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APONTAMENTOS

DE
AGRICULTURA GERAL
Índice
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................................4
2. CLIMA E A AGRICULTURA .........................................................................................................6
2.1. Os Climas Mais Importantes Nos Trópicos .................................................................. 6
2.1.1. Climas húmidos equatoriais .......................................................................... 6
2.1.2. Climas secos tropicais ................................................................................... 6
2.1.3. Climas monsónicos ........................................................................................ 6
2.1.4. Climas tropicais húmidos com ventos costeiros ............................................ 7
2.1.5. Clima seco tropical e subtropical das costas ocidentais ................................ 7
2.2. Influência dos Factores Climáticos na Produção .......................................................... 7
2.2.1. Radiação ........................................................................................................ 7
2.2.2. Factores que afectam a produção de matéria seca e o rendimento ................ 7
2.2.3. Eficiência do uso de energia solar na produção de matéria seca ................... 8
2.2.4. Precipitação e necessidades hídricas das culturas ......................................... 9
2.2.4.1. Intensidade das chuvas ..................................................................... 10
2.2.4.2. Certeza da precipitação .................................................................... 11
2.2.4.3. Necessidades hídricas das culturas .................................................. 11
2.2.5. Humidade..................................................................................................... 11
2.2.6. Temperatura ................................................................................................. 12
2.2.7. Duração do dia e fotoperíodo ...................................................................... 12
2.2.8. Vento ........................................................................................................... 14
3. O AMBIENTE DE MOÇAMBIQUE ............................................................................................ 16
3.1. O Clima em Geral ....................................................................................................... 16
3.2. Factores climáticos dominantes .................................................................................. 16
3.2.1. Precipitação ................................................................................................. 16
3.2.2. Temperatura ................................................................................................. 17
3.2.3. Humidade..................................................................................................... 17
3.2.4. Velocidade do vento .................................................................................... 18
3.2.5. Evapotranspiração potencial ........................................................................ 18
3.3. Caracterização Agro-Climática .................................................................................. 18
3.3.1. Potencial agro-climático e áreas agro-climatologicamente criticas ............. 19
3.3.2 Capacidade erosiva da Precipitação.............................................................. 20
3.4. Potencial Agro-Ecológico........................................................................................... 21
3.4.1. Região Agro-Ecológica I ............................................................................. 21
3.4.2. Região Agro-Ecológica II ............................................................................ 21
3.4.3. Região Agro-Ecológica III ........................................................................... 22
3.4.4. Região Agro-Ecológica IV .......................................................................... 24
3.4.5. Região agro-ecológica V ............................................................................. 24
3.5. Os Recursos do Solo ................................................................................................... 25
3.5.1. As Grandes Classes de Solos ....................................................................... 25
3.5.2. Características Agro-edáficas ...................................................................... 26
3.5.3 - Erosão dos Solos ........................................................................................ 27
3.5.4 - Fertilidade dos Solos .................................................................................. 27
3.5.5. Água Disponível nos Solos.......................................................................... 28
3.6. Vegetação ................................................................................................................... 28
3.6.1. Formações Florestais ................................................................................... 29
3.6.1.1. Florestas ............................................................................................ 29
3.6.1.2. "Woodland" ...................................................................................... 30
3.6.2. Brenhas ........................................................................................................ 30

