para sua cabeça e seus dedos se enredaram em seu
cabelo enquanto acalmava sua respiração. Seu pau latejava, e ainda
assim ele se controlou enquanto se movia para a cama, me dando as
costas.
Dei um passo e ele parou, virou e olhou para Ciara com cuidado.
Seus olhos procuraram a tenda especulativamente e então ele se virou,
me permitindo respirar quando puxou as calças da cama e vestiu.
— Continue me testando e você pode não gostar de como eu decido
te alimentar. — Ele avisou. — Não serei impedido ou desviarei de meu
objetivo por uma boceta escorregadia ou uma prostituta disposta.
Engoli em seco e considerei estripá-lo. Fodam-se as consequências.
Dane-se se ela gostasse dele, a boca dele precisava aprender uma lição.
Assisti enquanto seus olhos se moviam para o sangue, e o músculo em
sua mandíbula pulsava com sua raiva. Ele também não gostava que
ela se machucasse.
Interessante.
Ela sabia disso? Ela percebeu e estava usando isso? Ele pegou uma
camisa da mesma pilha em que suas calças estavam, uma espada e
um arnês, e se moveu em direção a ela lentamente enquanto sorria com
uma frieza que me provocou um arrepio na espinha.
— Ele virá atrás de você, mesmo que eu tenha que atraí-lo com seus
pedaços, Ciara. Depois de matar ele e assumir o trono, posso te manter
acorrentada à minha cama por toda a eternidade. Será que você me
imploraria para te alimentar ou imploraria por uma morte indolor?
— Ele tem uma Deusa ao seu lado, ele não vai cair por você, filhote
de Dragão. — Ela respondeu. — Tem alguma ideia do quão poderosa
Synthia é? Ela poderia estar aqui conosco agora e você não saberia até
que seu sangue cobrisse o piso. Você não pode se proteger contra ela,
ninguém pode. Acha que ela permitiria que ele entrasse sozinho na sua
armadilha? Ela localizaria aquelas alas dentro da floresta, ela as veria
a quilômetros antes de alcançá-las. Você é um bobo, leve seu pessoal e
vá embora. Viva, ele não vai se importar se você está vivo, Blane, confie
em mim. Só vá. Antes que seja tarde.
— Ele é o rei da Horda, ele não vai entrar, Ciara, vai se transportar.
Até então, será tarde demais para ele voltar. Ele é um assassino a
sangue frio, eu sei, eu estava lá quando ele matou meu povo. Ele matou
meu povo, minha mãe foi estuprada e morta por alguns de seus
homens enquanto eu os observava escondido pela criada de minha
mãe. Não vou fugir dele, não de novo. A última vez eu era só um garoto,
agora, sou um homem que fará ele pagar pelo que fez. Não vou permitir
que isso aconteça de novo.
— Ele estava seguindo ordens. Ele sempre se arrependeu do que foi
forçado a fazer com o seu povo. — Ela sussurrou. — Ele matou nosso
pai não faz muito tempo. Ele garantiu que o verdadeiro assassino
pagasse por suas ações.
— Ele pegou para ele aquele monstro que deixou seu pai louco. É
só uma questão de tempo até que ele siga os passos de seu pai e destrua
o pouco que resta deste mundo. Ele não o matou por causa de suas
ações, matou porque ansiava o poder, nós ouvimos isso sussurrar
desde o dia em que ele matou seu pai. Matar Alazander não o absolve
de seus crimes. Aqueles que ele matou eram inocentes e não mereciam
morrer assim ou ser deixados para os pássaros carniceiros. — Ele
rosnou, seus olhos azuis cheios de gelo e ódio enquanto observava
Ciara engolir contra a malícia que ela viu em suas belas e aquáticas
profundezas.
— A besta do meu irmão é dele, não do meu pai. Sei o que ele é e
estava lá no dia em que ele matou meu pai, vi o que aconteceu e por
que aconteceu. Ryder não é o que você pensa. — Ela respondeu
cuidadosamente, observando o Dragão enquanto ele se aproximava
ainda mais dela. — Acha que nosso monstro paterno era mais gentil
com seus filhos? Ele nos usou, derrubou meus irmãos até que eles não
tiveram escolha a não ser fazer o que ele ordenou, e se eles lutassem
contra, ele mataria quem quer que fosse o mais próximo. Ele os
torturou, mas Ryder não é nosso pai, eles não são nada parecidos.
— E você mentiria para proteger ele. — Ele sussurrou.
— Eu sou Fae, idiota. Cem por cento da realeza Alto Fae e você sabe
disso. Não posso mentir! — Ela rosnou e olhou para ele. — Estou te
dizendo a verdade!
— Quem disse que os Fae não podem mentir? A Aliança? Como você
sabe que isso não é algo que eles disseram à Aliança para convencê-
los? Se eu fosse o Alto Fae, teria contado a mesma coisa. Tortura, agora
não é? Eles comprariam qualquer coisa que dissessem, porque é claro
que os Fae não podem mentir.
— Você é o idiota mais teimoso do mundo! Me ouviu? — Ela rosnou
enquanto lutava contra as correntes que a seguravam.
Eu fiz uma careta. Ele fazia sentido, porque se eu fosse o Fae, teria
dito isso a eles também, mesmo que não fosse verdade.
— Quanto mais lutar, mais drena a pouca força que te resta, Ciara.
— Ele disse suavemente enquanto os olhos azuis cristalinos passavam
lentamente sobre seus seios, onde o vestido esfarrapado falhou em
esconder seu amplo decote, que se movia a cada respiração furiosa. Ela
parou. — Se eu fosse você, reservaria essa energia. Não tenho planos
de alimentar você ou ser vítima de sua sedução.
Ele não a alimentaria, mas eu sim. Meu poder não deixa nenhum
resíduo que pudesse ser rastreado, nem seria sentido por ninguém
neste campo.
Assisti quando ele se moveu para a aba e se virou. Seus olhos se
estreitaram e pude ver o músculo em sua mandíbula trabalhando
enquanto ele decidia o que dizer.
— Não pedi isso, mas não vou permitir que esse monstro tenha
outra oportunidade de prejudicar ninguém. Destruir qualquer outra
casta de Fae. Você é inocente, mas o meu povo também. O mesmo
aconteceu com os bebês que foram mortos para impedir que se
tornassem animais de estimação para o prazer doentio do rei da Horda.
As pessoas lá fora? — Ele apontou para fora da tenda. — Todos são
sobreviventes ou filhos. Temos que matar esse monstro. Aguardamos,
esperamos nosso tempo, e esse tempo é agora. Não se mexa muito,
princesa. Seu sangue não me dá prazer. — Ele grunhiu antes de se
virar e sair da tenda.
Esperei e vi Ciara abaixar a cabeça e olhar para onde eu estava
antes.
— Você tem que ir, Synthia. Precisa manter meus irmãos longe
deles. Eles vão lutar até a morte, e nenhum deles vai vencer. Não posso
viver sabendo que foram minhas ações que derrubaram essas pessoas
ou o Rei da Horda. Sei que ele não vai parar de me procurar, mas é
preciso.
— Eles criaram os problemas com os portais? — Minha voz mal
estava acima de um sussurro.
— Não. Eles não se incomodam com os problemas dos Fae. Mas eles
roubam mulheres, pois têm só algumas delas. Os nascimentos de
Dragões são tipicamente masculinos e, como a maioria de suas fêmeas
foram perdidas na Batalha dos Dragões, eles agora as tiram de aldeias
que não vão ser notadas pela Horda e acasalam com elas. E acho que
é por isso que não existem milhares aqui agora. O que você viu lá fora
foram os que estavam fora quando a Horda atacou, foram feridos e
deixados para morrer após a batalha, ou eram só crianças pequenas
que escaparam. Pelo que ouvi, agora eles têm alguns pequenos
acampamentos, espalhados em locais difíceis que a maioria não
ousaria pensar em procurar. A maioria não é habitada por criaturas
por causa do local. Dragão Aery é o que eles chamam de seu novo lar,
e Blane é seu rei nascido. Ele estava lá no dia em que Ryder matou os
Dragões, ele o viu fazer isso.
— A corrente, acho que posso tirar isso de você. — Mantive minha
voz baixa enquanto contemplava o que tinha me dito. Eu estava
sondando, meus olhos pegando detalhes minuciosos da corrente, mas
brilhou quando ela me interrompeu apressadamente.
— Você não pode. — Ela sussurrou. — Está pronto para me cortar
ao meio, se for adulterada, sou uma armadilha, feita para atrair a
Horda aqui para me ver morrer enquanto tentam me libertar dela.
Blane não é um cara mau, ele está danificado. Ele suportou muito, mas
acho que posso alcançar ele, Syn. Só preciso de tempo. Mas a corrente,
acredito que seja uma das relíquias que meu irmão está procurando.
— Se for esse o caso, é uma relíquia bem fodida. Ciara, não vou
deixar você aqui.
— Você precisa. — Ela sussurrou freneticamente enquanto as
lágrimas deslizavam por suas bochechas. — Prometa que não vai deixar
meus irmãos virem. Mantenha eles salvos, vou me libertar, prometo.
— Se ele não te alimentar, você vai enfraquecer e definhar. Tem
muita emoção neste campo. Raiva, dor, ressentimento, ódio, isso não é
suficiente para te manter por muito tempo. — Briguei enquanto lutava
contra as emoções que guerreavam dentro de mim. Não aceito chegar
tão perto e simplesmente deixar ela, mas quanto mais olhava para a
corrente, mais os detalhes se tornavam aparentes. Não poderia ser
removida dela, por ninguém, exceto pela pessoa que a colocou. Pior que
isso, o cinto fino que ela usava tem algum tipo de farol, como um
rastreador. Provavelmente à prova de falhas, caso ela conseguisse
escapar.
— Ele vai me alimentar. — Ela respondeu confiante. — Vou falar
com ele e o farei ver que sou de carne e osso, assim como ele. Você
precisa ir agora. Por favor, confie em mim. Meus irmãos não confiam,
eles acham que sou fraca porque nasci mulher, mas não sou. Posso
fazer isso e acabar com esta guerra antes que ela realmente comece.
Fiz uma careta e coloquei a mão em seu ombro, bombeando poder
nela e alimentando o suficiente para durar um tempo. As alas da tenda
começaram a brilhar, então diminuí a quantidade de poder que estava
dando a ela. Seu cabelo ficou mais cheio, com uma cor mais exuberante
enquanto eu a alimentava. As olheiras desapareceram e seu corpo se
encheu um pouco, sem mais fome de nutrientes. Sua carne parecia
mais saudável agora e, só para ferrar um pouco com a cabeça dele, a
limpei e enfeiticei uma blusa e uma saia nova em seu corpo que
deixaram seu abdômen e a corrente expostas.
Dei um passo para trás e vi como o brilho violeta em seus olhos
desapareceu com a alimentação. Balancei a cabeça, sem saber se
poderia fazer o que ela estava pedindo, mas confio nela. Conheço ela,
que é forte e teimosa, como seu irmão. Se ela pudesse terminar a guerra
antes que chegasse à nossa porta, poderia valer a pena.
A abracei brevemente e sussurrei:
— Ciara, vou voltar para você. Vou descobrir como remover essa
corrente e vir te buscar. Você tem uma janela de tempo muito curta,
não vejo seus irmãos suportando o fracasso, voltando para casa sem
você por muito mais tempo. Faça o que puder, mas volto. Entendido?
— Ele vem. — Ela sussurrou, e me mudei para aba, me empurrando
contra o lado da tenda enquanto os homens corriam com armas
sacadas. Quando eles entraram, saí com um último olhar para Ciara
enquanto ela sorria quando o Rei Dragão entrava com seus guardas
bem atrás dele.
— Ela fez isso. — Um dos homens aplaudiu de dentro da tenda. —
Falei que ela era vaidosa demais para permanecer suja. — Ele riu
quando agarrou o braço dela e o virou. — Vaidade é uma cadela, Ciara.
— É isso mesmo? — Ela ronronou quando seus olhos se voltaram
para o rei deles. — Ou foi algo mais? — Ela sorriu atrevidamente.
— Prepare as armas e faça com que os homens se preparem para
lutar contra a Horda, caso eles venham buscar ela. — Blane resmungou
friamente.
Engoli em seco e rezei aos deuses para que Ciara soubesse o que
estava fazendo. Vou matar todos eles antes de deixar tocarem Ryder.
Cada um deles.
Eu estava de pé na varanda que ficava fora das câmaras do nosso
quarto enquanto esperava Ryder vir para cama. A culpa tomou conta
de mim enquanto pensei no que concordei. Deixei Ciara aos cuidados
dos inimigos de Ryder, e odiei isso, mas entendi o que pretendia. Ela
queria provar seu valor, mas a que custo?
Ela queria parar uma guerra, mas e se desse a vida para isso, e
ainda acabássemos em guerra com os Dragões? Descansei os braços
na parede da varanda e olhei para a vista magnífica enquanto tentava
entender tudo o que aconteceu no passado, especialmente nas últimas
semanas. Estou queimando com segredos que odeio esconder de Ryder.
Odeio mentir para ele, mesmo que seja para proteger daqueles que
poderiam tentar machucar ele.
— Você está pensando demais. — O timbre profundo de sua voz me
fez pular, me virei e dei a ele um pequeno olhar de aborrecimento. —
Preocupada com o casamento? — Suas mãos capturaram as minhas e
me puxaram para perto.
Engoli em seco e balancei a cabeça.
— Tem algo que preciso te contar e preciso que você não surte.
Preciso que você confie em mim. — Murmurei, mordi o lábio inferior e
espiei nervosamente seus olhos dourados.
— Synthia, não temos segredos. — Ele rosnou. — Não guardo nada
de você.
— Sei que não, e é por isso que tenho que te dizer uma coisa. Preciso
que você não surte, ok? Fiz algumas promessas e não quero começar
nosso casamento com nenhum segredo entre nós.
— O que você está escondendo? — Ele exigiu bruscamente. — Que
segredos?
— Você confia em mim? — Murmurei suavemente, lutando contra o
aperto na minha garganta enquanto assistia à guerra de desconfiança
passar por suas feições.
— Synthia. — Ele avisou.
— Você confia em mim?
— Sim, claro. — Ele retrucou.
— Existe uma bruxa original embaixo da Aliança. É por isso que a
Aliança de Seattle não está recuando, e se outras criaturas souberem
que ela está lá, tentariam tirar ela de nós.
Ele assentiu.
— Sei disso. — Ele respondeu e pisquei. — Synthia, não sou burro.
Conheço meus inimigos e faço questão de tentar descobrir o que eles
escondem de mim. A Aliança de Seattle enviou Executores para me
matar na primeira semana em que entrei na Tèrra, disfarçado de
Príncipe da Escuridão. Então, os tirei antes que eles se tornassem um
problema, também fiz um movimento para os Anciões da Aliança que
deram a ordem, e eles cantaram antes de Ristan usar a primeira lâmina
neles. Ele acompanha os Anciões nas Alianças de Seattle e Spokane há
anos e descobriu sua existência há algum tempo. — Seus dedos
traçaram levemente meus lábios enquanto tentava avaliar o quão
chocada ou zangada eu estaria com suas táticas. — Você sabe quem
sou, o que sou, então não fique brava que retaliarei meus inimigos,
caso contrário, alguns podem pensar que sou fraco.
— Encontrei ela. — Soltei depois de ter digerido a notícia de que ele
tinha assassinado não só aqueles que foram enviados para matar ele,
mas também aqueles que deram as ordens. E não poderia culpar ele
por isso, pois teria feito o mesmo, já que os padrões da Aliança são
matar ou ser morto.
— A Bruxa original, você acabou de dizer isso. — Ele falou com um
sorriso fácil quando teve certeza de que eu não estava chateada por ele
ter matado membros da Aliança.
— Ryder, preciso que me prometa que confia nela e que vai confiar
nela. Preciso que você não me pergunte onde ela está.
Ele ficou parado por um momento, depois se afastou de mim.
— Você encontrou Ciara. — Disse ele rigidamente.
— Sim. — Assenti. — Ela está viva e está segura.
— Onde ela está? — Ele rosnou e quando me aproximei, ele deu
outro passo para longe de mim. — Vai me dizer onde está minha irmã
agora.
— Não, não vou. Porque você vai entrar lá como um louco e tentar
salvar ela, mas se fizer isso, vai assistir ela morrer. Então não, Ryder,
não vou te dizer onde ela está. Você pode cancelar o casamento, se é o
que quer, mas não posso te dizer onde ela está ainda. Desculpe, eu te
amo demais para fazer isso. — Me virei e saí da varanda, ouvindo sua
respiração pesada enquanto ele lutava com o que eu disse.
Não começaria nossas vidas juntos com as mentiras de outras
pessoas. E não enviaria ele para essa armadilha, ele não suportaria ver
sua irmã ser despedaçada por alguma corrente com magia no momento
em que entrasse naquela tenda, porque não tenho certeza de que ele
viveria com algo assim, não o mesmo homem que eu amo. Eu também
prometi a Ciara e, por algum motivo, confio nas habilidades dela.
Atravessei nosso quarto e entrei no corredor principal, em direção
ao jardim quando ele agarrou meu braço e me girou enquanto Ristan e
Zahruk entravam na sala.
— Você vai me dizer onde está minha irmã! — Ele demandou. — Não
é sua luta, e não tem o direito de esconder de mim, eu sou seu rei!
— Não, você não é. — Murmurei enquanto lutava com a minha raiva.
— Fui criada humana, e embora eu admita que você seja rei aqui, você
não pode me ordenar assim, Fada. Não vou dizer onde ela está!
— Flor... — Ristan hesitou quando Ryder o interrompeu.
— Pergunte a ela onde Ciara está. — Ryder rosnou, seu tom de raiva.
— Sim, me pergunte onde ela está, Demônio, e não direi nada. Nem
uma palavra a mais sobre o paradeiro dela do que eu já disse a ele!
Diga a esse seu pomposo irmão idiota que ela é a isca. Eles a equiparam
como uma armadilha para ele e o resto de homens das cavernas
superprotetores, eles esperam que todos vocês marchem para lá como
Rambos, para que possam matar todos vocês. Então não, não vou dizer
nada a ele até descobrir como tirar esse cinto dela.
— Qual cinto? — Zahruk interrompeu, seu comportamento calmo e
calculista escorregando com a menção de Ciara.
— Aquele que vai destruir ela, se alguém da Horda a tocar ou tentar
mover. A sala onde ela está presa é protegida contra a Horda, não só
como um alarme, mas para imobilizar qualquer pessoa da Horda
também. — Respirei fundo, me acalmei e balancei a cabeça um pouco,
tentando classificar meus pensamentos. — Eu sei onde ela está, mas
não sei como tirar Ciara de lá sem matar ela. Até eu saber, ninguém
vai entrar. Ela está cercada por um exército, Fada. Não vou te perder e
se você me odeia por isso, tudo bem. Pode me odiar, mas pelo menos
vai estar por perto para fazer isso. — Cutuquei seu peito com raiva. —
Eles podem não ser capazes de te matar, mas tenho certeza de que tem
outras coisas que podem fazer com você que seriam igualmente
terríveis. Ainda tenho pesadelos com os Magos enchendo você de ferro.
Vou estar no jardim cumprindo minha promessa para a árvore, se você
precisar de mim, porque promessas são algo que me esforço ao
máximo. Dancei na linha para não quebrar dois hoje... — falei com uma
determinação gentil no meu tom — Isso é mais do que quebrei em toda
minha vida. Então me odeie ou não, inferno, cancele o casamento, a
escolha é sua, mas não vou perder você para eles. Isso é algo que
simplesmente não farei. Então, vou descobrir como libertar ela e,
quando fizer, direi onde ela está. Até então, todos vocês precisam ter
um pouco de fé nela, porque ela praticamente ordenou que eu a
deixasse lá. Você a criou, todos vocês. Não é indefesa e é muito mais
forte do que todos pensam que ela é. Dê a si e a ela um pouco de crédito,
porque você treinou uma guerreira enquanto a criava para ser uma
dama. Não sinto muito por não poder dizer onde ela está agora, porque
sei que ela lhe mostrará do que é feita. Ela é como você, teimosa,
obstinada, mas leal e brilhante.
Comecei a me afastar quando Zahruk se virou e seguiu Ryder
enquanto ele se dirigia para a sala de guerra. Eu sabia instintivamente
que Ristan se arrastou atrás de mim enquanto empurrei os portões que
levavam aos jardins e corri pela estufa principal, para o ar aberto da
noite. Exalei uma respiração instável quando me sentei em um dos
bancos principais que dava para as mudas de árvores Elder.
— Flor, você deixou ela para trás. — Ele acusou com uma pitada de
raiva frustrada. — Então explique o resto para mim.
— Você acha que eu queria deixar ela lá? Se eu tivesse uma escolha,
teria nocauteado sua bunda teimosa e a traria de volta comigo. Não
consigo tirar a corrente dela, e se ela se move de alguma forma, se
parece como uma ameaça, rasga sua pele. Mas ela nunca se encolheu
ou mostrou um pingo de dor. Ciara acha que é uma das relíquias que
vocês estão procurando. Acho que ela provavelmente está certa, mas
não terei certeza até chegar às bibliotecas e procurar essa coisa. Odiei
deixar ela, mas é mais forte do que qualquer um de nós lhe dá crédito,
ela me disse para ir para que pudesse nos impedir de ir à guerra.
— Quem tem ela? — Ele fez um gesto para eu me aproximar e sentou
no banco ao meu lado. Se alguém entenderia o que fiz, seria o Demônio,
mesmo que fosse sua irmã que estava em risco agora.
— O rei dos Dragões. — Sussurrei quando fechei os olhos. — Ryder
vai me deixar, não é?
— Não, ele está chateado, mas não é estúpido.
— Não posso perder ele. — Respondi enquanto olhava para Ristan
e o encontrei me observando enquanto esperava pacientemente que eu
derramasse o resto do que estava passando pela minha mente. Apoiei
minha cabeça no ombro dele e exalei um longo suspiro. — Eles o
culpam injustamente, mas entendo. Entendo as razões de Blane. Blane
é o Rei Dragão, e acho que ele assistiu Ryder massacrar sua família.
Sei que precisa vingar aqueles que foram injustamente mortos. —
Engoli em seco e olhei para ele. — Ele sou eu, mas com um pau.
Ristan riu, mas seu sorriso vacilou e ele balançou a cabeça.
— Então você também sabe que precisamos matar ele antes que se
mova contra Ryder.
— Eu sei. — Suspirei tristemente. — Posso voltar para onde ela está.
As alas ao redor do acampamento e Ciara não me detectaram,
provavelmente porque ele está só tentando pegar os Fae da Horda, mas
não acho que sua vingança acabe com ele. Acho que se tivermos que
matar todos eles, a história vai se repetir mais uma vez.
— Às vezes, acho que estamos presos em um ciclo interminável, que
não temos o poder de parar. — Disse ele, pensativo, e acenou com a
cabeça para o lado como se estivesse ouvindo alguma coisa. — Ryder
está esperando por você no seu quarto, Flor. Seja gentil, ele não está
acostumado a estar um passo atrás, e você a encontrou primeiro
curvando seu ego um pouco, considerando que nem sequer a
procurava até onde ele estava preocupado.
— Ela não é mais só sua irmã, Demônio, ela é minha futura
cunhada, e você realmente acha que eu não procuraria? — Levantei e
me virei para olhar ele.
— Não, só imaginei que você teria tentado antes, mas tivemos algo
voando em nossas cabeças de todas as formas por semanas, e você teve
que enviar seus próprios filhos para manter eles seguros. — Ele fez um
pouco de barulho quando se levantou e deu alguns passos em direção
à estufa. — Você escolhe suas batalhas, Synthia, sempre escolheu. Se
diz que ela não pode ser resgatada até descobrirmos como essa corrente
funciona, acredito em você. E digo, porque você não está sozinha nisso.
Dristan e eu conhecemos as bibliotecas muito bem, e podemos te
ajudar a encontrar o que é isso nela e como desabilitar. A pergunta é
quanto tempo você acha que vai levar até que Blane descubra que não
vamos, e ele matar e a mandar ela para casa em pedaços?
— Ela não é quem ele culpa. — Dei de ombros. — Ele culpa Ryder.
E não acho que machucaria ele. Assustar ela, sim. Mas ela é mais
esperta do que eu pensava, e acho que ele e o resto de vocês a
subestimaram. Ele a deixou imunda e em trapos, mas ela sabia que se
usasse sua magia, você a encontraria. Ela está em guerra com o
cérebro, todos vocês devem estar orgulhosos. É mais do que eu teria
imaginado se estivesse no lugar dela.
— Seu futuro rei está impaciente. — Ele sorriu e assentiu quando
sorri. — Synthia, você disse a ele que ele não era seu rei no salão
principal com os criados presentes. — Ele riu quando fiz uma careta.
— Vá até ele, diga como se sente, a verdade desta vez, hein?
— Obrigada, Demônio. — Gemi quando vi sua imagem desfocar
enquanto se transportava.
Entrei no quarto e encontrei um Ryder zangado. Cada passo que ele
dava era doloroso de assistir, sabendo que eu poderia pôr um fim
rápido a isso, mas Ciara merecia uma chance de tentar impedir o
derramamento de sangue do seu jeito. Ela sabia o quanto a morte dos
Dragões incomodava Ryder, e se ela pudesse encontrar uma maneira
de fazer as pazes entre os Dragões e seus irmãos, estou disposta a dar
a ela essa chance.
Fui em direção à cama e parei, considerei o que deveria dizer, o que
poderia dizer e me vi perdida pelas palavras certas.
— Também fiz um voto. Um voto para proteger ela de qualquer
pessoa e qualquer coisa, desde o momento em que ela nasceu, Bruxa.
Ela é minha responsabilidade.
— Respeito isso. — Balancei a cabeça levemente e me virei para
olhar ele. — Ela está com o rei Dragão.
— O que? — Ele retrucou e fiz uma careta quando a cor sumiu de
seu rosto. — Ele está morto há muito tempo... Você viu, não tinha mais
nada dos Dragões.
— Sim, bem, os Dragões que vi hoje cedo foram bastante
convincentes, e não estou falando de shifters que podem manter a
forma por alguns minutos, vi um se transformar e voar para o céu. Eles
sobreviveram. O filho do rei Dragão escapou no dia em que vocês
atacaram. E me deixe dizer, ele esperou muito tempo para te fazer
pagar por isso. — Ele agarrou meus ombros e percebi que estava
levando dele para não me sacudir.
— Synthia, onde diabos ele a está mantendo? Ele vai matar ela! —
O olhar selvagem em seus olhos era puro medo por sua irmã.
— Não, ele não vai, porque precisa dela viva para atrair você. Ele
não vai machucar se achar que ela está cumprindo seu propósito, o
que nos dá tempo para descobrir como tirar esse cinto dela. Ela está
alimentada e me disse para sair. Não está machucada, mas poderia ser
se corrêssemos lá sem um plano. O lugar em que ela está sendo
mantida é protegido, se você for, será pego. Pior que isso, você chegaria
lá a tempo de ver ela morrer. Não tenho certeza, mas acho que esse
cinto é algum tipo de relíquia, e se alguém tentar tirar essa coisa, ela
será dividida em duas. Então é isso. Agora você sabe, Fada. Você não
pode salvar Ciara entrando como quiser, então preciso que confie em
mim, e resolveremos isso juntos. Você e seus irmãos podem parar de
procurar, mas recomendo que continue enviando patrulhas todos os
dias para mostrar que ainda estão procurando. Sei também que os
Dragões não têm nada a ver com os portais, o que nos coloca de volta
onde estávamos.
— Synthia, e se ele machucar ela porque não fui? — Ele lutou contra
os instintos que aperfeiçoou nos últimos milênios. Ele queria correr e
salvar o dia, mas não podia.
— Parecia machucar ele quando ela se moveu na direção errada e o
cinto tirou sangue. — Encolhi quando ele endureceu. Ah, sim, ele não
gostava que sua irmãzinha fosse machucada de forma alguma. — Ele
não gosta de causar dor a ela, mas faria se achasse que isso atingiria
você. Ela acha que pode alcançar ele e impedir de se vingar de você.
Não acredito, mas é possível. Pessoas que sobrevivem a coisas horríveis
podem perdoar aqueles que lhes causaram dor. — Murmurei enquanto
me aproximava e ficava na frente dele. — Culpei você pelo que
aconteceu com meus pais. Mas também te perdoei por ser Fae e me
apaixonei pela criatura que eu mais odiava em qualquer mundo.
— Você não perdoou Faolán. — Argumentou.
— Eu realmente precisei. Não por ele, mas por mim e por você. O
ódio é sombrio e estava me estrangulando. Precisei perdoar por amar
você. Te escolhi, Ryder, e faria isso toda vez. Madisyn também precisava
que eu o perdoasse. Foi o que fiz, mas sei que ele tem que morrer, é
sobre autodefesa e sobrevivência agora. Ele tem que morrer para que
meus filhos estejam seguros.
— Você nunca me disse que o perdoou. — Peguei um olhar pensativo
de admiração em seu rosto quando ele me puxou para perto e beijou o
topo da minha cabeça.
— Eu não pude, não podia admitir que tinha perdoado um monstro.
Não em voz alta, mas para Madisyn precisei tentar mostrar a ela que
sim. No momento em que realmente fiz, senti como se um peso fosse
tirado de mim, como se a luz estivesse acesa de novo e que não pudesse
mais me tocar. Então tenho que pensar que se eu posso parar de odiar
alguém que me fez tanto mal, há esperança para Blane.
— Você sabe o nome dele? — Sua voz era tensa quando ele afrouxou
o aperto e olhou para mim.
— Bem, não me sentei para tomar chá com ele, Fada. — Ri enquanto
batia no seu braço de brincadeira. — Observei ele porque se percebesse
que machucaria ela, não estaria aqui sem ela, com cinto ou sem cinto.
Então o observei e a maneira como ele interagia com ela, e acho que se
alguém pode alcançá-lo, é Ciara.
— Acha que Ciara vai ficar bem até descobrirmos como salvar ela?
— Ele olhou para mim, quase com medo de esperar que ela estivesse
bem sem a intervenção dele.
— Acredito que sim, porque ela é Ciara, e ela tem a sua teimosia e
sua cabeça fria, o raciocínio rápido de Ristan e a ferocidade de Zahruk
correndo em suas veias. Ela tem parte de todos vocês porque vocês a
criaram. Confie nela, e prometo ficar de olho na situação, mas só se
tiver certeza de que você vai ficar fora dela, só até que possamos
descobrir como tirar ela viva.
— Confio em você, bruxa. — Murmurou quando me virou e beijou a
parte de trás do meu pescoço suavemente. — Mas ainda vou te
espancar por ser imprudente.
— Acha que pode? — Provoquei e me afastei dele, o sorriso perverso
nos cantos da boca o suficiente para lhe mostrar que lutaria para salvar
a dor que ele pretendia infligir em meu traseiro.
— Sim, Synthia. Eu acho que posso. — Ele sorriu.
— Ryder, se me bater, então os deuses me ajudem! — Avisei quando
ele começou a me perseguir lentamente, como se eu fosse sua presa.
— Guardou segredos de mim, Animalzinho, terá consequências. —
Explicou ele calmamente. — Agora, eu tinha planejado te levar devagar
por horas, mas agora acho que uma pequena tortura está em ordem,
um pouco de dor misturada com prazer... ou muita. — Ele sorriu
quando me alcançou e me virei pelo quarto para ficar longe dele.
— Que os jogos comecem, Fada. — Sorri e me virei de novo antes
que ele me pegasse.
Assisti Madisyn continuamente torcer as mãos. Tinha um tumulto
absoluto desde o momento em que acordei esta manhã. É o dia do
nosso casamento e todos estavam no limite. A segurança dentro do
castelo foi reforçada, e tinha guardas à minha porta. Ninguém estava
confortável porque tinha muitas criaturas no castelo hoje.
— Você está linda, Sorcha, não é, Adam? — Madisyn disse, forçando
meus olhos a levantar das minhas mãos trêmulas para encontrar os de
Adam. — Eu quis dizer Synthia, me desculpe. Só que hoje minha filha
está realmente aqui.
— Ela é a coisa mais linda que já vi há algum tempo. — Ele
concordou, tirando a pressão de seu erro, embora ele estava bonito com
um smoking com uma gravata preta e colete cinza, com o cabelo
puxado para trás.
O meu estava empilhado elegantemente em cima da minha cabeça.
A coroa de prata que o mantinha engaiolado tinha rubis vermelhos em
cada pico elevado. Pulseiras de prata que combinavam com as faixas
em volta do meu bíceps tocavam musicalmente toda vez que me movia.
Eu usava maquiagem suficiente para aprimorar minhas feições, e
ainda assim parecia natural. O vestido não foi o que escolhemos juntos,
mas uma surpresa de última hora que Madisyn me enfeitiçou – e eu
poderia jurar que a sorrateira Rainha Fae começaria a chorar se eu não
desistisse e o usasse. Este era um tafetá branco-amarelado e com as
costas abertas com tiras cruzadas e babados de organza que caíam
lindamente no chão. Na frente um decote em V profundo, e o véu era
puro e com bordas quase transparentes, usadas no casamento de
Madisyn há muito tempo.
Levantei e me virei para Madisyn e Adam, que esperavam comigo
enquanto os guardas faziam uma busca no perímetro antes que
chegasse a hora de caminhar pelo corredor e me casar com meu Fada.
Meus nervos estavam agitados, meu coração batia forte no meu peito
enquanto considerava o que estava fazendo.
Não estou com medo de me ligar a Ryder; amo ele. É algo que sei na
própria fibra do meu ser. Não tenho medo de passar o resto da minha
longa vida com ele, para mim, não tem outra opção. Ele é meu. O resto
não é importante desde que tivéssemos isso. Estou nervosa e ansiosa
porque muitas coisas poderiam dar errado hoje. Tinha tantas criaturas
prontas para estar dentro do castelo que, se alguém que nos desejasse
mal quisesse, seria fácil.
— Nervosa, Syn? — Adam se aproximou e me entregou uma taça de
vinho tinto.
— Não, não sobre casar com ele. — Respondi suavemente. — Amo
ele. Só estou preocupada com tudo o que poderia dar errado hoje.
— Todos nós estamos. — Ele me deu um pequeno sorriso quando
aceitei o copo de sua mão, e ele agarrou a minha com força suficiente
para me tranquilizar. Puxei a mão para trás e coloquei o vinho na mesa
de bebidas. — Larissa teria adorado isso. — Ele sorriu e seus olhos
brilharam carinhosamente para mim. — Ela estaria ficando louca por
você ser uma rainha.
— Ela teria e já teria experimentado todas as coroas agora. Ela
adoraria aqui, provavelmente mais do que qualquer um de nós.
Larissa teria planejado o casamento inteiro com Madisyn, ela teria
adorado. Desde que éramos crianças, ela sempre se importava, e ela
queria os filhos, um grande casamento e um príncipe. Eu não. Engoli
o nó que se formou na minha garganta enquanto tentava lembrar como
ela era. É como se o tempo estivesse apagando minha amada amiga da
minha mente.
— Não lembro como ela era. — Sussurrei através dos lábios
trêmulos. — Adam. — Me virei para olhar ele com lágrimas nos olhos.
— Não me lembro como era Larissa.
— Grandes olhos verdes, a cor da primavera mais verde que existe.
— Sua voz era suave quando ele estendeu a mão e tocou meu rosto. —
Cabelos castanhos que não podiam ser domados. — Ele sorriu. — Era
tão selvagem que ela precisava prender para que pudesse dormir à
noite. Você se lembra do quanto ela reclamava? Ele nunca fazia o que
ela queria, e, no entanto, todas as manhãs parecia perfeito, como se
ela passasse horas organizando ao invés dos poucos minutos que
estávamos autorizados a nos preparar para missões. Nem um único fio
parecia deslocado, e você costumava provocar ela, porque sempre se
parecia pronta para guerra no momento em que se levantava da cama.
— Ela estava sempre tão preparada. — Tentei dar um tapinha nos
cantos dos meus olhos para ter certeza de que não estava chorando. —
Sua maquiagem nunca estava desfeita, e ela nunca parecia exausta
como o resto de nós.
— Não, ela estava sempre atualizada com o pouco sono que
tínhamos. — Ele riu.
— Você se lembra do pijama rosa dela com os sapos? — Eu ri.
— Oh Deus, eles estavam caindo aos pedaços. — Ele bufou. — Eles
realmente abraçaram sua bunda muito bem.
— Pervertido. — Eu ri. Lágrimas turvaram minha visão e mordi o
lábio quando um soluço escapou. — Sinto falta dela. Quero ela tanto
aqui comigo hoje.
— Vai estragar a maquiagem. — Repreendeu quando se aproximou
e me abraçou com força. — Ela teria dado qualquer coisa para estar
aqui, se pudesse.
— Eu sei, mas não tem um dia em que eu não pense nela e sinta
falta dela fazer parte disso. — Engoli em seco quando me afastei e
limpei meus olhos com cuidado.
— Todos sentimos a falta dela. — Ele concordou.
— Synthia, está quase na hora. — Madisyn interrompeu quando
abriu a porta e falou com os guardas por um momento. — Preciso tomar
o meu lugar. — Ela fez um gesto para que Adam a seguisse. — Adam
vai esperar você e seu pai nas portas da sala do trono, como nós
praticamos.
— Ok. — Subi na ponta dos pés para beijar a bochecha de Adam
antes de abraçar Madisyn, que sorriu em resposta.
— Você está uma visão hoje. Uma que as terras vão falar até o fim
dos tempos. — Disse ela bruscamente antes de enxugar os olhos e
sorrir. — Obrigada por me permitir fazer isso por você.
— Eu não faria de nenhuma outra maneira. — Toquei nos cantos
dos meus olhos enquanto os assistia sair. Depois que a porta se fechou,
exalei e voltei para a penteadeira, encarando o reflexo de uma estranha.
Assisti enquanto minha imagem brilhava com a aparência que eu
queria. Por um momento, me vi quando não era mais que uma
Executora, glifos azuis brilhantes aprimorados com a tinta invisível,
então minha imagem brilhou para garota que chegou à Terra dos Fae
pela primeira vez. As marcas de Herdeira rodaram sobre minha carne,
se espalhando enquanto lutavam entre si pelo domínio sobre minha
carne. Elas escalaram meus braços em linhas finas para formar um nó
celta colorido de feminilidade nos meus ombros. O lugar onde as
estrelas dos meus guardiões descansavam como um lembrete do que
perdi. Uma para cada vida que eu perdi na minha infância. Meus olhos
se fecharam e, quando abri, eles eram os brilhantes azuis e lilás que
herdei após a transição. Linhas delicadas e pretas cercavam minhas
írises, o tricolor da realeza Fae. Abri a boca, observando enquanto as
presas delicadas se estendiam. Era assim que eu deveria parecer, essa
sou eu.
— Lá está ela. — Sussurrei com o reflexo, vendo as marcas lutando
pelo domínio. Vermelho escuro, ouro, preto e prata pulsavam ao longo
dos meus braços enquanto a energia irradiava de cada fio. A tinta
branca da Aliança pulsava também, brilhando forte e com certeza
mesmo contra as marcas Fae. Fazia muito tempo desde que eu os vi ou
qualquer coisa que eu tinha desde antes de vir para a Terra dos Fae.
Aquela garota ainda estava lá, mas não era a mesma.
Estendi a mão e comecei a puxar o véu sobre o meu rosto quando
uma batida soou na porta, me movi sem pensar quando ela se abriu e
Lasair entrou. Ele parecia majestoso em seu terno, mas seus olhos
pareciam diferentes hoje. Ele acenou para os guardas e ordenou que
esperassem por nós no corredor externo para guardar nossa entrada
no salão principal.
Uma vez lá dentro, ele virou os olhos violeta e cobalto em mim e
sorriu enquanto lentamente me olhava. Mas seu sorriso me deu uma
pausa e os cabelos da minha nuca se arrepiaram, sabendo que tinha
algo errado.
— Lasair? — Olhei para ele especulativamente, tentando descobrir
o que estava acontecendo quando ele me deu um sorriso generoso, seus
olhos brilhantes pareciam brilhar.
— Sorcha, meu amor, algum problema? — Perguntou, revelando
dentes perfeitos.
