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Ética e Educação

Citações
4. Consequencialismo: utilitarismo
John Stuart Mill, Utilitarismo (1861):
“A doutrina que aceita como fundamento de moral a utilidade, ou princípio da maior
felicidade, defende que as ações são corretas na medida em que tendem a promover a
felicidade, e incorretas na medida em que tendem a gerar o contrário da felicidade. Por
felicidade entendemos o prazer, e a ausência de dor; por infelicidade, a dor, e a privação
de prazer.”.
“Esse padrão [utilitarista] não é a maior felicidade do próprio agente, mas maior
porção de felicidade no todo. […] Pode ser, na sua máxima extensão, garantida a toda a
humanidade; e, não apenas à humanidade, mas na medida em que a natureza das coisas
o permitir, a todas as criaturas sencientes.”
“O motivo [intenção] nada tem a ver com a moralidade da ação, embora tenha muito
a ver com o valor do agente. Quem salva um semelhante de se afogar faz o que está
moralmente correto, quer o seu motivo seja o dever, ou a esperança de ser pago pelo seu
incómodo; quem trai a confiança de um amigo, é culpado de crime, ainda que o seu
objetivo seja servir outro amigo para com o qual tem deveres ainda maiores.”
“Seria absurdo que a avaliação dos prazeres [felicidade}] dependesse apenas da
quantidade, dado que ao avaliar todas as outras coisas consideramos a qualidade a par
da quantidade (…) É um facto inquestionável que aqueles que estão igualmente
familiarizados com [dois prazeres], e são igualmente capazes de os apreciar e gozar, dão
uma acentuada preferência ao modo de vida no qual se faz uso das faculdades
superiores. Poucas criaturas humanas consentiram em ser transformadas em qualquer
um dos animais inferiores, a troco da máxima quantidade dos prazeres de um animal.”

5. Ética consequencialista/utilitarista aplicada à educação


Nel Noddings, Hapiness and Education (2003):
“A felicidade deve ser um objetivo de educação, e um bem educacional deve
contribuir significativamente para a felicidade pessoal e coletiva (…) As crianças (e os
adultos) aprendem melhor quando estão felizes (…) No entanto, a dificuldade é um
aspeto inevitável da aprendizagem; nós, educadores, não precisamos inventar
dificuldades para os nossos alunos, e os alunos que geralmente estão felizes com os seus
estudos tem mais condições de dar sentido a momentos difíceis e superá-los com
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alguma satisfação. (…) Pessoas felizes raramente são mesquinhas, violentas ou cruéis.
(…) A nossa orientação básica para a educação moral, então, deveria ser um
compromisso com a construção de um mundo em que seja possível e desejável que as
crianças sejam boas – um mundo em que as crianças sejam felizes.”
“Além do prazer, concordamos com J.S. Mill que a ausência de dor contribui para a
felicidade ou, pelo menos, que a dor nos torna infelizes. Ao reduzir a dor, fizemos,
indiscutivelmente, alguns progressos. Os leitores de hoje estão, com razão, chocados
com as observações destruidoras de almas dirigidas aos alunos pelos professores mesmo
há trinta anos. Os professores têm de ser, e a maioria quer ser, mais cuidadosos e
atenciosos agora, mas muitos abusos permanecem. Sarcasmo e observações humilhantes
não têm lugar na sala de aula, mas ainda assim ocorrem.”
“A atmosfera das salas de aula deve refletir o desejo universal de felicidade. Deve
haver um mínimo de dor (e nenhuma deliberadamente infligida), muitas oportunidades
de prazer e reconhecimento aberto da conexão entre o desenvolvimento de disposições
desejáveis e a felicidade. (…) O método de intervenção imediata, explicação e
demonstração de um caminho melhor deve ser usado quando ocorrerem infrações. As
histórias também podem ser usadas, mas devem convidar ao pensamento crítico, não à
admiração cega.”
“Se aceitarmos a felicidade como objetivo da educação, estaremos preocupados
tanto com a qualidade da experiência presente quanto com a provável contribuição
dessa experiência para a felicidade futura. Tudo o que fizermos será avaliado à luz desse
objetivo e de outros que tenham sido avaliados como compatíveis com ele.”
Clara Sabbagh em Ethics and Teaching, faz uma síntese:
A tese central, do livro Hapiness and Education (2003) de Nel Noddings, é a de
que as boas práticas de ensino podem ajudar promover a felicidade para todos.
A promoção da “felicidade para todos” como um objetivo moral educativo
justifica-se por vários motivos:
 As pessoas felizes parecem ser boas (por exemplo, menos violentas ou cruéis).
 Uma maior ênfase na felicidade pode reforçar a motivação dos estudantes para
aprender e aumentar a sua experiência positiva na escola.
 Os professores e as escolas podem facilitar a autorrealização dos alunos numa
grande variedade de domínios.