1
3.6.3. Estrato graminoso ........................................................................................ 30
3.6.3.1. Pradarias (Graminais)....................................................................... 30
3.6.3.2. Pastagens .......................................................................................... 31
4. SISTEMAS DE PRODUÇÃO ....................................................................................................... 32
4.1. Introdução ................................................................................................................... 32
4.2. Formas de Uso da Terra e Sistemas de Produção ....................................................... 33
4.2.1. Vegetação natural ........................................................................................ 33
4.2.2. Cultivo arável .............................................................................................. 34
4.2.2.1. Padrões e sistemas de cultivo ........................................................... 36
4.2.2.2 - Consociação .................................................................................... 37
4.2.3. Produção Animal ......................................................................................... 40
4.2.4. Construções ................................................................................................. 41
5. TRABALHO DO SOLO ................................................................................................................ 48
5.1 - Métodos de Desmonte ............................................................................................... 48
5.2. Preparação do solo. Lavouras ..................................................................................... 50
5.2.1. Tractores, mecanização, técnica vs sociologia ............................................ 51
5.3. Sistemas de Trabalho Mínimo, Trabalho Reduzido (Minimum Tillage,
Reduced Tillage e 0-tillage)................................................................................... 51
5.4. Classificação das lavouras .......................................................................................... 54
5.5. Como Fazer a Lavoura................................................................................................ 58
6. SEMENTEIRA E PLANTAÇÃO. DATAS DE SEMENTEIRA. COMPASSOS ...................... 63
6.1. Sementeira e Plantação ............................................................................................... 63
6.2. Alfobres e Viveiros ..................................................................................................... 63
6.3. Métodos de Sementeira e Plantação ........................................................................... 65
6.4. Densidade de Sementeira/Plantação ........................................................................... 68
6.5. Profundidade da Sementeira ....................................................................................... 70
6.6. Datas de Sementeira ................................................................................................... 70
6.7. Importância do Uso de Sementes de Qualidade ......................................................... 72
6.7.1. Qualidade da semente .................................................................................. 73
7. MÉTODOS DE PROPAGAÇÃO VEGETATIVA ....................................................................... 75
7.1. Estaquia ...................................................................................................................... 75
7.2. Mergulhia.................................................................................................................... 77
7.3. Enxertia....................................................................................................................... 81
8. ADUBAÇÃO, SIDERAÇÃO, MATÉRIA ORGÂNICA, MULCHES ........................................ 86
8.1. Matéria orgânica ......................................................................................................... 86
8.1.1. Introdução .................................................................................................... 86
8.1.2. Agricultura itenerante .................................................................................. 86
8.1.2.1. Húmus .............................................................................................. 86
8.1.2.2. N - Azoto .......................................................................................... 87
8.1.2.3. P - Fósforo ........................................................................................ 87
8.2. Leguminosas e fixação de N ....................................................................................... 87
8.3. Sideração .................................................................................................................... 89
8.4. Estrumes ..................................................................................................................... 91
8.5. Compostos .................................................................................................................. 91
8.6. Adubações .................................................................................................................. 91
8.4.1. N (Azoto) ..................................................................................................... 92
8.4.2. P (Fósforo) ................................................................................................... 93
8.4.3. K - Potássio.................................................................................................. 94
8.4.4. Adubos compostos....................................................................................... 94
2
8.4.5. Uso de adubos .............................................................................................. 95
8.4.6. Humidade do solo e a resposta a adubação ................................................. 96
8.4.7. Efeito da adubação na evapotranspiração e uso da água do solo................. 97
8.4.8. Relações entre precipitação e adubação....................................................... 97
8.4.9. Tempo e balanceamento das adubações ...................................................... 97
8.4.10. Método de aplicação de adubos sólidos .................................................... 98
8.4.11. Classificação dos nutrientes....................................................................... 99
9. PRÁTICAS CULTURAIS ........................................................................................................... 100
9.1. Ressementeira e retancha. ......................................................................................... 100
9.2. Desbaste .................................................................................................................... 101
9.3. Cultivações Práticas de Cultivo ................................................................................ 101
9.3.1. Amontoa .................................................................................................... 102
9.3.2. Escarificação .............................................................................................. 102
9.3.3. Métodos de controlo de infestantes ........................................................... 102
9.3.4. Períodos críticos de competição infestante-cultura ................................... 106
9.3.5. Efeito residual dos herbicidas .................................................................... 107
10. COLHEITA E ARMAZENAMENTO ...................................................................................... 109
10.1. Colheita................................................................................................................... 109
10.2. Armazenamento ...................................................................................................... 110
12. CONSERVAÇÃO DE ÁGUA E SOLO .................................................................................... 113
12.1. A erosão. Tipos de erosão....................................................................................... 113
12.2. Erosão. Factores que a afectam .............................................................................. 114
12.2.1 - Erosão hídrica ......................................................................................... 114
12.2.1. Erosão Eólica ........................................................................................... 116
12.3. Conservação do Solo .............................................................................................. 116
12.3.1. Principais Métodos de Controlo .............................................................. 118
12.3.1.1. Protecção mecânica ...................................................................... 118
12.3.1.2. Medidas agronómicas .................................................................. 120
12.3.1.3. Protecção biológica ...................................................................... 121

3
1. INTRODUÇÃO

A disciplina de Agricultura Geral tem como um dos seus objectivos a interligação do


conhecimento adquirido em várias disciplinas leccionadas anteriormente, que podem ser tão
diferentes como:
- Botanica Agrícola,
- Agrometeorologia,
- Ciência do Solo,
- Mecanização Agrícola,
- Fisiologia Vegetal,
- Agro-hidrologia,
- Rega e Drenagem,
- Fertilidade do Solo,
- Ecologia,

servindo como base para a adequada compreensão de disciplinas como:


- Experimentação Agrícola,
- Produção Vegetal,
- Sanidade Vegetal,
- Controlo de Infestantes,
- Economia Agrícola,
- Gestão e Planificação,
- Extensão Rural.