— Nem um pouco, Faolán. — Rosnei enquanto o observava. Seus
olhos se estreitaram e ele sorriu, enquanto o observei fechar a porta,
engoli o desejo de gritar por ajuda. — Sei que você receberia a
mensagem que enviei. — Assisti enquanto ele nos trancava no quarto.
Não sinto medo dele. Não teria mais medo dele. Ele ocupou muito
da minha vida me preocupando com onde ele estava ou o que estava
fazendo. Ele é louco, e a única maneira de proteger a mim e aos meus
bebês, é tirar ele da equação.
— Medo, irmã querida? — Ele sorriu enquanto produzia lâminas e
desistia de fingir ser nosso pai. Seus traços brilhavam de volta aos que
me assombraram a maior parte da minha vida. Ele ainda era bonito,
seus olhos brilhavam enganosamente, a beleza etérea dos Fae era sua
única qualidade redentora, mas era uma mentira. O que tinha por
baixo daquela bela fachada era monstruoso. Ele inclinou a cabeça e me
observou enquanto se aproximava, só para eu me afastar, colocando
mais distância entre nós.
— Não tenho medo de você. — Respondi facilmente, sem mostrar
fraqueza. Ele era frio, maníaco e sua espécie se alimentava do medo.
Puxei o véu e tirei os sapatos da Cinderela que eu usava para Ryder.
Ele adorava me foder de salto pois parecia particularmente quente em
seus ombros. — Eu era criança, quando você matou as pessoas que
estavam me protegendo. Sabia o quão perto esteve de mim naquele dia?
— Provoquei, afastando sua atenção dos meus seios, que seus olhos
deleitavam. — Eu estava lá, irmão. E assisti você pegar minha mãe
adotiva repetidamente antes dela atirar na cabeça do meu pai. Eu
estava bem debaixo do seu nariz e você ainda não conseguiu me
encontrar. Tão perto, Faolán, e sempre fora do seu alcance.
— Você está sozinha agora, irmã, e eu trouxe outras pessoas comigo.
Outros que querem ver o fim da linhagem do seu noivo. A Horda não
vai existir mais quando eu terminar com eles, e quando eu acabar, você
será minha. Desta vez, pegarei o que é meu por direito. Posso até lhe
dar um pouco de prazer antes de terminar com sua vida patética.
— Sempre com a foda, Faolán, sou sua irmã. Seu fodido doente. —
Eu ri. — Você não é homem o suficiente para me levar, nem agora, nem
nunca. Quem você trouxe aqui será massacrado, e isso vai terminar
aqui e agora.
— Termina quando eu encontrar seus gêmeos e os abater. — Ele
gritou, a saliva explodindo de seus lábios.
— Trigêmeos, Faolán, eu tive três. Três filhos que são mais dignos
de herdar as marcas de Herdeiro do que você. Tenho pena de você, você
é uma coisinha triste. — Balancei a cabeça com nojo enquanto pegava
espadas esperando ele atacar. — Você sempre perde, e isso é porque
você quer muito. Demais. Nunca vai liderar nenhuma casta dos Fae,
porque você não é um líder. Você correu para os Magos e procurou a
ajuda deles porque é fraco demais para fazer qualquer coisa. Aqui te
chamamos de Faolán, o fracasso, nascido para falhar em qualquer
coisa que se propõe a fazer.
— Já te capturei uma vez, prostituta, farei de novo e vou forçar ele
a assistir enquanto abro suas coxas e a levo. Você vai gritar por mim,
seja de prazer ou de dor, vai gritar! — Ele gritou enquanto se lançava,
e dancei em torno dele, evitando o ataque e desviando com minhas
lâminas enquanto colocava minhas costas na porta e o observava.
Suas lâminas eram de ferro, os cabos estavam envoltos em faixas
de pano, mas para os Fae, elas eram mortais. Ele as carregava,
lentamente se drenando para chegar até mim. Eu estava esperando por
ele, sabendo que esse casamento não aconteceria se ele aparecesse,
mas isso era mais importante.
Isso significava tudo.
— Ferro? — Levantei uma sobrancelha para ele, me perguntando
por que estava trabalhando tão duro para me matar se pretendia me
ter ainda.
— O ferro mata os Fae, acha que eu vim aqui para fazer prisioneiros?
— Ele cuspiu.
— Não, acho que veio aqui para morrer. — Respondi calmamente.
Ele pulou, balançando, e desviei enquanto avançava. Uma dança
milenar de guerreiros, cada golpe fácil quando desviei seus golpes com
minhas lâminas mais leves e finas. Caí e rolei quando ele se aproximou
de mim, chutando quando desci, o que o fez arrebentar as portas pelas
quais ele entrou.
No momento em que entramos nos corredores, o som de fracos
gritos chegou aos meus ouvidos e ignorei. Nada importava, exceto
matar ele. Levantei minha lâmina quando ele se lançou, desviando o
golpe que ele deu para cortar minha cabeça do corpo.
Dei um passo para trás e, por um momento, perdi o controle do meu
corpo quando uma explosão de ruído e força pura me derrubou, pedra
e madeira sopraram pelo corredor. A explosão enviou Faolán e eu
rolando pelos detritos que se espalharam sobre nós e pousaram em
todos os lugares. Fui a primeira a procurar minhas lâminas enquanto
meus ouvidos continuavam zumbindo com o barulho. Eu estava
coberta por um brilho de poeira fina de pedra. Não parei para olhar
quando encontrei uma lâmina e me virei a tempo de desviar outro golpe
e estocada, e então o desviei enquanto ele atacava sem piedade.
Meu coração pulou uma batida quando gritos irromperam do salão
principal, o lugar onde Ryder deveria estar esperando para se casar
comigo. Não ousei correr para ele, porque Faolán desapareceria no
momento que eu fizesse. Eu estava embaixo de uma lâmina, tendo
perdido ela nos escombros e podia sentir as alas ao nosso redor
zumbindo com o aviso de perigo.
Na minha mão livre, eu trouxe uma bola de energia, um poder azul
fluorescente voou em Faolán antes que pudesse pensar em bloquear.
O golpeou no peito, enviando ele para a parede atrás. A fumaça subiu
do corredor, e meu coração batia violentamente enquanto os gritos
persistiam. Gritos aterrados e gemidos de dor carregavam a fumaça
que chegava ao corredor, enchendo com uma névoa de fumaça que
tornava quase impossível ver Faolán.
Uma após a outra, continuei jogando bolas mágicas de energia em
sua direção. Incapaz de ver se atingi a marca, me aproximei, só para
sentir uma dor lancinante quando uma dele me acertou. Me abaixei,
sem ousar rolar com as pedras e outros detritos que cobriam o chão.
Meu lado estava pegando fogo, mas não perderia essa batalha.
Permaneci parada, imóvel. Nem me atrevi a respirar enquanto ele
me procurava na fumaça espessa e ondulada. No momento em que ele
chegou perto, levantei a espada e deslizei através dele, mas ele se
afastou da dor. Seu grito me disse que atingi minha marca, e mais uma
vez fiquei em silêncio enquanto atravessava a sala, usando a fumaça
como uma tela e um escudo.
Ele se atrapalhou. O som de pés esmagando rochas deu sua posição
e, mais uma vez, desisti da minha localização para balançar a lâmina
enquanto usava a outra mão para projetar energia a partir dela, seu
grunhido de dor foi satisfatório.
— Sua puta, você estragou tudo! — Ele gritou, um som oco pois deve
ter se engasgado com o sangue que certamente estava fluindo de seus
pulmões. — Eu deveria ter sido o herdeiro, e então teria matado nosso
pai chorão e levado sua coroa! Mas você, você estragou tudo! Eles
jogaram você fora como lixo, e você deveria ter ficado longe e vivido,
mas você retornou à Terra dos Fae e desencadeou seu destino. Agora,
esse destino vai te matar!
— Não sou só a herdeira do trono do sangue, Faolán. Eu sou uma
deusa. — Gritei com raiva. — Ninguém deixaria você sentar naquele
trono, ninguém! Você é mau até o centro de seu núcleo podre. Danu e
a Terra dos Fae teriam lutado com você para que as marcas herdeiras
fossem para Liam. Esta terra luta contra aqueles que a prejudicam, ou
você não percebeu isso?
— Eu teria matado todos eles e seus filhos! — Ele gritou, me
pegando desprevenida enquanto atirava outra bola de energia em
minha direção, atingindo o lado da minha cabeça.
Ele se lançou, tentando usar o elemento surpresa contra mim. Eu
estava pronta, e balancei minha lâmina quando senti o poder na sala
mudar no corredor, e ele colidiu com minha lâmina. Ela grudou em seu
ombro, mas mais uma vez ele se afastou nas densas nuvens de fumaça.
Fiquei em silêncio, sentindo quando ele embalou o braço e grunhiu
de dor. Me movi silenciosamente, deslizando sobre os escombros
enquanto me aproximava dele. No momento em que parei, olhando
para as costas dele. Seus ombros caíram em derrota, ele foi derrotado
e sabia disso.
— Você pode mudar. — Tentei. Pelo amor de Madisyn, pelo menos
eu tentaria, mas minha esperança morreu uma morte desprezível
quando ele se virou com as mãos cheias de energia. Naquele momento,
vi que ele nunca mudaria o que era: mal até seu último suspiro.
Minha espada girou antes que ele pudesse enviar as enormes bolas
brilhantes de magia para mim, cortando seus músculos quando sua
cabeça se soltou de seu corpo e rolou pelo chão cheio de escombros.
Meus olhos seguiram enquanto rolava em direção aos gritos que ainda
enchiam o salão. O sangue escorria do meu rosto e percebi vagamente
que era o fluxo arterial de sua decapitação. Meu vestido estava rasgado,
rasgado pela luta, mas não parei, não consegui.
Meus pés se moveram, como se puxados por um cordão invisível,
andei em direção ao caos que ouvi e entrei na sala onde eu estava
prestes a comprometer minha vida com a de Ryder. Não tinha alegria
em matar Faolán, só uma sensação de paz em saber que ele nunca
mais tocaria em mim ou em meus filhos.
Acenei com a mão, limpando a fumaça que enchia a sala e ofeguei
quando os corpos foram revelados. Corpos com membros
desaparecidos e cadáveres espalhados pelo chão. Adam estava deitado
no chão, me forçando a entrar em ação enquanto caminhei através dos
corpos para chegar até ele.
— Não, não, se levante. — Implorei enquanto procurava Ryder na
sala. — Adam, por favor. — Implorei, e quando ele abriu os olhos, cedi
de alívio. Minha magia procurou por ferimentos, encontrando várias
contusões, mas nada debilitante. — O que aconteceu?
— Jesus. — Ele ofegou, me segurando enquanto procurava por
ferimentos. — Você está sangrando.
— Não é o meu sangue. — Assegurei a ele. — Ryder?
— Não sei, ele não estava aqui quando a sala explodiu.
— Como isso explodiu? — Perguntei, olhando em volta, procurando
por pistas. Os destroços foram para fora, pedras foram atiradas para
fora do que foi uma parede. O estrago foi o pior no altar, o que
significava que foi o ponto de origem da explosão. — Era para matar
ele. — Tentei engolir o nó que apareceu na garganta nessa realização.
— Você não sabe disso. — Ele resmungou quando o ajudei a
levantar e tropeçamos nos corpos, pedras e detritos.
— Olhe para isso, acabou. — Sussurrei enquanto engolia o grito que
estava alojado na garganta. Não tinha sinal dele ou de seus irmãos.
Meus olhos se voltaram para aqueles que estavam se mexendo,
encontrando Lasair, Keir e Madisyn do outro lado da sala, cobertos de
poeira e sangue. — Eles poderiam ter encontrado uma maneira de
matar ele? Não posso perder ele, Adam. — Solucei. Não pude. Ele era o
meu mundo. Se ele se fosse, eu me revelaria. Eu desmoronaria. E me
tornaria um monstro para vingar ele. — Temos que ajudar os feridos.
— Anunciei resolutamente. Minha voz tremeu enquanto lutei para
controlá-la. — Temos que tirar eles daqui.
Assisti quando Adam se abaixou, pegando uma criança que ele
protegeu da explosão e fechou os olhos, ele os abriu, olhou para mim e
tentou se transportar de novo. Nada aconteceu.
— É uma ala, para anular a magia Fae. — Sussurrei enquanto
enviava poder para descobrir o que estava bloqueando. — Isso não foi
um sucesso. — Falei baixinho, apenas para os ouvidos de Adam. —
Isso foi a Aliança, esses são feitiços de bruxa. — Eles fizeram um feitiço
para impedir que os Fae se transportassem, para bloquear nosso poder,
o que significa que eles vieram aqui enviar uma mensagem, para pegar
alguma coisa.
Meu estômago caiu quando me virei e olhei para o altar, onde
estava. O ataque ao salão principal foi uma distração, o que significa
que o que eles buscavam não estava dentro do salão.
— Precisamos encontrar Zahruk e Ristan. — Lutei contra o medo
que tentava me engolir.
— E Ryder. — Adam olhou em volta da sala à procura do meu noivo
enquanto olhei para ele e assenti.
— E Ryder.
Andei pelo corredor, dormente e alheia ao choro e aos gritos que me
cercavam. O sangue que cobria meu vestido, pertencia a Faolán, assim
como a outros que ajudei quando levamos os mortos e os destroços
para o pátio enquanto limpamos a sala para poder alcançar os vivos.
Adam estava ao meu lado e não saiu nas horas que se seguiram à
explosão.
Fiz o melhor para assumir o controle da situação, embora o caos
ainda reinasse dentro do salão principal, enquanto as pessoas lutavam
para chegar aos mortos ou moribundos. As alas que impediram os Fae
de transportar foram encontradas e desativadas.
A pior parte de encontrar elas foi ver as runas que conheço como as
costas da minha mão. Runas da Aliança. As rochas lisas com runas
gravadas nelas foram encontradas espalhadas nas paredes do lado de
fora do castelo e dentro. A bomba que explodiu primeiro tinha sido
colocada sob o do trono de Ryder. Bombas de energia menores foram
colocadas em vários outros locais do castelo, elevando o número de
feridos a centenas. Os explosivos não tinham o poder de matar ou ferir
Fae, agora envolva a bomba com fragmentos de ferro e você tem outra
questão. Pregos de ferro, limalhas e outras pequenas partículas
metálicas ficaram encaixadas nas paredes e misturadas com os detritos
das bombas. Esta não era uma arma normal para a Aliança, mas as
bombas de energia menores é algo que até um novato na Aliança
saberia usar.
Girei em um círculo, absorvendo a gravidade do dano. Não foi até
um grupo de homens conhecidos entrar que meu coração ficou preso
na garganta e o chão parecia cair debaixo de mim. Ristan e Zahruk
caminharam lentamente pela bagunça até onde eu estava.
Inconscientemente, prendi a respiração e senti a mão de Adam nas
minhas costas, em busca de conforto.
— Onde ele está? — Sussurrei, o suficiente para até os Fae
discernirem.
— Devemos ir a algum lugar privado. Precisamos conversar. —
Nunca ouvi Zahruk falar tão baixinho antes, e a mandíbula dele me
disse que isso não seria bom. Seus olhos azuis procuraram meu rosto
enquanto afundei contra Adam para não cair na vista daqueles que
precisavam de minhas forças.
— Onde ele está? — Repeti trêmula, incapaz de impedir a pergunta
de sair. — Preciso saber.
— Pegaram ele. — Disse Ristan com cuidado.
— Ok. — Respirei fundo enquanto balançava, a realidade disso me
atingindo. — Onde diabos vocês estavam? — Exigi com acusação em
meu tom.
Zahruk olhou para Ristan e depois para mim como se estivesse
pesando suas palavras.
— Você disse que precisava falar com ele. — Seu olhar penetrante
queimava o meu. — Que mudou de opinião, você disse a ele. Então ele
foi com você às câmaras do conselho para discutir o assunto. — Zahruk
acenou com a mão para onde ficavam as câmaras do conselho ao lado
da sala do trono e vi que as portas estavam abertas. — Madisyn se
juntou a nós alguns momentos depois e disse que você estava pronta.
Foi quando descobrimos que não era você na sala com ele. Ele se foi
antes que pudéssemos arrombar a porta. — Ele soltou um suspiro de
raiva. — Nós o procuramos por horas, mas não tinha sinal dele em
lugar algum. Quem o levou planejou todos os detalhes, porque não
deixou nem uma pista de onde o levaram.
— A Aliança. Foi a Aliança. Nenhuma pista, além de todos os
malditos fragmentos de bombas que deixaram para trás, tem
impressões digitais da Aliança por toda parte.
— Como você sabe disso? — Perguntou.
— As bombas de energia usadas são armas de desvio comuns. Adam
é especialista em fazer esses tipos de bombas e granadas. As runas fora
e dentro do castelo são básicas, mas possuem poder suficiente para
impedir que Fae transportem. — Apontei para Ristan — Ele teria visto
as runas para esses tipos de alas em todo o lugar quando ele estava na
Aliança de Spokane. Conheço a Aliança, conheço os sinais deles em um
ataque. Se eu fosse para a Terra dos Fae pegar a criatura mais forte,
teria planejado algo semelhante. Esse ataque foi só uma diversão para
nos concentrar nele, ao invés do que realmente estava acontecendo.
— Onde você acha que eles o levariam? — Ristan perguntou.
— Meu palpite seria a Aliança de Seattle. É a mais próxima e a mais
fortificada do portal que está falhando. — Falei no piloto automático,
incapaz de entender o que aconteceu. — Precisamos tirar as pessoas
daqui, até Eliran. Perdemos muitas pessoas.
— O controle de danos pode esperar, o rei está desaparecido. —
Zahruk assobiou.
— O rei está com a Aliança. Não podemos simplesmente entrar e
pegar ele. Precisamos de um plano. — Afirmei, observando enquanto
ele considerava o que eu disse e, depois de um momento, assentiu um
pouco hesitante. — Nos ajude a mover aqueles com as lesões mais
críticas, os outros podem esperar.
— Synthia, você está bem? — Ristan murmurou quando viu o
sangue manchando meu rosto e vestido.
— Não é o meu sangue. — Afirmei, observando enquanto ele olhava
ao redor da sala e assentia com firmeza. — Faolán está morto. Ele
apareceu pouco antes das bombas explodirem, e tive certeza de que ele
nunca mais me ameaçaria ou o que é meu. — Me afastei de Adam e dos
homens enquanto ia em direção aos feridos, desesperadamente
tentando manter a mente ocupada para não ceder à vontade de
desmoronar. Eu queria cair de joelhos e gritar, chorar, fazer alguma
coisa. Não pude. Tinha olhos em mim e eles precisavam ver eu me
comportando como uma líder, não cedendo à dor e ao pânico que eu
sentia.
— O que você fez? — Zahruk exigiu e Adam apontou para o corpo
ao lado de Madisyn.
— Ele se foi. Isso é tudo que importa.
Meus olhos foram lentamente para onde Madisyn estava. Ela ficou
histérica quando Adam levou o corpo sem cabeça de Faolán com a
intenção de deitar seu corpo com o resto dos mortos, quando Madisyn
o deteve, eu ainda não tinha feito contato visual com ela, nem ofereci
conforto, mesmo sabendo que sua dor devia comer ela viva. Ele se virou
contra sua família, contra mim. Levou tudo em mim para oferecer a ele
a chance de mudar seus caminhos, mas suas ações me disseram tudo
o que eu precisava saber.
— Ela quer levar ele para casa. — Disse Ristan suavemente. — Ele
não pode ser enterrado no Reino do Sangue e não pode ser honrado na
morte. É uma pena que ele não possa ser sujeito ao castigo do traidor,
tendo sua pele colhida regularmente nos próximos dois séculos, no
entanto, ele deve ser lançado no abismo como o traidor que era.
— Ela está ciente disso. Lasair já declarou isso. Ela só precisa de
um momento, ele era filho dela, não importa quão monstro se tornou.
— Transportei um corpo no pátio e voltei, enfeitiçando o sangue das
minhas mãos enquanto tremia com a incerteza do que a Aliança
pretendia fazer com Ryder. A Aliança tinha informações muito
limitadas sobre a Horda, era a única raça com a qual nos atrapalhamos
cegamente. Isso funcionária a nosso favor para recuperar ele.
Me mantive ocupada até os últimos mortos serem removidos do
salão, limpos e envoltos para enterro. Adam sugeriu que Keir trouxesse
os Guerreiros das Sombras, a versão dos Fae da Escuridão da Guarda
de Elite por alguns dias, já que estávamos espalhados. Foi uma
demonstração bem-vinda de apoio da parte deles. A Guarda Carmesim
também chegou e tomou posição ao nosso redor no corredor. Mais e
mais membros da Guarda de Elite retornaram, cada um deu um
relatório, que Zahruk me transmitiu. Ninguém encontrou vestígios de
Ryder e, cada um que voltava de mãos vazias, comecei a me sentir mal.
Depois que terminamos, Zahruk e Ristan foram comigo até as
câmaras que compartilhei com Ryder. Cada passo mais perto parecia
que me destruiria.
— Vamos encontrar e trazer ele de volta para você, Flor. — Ristan
me assegurou quando parei de andar, meus braços envolvendo meu
estômago. Lágrimas queimaram os olhos, mas me recusei a deixar cair.
— Synthia. — Zahruk hesitou enquanto olhava em volta para
aqueles que podiam ouvir, então agarrou meu braço e me puxou para
perto. Juntos, descemos o corredor até as câmaras. Ele abriu a porta
para mim e me esperou. — Você consegue fazer isso. — Ele sorriu
severamente como se quisesse me tranquilizar.
— Eu não posso. — Funguei quando as lágrimas que eu estava
segurando caíram, e meus joelhos cederam quando um arrepio violento
rasgou através de mim. Bati no chão antes que Zahruk ou Ristan me
alcançassem e coloquei meus braços em volta do meu estômago de
novo e chorei. — Não posso fazer isso sem ele. Não consigo respirar sem
ele. — Solucei, meu corpo tremia violentamente e eu queria engatinhar
e ficar lá, no chão, em posição fetal.
— Foda-se. — Zahruk estalou quando se abaixou e me pegou,
depois me entregou a Ristan, que se mudou para a cama, me
segurando contra ele. — Ela não pode encarar eles assim. — Ele
rosnou, passando os dedos pelos cabelos enquanto o empurrava para
fora do rosto.
— Ela só precisa de um momento ou dois. Ela pode fazer isso. —
Murmurou Ristan, numa tentativa de encorajamento.
Chorei até não poder mais, e uma vez que as lágrimas cessaram, me
afastei de Ristan e olhei para ele. Ele e Zahruk pareciam exaustos e
incertos, o que só tornava a dor mais forte. Endireitei minha coluna,
enxuguei as lágrimas e falei com mais autoridade do que sentia.
— Qual é o plano, senhores?
— Precisamos da Horda, sabemos disso. Eles não vão seguir ela e já
sabem que Ryder está desaparecido. As notícias se espalham como fogo
na Terra dos Fae. — O tom de Zahruk era cansado, mas ainda com
autoridade.
— Não podemos pedir que nos ajudem? — Perguntei.
— Não é tão fácil. A Horda segue quem segura a besta, e você não a
segura, Synthia. Nenhum de nós. A única outra maneira é conduzir
eles através do poder e do medo da repercussão de não ajudar.
— Então, nós vamos fazer eles terem medo de nós. — Rosnei. —
Vamos matar qualquer um que questione nossa ordem, se os líderes
das castas fizerem, nós matamos também. — Olhei para os dois
ferozmente. — Chame eles, e se recusarem a me seguir, vou fazer eles
mudarem de ideia.
— E como vai fazer isso? — Os olhos penetrantes de Zahruk me
observaram em busca de algum sinal de fraqueza.
— Falando a língua deles. — Respondi com um olhar duro. — Ele é
o rei deles e eles vão lutar comigo para recuperar ele.
— Se a apoiarmos, pode funcionar. — Ofereceu Ristan. — Não te
consideram mais uma pessoa de fora. — Explicou quando nós dois só
o encaramos. — Não me olhe assim. É a Horda, eles amam o poder. Se
a Guarda de Elite a apoiar, vão pensar duas vezes antes de interrogar
quando ela ordenar que a sigam.
— Pode funcionar. — Concordou Zahruk enquanto esfregava o
queixo, e um brilho calculista entrou em seus olhos. — Mas, mesmo
com os números da Horda, ainda precisaremos de mais pessoas para
nos apoiar. Não imagino que a Aliança pensa que vamos sentar
passivamente e não vamos buscar por ele. Foi preciso esforço para
pegar, e não acho que eles pretendam devolver ele para nós.
— Eles vão lutar contra nós e vão morrer.
Ristan e Zahruk me observaram enquanto soltei as palavras. Eu
mataria por ele. Destruiria mundos por ele. Ele é o ar que enche meus
pulmões. Ryder é o meu mundo, e se eles pensam que podem entrar
aqui e tirar isso de mim, eles são loucos.
— Chame a Horda. Qualquer pessoa que não atender ao chamado
às armas será tratada com severidade e imediatamente. — Ordenei
enquanto ajeitava o maldito vestido de noiva e alisava a saia que me
recusei a trocar. Olhei para minhas unhas lascadas e depois voltei para
Zahruk enquanto ele sorria. — Estou preparada para fazer o que for
necessário para recuperá-lo e muito mais. Isso não pode ficar sem
resposta. Temos que responder da mesma forma, e se eles lutarem
contra nós, vão morrer. Precisam nos ver juntos, unidos. E precisam
saber que não vamos deixar esse tipo de coisa sem pagar dez vezes.
Esse é o caminho da Horda, não é? Você me conciliará e ficará comigo
quando enviarmos o chamado às armas. — Eu estava orgulhosa de
mim mesma por não ter me perdido. Eu queria, eu precisava. Entrarei
na Aliança e o trarei para casa, mas sei que a única maneira da Aliança
o levar, era pedir ajuda de alguém forte o suficiente para fazer.
Uma batida na porta atraiu todos os olhos para ela, e Ristan foi o
primeiro a avançar em direção a ela. Adam entrou, olhos verdes
trancados nos meus, e se encolheu com a visão do inchaço ao redor
dos meus olhos de tanto chorar. Andei para ele e segurei sua mão
enquanto olhava em seus olhos, sorrindo o melhor que pude enquanto
tentava tranquilizá-lo de que estava bem, mas as palavras não vieram.
Eu não estava bem.
— O que precisa de mim, Synthia? — Adam perguntou calmamente.
— Preciso saber que este castelo está protegido enquanto Ryder e
eu estivermos fora. Se você puder fazer com que alguns dos Guerreiros
das Sombras permaneçam aqui um pouco mais do que alguns dias,
posso sair sabendo que estará protegido quando eu partir. Não posso
deixar nosso povo exposto, não quando tantos feridos eram da Horda.
Agora, se os dragões atacassem, eles tomariam o castelo. Não podemos
permitir que isso aconteça.
Adam olhou para nós com confusão.
— Dragões? Acho que estou perdendo alguma coisa, mas o que você
precisar é seu. Vou guardar o castelo com a minha vida. — Seus olhos
procuraram os meus por qualquer sinal de que eu não estava bem. Me
conhecia e sabia que eu não estava bem, mas não diria isso, não aqui.
— Obrigada. — Murmurei suavemente. — Adam, se eu não voltar
disso... — comecei, e depois parei quando ele balançou a cabeça.
— Não, não vou te perder também. — Ele retrucou. — Nem pense.
— Preciso saber que, se eu for e não voltar para casa, meus filhos
serão protegidos e amados. Você é meu amigo mais antigo, e sei que
você os protegeria de quem tentasse os prejudicar, então me dê isso,
Adam. Não tenho planos de não voltar, mas eles pegaram Ryder, o que
significa que quem está os ajudando é muito forte. Deus sozinho não
impediria Ryder de lutar, o que me diz que eles têm algo mais lutando
com eles contra nós.
— Que merda poderiam ter que neutralizaria Ryder? — Perguntou
enquanto seus olhos verdes procuravam meu rosto.
— Uma bruxa original, ou possivelmente doze delas. — Anunciei
enquanto olhava desconfortável para Zahruk e Ristan. — Temos uma
abaixo da Aliança de Spokane. Alden confirmou quem é a Bela
Adormecida, o que significa que a Aliança tem acesso ao resto do
Coven.
— Merda. — Ele respondeu quando sua boca se abriu e fechou. —
Pensei que elas eram só mitos que Anciões costumavam nos assustar.
— Gostaria que fossem. — Respondi enquanto me afastava dele com
Ristan e Zahruk flanqueando meus lados atrás de mim.
Passamos pelos corredores em silêncio, todo mundo observando
cada movimento nosso. A Horda já procurava algum sinal de fraqueza
em nossas fileiras. Qualquer sinal de sangue, e eles tentariam descobrir
uma maneira de coroar um novo rei antes que eu pudesse trazer Ryder
de volta ao seu trono. Eu seria condenada se mostrasse algum sinal de
fraqueza. O rei não estava morto, estava só fora do lugar por um
momento. Além disso, ninguém controlava sua besta, e normalmente
era isso que decidia o novo rei aqui.
Sim, eu queria cair e me enrolar em uma bola, mas não faria. Vou
manter a cabeça erguida, ergui minhas defesas e vou endireitar minha
coroa inclinada. Eles podem ter dado o primeiro soco, mas eu me
certificaria de dar o último golpe e os assistiria cair.
— Nós vamos recuperar ele. — Ristan murmurou gentilmente
quando me parou na sala do trono enquanto Zahruk conduzia as
pessoas para fora. Esperei eles limparem a sala enquanto Ristan me
observava cuidadosamente. — Se lembre, você não pode demonstrar
medo. Dentro da sala do conselho, precisamos da ex executora da
Aliança. Você será a procuradora de Ryder, sua substituta, e se eles
sentirem um único cheiro de medo naquela sala, isso não vai funcionar.
— Não tenho medo do que preciso fazer, Demônio. — Me virei e lhe
dei um olhar determinado. — Se eu precisar destruir a Aliança para
recuperar Ryder, não vou pensar duas vezes sobre isso. Vou ter certeza
de enviar uma mensagem clara e decisiva. Vou deixar tão claro que
nem sequer vão pensar em tentar algo assim de novo. Se lutarem
contra nós, ou se recusarem a devolver Ryder, vão morrer. — Olhei
entre Ristan e Zahruk e reforcei minha determinação. — Ninguém pode
pensar que a Terra dos Fae é fraca, ou vamos ter mais do que só os
Magos em nossas portas. Se eu tiver que me tornar o monstro que eles
reivindicam que sejamos, que assim seja, eu me tornarei. Farei tudo o
que for necessário para ter Ryder aqui, ao meu lado.
— Tem certeza que pode fazer isso? — Ristan questionou, e quando
assenti com força, ele continuou. — A Horda, eles vão empurrar você,
vão questionar sua capacidade de liderar eles.
— Não darei chance, eles podem argumentar, vou responder em um
idioma que eles conhecem muito bem. A Aliança nos atingiu com força.
Vamos revidar com mais força. Preciso da Horda atrás de nós quando
fizermos, para que não questionem meu direito de liderar até que ele
retorne ao seu trono.
— É a Horda. — Interrompeu Zahruk. — Eles são bipolares, na
melhor das hipóteses, em um bom dia. Hoje eles ouviram os rumores
de que o rei foi levado pelos nossos inimigos. Que ele não foi forte o
suficiente para combater aqueles que invadiram, e o que quer que as
pessoas estejam cochichando está enchendo suas cabeças com ideias
idiotas. Eles não serão fáceis de domesticar.
— Não vou ficar sozinha. — Dei um tapinha em seu ombro,
tranquilizadoramente. — Vou ter vocês ao meu lado. Vocês serão meus
olhos e ouvidos e vão me conduzir na direção certa aqui. Não nasci da
Horda, mas vocês são os líderes da Guarda de Elite. Eles vão pensar
pelo menos duas vezes em foder conosco com vocês dois ao meu lado.
— Precisamos continuar com isso. — Ristan assentiu. — A luz do
dia está acabando.
— De fato, você está pronta, Deusa? — Zahruk estendeu o cotovelo
para mim enquanto seus penetrantes olhos azuis seguravam os meus
com uma confiança que eu ainda não tenho certeza. Ainda não
consegui, e meu estômago estava com um nó na mera ideia de enfrentar
este conselho de guerra e a Horda.
— Estou pronta. — Afirmei quando deslizei o braço no dele quando
Ristan abriu a porta revelando uma sala cheia de pessoas. Já participei
do conselho antes, mas naquela época estava ao lado de Ryder, e só
com a Guarda de Elite presente. Agora Keir, meu pai, e os chefes das
castas e Covens menores estavam sentados ao redor da mesa com os
guardas nas costas. Entrei na sala, me forçando a fingir que estava
tudo bem.
Quando cheguei à cadeira reservada para Ryder, parei, e Zahruk
estava pronto. Ele puxou a cadeira e calmamente colocou a mão no
meu ombro em busca de apoio. Parecia que o chão estava
desmoronando sob meus pés enquanto olhei para a cadeira reservada
para o rei. Meu rei, meu amor, se foi.
— Obrigada por virem. — Comecei sem deixar vestígios de fraqueza.
Adam e Adrian me observaram enquanto puxei força deles. —
Precisamos terminar com as pessoas vasculhando o castelo e
removendo as alas restantes deixadas pelos nossos inimigos.
Precisamos consertar o dano e encontrar pedreiros que possam
começar a reconstruir as muralhas imediatamente. Prefiro pedreiros
Fae que podem reconstruir com magia, se possível, pois o tempo é
essencial aqui. Os corpos precisam ser queimados ou levados para casa
para serem enterrados, mas não podem permanecer no pátio. A
presença deles está fazendo com que aqueles que vivem e permanecem
no castelo fiquem fracos, e a fraqueza não é algo de que precisamos
agora. Se alguém não estiver conosco durante esse período, será banido
deste reino. A Aliança tem Ryder, portanto vamos entrar e vamos o
conseguir de volta. Destruiremos qualquer um que estiver no nosso
caminho. Quando o recuperarmos, deixaremos a Aliança no chão e
destruiremos os escombros que restarem. A mensagem será clara para
qualquer um que tentar foder com a gente: permanecemos unidos e
não vamos nos divertir. Existe alguém que gostaria de expressar uma
preocupação? — Me orgulhava de não estar visivelmente tremendo e a
voz permaneceu fria e calculada. Estava caindo aos pedaços por dentro,
mas por fora mantive o controle.
— O que vai acontecer se matarem Ryder? — Liam falou, meu pai
colocou a mão no braço de Liam em um lembrete gentil de cautela.
— Isso não é uma possibilidade. — Respondi sem mostrar o quanto
esse pensamento me assustou. A Aliança não sabia o que poderia
matar o rei da Horda, poucos sabem, mas isso não significava que eles
não vão tentar alcançar esse objetivo. Minha preocupação é que sei o
quão engenhosos eles são e, se houvesse uma maneira de fazer isso
que não conhecíamos, eles vão tentar encontrar rapidamente. — A
Aliança não faz nada por acaso. Eles o pegaram porque querem algo.
Algo que só ele tem.
Teve uma batida na porta e todos paramos quando Aodhan a abriu.
Assisti quando Alden e Lucian entraram, seguidos por alguns homens
de Lucian. Meus olhos os examinaram quando me viram, coberta de
sangue, no lugar do rei no conselho de guerra. Eu não queria Alden
aqui para isso.
— Algo mais? — Perguntei o mais confiante que pude, enquanto
Liam me observava atentamente.
— Mas e se ele estiver morto, Synthia. Você tem que considerar essa
possibilidade. Você não pode liderar a Horda, e eles esperam que um
rei o substitua. Se Ryder estiver morto, terá desafios para o trono se
Danu não escolher outro como Herdeiro da Horda imediatamente. A
Horda não é governada por sangue, é gerida por força.
— Ele não está morto, Liam. — Rosnei.
— Então, diga que ele não está e nós entramos e matamos a Aliança,
e enviamos essa mensagem. — Ele continuou quando meus olhos
encontraram os de Alden e vi a cor drenando de seu rosto. — Então,
temos mais um inimigo à nossa porta.
— Eles já provaram que são nossos inimigos. Adam, Adrian e eu
reconhecemos seus cartões de visita em todo o lugar após o ataque, e
se hesitarmos, eles vão voltar. Entramos e, se eles se opõem a nós,
destruímos todos eles. Não tem outra opção.
— Nós não podemos entrar lá para recuperar Ryder e não dar a eles
uma demonstração de força que eles nunca vão esquecer, porque no
momento em que chegarmos lá, eles vão tentar destruí-lo e depois
tentar marchar sobre o resto dos Fae. — Acrescentou Ristan.
— O que eles querem dele? — Eu me perguntava, olhando para
Alden. — Por que levar o rei da Horda?
— Porque se você quer mostrar força, Synthia, entra e pega o maior
filho da puta do outro lado. — Disse Lucian.
Meus olhos passaram de Alden para Lucian e de volta para Alden.
— Por que ele, por que tomar o mais forte dos Fae?
— Porque eles querem a única coisa que pode matar os Fae, sua
besta. — disse Alden. — Eles costumavam falar de rumores, que diziam
que o animal poderia ser removido do anfitrião. A Aliança está
desesperada, eles devem estar se vieram aqui. Algo aconteceu que
desencadeou isso, vamos descobrir o que é isso e os encontraremos.
— Eles precisariam de outro anfitrião, onde eles tentariam
encontrar um? — Pensei. Não funciona assim, mas, de novo, eles não
sabiam disso.
— Eles tentariam fazer um. — Respondeu Alden.
— Não é uma coisa fácil. A besta não se separa assim. — Aconselhei.
— O herdeiro ou anfitrião é escolhido por Danu, não pelo poder.
— Eles não sabem disso. Estão cegos. O desespero os torna
desleixados, e eles sabem muito pouco sobre a Horda. Assumem que,
se encontrarem um hospedeiro poderoso o suficiente, vão controlar a
besta. — A voz de Alden estava cansada. Esses eram seus colegas ao
mesmo tempo, tenho a certeza de que não estava bem para ele, que
teria que nos ajudar a encontrar uma maneira de derrotar as pessoas
que ele considerava seus associados e amigos.
— Quem teria planejado algo tão grande? — Perguntei.
— Magos que existem entre os Anciões dentro da Aliança, alguém
formulou um plano e os ajudou a encontrar o caminho para realizar.
— Não tem conhecimento suficiente para fazer isso sem alguém de
dentro. — Afirmei, mordendo o lábio antes de soltar com uma careta.
— Eles estavam aqui, dentro do castelo. Eles deveriam estar protegidos
com feitiço. As alas levam tempo para serem colocadas, eles estavam
aqui. A quem eles procurariam por ajuda?
— Alguns Changelings podem usar feitiços, assim como alguns
Paladinos. Se dizia que até os Druidas podiam usar feitiço. — Alden
ofereceu. — Se eu quisesse enviar uma mensagem clara aos Fae,
pegaria a única coisa que eles temem. Viria para a besta e tentaria fazer
ela minha.
— O animal não pode ser removido, não funciona assim. — Insisti.
— Pode ser, mas eles não sabem disso. Eu não sabia disso até você
me contar agora. A Aliança não sabe quase nada sobre a Horda, exceto
que a besta os governa com força e medo brutais. Controle a besta,
controle a Horda. É uma mentalidade.
— Mas não é um fato. Quem é forte o suficiente para proteger a
Aliança contra nós? — Perguntei.
— Bruxas vão proteger a Aliança, mas os Anciões vão chamar
Paladinos caso se sentirem ameaçados. — Ele deu de ombros e franziu
a testa. — Você vai a Seattle, Synthia, e terá que derramar sangue para
recuperá-lo.
— Vou derramar o suficiente para encher os oceanos, Alden.
Grandes oceanos e mares sem fim para recuperar ele. Eles o tiraram
de mim e tomaram o suficiente. Não vou me afastar disso. Você não me
pedirá, porque você, mais do que qualquer outra pessoa aqui, sabe que
não posso. Já perdi aqueles que amo para um inimigo irracional, sem
rosto e covarde. Isso terminar aqui para Aliança. Vou levar à força, se
eles lutarem, vão cair. É uma escolha. Eles pegaram meu homem, e
não hesitarei em fazer o necessário para recuperar ele. De tudo o que
poderiam ter feito, não deveriam ter vindo aqui. Nem hoje nem nunca.
