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“O seu automóvel tem de bater contra um de dois veículos próximos: um SUV ou um carro
de mala bagageira longa muito frágil. Ambos os veículos transportam uma mãe e um bebé
numa cadeira adequada. Em que veículo deve o automóvel bater?
Se bater no SUV, é mais provável que os seus ocupantes sobrevivam, mas será justo para o
condutor desse veículo? Começariam as pessoas a comprar automóveis menos sólidos, para
reduzirem a probabilidade de serem atingidos em acidentes?
Eric Chaline. (2019), 101 Dilemas para Filósofo de Bancada, p. 163
Que resposta daria um utilitarista à questão destacada no texto? Porquê?
Cenário de Resposta:
Perante a situação descrita, um utilitarista, à luz do princípio da maior felicidade, iria optar pela
situação que maximizasse imparcialmente a felicidade geral e minimizasse a dor. No caso em
questão, o carro autónomo deveria bater no SUV, pois é a solução que minimiza o número total
de vítimas.
“(…) Ora, é um facto inquestionável que aqueles que estão igualmente familiarizados com
ambos, e são igualmente capazes de os apreciar e gozar, são uma acentuada preferência ao
modo de vida ao qual se faz uso das faculdades superiores.”
J. Stuart Mill. (2020). Utilitarismo, p.15
Segundo Mill, quem pode ajuizar da qualidade dos prazeres? Justifique a sua resposta.
Cenário de Resposta:
Segundo Stuart Mill, os únicos que podem ajuizar acerca da qualidade dos prazeres são os
seres humanos, que são os únicos que têm a experiência da satisfação de ambos os prazeres
(superiores e inferiores), tal como é referido no texto “aqueles que estão igualmente
familiarizados com ambos”.
“Muito cedo, no dia de Natal, Andrew tira os montes de presentes do seu esconderijo. E fá-
lo mesmo a tempo. Instantes depois, a sua filha de cinco anos, Kate, entra de rompante pela
sala, com os olhos a brilhar de entusiasmo enquanto pergunta: ´O Pai Natal veio? ´. ´Claro
que veio! ´, responde Andrew, apontando para as caixas embrulhadas com papéis coloridos.
´Os presentes não chegavam sozinhos´.
Mais tarde, nesse dia, a mãe de Andrew ofereceu-lhe uma camisola muito feia que ela
própria tricotou. Andrew, agradece e diz ´Que bonita. É o ideal para estes dias frios de
inverno´.
(…) Nessa noite, depois de toda a gente já estar na cama, a mulher de Andrew, Katherine,
aperta-lhe a mão com afeto. ´Foi um dia ótimo´, diz ela. ´Isso é porque tivemos todos os
ingredientes essenciais para um bom Natal´, responde ele com um sorriso. ´Muitas luzes,
muito peru… e muitas, muitas mentirinhas inocentes´.”
Eric Chaline. (2019), 101 Dilemas para Filósofo de Bancada, p. 26
Perante a situação acima descrita, compara as respostas de Kant e Mill acerca das
“mentirinhas inocentes”.
Cenário de Resposta:
Kant considera que a regra de dizer a verdade é um dever absoluto e incondicional (um
imperativo categórico), e que em nenhuma circunstância essa regra admite exceções, ou seja,
segundo Kant, nunca se deve mentir.
Mill, em contrapartida, considera que a regra de dizer a verdade, pode ser admitida como um
princípio secundário para orientar a nossa conduta no dia-a-dia, uma vez que, regra geral,
mentir traz más consequências, mas não como dever absoluto que não admite exceções; ou
seja, segundo Mill, se mentir for a alternativa que traz maior total de felicidade, então será
uma ação moralmente correta.
Kant considera que mesmo os melhores propósitos não justificam a violação da regra de dizer a
verdade, pois uma máxima que prescreve o engano não pode sequer ser concebida como uma
lei universal, visto que para ser possível enganar seja quem for, temos de presumir que as
pessoas dizem a verdade.
Mill considera que há justificação para violar a regra de dizer a verdade quando isso produz as
melhores consequências.
No acso apresentado das “mentirinhas inocentes” aplica-se exatamente a mesma regra. Para
Kant, independentemente de isto poder ser visto como uma mentira menos má, o que conta é
o ato em si – mentir -, e mentir será sempre em qualquer circunstância uma proibição moral
absoluta.