De entre os restantes objectivos, é de salientar que, no fim desta disciplina, os estudantes devem
ter conhecimentos gerais sobre as várias práticas culturais, desde a preparação do solo até à
colheita, sendo estes conhecimentos enquadrados através dos conhecimentos sobre o clima, o
solo, a planta e os sistemas de produção, de forma a poder realizar a Agricultura no verdadeiro
sentido da palavra.

Como Agricultura deve-se entender todas as actividades conducentes à obtenção de altas


produções e rendimentos, quer com populações vegetais quer com animais, de forma a que o
solo e a sua fertilidade sejam mantidos ou melhorados, para a sua utilização pelas gerações
vindouras.

Em Moçambique, onde o clima predominante é o Tropical Semi-árido, a agricultura de sequeiro


é a mais comum, sendo a maior parte da produção de produtos agrícolas proveniente dos
pequenos agricultores. Tendo em conta que o sistema de produção predominante é
maioritariamente de subsistência, cujas práticas culturais têm um carácter de uso intensivo da
mão-de-obra e com um nível de "inputs" muito baixo ou quase nulo. Sabendo ainda que, as
práticas culturais normalmente em uso, são baseadas no conhecimento e experiência secular dos
agricultores, é lógico que, na política de desenvolvimento agrário tenha sido definida como
primeira prioridade o pequeno agricultor, o camponês, em suma, o chamado Sector Familiar.

Exemplificando as vantagens da mudança das atenções para o Sector Familiar, Nunes (1988)
mencionou que, com menor investimento, especialmente em termos de investigação, a produção
total de milho seria maior se a prioridade fosse dada à investigação dirigida ao pequeno
agricultor (Tab. 1.1 e Fig. 1.1).

4
Tab. 1.1. Com base em dados de rendimento e produção do milho (1970) é apresentada a
importância relativa dos Sectores Familiar e Moderno.

Sector Produção Área Rendimento Médio


(x 1000 t) (x 1000 ha) (Kg/ha)
Familiar 335 801 400
Moderno 38 32 1200
a) mais de 96% da área é feita pelo Sector Familiar (aproximadamente 1.000.000 de
agricultores).
b) mais de 90% da produção é obtida pelo Sector Familiar.

Fig. 1.1 - Efeito do melhoramento genético do milho, das suas práticas culturais e rendimento no
aumento da produção nacional de milho por Sector.

Como se pode ver pela Figura 1.1, o impacto do investimento no Sector Familiar é bem maior
do que no Sector Moderno. Isto é essencialmente devido a:
- maiores produções e aumentos de produção são obtidas pelo Sector Familiar.
- os níveis de investimento na investigação, para o aumento de rendimentos do Sector
Familiar, e no sistema de extensão, para a transferência de tecnologia, são relativamente mais
baixos.
- é mais fácil conseguir aumentos da mesma amplitude a níveis mais baixos de rendimento.
Por exemplo, é mais fácil conseguir aumentos de rendimento de 300 para 500 Kg/ha do que
1300 para 1500 Kg/ha.

Assim, na disciplina de Agricultura Geral daremos particular importância a:


- Agricultura de Sequeiro,
- Agricultura Tropical,
- Agricultura de Subsistência,
- Agricultura Tradicional,
- Agricultura de Baixos "Inputs".

Contudo, atenção será dada aos métodos modernos de cultivo, como uma das alternativas para o
desenvolvimento da agricultura em Moçambique.

5
2. CLIMA E A AGRICULTURA

2.1. OS CLIMAS MAIS IMPORTANTES NOS TRÓPICOS

O clima tem uma importante influência em:


- Natureza da vegetação natural.
- Características do solo
- As culturas que podem crescer
- Tipo de agricultura praticada.

2.1.1. Climas húmidos equatoriais

Localizam-se na zona de 5 N a 5 S. São geralmente húmidos com chuvas frequentes. A


precipitação é de 2000-3000 mm/ano, chovendo todos os meses. A temperatura média é de
28C, variando entre 25-31C, podendo ser considerada constante.

O fotoperíodo é de cerca de 12 h de luz. Não existem estações. A vegetação dominante é a


floresta sempre verde.