— Você pegou a Bruxa e a Aliança deles, então eles revidaram
pegando seu rei. Você começou isso, garota. Você abalou o mundo deles
e esperava que eles simplesmente se afastassem. Não funciona assim
e sabe disso. Eles querem sua atenção e agora têm. Você quer chamar
a atenção de alguém, entre e cause uma cena, agite de uma maneira
que deixa uma impressão duradoura. Mas se quer dizer que não tem
medo, entre e tire o maior, isso já foi dito. Ryder é o mais forte dos Fae,
e ele é seu. Os Fae não eram o alvo aqui, Synthia. Você era.
— Recebi a mensagem, mas eles se foderam. Eles calcularam mal,
e isso vai custar. — Rebati.
— Você não pode matar todos eles. Nem todos eles são magos.
— Vou matar eles, Alden, e recuperar Ryder, não importa o custo.
Eles mataram crianças na Aliança de Spokane e de novo hoje. Isso não
faz parte da declaração de missão da Aliança. Eles não são mais a
mesma Aliança. Não com monstros ajudando a executar, e não tem
agora como separar o joio do trigo. Eles escolheram se tornar
assassinos quando colocaram uma bomba dentro daquele salão,
sabendo que tinha vidas inocentes que seriam prejudicadas. Poderiam
ter feito isso de maneira limpa, você e eu sabemos disso. Eles
escolheram mal e, por isso, se lutarem comigo, vão cair. A Aliança não
vai tirar nada de mim. Nunca mais. Não comecei isso ou optei por isso.
Eles fizeram. Se você não pode me apoiar ou isso for muito difícil para
você, entendo. No entanto, não pense que pode me parar. Ele é o pai
dos meus filhos e o amor da minha vida. Farei o que for necessário para
recuperar ele. Não estou pedindo sua ajuda, porque sei que isso te
colocará em uma posição difícil, mas minha lealdade não está mais na
Aliança.
Respirei fundo e apontei meu olhar firme para todas as pessoas
reunidas na sala do conselho. Minha voz soou com determinação.
— Sou Synthia, Deusa das Fadas e a Rainha da Horda. Reinarei
com sangue e fogo para recuperar meu rei, e se tiver que fazer sem
vocês, que assim seja. Não cairei. E não me curvarei, me tornarei o
monstro que eles nos acusam de ser, se assim o desejarem. Vocês
podem ficar comigo em solidariedade ou fiquem fora do meu caminho.
A escolha é sua. Espero uma decisão e uma resposta de todos vocês
nas próximas horas. Sugiro que pensem bem e considerem sua decisão
com cuidado.
Me inclinei contra a parede em busca de apoio, meus olhos fechados
enquanto corria as mãos lentamente ao longo da seda macia do vestido
de noiva que eu ainda usava. Estava em farrapos, rasgado e coberto
pelo sangue dos inocentes que morreram hoje, junto com o de Faolán.
Já tirei o salto e agora usava botas que eram mais fáceis de manobrar.
Meu cabelo estava preso em cima da minha cabeça, dando um
significado totalmente novo ao coque bagunçado. Ainda estava
pegajosa de sangue que se misturou com o brilho que Madisyn criou
para o casamento.
Eu nem tinha parado para me perguntar se ela estava bem, o que
provavelmente me fez a pior filha do mundo. Não pude. Focar nos
eventos de hoje seria debilitante se eu me permitisse fazer, por isso era
melhor tentar me concentrar no que estava acontecendo agora. À luz
de tudo o que aconteceu, realmente queria me transportar para o Reino
do Sangue e segurar meus bebês enquanto chorava pelo pai deles e
pelo que poderia estar acontecendo com ele neste momento.
Não cheguei tão longe para perder ele dessa maneira, e não perderia,
não importa o que acontecesse. Eu pegaria meu homem de volta, só
preciso descobrir como. Abri os olhos para encontrar Zahruk e Ristan
me observando.
— Não vou começar a chorar de novo. — Falei com determinação
suficiente que quase acreditei.
— Eu sei. — Respondeu Zahruk casualmente, como se nosso
mundo não estivesse na balança ou nas mãos de outra pessoa no
momento. — Você é uma lutadora, todos nós sabemos disso. Não tenho
dúvidas de que você pode nos liderar e recuperar ele. Mas acho que
deveria retirar esse vestido. Está um pouco arruinado.
— Sim, só me dê um momento e resolvo isso. — Suspirei enquanto
tentava fechar os olhos de novo, só para ouvir o barulho dos pés
quando Alden e Lucian entraram. Esperei pacientemente quando Alden
pigarreou, ganhando tempo enquanto ele pensava o que dizer para
mim. Não falei nada, só olhei nos olhos do homem que me criou, sabia
que ele viria, porque este era o homem que me criou. Não importa o
que aconteceu, ou como mudamos, ele era minha família.
Não enviei uma mensagem para ele ou pedi que ele viesse, mas
estava agradecida. Ele tem um vasto conhecimento e entendimento da
Aliança, e isso não tem preço. E tenho a sensação de que ajudar é algo
que ele precisa fazer para se absolver da culpa que sentia pelo papel
que desempenhou nos planos da Aliança há muito tempo, e
possivelmente para tentar ajudar aqueles que não foram realmente
corrompidos pelo Magos, só foram enganados.
Ele exalou e balançou a cabeça enquanto olhava nos meus olhos.
— Se foi, não é, garota? — Perguntou enquanto se sentava contra a
parede ao meu lado. — Aquele último fragmento de humanidade que
você estava segurando, foi roubado de você hoje. Eles tiraram de você,
e a única maneira de recuperar isso é recuperar Ryder, não é?
— Não escolhi essa luta. Não os quero mortos, mas se isso é o
necessário para trazer ele de volta, que assim seja. Não vou perder ele,
Alden. Já desisti de mim o suficiente pela Aliança, eles não vão fazer
isso comigo ou com mais ninguém. Não mais.
— Sei que não, garota. Essa não é mais a nossa Aliança, eles estão
jogando de acordo com novas regras agora. Eles permitiram o mal entre
as fileiras e precisamos aceitar isso. Eu mais que você, mas estou aqui.
Estou do seu lado, sempre estive do seu lado, mesmo quando não
parecia. Se eles acordaram as Bruxas Originais, vamos assumir que os
Magos lhes prometeram algo. Não tem como elas ajudarem a Aliança
sem esperar algo em troca, não quando elas sabem que tiveram um
papel importante em derrubar elas. Meu palpite é que foi prometido
mais do que só a liberdade, e se elas ainda estão decididas a matar os
humanos, não podemos permitir que isso aconteça.
— Acha que eles trouxeram uma das Bruxas Originais aqui, para a
Terra dos Fae? — Perguntei.
— Quem mais seria capaz de tirar Ryder de você no dia do seu
casamento, garota? Ele não é fácil de agarrar. Não tinha sinal de luta,
então me diz, quem é forte o suficiente para levar o rei da Horda sem
luta?
— Honestamente, não tenho ideia. — Gemi.
— Alguém com poder suficiente foi trazido aqui para esse fim. —
Pressionou Alden.
— Por que elas não matariam os Anciões? As Bruxas Originais são
poderosas o suficiente, são semideusas, como eu era. Uma vez que elas
estão fora de êxtase, por que não só escapar, por que ajudar?
— Porque você tem a irmã delas, e os Anciões provavelmente
disseram isso a elas. Olha, não tenho ideia se os Anciões acordaram
uma, várias ou todos os membros do Coven que tinham acesso. Receio
ter falado apressadamente sobre a conexão delas, e o que pensávamos
que aconteceria, se alguém acordasse. Não que isso importe agora, de
qualquer maneira. Resumindo, os Anciões viraram aquelas Bruxas
contra você e contra os Fae, então eles tiraram algo de você e da Terra
dos Fae para chamar sua atenção.
— Não peguei a porra da irmã delas. — Rebati. — E com certeza não
quero a irmã delas, e não quero que elas destruam os humanos, sei
que estão embaixo na cadeia alimentar ultimamente, mas isso não está
certo. Eles não merecem ser punidos por algo que aconteceu há muito
tempo. Esses humanos não têm nada a ver com isso, muito menos
sabem alguma coisa sobre isso.
— Não, mas elas não vão ver assim. Elas ficaram em êxtase, então
para elas foi ontem. — Ele respondeu. — E os Magos que estão
escondidos nas fileiras da Aliança não se importam com certo ou errado
ou com a contagem de corpos, eles só se preocupam em ganhar.
— Isso é brilhante quando você pensa sobre isso, idiotas. Eles têm
um inimigo, então acordam um inimigo para atacar seu outro inimigo.
— O inimigo do meu inimigo é meu amigo.
— Porra, por que não pensei nisso? — Sussurrei enquanto balancei
a cabeça tristemente.
— De volta à sua humanidade, garota. — Disse ele após um
momento de silêncio. — Sei que tem o direito de atacar pela força, e
entendo por que gostaria, mas nem todos eles merecem morrer. Não
estou te julgando se decidir destruir eles. Só estou pedindo que para
trazer ele de volta, você não se torne o monstro que pensam que é. Não
deixe que eles tomem a lasca da humanidade que resta dentro de você.
— Eu não perdi, ela está lá. E só precisa se adaptar a estar nos dois
mundos. Não posso abandonar este agora e não vou, também não vou
abandonar aquele. Vamos consertar os portais e reconstruir o que
perdemos, mas não até eu ter ele de volta. Não vou descansar até que
ele esteja em casa.
— Bom, vai precisar manter a cabeça nivelada se quiser recuperar
ele. — Assentiu como se estivesse satisfeito com onde minha cabeça
estava.
Keir, Liam, Elijah e Lasair se aproximaram solenemente. Esperei
com a respiração presa nos pulmões enquanto olhavam pra mim.
Lasair se curvou quase imperceptivelmente e inclinou a cabeça em
minha direção.
— Estamos dentro, Synthia. Você é a chave para este mundo e, sem
você, ele morrerá mais rápido. Então, entramos. Enviarei Liam e a
Guarda Carmesim, e Keir enviará seu filho, Adam, que trará os
Cavaleiros da Luz, bem como os Guerreiros das Sombras. Descobrimos
esta manhã uma bagunça no Reino da Luz que a princesa Shea deixou
para trás. Evidentemente, ela deixou sua administração do Reino da
Luz há algumas semanas sem aviso ou palavra. Adam concordou em
assumir a administração do Reino da Luz após o casamento, no
entanto, os eventos de hoje fizeram alterações no nosso plano original
por enquanto. — Lasair engoliu, os olhos solenes não me condenaram,
nem julgaram.
— Acho que é melhor que Adam se ocupe em encontrar a verdadeira
Herdeira da Luz. — Pensei. Meus olhos encontraram lentamente Adam
onde ele estava, ereto com as minhas palavras. — Mas isso é assunto
para outro dia. No momento, temos um problema maior.
— Synthia. — Zahruk interrompeu. — Existem alguns líderes da
Horda do lado de fora dos portões, esperando, eles exigiram falar com
a... — Ele olhou para Ristan com desconfiança, enquanto o demônio
sorria para ele, antecipando minha reação ao que Zahruk diria a seguir
— ... pretendente ao trono.
— Então não vamos deixar eles esperando. — Respondi,
enfeitiçando em calças de couro pretas e um espartilho preto que com
punhais de todos os comprimentos inseridos em bainhas inteligentes,
reforçadas ao longo do espartilho. Eu também usava uma espada em
cada quadril. As botas eram o toque final, pretas para combinar com
minha roupa, e confortáveis o suficiente para lutar. Várias vezes por
semana, Ryder e eu estávamos fugindo e praticando para esse tipo de
situação. Não que ele sonhasse que seria levado, mas ele queria
garantir que se por qualquer motivo, eu tivesse que lutar para obter o
respeito da Horda, estaria preparada. Quanto ao sangue que tinha
respingado no cabelo e no rosto, não me incomodei em limpar, pois
queria que esses idiotas vissem e entendessem que eu não sou alguém
que eles deveriam subestimar.
— Estou pronta. — Confirmei, e afaguei meus punhais quando
Zahruk e Ristan tomaram suas posições no meu flanco, exatamente
como teriam feito por Ryder. Os outros caíram atrás do capitão da
Guarda de Elite e do Demônio e caminharam intencionalmente conosco
enquanto atravessamos o castelo. Caminhamos porque eu precisava de
tempo para me preparar mentalmente, e eles sabiam disso. Foi também
uma importante demonstração de força e solidariedade. A equipe parou
observando o caminho para os portões principais. Os quatro grupos de
guerreiros entraram em cena quando passamos por eles no corredor.
Elijah sinalizou para os desajustados se juntarem a nós. Juntos,
caminhamos em direção à incerteza do que nos esperava.
Não tinha como saber se isso era só um desafio da minha liderança
ou se eles tentariam nos derrubar. Era a Horda – as criaturas mais vis
e mortíferas conhecidas neste mundo, assim como na Terra. Eles eram
imprevisíveis na melhor das hipóteses e entendiam duas coisas: poder
e morte. Ryder estava lidando com pequenos levantes antes que essa
merda acontecesse, e agora preciso descobrir como provar a eles que
sou digna de sentar no trono dele na sua ausência. Tenho que provar
que sou poderosa o suficiente para manter eles sob controle – e forte o
suficiente para punir se saírem da linha.
— Não demonstre medo. — Zahruk sussurrou.
— Não deixe que eles falem sobre você, Flor. Não quebre o contato
visual primeiro, não importa o que eles façam. Cabeça erguida, ombros
para trás e mostre as presas que você está escondendo.
— É esse o plano.
Lá fora, o barulho da multidão era ensurdecedor. O fedor da morte
permaneceu com um leve tom de enxofre e sangue enquanto a multidão
que esperava do lado de fora dos portões fazia barulhos rudes. Eles não
prestaram atenção aos corpos encobertos que esperavam no pátio por
seus parentes para levá-los para o enterro ou para queimar se não
fossem reivindicados. O grupo grosseiro que nos esperava e se chamava
de líderes da Horda tem muito pouca lealdade entre eles, a menos que
você pertencesse à casta da Horda que governava.
— Quem essa cadela pensa que é? — Um dos líderes mais altos riu
quando nos aproximamos.
— Sua rainha. — Uma criatura que parecia um duende com olhos
vermelhos bufou. O sangue escorria do boné vermelho na cabeça,
identificando como um Dunter ou Powrie. Ótimo, eram sanguinários e
pequenos idiotas velozes. A única diferença entre os dois tipos de bonés
vermelhos era a quantidade de mortes que eles tinham sob os bonés
ensanguentados.
— Minha rainha. — O primeiro heckler riu. — Eu a curvaria e
mostraria para que servem as rainhas. Ela conheceria seu lugar e não
nos deixaria esperando em seus portões, fingindo que sua vagina a
torna nosso novo rei.
Eu os ouvi quando me aproximei, parando um pouco antes de onde
eles estavam. Esperei em silêncio, permitindo que continuassem a falar
merda. Não desviei o olhar, não recuei. Ergui meus ombros e esperei
pacientemente. Eles pararam e, quando se viraram, os olhos de um dos
homens que estavam falando merda sobre mim se arregalaram quando
me viu.
— Ela não parece muito. — Disse o macho enquanto seus olhos
iridescentes deslizavam sobre o meu corpo, parando para assistir meus
seios subirem e descerem a cada respiração. Aqueles olhos se ergueram
e ele bufou. — Nem sequer tem carne suficiente nela para manter um
homem quente à noite. — Tentei descobrir que tipo de criatura ele era
e fiquei em branco. Ele era extremamente alto e magro, com cabelos
compridos, pretos e finos, que desciam além dos ombros. Seus olhos
iridescentes tinham sombras ao redor deles que davam a impressão de
estarem afundados. Seus lábios eram levemente azuis e sua pele estava
tão pálida que parecia quase um cadáver.
A multidão atrás dele zombou, gritando em acordo quando entraram
com insultos próprios. Sorri com seus comentários obscenos e esperei
que o barulho da multidão diminuísse. Uma vez que estava em um nível
tolerável, falei.
— Seu rei precisa de sua ajuda. — Gritei para a multidão, e vi o
imbecil rindo abertamente.
— Ele não está aqui, querida. — Ele bufou. — E digo que pegamos
sua mulher e seu reino, não ligo muito pra picada de qualquer maneira.
— Qual casta você lidera? — Perguntei, e ele sorriu como se achasse
minha pergunta engraçada.
— O Sluagh não tem líder. — Ele riu e, de novo, seu bando bufou e
riu. — Mas acho que se tivéssemos que escolher um, seria eu. — As
criaturas atrás dele assentiram.
— É bom saber. — Respondi quando me joguei antes que ele
pudesse reagir. Enrolei minhas pernas em volta de sua cintura e
segurei enquanto ele tentava me desalojar. Zahruk e Ristan também se
lançaram em posições de luta, chegando perto até que gritei para que
eles permanecessem onde estavam. Minhas mãos torceram o pescoço
da criatura fantasmagórica e mordi sua carótida, arrancando a carne
de seu pescoço quando deixei minhas pernas caírem no chão e cuspi.
— Agora escolham outro líder. — Gritei para os espectadores.
Ninguém se mexeu, ninguém respondeu. Eles ofegaram, como se
não pudessem compreender o que acabou de acontecer. O idiota caiu
de joelhos quando sua veia arterial pulverizou sangue. O sangue
escorria do meu queixo quando a limpei com as costas da mão,
enquanto a multidão olhava para mim.
— E sugiro que você escolha sabiamente. — Ofereci quando me virei
e voltei para Ristan, que estava com um sorriso estúpido no rosto. Eu
estragaria tudo, se vomitasse o gosto vil de sangue acobreado que
permanecia na minha boca.
— Droga, Flor, selvagem pra caralho. — Ele riu baixinho enquanto
seu sorriso se alargava.
— É a única coisa que eles entendem. — Rosnei.
— Você tem a atenção deles, agora mantenha. — Ele encorajou. —
Seu próximo desafiante será mais rápido e ou mais forte do que ele era.
Essa sua pequena manobra levará um tempo para sarar, mas não acho
que ele voltará à luta em breve.
— É bom saber. — Pensei quando me virei e olhei para a multidão
que me observava em busca de algum sinal de fraqueza. — Quanto
tempo acha que será para se reagruparem e escolherem um guerreiro?
— Não vai demorar muito, e provavelmente vão enviar alguns
guerreiros. Torno era um dos melhores deles, e você simplesmente
arrancou o pescoço dele com os dentes, o que sinceramente, eu não
poderia estar mais orgulhoso se você rasgasse seu coração e o
compartilhasse comigo. Mas, eles vão estar prontos para essa mudança
na próxima vez.
— Espadas então. — Assenti. — Muito ruim, eu estava tão ansiosa
para engasgar com um pouco mais de sangue.
— Vocês dois são malucos. — Zahruk resmungou ao nosso lado.
— Com ciúmes por que não rasgou ninguém ultimamente? —
Zombei com um sorriso nos lábios.
— Quem disse que eu não fiz? — Zahruk falou devagar, com um
sorriso quando fiz uma careta.
— Por que vocês conseguem toda a ação e tenho que ficar em casa?
— Fiz beicinho enquanto me perguntava por que Ryder não
compartilhou nada disso comigo.
— Porque você será a rainha da Horda. — Disse Zahruk sem
nenhuma atitude em seu tom. — Não podemos perder vocês dois, por
isso é preciso permanecer na residência o tempo todo.
— Lá vem eles. — Ristan se aproximou do meu lado. — Queixo,
Docinho, você dá conta. — Murmurou enquanto pegava minhas
espadas delgadas e elegantes e me entregava suas duas lâminas. —
Pode contar com as rodadas dois e três até a morte, precisar de ferro.
Ristan era uma das poucas criaturas Fae que conheço que podiam
usar ou manejar lâminas de ferro facilmente. Ele se moveu tão
rapidamente que não tenho certeza se mais alguém notou a mudança.
Me aproximei, enquanto vários homens se adiantaram. O som
retumbante do aço sendo puxado trouxe minhas mãos para as lâminas
ao meu lado, e sorri quando o maior se aproximou. Ele tinha mais de
um metro e oitenta de altura, cabelos grisalhos curtos por todo o corpo,
e seu rosto parecia um pouco como um macaco, mas eu sabia por
experiência que tudo o que eles diziam sobre quanto maior o homem,
mais duro eles caíam era verdade.
Puxei minhas lâminas no momento em que o homem cinza pulou,
caiu de joelhos e cortei as pernas dele nos joelhos. Seus gritos rasgaram
o ar, e rolei com as lâminas quando voltei, balançando em um amplo
arco, o que fez sua cabeça navegar na multidão que nos observava.
Uma gangue de Powries veio até mim ao mesmo tempo, formando
um círculo ao meu redor. Sorri e girei, espadas cortando carne como
manteiga, porque as lâminas de Ristan estavam sempre afiadas
corretamente e prontas. Grunhidos e gritos soaram quando girei, sem
me preocupar em parar. Fatiei, esfaqueei e massacrei os malditos
bastardos, até estar diante da Horda, banhada no sangue dos supostos
líderes, vitoriosos.
— Escolham outra vez. Desta vez, sugiro que dediquem alguns
minutos para pensar primeiro. — Exigi quando me virei e voltei para
meus aliados, olhando para eles enquanto me davam um amplo
espaço. Nem mesmo Ristan falou enquanto o sangue corria em riachos
da minha carne para o chão, acumulando aos meus pés.
Ninguém avançou, a Horda olhou para mim, encharcada no sangue
de seus líderes. Eles brigaram e se empurraram em minha direção, mas
nenhum se adiantou. Esperei, dando a chance de me escolherem ou
me seguirem. Depois de alguns momentos, tentei de novo.
— Seu rei precisa de sua ajuda, vocês podem ajudar ou serem
caçados e abatidos como os cães sem fé que estão se comportando.
Vocês vão me seguir para a batalha, ou soltarei os cães em seu rastro.
— Senti Zahruk, Dristan e Aodhan se aproximando de mim, dando
credibilidade à minha ameaça. — Eles vão te caçar, nem o inferno pode
salvá-los quando os cães tiverem seu cheiro. Exijo uma resposta nos
próximos dez minutos ou começamos a caçada. Me entenderam? —
Gritei. Quando ninguém respondeu, rosnei e soltei uma imensa
quantidade de poder que me surpreendeu. Minhas mãos levantaram
para o céu e depois bateram.
Toda a Horda que se reuniu nos portões principais estava de joelhos,
se curvando na terra. E lentamente empurrei as mãos para baixo e
imaginei esmagar seus rostos presunçosos na terra. Ouvi suspiros de
dor e gritos de surpresa quando as articulações estalaram, e pude ouvir
o chão se dobrando pela pressão que estava exercendo sobre essas
criaturas.
— Sim! — Um dos homens gritou. — Eu me rendo e me curvarei a
você, minha rainha.
Sorri, permitindo que ele se levantasse. Um a um, imploraram
misericórdia e se levantaram, salpicados com a sujeira e lama deste
mundo. Exalei e fechei os olhos enquanto a multidão continuava se
comprometendo comigo. Eu fiz isso, trouxe a Horda de joelhos. Precisei
usar meu poder, mas, ei, foi uma vitória, e precisávamos de uma agora.
— Preparem seus guerreiros mais fortes e os prepare para batalha.
— Gritei vitoriosamente, me virei e olhei para Zahruk, que usava sua
expressão séria e habitual, como se isso fosse exatamente o que ele
esperava que acontecesse. Então olhei para Ristan, que assentiu com
algo semelhante ao orgulho em seus olhos.
— Você nasceu para isso, Synthia. — Ele murmurou baixinho. — E
não acho que a Horda já tenha implorado piedade antes.
— A Horda nunca me conheceu. Pelo menos, não nessa capacidade.
Vão saber quem se casar com seu rei quando terminar aqui. Isso te
prometo. Além disso, já enfrentei piores probabilidades quando era
bruxa.
— Sim, mas você não é uma bruxa, Deusa. Você é nossa agora. Eles
vão te seguir em qualquer lugar que você ou Ryder lhes peça para irem.
— Disse Zahruk. — A Horda, mais uma vez, seguirá seu rei na batalha,
de bom grado.
— Zahruk, odeio interromper o discurso, mas até eu recuperar
Ryder, não vamos nos preocupar com os mundos. Quero a porra da
minha fada de volta e quero agora.
— Amanhã cavalgamos, Flor. As Castas Unidas da Terra dos Fae.
— Ristan sorriu. — Isso deve ser interessante, é melhor alguém fazer
alguma pipoca para levar.
— Demônio, isso soa como uma liga de luta livre e nem um pouco
oficial. — Avisei enquanto o olhava, e então empalideci com o cheiro de
cobre como meu novo perfume. — Tire essa merda de cima de mim,
minha magia está batida.
— Eu meio que gosto de você em vermelho, flor. É um tom de rosa,
e combina muito bem com você.
— Demônio... — Rosnei.
— Tudo bem. — Ele sorriu quando acenou com a mão e eu
finalmente fui purificada dos pecados do dia. Acabei de matar sete Fae,
menos sete que poderiam nos ajudar. Sete que tinham famílias em
algum lugar, talvez até filhos? Foi uma vitória e, no momento,
precisávamos disso.
— Me leve de volta aos meus aposentos. — Sussurrei enquanto
tremia com a necessidade de estar perto de Ryder. — Preciso descansar
antes de irmos brigar com a Aliança.
ê
A cama cheirava a ele, o quarto e os quartos ao lado do nosso quarto
cheiravam a ele. Tudo neste lugar guardava lembranças dele. Eu queria
beber, como a primeira vez que o vi. Aqueles olhos me mantiveram
prisioneira. Se eu fechasse os olhos, ainda conseguia me lembrar da
primeira vez que ele me tocou, o choque elétrico que disparou através
de mim ao seu toque. Ele enviou uma onda através do meu mundo
fortemente controlado e me fez sentir coisas que eu não queria e, na
época, eu odiava ele e tudo sobre ele.
Deixei a mão deslizar para barriga, os dedos espalharam sobre ela
e engoli a culpa. Uma parte profunda de mim sabia o que aconteceria
com um casamento tão exagerado. O Demônio tentou me avisar sobre
o que certamente estava por vir, e ele nem precisava ser um vidente.
Nós sabíamos o que aconteceria quando os anúncios fossem feitos. Os
anúncios, pois, queríamos alcançar os ouvidos de Faolán deram certo.
A dor era uma cadela inconstante, se instalando profundamente nos
meus ossos quando a realidade do que aconteceu afundou. Eu matei,
rasguei a garganta de um homem com os dentes. Não foi o ato de matar
que me incomodou, foram as emoções que vieram com isso pois me
senti mal no momento em que o confronto terminou, o cheiro
nauseante de cobre ainda persistia na minha pele. O gosto amargo da
bile no fundo da minha garganta e nenhuma quantidade de água ou
vinho poderia lavar isso.
Deixei o que fiz afundar, e pensei sobre o que eventualmente eu
precisaria fazer para recuperar Ryder. Sei que faria qualquer coisa,
qualquer coisa e tudo o que fosse necessário para recuperar minha
besta. Sei como a Aliança trabalha, eles o cortariam em pedaços se
pensassem que isso lhes daria respostas sobre a Horda. Já vi os restos
dissecados dos Fae que eles capturaram antes, bem como os projetos
científicos fracassados da Aliança, enquanto tentavam criar monstros
que poderiam resistir aos Fae.
Ryder não poderia ser morto, mas ele poderia ser torturado, como
seu irmão, ou pior. Ele poderia estar com dor agora, e não tinha nada
que eu pudesse fazer. O sentimento de impotência deixava meus
sentidos descontrolados, e meu coração estava doendo.
Rolei na cama, odiando a sensação doentia, o que resultou em mim
com o rosto no vaso sanitário, vomitando o pouco que consegui comer
e beber depois de rasgar a garganta do porta-voz autonomeado da
Horda.
Limpei a boca com as costas da mão e enfeiticei meu corpo, o gosto
de hortelã fresca encheu minha boca. Voltei para o quarto, a mente em
total caos enquanto considerava o próximo passo da Aliança.
Já estava na metade do caminho para cama quando meu estômago
revirou e virou, e corri de volta para o banheiro. Esvaziei o estômago de
novo e cedi à vontade de tomar banho. Mesmo vivendo como Fae, às
vezes ansiava pelo conforto de coisas como um banho, ou só para fazer
coisas sem a magia com a qual estava me acostumando.
Enchi a banheira com contas de lavanda e entrei, inalando o
perfume reconfortante que combinava com o meu estômago. Passei as
mãos sobre as pernas, estômago e seios quando um soluço explodiu da
garganta. Fechei os olhos, deslizei sob a água e soltei um grito que eu
estava segurando desde que descobri que ele se foi. Lágrimas
queimavam atrás dos olhos fechados, mas o grito me acalmou, mesmo
que ninguém ouvisse.
Sentei no banho e passei os braços em volta das pernas nuas. Horas
se passaram desde que Ryder foi levado, e não tinha sinal de que algo
estivesse acontecendo no mundo humano. Enviei batedores para vigiar
as Alianças, todas elas. Até agora, eram negócios como de costume nas
Alianças e nenhum indício do que aconteceu com Ryder. Se eles o
esconderam lá, fizeram um bom trabalho.
Fiquei confortável em saber que não tinha nenhuma arma que
pudesse matar ele, além da que Madisyn pensou que faria o trabalho.
Aquele pequeno palito de faca não o teria matado. Nós não sabíamos
disso na época, mas e se os Magos tivessem encontrado uma maneira
de fazer isso que não conhecíamos?
Tudo era possível, e isso me aterrorizou. A Aliança tem recursos que
mantinham escondidos, tinham aliados escondidos nas sombras e, se
eu estivesse certa, eles acordaram algumas bruxas muito malvadas que
estavam empenhadas em destruir seu mundo.
Uma batida soou na porta e meus olhos se moveram nessa direção,
mas não atendi. Eu sabia quem era. Zahruk era uma constante ao meu
lado desde que Ryder foi levado, disposto a fazer o que fosse necessário
para me manter segura. Olhei quando ele se aproximou e parou na
porta do banheiro, enquanto seus olhos olhavam para o meu corpo nu.
— Convoquei aqueles que você me pediu. — Ele anunciou, não
afetado pela visão da minha nudez. — Você deve se secar para que
possamos nos encontrar com os outros na sala de guerra.
Levantei, vendo seus olhos deslizarem pelo meu corpo sem um pingo
de calor. Zahruk cairia sobre sua própria espada antes de tocar em
qualquer coisa que pertencia a Ryder, incluindo eu. Aceitei a toalha
que ele estendeu.
— Enviei as criadas para longe, mas sou capaz de te ajudar a se
preparar — ele ofereceu em voz baixa.
— Sei como gerenciar sem elas. — Respondi enquanto me movia
para o quarto.
— Você precisa se alimentar. — Disse ele de forma ofensiva, sua
linguagem corporal parecia estranha quando ele coçou a nuca. — Não
sou Ryder, mas sei que ele mataria qualquer outra pessoa que tentasse
te alimentar.
— Eu não me alimento do sexo. — Sorri fracamente com o olhar
impassível em seu rosto.
— Eu sei, mas Ryder mencionou que às vezes você fica fraca quando
o mundo está sofrendo e com as fraturas... ele disse que você se
conforta. Que pode pensar mais claramente depois disso. — Ele disse.
— Você quer transar? — Perguntei intencionalmente.
— Não, não particularmente, e não com você, sem ofensa. — Ele
exalou profundamente. Levantou as mãos e balançou a cabeça um
pouco. — Mas precisamos de você da melhor maneira possível para
isso, e acabei de descobrir que você finge ser humana em um banho.
Então, se meu pau é a chave do seu cérebro lembrando o que está em
jogo, então sim, vou te foder.
— Meu cérebro está bem. — Respondi bruscamente. — Tomei banho
porque continuava vomitando pedaços da criatura da qual rasguei a
garganta há pouco tempo. Então, não, obrigada, mas não, não preciso
do seu pau para me sentir mais inteligente. Tenho certeza de que isso
me faria sentir tudo menos inteligente.
— Isso foi um elogio? — Ele sorriu.
— Na verdade não, mas acho que seu pau poderia fazer as mulheres
agirem de maneira tola. Já presenciei o suficiente. — Respondi com um
sorriso. — O único pau que quero está ligado ao seu irmão, então, se
você está me oferecendo algo, traga ele aqui.
— Graças a Deus. — Ele riu nervosamente.
— Você estava seriamente se oferecendo para fazer sexo comigo? —
Eu ri fracamente e balancei a cabeça. — Olhe para você, Z, se
oferecendo para ser útil e essas merdas.
— Estou disposto a fazer o que for preciso para recuperar ele. Você
o conhece há um minuto em comparação a nós, e ele é nosso rei. Antes
disso, ele é meu irmão. Ele nos salvou da merda inúmeras vezes. Então,
sim, eu me ofereceria como sacrifício, e daria minha vida pela dele.
— Bem, vamos torcer para que não chegue a isso, porque ser
esfaqueada por você uma vez foi suficiente para esta garota. —
Enfeiticei minha versão da armadura da Guarda de Elite e sorri para
ele. — Mas te alimentarei. — Ofereci, e antes que ele pudesse dizer não,
estendi a mão e toquei o lado do rosto dele. O poder entrou em erupção
em seu sistema e vi seus olhos se arregalarem, enquanto eu o
alimentava com uma pequena amostra do meu poder. Ele estava me
vigiando, e eu não esperaria que ele transasse com alguém, para que
pudesse se sentir totalmente capaz de ser meu braço direito, ajuda e
guarda, tudo em um. Temos muito o que fazer e pouco tempo para ele
se alimentar adequadamente.
— Deuses. — Ele gemeu enquanto tentava se mover, só para se
ajoelhar enquanto o observei com um sorriso conhecedor. Ryder
poderia alcançar o clímax dessa maneira, mas eu não tornaria isso
sexual, planejava dar a ele poder suficiente para aguentar pelos
próximos dias. — Pare com isso, bruxa. — Ele resmungou. Me afastei
e engoli mais bile quando comecei a me sentir tonta. — Você está bem?
— Ele se levantou quando a pergunta saiu de seus lábios. Pisquei
algumas estrelas que pareciam estar obscurecendo minha visão.
— Tudo bem, estou bem. — Murmurei quando forcei meu corpo a
relaxar, e a rotação na minha cabeça parou. — Acho que esse rapaz
pode ter comido algo venenoso.
— É possível. — Ele murmurou enquanto me movia em direção à
porta. — Deveríamos encontrar Eliran.
— Não, eles estão nos esperando na sala de guerra, vamos agora. —
Pedi, sem esperar pra ver se me seguia enquanto inalei profundamente
o perfume de Ryder que permanecia no quarto antes de sair. — Melhor
não dizer a ele que você me viu nua. — Sorri.
— É um corpo, já vi milhares deles. Eu sou Fae. Sinceramente, acho
que a modéstia humana é absurda e muitas vezes falsa. — Explicou.
— Ryder conhece meus sentimentos sobre isso, ele pode ter adotado
sua lógica humana boba, mas não tenho lugar para isso.
— Lógica humana tola? — Repeti pensativamente, me virando para
olhar ele por cima do ombro antes de bufar.
Entramos na sala e parei, notando que Ristan parecia agitado,
enquanto os outros pareciam ansiosos. Meus olhos deslizaram para
Alden, que estava debruçado sobre papéis com Lucian, enquanto
Adrian e Vlad sussurravam sobre algo no canto.
— Senhores. — Falei quando sentei e olhei em volta para os rostos.
— Sei que a maioria de vocês ainda precisa sair ou dormir, mas tem
algumas coisas que precisamos discutir.
— Tal como? — Alden perguntou enquanto colocava os papéis de
lado e me deu sua atenção.
— A Aliança de Seattle anteciparia que seria o primeiro lugar em
que procuraríamos Ryder. Antes de levarmos um exército para lá,
precisamos ter certeza de que eles realmente o seguram naquela
Aliança. Também não temos ideia do que a Aliança de Seattle tem na
manga. Eles normalmente não entram e levam alguém, não nessa
escala. Sabemos que eles tiveram ajuda, mas não sabemos ao certo
quem era. São coisas que não podemos deixar ao acaso. Sei que a
Aliança Nacional costumava fazer experimentos com os Fae que iam
muito além do que foi feito nas Alianças locais. Onde foi feito? —
Perguntei diretamente a Alden.
— Existe um laboratório, nas montanhas do Alasca. Uma vez que
eles têm certeza de que os Fae são inofensivos, eles os transportam
para outros locais para serem estudados em um ambiente controlado,
não acho que eles o levariam lá, não quando a Aliança de Seattle tem
um laboratório semelhante no fundo do prédio. O laboratório foi
esculpido em um grande depósito de pirita de ferro sob a Aliança, e eles
adicionaram grandes quantidades de ferro em pó à mistura de cimento
e despejaram em lajes para as paredes, de modo que, se alguém dos
Fae tentasse entrar, eles não sentiriam até que ficassem muito fracos
com o ferro para revidar.
— Isso será um problema. — Ristan assobiou.
— Não para você. — Respondi. — Vou precisar de Sinjinn nisso,
então preciso que pegue Olivia e vá para o Reino de Sangue e cuide dos
meus bebês. E quero que você leve as crianças que trouxemos da
Aliança de Spokane com você também. Na verdade, Demônio, leve
qualquer um dos jovens que precisam de abrigo. Não podemos nos
arriscar com os jovens, não quando restam tão poucos.
— Sou necessário aqui com você. — Ele retrucou, seus olhos se
estreitando enquanto eu o encarava.
— Você precisa proteger meus filhos para que eu possa me
concentrar. Você está preocupado com a Olivia, e isso me preocupa.
Ela se recusou a ficar onde você a levou e voltou aqui. E preciso saber
que eles estão seguros, todos eles. Você daria sua vida para salvá-los,
e todos sabemos disso. Quero Liam e Sinjinn comigo para isso, para
que você proteja meus bebês.
— Flor... — Ele começou a protestar, mas balancei a cabeça. — Tudo
bem, mas se você tiver problemas, me chame.
— De acordo. — Aceitei.
— Agora, preciso de uma equipe de cinco homens para fazer um
reconhecimento, e vão eles precisar entrar e sair sem se preocupar com
alergias a metais, por assim dizer.
— Eu posso ir. — Disse Alden, e balancei a cabeça.
— Não, você não pode. — Argumentei. — Você é necessário para
executar comunicações, Zahruk tem um monte de merda que vai nos
ajudar, e então ele vem nos mostrar como usar. Estou pensando em
Elijah e seus amigos para reconhecimento. Quero que todos estejam
conectados com comunicação, vídeo e armados até os dentes, mas não
a ponto de chamarem atenção indesejada. Também vou precisar de
alguém para me ajudar a atrair um Executor para longe da Aliança,
para que possamos interrogar e ver o que ele sabe. Executores são
informados de todas as ameaças que possam levar em consideração
um alvo ou um ativo que a Aliança possui. Pegamos um e vamos fazer
ele nos contar o que sabe.
— Como nos velhos tempos. — Disse Adam com um sorriso.
— Vamos precisar de um prédio para interrogar ele. Sei que seria
mais fácil trazer ele para cá, mas também precisaremos ter olhos na
Aliança. Precisamos estar cientes de cada movimento que eles fazem, e
estar perto vai alcançar os dois objetivos. O edifício vai precisar ser à
prova de som e ter poder para suportar comunicações e vídeo. Adrian,
você pode me encontrar um, certo?
— Eu posso, facilmente. Tem um grande aumento nos prédios
recuperados na área de Fisher's Market, e fica perto o suficiente da
Aliança para que possamos vigiar enquanto lidamos com os negócios.
— Então vamos caçar, senhores. — Falei suavemente enquanto me
levantava e observava os homens se levantarem para sair. Esperei a
sala esvaziar enquanto Ristan permanecia para trás. Depois que os
outros foram embora, ele virou os olhos furiosos para mim.
— Você sabe que precisa de mim com você. — Ele retrucou. — Olivia
está bem com os bebês, mas eu sou necessário com você. Não me peça
para ficar ocioso nisso. Ele é meu irmão.
