ECOLOGIA
Evangelho, ecologia e vida
O pecado é o maior crime ecológico, porque ele nos separa de Deus.
José Carlos Ramos
Diretor do Seminário Adventista
Latino-Americano de Teologia - IAENE,
Cachoeira, Bahia
consciência cristã é antes de
tudo uma consciência ecológica.
Ecologia tem a ver com o mun-
do como habitat natural da vida. O Cris-
tianismo emergiu quando "Deus amou
tanto o mundo, que entregou o Seu Filho
único, para que todo o que nEle crê não
pereça, mas tenha a vida eterna" (João
3:16), Bíblia de Jerusalém).
Deus criou não uma porção de coi-
sas mal-arranjadas e distribuídas por
aí, sem qualquer sentido e propósito,
mas o mundo que, ao sair das mãos
do Criador, era um todo harmônico,
inseparável e interdependente em seus
elementos. Ter de volta essa feição
original do planeta é o propósito bási-
co da Ecologia como ciência.
O termo, tendo por base o grego oi-
kos, que quer dizer casa, lembra-nos
que o mundo é nossa habitação, e que
a complexa interrelação ambiental
nele existente não pode ser sacrificada
sem que se incorra no risco de um de-
sequilíbrio biótico consideravelmente
comprometedor aos nossos anseios
por sobrevivência.
Quando a Bíblia diz que "nenhum de
nós vive para si ou morre para si"
(Rom. 14:8), está afirmando um enun-
ciado ecológico, pois Ecologia pressu-
põe uma interdependência essencial de
todos os seres. E a ciência do convívio,
onde todos necessitam de cada um e
cada um de todos. Há num sistema eco-
lógico uma vinculação recíproca de
vida que impossibilita uma existência
plenamente autônoma. Isto naturalmen-
te nos toca a todos. No contexto ecoló-
gico não há como imaginar que nin-
guém tem nada a ver com o que faço.
Meu comportamento inevitavelmente
afeta o meu próximo e vice-versa.
O apelo ecológico do momento
evoca-nos o fato de que a vida não é
de um mas de todos. Qualquer agres-
são ao ambiente que nos envolve, re-
I ideal ecológico. Há muita sabedoria no
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sulta em que todos somos agredidos.
Os crimes ecológicos não podem ficar
impunes porque agridem o patrimônio
comum da Humanidade e violam o
preceito áureo do amor a Deus e ao
próximo. A mão que nos furta a pure-
za do ar e das águas, a exuberância da
flora e da fauna, e t c , furta-nos, a
exemplo daquela que assalta e mata, o
direito à vida. De fato, qualquer ato
de ecocídio é potencialmente um ato
de homicídio e mesmo de suicídio.
Quando Caim deixou de ser o guarda-
dor de seu irmão, tornou-se o seu as-
sassino, e isto para sua própria ruína.
Mas o crime ecológico não é prati-
cado apenas contra o homem. Ele de-
manda igualmente o juízo divino, pois
o mundo é propriedade de Deus que o ato. Mas não foi senão uma conse-
criou e redimiu. Assim, pecar contra a
Ecologia é pecar contra Deus, e Ele
pedirá contas. O último livro da Bí-
blia afirma que Deus punirá "os que
destroem a Terra" (Apoc. 11:18).
Evangelho e Ecologia
A resposta definitiva ao dilema
e c o l ó g i c o que a humanidade vive
hoje, é a mensagem restauradora do
Evangelho. A Ecologia, que é a ciên-
cia da convivência, é um aspecto do
próprio Evangelho, que contém não
somente o segredo da convivência,
mas o da sobrevivência.
A Ecologia alcança no Evangelho o
seu significado mais profundo e trans-
cendente. A interdependência dos se-
res não se restringe apenas a esta vida
e a este mundo. Ligamo-nos uns aos
outros, dependemos uns dos outros, e
todos vivemos às expensas de Deus.
O mundo não é completo em si mes-
mo, mas é parte de um ecossistema gi-
gantesco a que chamamos Universo.
Nele Deus é o Alfa e o Omega, a razão
e o propósito de todas as coisas. A Bí-
blia diz que "nEle vivemos, nos move-
mos e existimos" (Atos 17:28).
Céu e Terra estão assim ligados num
dito popular: "O nada com Deus é
tudo, e o tudo sem Deus é nada." Um
sistema ecológico é determinado pelo
princípio básico da dependência: não
há vida que não dependa de vida, e
toda vida depende de Deus. Isto signi-
fica precisamente que vida desvincula-
da de Deus é morte, pois Deus é a per-
sonalização da vida. Daí o Evangelho
afirmar: "Quem tem o Filho de Deus
tem a vida; quem não tem o Filho de
Deus não tem a vida" (I João 5:12).
O maior crime ecológico da Histó-
ria ocorreu no dia em que nossos pri-
meiros pais ousaram lançar mão do
fruto proibido, valendo-se egoista-
mente da Natureza. "Maldita é a Terra
por tua causa" (Gên. 3:17), foi a con-
seqüência aparente e imediata daquele
qüência secundária, gerada de outra
muito mais ampla e sinistra.
O pecado é o crime ecológico por
excelência, porque ele nos separa de
Deus, revelando-se um fator de desar-
monia, desagregação e desequilíbrio
no Universo. Em Cristo, todavia, Deus
veio até nós para nos ter de volta vin-
culados a Ele. O apóstolo São Paulo
afirma que Deus "fez convergir em