Pode-se cultivar todo o ano. As culturas mais importantes são:


a) Culturas perenes - seringueira, palmeira, banana, café libérica e também coco e cacau.
b) culturas anuais - arroz (em zonas com período seco) e milho.

2.1.2. Climas secos tropicais

Localizam-se entre os 15 e os 30 N e S. Caracterizam-se pela existência de massas de ar


quente descendentes.

O clima é quente e seco, existindo zonas desérticas. Tem pouco ou nenhum uso agrícola.

2.1.3. Climas monsónicos

São climas com períodos secos e húmidos alternados. Localizam-se dos 5 aos 15 N e S. São
regiões não muito satisfatórias para a agricultura. Podem ser distinguidos 4 tipos diferentes de
climas monsónicos:
a) Com boa precipitação (1000-2000 mm/ano) em 2 estações chuvosas e estações
secas intermédias curtas. Ocorrem em geral muito perto do equador. As principais
culturas perenes são o café, chá, banana, cacau e palma. Enquanto que as anuais são
o milho, leguminosas, arroz (no Sudoeste Asiático), yam e mandioca.
b) Duas estações húmidas curtas e estações secas pronunciadas. A precipitação é de
600-1250 mm/ano. São regiões menos próprias para o cultivo de culturas perenes,
cultivando-se contudo culturas tolerantes à seca como o caju e o sisal. As culturas
base são o milho, mapira, nachenin, batata-doce, mandioca, amendoim, feijões e
outras leguminosas.
c) Uma estação chuvosa longa e uma estação seca longa. A precipitação varia de
750-1250 mm/ano, distribuída em 5-6 meses. Podem ser cultivadas culturas perenes,
embora são seja uma zona especialmente adequada. As culturas mais importantes são
o milho, mapira, nachenin, batata-doce, mandioca, amendoim, feijões e leguminosas
e, ainda, culturas que requerem estações chuvosas estáveis como o yam, o algodão e
o arroz, em zonas baixas.

6
d) Uma estação chuvosa curta e uma estação longa e seca. Não é apropriado para
culturas perenes. Cultivam-se culturas anuais e/ou resistentes à seca, como é o caso
da mapira, batata-doce, amendoim, sesamum.

2.1.4. Climas tropicais húmidos com ventos costeiros

A origem da precipitação é parcialmente convectiva e também por perturbações orográficas.


80% da precipitação total cai em 7 meses, caindo os restantes 20% em 3 meses. Em geral, a
precipitação nunca excede os 75 mm/mês (p=1/3). A precipitação varia entre 125-380 cm/ano.

A temperatura é de 24-27C, sendo o dia mais quente que a noite.

As culturas perenes como o cacau, coco e a cana são possíveis. Cultivam-se anuais como o
arroz, milho, yam e batata- doce.

2.1.5. Clima seco tropical e subtropical das costas ocidentais

Ocorre dos 15 aos 30 N e S. O clima é seco e relativamente frio, sendo de pouca importância
agrícola.

2.2. INFLUÊNCIA DOS FACTORES CLIMÁTICOS NA PRODUÇÃO

Crescimento é o aumento de matéria seca da planta, como resultado do excesso de


carbohidratos produzidos pela fotossíntese, durante o dia, acima da quantidade oxidada pela
respiração, que ocorre dia e noite na maioria das plantas.

2.2.1. Radiação

A energia para a fotossíntese e transpiração deriva da luz (ondas curtas - 0,3-3,0 m) incidente
absorvida pelas plantas.

A reflectividade média (Inglaterra) é de 20%, sendo menor nos trópicos, por causa da menor
inclinação do sol. Assim temos mais energia disponível nas regiões tropicais. Só a energia
absorvida do espectro visível (aproximadamente 45% da luz total - comprimentos de onda de
0,4-0,7 m) é usada na fotossintese. Os picos de absorção de luz para a fotossintese coincidem
com os comprimentos de onda do violeta-azul e laranja-vermelho. A radiação ultravioleta, ou de
menor comprimento de onda, é daninha.