— Eu sei, mas os outros não precisavam saber disso. Quero que
você cuide de nossas costas e que você faça isso a uma distância
segura, até que eu diga o contrário. E preciso de Sinjinn e Liam conosco
para isso. Quero que você dê a Olivia uma razão para ficar parada e
fora de perigo. — Sua postura de raiva relaxou e seu rosto se suavizou
com minhas palavras.
— Você está pálida. — Disse ele sem rodeios.
— Eu dei poder a Zahruk e não dormi. — Murmurei.
— Tem algo errado. — Ele sondou.
— Não, não tem. Digamos que eu tive um Sluagh ruim para o jantar.
Vamos lá, vamos fazer isso. — Falei, interrompendo.
O prédio escolhido estava vazio, exceto pelos pertences de um sem-
teto, que Zahruk afastou, lhe pagando generosamente com dinheiro
suficiente para comprar uma nova casa. Ele tem vista para o mercado
local de Pike e uma visão panorâmica da Aliança. As comunicações
foram montadas e todos estavam com coletes à prova de balas,
comunicações e uma câmera, incluindo Zahruk, que se recusou a me
deixar fora de vista.
O Pike's Place Market era um mercado enorme para agricultores e
uma das muitas atrações que trouxeram turistas para Seattle. Era o
epicentro de produtos frescos, alimentos especiais e outros
ingredientes que eram diferentes de qualquer outro no estado de
Washington, ou vários outros nesse sentido.
Enormes barcos de pesca entravam e saíam do píer, descarregando
novas capturas do Oceano Pacífico a todas as horas do dia e da noite.
Os peixeiros que jogavam peixe no mercado sempre foram um grande
sucesso entre os turistas. Lojas ladeavam o píer, de açougues a stands
que vendiam praticamente tudo o que você poderia querer. Tinha mais
de duzentas lojas únicas que enchiam o resto dos nove acres que
compunham o mercado e atraíam grandes multidões, o que o tornava
cheio de pessoas e agitado até tarde da noite.
O nível de ruído em si me lembrou o carnaval que Adam, eu e
Larissa uma vez fomos quando Adrian estava na cama, ferido. Tinha
um cheiro repugnante de muitos alimentos sendo cozidos ao mesmo
tempo, enquanto o barulho das pessoas zumbia sem parar.
Eu já amei esse lugar, e a antiga área histórica era algo para ver.
Era quase como se você tivesse voltado para outra época. A economia
tinha sofrido impacto aqui e, com a maioria das empresas pertencendo
às categorias de família e pequenas empresas, era triste ver isso.
Desviei a atenção para Zahruk quando ele começou a falar.
— Então, o feed das câmeras vai preencher essas telas. Cada uma
das câmeras do seu corpo possui um leitor de pulso para que possamos
monitorar seus sinais vitais a partir daqui. Se você tiver problemas, nós
vamos saber e podemos intervir. Vamos ouvir tudo o que é dito através
das comunicações. Existem cinco executores no cais e no momento
alguém está seguindo uma duende que parece bastante inofensiva,
além de sua estranha obsessão pelo peixe jogando.
Balancei a cabeça para Zahruk e sorri.
— Esse peixe jogando é muito foda. — Comentei.
— Plano de jogo? — Ele questionou, deliberadamente ignorando
meu comentário.
Estava me sentindo uma merda. Meu corpo estava trabalhando
contra mim, e me recusei a ouvir quando assenti em resposta. O cheiro
salgado do oceano misturado com os cheiros do mercado fez meus
sentidos estremecerem.
— Adam e eu podemos atrair um dos Executores para longe de sua
equipe, posso me fazer parecer humano o suficiente para parecer que
ele está se alimentando de mim, isso vai chamar atenção suficiente
para fazer eles quebrarem o protocolo. Nós só queremos um, então se
outros nos seguirem, cuide deles. — Falei a Adrian e Vlad, que
assentiram. — Com o punho, quero dizer, não mate eles.
— Não planejei isso, querida. — Disse Adrian suavemente enquanto
me observava curiosamente.
— Algum problema? — Perguntei, e ele balançou a cabeça.
— Você planeja contar aos outros? — Perguntou cuidadosamente, e
pisquei para ele.
— Contar aos outros o que?
— Nada. — Disse ele, se virando e me deixando parada ali, confusa.
O observei enquanto ele caminhava até Vlad e assentia, e os olhos
prateados de Vlad se moveram para os meus. Algo parecido com
preocupação apareceu neles antes de mascarar e sair com Adrian para
se posicionar.
Virei para Adam, assenti e testei rapidamente minhas comunicações
e equipamentos enquanto seguíamos para nossas posições. Em
minutos, estávamos do lado de fora e descendo o píer até o local onde
localizamos um dos Executores, que parecia mais jovem que os outros
com quem ele estava.
— Como nos velhos tempos, hein? — Adam falou suavemente
quando se virou e sorriu para mim.
— Novos corpos, melhores equipamentos, simplesmente não é a
mesma coisa. — Murmurei. Eu não estava sentindo isso. Nas missões
que realizamos como Executores não tinha pressa. Agora tinha muita
coisa em jogo. — Lá está ele. — Falei quando viramos uma esquina e
encontramos o Executor encarando abertamente a duende. Ele nem
estava escondendo o que era. Armas refletiam a luz do sol da tarde,
brilhando ocasionalmente quando se movia enquanto a observava com
a mão nas lâminas.
— Então, como vamos fazer isso? — Adam perguntou.
— Eu gritarei, e você vai me puxar para aquele beco. — Apontei para
alguns metros de nós. — Você vai brilhar com as marcas Fae, e me vou
esforçar para parecer cair sob seu feitiço.
— Pronta? — Seu sorriso era malicioso quando suas mãos tocaram
meu braço nu.
Eu usava um vestido de verão, meu traje planejado para parecer
inocente com um apelo sexual, usava saltos pequenos e facas
suficientes para derrubar um pequeno exército embaixo da minha saia.
Exalei a náusea e assenti.
Andei em torno de Adam para tornar mais fácil ele me empurrar em
direção ao beco. Uma vez lá, soltei um grito agudo que cortou a
conversa no píer e até Adam estremeceu. Suas mãos agarraram minha
cintura e ele empurrou meu corpo em direção ao beco, mantive meus
gritos de ajuda quando suas marcas começaram a brilhar.
— Porra, faz muito tempo que ouvi você gritar como uma menina.
— Ele riu, lutando comigo intensamente para fazer parecer real o
suficiente para fazer o Executor deixar seu posto.
— Faz um longo tempo que eu tive que bancar a vítima. — Respirei,
e depois tomei outro ar antes de começar a gritar por cima do ombro.
O Executor assistiu, mas não estava se mexendo. — Tente arrancar
meu vestido. — Exigi baixinho, e vi os olhos de Adam arregalarem como
discos. — Faça, ele está vendo, mas não quer deixar seu posto. —
Assobiei e depois estremeci quando Adam fez como instruí, seus dedos
acidentalmente mordendo minha pele enquanto ele puxava e rasgava o
corpete do vestido que eu vestia.
O Executor se aproximava de nós com um olhar que me incomodou,
fingi sucumbir à Adam enquanto ele fingia me beijar em silêncio. O
calor da boca dele não era novidade, já fizemos isso antes. Nós éramos
mestres em fingir ser um casal, pulei e envolvi minhas pernas em volta
dele enquanto meus braços faziam o mesmo em seu pescoço. Passei os
dedos pelos seus cabelos e, no momento em que minhas costas
tocaram a parede do beco, a dor disparou pela minha barriga.
Estremeci e lágrimas queimavam meus olhos, mas empurrei a dor
para longe e continuei fingindo que fui transformada em FIZ. Eu fazia
barulhos incoerentes que pareciam mais uma galinha morrendo
quando a dor me atravessou. E assisti o Executor dobrar a esquina,
puxar sua lâmina e correr em direção às costas desprotegidas de Adam.
Um momento antes dele ter afundado a lâmina com ponta de ferro
nas costas de Adam, me movi ao redor de Adam, levantei a mão, peguei
o braço do Executor e o virei, sua cabeça dando ao cimento um forte
golpe durante sua descida. No momento em que fiz, ergui os olhos
quando os outros Executores correram pela esquina.
Vlad, Adrian e Lucian apareceram, agarrando cada um por trás com
um braço preso em volta de suas gargantas. Um após o outro, eles
ficaram moles em seus respectivos estrangulamentos. Exalei e me
levantei, depois enfeiticei minha armadura, enquanto observava Adam
colocar o que capturamos por cima do ombro e olhar para os outros.
— Odeio apontar isso, mas quando acordarem, vão alertar a Aliança
sobre a nossa presença, como um alarme. — Disse ele sombriamente.
— Traga eles, podem ser nossos convidados até Ryder voltar. —
Ordenei de má vontade. Andamos pelo beco em silêncio, ninguém
arriscando nossa sorte conversando. Uma vez dentro de nosso posto de
comando, andei para a sala maior, onde o resto de nossos camaradas
Fae esperavam, e assisti o nosso pequeno grupo de ataque trazer e
amarrar cada Executor às cadeiras que Zahruk enfeitiçou. O que sua
imaginação conseguia era quase assustador quando ele estava no
modo inquisidor.
Parecia algo visto no consultório de um dentista. Os braços tinham
algemas para manter eles no lugar. Uma cadeira foi colocada
estrategicamente para que as outras tivessem uma visão completa dela.
Andei pela sala, esperando os homens moverem os Executores para
suas posições.
Quando os Executores começaram a acordar, peguei uma faca e
passei a ponta do dedo pela ponta afiada, senti os olhos deles em mim,
e por isso deixei o sangue escorrer pelo meu dedo antes de sussurrar
um feitiço que fez o sangue subir no ar. Quando se ergueu, se esticou
e se moldou até que assumiu a forma de uma borboleta que flutuou ao
meu redor por um momento antes de dar a volta e aterrissar no meu
ombro, sussurrei e vi que mais uma vez decolou. Ela aterrissou no
executor, que parecia ser o mais antigo e foi amarrado à cadeira que os
outros teriam uma visão desobstruída.
— Qual é o seu nome? — Perguntei, observando atentamente
enquanto os outros se aproximavam de mim.
— Vá para o inferno. — Ele retrucou, ferozes olhos verdes olhando
para mim.
— Oh, querido, já estive no inferno, e esse buraco de merda não
pode me conter. — O observei por baixo dos meus cílios e repeti minha
pergunta. — Qual é o seu nome?
— Prostituta de Satanás. — Ele rosnou enquanto lutava contra as
restrições e movia o ombro para desalojar a borboleta.
— Mmm, não acho que esse seja o seu nome, tente de novo. —
Lentamente movi os olhos para a borboleta. — Você acha que guardar
segredos vai te proteger? — Observei seus olhos estreitarem enquanto
ele tentava descobrir como eu conseguiria esses segredos. — Não vou
demorar muito para descobrir. Suas paredes são fracas. Sua vontade,
no entanto, é forte. Você acha que está fazendo o que é certo, mesmo
que suspeite que a Aliança esteja contaminada.
— Saia da minha cabeça, vadia. — Ele exigiu, e engoli quando
Zahruk se moveu mais rápido do que qualquer olho humano podia
detectar. Sua adaga afundou no couro macio da cadeira, cortando a
orelha do Executor.
— Cuidado com a sua língua, garoto, ou vou remover da sua boca
vil. — Advertiu Zahruk. — E não vou te avisar de novo. Existem outros
aqui que ela pode questionar, ela não precisa de você.
Olhei por cima da cabeça dele para onde os outros Executores
assistiam em silêncio. Não tenho tempo para essa merda, sussurrei o
feitiço que incentivou o inseto a afinar e deslizar em seu canal auditivo.
Seus gritos rasgaram a sala, ecoando e ricocheteando nas paredes à
prova de som enquanto se arrastavam dentro de sua cabeça e o
primeiro pensamento que estava na superfície de sua mente que veio a
mim foi o seu nome. Andrew.
— Oh Deus, está nele. — Um dos outros Executores gritou de
horror.
— Não é isso. — Murmurei, sorrindo quando a sala começou a
desaparecer para mim quando me tornei uma com a borboleta dentro
da cabeça de Andrew.
A infância de Andrew não foi novidade. Pais amorosos, mas em
algum lugar ao longo do caminho, algo deu errado. Ele foi enviado para
a Aliança quando seu pai matou sua mãe. Ele treinou duro, fez o
possível para impressionar os Anciões, que nem o notaram.
Provavelmente por isso que ele foi designado para o píer. Me afastei das
memórias pessoais e vasculhei as partes que queria, descobrindo que
as lembranças superficiais pelas quais tinha passado eram mentiras.
Um feitiço muito poderoso, que permitiu a Andrew disfarçar o que ele
realmente era.
Afastei seus pensamentos, usando a precisão da borboleta para não
danificar nenhuma de suas memórias. Levou tempo e esforço, meu
poder era forte, mas usar a magia dessa forma tem um preço. O suor
escorria pelos meus seios e na parte de trás do meu pescoço enquanto
continuei a cavar até encontrar sua tarefa recente.
Me tornei Andrew, observando o decrépito Ancião falar. A Aliança
fedia a sálvia, mirra e outras pomadas pungentes. Runas brilhavam em
volta das paredes com a magia antiga. Este lugar foi santificado em
feitiços. Virei a cabeça, observando os detalhes de sua memória.
— Eu quero ver ele. — A voz de Andrew quase tremeu de emoção mal
contida.
— Não é ele, mas sim, e você deve se dirigir à criatura. Você teve um
papel importante em nos ajudar a obter o Druida que tornou tudo isso
possível, então você merece dar uma olhada. — O ancião era conhecido
por mim; ele era um dos que frequentou as Alianças de Seattle e
Spokane. Ele levantou o roupão e pegou a bengala enquanto se
levantava e indicou que Andrew deveria segui-lo.
— Nós descobrimos como matá-lo? — Perguntou, olhando as vestes
de prata do Ancião, o que o marcou como um dos mais altos do ranking
da Aliança.
— Ainda não, mas em breve. — O ancião tossiu e começaram a
caminhar por um corredor que terminava em uma escada. — As Bruxas
têm certeza de que toda casta Fae tem uma fraqueza; é provável que sua
fraqueza esteja no sangue. Elas o desenham e revestem suas runas com
ele para descobrir o que pode matar o formidável rei da Horda. Elas são
antigas e têm mais poder do que todas as Alianças combinadas. Se
alguém pode destruir esse monstro, são elas.
Uma vez na escada, ele parou e cantou enquanto seus dedos se
agitavam em um padrão complexo para remover uma ala de ligação que
devia agir como uma sentinela, uma barreira ou ambas. Runas na
parede ganharam vida, pulsando enquanto seus dedos retorcidos
trabalhavam na ala. Meus olhos seguiram seus dedos e depois foram
para as paredes, notando as runas colocadas neles. O aroma pungente
de mirra misturado com sálvia e outras ervas era nauseante e forte
quando descemos as escadas depois que as alas foram removidas.
Passamos por salas com portas que foram marcadas de forma
semelhante por runas, enquanto outras com barras além das runas.
Passamos por várias salas maiores que mantinham Faes dentro delas,
aqueles que tinham sido experimentados e não emitiam som enquanto
passávamos por elas.
A grande cela no final do corredor fez meu coração bater alto, mas
uma vez lá dentro, minha esperança diminuiu. Era outra sala, outra
escada e mais alas. Passamos por vários outros corredores até
chegarmos a uma sala que era como uma caixa de chumbo, e o ferro
cercava esse chumbo em todos os lados, exceto um, que tinha uma porta
com ferro embutido. O ferro deve ter sido queimado, derretido e
derramado nas runas gravadas na madeira.
Um cacarejar soou quando a porta foi aberta e nós entramos. Dentro
da sala, Ryder estava imóvel. Raios de Deus foram enfiados em seus
braços e pernas, e outros pinos também foram enfiados em sua carne.
Tinha duas bruxas inclinadas sobre ele. Ambas usavam vestes
antigas, e seus cabelos eram longos e da cor da asa de um corvo, preto
com um tom de azul misturado. Olhos verde azulados brilhavam quando
o poder encheu a sala. Elas se moveram ao redor dele, cantando
enquanto o assistiam lutar dolorosamente contra os pinos. Elas
pareciam jovens, com vinte e poucos anos, a carne lisa de porcelana
exposta enquanto puxavam as saias para cima e dançavam ao redor
dele. Ele estava nu, exposto e impressionado com elas. Seus músculos
poderosos e macios estavam cobertos de suor devido a seus esforços
para se libertar.
Eu queria gritar, reclamar, estender a mão e tocar ele. E pedir a ele
que me esperasse, que eu estava vindo, mas não consegui. Aqui, eu era
Andrew.
Assisti quando os olhos dourados se abriram e trancaram nos meus.
A dureza em seus olhos suavizou brevemente, como se ele me sentisse
lá na sala com ele. Era impossível, isso era uma lembrança. Não era nem
minha memória, assisti enquanto ele lutava contra os pinos, um feito
impossível. Senti o poder deles antes. Frio, frio como eles anularam sua
força e entorpeceram seus sentidos.
— Está acordado. — Afirmou Andrew, e a bruxa mais próxima de
Ryder sorriu. — Posso? — Perguntou enquanto ela produzia uma lâmina.
— Acha que pode matar o rei da Horda? Se ele escapar, certamente
vai desejar seu sangue. — Ela sussurrou, como se o pensamento a
excitasse.
— Eu quero. — Andrew respirou fervorosamente quando aceitou a
lâmina. Havia tanta escuridão em seu coração que me engasguei com
isso. Ele se aproximou, depois pulou de volta com medo enquanto Ryder
rosnava. Aqueles olhos, no entanto, mais uma vez trancaram nos meus.
Ele sabia. Ele sabia que eu estava aqui, que estava procurando por ele.
O olhar em seus olhos dizia tudo, e era preciso muita força para
permanecer nessa memória.
A lâmina que Andrew segurava rasgou a pele quando esfaqueou o
peito de Ryder repetidas vezes, tropecei de volta da memória, me
retirando dela.
Meu entorno entrou em foco mais uma vez, e vi o sorriso mórbido
que brincava nos lábios de Andrew enquanto ele revivia suas ações com
prazer, me aproximei dele e chamei de volta a borboleta, e apreciei o
choro que rasgou seus lábios enquanto ele gritava de dor.
Depois que ele voltou ao presente, enfeiticei uma das minhas longas
lâminas que Zahruk tinha feito e esfaqueei Andrew no peito. Seu grito
chocado me deu conforto. A Deusa guerreira e sedenta de sangue em
mim ronronou por mais.
— Eu deveria te apunhalar por toda vez que esfaqueou ele. —
Sussurrei enquanto lutava contra a náusea com o que a Aliança e as
Bruxas estavam fazendo com Ryder. — Deveria rasgar você membro a
fodido membro enquanto você me implora para parar. — Sorri contra
sua orelha. — Pior, devia te deixar vivo para quando recuperar ele, e
deixá-lo tirar a pele dos seus ossos para curar suas feridas.
Infelizmente, sou uma cadela egoísta. Você teve prazer em lhe dar dor,
e por isso terei prazer em tirar sua vida.
— Synthia? — Alden alertou quando colocou a mão no meu ombro.
— Não, ele não pode ser salvo. Nenhum deles pode. — Cuspi quando
me virei para encarar meu mentor. — Eles são um veneno que sangra
na Aliança. Andrew é um Mago, não um Executor. Sua infância foi
difícil, mas os Anciões só olharam para suas memórias superficiais
quando o trouxeram para a Aliança para serem treinados, elas são uma
mentira. Sua mãe e pai eram magos. Sua mãe o visitava uma vez por
semana e dava ordens a Andrew. Ele era Executor só no nome, ele
nasceu e sempre será um mago em seu coração. Então não, ele não
pode ser salvo.
— Ele foi plantado? — Alden perguntou. Ao meu aceno, ele balançou
a cabeça. — Quantos eles plantaram dentro de nossas Alianças que
desconhecemos? Nós os treinamos para matar os Fae.
— Você fez. — Eu não adoçaria e aliviaria sua culpa. — Então você
os solta nos Fae com agendas ocultas. Agora pouco importa, e Ryder
está dentro dessa Aliança. Ele está preso com raios de Deus e algum
outro tipo de pino, nunca vi nada parecido antes. Existem outros Fae
lá sendo experimentados também. Os corredores estão cheios de runas
embutidas nas paredes. As alas estão de alguma forma ligadas a elas.
Meu palpite é que se trata de uma bagunça que bloqueia o prédio
inteiro.
— Então, o que você planeja fazer? — Perguntou.
— Andrew aqui tinha ótimas lembranças de onde encontrar um
Druida ou dois. Vou precisar de um. — Respondi.
— Para? — Alden perguntou, o que odiava fazer. Não era fácil estar
do outro lado de uma missão.
— Acordar uma Bruxa, é claro. Foi assim que a Aliança acordou o
resto delas. — Brinquei ao ver o brilho de uma forma de mulher se
formando pelo canto do olho. O chocalho da morte ofegante do
Executor não me incomodou, a Deusa se materializou com os olhos
fixos nele.
Que porra Destiny estava fazendo aqui?
— Eu volto já, descartem o cadáver. — Ordenei.
— Por que você está aqui? — Exigi quando fechei a porta da sala
principal atrás de mim. Não pedi que ela me seguisse, sabia sem pedir
que faria. Fui para o próximo andar e andei até um dos sofás,
ignorando as batidas do meu coração.
— Você não tem nenhum negócio para tratar aqui, é proibido se
intrometer nos assuntos humanos. — Disse ela, arrogante.
— Não me intrometi em nenhuma vida humana, monstros sim.
Matei muitos deles, mas não humanos. E sempre tentei manter minhas
mãos limpas.
— Você está no mundo humano, criança. Essas vidas fazem parte
de uma teia emaranhada e estão todos conectados. Você pode não ver,
mas garanto que sim. Tem consequências por estar aqui e prejudicar
qualquer um que mora neste mundo.
— Eles nos atacaram e tiraram Ryder de mim. Eu deveria sentar e
aguardar enquanto eles o torturam? — Protestei.
— Você não pode interferir!
— Não posso sentar enquanto eles o desmembram! — Gritei com
raiva.
— Synthia, existem forças maiores que nós que fazem as regras. Não
somos mais do que peões neste mundo e, por mundo, quero dizer
universo. Você se intromete em coisas que nem consegue entender. —
Ela disse suavemente enquanto me observava com um olhar cauteloso.
— Eles vieram ao meu mundo, arrancaram Ryder dele, e você está
me dizendo que não posso fazer nada para recuperá-lo? — Exigi,
enquanto lutava com as lágrimas que ameaçavam me trair.
— Toda vida aqui está conectada. A Aliança protege os humanos.
Você planeja invadir e tirar uma vida. Essa vida pode estar destinada
a salvar outra, ou tirar a vida de outro. Os seres humanos são como
dominós. É por isso que, depois de todo esse tempo, Deus nunca
interveio neste mundo. O Deus humano conectou toda vida a seu
próprio propósito, e esse propósito tem que se concretizar. Digamos
que você mate uma criança no mundo humano, e sua vida deveria levar
ele a conhecer uma mulher e gerar uma criança. Essa criança tem um
destino, que você acabou de cortar. Se o seu destino era simplesmente
sorrir para alguém que estava tendo o pior dia possível, e esse sorriso
simples resultou em uma única pessoa que não cometeu suicídio, isso
é um destino. Um único gesto de bondade pode mudar um mundo, são
criaturas inconstantes, na melhor das hipóteses, mas cada uma delas
tem um propósito. Você é a Deusa das Fadas e agora tirou uma vida
no mundo humano e agora elas vão exigir em troca algo de você.
— Aqueles idiotas o tiraram do meu casamento! — Rebati quando
apontei meu dedo na direção geral da Aliança. Entendi a lógica dela,
era falha, mas também era deste mundo. — Não posso ficar aqui e não
o ajudar, você não entende?
— Você é uma Deusa. — Explicou ela. — Suas mãos estão atadas
neste mundo, Synthia Raine. Você não pode mexer na balança.
— Neste momento, a Terra dos Fae e a Tèrra estão conectadas, e
isso faz daqui o meu playground também. Posso sentir isso, Destiny,
posso sentir esse mundo porque, não importa o quê, todos os mundos
estão ligados a ele. É a âncora para todos os mundos do universo. Danu
fez questão de que eu fosse capaz de me intrometer na Terra dos Fae,
já que me tornaria sua Deusa.
— Não funciona assim. — Ela suspirou como se estivesse tentando
ser paciente comigo, e falhando um pouco. — Você pode liderar eles,
mas não pode agir neste mundo. Ninguém pode morrer pela sua mão.
Me entende? Conduza eles, mas não interfira diretamente. O preço será
mais alto do que está disposta a pagar, te garanto isso. — Ela implorou.
— Ele é o amor da minha vida, o pai dos meus filhos. Pagarei o que
“eles” — implorei, fazendo aspas no ar — quiserem, mas vou recuperar!
— Temo que minhas palavras caiam em ouvidos surdos. — Ela
murmurou tristemente enquanto acenava com a mão e o velho sofá
esfarrapado se transformou em um lindo sofá branco. — Sente comigo,
criança.
— Você não vai me fazer mudar de ideia. — Avisei enquanto a
observava com cautela.
— Danu me avisou que não tinha nada que eu pudesse te dizer que
a impediria de seguir seu curso, não uma vez que você decidisse. — Ela
riu, mas não era real.
— Eu amo ele. — Suspirei impotente quando um torno apertou meu
coração. — Ele destruiria mundos por mim.
— Não, Synthia. Ele não faria. Ele não fez. Ele escolheu te deixar
morrer. — Ela retrucou sem rodeios.
— Porque ele sabia que era o que eu queria. — Neguei. — Ele
também não teve escolha, eu morreria de qualquer maneira. Ele não
conseguiu parar isso. Ninguém poderia, nem mesmo Danu.
— Essa é a verdade, e se estou sendo sincera, a situação foi uma
merda. Ele teria que escolher entre você e seus filhos, e você tirou essa
escolha dele. Suas últimas palavras selaram seu destino, mas já
sabíamos o que aconteceria. Sua mãe te criou para salvar o mundo que
amava. Ela fez você para Ryder, mas seu destino sempre foi substituir
sua mãe. Sua mãe está ciente disso desde o momento em que você
nasceu e me mostraram seu destino, implorei para ela te destruir. Para
impedir que isso acontecesse, deixar o mundo que dela e criar um. Ela
não podia, no entanto, depois que Madisyn deu à luz, Danu a abraçou
enquanto Madisyn dormia, e no momento em que fez isso, ela conheceu
um amor que nunca conheceu antes. Ela olhou nos olhos da filha e
não pôde fazer o que deveria para se salvar. Ao invés disso, me amarrou
a você. Ela enrolou uma mecha do meu cabelo ao redor do seu dedo e
amarrou o seu destino ao dos Deuses. Ela deveria ter permitido que
você morresse e evitado esse destino, mas não conseguiu.
— Houve muitas vezes em que ela assistiu você quando criança, e
depois como jovem, e durante toda a sua vida. No dia em que Faolán
matou seus pais, ela quase interferiu. Dei o mesmo aviso que estou te
dando agora. Se ela tivesse intervindo, quem diria que sua vida não
teria sido o pagamento por interferir neste mundo?
— Ela estava lá? — Perguntei enquanto meu peito arfava. — Ela
poderia ter me ajudado.
— E perder a sua vida, ou a dela? Os Deuses são criaturas cruéis.
Eles fazem os Magos parecerem crianças brincando. Eles podem exigir
sangue, ou pior. Ela sabe disso, por que você acha que ela me enviou?
Em sua opinião, qual foi o custo para se intrometer na sua vida? Você
era uma Executora e estava destinada a salvar centenas de vidas. Não
importava que fosse do sangue dela, ou que o Destino a abençoasse.
Você foi enviada para este mundo e se tornou parte dele. Agora, agora
você não é. Qualquer que seja o destino que você teve aqui, foi cortado
com sua vida mortal. Você não é Fae, você não é uma semideusa. Você
é uma Deusa completa agora.
— Então pegue de volta! Porque eu desistiria da minha imortalidade
por uma vida mortal com ele! Ele é tudo para mim. — Chorei quando
me levantei, furiosa por estar chorando, mas não porque eu estava
chateada.
— Meus Deuses, você é tão doce quanto ela disse. — Ela sussurrou
enquanto se levantava e olhava para mim. — Não pode ser desfeito,
nunca. A única maneira de você perder a vida é irritar os Deuses o
suficiente para te aceitar ou como pagamento por se intrometer em
locais onde você não tem negócios.
— O que eles vão exigir de mim? — Não posso e não o deixaria
continuar naquela sala para ser transformado no que os outros Fae
foram. Ele estava com Bruxas experimentando maneiras de matar ele.
Quanto tempo antes de terem sucesso? Não. Qualquer que fosse o
preço, eu pagaria.
— É uma primeira ofensa, então é difícil dizer. E sei que eles não
podem tocar seus filhos. Eles já receberam seus próprios destinos, e
Danu tem um acordo com o Destino de que, não importa o que você
faça, eles estarão protegidos. Ela levou em conta que você é tão teimosa
quanto ela. Agradecidamente. Mas isso não significa que eles serão
gentis com você.
— Meus filhos estão seguros? — Perguntei cautelosamente, e
quando ela assentiu, sorri. — Então eles podem ter minha vida se for
o custo. Se é a minha vida pela dele, que assim seja.
— A vida de Ryder pode ser o preço que eles pedem. — Ela sussurrou
cuidadosamente.
— Se eles pegarem a dele, é melhor pegarem a minha. — Avisei. —
Porque o monstro que eu me tornaria seria diferente de tudo que eles
já viram antes.
— Synthia, não se ameaça os Deuses.
— Não é uma ameaça. — Afirmei friamente. — No momento, eles
têm o luxo de ficar sentados e assistirem como as coisas se desenrolam,
mas se fosse o amor de suas vidas sendo torturado, tenho certeza que
eles não se importariam em dobrar um pouco as regras, e vou me
esforçar muito para não matar ninguém, mas não sou santa. Se eles
lutarem, prefiro pensar que é porque o destino deles é morrer pela
minha mão. É uma escolha, certo? O destino é o que você faz dele, não
uma merda pré determinada. Pode estar ligado a outras pessoas, mas
controlamos aonde nossas vidas nos levam. Você acabou de nos guiar,
porque você é uma Deusa, e esse show não é tudo o que se espera. São
muitas mãos atadas e regras que não permitem que você realmente
controle as coisas.
Ela sorriu.
— Vejo muito dela em você. — Disse ela com força, seus olhos
brilhando de lágrimas. — Ela não vai durar muito e se você se apressar
e salvar seu rei, poderemos ter sua mãe conosco quando você andar
pelo corredor para se casar com seu animal. — Ela engoliu em seco. —
A que distância você chegou daquela garotinha zangada que me
amaldiçoou por minha interferência em sua vida, Synthia Raine. — Ela
sussurrou com emoção sufocada enquanto expelia um longo suspiro e
sorria suavemente. — E não posso nem ficar com raiva de Danu por
suas escolhas, porque agora vejo, vejo que vale a pena morrer por isso.
Você fará tudo o que ela não pôde e muito mais. Você é mãe e guerreira,
algo que ela nunca poderia ser.
— Ela é uma guerreira e é minha mãe. Ela nunca vai morrer
verdadeiramente, não por nós ou pela história. Nós a manteremos viva
em tudo o que fizermos.
— Tão certo, mas você é necessária lá embaixo. Eles cuidaram do
corpo e estão esperando por você. Vá e se apresse. Tempo é algo que
não temos.
O som de botas no chão frio de mármore era o único barulho do
nível superior recém-construído da Aliança. Não teve conversas, nem
som de pessoas se movendo enquanto preparavam os Executores para
missões ou o som de crianças enquanto eram ensinadas a se tornarem
grandes Executores. O silêncio foi enervante e fez com que um lugar
que me era familiar parecesse quase estranho agora.
De fato, foi árduo o trabalho de reconstruir ela, mas até agora só o
piso principal foi finalizado. Mesmo assim, foi um progresso. Meus
olhos examinaram o mármore frio, contemplando os emblemas das
casas reais da Terra dos Fae. Quatro cristas para quatro castas reais
dos Fae.
O balcão da recepção, que seria o primeiro ponto de contato com
qualquer pessoa que precisasse de nossa ajuda, foi fortificado com alas
para proteger aqueles que a ocupariam. As paredes estavam cobertas
por proteções semelhantes, todas invisíveis a olho nu ou destreinado.
— É um começo. — Dristan refletiu suavemente, notando meu
interesse no mobiliário. — Ainda não tem muito o que olhar, nem é
chique, mas essas coisas podem ser adicionadas com o tempo.
— Não tem barulho. — Comentei e fiz uma careta. — Isso vai chegar
com o tempo também, acho. É simplesmente irritante para mim que
este lugar esteja tão quieto.
— Está tão quieto quanto o que deveria se tornar, uma tumba. —
Ele concordou enquanto afastava as mechas marrons do rosto e sorria.
— Mas você está certa. O barulho vai vir assim que este local estiver
aberto para negócios. Tenho certeza de que vamos desejar um pouco
de paz e sossego quando isso acontecer.
— O Demônio está aqui e ele nos trouxe um presente. — Anunciei,
sentindo as alas que zumbiam com um aviso dos homens do lado de
fora da porta. Segundos depois, uma comoção soou das portas quando
o Demônio arrastou o Druida para dentro e o empurrou em direção aos
meus pés.
Ele era mais jovem do que eu esperava, ou pelo menos parecia mais
jovem do que pensei que seria, não tentei adivinhar a idade de
ninguém, já que os Fae não tornaram exatamente uma coisa fácil de
fazer. O Druida tinha cabelos castanhos na altura dos ombros e suaves
olhos castanhos. O pescoço e os braços dele estavam cobertos de
runas, junto com rabiscos antigos que pareciam semelhantes a alas de
proteção em tinta mágica, algo que já tive na base do meu crânio. Seus
olhos me pegaram, lentamente, depois se arregalaram de apreensão
quando ele notou o brilho vindo de dentro.
— Isso é... — Ele fez uma pausa, balançou a cabeça e mais uma vez
continuou incrédulo. — Isso é uma deusa! — Olhou duas vezes antes
de se virar para Ristan, que o arrastou para a Aliança. — Ela é uma
Deusa, Demônio.
— Deve ter escapado da minha mente. — Ele murmurou quando se
virou para mim. — Com toda a justiça, eu nunca disse que ela não era.
— O tom de Ristan era seco e sem emoção.
— Sou uma deusa. — Confirmei enquanto me inseria na conversa.
— Sei que a única maneira de despertar a Bruxa que dorme sob esta
Aliança é com a ajuda de um Druida que pode quebrar o feitiço que a
mantém em êxtase.
— Acha que eu te ajudaria a acordar ela? Ou que eu ajudaria os Fae
por algum motivo? — Ele retrucou, e sorri confiante. Bom, pelo menos
ele tem uma espinha dorsal.
— Você vai me ajudar. — Assegurei a ele enquanto olhava para
minhas unhas recém-feitas.
— Não, não vou e vou te contar a mesma coisa que disse às Alianças:
essas Bruxas não foram feitas para serem despertadas depois que os
Paladinos as colocaram em êxtase. Eu, juntamente com o resto da
ordem dos Druidas, jurei que me certificaria que elas ficassem nesse
estado. Você não pode me forçar a fazer, nem mesmo com ameaça de
tortura. — Ele respondeu, seu tom firme e um pouco forte. Bem, merda.
Isso não explicava como Andrew, o Executor/Mago, sabia sobre dois
Druidas, quando esses homens eram escassos e notórios sobre se
manterem escondidos, mas explicava por que entrou em contato com
os dois.
— De alguma forma, a Aliança foi capaz de encontrar um caminho
para o outro Druida que eles convenceram a quebrar seu juramento.
Eu me pergunto o que foi, suborno... tortura... ou talvez apelando para
uma ideologia semelhante? Acho que posso arrancar da sua mente, se
quiser, mas prefiro não estragar as unhas. — Mantive o tom da voz
baixa e uniforme. — Vai doer pra caralho, e será bastante confuso para
você.
— E como você tiraria isso da minha mente? Minha mente e meu
corpo estão protegidos contra os Fae e as Bruxas das Alianças.
— Bom, não sou nenhum deles e não tenho certeza se essas alas
poderiam me parar. No entanto, amo um bom desafio. — Ofereci com
um sorriso perigoso. — Vamos colocar à prova? — Enfeiticei uma adaga
na mão, passei os dedos com mais segurança ao redor da ponta e
observei enquanto ele endureceu. Suas pupilas dilataram quando o
pulso em seu pescoço acelerou, sinais sutis de medo que já vi muitas
vezes quando eu era uma Executora.
Pressionei a ponta da adaga no meu dedo, repetindo suavemente o
feitiço para desenhar a borboleta com magia. Por enquanto a chamava
de Pegador de Cérebro, já que tecnicamente era o que fazia. Talvez, à
medida que melhorasse esse feitiço, surgisse um nome um pouco mais
cativante e não tivesse medo de dizer em torno dos Fae, pois tenho
certeza que o Demônio teria vários trocadilhos com ele.
— Essa pequena beleza está prestes a entrar na sua cabeça, e sei
que vai doer pra caralho. Também devo te avisar: a última vez que a
soltei, a mente que ela entrou não era a mesma quando terminei. —
Ronronei. Não era mentira. A borboleta não matou o Executor, eu fiz.
Não que o Druida precisasse dos detalhes. — Então, aqui está um
pequeno resumo do que ela pode fazer. — Eu estava gostando do jeito
que ele se contorcia enquanto observava a linda borboleta. — Assim
que eu soltar, ela vai deslizar dentro da sua cabeça através da sua
orelha. Dica: essa é a parte dolorosa. Uma vez lá dentro, vou poder
reviver toda a memória que você tiver. Saberei tudo sobre você, desde
a primeira vez que mijou nas calças, até o Demônio te arrastar até aqui.
Então, por que simplesmente não pulamos a coisa em que te ameaço,
a discussão e, é claro, o negócio feio da dor, e, bem, babar não é algo
que eu desejaria para alguém, porque sou sádica o suficiente para tirar
fotos e enviar periodicamente mais tarde. O que você acha, Druida? —
Mordi meu lábio quando estreitei meus olhos nos dele.
— Então você pode destruir o mundo como a Aliança planeja fazer?
Assim você pode reiniciar a raça humana à sua imagem porque acha
esse mundo defeituoso? Foda-se. Faça o seu pior. — Ele rosnou. Fiz
uma pausa com suas palavras e a raiva feia enterrada profundamente
em seu tom.
— Não é isso que eu quero. — O observei com cuidado enquanto ele
inclinava a cabeça para o lado e me deu um olhar que mostrava
claramente que não acreditava em mim. — Acho que você sabe alguma
coisa sobre o que está acontecendo com os buracos que levam o mundo
dos Fae para esse mundo, correto? — Sua postura endureceu com a
mudança na linha de questionamento. — Vou tomar isso como um sim.
Me diga o que você sabe sobre eles. — Exigi, enquanto ele engolia
lentamente, considerando minhas perguntas.
— Você primeiro, Deusa. — Ele murmurou.
— Meu nome é Synthia. — Comecei suavemente, me perguntando
se ele me daria seu nome em troca. Passos de bebê em confiança eram
às vezes a jogada mais inteligente. Quando ele permaneceu em silêncio,
assenti. — Seu nome é?
— Realmente importa para você qual é o meu nome? — Perguntou,
me observando e observando minha reação. Quando permaneci firme,
cedeu, dando um suspiro teimoso de rebelião. — Tudo bem, é Derrick.
— Bem, Derrick, o Druida, não tenho intenção de destruir nenhum
mundo. Eu sou a Deusa das Fadas e futura Rainha da Horda dos Fae.
E estava no meio do meu casamento quando a Aliança nos atacou e
roubou o amor da minha vida da fortaleza da Horda. — Afirmei,
observando enquanto ele engolia nervosamente à menção da Horda. —
A Aliança não é forte o suficiente para realizar esse tipo de façanha
sozinha. Veja bem, tudo começou com os portais da Terra dos Fae
falhando, fáceis o suficiente para culpar apenas o enfraquecimento do
mundo, mas não foi isso que os fez crescer. Acho que sei o que eles
fizeram e não acho que eles estavam preparados para o que receberam.