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6. Deontologismo: Ética de Kant
Immanuel Kant, Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785):
“A natureza racional existe como um fim em si. É assim que o homem se representa
necessariamente a sua própria existência. (…) Mas é também assim que qualquer outro
ser racional se representa a sua existência. (….) O imperativo prático será pois o
seguinte: Age de tal maneira que uses a tua humanidade, tanto na tua pessoa como na
pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente
como meio.”
“O imperativo categórico (…) é este: Age apenas segundo uma máxima tal que
possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal. (…) Temos que poder
querer que uma máxima da nossa ação se transforme em lei universal: é este o cânone
pelo qual a julgamos moralmente em geral. Algumas ações são de tal ordem que a sua
máxima nem sequer se pode pensar sem contradição como lei universal da natureza,
muito menos ainda se pode querer que devem ser tal. Em outras não se encontra, na
verdade, essa impossibilidade interna, mas é contudo impossível querer que a sua
máxima se erga à universalidade de uma lei da natureza, pois que uma tal vontade se
contradiria a si mesma.”

8. Ética das virtudes: exemplarismo


Linda Zagzebski, Exemplarist Virtue Theory (2010):
“A construção da teoria começa com a referência direta a exemplares de bondade
moral. (…) Sugiro que conceitos morais básicos sejam ancorados em exemplos de
bondade moral, cuja referência direta é fundacional na teoria. (…) As práticas de
escolher tais pessoas já estão incorporadas nas nossas práticas morais. Aprendemos
através de narrativas de pessoas fictícias e não fictícias que algumas pessoas são
admiráveis e dignas de ser imitadas (…). A aprendizagem moral, como a maioria das
outras formas de aprendizagem, é feita principalmente por imitação. Os exemplares são
as pessoas que são mais imitáveis, e são mais imitáveis porque são mais admiráveis.”
“Identificamos pessoas admiráveis pela emoção da admiração, e essa emoção é ela
própria sujeita à educação através do exemplo das reações emocionais de outras
pessoas. (…). Presumo que a emoção da admiração é geralmente digna de confiança
quando a temos após reflexão e quando resiste à crítica de outros.”
“O que quero dizer com um exemplar é uma pessoa paradigmaticamente boa. Um
exemplar é uma pessoa que é muito admirável. Identificamos o admirável pela amoção

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da admiração. Presumo que a nossa emoção de admiração é geralmente digna de
confiança, mas não presumo que confiemos sempre nela. Quando o fazemos,
consideramos que o objeto de admiração é admirável. Uma pessoa que é admirável em
algum aspeto é imitável a esse respeito.”

12. Liberdade intelectual


Stuart Mill, Sobre a Liberdade (1859):
“O objetivo deste ensaio é asseverar um princípio muito simples, destinado a
condicionar totalmente os tratos da sociedade com o indivíduo, sejam de compulsão e
controle, seja por meio da força física na forma de penalidades legais, seja como
coerção moral por parte da opinião píblica. Esse princípio é o de que a única finalidade
para a qual a humanidade está autorizada, individual ou coletivamente, a interferir na
liberdade de ação de qualquer de seus membros é a autoproteção.”
“Que o único propósito para o qual o poder pode ser exercido com justiça sobre
qualquer membro da comunidade civilizada, contra a sua vontade, é o de evitar dando a
outros. A finalidade de seu próprio bem, físico ou moral, não é suficiente para conferir
essa autorização. Ele não pode, sem que se cometa injustiça, ser compelido a fazer ou
abster-se de fazer algo porque será melhor para seu próprio interesse agir assim, porque
isso o fará mais feliz, porque, na opinião dos outros, seria uma ação sábia, ou mesmo
justa.”

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