2.2.2. Factores que afectam a produção de matéria seca e o rendimento

A matéria seca (M.S.) total e o rendimento dependem de:


a) Duração do período de crescimento.
b) CGR (“Crop Growth Rate” - Taxa de Crescimento da Cultura) expresso em g M.S./m²/dia.
c) NAR (Net Assimilation Rate - Taxa de Assimilação Liquida) que é um medida da eficiência
da fotossintese e é expressa em g M.S./cm² de folha ou em mg CO2/dm² de folha/hora.
d) LAI (Leaf Area Index - Índice de Área Foliar) que é a razão entre a área foliar e a área de
solo ocupada. O LAI óptimo é tido como aquele em que 95% da luz incidente é interceptada,
atingindo valores de 3-4 para os cereais e de 8-9 para as couves.
e) Partição dos carbohidratos para as partes económicas da cultura.

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2.2.3. Eficiência do uso de energia solar na produção de matéria seca

A luz não é geralmente um problema em zonas tropicais. Podendo, por vezes, chegar a sê-lo se a
H2O e nutrientes não forem limitantes. A variação da quantidade de luz disponível vai depender
de:
a) diferenças entre estações (Tab. 2.1).
b) duração do dia.
c) nebulosidade (em função do clima) (Tab. 2.2).

Muitas vezes as gramíneas tropicais são mais eficientes que as temperadas.

Tab. 2.1 - Variação da radiação solar em função da estação, Los Baños. Filipinas (IRRI Annual
Report, 1965).

Mês Pr Nº. de dias Temp. Diurna Radiação


(mm) de chuva (C) (gcal/cm²)
Abril 41 5 28,3 14.850
Dezembro 147 17 25,4 8.140

Tab. 2.2 - Energia da radiação solar em diferentes regiões climáticas (segundo Cooper, 1970)

Região Energia radiante Produção potencial de


(Kcal/cm²/ano) matéria seca (3% conversão)
(t/ha/ano)
Temperada 84-115 27-37
Subtropical 145-170 46-54
Tropical húmido 130-160 41-51
Tropical seco 150-180 48-57

Para calcular estes valores assume-se que:


i) 45% da radiação está disponível para a fotossintese.
ii) 1g de matéria seca equivale a 4250 calorias.
iii) a eficiência de conversão de luz em energia é de 3%.
iv) 1 cal = 4,18 J

A eficiência de conversão de luz em produto é de 0,2-0,5% em cultivos temperados


eficientemente manejados, sendo apenas de 0,05% para a agricultura tropical de subsistência.

Para uma utilização eficiente da luz deve-se:


a) utilizar o máximo de luz possível pelas culturas para a produção de fotossintatos.
b) ter a maior partição possível para as partes com valor económico.

Devemos ter sempre presente que a intercepção de luz depende da área foliar, que está
estreitamente ligada à matéria seca total.

Possíveis medidas agronómicas para aumentar a intercepção:


a) manipulação das datas de sementeira.
b) manipulação da densidade de plantação.
c) manipulação das práticas culturais - para ter crescimento de folhas na fase juvenil e atingir o
LAI óptimo o mais cedo possível.
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Nos trópicos é preciso fazer coincidir as necessidades de água para a manutenção e
desenvolvimento do LAI óptimo com a água fornecida pelas chuvas.

Pela Figura 2.1, é evidente a interacção entre a intensidade da luz e a quantidade total de água
disponível e o seu efeito na fotossintese. Regra geral, a redução da intensidade da luz e o
aumento do stress hídrico (deficiência de água) levam á redução da quantidade total de
fotossintatos produzidos por unidade de tempo.

Fig. 2.1 - Efeito da intensidade da luz e do grau de Stress hídrico na fotossintese da cultura do
trigo (Wardlaw, 1967).

2.2.4. Precipitação e necessidades hídricas das culturas

A precipitação e sua má distribuição não é um factor limitante sério em climas equatoriais. O


problema real só começa quando a Evapotranspiração é maior que a taxa de extracção de água
do solo.

Em termos gerais a precipitação pode ser equacionada da seguinte forma:

P = ET + R + D + S onde,
P = precipitação.
ET = evapotranspiração.
R = Run-off.
D = Drenagem profunda.
S = Armazenamento no solo.

Em Moçambique a precipitação é sem duvida um dos mais importantes, senão o mais


importante, factores influenciando a agricultura.

A duração da época das chuvas, assim como a quantidade e distribuição da precipitação podem
limitar:
9
i) o tipo de cultura a usar.
ii) os rendimentos possíveis de obter.

A ocorrência de chuvas fortes e frequentes pode ser uma desvantagem quando:


i) aumenta o lexiviamento de nutrientes.
ii) provoca a erosão do solo e arrasta os adubos devido ao run-off.
iii) interfere com as actividades agrícolas.

A ocorrência de períodos secos limita a produção durante parte do ano, a menos que seja usada a
irrigação.