A Aliança não é estúpida, mas eles têm um pequeno problema de
gerenciamento nestes dias. Existem Magos se escondendo nas fileiras
da Aliança, e parece que eles assumiram oficialmente algumas das
Alianças. Pelo que sabemos, estão no controle há um tempo. Acredito
que eles acordaram algumas dessas Bruxas e disseram que estávamos
segurando a que dormia embaixo na Terra dos Fae. Agora, você e eu
sabemos que elas não são como as Bruxas da Aliança. Elas são filhas
de Hécate, são semideusas, e é provavelmente por isso que você está
tão interessado em manter elas em êxtase. — Ao seu leve aceno,
continuei. — Acho que os Magos encorajaram essas Bruxas a abrir os
portais, e tenho certeza de que os Magos queriam que pensássemos
que era porque a Terra dos Fae está enfraquecendo, o que, à primeira
vista, podemos ter acreditado. Afinal, Magos têm entrado furtivamente
na Terra dos Fae há algum tempo, envenenando o mundo. — Ao seu
olhar atordoado, sorri fracamente. Claramente, era novidade pra ele.
— O que os Magos não contavam era que quando as Bruxas
lançavam os feitiços pra abrir os portais, elas também os enfraqueciam.
Uma vez enfraquecidos, continuaram a se expandir e a crescer
rapidamente. Não acho que os Magos compreendam quão profunda é
a necessidade de vingança com essas Bruxas semelhantes a Deusas e
no ódio cego dos Magos aos Fae, deram a essas Bruxas a oportunidade
que precisavam. Veja bem, a única coisa que os Magos parecem não
conseguir entender é que, se a Terra dos Fae morrer, seus habitantes
vão vir para essa terra. Existem muitas criaturas na Terra dos Fae que
são perigosas demais para este mundo, e o que a Horda foi encarregada
de fazer era manter elas na Terra dos Fae e longe dos Humanos. Os
Magos têm feito o possível para envenenar a Terra dos Fae há muito
tempo. Agora eles roubaram o Rei da Horda e abriram os portais. Suas
ações imprudentes vão destruir este mundo, não só a Terra dos Fae, o
que tenho certeza é com o que essas bruxas estão contando. No
momento, a Terra dos Fae está despejando Fae desses portais e fazendo
os humanos entrarem em pânico. Não podemos evitar, não com o
tamanho desses portais. Eles usaram esses portais como uma
distração. Outra coisa que você talvez não saiba é que os Magos fizeram
um pacto com um Fae muito poderoso que tinha seus próprios planos
e, com a ajuda dele e das Bruxas, invadiram o Reino da Horda e
tomaram seu rei. Tenho certeza que os Magos pensaram que poderiam
controlar e usar ele em seu benefício. A realidade é que ele os estava
usando e, uma vez cumprida sua agenda, teria matado eles. Eles têm
muita sorte por ele estar morto agora. Então, como você pode ver, não
temos a intenção de destruir este mundo. Estamos tentando salvar a
Terra dos Fae e este mundo também. E planejamos reconstruir este
lugar e criar uma Aliança, que possa proteger esse mundo dos Fae que
invadiram, e eventualmente construiremos em outras áreas, como
Nova Orleans, onde a Aliança também caiu. Não sou o bandido aqui e
nem eles. — Falei com um movimento da mão em direção aos Fae que
me protegiam. — Quero consertar o que os Magos quebraram, mas para
fazer isso, preciso da minha cabeça no jogo. E preciso da minha Fada
de volta. Ele é minha âncora e, sem ele, não sei se quero salvar este
mundo.
— E você tem certeza que estão com ele? — Perguntou, finalmente
se levantando.
— Sei que eles têm, e sei por que o levaram. Foi para nos enviar uma
mensagem que não sentem medo de nós. Planejo responder essa
mensagem com uma das minhas.
— O que disse me esclareceu bastante e muda bastante as coisas.
— Ele suspirou cautelosamente enquanto olhava especulativamente
para mim, depois me surpreendeu com um sorriso arrogante. — Você
não tem ideia do que eu realmente sou, não é? — Seus olhos pareciam
sorrir quando começaram a brilhar por dentro.
— De acordo com as memórias de um certo Mago, que espero que
sejam confiáveis, você deveria ser um Druida. — Respondi, observando
atentamente enquanto deixava a borboleta se dissolver por enquanto.
— Na verdade não, sou um Paladino. Alguns de nós assumimos o
disfarce de Druidas, caso a Aliança precise de nós, podemos chegar ao
resto da Ordem. Enquanto entendo sua situação, você deve entender
que o que está pedindo de mim é considerado blasfêmia pela ordem dos
Paladinos.
— Mas você pode acordar ela, não pode? — Investiguei, sem me
importar se ele era um unicórnio que peidava arco-íris se pudesse
acordá-la. Eu mandaria a Pegadora De Cérebro e tomaria o feitiço da
mente dele se necessário. Por mais que preferisse de outra forma, mas
não aceitaria um não como resposta.
— Eu posso, porque ajudei a colocar ela em êxtase. Minha linha é
muito antiga e vivemos de acordo com um código muito rigoroso.
— E o seu código afirma que você não pode ajudar os Fae? —
Perguntei com cuidado.
— Os Fae têm sido um incômodo desde o início dos tempos. — Ele
admitiu com um leve bufo de diversão.
— E os Deuses, eles também estão na lista de pessoas que você não
ajuda? — Nessa pergunta, ele inclinou a cabeça como se estivesse
considerando o quanto poderia me dizer.
— Isso é algo que não tenho liberdade de falar. — Ele murmurou
enquanto franzia a testa por um momento. — Mas o que você está
pedindo, pode causar problemas piores. Se essas Bruxas puderem se
reunir como um Coven completo, vão derramar o Inferno sobre a Terra.
— Oh, querido, o inferno já está aqui. Temos Fae chegando, temos
alguns Demônios bastante desagradáveis escondidos em uma cidade
pitoresca próxima, esperando o Inferno abrir seus portões, e os Magos
declararem guerra aos Fae. Você não pode esconder a cabeça na areia.
Este mundo? Está à beira duma guerra diferente de tudo que aconteceu
antes. Nos ajude, para que possamos ajudar este mundo. — Pedi.
— Mesmo assim, não posso te ajudar. — Respondeu ele.
— Por que não? — Rebati, já frustrada.
— Porque tivemos ajuda – e muita – quando as colocamos em êxtase.
A Aliança, Druidas e Paladinos se uniram no esforço de colocar elas
abaixo. É difícil de explicar, mas pode ter uma maneira de você me
ajudar, Deusa. Você pode me dar um pouco de suco.
— Elabore exatamente o que significa “me dê um pouco de suco”?
— Perguntei ceticamente, esperando e analisando cada movimento
dele. Esse rapaz era muito mais velho do que imagino, e muito mais
forte do que parecia. Mas, de jeito nenhum iria fazer sexo com ele para
doar sucos ou poderes.
— Nah, não é isso, pequena megera9. — Ele riu, e o som ecoou
através de mim. Ele estalou os dedos e dei um passo para trás quando
senti o imenso poder que invadiu a grande sala em que estávamos.
Chiou, estalou, e senti como se meu cabelo se levantasse na corrente
elétrica que emanava brevemente dele. Expirei quando o senti. Seu
cabelo agora era loiro prateado, ainda na altura dos ombros, que
gentilmente espanava seus ombros. Olhos azuis do oceano se
encontraram e mantiveram os meus prisioneiros enquanto ele sorria.
Seu pescoço e braços ainda estavam cobertos de tatuagens, mas os
desenhos eram diferentes agora. Ele usava um amuleto cheio de magia.
Magia mortal. — Lisonjeado e tudo, mas você está conectada, e não me
apego. É uma bagunça e prefiro o meu mundo do jeito que está. — Ele
me deu uma piscada quando me permitiu examinar ele.
— Que merda aconteceu? — Olhei para Ristan, que parecia tão
pasmo quanto eu.
— Nenhuma fodida pista. — Ele murmurou. — Isso é novo para
mim. Os Cavaleiros Paladinos que guardavam seu tio usavam
armadura, então nunca os olhei bem... e eles deveriam estar
protegendo seu poder.
— Somos sombras. — Disse Derrick suavemente, um sorriso
arrogante nos lábios sensuais. — Você não nos viu de verdade porque
não queremos ser vistos. Meu nome de nascimento é Callaghan,
primeiro filho de Douglas dos Cavaleiros Paladinos.
— Ainda sou Synthia. — Sorri fracamente. — Filha de Danu, a
Deusa e criadora da Terra Fae, fui criada nesta Aliança. Eu era uma
Executora e agora sou uma Deusa porque meu recentemente falecido
irmão tentou me dar uma cesariana sombria em algum tipo de ritual
esquisito dos Magos que deveria roubar meu direito de nascimento

9 Aqui ele usa o termo em inglês “vixen”, que pode ser traduzido como megera, mas não no significado que estamos acostumadas e sim
como uma mulher vigorosa ou feroz, especialmente uma considerada sexualmente atraente.
como Herdeira de Sangue e dar a ele. Não deu certo como ele pensou.
— Dei de ombros. — Agora sou a Deusa das Fadas e logo serei a Rainha
da Horda. Agora que tiramos as coisas divertidas do caminho, o tempo
está ficando curto e realmente preciso que acorde a Bruxa dormindo lá
embaixo, para que possamos trocar ela pelo Rei da Horda.
— É melhor não puxar meu pau, a menos que planeje usar, megera.
— Parece que estou puxando seu pau? — Perguntei com uma
careta. — Ryder é o Rei da Horda, primeiro filho de Alazander.
— Então é verdade. Você deve ser a única que ouvimos falar. Aquela
que deu à luz ao primeiro conjunto de trigêmeos da Terra dos Fae, um
presságio muito sombrio segue você. A parte da sua história que você
não conhece é que o que aconteceu com você faz parte de um presságio
que foi compartilhado com os Paladinos séculos atrás.
— Juro pela Terra dos Fae, se disser que meus filhos são maus
presságios, vou cortar sua língua. Meus filhos não são um presságio.
— Não, eles não são. Não tem nada a ver com seus filhos, e tudo a
ver com o que se segue ao nascimento deles. Muitas coisas foram
colocadas em movimento quando você foi trazida de volta. Tudo na
Terra dos Fae tem algum tipo de mito associado, mas o presságio que
falei é desse tipo de lenda de merda. Somente quando a Horda e os
Deuses produzirem os três, os portais serão liberados e os Fae serão
livres. Os mundos se combinarão, o caos reinará.
Me virei e olhei para Zahruk, que assentiu, e Ristan, que seguiu sua
liderança. Nunca ouvi nada sobre esse mito.
— Você está dizendo que o nascimento dos meus filhos arruinou os
portais, e não teve nada a ver com as Bruxas Originais? — Perguntei.
— Pelo contrário. — Ele discordou. — Elas abriram, mas só porque
você lhes deu as chaves para fazer.
— Eles não podem ser os dois. Eles não podem ser a chave para
consertar a Terra dos Fae e a chave para destruir ela.
— Mas eles podem e depende só de como você define consertar. Você
mesma disse: a Terra dos Fae está doente porque foi envenenada há
muito tempo e o envenenamento periódico continua. A Terra dos Fae é
uma força vital própria e, logicamente, para não morrer, precisa se
curar. Ela precisa deste mundo para se alimentar, assim como os Fae
precisam dos Humanos. As Bruxas de Hécate só aceleraram o processo,
provavelmente sem saber. E acho que você está certa ao assumir que
elas abriram como um meio de vingança. Mas, essa parte não vai
acontecer. Não vamos permitir, e é assim que eu sei. Você e eu, Synthia,
estamos destinados.
— Para? — Perguntei com cuidado.
— Você tem uma Aliança bastante vazia, e tenho Cavaleiros que vão
querer te ajudar a ter sucesso no policiamento dos Fae, se o que você
disse for verdade. Mas tem mais; se eu concordar em te ajudar, você
também precisará me ajudar a caçar alguns bandidos. — Ele afirmou
com cuidado. — Os que também estão empenhados em destruir este
mundo. E não se preocupe com as regras e leis dos Deuses, pois até
eles concordam que essas criaturas precisam ser derrubadas. — Olhei
para ele bruscamente, e então rapidamente olhei para os meus
protetores Fae sem revelar nada. Como ele sabia das regras e leis dos
Deuses em que Destiny estava me ensinando?
— Quão ruim pode ficar? — Perguntei.
— Tem medo de não estar pronta para tarefa, Deusa? — Ele zombou.
— Não, estou pensando se vamos terminar isso antes do almoço. —
Respondi com um sorriso. — É um acordo, Callaghan, mas só se você
acordar ela.
— Acordo aceito, mas você precisa se agitar. — Uma adaga se
materializou em sua mão e ele acenou para mim com um sorriso. —
Tenho certeza que ouviu que tinha um custo de sangue para colocar e
manter elas, muito sangue. Espero que o sangue de uma Deusa seja
suficiente para tirar ela de lá. — Ele cortou a palma da mão e estendeu
a adaga para mim.
Olhei para a mão dele e hesitei e vi seus olhos brilhando com uma
chama estranha por dentro. Tive a sensação de que, uma vez feito isso,
não teria volta. Eu já estava colocando tudo em risco... peguei a adaga
e cortei minha própria palma. Estendi a mão e apertei a sua mão,
estremecendo quando sua mão apertou a minha e o poder brilhou entre
nós, selando o acordo.
— Bem-vindo à nova Aliança. — Sorri. — Agora, vamos acordar
aquela Bruxa adormecida, vamos?
Começamos pelo labirinto de novos corredores, pelas escadas
sinuosas e pela biblioteca da Aliança que ainda não foi consertada.
Uma vez lá dentro, Callaghan assobiou alto com a destruição que vinha
a seguir na lista de reformas. Continuamos até entrarmos na câmara
de sacrifício e descemos as escadas, para câmara onde os fantasmas
tinham se reunido. Eles não eram mais necessários e mereciam
descanso eterno por seu sacrifício. Fiz uma pausa e olhei para Ristan,
que assentiu, e sorri.
— Está na hora de dormir, senhoritas. — Anunciei, mexendo os
dedos enquanto acendia as chamas e escrevia cuidadosamente nas
paredes runas que as libertariam deste lugar. Os fantasmas
precisavam ser capazes de concluir qualquer negócio inacabado que
tivessem. — Estão todos prontos para sair daqui, ou tem alguém que
precisa de um encerramento? Eu ajudo, se algum de vocês precisar.
— Nós só queremos finalmente descansar. — Afirmou um
suavemente, balancei a cabeça e fechei os olhos, sussurrando o feitiço
para libertar eles dessa tumba.
— Vocês são livres. — Afirmei, sentindo os olhos do Paladino e os
outros em mim. Uma luz brilhante momentaneamente cegou todos na
câmara. Esfreguei os olhos, tentando afastar os pontos pretos e
manchados e consegui me concentrar o suficiente para ver que os
fantasmas não estavam mais presos aqui.
Callaghan suspirou e foi até a caixa de vidro que continha quem nós
sabíamos ser uma das filhas de Hécate. Ele tocou o vidro e sorriu
levemente, como se a reconhecesse.
— Você sabia que nem todas as bruxas que colocamos em êxtase
eram más? — Ele balançou a cabeça tristemente. — Foi tudo ou nada.
Se poupássemos as que não eram más, elas teriam feito tudo ao seu
alcance para reviver suas irmãs. Hannah é o nome dessa e seu único
crime era apoiar suas irmãs. Se seu plano é devolver ela a elas, isso
poderia tornar ela má.
Olhei para Callaghan e me perguntei se isso mudaria minha
posição. Não. Elas são suas irmãs, então não é como se eu estivesse
entregando a Bela Adormecida a estranhos. Se ela não fosse má, seria
mais fácil caçar suas irmãs se tivéssemos uma fonte privilegiada. Sorri
fracamente para o Paladino.
— Vamos acordar ela.
Callaghan olhou ao redor da sala e notou as alas gravadas ali. Ele
foi para uma das paredes e colocou as mãos na superfície fria de pedra.
Chamas azuis iluminavam as paredes da câmara. As Linhas Ley
zumbiam com um poder incalculável, e o cheiro da terra era
avassalador para meus sentidos elevados.
— Quem colocou essas alas com certeza não queria que elas
caíssem. — Resmungou Callaghan quando começou a trabalhar nas
alas. Ele tirou a camisa, e grossos rolos de músculos flexionavam a
cada movimento dele. Tinha runas grossas tatuadas em sua carne e
cada uma se movia com o feitiço que ele trabalhava e, quando ele
cantava o feitiço, as runas lhe davam mais poder.
— Vai demorar um pouco, mas... — Ele hesitou enquanto parecia
considerar outra coisa — não, está em camadas. Eu posso fazer isso.
— Murmurou enquanto movia as mãos.
Não pude remover elas. Eu não conseguia entender a estrutura
delas, pois elas não eram como nada que já vi antes. A única coisa que
eu sentia com certeza era que essas alas eram dez vezes mais poderosas
do que as que os Anciões da Aliança geralmente colocavam. Estas
foram acionadas para derrubar o teto, caso alguém tentasse remover.
Também notei algumas armadilhas que não vi da última vez que estive
nesta câmara. Tivemos a sorte de que as alas que colocamos não
acionaram alarmes dentro da sala.
— Elas caíram. — Anunciou Callaghan, enquanto assistíamos as
chamas azuis dispararem mais alto. — Agora para acordar ela, ela não
estará feliz. Você vai precisar segurar ela ou ela provavelmente vai se
teletransportar.
— Trouxemos algo para impedir isso. — Interrompeu Zahruk e
enfeitiçou um bracelete de ouro em volta do pulso de Hannah. Ele olhou
para mim e depois Callaghan. — Foi um presente que Danu deu aos
Fae há muito tempo para proteger, caso Hécate se intrometesse em
seus assuntos. Não vai machucar, mas vai conter sua magia e vai
provavelmente irritar ela. — Ele disse, dando um passo para trás,
dando a Callaghan espaço para trabalhar.
Ele sussurrou palavras em outro idioma e as chamas subiram mais
alto, lambendo as paredes e fazendo toda a sala balançar com as
palavras. Meu corpo zumbiu com força bruta, como se o feitiço
estivesse tentando alcançá-lo e tentando aproveitar a energia.
Seus olhos do oceano levantaram para os meus e ele sorriu ao sentir
a enorme onda do meu poder, não tenho certeza se gosto dele sabendo
que tenho tanto poder. Me aproximei, pegando sua mão e empurrando
um pouco mais de energia nele, assisti enquanto seus olhos brilhavam,
e algo escuro se moveu dentro de seus olhos.
— Você tem segredos. — Gostaria de saber se eu deveria pressionar
para ver o que eles são.
— Claro que sim. Todos nós carregamos segredos conosco, megera.
Não é dia de compartilhar ou cuidar, garota. Foco, preciso do seu...
suco.
— Você me irrita. — Falei, e ouvi Ristan rir atrás de mim.
— É sempre tão franca? — Callaghan respondeu distraidamente.
— Não, às vezes sou sarcástica, mas você tem que me pegar em um
bom dia para isso.
— Hmm, tem certeza que está conectada? — Ele me deu um sorriso
malandro enquanto o suor escorria e corria pelo seu peito enorme.
— Tenho certeza de que sim. — Brinquei de volta. — Você pode
acordar ela ou não?
— Ela está acordada. — Ele puxou um pano macio de um dos bolsos
e enxugou o suor do pescoço enquanto meus olhos se estreitaram e
olhei para a Bruxa, que estava me observando com cautela.
— Bom dia linda. Bem-vinda ao século XXI. Você está segura,
Hannah, por enquanto. Vou precisar que você se levante e me ajude
um pouco. — Falei suavemente enquanto olhava em seus lindos olhos
e sorria. — Vamos pegar um café para você, hmm?
Ristan ficou ao meu lado e esperávamos em silêncio enquanto
Hannah explorava a sala e seu conteúdo. Ela ainda não falou conosco,
mas sua curiosidade por nós estava em pleno andamento. Ela pegava
uma coisa, só para se distrair com outra coisa que a atraía. Callaghan
esperou na porta caso fosse necessário, e Hannah lhe deu um amplo
espaço.
— Você a banhou? — Ristan perguntou, me olhando de soslaio.
— Ela estava dormindo há muito tempo. Para a maioria de nós um
banho é sempre uma boa ideia, se deseja garantir melhores espíritos.
Ela ainda não é minha inimiga. — Disse, sabendo que ela estava nos
ouvindo.
Darynda e eu a banhamos em uma banheira, já que muita coisa
tinha mudado desde que ela e suas irmãs foram colocadas em estado
de êxtase, e enfeitiçar sua limpeza poderia assustar ela. Ela ficou
maravilhada com a enorme banheira com pés de garra, mas não foi isso
que a chocou mais. Quase sorri enquanto ela procurava debaixo da
banheira por chamas ou carvão, porque estava quente. Ao invés de
transportar baldes de água quente como ela estava acostumada
naquela época, coloquei os dedos na água e aqueci até a temperatura
confortável. As bolhas mudaram de cor, dando à água uma fragrância
rica e inebriante de lavanda.
Depois de seu banho, enfeiticei algumas roupas de baixo e roupas
para ela, incluindo uma saia cor de hera que alcançava seus tornozelos
confortavelmente. Por último, uma blusa de seda branca com tiras
largas e bordas em renda. Ela abraçou o peito, provavelmente
desejando ter algo a mais para encobrir, mas era o século XXI e ela
precisaria se encaixar. Darynda arrumou o cabelo e o prendeu com
presilhas para manter a longa massa escura fora de seu rosto.
Consegui trazer ela aqui, a Terra dos Fae era um labirinto de Linhas
Ley poderosas, mais poderosas do que as que ela estava conectada.
Bater nas linhas seria brincadeira de criança, mas estou disposta a
apostar que ela estava desorientada e um pouco confusa com o seu
despertar abrupto. Até que soubesse por que estava aqui, não teria
chance de mostrar seus cartões. Nem eu, porém, não sabermos tudo o
que ela fez.
— Ainda não sei por que você a trouxe aqui. — Comentou Ristan,
sua boca em uma leve carranca. Seus olhos deixaram os meus e foram
para a mulher, examinando ela como um fator desconhecido, assim
como Ryder teria. — É perigoso mostrar a ela qualquer parte do nosso
mundo, considerando que suas irmãs estão por trás dos portais. — Ele
terminou num tom suave, sem repreender ou condenar minha decisão.
— Elas abriram, mas talvez ela possa nos dizer como fechar. —
Ofereci.
— Você está com dor. — Ristan apontou de imediato, o que me fez
estremecer com sua capacidade de me ler como um livro.
— A Terra dos Fae está sofrendo, e eu também. Estamos conectados.
— Resmunguei. — É a desvantagem de estar conectado às pessoas.
Sentimos o que a terra ao nosso redor faz. Imagine o que Danu deve
sentir ao desmoronar para se tornar um com a Terra? — Me virei para
ele, ignorando a Bruxa que ouvia atentamente tudo o que dissemos.
— Não sei dizer o que ela está sentindo, mas você pode desistir do
ato durão, Flor. Você está falando comigo. Me diga como ajudar. Você
precisa descansar também. — O olhar preocupado em seu rosto me fez
sorrir fracamente.
— Estou exausta. — Eu ri, mas era tão vazio quanto me sentia. —
Matei Faolán e não senti nada. Sem arrependimento ou remorso. Sei
que não deveria sentir nada por ele, porque ele era um monstro, mas e
meu pai? Minha mãe? Vão enterrar um filho que eu matei. Isso pesa
em mim, porque eu deveria sentir algo, qualquer coisa por eles. Não
tem nada lá, e a pior parte é que eu faria de novo. Faria isso um milhão
de vezes e os faria enterrar ele, só para que meus filhos pudessem viver
sem ele se escondendo nas sombras como uma ameaça. Danu está
morrendo porque salvou minha vida, a minha, e não tem nada que eu
possa fazer para salvar ela. Ryder está nas mãos da Aliança e você,
mais do que ninguém, sabe o que provavelmente estão fazendo com ele.
Há muitos “e se”, e sei em parte o que está acontecendo por causa das
memórias do executor. Quero dizer, eu poderia ir lá e pegar ele, mas
tem muitas incógnitas no caminho. Além disso, Destiny aparece e me
diz que, se eu interferir para recuperar ele, terei que pagar um preço,
mas ela não pode me dizer o que é, porque não sabe o que será. Mas
não posso deixar ele lá, não é uma opção. Então, terei que viver com o
que eles exigirem de mim. Se você pode resolver qualquer um desses
problemas, Demônio, fique à vontade.
— O que quer dizer com preço a pagar? — Perguntou bruscamente
quando seus olhos se estreitaram, e percebi que talvez tenha falado
demais. Seu comportamento recente com Danu me disse que ele sabia
mais sobre como os deuses trabalhavam do que eu.
— Sinceramente não sei. — Respondi, me virando para encontrar a
Bruxa nos observando de perto.
— Vamos recuperar ele e tornar aqui um lugar seguro para que
possamos trazer os outros de volta também. — Ele meditou
suavemente, não tenho certeza se ele estava tentando me tranquilizar,
ou a si mesmo.
— Sei que vamos. — Concordei incerta. — Pensei que como eles
deram o primeiro soco, eu pelo menos poderia revidar sem ter que
pagar por isso. Não pedi isso, nem gosto de jogar com a Aliança. E
permitiria que eles vivessem se devolvessem ele, bem, a maioria deles
de qualquer maneira.
— Deuses são filhos da puta inconstante, com certeza. — Ele
concordou. — Eles raramente fazem sentido, se intrometem e chamam
isso de destino ou intervenção sagrada, mas quando se trata de
humanos, é tudo um assunto delicado.
— Isso não é algo que vou discutir. — Soltei um suspiro trêmulo e
rolei o pescoço. — Hannah, é hora de conversar. — Assisti enquanto
seus olhos se erguiam com uma curiosidade aberta que não conseguiu
esconder.
— Você é uma Deusa. Você nasceu como uma Deusa ou foi criada?
— Ela perguntou, com um sotaque pesado que não consegui identificar.
— Criada, eu acho. É um pouco complicado. — Não consegui
encontrar uma maneira melhor de explicar.
— E você me acordou porque acha que minhas irmãs tiraram algo
de você ou fizeram algo neste mundo? — Ela continuou com cuidado,
seus olhos falavam de desconfiança enquanto ela me observava
buscando algum sinal de mentira.
— Elas tiraram algo de mim. Alguém, para ser exato, alguém que eu
amo muito. Mas você já sabe disso. — Assisti como o calor corou em
suas bochechas.
— Matilda e Bettina têm ele, sim. Dentro da Aliança de Seattle e
você planeja me entregar em troca dele?
— Esse é o plano. — Concordei. — Como você sabe disso? Você se
comunica com elas?
— Não, êxtase não significa que estávamos dormindo. Não
exatamente, significa que você fica lá, incapaz de fazer nada, mas ouve
e espera o dia em que é tirada do êxtase. — Ela lançou um olhar
acusador para Callaghan.
— O que mais você ouviu dentro da Aliança?
— Tudo o que você disse e muitas coisas ao longo dos anos. Eu
dormi, mas não estava exatamente dormindo, ouvi tudo dentro desse
lugar. Cada palavra sussurrada, cada mentira já contada, todo caso de
amor que acontecia atrás de portas fechadas. Então tinha você, você
era um dos meus seres favoritos que moravam lá. Você era uma criança
tão triste, com o que suportou e com o que a Aliança a colocou. Mesmo
antes de você sair, estava mudando. Nos últimos vinte anos, os
sussurros se tornaram diferentes, não mais os tons inocentes e
silenciosos dos amantes, o treinamento dos Executores ou a tagarelice
das crianças em suas aulas, mas os magos coniventes que se
escondiam nas sombras. Você supõe que não sabemos o que estamos
ajudando, que os estamos usando como vingança. Estamos cientes de
que aqueles que nos prejudicaram há muito tempo se afastaram desta
terra, mas seus filhos não. A maioria dos nossos filhos não teve essa
escolha, se reproduzir, multiplicar. Foram assassinados, massacrados
de maneiras horríveis, como se fossem nada mais que animais.
— E Callaghan ali disse que você não era como suas irmãs. — Acenei
com a mão pro silencioso, mas vigilante Paladino, que xingou baixinho
enquanto tentava avaliar minhas opções de como lidar com ela.
— Eu sou a legal. — Ela sorriu um pouco atrevida. — E sou eu quem
não deseja que os humanos sejam mortos, apesar de alguns deles
merecerem algo mais que a morte. Vingança não é algo que eu goste.
Fomos boas uma vez, mas ajudou pouco a quem demos à luz, não é?
— A vida é uma merda. — Murmurei suavemente. — O que
aconteceu com eles nunca deveria ter acontecido. Mas, é história
antiga, literalmente. Você e suas irmãs verão isso. Mas matar humanos
que não tinham nada a ver com o que seus ancestrais fizeram não é a
resposta. As pessoas são falhas, assim como todos nós somos.
Ninguém é perfeito, mas eles aprendem com seus erros e o mundo
mudou desde os julgamentos.
— Alguns destinos são piores que a morte. — Ela cuspiu, me
olhando. — Eu preferiria a morte a ser transformada em um ser sem
vida que podia ver e ouvir tudo o que acontecia, mas não conseguia
interagir. Senti cada sacrifício, a morte de cada garota que foi usada
para garantir o estado de êxtase. Conheci cada uma delas depois que
foram assassinadas. Elas merecem justiça, mas este mundo nem
chorou por aquelas mulheres. — Ela engasgou e balançou a cabeça.
Seus olhos se enevoaram com lágrimas enquanto sorria tristemente. —
Admito que queria acabar com a raça humana, mas, ao contrário de
minhas irmãs, eu ouvia. Aprendi que o mundo continuou sem nós,
nossos próprios filhos estavam dentro das Alianças. Nós continuamos,
eles continuaram. Entendo que matar os descendentes dos seres
humanos responsáveis pela morte de nossos filhos significaria matar
nossos descendentes, pois, em alguns casos, os descendentes de
nossos filhos restantes foram criados com os filhos deles. A morte deles
é algo que não posso permitir. — Disse ferozmente com determinação
em seus olhos.
— Então, não quer matar a raça humana? — Perguntei, com
esperançosamente.
— Não. — Disse ela calmamente. — Vou sentir sempre a
necessidade de vingança contra as linhagens que cometeram os crimes,
mas percebo que eles não foram responsáveis pela irregularidade de
seus antepassados. Nunca tirei uma vida inocente até agora, mas a
maioria das minhas irmãs pensa de outra maneira. Não sou santa e
gosto de pecar. Aqueles que realizaram os julgamentos fizeram isso com
brincadeiras, e eu sabia que não parariam. Essa foi a razão pela qual
concordei em me juntar às minhas irmãs. Precisávamos parar eles.
Para eles, nós e nossos filhos éramos monstros e, no entanto, eles que
cometeram esses atos monstruosos contra nossas irmãs, filhos e
aqueles de nossas linhas diretas. Você é mãe. Vai acabar sendo como
nós, sentindo todas crianças da sua linhagem enquanto elas morrem.
Você poderia ver eles serem assassinados como animais e tratados pior
ainda?
— Meus filhos são imortais, como você. — Corrigi.
— Acha que eles vão se acasalar com imortais, todos eles? Não, pois
o amor é cego quando se trata de longevidade. Eles não vão considerar
isso quando o amor os encontrar. Como você acha que as Bruxas do
passado acasalavam com meros mortais? Os primeiros de nossa
espécie eram imortais, como eu. Parte Deus ou Deusa, depois alguns
tomaram os mortais como companheiros, e tiveram filhos que eram
mais fracos até que finalmente, alguns ficaram tão fracos que pareciam
com os mortais. Você não pode saber quem seus filhos vão amar ou os
filhos deles. Você ficará tão impotente quanto nós nesse esforço. Agora
imagine os filhos de sua linhagem direta sendo abatidos por terem
habilidades que herdaram de seu sangue. Imagine os gritos deles
enquanto eles o amaldiçoam e o que você lhes transmitiu quando
fossem assassinados por isso. Você buscaria vingança e desejaria isso
como o ar que respira. Matamos só alguns que mataram nossos filhos
e seus filhos. Os humanos que os apedrejaram, queimaram ou os
afogaram para provar que eram imortais e, quando morreram, aqueles
que distribuíram seu tormento não receberam nenhuma punição por
seus atos. Sei como a história a gravou, dizendo que nenhuma bruxa
foi queimada viva, mas ainda sinto o cheiro da carne da minha bisneta
enquanto juntava seus restos queimados para enterrar. Os humanos
fizeram isso e nós fomos chamadas de monstros, colocadas em êxtase
porque queríamos vingança contra aqueles que continuariam a nos
caçar e aos nossos filhos. É por isso que minhas irmãs desejam um fim
para os humanos, porque é tarde demais para se vingar dos humanos
responsáveis pela morte de nossos filhos, mas sempre terá novos
monstros nascidos da raça humana que vão tentar fazer o mesmo com
nossas irmãs, descendentes restantes ou qualquer pessoa que possa
ser diferente ou ter algo que queiram. Avareza, ciúme e intolerância são
os traços humanos que causaram a morte de nossos filhos.
— Não consigo imaginar o que você passou. Mas a vingança não vai
mudar o que aconteceu com eles, nem os trará de volta ou dará consolo
por suas perdas. Acha que suas irmãs ainda desejam vingança? —
Perguntei.
— Não vou fingir saber o que está em suas mentes. Não mais. Estava
me preparando para deixar elas quando fomos capturadas, planejei ir
ao altar sagrado e encontrar nossa mãe, para ver se ela poderia
argumentar com os monstros. Minhas irmãs descobriram meus planos
e, portanto, meu êxtase, meu purgatório, foi em silêncio a maior parte
do tempo. Só recentemente elas começaram a se comunicar comigo de
novo. Mesmo assim, não sei o que está em seus corações.
— Hécate está ausente há muito tempo. — Afirmei.
— Não acreditamos que ela escolheu sua ausência neste mundo.
Acreditamos que ela foi levada, mas não sabemos quem poderia ter
força suficiente para alcançar ela. A princípio, pensávamos que
Morgana a levou, mas ela também desapareceu há séculos.
Acreditamos que alguém esteja coletando Bruxas muito poderosas para
lançar ou quebrar um feitiço. Planejei que, se não conseguisse
encontrar nossa mãe e ter ajuda, pediria aos Deuses que ajudassem.
— E é por isso que suas irmãs estão ajudando a Aliança, por que
acreditam que eles podem ajudar elas a localizar sua mãe?
— Destiny não explicou nada a você? — Ela murmurou de imediato,
como se estivesse um pouco exasperada comigo. — Levar seu noivo não
foi um acidente. Pedi que elas jogassem o jogo da Aliança. Eu precisava
acordar para encontrar nossa mãe. Você mais do que ninguém deveria
entender, considerando sua própria situação com Danu. Não nos
importamos se a Aliança neste continente cair, pois não é mais da
nossa linha. Nossas linhagens são na Inglaterra e na Escócia, e aqueles
que vieram para cá estão seguros por causa de pessoas como você, que
vão garantir sua sobrevivência. É para onde iremos. Muitos assumem
que minhas irmãs na Aliança de Seattle são as mais fortes das treze,
mas estão errados. Nós somos fortes apenas juntas e então vamos
acordar as outras. Uma vez que conseguirmos isso, vou assegurar que
caçaremos só aqueles que sabem o que aconteceu com nossa mãe.
— Suas irmãs abriram os portais para Terra dos Fae. Eles podem
consertar?
— Não acredito que os portais possam ser consertados. Não até que
este mundo esteja curado. Se não conseguir curar, eles podem nunca
fechar completamente. Tudo está ligado, e tudo acontece por uma
razão. Confie nisso se não puder confiar em mais nada.
— E quanto a Ryder? Eles o torturam enquanto suas irmãs os
ajudam a procurar uma maneira de matar ele! — Afirmei quando
Ristan se enrijeceu ao meu lado enquanto meu tom ficou duro e frio.
— Ele é imortal e o formidável Rei da Horda. Ele não pode ser morto
por nós, nem tentaríamos. Sequestrar ele e esperar foi o plano que
minhas irmãs e eu concordamos. Depois que me levar até elas, vamos
partir. A Aliança será exposta e punida pelo mal que eles causaram.
— Você e suas irmãs montaram tudo isso desde o começo? —
Questionei e seu sorriso foi a resposta suficiente.
— Claro que sim. Desde o primeiro momento em que ouvimos os
Magos concordarem com a ideia da Aliança de acordar alguns de nós
para ajudá-los a destruir os Fae, sabíamos que você era a única coisa
de que tinham medo. Tivemos que fazer você querer lutar com eles, e
assim lhe dar um motivo para me libertar do êxtase. Você está longe da
Aliança há algum tempo, por isso não sabíamos que você é uma Deusa
e mãe quando colocamos em prática nosso plano. Como eu disse,
durante todo o seu tempo na Aliança, te assisti. Larissa se certificou
disso, e fiquei muito feliz quando ficou claro que você seria nosso
caminho para a liberdade.
Meu estômago caiu.
— Deixe ela fora disso.
— Por que eu deveria? Ela era da minha linhagem direta. Tudo está
conectado, tudo. Tenho certeza de que Destiny lhe contou como tudo
está conectado, como dominós. Algo tão simples como um empurrão
na direção certa, e você encontrou os Fae; os Fae lhe deram o que
estava perdido. Seu coração, que você abandonou quando seu primeiro
noivo morreu. Seu coração trouxe você para mim. Larissa sabia qual
seria seu destino antes que acontecesse, e mesmo sabendo o que estava
por vir, ela optou por ficar e completar seu objetivo, sabendo que
concluir sua tarefa seria o prelúdio de sua morte. Ela não está sozinha
em sua morte, seus pais estão com ela. Mas ela amava você, muito.
Tanto que ela não queria deixar você ou Adam, o homem que amava
mesmo sabendo que seu tempo seria curto. Então aqui estamos nós, e
pouco importa como chegamos aqui. O que importa é o que você decide
fazer a seguir. Então, tome cuidado porque os dominós estão sempre
caindo, não importa o que você faça para detê-los.
— Você passou por muitos problemas para chegar até mim. — Falei
cuidadosamente.
— Você passou por muita coisa para se tornar você, Synthia. Você
não é da minha linha, uma pena. Quando os Magos chegarem, estarei
lá quando você for chamada. Eu te devo isso. Afinal, fizemos uma
bagunça no seu casamento, mas eu também trouxe Faolán para você.
Lidar com o diabo nem sempre é uma coisa ruim.
— Você mandou os Magos trazer ele aqui, para mim? — Perguntei.
— Ele se perdeu quando você escapou. Eles não ficaram felizes com
sua falta de controle e desapareceram quando muitos de seus irmãos
caíram nas lâminas Fae. Ele se gabou de sua morte, só para ouvir
sussurrar entre os Fae que você sobreviveu.
Balancei a cabeça, me perguntando se ela era louca ou eu. Eu
queria acreditar nela, mas ela acertou em cheio e não sou uma garota
muito confiante.
— Se o que você diz é verdade, você e suas irmãs vão abandonar a
Aliança na manhã seguinte.
— Vamos sair assim que você estiver lá para assumir o controle.
— Não quero controlar isso. — Respondi enquanto balancei a cabeça
em negação. — Só quero Ryder de volta.
— Entendo, mas tem algo que devo te alertar. — Ela hesitou e fiz
uma careta.
— O que é? — Questionei.
— Minhas irmãs tentaram fazer coisas com ele.
— Com quem e o quê? — Perguntei confusa.
— Com Ryder, elas desejam acasalar com ele.
Engoli em seco quando a raiva em brasa me atingiu como um
caminhão a 80 quilômetros por hora atinge o concreto. Senti minha
magia estourar quando o rugido em meus ouvidos se intensificou. Senti
a mão de Ristan quando colocou no meu ombro e vi Hannah dar um
passo para trás, colocando distância entre nós.