“Ficaria eu satisfeito de ver a minha máxima (de me atirar de apuros por meio de uma
promessa não verdadeira) tomar o valor de lei universal (tanto para mim como para os
outros)? E poderia eu dizer a mim mesmo: - Toda gente pode fazer uma promessa
mentirosa quando se acha numa dificuldade de que não pode sair de outra maneira? Em
breve reconheço que posso em verdade querer uma lei universal de mentir; pois, segundo
uma tal lei, não poderia propriamente haver já promessa alguma (…). Por conseguinte, a
minha máxima, uma vez arvorada em lei universal, destruir-se-ia a si mesma
necessariamente.”
Immanuel Kant. (1960). Fundamentação da Metafísica dos Costumes.
Cenário de Resposta:
Segundo Kant, a mentira será sempre imoral, dado que não passa no teste do imperativo
categórico; contudo, para Mill a mentira poderá ser moral na medida em que produz a melhor
felicidade para o maior número de agentes envolvidos, de forma imparcial.
5. Leia com atenção o texto que se segue:
Segundo Kant, para que uma ação tenha valor moral deve ter subjacente um imperativo
hipotético ou categórico? Porquê?
Cenário de Resposta:
Para Kant, o valor moral da ação é dado pelo imperativo categórico, pois o imperativo
categórico envolve uma obrigação absoluta e incondicional, é objetivamente necessário,
exigindo que se cumpra o dever por dever (por simples respeito pela lei moral universal), ao
passo que o imperativo hipotético é uma obrigação condicional, contingente subjetivamente,
podendo-se fazer o que é correto por motivos errados. Neste tipo de imperativos, a ação não é
valorizada por si mesma, mas sim por aquilo que permite alcançar em favor das nossas
inclinações ou interesses pessoais.
“Não existe sistema moral algum no qual não ocorram casos inequívocos de obrigações em
conflito. Estas são as verdadeiras dificuldades, os momentos intrincados na teoria ética e na
orientação conscienciosa da conduta pessoal. São ultrapassados, na prática, com maior ou
menor sucesso, segundo o intelecto e a virtude dos indivíduos; mas dificilmente pode
alegar-se que alguém está menos qualificado para lidar com eles por possuir um padrão
último para o qual podem ser remetidos os direitos e os deveres em conflito. Se a utilidade
é a fonte última das obrigações morais, pode ser invocada para decidir entre elas quando as
suas exigências são incompatíveis. Embora a aplicação do padrão possa ser difícil, é melhor
do que não ter padrão algum (…).”
S. Mill. (2005). Utilitarismo.
Stuart Mill afirma que “a utilidade é a fonte última das obrigações morais”. Esclareça o
conceito de “utilidade”, integrando-o na ética de Stuart Mill.
Cenário de Resposta:
S. Mill está a entender a utilidade a partir de uma raiz hedonista. A ideia é que uma ação é útil
quando promove a felicidade, sendo que a felicidade consiste no prazer e na ausência de dor.
Para Mill, a obrigação moral básica é que a nossa ação, nas circunstâncias em que ocorre,
maximize o total de felicidade de todas as pessoas por ela afetadas, sendo que os interesses
por uma ação devem ser tidos em conta de forma imparcial.
De acordo com Stuart Mill, o princípio da utilidade é o único critério em que se baseia a
avaliação moral de uma ação, pois o valor moral de uma ação depende das suas
consequências. São moralmente boas as ações que têm melhores consequências possíveis e
estas, por sua vez, são avaliadas em função da utilidade, ou seja, em função do seu contributo
para o maior total de felicidade, o maior bem-estar agregado.
Distinga, partindo do exemplo dado por Kant, agir por dever de agir em conformidade com o
dever.
Cenário de Resposta:
Por um lado, a ação em conformidade com o dever pode ser motivada por inclinações, como o
interesse próprio; por exemplo, o comerciante agiria em conformidade com o dever se, ao fixar
um preço igual para todos, fosse motivado pelo seu interesse em manter a clientela. Por outro
lado, a ação realizada por dever é exclusivamente motivada pelo dever; por exemplo, o
comerciante agiria por dever se fosse motivado a fixar um preço igual para todos apenas pelo
dever de ser honesto. Assim, a ação em conformidade com o dever, apesar de não ser contrária
ao dever, não tem valor moral, ao passo que a ação realizada por dever é a única moralmente
boa.