A duração do período chuvoso ou a quantidade, distribuição e certeza de precipitação podem


limitar:
i) as culturas a utilizar.
ii) os rendimentos possíveis de obter.

Na maior parte das zonas tropicais o regime da precipitação é o factor climático mais importante
para a agricultura determinando:
i) o potencial agrícola da região.
ii) o sistema de produção em uso.
iii) as culturas a usar.
iv) a sequência e tempo de realização das operações culturais.

Depois da ocorrência de chuvas podem-se salientar as seguintes fases de movimento da água:


a) a primeira camada do solo enche até à saturação, drenando depois até à Capacidade de
Campo (Field Capacity).
b) satura a segunda camada, que também drena. O processo continua até que todo o perfil fique
cheio (até FC).
c) depois da chuva parar vai haver evaporação da superfície do solo e a água vai ser utilizada
nos primeiros 30-60 cm pela cultura.

Em muitas áreas a precipitação é menor que as necessidades potenciais da cultura. Isto pode ter
duas consequências:
a) No fim do ciclo, a humidade é insuficiente e pode restringir o crescimento e rendimento da
cultura.
b) Depois da colheita, o solo, nas camadas profundas, vai estar perto do ponto de
emurchecimento permanente, e deve ser recarregado antes da sementeira seguinte.

2.2.4.1. Intensidade das chuvas

A ocorrência de chuvas de alta intensidade é comum, podendo:


1) levar à destruição dos agregados do solo,
2) provocar a formação de crostas, que reduzem a infiltração, levando finalmente
3) ao aumento do run-off e
4) aumento da erosão, tornando muito importante a necessidade de medidas de conservação do
solo

Na Figura 2.2 é evidente a relação entre a intensidade da precipitação e a quantidade total de


água armazenada no solo. Assim, com o aumento da intensidade aumenta o run-off. Outra
evidência de interesse é o maior run-off e menor armazenamento de água conseguidos em
condições de solo nu.
10
Fig. 2.3 - Intensidade da chuva e run-off em Namulonge (Farbrother e Manning (1952) adaptado
por Webster e Wilson (1980)).

2.2.4.2. Certeza da precipitação

Baseia-se em cálculos de probabilidade de ocorrência de precipitações menores que certos


valores considerados críticos (X vezes em cada Y anos).

Pode-se ainda avaliar o CV(%) (Coeficiente de Variação em Percentagem) da precipitação num


dado período.

2.2.4.3. Necessidades hídricas das culturas

Regra geral, para os cálculos das Necessidades de Água de Rega (NAR) temos a considerar:
a) Disponibilidade de água pela precipitação. Em relação à quantidade de chuva disponível
para a cultura usa-se geralmente o conceito de precipitação efectiva.
b) Cultura\cultivar a utilizar. Em função da cultura\cultivar a usar, com a ajuda de lisimetros,
podem-se determinar os coeficientes de cultura (Kc), para cada estádio de crescimento.
c) Necessidade por estádio de crescimento. Conhecendo a Evapotranspiração do local (ET que
pode ser determinada pelo método de Penman) e os factores Kc para cada fase de
crescimento, pode-se usar a equação ETc = Kc * ET e determinar a quantidade de água
necessária por fase de crescimento.
d) Necessidade total da cultura. É calculada somando-se as necessidades parciais. Na
determinação da quantidade total de água a regar deve-se ainda ter em conta a eficiência do
transporte e distribuição da água no campo.

Considera-se que a NAR óptima é igual à Evapotranspiração Potencial.

2.2.5. Humidade

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Varia com a precipitação total e a distribuição da precipitação.

Alta Humidade Relativa conjuntamente com altas temperaturas favorece o desenvolvimento de


doenças no campo e nos armazéns. Muitas vezes é difícil secar os grãos até às humidades
necessárias, levando à sua rápida deterioração.

2.2.6. Temperatura

Temperaturas muito baixas não são normalmente um factor limitante nas regiões tropicais,
excepto a grande altitudes, onde temperaturas abaixo dos 15C retardam ou param o crescimento
e desenvolvimento ou matam a planta. Deve-se ter em conta que, para um aumento de 300 m em
altitude, existe um abaixamento da temperatura de 1,8C.

Geadas podem ocorrer a grande altitude.

Algumas culturas suportam maiores temperaturas que outras, mas isto está, muitas vezes, ligado
à resistência á seca (caso da mapira e do sisal).

Altas temperaturas tem efeitos negativos quando associados à falta de água.