— Juro pelos Deuses que vou esfolar elas vivas se o forçarem a fazer
alguma coisa. Qualquer. Coisa. Eu não dou a mínima para quem elas
pensam que são... ele é meu.
— Elas não compartilharam comigo se conseguiram...
— Não termine. — Rebati, cortando ela. — Não ouse, porra! Se elas
o machucaram ou fizeram outra coisa com ele que ele não quisesse, ou
que não fosse parte do show dos Magos, não tem onde elas possam se
esconder que eu não as encontraria. Essa não é uma ameaça vazia, só
para que você esteja ciente. Você não me quer como inimigo, porque
gostarei do que farei com elas.
— Entendo. — Ela murmurou baixinho enquanto olhava para mim
como se eu fosse uma cobra pronta para atacar.
— Descanse um pouco, amanhã nós vamos para a Aliança de
Seattle. — Falei com raiva e me virei para olhar Ristan, que me
observou de perto, sentindo o poder que eu não conseguia controlar
completamente.
— Guarde para a Aliança, Flor. Nós vamos precisar disso.
Estávamos em frente a Aliança de Seattle, observando as alas
enquanto elas cintilavam brilhantemente contra as paredes de ardósia
frias. Uma vez já admirei o tamanho desta Aliança, muito maior do que
aquela em que cresci. A segurança era dez vezes maior que a da Aliança
de Spokane. A posição de prestígio que ocupava aumentou a admiração
e o espanto na primeira vez que estive nela. Mas agora, pude ver a
negligência. Lascas marcavam a lousa, enquanto rachaduras
alinhavam a base sobre a qual ela foi construída. Eu podia ver a
escuridão ao redor do edifício, se aquecendo nas sombras do mal
daqueles que agora a controlavam.
— As alas são incomuns. — Observou Ristan, apontando várias que
pulsavam.
— Isso é porque elas não são nossas. — Falei tristemente. — Elas
não pertencem à Aliança e não existiam da última vez que estivemos
aqui. — Esclareci, pois às vezes era difícil separar a Aliança em que
cresci e o que a Aliança em que se tornou. No fundo ainda me sentia
uma parte deste lugar, mesmo que eles tenham me jogado para os lobos
assim que descobriram que eu era Fae. Este lugar ainda fazia parte de
mim, não importa o que aconteceu entre nós. E mesmo que tenham me
jogado para os lobos – agora estou aqui, liderando a matilha.
— Magos. — Alden murmurou, seus olhos preocupados se
afastaram das alas e olharam para mim. Ele parecia derrotado ao saber
que as alas eram de fato da magia dos Magos. — Isso não pode ser bom.
— Não, não é. Ou a Aliança caiu, ou o Ancião que está no comando
é de fato um Mago. — Murmurei quando senti a raiva pulsando ao me
lembrar do Mago da memória de Andrew, que estava disfarçado de
Ancião. Odeio essa merda, odeio que os Magos estejam se infiltrando
na minha vida de todos os ângulos. O único estabelecimento destinado
a proteger os humanos dos Fae caiu nas mãos daqueles que desejavam
nos erradicar da existência. Eles deixaram as filhas de Hécate abrirem
os portais, fraturando para um estado que não podiam ser fechados, e
fizeram isso sabendo que isso colocaria os humanos em perigo.
Exalei e soltei o lábio inferior quando virei para encarar Alden. Meu
coração estava na garganta, batendo rapidamente quando vi seus olhos
se encherem de lágrimas não derramadas. Ele entendeu o que aquelas
alas significavam; não tinha razão para negar depois que a prova estava
nos encarando.
— Eu gostaria de ouvir sua opinião sobre isso. — Pedi, lhe dando
tempo para considerar sua resposta. Este homem era minha família.
Criou a maioria de nós, e eu o amava, não importa o que aconteceu,
porque, como Destiny disse, ele só colocou um dominó em ação. Ele
não controlava o resto das peças.
— Eu não sei, garota. — Ele suspirou, apertando as mãos contra os
lados, enquanto lutava contra as emoções dentro dele.
— Você acha que eles estão além da salvação? — Perguntei, sabendo
que estava pedindo para ele admitir que a Aliança aqui estava
arruinada, não tenho certeza de quantas outras Alianças caíram para
os Magos, mas as que estavam nesse estado se foram.
— Esta Aliança caiu. — Ele admitiu, seu rosto se contraindo com
raiva, sei que estava matando ele admitir a derrota. Sabíamos que
outras Alianças logo enfrentariam a mesma coisa senão chegássemos
à frente dos Magos.
— Que diabos isso significa? — Callaghan perguntou, finalmente
falando.
Me afastei de Alden para encarar Callaghan com um olhar sombrio.
Lucian ficou ao lado dele e mal deu uma olhada ao Paladino de
armadura branca, como se ter um Paladino em nosso meio fosse uma
ocorrência diária. Fechei os olhos contra a dor que sentia, atraindo
força daqueles que estavam ao meu redor, e abri os olhos depois de um
momento. Olhei para aqueles que se reuniram em frente à Aliança. E
podia ver meus protetores Fae, vestidos com seus uniformes de
armaduras que eram semelhantes a armadura que eu usava. Os
homens Paladinos e Lucian estavam ao lado dos Sluagh e do resto dos
guerreiros dos Reinos da Horda, Sangue, Escuridão e Luz. Até Elijah e
seus desajustados estavam com eles. Os Magos lá dentro deviam estar
se cagando com a demonstração de força na frente da Aliança. Respirei
fundo e me dirigi à multidão.
— As Alianças do Estado de Washington e da Louisiana não estão
mais sob o controle das Alianças Nacionais ou Globais. Não sabemos
ao certo quantas outras caíram. Os Magos assumiram o controle delas,
e isso significa que os Fae estão em guerra em duas frentes agora. Aqui
e na Terra dos Fae. — Engoli em seco quando as palavras na minha
língua tinham um gosto amargo. — Isso significa que eles tomaram os
outros membros da Aliança como prisioneiros ou os assassinaram.
Spokane e Nova Orleans eram testes, Seattle era o objetivo deles e
parece que o alcançaram.
— Você pode dizer isso só por causa das alas? — Lucian olhou para
mim com ceticismo.
— Sim. — Acenei e olhei de volta para a multidão. — Nenhum
verdadeiro ancião da Aliança permitiria que uma facção colocasse suas
alas na Aliança. Seria considerado um sinal de fraqueza. Um ancião
deve ser o mais forte em sua residência e, se ele não puder colocar as
alas, outro teria o seu lugar para fazer. As alas de um Ancião são as
mais fortes neste reino, porque ele próprio pode extrair poder de todos
os Covens e Executores sob seu controle. Meu palpite é que eles os
mataram quando ganharam o controle. — Engoli em seco. — Ou o
Ancião no comando é um Mago.
— Isso também pode significar que mataram alguém que
argumentou contra permitir o controle dos Magos. — Acrescentou
Alden. — Um Ancião não pode conjurar sem que aqueles abaixo dele
acrescentem poder. Não acredito que eles fugissem ou argumentassem
contra um Ancião. Incutimos medo de insubordinação a partir do
momento em que começamos a ensinar eles quando crianças.
Abandonar uma Aliança em sua hora de necessidade também não seria
uma opção, pois o fracasso resultaria em aposentadoria. Essas alas
não são obra de Druidas, nem das Bruxas Originais. — Ele olhou para
Callaghan, que balançou a cabeça. — E não são obra de Paladinos. Os
Magos não podem fazer isso com as outras Alianças.
— Então, está além da salvação. — Rosnou Zahruk.
— Não acho que possa ser salva. — Acrescentei sem hesitar. —
Essas pessoas não são nossas amigas, nem fazem parte da Aliança.
Qualquer um que fosse leal à verdadeira Aliança provavelmente está
morto, assim como aconteceu em Spokane e Nova Orleans. Os Magos
levaram nosso Rei, e vão pagar por isso com suas vidas. Nenhum Mago
deve ser poupado, vamos mostrar a eles a mesma misericórdia que eles
deram àqueles dentro das Alianças de Spokane e New Orleans. Não
tomamos prisioneiros. Os únicos a serem poupados são os Fae que
sabemos que estão sendo mantidos lá dentro, e quaisquer membros da
verdadeira Aliança que possam ser prisioneiros. Qualquer membro da
Aliança que lutar contra nós vai morrer.
— Por que matar eles? — Alden questionou, hesitante.
— Porque se eles estão lá e estão se movendo livremente, escolheram
o lado errado. — Afirmei com finalização. — Os Magos querem controle
absoluto, e Seattle é um trampolim para atingir esse objetivo, pois é a
Aliança Nacional. Todos os pedidos passam por essa Aliança antes de
serem enviados para qualquer outra pessoa nos Estados Unidos, às
vezes até na Europa. Imagine assim: todas as embaixadas do mundo
recebem ordens da Casa Branca, onde atacaria se quisesse controlar
elas?
— A Casa Branca. — Respondeu Ristan quando seus olhos
deixaram os meus e se mudaram para Aliança de Seattle. — Mas eles
precisariam da ajuda de outras pessoas familiarizadas com o edifício.
— E precisaria de alguém que possa ajudar a provar que você foi
escolhido para liderar, o que significa que, alguém da Aliança que os
ajudou e ainda está vivo. Por isso, Alden, é por isso que qualquer
pessoa que se desloque livremente pela Aliança não pode ser salva.
— Sinto muito, Flor. — Ristan murmurou.
— Está feito, nada do que fizermos pode mudar o que aconteceu
aqui. O que podemos fazer é vingar aqueles que morreram tentando
proteger ela e podemos impedir eles de envenenar as outras Alianças.
— Um movimento chamou minha atenção na frente da Aliança. — É
hora do show.
Nós assistimos enquanto Magos nas vestes dos Anciões saíam pelas
enormes portas duplas. Sem rostos familiares, mas eles cuidaram de
suas aparências, eram parecidos com os reais, mas parecia faltar
alguns dos detalhes mais delicados que geralmente marcavam um
Ancião. Todos, exceto um, um ancião familiar, que vi pela última vez
nas memórias de um Executor morto.
— Você trouxe guerra à nossa porta? — Exigiu, seus olhos eram
azuis, mas embotados em comparação com a cor de suas vestes. —
Você pagará por isso! Este é o nosso mundo, nós somos os protetores
disso! — Ele cuspiu.
— O que te faz dizer isso? — Desafiei, passando pelos outros ficando
na frente do exército reunido em frente a Aliança. — O que te faz pensar
que vocês são os protetores?
— Porque sou o Ancião da Aliança de Seattle. E mantenho o poder
da costa oeste! E você, você não tem o direito de trazer essas
monstruosidades para este mundo. É um ato de agressão contra os
humanos. Você vai assumir a responsabilidade por isso. — Ele riu
baixinho, como se tivéssemos em suas mãos. — Você garota estúpida,
nos julgou mal, não é? Você trouxe cordeiros para serem abatidos. Você
não pode controlar eles sem o Rei deles.
— Por que você acha isso? — Assisti enquanto ele sorria e acenava
com as mãos, chamando minha atenção para os humanos que se
encolhiam nas portas dos prédios ao redor da Aliança, observando os
monstros em pé na frente dela. Telefones foram levantados, filmando
cada movimento nosso. Equipes de notícias estavam se chegando, sem
dúvida eles foram chamados pelos Magos. Sim, eles queriam uma
audiência, para fortalecer a reivindicação de seu Ancião autodesignado.
Queriam que as outras Alianças observassem enquanto derrotavam a
Horda, mas não era isso que aconteceria aqui.
— Porque tenho os Deuses do meu lado, a Aliança sempre protegeu
os fracos! — Ele gritou, se virando para garantir que as câmeras
pegassem seu rosto. — Os humanos nos apoiaram, eles nos viram
derrotar monstros antes para proteger eles. Os Deuses tomaram nota
do nosso trabalho aqui nesta mesma Aliança e nos recompensaram por
proteger o modo de vida dos humanos.
— Deuses? — Perguntei, me perguntando se ele realmente tinha
Deuses ao seu lado, ou se ele pensava em mostrar as Bruxas Originais
como tal para os humanos.
Ele bateu palmas e sorriu friamente para mim quando sua voz
ecoou, para todos aqueles ao nosso redor.
— Venham, minhas Deusas.
Assisti enquanto as irmãs de Hannah se mudavam para frente dos
Magos. No momento em que fizeram, elas enviaram um pulso mágico
pela multidão. Elas eram as mesmas Bruxas que vi na memória de
Andrew. Captei todos os detalhes delas, desde o brilho das pontas dos
dedos até os braços, onde runas e feitiços mágicos foram escritos em
sua carne.
Seus olhos se demoraram em mim antes de me dispensarem
enquanto examinavam o exército unido em toda a sua glória. Pintei
runas na minha pele que escondiam o imenso poder que eu ainda não
havia dominado em esconder. Seus olhos permaneceram em Zahruk e
Ristan um pouco demais para meu gosto, mas, de novo, elas
provavelmente podiam sentir o poder que ambos possuíam.
— Destrua todos eles. — O líder dos Magos sibilou com algo
estranho em seu tom.
As bruxas levantaram as mãos e as teceram em um amplo padrão.
Os Fae atrás de mim grunhiram em resposta e começaram a tapar seus
ouvidos quando as irmãs de Hannah começaram a cantar em
sincronia. Foi um feitiço de morte. Levantei as próprias mãos e as bati,
as levantei de novo e empurrei minhas palmas para elas.
Observei como os olhos delas se arregalaram, pouco antes da
pequena assembleia bater contra as paredes da Aliança. Os Fae atrás
de mim se levantaram com pouco esforço, dei um passo à frente,
passando pelas runas que os Magos espalharam no chão para nos
conter. Sorri quando o Mago encarregado piscou em câmera lenta
enquanto passei pelas alas destinadas a impedir Fae de entrar ou
escapar, e subi os degraus para onde eles esperavam.
Eles sabiam que estávamos chegando e tomaram medidas para
prender qualquer Fae corajoso o suficiente para tentar invadir a
Aliança.
— Uma semideusa não é uma Deusa. — Falei friamente. — Chega
de suas mentiras, Mago. — Gritei, me certificando de que aquelas
câmeras ouvissem meu lado. — Onde estão os verdadeiros membros
desta Aliança?
— Você não pode passar as runas! — Ele gritou, como se, falando
isso eu cairia magicamente de joelhos e desistisse.
Olhei para trás, olhei para ele e apontei para os meus pés.
— Bem, passei, então obviamente posso. — Sarcasticamente
respondi quando notei Callaghan, Ristan, Elijah, Lucian e seus homens
também andando pelas alas dos Fae, pegando as que estavam
espalhadas no chão e jogando fora. — Agora, pela última vez. —
Assobiei. — Onde estão os verdadeiros membros desta Aliança? —
Repeti alto.
— Ela é uma bruxa, é mortal! Matem ela! — Ele gritou, e senti as
Bruxas Originais enquanto tentavam descascar minhas camadas de
proteção para revelar o que eu era.
Me virei e olhei para elas, vendo seus olhos ficarem vermelhos com
seus cantos enquanto tentavam me combater ou me debilitar.
— Elas não podem me matar. — Afirmei sem rodeios. E assisti
enquanto o suor escorria de suas sobrancelhas enquanto continuavam
cantando de qualquer maneira. Ignorei, voltando a atenção pro Mago,
sorri friamente, sacudi minha mão, empurrando para fora, e apreciei o
som do seu corpo quebrando quando os ossos cederam dentro dele. No
momento em que ele caiu, a dor atravessou minha barriga, me pegando
desprevenida. Meu estômago parecia arrepiar quando um gosto amargo
encheu minha boca e olhei para as Bruxas Originais, me perguntando
se elas poderiam me enfeitiçar ou algo assim. E peguei um vislumbre
de Destiny enquanto ela me observava das sombras. Seus cachos
grossos se moveram quando ela balançou a cabeça e desapareceu nas
sombras em que esteve.
— Onde ele está? — Exigi das filhas de Hécate, que me observavam
com um olhar preocupado.
Hannah colocou a mão no meu ombro e me virei para olhar ela.
Olhos suaves passaram dos meus para suas irmãs, e ela assentiu na
direção delas. Os Magos tremeram de raiva quando as irmãs se
mudaram para Hannah.
— Onde está o rei? — Ela perguntou a elas. Elas olharam para ela,
como se não tivessem certeza se deveriam responder. Ela permitiu uma
lasca de energia e engoli quando a senti. Ela estava segurando, mas no
momento em que foi libertada, elas fecharam os olhos e sorriram. —
Onde o rei da Horda está sendo mantido? — Ela repetiu.
— Ele foi enfeitiçado, e eles o prenderam nas entranhas deste lugar.
Ele está enfraquecido, mas não está ferido. Eles têm o prédio protegido
e enfeitiçado para que, uma vez que os Fae estejam dentro, não possam
escapar, bombas cheias de ferro vão detonar por toda a estrutura. Esta
Aliança se tornará uma tumba. É à prova de falhas dos Magos no caso
deles perderem a Aliança. Quando os Fae estiverem lá dentro, um
cronômetro começará a contagem regressiva.
— O que mais nos espera? — Questionei, sabendo que não era tudo.
— Nada que deve ser um problema para você, Deusa. — Uma das
irmãs ofereceu em voz baixa.
A dor estava me despedaçando. Parecia que eu estava sendo rasgada
de dentro para fora. Os Magos avançavam em direção às portas,
levantei a mão, agitei o pulso e empurrei com as duas mãos, com força.
Os Magos foram esmagados no concreto, seus corpos pareciam torcidos
e distorcidos. Mais dor; dessa vez, senti algo se desfazer dentro de mim.
Como se algo estivesse descolando ou corroendo meus órgãos.
— O que mais? — Exigi, tentando ignorar a dor intensa.
— Magos, muitos deles. — Continuou ela. — Alguns dos mais fortes
estão escondidos lá dentro. Muitos estão escondidos entre os cadáveres
dos residentes da Aliança. Eles criaram tudo para parecer que os Fae
lutaram contra a Aliança, e no último minuto, eles se sacrificaram para
salvar a humanidade e a Aliança. Foi encenado para fazer os Fae
parecerem maus. — Seu significado é claro. Os Magos encenaram
vários tipos de armadilhas aqui. Algumas para prender e destruir os
Fae, outras para cortejar o tribunal da opinião pública. — O rei está
em uma câmara bem abaixo.
— Você sabe se ele é capaz de andar? — Perguntei.
— Duvidoso, eles gostavam de machucar ele. Adicionamos um
feitiço para manter ele acordado, mas não posso dizer que não fizemos
mais nada com ele. Se não tivéssemos, os Magos teriam notado. Eles
embrulharam correntes encantadas ao redor dele, e colocaram alguns
Executores da Aliança drogados na câmara com ele. O plano deles era
libertar o rei e matar os Executores. As outras Alianças o condenariam
por suas ações e reuniria os humanos à sua causa. Ele deveria aceitar
a bagunça aqui se os Magos não pudessem aguentar.
— E as crianças desta Aliança, onde estão? — Questionei.
— Na câmara com o rei, para que, quando ele ficasse fraco, e não
conseguisse parar de se alimentar, então se alimentaria das vidas
inocentes ao seu redor.
— Você pode ir. — Ordenei. Elas não se mexeram, nem quando me
virei para a Horda.
— Deusa. — Hannah chamou antes que eu pudesse me afastar
delas.
— O que? — Respondi, odiando que mais uma vez, pareceríamos
monstros para os humanos.
— Eles enfeitiçaram este lugar para impedir que minhas irmãs
partissem, mantive minha parte em nosso acordo, por favor, mantenha
a sua.
— Falei que te levaria até suas irmãs e que permitiria que você
deixasse este lugar, mas nunca concordei em ajudar a fazer. — Eu
poderia deixar elas aqui, pois saberia exatamente onde estavam, mas
sei como se sentiam. E entendi a raiva e o raciocínio delas. Elas não
podiam desfazer o que tinham colocado em movimento.
Hannah se aproximou de onde eu estava e me inclinei mais perto.
Ela sussurrou no meu ouvido e se afastou de mim, tremi e assenti com
o que ela disse. Engoli mais dor quando ela rasgou através de mim e
virei para suas irmãs.
— Humanos estão fora dos limites. — Exigi.
— Não conhece os males que eles podem fazer. — Argumentou uma.
— Sei exatamente do que eles são capazes. E sei quem são os
verdadeiros monstros e o que eles podem fazer conosco. Nós não somos
o juiz ou júri deles. O que aconteceu no passado permanece no
passado. Se travar uma guerra contra a raça deles, vou enfrentar vocês.
Este mundo já tem guerras suficientes, e matar os descendentes
daqueles que prejudicaram vocês não é a resposta. Não trará os seus
de volta e não fará vocês se sentirem melhor. Não aliviará a culpa que
vocês sentem por perder ou por não poder salvar eles. Confie em mim,
nada que vocês façam podem trazer eles de volta. Para cada vida que
você tira, os Deuses tiram algo de você, ou pelo menos é o que eu
sempre soube. Não vale o custo.
— Você nunca teve que recolher os restos dos filhos de seus filhos
quando eles foram jogados na floresta como lixo. Espero que nunca
precise. Não vamos travar guerra com toda a raça, os Fae vão fazer essa
guerra por nós. Eles são atraídos por aqueles que detêm imenso poder.
Isso é o suficiente para mim, por enquanto. — Disse uma das irmãs
suavemente.
— E não vou permitir que eles travem uma guerra contra os
Humanos, nunca.
— Boa sorte com isso. — Ela riu com um sorriso largo.
— Você é livre, mas se lembre Hannah, tenho olhos por toda parte.
— Respondi, ignorando as provocações vindas de suas irmãs. — Não
tem nenhum lugar onde vocês possam se esconder que não podemos
alcançar.
— Estamos quites. — Hannah disse suavemente.
— Tenho certeza que vamos nos encontrar de novo em breve. —
Resmunguei.
— Quando a guerra chegar à Terra dos Fae, nos chame. — Disse ela
com firmeza. — Você pode não ser da minha linha, mas, pelo amor que
você tem por Larissa, serei eternamente grata a você e aos seus. Até
nos encontrarmos de novo, Deusa. — Ela sussurrou e se mudou para
suas irmãs enquanto elas desapareciam juntas.
Minhas mãos se fecharam ao meu lado enquanto voltei para os Fae,
que me observavam cuidadosamente. A dor ainda não tinha cessado, e
cada passo era um esforço. Quando voltei para Ristan e Zahruk,
expliquei o que nos esperava lá dentro.
— Prontos? — Perguntei, sem querer esperar mais para recuperar
Ryder.
— No momento em que cruzamos o limiar, o cronômetro começa a
contagem regressiva. — Ressaltou Zahruk.
— Então tem a parte de não sair vivo. — Acrescentou Ristan.
— E? — Perguntei, sabendo de alguma forma, que iríamos
sobreviver a isso.
— E conte comigo. — Ristan deu de ombros, me observando. —
Parece divertido.
No momento em que começamos em direção às portas, todo o
Inferno se soltou.
As irmãs não mentiram. Vários Magos estavam lá dentro, esperando
e ouvindo tudo o que acontecia lá fora. No momento em que
arrombamos as portas, bolas de energia passaram por nós, atingindo
as paredes ao nosso redor. Ergui uma parede de magia quando mais
foram enviadas em nossa direção. Me virei, vendo Zahruk enquanto ele
batia contra uma barreira invisível que o segurava do lado de fora. Só
Ristan, Lucian, seus homens, Callaghan e os desajustados
conseguiram cruzar o limiar na barreira inicial. Examinei o chão até
avistar as runas impedindo a entrada dos Fae. Usei um pulso de magia
para perturbar o padrão que criou o feitiço, forçando cada runa a se
mover para interromper a magia e quebrar o feitiço.
Uma vez que os Fae entraram, o relógio começou nas bombas.
Retirei minhas espadas, observando Zahruk e o resto dos Fae seguirem
minha liderança. Lucian levou seus homens para o outro lado da
câmara e acenou em minha direção enquanto sua própria armadura
torturante se materializava, apareciam lâminas menores que se
estendiam, agarradas firmemente em suas mãos.
Senti o cheiro da morte no momento em que as runas foram
removidas de sua colocação. Os corpos sem vida da equipe de apoio
dos Executores e da Aliança estavam espalhados pelo chão em ângulos
estranhos, onde lutaram por suas vidas e perderam. O som do metal
atingindo o metal encheu a Aliança quando recuei, assistindo o exército
entrar na Aliança em guerra contra os Magos. O denso aroma
acobreado de sangue encheu o ar da noite enquanto eu assistia a luta
se desenrolar.
Quando um Mago se lançou contra mim, desviei de seu golpe
facilmente, movendo ele lentamente em círculo até que a parede
protegesse minhas costas, balancei as lâminas sem aviso, cortando a
carne dos ossos quando o jovem Mago se moveu para uma posição de
ataque, uma que ele nunca seria capaz de seguir adiante enquanto seu
corpo deslizava, se acumulando no chão em um ângulo estranho.
Ristan e Zahruk fecharam fileiras, me protegendo enquanto
abríamos caminho pela multidão que lutava. Callaghan, Lucian e seus
homens nos seguiram mais profundamente na Aliança escurecida. Eu
não estava com medo da escuridão, pois podia ver tão claramente como
se fosse dia, mas quanto mais nos aprofundamos, mais corpos
encontrávamos. Alguns tinham sido rasgados em pedaços com marcas
de mordida em volta de sua garganta.
As irmãs não estavam mentindo quando disseram que Ryder seria
responsabilizado por isso. As marcas não deixaram outra conclusão
plausível. Eu ouvia os gritos dos Magos enquanto a Horda e o resto do
exército continuavam se infiltrando na Aliança. Esta noite se
alimentariam dos corpos de nossos inimigos. Ou seja, se
sobrevivêssemos às bombas.
— Se as bombas explodirem conosco lá dentro. — Zahruk começou
a advertir, mas sei o que isso significava. Os Fae podiam sobreviver a
quase tudo, mas bombas de ferro os debilitariam.
— Posso tirar as bombas se souber o que estamos procurando. —
Lucian ofereceu e parei. Ele não era Fae.
— Faça. — Pedi. Apontei para algumas que observei no caminho e
seus homens entraram em ação. — Aqui, as plantas. Algumas estão
dentro das paredes, mas posso ouvir. — Me virei a tempo de observar
Zahruk balançar as lâminas contra um Mago que se lançou sobre nós
das sombras.
Ambas as lâminas cortaram os músculos como manteiga, e Zahruk
não vacilou quando limpou o sangue nas vestes do Mago. Ele se virou,
seus olhos azuis examinaram as sombras e, mais rápido do que meus
olhos podiam seguir, ele deslizou suas espadas nas bainhas que
estavam presas às suas costas, trocando por punhais. Facas voaram
sem aviso prévio, atingindo seus alvos com um baque repugnante que
enviou um arrepio por mim.
— Faça com que seu pessoal vejas as plantas do prédio, cantos e
outras áreas escondidas. — Sussurrei para Lucian quando começamos
a andar pelos longos e sinuosos corredores da Aliança.
Mal começamos nosso avanço, quando mais Magos convergiram em
nossa direção com armas e magia, deslizei para fora do caminho, vendo
os homens lutarem contra eles enquanto segurei o estômago enquanto
mais dor rasgava através de mim. Tinha algo de errado comigo, mas
não sei o que, ou como parar.
— Synthia. — Zahruk rosnou, me forçando a olhar em seus olhos
azuis elétricos.
— Estou bem, vamos em frente. — Menti.
Eu me perguntava se era o custo da intromissão, pelas vidas que
tirei aqui. Passamos por sala após sala, limpando elas às pressas
enquanto descíamos para a Aliança. Eu sentia os homens de Lucian,
removendo as bombas escondidas o mais rápido que podiam.
Outra porta protegida nos bloqueou e, em instantes, a abri usando
as memórias de Andrew. Passamos por isso, encontrando restos de Fae
que não estavam mortos, mas também não estavam exatamente vivos.
Alguns foram dissecados, com o estômago totalmente aberto, para que
os Magos pudessem observar como seu interior funcionava. Zahruk
emitiu ordens em um tom irado, ordenando a alguns dos Fae que nos
seguiam que os pegassem e os levassem para a frente da Aliança, onde
os Fae que esperavam fora do limiar os levariam de volta à Terra dos
Fae.
Estávamos trabalhando contra o relógio, um que não tínhamos ideia
de quando tocaria. Os grunhidos dos Fae ecoaram ao nosso redor, e o
cheiro de cadáveres podres era pungente aqui. O rico aroma da terra
ao nosso redor fez pouco para esconder o cheiro de carne em
decomposição.
O último quarto em que entramos estava cheio de pequenos corpos.
Fiz uma pausa, odiando as lágrimas que encheram meus olhos
enquanto olhava para seus rostos inocentes. Minhas mãos tremiam
com o desperdício de vida, os inocentes que foram varridos só por estar
no caminho dos Magos.
— Eles estão vivos. — Exclamou Ristan, surpreso, enquanto se
ajoelhava e tocava a bochecha de uma garotinha. — Eles estão vivos,
precisamos tirar eles daqui.
— Comece a mover eles agora. — Ordenei, observando Ristan e
Zahruk entrarem em ação. Eles entraram e saíram, pegando as
crianças e levando para frente da Aliança, onde outros ajudariam a
levar os pequenos para segurança. Depois que a última criança foi
transferida, me virei para Ristan. — Tem que ter uma maneira mais
rápida. As Bruxas nos avisaram que isso era uma armadilha para
manter os Fae dentro da Aliança depois que eles entrassem. Parece que
vocês podem transportar dentro do edifício, mas não tenho certeza de
que os Fae possam transportar. Preciso que você encontre e destrua o
que estiver nos mantendo dentro deste lugar.
— Pode deixar. — Disse o demônio enquanto se mexia.
Zahruk, Callaghan e eu nos mudamos para o fundo da câmara,
onde encontramos Ryder. Ele estava acorrentado a uma mesa com
grossos pinos de corrente forjados de ferro. Os Magos devem ter
removido os raios de Deus pouco antes de saírem para nos confrontar.
Os Executores inconscientes estavam no chão ao redor da mesa. Engoli
em seco enquanto via sua forma imóvel. Mesmo de onde eu estava,
podia sentir o cheiro do ferro que eles colocaram dentro dele, corri para
frente, incapaz de me parar quando o toquei.
Sua pele estava gelada e, no momento em que toquei seu rosto, ele
se debateu. Ele rosnou quando a saliva cheia de sangue pingava de sua
boca. Olhos selvagens encontraram os meus e ele se acalmou um
pouco, e ainda assim, não parou completamente de lutar para se
libertar das correntes.
— Ryder. — Puxei a corrente que cruzava seu peito, conseguindo
deixá-lo livre. — Sou eu, Fada. — Cantei enquanto abaixava o rosto e
beijava sua têmpora.
— Synthia. — Alertou Zahruk, sentindo que tinha algo errado.
Meus olhos foram para as correntes descartadas e depois de volta
para Ryder, que me observava com desconfiança. Ele parecia selvagem,
indomável... como uma verdadeira fera criada para matar qualquer
coisa que chegasse perto demais. Ele estava rastreando todos os meus
movimentos quando me aproximei, e meu coração disparou de
apreensão.
Nenhum raio de Deus o segurou aqui, e ainda assim aquelas
correntes não teriam sido capazes de segurá-lo sozinho. Então, por que
ele não escapou? Ele levantou devagar, os músculos macios se
movendo enquanto a transpiração os envolvia.
Dei um passo para trás, longe dele. Zahruk se moveu na frente dele,
chamando sua atenção e, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa,
Ryder o atingiu, enviando ele pela sala sem aviso prévio. Zahruk bateu
na parede com um baque alto e deslizou por ela. E tremi quando meus
olhos voltaram para o homem diante de mim.
Ele estava me prendendo, cortando qualquer chance de escapar
enquanto me conduzia para um canto. Vi Callaghan se posicionando
para atacar, e balancei a cabeça para eles se afastarem, ouvi os outros
quando vieram correndo pelo corredor, mas balancei a cabeça
enquanto eles observavam Ryder me empurrar contra a parede.
Ele rosnou, o som era desumano e comovente quando os dedos de
sua mão se estenderam em garras e rasgaram minha armadura antes
de se recolher de novo. Mãos fortes encontraram um seio enquanto a
outra empurrava contra minha garganta, parando meu fluxo de ar. Ele
não era meu Ryder, ele era um monstro, experimentado, torturado e
deixado para morrer com ferro suficiente nele para matar cem Fae.
— Ryder. — Ofeguei, usando o pouco de ar que me restava para
alcançá-lo. O senti afrouxando o aperto, mas só o suficiente para não
desmaiar. Ele usou o joelho para separar minhas pernas enquanto
pressionava seu pênis crescente contra o meu estômago.
A mão dele machucou meu peito, e podia sentir suas garras
deslizando pela minha pele enquanto elas se estendiam. A pressão mais
do que eu podia suportar, e gritei, mas meus olhos deram um aviso
silencioso para os homens do outro lado da sala permanecerem onde
estavam. Sei que poderia fugir, mas algo estava me forçando a ficar
com ele e não desistir, algo me dizia que meu Ryder estava dentro do
monstro que, estava lambendo meu pescoço como se estivesse
preparando para provar.
No momento em que seus dentes entraram na carne da minha
clavícula, gritei, o que o fez hesitar e se afastar do meu pescoço.
Levantei as pernas, envolvendo em torno de sua cintura e usando seu
próprio corpo para empurrar sua parte superior do tronco para longe
de mim.
— Ryder, volte para mim. — Implorei. Suas mãos se levantaram,
capturando meu rosto enquanto sua boca se curvava em um sorriso
perigoso. Seus lábios tocaram os meus, mas eram brutais. Seus dentes
arranharam meu lábio, cortando a carne macia enquanto ele me
beijava como um homem faminto que não tocava em carne há décadas.
Eu gemia contra ele, lágrimas escorrendo pelo meu rosto enquanto ele
puxava meu cabelo, inclinando meu rosto até que tivesse acesso total.
Sua língua mergulhou dentro, capturando a minha enquanto seus
dentes me arranhavam. E o senti ficando maior, seu pau palpitava
contra a minha barriga enquanto ele esfregava contra ele, precisando
se alimentar.
Isso então me atingiu. Ele estava morrendo de fome, pois não se
alimentou das crianças, então ele era exatamente o que parecia: um
animal faminto! Pulsei meu poder, forçando a entrar em seu sistema,
forçando o ferro a sair, enquanto os homens atrás de nós olhavam.
Senti suas mãos quando ele agarrou minha cintura, com a intenção de
se impulsionar profundamente em minhas profundezas acolhedoras.
No momento em que pensei que daríamos a seus irmãos uma visão
panorâmica de nossa vida sexual, ele fez uma pausa. Sua boca ficou
mais lenta, mais profunda e implacável em sua conquista para
reivindicar a propriedade.
Senti suas garras se retraírem, e seu pênis se esvaziou lentamente
quando manchas douradas retornaram aos seus olhos de obsidiana.
Engoli o grito quando passei meus braços em torno de sua forma nua
e chorei.
— Synthia, você precisa fugir agora. — Ordenou Ristan, sem
entender o que estava acontecendo.
— Ele está lá, eu sei. — Sussurrei. — Ele está voltando.
— Ele poderia te machucar. — Argumentou.
Ele entregou a dor ao animal, foi o jeito dele escapar do que estavam
fazendo, mas ele ainda estava lá dentro. Ele estava se tornando mais
gentil comigo, e ainda assim estava lutando para controlar o que quer
que estivesse o segurando. A besta era dominante, mas Ryder também.
Quando ele afastou a boca de mim, eu a recuperei com fome.
Chovi beijos em seu rosto quando ele tentou de novo se afastar da
minha boca. Alimentei com energia suficiente para administrar uma
cidade pequena, mas nada trouxe de volta o olhar âmbar ardente que
eu procurava em suas profundezas escuras.
— Eu te amo. — Solucei enquanto lágrimas deslizavam por minhas
bochechas. Fechei os olhos contra a negação de que talvez eu o tenha
perdido. Talvez ele fosse o preço que eu pagaria por ter vindo salvar ele.
— Eu te amo muito, Ryder. — Choraminguei enquanto a dor
continuava me quebrando. — Volte para mim, Fada. Venha para casa.
— Animalzinho. — Ele rosnou enquanto limpava o sangue da boca,
na minha armadura triturada. Abri os olhos e gritei quando os olhos
dourados encontraram o meu olhar esperançoso.
— Vou chutar sua bunda, Fada. — Chorei enquanto envolvia meus
braços em torno dele e ele me segurava com força. — Estava com tanto
medo de ter perdido você. — Choraminguei, exausta da luta para
recuperá-lo, mas ainda não estávamos fora de perigo.
— Senti você nesta sala, me diga que eu não estava louco. — Ele
sussurrou enquanto beijava minhas lágrimas.
— Depois te conto tudo, mas agora temos que sair daqui. — Senti
que a luta acima estava morrendo. — Temos que sair agora. — Quando
a armadura de Ryder se materializou em torno de seu corpo, me afastei
e me levantei, só para dobrar em agonia.
— Synthia? — Zahruk latiu, se aproximando enquanto Ryder
também lutava para ficar de pé. — Ela está machucada. — Mas eu não
estava, pelo menos, não ferida da maneira que Zahruk achava. Ele
procurou por sangue e não encontrou nenhum. Tentei me levantar e
senti a umidade entre as pernas, saturando lentamente as perneiras
da armadura enquanto descia. — Que merda é essa? — Zahruk me
pegou quando sentiu o cheiro do sangue que descia pelas minhas
pernas.
— Estou bem, ajude Ryder. — Exigi. — Temos que sair daqui antes
que essas bombas explodam.
— Bombas? — Ryder perguntou, e balancei minha cabeça.
— Agora não, não temos tempo. — Coloquei meus braços em volta
do meu estômago quando Callaghan puxou o braço de Ryder ao redor
de seu ombro, apoiando-o enquanto Zahruk me carregava. Nós
decolamos, correndo pelos corredores. Felizmente, Ristan conseguiu
remover os feitiços que os Magos lançaram para manter os Fae dentro
da estrutura da Aliança.
Uma vez lá fora, o chão tremeu. As bombas nos níveis mais baixos
que Lucian e seus homens não encontraram detonaram uma a uma,
até o último andar irromper em barulhos ensurdecedores e explosões.
Comecei a cair quando mãos fortes envolveram minha cintura e me
levaram ao chão, cobrindo meu corpo com o dele.
Olhei nos olhos de Zahruk enquanto detritos choveram ao redor de
nossos corpos. Virei a cabeça, encontrando olhos dourados me
observando com preocupação. Lucian gritou algo para Ryder, mas eu
não pude ouvir. Eu estava caindo, como se não pudesse me conter
enquanto meus olhos observavam estrelas estourarem atrás das
minhas pálpebras.
Eu fiz isso, ele estava fora e vivo. Então senti a exaustão quando ela
bateu contra mim e deixei meus olhos pesados fecharem quando a dor
me levou ao limite do esquecimento.
— Quanto tempo ela está desmaiada? — A voz de Ryder me tirou do
sono, pisquei, mal ciente de onde estava.
— Não muito, mas com o quanto ela estava se esforçando, não me
surpreende que ela não tenha notado. — Respondeu Eliran.
Fechei os olhos, ouvindo enquanto eles falavam ao meu redor. Ryder
estava na cama comigo, seus braços em volta do meu corpo, me
segurando com força. Seus braços eram mais reconfortantes do que mil
narcóticos. Eles tiraram a dor, mantiveram ao alcance do braço. Esse
homem valia o que os Deuses exigiam em preço.
— E ela vai se curar? — O tom de Ryder era suave enquanto eu
alternava entre sono e vigília.
— Ela já está se recuperando rapidamente. É incrível a rapidez com
que ela cura, mais rápido do que qualquer um de nós.
— Ela será capaz de ter mais? — Ryder perguntou hesitante, e
pisquei.
— Mais o que? — Perguntei sem querer. A exaustão fez meu tom
mais irritado do que eu pretendia. Sei que tinha empurrado meu corpo
ao seu limite. Permaneci alerta e acordada o tempo todo que ele esteve
longe de mim. E ainda estava exausta, cansada a ponto de não
conseguir manter meus olhos abertos.
— Crianças — Murmurou Ryder, com uma pitada de raiva em seu
tom.