Altas temperaturas associadas a baixas Humidades Relativas podem causar efeitos negativos
como:
a) podem matar as bandeiras do milho, por dissecação.
b) causam a queda de frutos de algodão.
c) causam a queda prematura de frutos em certas fruteiras.

Em solos sem cobertura, podem-se atingir temperaturas tais, que inibem ou retardam a
germinação e crescimento inicial das culturas.

O efeito da temperatura depende das culturas. Por exemplo, o milho é mais susceptível que o
feijão nhemba.

2.2.7. Duração do dia e fotoperíodo

No equador o dia tem cerca de 12 horas de luz durante todo o ano. A duração do dia varia com a
estação e a latitude. A diferença entre o dia mais longo e o dia mais curto varia com a latitude,
sendo de:
a) 70 minutos a 10 N e S.
b) 3 horas a 23,5 N e S.
c) 8 horas a 52 N e S.

A floração é afectada pela duração do dia, sendo o efeito conhecido por fotoperiodismo. Existem
3 classes de comportamento em relação à floração (Fig. 2.3):
1. Plantas de dias curtos (cana, milho, mapira, batata-doce, soja, tabaco). Estas plantas só
florescem se o dia for menor que uma certa duração crítica, sempre que o comprimento do
dia esteja a diminuir. Entre a duração óptima (menor que a crítica) e a crítica, o período entre
a germinação e a floração aumenta.
2. Plantas de dias longos (trigo e cevada de inverno, espinafre, beterraba). Só florescem se o
dia for mais longo que um mínimo crítico, sempre que o comprimento do dia estiver a
aumentar. A floração é induzida por fotoperíodos longos.
3. Plantas de dias neutros. Inclui as plantas não fotossensitivas (tomate, algodão).
12
Fig. 2.3. O fotoperiodismo é o controlo da floração pelos comprimentos dos períodos de luz e
escuro a que a planta é exposta. O comprimento da noite, mais que o do dia, é o factor crítico.
Plantas de dias curtos florescem com noites longas. Plantas de dias longos, com noites curtas.
(Adaptado de Galston, The life of the green plant, 1961)

Embora se saiba que o factor de indução da floração seja o comprimento da noite, todas as
definições relativas ao fotoperiodismo são feitas em função do comprimento do dia, devido a
aspectos históricos.

A temperatura nocturna interactua com o fotoperíodo.

A maioria das plantas tropicais são de dias curtos, como é o caso do feijão nhemba que é
geralmente de dias curtos, podendo ser também de dias neutros.

O período até a floração pode afectar o rendimento.

Nos trópicos (com cvs de dias curtos) podem-se considerar duas situações:
a) semear cedo, quando os dias alongam - alonga o ciclo, por atrasar a entrada em floração.
A floração ocorre quando se atinge o período crítico (resulta num maior período vegetativo).
b) semear tarde, quando os dias encurtam - provoca floração precoce.

Tab. 2.3 - Comprimentos médios do dia à latitude de 20 S.


Mês Julh Agosto Setembro Outubr Novembr Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho
o o o
Duraçã
o do dia 11,1 11,5 12,0 12,6 13,1 13,3 13,2 12,8 12,3 11,7 11,2 10,9
(horas)

13
Tab. 2.4. Listagem de algumas plantas cultivadas e a sua resposta ao fotoperíodo.

Grupo Dias curtos Dias longos Dias neutros


Fruteiras café, morango* morango* morango*
Herbáceas batata*, feijão (vars. couve-china, amendoim, tomate, beringela,
anãs), batata-doce, arroz alface, espinafre, cucurbitaceas, algodão,
de inverno, soja*, cevada*, soja*, cereais feijão*
cana-sacarina
Ornamentais crisantemos, gardenia begonia, hibiscus, violeta africana, petunia,
piretro zinia, cravos
* - algumas variedades

2.2.8. Vento

A ocorrência de ventos, especialmente ventos quentes e fortes, tem como resultado:


a) Aumentar a evaporação.
b) Pode aumentar a transpiração.
c) Ventos quentes e secos aumentam as perdas de água resultando em stress hídrico, redução
no crescimento e abaixamento dos rendimentos. Este efeito tem importância particular em
culturas irrigadas.
d) O vento é um factor importante para a ocorrência de erosão eólica.
e) A ocorrência de danos mecânicos.

Literatura recomendada

Webster, C.C., e Wilson, P.N., 1980. Agriculture in the Tropics. 2nd Ed. Tropical Agriculture
Series, Longman Group, New York and London. Capítulo 1.