— Hã? — Eu estava confusa sobre o porquê disso importava neste
momento. — Por que você está perguntando isso? Claro que podemos,
mas não agora. — Abri os olhos para encontrá-lo debruçado sobre mim,
me estudando.
— Você abortou, querida. — Ele explicou suavemente. — Você
estava grávida. — Ele me apertou para confortar quando fechei os olhos
e engoli.
— Eu não estava grávida, eu não poderia estar.
— Você estava, estava com pelo menos algumas semanas, a julgar
pelo tamanho da criança. Lembra que as gestações Fae são mais curtas
que as Humanas, e quem sabe com que rapidez a gestação será agora
que você é uma Deusa. É por isso que você perdeu tanto sangue e
desmaiou. Tivemos que esperar que seu corpo se curasse, porque nada
que eu fiz ajudou, de fato só piorou. Você perdeu muito sangue e está
fora há dias. — A voz de Eliran, como sempre, era gentil e calmante.
— Quantos dias? — Perguntei secamente.
— Três. — Ryder respondeu enquanto beijava levemente minha
testa. — Chamei Danu, mas ela não respondeu. Fizemos de tudo para
te acordar, e Eliran tentou impedir o aborto, mas nada funcionou. Sinto
muito, Synthia.
Pisquei as lágrimas ao ouvir a dor em seu tom. Lutei para me sentar,
mas ainda estava exausta.
— É o preço que os Deuses exigiram. — Sussurrei. — Para ter você
de volta, precisei me intrometer no mundo humano. E interferi
diretamente nesse mundo. Eu matei nele. Fui avisada de que teria um
preço se eu fizesse. — Um soluço rasgou meu peito quando me virei
para olhar ele. — Eu não sabia, não fazia ideia de que estava grávida.
Eu estava tão estressada e não conseguia pensar em nada a não ser
conseguir você de volta.
— Você não sabia que estava grávida? — Eliran deixou escapar os
olhos cheios de descrença. — Você atrasou algumas semanas? Não teve
um ciclo desde que os trigêmeos nasceram? Deveria ter pelo menos
alguns sintomas.
— Eu não tenho um desde que engravidei dos trigêmeos. — Corei
quando olhei para Ryder. — Você me engravidou de novo? Pensei que
tivemos uma conversa sobre isso? Eu perdi um bebê, um que nem
sabia que existia. Eu não... eu não sinto nada. — Chorei quando a
culpa tomou conta de mim. Eu não sentia muito pela perda, ou pelo
sacrifício por Ryder. — Como... por que não sinto nada?
— Porque eu bloqueei a dor que eles queriam que você sentisse. —
Comentou Destiny da porta, forçando todos os olhos para ela. — Você
não fez isso por uma razão egoísta. O que você fez, fez por amor, e Danu
me pediu para protegê-la, porque você tem um propósito maior a servir,
caso concorde. Não posso ter você estragando meus planos.
— Seus planos? — Repeti, observando como os braços de Ryder me
puxaram para mais perto.
— Preciso que você venha comigo, por favor. Tem alguém que quer
se despedir. — Ela fungou baixinho, lágrimas brilhando nos olhos.
— Ela está nos deixando, não está? — Tentei forçar o peso do meu
coração a ficar fora da minha voz.
— Sim, ela está. Não temos tempo a perder, se você deseja ver ela.
— Destiny explicou suavemente. — Você terá vidas inteiras para
apreciar sua besta, mas temo que seja hora de dizer adeus à sua mãe.
Me levantei o suficiente para sentar e beijei Ryder em sua testa.
— Eu já volto. — Assegurei a ele quando comecei a sair da cama,
sem me importar que eu estivesse nua. Senti caxemira macia cobrindo
meu corpo enquanto lutava para me levantar e dei a Ryder um sorriso
de agradecimento ao aceitar a mão de Destiny e desaparecermos.
Danu estava deitada em uma espreguiçadeira em um jardim
brilhantemente iluminado, cheio de flores raras e exóticas que eu
nunca vi antes. Os botões cobriam a vegetação luxuriante, criando um
efeito de brilho para cada flor rara. À esquerda do jardim tinha uma
piscina cintilante, flores de lótus e lírios flutuavam em sua superfície
e, sem perguntar, eu soube que ela criou a Terra dos Fae para espelhar
seu próprio jardim exuberante e mágico. Os botões das flores se
abriram, lançando sua fragrância no ar.
— Lindas, não são? — Ela perguntou, e notei o sol brilhando em seu
lindo rosto.
— Não me importo com suas malditas flores. — Falei sem conseguir
esconder o medo no meu tom. — Não posso te perder, acabei de
conseguir você. Não aceito que não tenha como te salvar.
— Você não está me perdendo. — Ela virou para me olhar melhor.
Ela se parecia comigo. Cachos de platina caíram abaixo de seus ombros
e olhos azuis se encontraram com os meus. — Você é minha filha. —
Ela riu, mas parecia forçado. — De onde você acha que sua beleza veio?
— Esta é a verdadeira você, não é magia? — Questionei, surpresa
com o quanto somos parecidas, me movi para uma grande pedra com
uma superfície lisa e me sentei ao lado dela.
— Ao longo dos anos, só alguns seres conheceram minha verdadeira
forma. Você agora é um deles. Não posso mais usar feitiço. — Explicou
ela, acenando como se tivesse acabado de dizer que amanhã não teria
chuva ou algo mundano. — Perdi a capacidade de usar magia também.
Destiny disse que ainda tenho um pouco de tempo, então te chamei.
Fui informada da perda que você sofreu por interferir para salvar seu
companheiro, e lamento por isso. Nenhuma mãe deveria perder um
bebê, mas sabíamos que falar sobre o filho não faria muita diferença.
Você é minha filha, afinal.
— Destiny me disse que me impediu de sentir a perda. — Respondi.
— Ela ainda está bloqueando a emoção que você deveria estar
sentindo com o aborto. — Confessou. — Pedi a ela para fazer isso, mas
tenho algo a te pedir. Algo egoísta, mas enfrentar a mortalidade é algo
que acredito ser pior que a morte.
— Você e seus enigmas. — Pensei. — Sabia que isso aconteceria,
então por que isso? Por que me escolheu no seu lugar?
— Sou uma Deusa, sim, mas sou sua mãe. — Disse ela, como se
isso fizesse sentido. — E faria isso de novo em um piscar de olhos. Você
é minha criação, e a minha mais estimada, sacrifiquei minha vida por
você, mas também pela Terra dos Fae, amando você o suficiente para
salvar seus filhos. Eles são a chave para consertá-lo, sim, mas também
a chave para o desfazer. A profecia não nos mostrou exatamente o que
poderá acontecer, ou por quê. Eles estão ligados a ambas as terras,
portanto, a chave para fraturar os portais. Eles o ativaram no momento
em que encheram seus pulmões, mas não é o fim da Terra dos Fae.
Você é a Terra dos Fae, Synthia, e ela viverá o tempo que você viver,
mesmo que seja instável no momento.
— Eles não podem ser fechados?
— Não, mas a Terra dos Fae não se fundirá com Tèrra, não como
você pensa. A Terra dos Fae foi aberta à Tèrra, mas ao se retirar de seu
mundo para se curar, também está curando o dano que eles causaram
ao seu próprio mundo em troca. Eventualmente, uma solução vai se
apresentar, fale com o Cervo, ele te guiará. Chega de falar disso. — Ela
sussurrou, mudando de direção e interrompendo minha linha de
pensamento. — Meu tempo está próximo, e devo te perguntar algo de
grande importância.
Ela se inclinou e sussurrou no meu ouvido. Fechei meus olhos
enquanto as lágrimas corriam por eles, queimando quando o que ela
pediu enviou meu mundo em espiral ao meu redor. Balancei a cabeça
e me afastei.
— Sim. — Concordei sem precisar considerar.
— Eu te amo, Synthia. E sempre amarei você. Estarei sempre
contigo. Prometo isso a você. Em tudo que você fizer e tudo que você é.
— Ela me assegurou enquanto assentiu para Destiny. Olhei para
Destiny quando ela assentiu e sorriu para mim.
— Devemos nos apressar, digam adeus, senhoras. — Ela ordenou.
Caminhei através da grama exuberante do vale, quando o som de
um dos riachos que alimentam as Piscinas de Fadas se tornou mais
alto. Estava calmo aqui, e tão bonito; as lembranças deste lugar
estavam enraizadas na minha cabeça. Foi aqui que Ryder me trouxe
depois da Caçada Selvagem, onde ficamos juntos pela primeira vez,
aqui que fizemos amor, se é que se pode chamar assim. Nossa primeira
vez foi selvagem, mas tudo com Ryder foi. Ele é um macho alfa em sua
essência, e eu amo isso nele. Eu o queria, mesmo que tivesse pavor de
aceitar como ele me fazia sentir.
Ele me fez encarar meus sentimentos e aceitar o que eu sentia pavor
de admitir. Nosso relacionamento começou turbulento, a montanha-
russa mais arrepiante que se possa imaginar. Embora esse caminho
não tenha sido fácil, eu não conseguia imaginar a vida sem ele.
Quando o perdi, não consegui respirar. Ele era meu ar, exatamente
as coisas que eu precisava para viver. Nós enfrentamos perdas,
batalhas e muito mais juntos. A morte tentou e perdeu contra nós. O
preço de estar juntos não foi fácil de se pagar, mas valeu a pena todas
as dificuldades que enfrentamos para ficar juntos.
— Odeio te desapontar, mas isso não vai funcionar. Não assim. —
Ristan balançou a cabeça enquanto examinava a paisagem ao redor
das Piscinas das Fadas. — Isso vai nos deixar expostos. Não podemos
garantir que não seremos atacados, tenho um local diferente em mente
para a cerimônia. Quanto à recepção, sua ideia tem algum mérito.
— Só algum? — Lancei um olhar ofendido quando ele encolheu os
ombros. — A lua de mel. Agora é isso que estou ansiosa. — Sorri
quando dei a ele uma piscada exagerada, o que o fez bufar.
— Estou feliz que você planejou ter sua lua de mel longe do castelo.
— Ele respondeu enquanto sorria conscientemente. — Deuses sabem
que quando vocês dois fazem isso, abalam toda a rede elétrica e o
campo mágico ao redor do castelo.
— Você pode sentir isso? — Suspirei.
— O que você esperava, Flor? Você é uma Deusa das Fadas, sua
mãe é uma Deusa da Fertilidade. Quando vocês dois transam, até as
flores sentem isso. Ontem à noite, elas floresceram. Você sabe, aquelas
que só abrem uma vez por ano foram despertadas pelo poder que vocês
liberaram. Os salgueiros choraram e os animais, nem quero pensar no
que eles fizeram juntos. Quando você está feliz, a terra sente, mas
quando você acasala, o mesmo acontece com a terra ao seu redor. Você
faz parte disso. — Ele afastou alguns cabelos do rosto e olhou pro vale.
— Tem notícias dela ultimamente? — Perguntou desconfortavelmente.
— Sim. Vi ela brevemente ontem. — Falei suavemente. E assisti uma
linha em sua testa se enrugar, como se minhas palavras tocassem um
nervo. — Nunca vai me dizer o que aconteceu entre vocês?
— É complicado. — Ele murmurou, se afastando de mim.
— Percebi isso, Demônio. Mas você a ama. — Falei, observando ele.
Seus ombros ficaram tensos e sorri. Ele amava, pelo menos até que o
que quer que existisse entre eles fervesse. Não tenho dúvida de que ele
ama Olivia com tudo o que tem para dar, mas em um momento ou
outro, ele esteve apaixonado por Danu.
— Ela me deu um filho. — Ele deu de ombros sem pensar. — Vou
passar o resto da eternidade imaginando se é realmente meu ou dela.
— É seu, e posso te dizer o que é, se você quiser. — Ofereci.
Frequentemente, eu descobria meus novos poderes por acidente. Como
eu sabia qual era o sexo, não tenho certeza. Talvez fosse porque o filho
deles estava ligado à nossa terra, e estou ligada ao bebê através dela.
— Você sabe o que estamos tendo? — Ele se virou e olhou para mim
com uma expressão fechada. — Como você pode ter certeza de que é
nosso e não outra semente que ela plantou?
— Porque o bebê é parte Demônio e parte Anjo. — Expliquei. — Oh,
tenho certeza que ela poderia ter agitado um coquetel Dangel, mas por
que faria? Não faz sentido porque ela faria algo assim, ao invés de
devolver o que foi tirado de você. Seu bebê está amarrado à terra, como
você. A propósito, o bebê não gosta dos picles que Olivia continua
comendo. Mas não posso culpá-lo. Ela os está mergulhando em molho
picante e manteiga de amendoim.
Ele sorriu e assentiu.
— Ela teve alguns desejos selvagens.
— Picles com molho picante e manteiga de amendoim são leves em
comparação com o desejo dela por um coração humano. Posso
adivinhar e dizer que o pequeno Demônio está crescendo com ânsia de
sangue. Embora, a reação dela a ter um desejo tão incrível fosse foda.
— Eu ri quando peguei a careta em seu rosto. — É seu, Danu não faria
isso com você. Ela me disse que o consertou porque tinha uma dívida
com você.
— Uma dívida. — Ele bufou. — Essa é uma maneira suave de
simplificar, e não tenho certeza de que você entenda o que Danu faria
e não faria. — Ele rosnou quando seus olhos ficaram duros. — Eu era
amante dela. Bem, um deles.
— Descobri isso um tempo atrás, mas o que não sei é porque você
a odeia tanto. — Mergulhei meus dedos nas piscinas suaves.
— Não odeio. — Ele inclinou a cabeça para trás, como se estivesse
se confortando com o calor do sol, e suspirou. — Posso estar com raiva
dela e me ressentir do que ela fez comigo, mas não posso odiar ela. Eu
estava ligado a ela e sim, eu a amava. Por quase oitocentos anos, ela
me colocou no inferno. Qualquer mulher que eu me importasse, ou que
amasse, ela matava. — Gritou, e meu sangue se transformou em gelo.
— Sinto muito. — Murmurei, observando ele cuidadosamente. —
Não consigo entender por que ela faria isso com você. A única coisa que
sei é que ela não é como nós. Estou só começando a entender as coisas
pelas quais ela era responsável e as escolhas que ela teve que fazer. A
maior parte do que vi até agora é muito fodida. Ela também deixou você
ir, Ristan. Ela deixou você encontrar amor com Olivia e, se você tivesse
amado outra pessoa, não estaria onde está hoje. Talvez Destiny esteja
certa, talvez tudo o que passamos seja para que, quando as peças se
encaixem, estejamos prontos para elas. Olhe para mim e Ryder: eu
queria dar um soco na garganta dele quando o conheci. Agora, não
consigo imaginar meu mundo sem ele.
— Flor, ela não me deixou encontrar amor com Olivia, ela estava
tentando matar ela, Cyrus só impediu o ato. Exigi que Danu me
libertasse de seu serviço. Já estava no meu limite quanto ao que
poderia aceitar dela, e honestamente, acho que ela temia o que eu faria
se ela não me libertasse. Sei muito do que estava acontecendo, mas
tinha muita coisa que nunca me foi permitido ver. Ela não me deixou
ajudá-la. Eu teria, se ela pedisse. Ao invés disso, me usou como uma
ferramenta, embora seja uma ferramenta muito útil. Leal, leal pra
caralho. — Ele disse enquanto balançava a cabeça sombriamente. —
Mas ela não queria, ou não poderia retribuir esse sentimento de
lealdade. Ela sabia como eu me sentia, e devo admitir, que em meus
séculos com ela passamos muitos bons momentos. Mas os maus
momentos foram horríveis. Ela desaparecia por longos períodos, às
vezes anos, depois aparecia de repente e exigia atenção. Era quando eu
via o outro lado dela. Imagine fazer amor com alguém. — Ele bufou. —
Um minuto elas estavam comigo, e no próximo o corpo delas era
tomado por uma Deusa irada que decidiu que eu estava prestando
muita atenção a alguém e que eu me importava muito com outra pessoa
que não ela e a via cortar seu corpo em tiras enquanto eu implorava
para que ela parasse. Essa é só uma das coisas que ela fazia comigo.
Outro truque favorito dela era dominar um corpo e usá-lo para me
foder, só para devolver a consciência dessa pessoa quando eu estava
enterrado dentro dela, e ela me implorar para parar como se eu a
estivesse estuprando. Aconteceu mais vezes do que eu gostaria de
admitir, e perdoá-la por isso não é fácil. — Ele riu sombriamente. —
Alden e eu capturados foram só consequências dela fodendo comigo.
Bilé também teve uma participação nos jogos e diversão com minhas
bolas na aliança porque eu “cheirava a ela” e fiquei desanimado em
dizer a ele o porquê.
— Você deve ter sentido como se estivesse tendo uma grande chance
ao me ajudar. — Murmurei, e minha garganta se apertou com seu
aceno duro.
— Muitas vezes eu recebia um aviso antes que ela atacasse. Parecia
estranho que ela estivesse quase me incentivando a cuidar de você, e
imaginei que era porque você estava destinada ao meu irmão. — Ele
balançou a cabeça tristemente. — Quando descobri que você era filha
dela, tudo fez sentido.
— Por que você não me disse nada?
— Com qual finalidade? Que bem teria vindo disso? Você ainda é
tão nova neste mundo e está aprendendo a navegar nele. — Ele
respirou fundo. — Você ficou tão feliz por não ter uma, mas de repente,
ter duas mães. Não queria macular nada tentando explicar o quão
benevolente sua mãe poderia ser e, também, quão malévola. Duas faces
extremas da mesma moeda. — Explicou.
Engoli o nó na garganta enquanto olhava para ele. Danu e Ristan
tiveram um relacionamento difícil, mas sei que ela também deve ter
amado ele, porque ela usou seu poder já limitado para corrigir seu erro
da única maneira que sabia.
— Acredito que devolver o que você perdeu foi a única maneira que
ela pensou que poderia tentar consertar as coisas. — Suspirei. Danu
certamente não era o mais fácil dos seres, isso é fato. — Obrigada por
me dizer, sei que não deve ter sido fácil. Você contou a Olivia sobre
Danu?
— Não, ela sabe que tem algum problema quando outros me
perguntam sobre Danu ou minhas visões. Não é algo fácil de falar, mas
eventualmente ela vai precisar saber.
— Sim, isso é algo grande. Manter segredos ou reter algo assim é
uma bomba-relógio. É melhor você dizer a ela, mais cedo ou mais tarde.
— Assisti as Fadas dançarem através do vale, aparecerem e depois
mergulharem nas Piscinas das Fadas. Asas iridescentes tocaram a
água, roçando a superfície serena e criando uma luz brilhante quando
a poeira das fadas pousou na água.
— Hoje é seu casamento, não devemos ficar presos no passado. E
gostaria que mantivesse o sexo do meu filho para você por enquanto.
Olivia é antiquada e prefere ficar inconsciente até o nascimento. A
menos que haja algum segredo. — Ele disse, me dando um olhar afiado.
— Como quádruplos ou algo assim, nesse caso eu gostaria saber.
— Só tem um lá. — Eu ri.
— Como você está lidando com a sua perda? — Sua mão deslizou
na minha enquanto caminhávamos pelo vale.
— Não sinto nada. — Admiti. — Destiny entorpeceu minhas
emoções em relação a isso, e até agora não fui capaz de lamentar por
isso, mesmo sabendo que deveria. Eu nem sabia que estava grávida,
por isso estou tendo problemas para envolver minha cabeça em torno
disso. Sei que teremos mais filhos na hora certa. Mais cedo ou mais
tarde, enfrentaremos os Magos. Espero fazer parte dessa luta, e não ser
vista como interferente ou intrometida.
— Synthia, se tiver que pagar um preço cada vez que interferir... —
Ele avisou.
— Não vou precisar, não quando eles estiverem aqui, neste mundo.
Destiny foi clara sobre isso. Se eles ameaçam a Terra dos Fae, é a
minha luta. A Aliança será um desafio, mas com a queda das Alianças,
é necessário mais do que nunca. O equilíbrio precisa ser mantido. Eu
posso liderar, mas não posso lutar. Também vamos precisar começar
a recrutar. Por falar nisso, você ouviu que Callaghan tem outros
Paladinos que podem estar interessados em ajudar, acho que é um
passo sábio trazer eles a bordo conosco.
— Hmm, também ouvi rumores de que Foul desapareceu. — Ele
sorriu. — Você não saberia onde ele está, saberia?
— Claro que não. — Sorri. — Você sabia que alguns Fae comem
outros Fae? — Perguntei inocentemente enquanto observava seus
lábios se contorcerem em um sorriso ofuscante.
— Não diga? — Ele falou com uma falsa surpresa, depois riu. —
Você é má, Flor. — Soltou minha mão e se virou para mim. — Vamos
voltar ao castelo para que possamos te preparar para se casar com meu
irmão. O filho da puta sortudo provavelmente não merece algo como
você. Eu sabia que você seria boa para a Terra dos Fae e Ryder no dia
em que deixei você escapar, para não mencionar que consegui beijar a
noiva antes que ela soubesse que teria um casamento. Mesmo vendo
partes do que aconteceria no futuro de Ryder, gostaria de ter me
mostrado coisas que poderia ter impedido.
— Como me cortar? — Provoquei e vi um sorriso maligno se espalhar
pelo rosto dele.
— Não... não, essa parte eu não mudaria. — Ele riu quando dei um
tapa em seu braço.
— Idiota. — Eu ri.
— Ok, talvez essa parte. Eu gostaria de pensar que poderíamos ter
evitado isso, mas então, não teríamos uma Deusa em nosso meio. E
acho que você está certa, às vezes, é preciso deixar que as peças caiam
sozinhas, para que possamos chegar onde precisamos.
— Sabe alguma coisa, Demônio? — Perguntei e esperei que olhasse
para mim antes de continuar. — Você fala demais. Leve minha bunda
para casa, preciso pintar as unhas para me casar com minha Besta.
— Oh sim, de que cor? — Ele sorriu.
— Vou colocar Nadi na minha lua de mel. — Eu ri quando ele fez
uma careta.
— E que cor é essa?
— Rosa, é bonito e seu irmão também me pergunta que cor, porque
ele está aprendendo a julgar meu humor pelas unhas.
— Homem esperto. — Disse ele.
— Concordo, é por isso que planejo manter ele para sempre.
— Para sempre é muito tempo.
— Para sempre com esse homem não será o suficiente.
Eu estava uma bagunça, pulando de pé em pé enquanto meus
nervos queimavam. Estava preocupada, fazendo uma lista na cabeça
do que poderia dar errado hoje à noite. Ristan franzia a testa para mim,
certo de que eu estragaria seus planos com o olhar selvagem nos meus
olhos.
— Se acalme. — Ele riu suavemente. — Você não tem nada a temer
esta noite, Flor, seu cunhado-Deusa das Fadas tem essa merda sob
controle.
— E se ele mudar de ideia? — Suspirei, as mãos suando com uma
combinação desagradável de nervos misturados com medo. Eu estava
com uma bola de chumbo no estômago e meu coração parecia preso na
garganta.
— Ele nunca mudaria de ideia sobre você. — Respondeu
suavemente. — Ele está tão bagunçado quanto você. — Ele
distraidamente levantou a mão de Olivia e a beijou. O gesto foi tão doce
e isso me deixou em pânico de novo.
— Parece que ela vai vomitar. — Olivia se preocupou em voz alta. —
Faça alguma coisa, Ristan.
— Estou tentando, mulher. — Ele deu um tapinha na mão dela,
tranquilizadoramente. — Fale comigo, Flor. — Ele insistiu.
— Madisyn não está lá fora. — Sussurrei enquanto mordia meu
lábio inferior. — Eles não vieram porque matei o filho deles.
— Ele era um filho da puta do mal e sabiam disso. — Ele ofereceu.
— Eles são meus pais e não tenho ninguém aqui por mim. Ninguém,
só Adam. — Sussurrei, como se alguém ouvisse.
— Acho que você ficará surpresa se essa for sua preocupação —
Olivia se preocupou com um sorriso gentil. — Vou ir para o meu lugar,
Demônio. Meus pés estão me matando.
— Me beije. — Ele exigiu suavemente, e observei enquanto a beijava
gentilmente, como se estivesse com medo de que ela quebrasse se a
tocasse demais.
Quando ela se foi, ele se virou e olhou para mim intencionalmente.
— É hora de colocar você no vestido.
— Tudo bem, mas juro pelos Deuses que vou rasgar a garganta de
alguém se ele não estiver no final do corredor quando eu sair deste
quarto.
Ele riu e balançou a cabeça. Ele criou um pequeno pavilhão com
paredes de tecido. Isso nos concedeu privacidade ao lidar com meus
ataques de pânico, nunca estive tão nervosa em toda a minha vida.
Combater Magos eu poderia lidar com os olhos fechados, mas isso?
Isso é ridículo. E senti como se fosse implodir.
Ele me assustou quando sua mão tocou meu ombro e me virou para
encará-lo. A tenda improvisada cheirava a pêssegos frescos, que Ristan
decidiu que seria o meu perfume. Sorriu quando fiz uma careta pra ele.
— Não posso criar uma obra-prima se você não puder ficar parada.
— Ele rosnou, dando um passo para trás e me liberando. — Estou
pensando em algo não tão elaborado e confuso, porque você é você.
Algo bonito, mas não muito longo. — Ele murmurou enquanto
inclinava a cabeça de um lado para o outro. — É isso aí. Bonita. —
Balançou a cabeça em aprovação quando escolheu um desenho
qualquer dentro de sua cabeça. Coloquei as mãos nos quadris e estava
prestes a falar, quando o ar estalou com magia e me envolveu ao redor,
enquanto o tecido macio passava pela minha carne.
Olhei para baixo, e me vi vestida com um lindo vestido de noiva
estilo grego. Era um vestido deslumbrante, vintage e branco, com
decote em V e flores de renda no meio e nos ombros. Era sem costas,
com uma faixa de cintura com uma saia de chiffon transparente que
caía em dobras suaves e girava quando me movia. Babados delicados
afiavam a bainha. Não era extravagante, mas foi incrível e tudo o que
eu queria.
Sorri e olhei para o Demônio. Era perfeito, e o comprimento era algo
que eu poderia lidar. Ainda estava descalça, no lugar de sapatos,
delicadas tornozeleiras de prata brilhavam em torno dos meus
tornozelos. Sorri, agradecida por ele entender como eu queria me casar
com minha besta. Assim como eu sou. Eu realmente não queria um
casamento exagerado, simplesmente não era eu.
Eu queria estar no vale, com os pés descalços, sem maquiagem no
rosto, queria que fosse simples, sem barulho ou fanfarra. Básico, como
Ryder chamou. Só o essencial.
Inclinei a cabeça, sentindo quando a brisa fresca tocou minha
bunda. Fiz uma careta e olhei para Ristan, que sorriu um pouco mais
do que eu gostaria.
Senti um tecido macio cobrindo minha bunda, enquanto Ristan
sorria, embora não parecesse que ele estava olhando para mim. Ele
estava concentrado agora no que eu usava por baixo do vestido. Senti
correntes enquanto elas se enrolavam na borda inferior da minha
barriga, delicadas e faziam um barulho suave quando eu me movia. A
calcinha parecia que mal estava lá, o suficiente para encobrir pouca
coisa.
— Demônio. — Avisei, imaginando o que ele tinha feito.
— O homem merece essa bunda enrolada em um arco. Depois de
tudo que vocês dois passaram? Você está sendo servida como um
presente muito atraente e bonito. Além disso, é a minha reputação de
um cunhado-Deusa das Fadas na linha aqui, Flor. Eles não podem
falar sobre isso, certo? — Ele riu.
— Meu cabelo? — Perguntei, e ele sorriu.
— Tudo em seu tempo. — Ele deu um tapinha no meu ombro. —
Primeiro, joias. — Disse e começou a acenar com os dedos mágicos.
Senti pressão em meus braços enquanto as faixas prateadas da realeza
envolviam meu bíceps superior, as pulseiras de prata com o brasão dos
Dragões de Ryder gravado nelas. Pequenas e finas pulseiras de prata
que faziam música quando eu movia os braços em volta do pulso, sorri,
gostando da direção em que ele estava indo. Se a coisa como Demônio
não desse certo, ele sempre poderia ser um estilista.
Ele arrastou dois dedos ao longo da minha clavícula em um
movimento em V e em volta do meu pescoço, e os arrastou pelas minhas
costas, deixando para trás um colar que era simples, mas bonito. O
design era muito art déco e provavelmente usado por volta de 1912. Era
composto de almofadas e águas-marinhas de formato oval, que foram
unidas por minúsculos diamantes e formas de asas de prata que
compunham a corrente do colar. Traçando o fecho do colar nas costas,
tinha um colar de diamantes, que descia até o arco da minha bunda.
— Passe para a coroa e cabelo, quero ver Ryder. — Eu ri quando ele
olhou um pouco demais para as joias. Com essa demora eu nunca
chegaria ao altar. Seus dedos se moveram, enrolando meu cabelo
enquanto ele o amarrava e empilhava no topo da minha cabeça com
pequenas flores misturadas nos cachos. A coroa era uma simples faixa
de platina, e no centro estava a marca do Reino do Sangue esculpida
em rubi.
Ele inclinou a cabeça e depois mexeu os dedos de novo, e quando
olhei para baixo para ver o que ele tinha mudado, as águas-marinhas
do colar combinavam com o rubi da minha coroa.
— Você acha que eles vão vir? — Soltei ansiosamente.
— Acho que eles não te culpam pelo seu irmão. Ele era mau muito
antes de você nascer e eles ficaram calados. Sinto que eles lamentam,
não importa o que ele era ou o que se tornou, era filho deles. — Ele
falou suavemente, sua carranca aumentando quando mexeu os dedos
de novo, e meus ouvidos estavam levemente pesados, levantei a mão,
tocando os brincos de candelabro que com certeza combinavam com o
colar e a coroa. — Feito, está na hora, flor. Adam está esperando para
te acompanhar.
— Diga a ele que estou pronta. — Respondi, me virando para olhar
no espelho. — Oh uau. — Sussurrei enquanto observava a linda noiva
que olhou para mim. — Você realmente gosta de ser um cunhado-
Deusa das Fadas.
— Obrigado e se lembre disso. — Ele riu enquanto se curvava e
penetrava na estrutura que parecia uma tenda e Adam entrou alguns
momentos depois.
— Eu estava esperando lá fora... oh uau. — Adam gaguejou,
enquanto observava meu reflexo. — Agora já são três vezes que você se
preparou para um casamento. — Disse ele. — Acho que você fica mais
bonita com cada um, mas isso é a perfeição no seu melhor.
— Você parece muito bom também. — Sorri quando peguei seu kilt
e faixa. — A mesma roupa que você usava para o nosso casamento.
— Não poderia deixar isso de lado, afinal, meu feitiço ainda não está
impecável. Então, vamos fazer isso, menina. — Ele sorriu com uma
piscada maliciosa e me ofereceu seu braço.
Passei meu braço pelo dele e engoli enquanto lutava para acalmar
os nervos e borboletas que me atacavam. Saí da tenda e ofeguei. A
floresta estava viva com o brilho de mil duendes. Pequenos frascos
pendiam das árvores, pequenos duendes dentro deles dançando
enquanto a poeira iluminava a jarra, dando um brilho colorido.
A floresta verdejante estava coberta de flores de todas as cores. O
chão coberto de rosas vermelhas sangue. Kahleena deu uma risadinha
e lágrimas encheram meus olhos quando vi seu vestido vermelho, que
era mais plissado e macio do que qualquer garota jamais deveria usar.
Me ajoelhei, estendi os braços e a peguei quando ela correu para
eles. Eu não a via há dias, e cada momento foi uma tortura.
— Oh, meu doce bebê. — Sussurrei quando me afastei e olhei nos
olhos dourados que eram tão parecidos com os do pai dela. — Você está
linda. — Engoli em seco, tentando não chorar. Levantei, procurando
pelos meninos.
— Eles estão com seu pai e Ryder. — Adam ofereceu. Sorri e estendi
meu braço, só para ver que Adam congelou no lugar, junto com
Kahleena. Procurei na área e meu sangue congelou quando me senti
caindo.
Caí de pé em uma sala que tinha enormes incêndios queimando em
diferentes locais dentro dela. Chamas saltaram dos caldeirões gigantes,
e homens e mulheres andavam por aí, conversando, bebendo e de
maneira moderada, quase pareciam estar aproveitando uma festa, até
que me notaram enfeitada com minhas roupas de noiva.
— Oh vamos lá! — Rosnei enquanto pisava para frente, sentindo
Destiny antes de ver ela na frente da multidão bastante grande. — Eu
estava me casando! — Briguei e então parei quando notei o sangue
respingado em suas vestes. Seu nariz pingava sangue, como se ela
estivesse em uma briga recentemente.
— Synthia. — Disse Destiny em um tom manso que nunca a ouvi
usar antes. Ela se virou para encarar um homem que me observava
enquanto eu lentamente caminhava para frente. Todos os meus
movimentos eram acompanhados por um leve som de carrilhão. As
joias delicadas que eu usava anunciavam cada movimento meu. — É
hora de você conhecer o nosso rei. — Ela murmurou baixinho enquanto
acenava para um homem bonito, que me observava com olhos
castanhos chocolate. Tinha um brilho radiante que emanava dele que
quase machucava meus olhos. — Ele é conhecido por muitos nomes.
Alguns o conhecem como Atum, outros o adoram como Caos... ele
estava lá no começo. O primeiro de nós.
Seu cabelo era de um tom loiro-branco, lembrando a cor das praias
arenosas do Caribe. Ele estava bronzeado, como se passasse dias
inteiros nessas praias, e o ozônio que flutuava dele falava de imensa
energia elétrica. Não sabia se deveria fazer reverência ou me ajoelhar.
— Por que estou aqui? — Perguntei e estremeci quando as pessoas
na sala explodiram em conversas sobre mim e minha falta de educação.
— Você ficará em silêncio até que eu permita que seja diferente. —
Disse Caos ou Atum, ou seja lá qual fosse o nome dele. E decidi que
sua aparência poderia causar caos onde quer que ele fosse, mas parecia
estranho em minha cabeça chamá-lo assim. — Ela é muito nova e
definitivamente não é Fae fingindo ser uma de nós. Interessante, você
se parece com ela. Danu escolheu sacrificar a vida dela pela sua. Ao
fazer isso, ela lhe deu a vida dela. — Ele murmurou, e forcei meus
ouvidos para ouvir. — Pensei que você era como os outros Fae fingindo
ser um Deus para coletar seguidores e fast food.
— Ouvi falar disso, mas não sou um deles. — Admiti.
— O que você pretende fazer com o sacrifício dela? — Perguntou,
ignorando as Deusas e Deuses que riram atrás de mim.
— Planejo continuar o que ela começou. E quero que os Fae fiquem
onde eles pertencem: na Terra dos Fae. Farei o meu melhor para
mantê-la viva, não importa qual seja o custo. Entendo que os Fae
inundando o reino dos Humanos é algo que nenhum de vocês deseja,
e pretendo garantir que eles não fiquem lá.
— Não os deixou sair, então não é problema seu. — Ele respondeu,
como se o que eu pretendesse fazer o intrigasse. — Por que isso?
— Porque ela é minha mãe e eles são o seu povo. Porque fui criada
como humana e me preocupo com eles também. Por que eu não
tentaria manter os Fae sob controle?
— Porque é um problema de Danu, e facilmente corrigido. — Uma
voz profunda e sensual falou atrás de mim, me virei e olhei para o alto-
falante, e encontrei os mais lindos olhos azuis que já vi em toda a
minha vida me observando.
— Facilmente consertado? — Perguntei.
— Quem você acha que neutralizou a primeira raça dela? Ela criou
dragões e outras criaturas que não estavam ligadas a nenhum mundo,
e eles ameaçaram muitos dos que nós Deuses criamos.
— Zeus, se apresente a nossa visitante. — Atum advertiu.
— Zeus. — Ele disse rapidamente.
— Synthia. — Cumprimentei com um aceno firme. — Estou ciente
da primeira raça, mas não estava ciente de que você a ajudou. Os Fae
acham que ela os fez se rebelar. — Ele me deu um olhar
condescendente, como se tivesse pena de mim.
— A maioria deles foi derrubada, mas nem todos. Então ela criou o
Alto Fae e o resto das castas e criaturas e os ligou à Terra dos Fae. Ela
não conseguiu trazer eles para nós, nem divulgar o que tinha feito.
Esses seres antigos compartilham um mundo com você. — Ele disse
suavemente com um sorriso malicioso enquanto via o olhar de
confusão nos meus olhos.
— E você tem certeza disso? — Perguntei.
— Você acha que eu minto?
— Eu não te conheço, então não sei se mentiria. O que sei é que
vários seres me disseram que se a Terra dos Fae morrer, todas as
criaturas daquele mundo vão tentar pular para o mundo destinado aos
Seres Humanos. Se isso acontecer, os dois mundos serão destruídos.
Eu cresci naquele mundo e acho que ela me queria lá para que eu me
importasse com os humanos também. Ela queria que eu apreciasse os
dois mundos, então pretendo fazer o meu melhor para parar a
destruição da Terra dos Fae e procurarei uma maneira de curar esse
mundo, da melhor maneira possível, policiarei os Fae que escaparam e
farei com que cumpram as leis da Horda, além de tentar manter os Fae
restantes na Terra dos Fae.
— Pretende manter sua mãe viva também? — Atum interrompeu.
Olhei para ele e considerei porque ele estava nessa linha de
questionamento. Era algum tipo de teste? Mordi o lábio e inclinei a
cabeça.
— Se pudesse, eu faria. — Admiti. — Francamente, acho que a razão
dela estar morrendo é besteira.
Ouvi os outros Deuses começarem a argumentar que eu deveria ser
punida ou banida, mas Atum permaneceu em silêncio, me encarando
com curiosidade.
— É raro uma garota que fica na frente de um rei e fala o que pensa,
mesmo quando sabe que isso poderia acabar com a própria existência.
— Sim, eu tendo a não ter um filtro, e às vezes eu vomito as coisas
assim. Isso é algo que a maioria das pessoas costuma aprender sobre
mim rapidamente. — Admiti e observei enquanto ele jogava a cabeça
para trás e ria.
— Com todo o respeito, Atum. — Comecei, esperando não acabar
com uma pilha de cinzas. — Destiny e Danu, em poucas palavras, me
disseram que isso é seu. Que esse era o preço que ela precisava pagar
por interferir comigo, e que não tem nada que eu possa fazer sobre isso.
Então, no final do dia, essa é uma conversa inútil. Uma coisa que sei
no meu coração sobre a morte, e já a experimentei o suficiente, é que
só porque um corpo morre, não significa que a memória se esvai. Você
pode manter alguém vivo até o fim dos tempos, desde que se lembre
deles. Eles moram dentro de você. Eles alteram quem você é com a
presença deles e se tornam uma parte de você. Ela é minha mãe, mas
também era minha protetora. No pouco tempo em que a conheci, ela
me mudou mais do que aqueles com quem vivi todos os dias da minha
vida. Então, respeitosamente, vou manter Danu viva em minhas
memórias – ela é a Terra dos Fae. Ela está dentro de tudo o que é a
Terra dos Fae e, portanto, sempre fará parte de mim e do que vou
proteger.
Limpei uma lágrima que desceu pela bochecha e engoli contra o
aperto na garganta.
— Você ama ela. — Ele murmurou e seus olhos suavizaram, se
sentou e olhou para mim, me fazendo me mexer sob a intensidade. —
Você se parece com ela, tão bonita e cheia de fogo. Não acredito que ela
tenha tomado sua decisão às pressas. Ela se viu quando olhou nos
seus olhos, assim como eu.
Gostaria de saber se Danu teria se envolvido com Atum em algum
momento. Eu poderia jurar nas mitologias que li na aliança que ele
tinha uma consorte ou esposa ou algo assim, então me perguntei se ele
ficou na horizontal com Danu. Atum não me pareceu ter a mesma
reputação de Zeus. Zeus foi narrado em quase todas as histórias, por
ter ficado com praticamente qualquer pessoa, Deusas e Humanos. Os
olhos de Atum sorriram como se ele pudesse ler meus pensamentos.
Oh, por favor, não permita que ele tenha ouvido isso. Por favor?
— Fingirei que não ouvi seus pensamentos, criança. — Ele brincou,
e a multidão riu.
Bem. Merda.
— Você recebeu vários avisos sobre se intrometer com os Humanos,
e ainda assim persistiu. Preciso saber que, se você sair daqui, não irá
interferir nos assuntos deles de novo. A próxima vida que será tirada
será aquela que você conhece e ama.
— Magos entraram na Terra dos Fae e pegaram algo de mim. Eu
simplesmente peguei de volta. Não pretendia fazer mal ou desrespeitar,
mas não parecerei fraca, e você também não. Eles também não eram
Humanos, eram criaturas de ambas as raças e pretendiam prejudicar
os Fae, e os Humanos eram só danos colaterais para eles.
— Existem regras que você deve aceitar. E preciso da sua palavra
que você me entende. Destiny me informou de seus planos para uma
nova Aliança na Terra e, embora eu não possa dar permissão, também
não posso dizer não. É meu dever advertir que, se você seguir este
curso, todos os seus passos e atitudes serão monitorados. Pise com
cuidado e verifique que, se você fizer um pedido, ele deverá ser atendido
com livre arbítrio. Não pode exigir que façam isso ou forçar o resultado.
Você pede e assiste. Não participa enquanto estiver nesse solo.
— Anotado e concordado. — Respondi. — E pretendo administrá-la,
mas não pretendo forçar ninguém a estar lá, ou se tornar empregado
sem o seu livre arbítrio. Ao contrário da Aliança, estarei no controle,
mas ficarei nas sombras, pois os outros são o rosto disso.
— Você cheira a ela. — Ele comentou sem rodeios. — De todas as
minhas mulheres, ela era minha favorita.
Oh, santos peidos barulhentos de fadas.
— Saiba que minha consorte está na sala e não irei de “homem das
cavernas”, como você diria. Volte para o seu casamento, mas faça com
cuidado, pois não darei mais avisos, por mais que eu tenha me
importado com sua mãe. Vá. — Ele ordenou, sacudindo a mão, e eu
estava de volta.
Olhei para Adam e Kahleena preocupada, pois eles ainda estavam
congelados no tempo. Ah, merda. Que merda aconteceu?
— Synthia. — Destiny chamou suavemente ao meu lado. Suas mãos
seguravam uma corrente delicada com um cristal azul do tamanho da
minha unha mindinha pendurada nele. — Quando estiver pronta,
engula. — Disse suavemente. — Isso vai criar raízes e o resto vai
acontecer como deveria ser. Estarei aqui se você precisar de mim. Sua
mãe é... — A dor disparou através de mim e uma rajada de vento
enorme sacudiu as árvores gigantes. A Terra dos Fae chorou, gritando
de dor, balancei os pés enquanto lágrimas enchiam meus olhos. — Se
foi, ela se foi. — Gritou Destiny suavemente, profunda tristeza gravada
em seus olhos.
O colar acendeu por dentro e olhei para ele brevemente antes de
tirar do meu pescoço a delicada corrente do colar que Ristan criou e
substituí-lo pelo que Destiny me deu. Minha mão o envolveu e fechei
os olhos enquanto rezava para que tudo desse certo.
— Case com ele, Synthia. Ele esperou tanto tempo por você. Sua
mãe aprovou e ela criou a companheira perfeita para ele com sua
própria essência. Seja abençoada e, de novo, se precisar de mim, tudo
o que você precisa fazer é sussurrar meu nome ao vento. — Ela disse e
desapareceu.
— Que merda aconteceu? — Adam exigiu, os olhos verdes tricolores
olhavam para mim como se estivesse alucinando. — A Terra está
chorando. — Ele murmurou, sentindo o que todos os seres vivos dentro
da Terra dos Fae sentiram.
— Danu está morta. — Murmurei, deslizando meu braço pelo dele
enquanto me endireitava e olhava para Kahleena, que não conseguia
entender o que estava sentindo. — Fique em pé, filha minha.
— Mamãe. — Ela sussurrou tristemente, e me perguntei se até os
inocentes da terra entendiam a gravidade do que acabou de acontecer.
— Mamãe. — Ela choramingou quando correu para mim e agarrou as
dobras do meu vestido, enterrando o rosto no tecido macio. Me inclinei,
pegando e ergui ela no meu quadril.
— Vamos ficar bem, Kahleena, não importa onde estamos.
Balancei a cabeça para Adam, e começamos a andar em direção aos
salgueiros que impediam os outros de nos ver. Adam acenou com a
cabeça para uma mulher que nos deu um olhar cauteloso, e ela
enxugou os olhos quando começou a música.
All of Me de John Legend tocou e sorri. Forcei Ryder a escolher uma
música, foi a única coisa que ele foi convidado a fazer. Os salgueiros se
moveram e olhei para o meu Rei. Ele estava vestido com sua armadura,
o tradicional para a Horda.
Pedi que todo o casamento fosse uma homenagem ao seu povo, e
eles foram autorizados a assistir. Meus olhos se voltaram para o meu
lado do corredor que supus que estaria vazio, mas não estava. Madisyn
estava lá, meu pai e toda a minha família Fae de Sangue. Alden estava
ao lado deles, junto com Lucian e seus homens. Adrian assentiu e
murmurou 'uau', o que causou um rosnado no final do corredor. Sorri
através das lágrimas e soprei um beijo para ele, mesmo que isso me
obrigasse a me curvar mais perto da palma da mão, já que Adam
segurava meu braço.
Me inclinei para deixar Kahleena ir e ela recebeu uma cesta e sorri
quando ela sorriu maliciosamente e jogou um punhado para mim antes
que ocupasse seu lugar na minha frente. A pequena diabinha. Meus
olhos levantaram de seus cachos saltando para os olhos dourados
correspondentes e eu era um caso perdido.
Comecei a me mover em direção a Ryder, e peguei Adam
desprevenido, enquanto ele esperava uma sugestão. Mas não esperei
por ele, porque agora estava me casando com meu homem, e faria isso
antes que qualquer outra coisa pudesse acontecer.
Soltei o braço de Adam e me virei, batendo contra Ryder com um
sorriso quando estendi a mão e puxei sua boca na minha.
— Eu totalmente aceito. — Sussurrei.
Risos irromperam das fileiras de pessoas.
— Pulou os votos. — O Sumo Sacerdote advertiu um sorriso irônico.
Sorri contra a boca de Ryder e ri quando ele me levantou e segurou
meus cabelos, rosnando quando seus lábios encontraram os meus em
um beijo esmagador. Tosses irromperam atrás de nós e me afastei e
sorri para ele, mas seus olhos procuraram os meus. Ele sabia que ela
estava morta, ele sentiu. Todos sentiram.
— Sinto muito, Animalzinho. — Ele sussurrou.
— Está tudo bem, sei como consertar isso. — Respondi enquanto
me afastava e deslizava por seu corpo. — Vamos nos amarrar, Fada.
Rápido, antes que algo aconteça.
— Depressa. — Disse ele, se virando para o Sumo Sacerdote.
Demorou dez minutos para repetirmos nossos votos e cinco para nos
afastarmos da multidão de espectadores, me troquei para a festa e sorri
quando percebi que ele não se trocaria.
— Armaduras? — Perguntei. — Como você planeja dançar comigo?
— Eu posso precisar dessa armadura para proteger meus pés de
sua dança desajeitada, Bruxa. — Ele brincou.
— Nós estamos casados. — Pensei enquanto mordia o lábio. — Me
foda, fada. A primeira vez que te conheci, tinha certeza que te mataria.
— E eu tive certeza que te foderia. — Ele riu. — Nunca quis tanto
algo em toda a minha vida. Eu queria transar com você até que você
me implorasse para parar, e então eu pretendia te curvar e continuar
até que a única coisa que você soubesse dizer era o meu nome
enquanto você gritava aos Deuses.
— Você e essa boca, Fada. — Eu sorri. — É melhor você manter esse
pensamento e guardar essa merda para a lua de mel.
— Você ainda acha que deveríamos ir? — Perguntou. Suas mãos me
puxaram para perto e ele passou os braços em volta de mim.
— Acho mais do que nunca que devemos ir. Sempre terá algo
tentando nos matar, e tudo bem. Vamos enfrentar o que vier. Não
podemos mais viver com medo. Isso quase nos destruiu. Então, sim,
estamos indo para a maldita lua de mel, e terá praias e estaremos nus
nelas. E pretendo montar esse pau em todos os tipos de posições
diferentes, e fazer coisas muito ruins para você.
— Foda-se a festa. Vamos, vamos agora.
— De jeito nenhum. — Eu ri. — Quero ver nossos filhos antes de
partirmos, senti tanto a falta deles.
— Tudo bem, vamos ver eles e depois escapamos.
Pensei que pularíamos as tradições humanas na recepção, mas não
foi assim. Tinha o corte obrigatório do bolo e eu pude passar um pouco
de glacê no rosto de Ryder antes que ele pintasse uma mancha nos
meus lábios e depois a lambesse. Embora não estivesse acostumado a
falar em público algo que não fosse relacionado a batalhas ou
treinamentos, Zahruk fez o seu melhor para fazer o brinde antes de
Ristan interromper e tomar o brinde por um caminho muito mais
atrevido. Adam criou um buquê para eu jogar, e Darynda o pegou,
depois perguntou ansiosamente a Adrian o que deveria fazer com ele.
Depois veio a dança do pai e da noiva. Dancei desajeitadamente com
meu pai e ele me disse que estava feliz por Faolán ter morrido e não
poder mais nos tocar e explicou que, enquanto eles precisavam de
espaço após a morte dele, ter os bebês ali os ajudou a se curar e ver a
razão pela qual isso aconteceu.
Alden dançou comigo em seguida, e o velho poderia cortar um tapete
para sua idade, e ele garantiu que não era tão velho quanto eu sempre
o fiz parecer. Depois dancei com meus irmãos e ri às custas deles com
as mulheres que vieram com eles. Até Liam me pediu para dançar.
Adrian deu uma volta comigo também, e quando dancei com ele,
Ryder conseguiu não puxar sua espinha pela boca, como havia
ameaçado muitas vezes antes.
— Você está tão bonita hoje à noite. — Comentou Adrian enquanto
me observava. — Acho que tem pouco a ver com a roupa, e tudo a ver
com esse sorriso em seus olhos. Eu quase te odeio porque você é tão
feliz sem mim.
— Estava feliz com você ao também, mas éramos crianças. —
Respondi gentilmente enquanto envolvia meus braços em volta do
pescoço e sorria enquanto dançávamos. — Esse tipo de amor, não
duraria. Não estávamos apaixonados tanto quanto amávamos a ideia
de estar apaixonado.
— Eu sei que te amei. — Afirmou. — E ainda te amo, e sempre vou.
Você sempre o amará, e está tudo bem. Estou feliz porque você está
feliz. Além disso, vocês fazem filhos muito fofos. Você terá outros,
eventualmente.
— Você sabia que eu estava grávida. — Os olhares preocupados dele
e de Vlad faziam sentido agora. Seus olhos turquesas percorreram a
sala antes de finalmente voltar aos meus.
— Ouvi o batimento cardíaco, mas você não parecia saber. Não era
hora de falar disso. Estávamos no campo e sei que você o ignoraria,
não importa o que eu dissesse. Além disso, acho que não teria durado
muito mais tempo. O batimento cardíaco estava lento, fraco.
Provavelmente porque sua mãe estava exausta e não fazia ideia que
precisava descansar. Não foi sua culpa, às vezes, essas coisas
simplesmente acontecem.
— Eles o tiraram de mim, por interferir no mundo humano. —
Respondi enquanto o observava franzir a testa com a notícia. — Eu não
sabia que estava grávida, mas matei um Executor, e não importava que
ele fosse realmente um Mago. Estava enlouquecendo com a Deusa, e
não entendi o que eles queriam dizer que um sacrifício seria exigido de
mim se eu não parasse de interferir nos assuntos humanos. Então,
lição aprendida. Posso dar ordens lá, mas não posso ser uma
participante ativa ou eles vão exigir outro sacrifício. Sei que vou
precisar de muita ajuda para administrar a nova Aliança e preciso
encontrar pessoas que a manejem e sigam minhas ordens sem sentir
que estão sendo forçadas ou coagidas.
— Falando em guerra no seu próprio casamento? — Adam
interrompeu quando cortou e me girou. — Tsk, o que vamos fazer com
você?
— Me amar? — Sorri. — Você vem comigo para a Aliança quando
começamos a recrutar, certo? — Perguntei e Adam franziu a testa.
— Keir está me enviando para as Torres da Escuridão porque é hora
de encontrar minha noiva desaparecida. — Disse ele com um olhar de
dor. — Eu deveria dividir meu tempo entre lá e a administração do
Reino da Luz, mas ainda estarei perto de você. Se você precisar de mim,
posso dizer a ele que deixarei de lado meus deveres para servir a recém-
coroada Rainha da Horda.
Olhei para onde Keir estava falando com Ryder, cujos olhos me
procuraram na pista de dança, já estava prestes a me aproximar dele
quando o som de risadas chamou minha atenção.
Me virei, encontrando os homens com os bebês, jogando o que
parecia ser um sobre o outro enquanto as mulheres ao seu redor os
encaravam.
— Com licença, acho que meus pequenos animais estão sendo
usados para pegar boceta. — Gemi enquanto me movia na direção dos
homens, encontrando Sinjinn me observando enquanto me aproximei.
— Você está deslumbrante, irmã. — Observou ele. — Dificilmente é
hora de casar quando nossa irmã de carne e osso está desaparecida,
você não concorda, Synthia?
Fiquei surpresa com as palavras dele e balancei a cabeça em
negação. Sinjinn era uma daquelas pessoas que podiam ser muito
divertidas, mas você nunca sabia quando elas eram provocadoras ou
sérias.
— Ciara está lidando com sua situação. Sempre terá uma ameaça
pairando sobre nossas cabeças. Devemos parar a vida toda vez que isso
acontecer? Você acha que conseguiríamos viver se parássemos para
lidar com todas as ameaças que surgissem à nossa porta?
Ele engoliu em seco e senti o zumbido elétrico de Ryder enquanto
ele estava nas minhas costas. Ele não disse nada, nem os outros,
apenas estava me apoiando silenciosamente, mas não assumiu o
controle.
— Ouvi dizer que você arrancou a garganta do líder dos Sluagh? —
Sinjinn perguntou depois de ter considerado minhas palavras.
— Sim. Me disseram que, para liderar a Horda, é preciso se tornar
um deles. Vamos trazer Ciara de volta, mas ela me pediu para deixá-la
lá. Tem algo que ela quer fazer e tenho que lhe dar essa chance. Ela
ganhou isso. Se ela não estiver em casa logo, vou trazer ela de volta.
Ela me pediu para confiar nela, e é isso que a família faz. Eles protegem
suas costas, mas também confiam em você. Ciara não é fraca, ela é a
Princesa da Horda. Tenho certeza que se ela estiver em perigo, mais
gargantas serão dilaceradas. Dê a ela uma chance e se surpreenderá.
— Acredito que esta dança é minha, Animalzinho. — Ryder
interrompeu quando deslizou os dedos pelos meus e me puxou para a
pista de dança enquanto os outros olhavam. A música Thinking Out
Loud de Ed Sheeran começou a tocar. — Você tem exatamente uma
última música e uma última dança antes que eu arranque esse vestido
de você e a leve na frente de todos aqui.
— Uma canção? — Sorri.
— Primeiro, porque no momento em que te vi andando no corredor,
eu não queria fazer mais nada além de arrancar esse vestido e deslizar
lentamente em você.
— Lentamente? — Perguntei baixinho, meus olhos presos em seus
lábios quando ele nos moveu pelo chão. — Essa é nova. — Sussurrei.
— Eu não acho que você pode me levar devagar.
— Isso é um desafio? — Ele brincou, seu olhar reverente me aqueceu
quando ele nos moveu – e, ao nos mover, quero dizer que meus pés
estavam nos dele, e ele dançou sem esforço, sem perder um passo.
— Você pode apostar que é. — Eu ri e depois fomos embora.
Fui jogada na cama, o som suave das ondas batendo na costa me
fez sentar e olhar ao redor da praia iluminada pela lua em que a
gigantesca cama estava situada. Não era exatamente a ideia que eu
tinha em mente para começar nossa lua de mel, mas gostei.
— Nós nem nos despedimos. — Brinquei.
— Você me desafiou, deve saber agora que levo os desafios a sério.
— Desafiei você? — Dei a ele um sorriso malicioso. — Não me lembro
de ter acontecido assim. — Eu ri quando ele balançou a cabeça. Seus
olhos brilhavam com um milhão de estrelas presas nas profundezas
âmbar.
— Lentamente, foi o desafio? Posso fazer você implorar por mim,
trabalhando neste corpo... lentamente, por horas.
— Merda. Acho que vou gostar tanto quanto você, Fada.
— Duvido. — Ele rosnou quando se inclinou e reivindicou meus
lábios.
Sorri para ele, me sentindo tímida, o que não fazia sentido,
considerando que já o vi despido um milhão de vezes, assisti enquanto
ele removia cada peça da armadura lentamente, sei que fez isso para
mostrar, mas eu o queria agora. Aquele belo corpo masculino me desfez
e me fez sentir como se toda vez fosse a primeira. Essa besta, essa
criatura mítica que eu amava, me desfez. Esse homem é a minha vida.
Em algum lugar no meio da luta contra ele, me apaixonei por ele tão
profundamente que não me importava mais se houvesse um fundo nas
profundezas pelas quais me apaixonei por ele.
— Você é tão bonita. — Ele rosnou, e lágrimas encheram meus
olhos. — O que foi? — Ele hesitou, sentindo meu desconforto.
— Eu te amo. — Sussurrei através do aperto da minha garganta. —
Eu te amo tanto que mordi um pescoço desagradável e fedorento e
matei um monte de criaturas só para te recuperar.
— E isso te assusta?
— Não, eu faria isso de novo em um piscar de olhos. E até beberia
o sangue dele por você.
— Então por que as lágrimas? — Perguntou.
— Porque eu te amo. — Sussurrei e me recostei nos travesseiros e
olhei para ele com tristeza. — Você é o meu mundo, Ryder. Antes eu
queria te matar e agora ... agora não consigo imaginar um mundo onde
você não existe. — Seus olhos brilharam por dentro. — Pensei que tinha
te perdido e destruiria tudo para te recuperar. Isso me assusta, porque
imagino que se fosse necessário, eu faria. Acho que nada teria me
parado.
— Você fez o que precisava fazer. — Ele disse suavemente, sem
culpa ou castigo em seu tom. — Você é feroz e eu também não consigo
imaginar um mundo sem você. Não tenho certeza de como fiz isso antes
de te conhecer e nem quero lembrar quem eu era antes de você. Meu
mundo era preto e branco, e então você entrou nele com esses ferozes
olhos azuis que me desafiavam a todo momento e acrescentavam cor
ao meu mundo. Você é minha fraqueza, mas também é minha maior
força. — Ele olhou para baixo e abriu minhas pernas e mudou para
sentar entre elas.
Ele sorriu quando me levou, ainda vestida com meu elegante traje
de recepção de casamento. E sorri quando ele me puxou para cima, me
forçando a sentar. Sua boca abaixou, beijando meu pescoço antes que
ele se levantasse e me trouxesse com ele. Ele lentamente virou meu
corpo até minhas costas estarem contra seu peito. Seus braços me
envolveram, uma mão encontrando minha cintura enquanto a outra
explorava lentamente a curva do meu pescoço. Sua boca abanou a
parte de trás do meu ombro, beijando suavemente enquanto
empurrava as tiras para baixo até meu ombro ficar nu para sua
exploração de lazer.
Tremores percorreram minha espinha quando o calor de sua boca
colidiu com o ar frio da noite. Sua língua me tocou, mas foram seus
lábios que me levaram à beira da loucura. O vestido deslizou
lentamente e se acumulou aos meus pés. Ele lentamente se moveu ao
meu redor e recuou, olhando para a calcinha quase diáfana e as finas
correntes delicadas com os pequenos sinos que tocavam quando eu me
movia.
— Presente de Ristan para você. — Expliquei, ainda me sentindo
tímida quando sabia que não deveria. Mas não pude evitar, ele me
deixou nervosa. Seus olhos explorando vagarosamente minhas curvas
expostas me deixaram nervosa. Ele ficou de joelhos e fez a última coisa
que eu esperava. Ele beijou minha barriga e olhou para mim com um
olhar de preocupação.
— Teremos mais. Quando você estiver pronta, podemos ter quantos
quiser. — Ele sussurrou antes de continuar beijando minha barriga
enquanto minhas mãos descansavam em seus cabelos.
— Eu sei que o perdi, mas é como se tivesse sido tirado de nós antes
de ser nosso, se isso faz sentido. — Respondi densamente, lutando
contra as lágrimas não derramadas que ameaçavam cair.
— Eu sei, mas nós sabemos. — Ele sussurrou quando se levantou
e olhou para mim.
— Não podemos ter outro bebê com os Magos por aí. — Respondi,
me perguntando se poderia fazer de novo. Ter um filho não era
planejado, mas já tínhamos três. Eles eram lindos e cresciam mais
rápidos do que podíamos prever.
— Então, vamos esperar até eliminar eles. — Anunciou.
— Ok. — Concordei.
— Quero dizer, a próxima semana deve estar aberta para a criação
de nosso próximo lote de crianças, considerando que minha garota
sedenta de sangue só sai arrancando gargantas e cortando joelhos de
gigantes. Parece bom para você? — Perguntou, parecendo mais
humano do que nunca.
— Seu idiota. — Eu ri. — Nunca vão me deixar esquecer isso, né?
— Nunca, uma mulher que arranca gargantas e derruba membros
da Horda como se fossem meras crianças, é para manter. — Afirmou.
— Meus homens não paravam de me contar o que você fez na minha
ausência, eu estava quase com medo de que eles me pedissem para
coroar você o Rei. — Ele riu de brincadeira, me apoiando enquanto
sorria para mim. — Quando te conheci, sabia que você era algo
especial. — Ele admitiu. — Mas nunca poderia imaginar o que você se
tornou. E não acho que Destiny teve um papel enorme em me trazer
até você, ou você para mim. Acho que estávamos fadados às estrelas e
que, não importa o caminho que seguimos, elas teriam nos unido.
— Olhe para você, sendo todo doce e essas merdas. — Eu ri.
— Agora, vá para a porra da cama, tenho que provar que você está
errada. — Ele ordenou e me empurrou, me pegando desprevenida.
Pousei na cama e sorri ao sentir o fino pedaço de tecido desaparecer
com um breve e feliz som de carrilhão. Ele se inclinou sobre o meu
corpo nu, prendendo meu queixo com os dedos enquanto sua boca
descia sobre a minha. Ele não apressou o beijo, ao invés disso, deixou
o calor de sua boca me confortar enquanto afastava minhas pernas, e
sua língua se aprofundou, reivindicando a minha em um beijo suave.
Gemi quando senti seu pênis contra a minha carne, esfregando
enquanto ele movia seus quadris na mesma dança sedutora que sua
língua tocava na minha boca, senti quando sua magia tomou conta de
mim, enviando mil beijos sobre minha pele exposta, queria exigir que
ele entrasse em mim. Agora. Sem mais espera, ao invés disso, ele
brincou, me forçando lentamente a balançar contra seu pau enorme
buscando atrito.
Cada vez que meu corpo se aproximava da liberação, ele se afastava,
só para começar de novo. Ele mordeu meu lábio, puxando e soltando
cada vez que se afastava de mim.
— Lento e fácil, Animalzinho. — Ele avisou, e rosnei profundamente
no meu peito. Ele abaixou a boca lentamente para um seio, chupando
e deixando os dentes roçarem a carne delicada antes de passar para o
próximo fazendo o mesmo.
— Ryder, você está tentando me matar? — Perguntei, e recebi uma
risada contra a minha barriga enquanto lentamente beijava seu
caminho para meu núcleo aquecido. Momentaneamente sua boca
pairou, mas não me tocou onde eu precisava dele. Ao invés disso, ele
traçou o interior das minhas coxas com as pontas dos dedos, deixando
sua boca seguir a liderança deles. Eu estava molhada, tão molhada –
pingando de necessidade.
— Estou fazendo amor com você. — Ele sussurrou com voz rouca,
seus olhos brilhando com fome enquanto suas marcas pulsavam, e
suas asas explodiram em suas costas. Beleza etérea, e ainda assim eu
não sentia medo de nenhuma de suas formas, amo todos elas porque
aceitei tudo o que ele é, e tudo o que ele não é. Este homem é meu
melhor amigo, minha outra metade, até nas coisas ruins.
Seus dedos deslizaram pelo meu ápice, encontrando molhado de
desejo. Ele se aproximou, deixando seu hálito quente até que eu estava
me contorcendo contra os lençóis de seda com a necessidade.
Sua boca se aproximou e sua língua disparou, trabalhando
lentamente de trás para frente, empurrando para as profundezas
aquecidas da minha boceta até que eu estava chorando por mais.
Dedos empurraram para dentro, se curvando quando ele encontrou o
local certo e trabalhou até que implorava por mais. Lágrimas rolaram
dos meus olhos quando explodi em um milhão de pedaços minúsculos.
Ele subiu até que estava olhando para mim, beijando as lágrimas
com os lábios antes de reivindicar minha boca quando finalmente
entrou em mim.
— Estou descobrindo que lento pode não ser algo que eu seja capaz.
— Ele refletiu enquanto se inclinava para trás, abrindo minhas pernas
para dar melhor profundidade, em seguida balançou os quadris e
levantei para encontrar os seus impulsos. Explodi de novo ao redor
dele, ordenhando seu pau com cada orgasmo que rasgou através de
mim. — Acho que você não se importa? — Ele nos rolou até eu estar
em cima dele.
— Nem um pouco, Fada. — Eu ri, cheia da euforia que só ele poderia
me dar, balancei os quadris em um padrão circular, me ajustando a ele
enquanto ele crescia até que eu tivesse tudo o que podia aguentar.
Ele me surpreendeu quando me levantou, indiferente ao fato de
balançarmos a pequena ilha em que estávamos. As velas tremeluziam,
o vento suave que acariciava nossos corpos fazia pouco para esfriar
meu ardor. Ele sorriu e me vi batendo contra a cama, minhas pernas
separadas e ele tinha total controle, deixei minha cabeça cair contra os
travesseiros e observei as estrelas enquanto elas disparavam pelo céu
enquanto ele martelava em meu corpo com uma necessidade que me
chocou.
— As filhas de Hécate. — Murmurou sem fôlego. — Elas tentaram
me seduzir, me levaram à beira da liberação, mas não deixei que elas
me tivessem. Elas queriam um filho meu. — Ele admitiu e levantei a
cabeça. Os barulhos em minha cabeça eram demais. Não conseguia
falar, não conseguia pensar em nada além da raiva que disparou
através de mim. Eu deveria ter matado elas, cortado suas malditas
gargantas. Ao invés disso, as deixei sair. — Meu filho teria criado a
linha que elas queriam, mas meus filhos são seus. Só seus. Resisti aos
feitiços delas, às suas travessuras e até à sua imagem. Elas fingiram
ser você, mas eu sabia que não era você, assim como sabia quando o
ex executor entrou na sala, senti você, de alguma forma você estava lá,
senti você me olhando através dos olhos dele. Senti você, minha
Rainha. E sinto você toda vez que está perto, porque estou dentro de
você e você está dentro de mim. Não tem mais ninguém que eu queira,
nem agora, nem nunca. É só você, sempre foi você. — Ele murmurou
enquanto explodiu dentro de mim. — Você é minha Rainha.
— E você é meu Rei, para sempre. — Sussurrei quando meu corpo
chegou ao clímax, e deixei minha cabeça cair no ombro dele, mordendo
sua carne. — Eu deveria ter matado aquelas bruxas.
— Não, você fez a coisa certa. Vamos precisar delas, vamos precisar
de toda a ajuda que pudermos ter.
— Eu sei, é por isso que deixei elas viverem. Mas eu não sabia o que
sei agora. Vou matar elas, você é meu.
— Você não fará isso, porque elas podem trazer Larissa de volta do
vazio.
— O que? — Perguntei, puxando minha cabeça do ombro dele.
— Eu as ouvi conversando, elas podem trazer almas de volta e
colocá-las em vasos. Eu planejei escapar e trazer elas aqui. E esperava
encontrar um vaso para elas trazerem a alma de Larissa de volta.
— Temos que contar a Adam. — Sussurrei.
— Não, não até sabermos se é verdade.
— Ele ama ela. — Murmurei.
— Isso não vai mudar de agora até lá, um amor como esse não
morre. É por isso que ele tem dificuldades para seguir em frente.
— Abrir o vazio é perigoso. — Pensei. — Ela usou tudo o que tinha
para nos ajudar. Quando nos despedimos, ela disse algo sobre
renascer. Como poderíamos ter certeza de que é Larissa que estamos
trazendo de volta?
— Porque você a reconhecerá, ela era sua melhor amiga.
— Mas e se ela não quiser voltar? — Pressionei, mil perguntas
diferentes em minha mente.
— É Larissa, ouvi tudo o que você me diz, e pelo que você me contou
sobre ela, ela queria seu próprio final feliz. Ela estava obcecada com
isso, merda, se alguém merece ser salva, ser feliz, é ela.
— Hannah me disse que Larissa era da sua linhagem. Se alguma
delas ficaria feliz em nos ajudar, seria Hannah. Mas e a Herdeira da
Luz? Adam deveria encontrar e se casar com a Herdeira da Luz. —
Minha voz parou tristemente. Mataria Adam se ele precisasse se casar
com a Herdeira da Luz, se ele tivesse uma chance remota de ter a
mulher que considerava sua alma gêmea de volta.
— Se os Deuses pudessem encontrar uma maneira de se juntar a
nós, com todos os obstáculos que enfrentamos, quem somos nós para
dizer que o destino ou Destiny não vão encontrar um caminho para
eles também? — Ryder me puxou para perto e beijou o topo da minha
cabeça.
— Fada, por mais que eu queira ela de volta, realmente quero
esquecer, pelo menos por um tempo, todos os problemas que estão se
acumulando. Só você e eu. Sem guerras nos portões, ninguém tentando
nos matar, apenas nós agindo como dois adolescentes que descobriram
que sexo é delicioso pra caralho. Então me incline e me faça gritar.
— Isso é uma coisa que posso fazer, esposa. — Ele deu um sorriso
ofuscante enquanto experimentava a palavra esposa em sua língua.
— Companheira, sou sua companheira. Esposa parece domesticada
e é uma merda.
— E meus irmãos me disseram para te chamar de esposa para ter
certeza de que você era minha. — Ele riu. — Eles estão todos errados.
— Claro que sim, porque só um deles realmente me conhece. —
Admiti enquanto sorria para ele.
— Por dentro e por fora, Bruxa.
— Por dentro e por fora, Fada.
Os braços de Ryder estavam em volta de mim, me segurando contra
ele enquanto assistíamos as ondas correrem de volta ao mar. A água
azul cristalina voltou correndo, nos atingindo e balançando nossos
corpos enquanto nos preparávamos para a maré. Era calmante, o caos
do oceano que nos cercava. A brisa suave bagunçou meu cabelo, e
soltei um suspiro feliz de satisfação enquanto me segurava no homem
que amava.
Não precisávamos de palavras para contar um ao outro nossos
pensamentos, de alguma forma, mesmo sem a conexão mental que
perdemos, sabíamos o que o outro estava pensando sem precisar de
palavras. Senti seu tumulto pela guerra iminente, como ele sentiu meu
tumulto pela perda de Danu, mas nenhum de nós falou.
Depois de algum tempo, me afastei dele e olhei em seus olhos
dourados.
— Precisamos conversar. — Sussurrei, sabendo que precisava lhe
dizer algo sobre o que estava fazendo, mesmo que não pudesse contar
tudo a ele.
— Eu sei. — Ele admitiu, e fiquei tensa, sem saber o que teria para
me dizer. Ele nos levou até a praia de areia branca e nos enfeitiçou em
trajes de banho, o meu era um minúsculo biquíni branco que deixava
pouco para a imaginação, enquanto ele usava bermuda preta, o que me
fez sorrir. Ver Ryder nelas era algo de se ver, mas seu pênis já estava
pressionando contra elas quando ele observou o que eu usava.
— Você primeiro. — Pedi, me perguntando o que ele tem a dizer.
— Não quero que você lute na guerra com os Magos. — Ele admitiu.
Comecei a discutir, mas ele levantou a mão. — Sei que você vai estar
lá, e sei que vamos precisar de você. Isso não muda o fato de que me
assusta. Sei que você pode lutar, e não conheço nenhuma outra Deusa
guerreira que possa se controlar tão bem quanto você, mas temos que
considerar nossos filhos.
— Eles são crianças. — Sussurrei, surpresa com o que ele estava
dizendo. — Isso os tornaria um alvo para nossos inimigos.
— Sim, é por isso que um de nós precisa ficar atrás das muralhas
do castelo com eles quando a guerra chegar. — Ele sussurrou contra o
meu ouvido.
— Sou uma Deusa, sou necessária no campo.
— Eu também sei. — Ele riu. — E sou o Rei da Horda, e você e eu
sabemos que o Rei da Horda só pode morrer nas mãos do Herdeiro da
Horda. Eu devo estar em campo. Tem que ser você ou eu quem fica
para trás para proteger eles, a menos que possamos nomear alguém
guardião das crianças, como os humanos fazem, para vigiá-los em
nossa ausência.
— Isso é péssimo. — Sussurrei enquanto mordia o lábio.
— Sobre o que você queria conversar comigo? — Perguntou e parei,
me perguntando o que eu deveria dizer a ele. Acenei uma mão sobre a
outra e o colar que Destiny me deu se materializou na minha mão. O
pequeno cristal azul pendurado na corrente parecia brilhar um pouco.
— Você encontrou um cristal?
Ri nervosamente enquanto levantei meus olhos para os dele.
— Encontrei uma cura para a Terra dos Fae.
— Como uma pequena bugiganga pode curar alguma coisa? — Ele
brincou, e fiz uma careta.
— Não posso te contar tudo. E nem sei tudo, ou se vai funcionar. O
que sei é que Danu pensou que funcionaria. No entanto, ela também
disse que eu teria que fazer algumas coisas antes que funcionasse
como o destino predisse. Hannah, a Bruxa que encontramos sob a
Aliança, sussurrou em meu ouvido antes de sair e me disse para confiar
que Danu e Destiny sabiam o que estavam fazendo. Ela me disse isso
antes que eu entrasse na Aliança para te salvar. Ela sabia o que
aconteceria antes que acontecesse. Então me diga, Ryder, vou com o
que poderia colocar este mundo em um caminho para a cura, dou o
salto e confio que elas estão certas, ou espero para ver se as estrelas
estão alinhadas e depois tentar?
— Não sei o que você está tentando. — Ele sussurrou, engolindo em
seco enquanto me observava.
— Vou te dizer o que posso, mas não posso contar tudo.
— Isso vai nos afetar? — Perguntou.
— Absolutamente. — Murmurei enquanto olhava para ele. — Não
de uma maneira ruim, mas isso vai mudar nossas vidas. Caso
contrário, a Terra dos Fae continuará a enfraquecer até que não seja
mais do que uma extensão da terra. Se eu fizer, a Terra dos Fae pode
começar a se curar em um ritmo rápido, da maneira como eu me curo.
— Puxei o cabelo para o lado e prendi o colar em volta do meu pescoço.
— Se isso pode consertar Terra dos Fae. — Ele me observou quando
diminui a distância entre nós e fiquei na ponta dos pés enquanto ele se
inclinava para me encontrar. Minha voz mal chegou aos seus ouvidos
e minhas mãos tremiam quando sussurrei parte dos meus segredos
para ele, sentindo ele tenso enquanto lhe dizia o que pretendia fazer.
Quando terminei, me afastei e dei um passo para trás, lhe dando
espaço para absorver o que falei.
— Deuses. — Ele murmurou, olhando para mim. Suas mãos
tremiam e sorri.
— Os Deuses não têm nada a ver com isso. — Respondi friamente.
— Synthia. — Ele exalou enquanto balançava a cabeça me olhando.
— Bilé está lá fora. Ele foi libertado quando minha mãe morreu e já
encontrou o caminho de volta aos Magos e os está trazendo aqui. Eu
terminei com as perdas. É hora de pararmos de esperar que eles nos
encontrem. Não tem mais espera deles chegarem aos nossos portões.
Está na hora de sairmos para encontrar eles. Posso não ser capaz de
combater eles fora da Terra dos Fae, mas isso não significa que não
podemos lutar contra eles. Só porque não posso combater eles fora
deste mundo não significa que vou sentar enquanto você faz isso. Sou
Synthia, filha de Danu, Deusa das Fadas e a Rainha da Horda. Sou
uma rainha por escolha e direito de primogenitura e não sou uma
garota que senta e espera. É hora de trazer a guerra para eles. Devemos
nivelar o campo de jogo e usar suas táticas neles. Danu me disse para
procurar brechas nas regras que os Deuses fizeram para que eu não
pudesse intervir. Nós vamos encontrar e usar. Retiramos nosso mundo
e vamos fazer eles tremerem de medo de nossos nomes. Nós somos o
Rei e a Rainha da Horda e estou pronta para caçar.
— Essa é minha garota. — Disse ele orgulhosamente, enquanto
sorria e me puxava para ele. — Vamos tocar as buzinas de guerra.
Minha Rainha deseja caçar.
— Vamos lutar juntos para recuperar o que é nosso.
— E isto? — Perguntou, tocando o cristal.
— Devemos esperar até a guerra ser vencida e estarmos prontos
para isso.
— Eu te amo, Bruxa.
— E amo você, Fada. Agora, vamos fazer barulho, certo? —
Perguntei, enquanto um sorriso brincava nos meus lábios.
DE CERTA FORMA, VAMOS DAR UM TEMPO DE SYN E RYDER, PORQUE OUTRAS
COISAS PRECISAM ACONTECER AOS OUTROS PERSONAGENS DO FAE UNIVERSE. JÁ
VAMOS AVISAR QUE DAQUI PRA FRENTE, TEREMOS 7 LIVROS INTERCALANDO AS
OUTRAS SÉRIES, ANTES DE RETORNAR AO RYDER E SYN, MAS SERÁ DE EXTREMA
IMPORTÂNCIA NA BATALHA FINAL.
AFINAL, VOCÊ AINDA ESTÁ SE PERGUNTANDO O QUE VAI ACONTECER COM
MAGDALENAKENDRA, NÉ? DESCUBRA NO PRÓXIMO LIVRO DA GRANDE SÉRIE:

PLAYING WITH MONSTERS 02


SLEEPING WITH MONSTERS
Quando tudo está em jogo, até onde você irá
para proteger aqueles que ama?

E se o custo de salvar eles for sua alma?

Você pagaria?

Achei que estava preparada para o que estava por vir; que se eu
fizesse sacrifícios, poderia ganhar este jogo.

Não tenho mais medo da escuridão ou dos monstros que se


escondem nas sombras. Eu me tornei o que mais temia,
permitindo que isso protegesse aqueles que eu amava.

Às vezes, é preciso um monstro para vencer. Às vezes, para


lutar contra monstros, você precisa se tornar um.

Meu único medo é... posso voltar disso?

AGUARDE…
OBS: CASO DESCUBRA A SÉRIE QUANDO OS LIVROS JÁ TIVEREM SIDO LANÇADOS PELO PL
E QUEIRA PULAR DIRETO PARA O 06 DE THE FAE CHRONICLES, NÃO ESQUECE QUE ESSAS
SÃO OBRAS DA AMELIA, QUE JÁ NOS PROVOU QUE ADORA AMARRAR AS SÉRIES, ENTÃO
RECOMENDAMOS QUE LEIA NA ORDEM DA GRANDE SÉRIE CUJAS SUB-SÉRIES SE
ENTRELAÇAM MUITO ATÉ O MENOR DETALHE E SÓ DESCOBRIMOS DEPOIS. SE QUISER
RELEMBRAR A SEQUÊNCIA DESSA GRANDE SÉRIE, VOLTE PARA A PÁGINA 5 DESTE LIVRO.

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