Wrigley, G., 1981. Tropical Agriculture - The Development of Production. 4th Ed. Longman
Group, New York and London. Págs. 50-87.

Youdeowei, A., Ezedima, F.O.C. e Onazi, O.C., 1986. Introduction to Tropical Agriculture.
Longman Group, U.K.

Dregne, H.E. e Willis, W.O., 1983. Dryland Agriculture. ASA/CSSA/SSSA. USA.

ILACO, 1981. Agricultural Compendium for Rural Development in the Tropics and Subtropics.
Elsevier Scientific Pub. Company. Netherlands.

14
Questões de raciocínio e controlo

1) Como varia o rendimento das culturas fotossensitivas com o comprimento do dia?

2) As variedades de nhemba de ciclo longo são geralmente fotossensitivas (de dias curtos), com
a indução da floração a ocorrer no período de Fevereiro a Março. Sabe-se que a data de
sementeira óptima é a de Outubro-Novembro. Discuta e comente sobre os resultados da
sementeiras no cedo (ex. Agosto) e tardias (ex. Janeiro). Justifique.

15
3. O AMBIENTE DE MOÇAMBIQUE

(elaborado por Dr. Mário Ruy Marques)

3.1. O CLIMA EM GERAL

O amplo padrão climático em Moçambique é fortemente influenciado e determinado pela


movimentação anual da zona de Convergência Inter-Tropical (CIT) e dos ventos alíseos do
Oceano Indico.

Mais localmente, a corrente quente do Canal de Moçambique que se movimenta em direcção à


costa, a Sul, afecta o clima das zonas costeiras.

Se por um lado a zona de C.I.T. afecta particularmente as regiões Centro e Norte do País, a
Sul do rio Save o clima é fortemente influenciado por um sistema sub-ciclónico, cujo padrão
de precipitação é determinado pela ocorrência de centros de baixa pressão, originando
consequentemente uma maior irregularidade no padrão das chuvas, do que aquele existente
para a regiões a Norte do Rio Save.

Estes dois fenómenos climáticos a zona de Convergência Inter-Tropical e as Depressões


Ciclónicas, fazem com que o primeiro, a norte contribua para a ocorrência de uma estação
chuvosa bem definida, que se estende de Novembro-Dezembro (início) a Março-Abril (fim). A
precipitação média anual para a maior parte da área varia de 1000 a 1200 mm. Mas, para a
região montanhosa Central da Província da Zambézia, as médias são bem maiores, podendo
atingir os 2200 mm de chuva.

A Norte desta área a precipitação média anual volta a diminuir, formando uma faixa de
precipitação mais baixa, na ordem dos 800 a 1000 mm e, mais a Sul, para a região que
compreende o Vale do Zambeze, a partir do Rio Chíre, a precipitação atinge os 600 a 800 mm.
Considerando as médias anuais para cada uma das regiões individualizadas, para o norte do País,
pode-se afirmar que a distribuição ao longo da estação é, em geral, boa podendo verificar-se a
ocorrência de pequenos períodos secos, durante os meses de Janeiro e Fevereiro.

A Sul do Rio Save a estação das chuvas oferece menor confiança, não estando claramente
definida mas a sua duração é quase identica à da estação chuvosa do norte (Novembro
/Dezembro a Março /Abril).

A precipitação média anual para a maior parte da área é de 600 a 800 mm de chuva, diminuindo
para oeste onde atinge os 400 mm (região do Pafúri). A distribuição da precipitação ao longo da
estação é irregular e errática, podendo ocorrer longos períodos secos a meio da estação.

3.2. FACTORES CLIMÁTICOS DOMINANTES

3.2.1. Precipitação

Em geral, o padrão da precipitação, médias anuais, mostram um gradiente do mar para a terra,
sendo em alguns casos, drasticamente alterados pela orografia (Anexos 1 e 2).

A precipitação média anual varia entre os 350 mm em Pafúri, na Província de Gaza, e, 2348 mm
em Tacuane, na Alta Zambézia, na Província do mesmo nome.

16
O coeficiente de variação varia entre 20 e 40%, com os valores mais altos concentrados
principalmente no Sul do País e na faixa a Sul do Rio Zambeze.

Este pormenor é de relevante importância para a discussão da avaliação agro-climática no


contexto da produção agrária.

Podemos ainda referir que há dois padrões distintos de precipitação, nomeadamente as chuvas
de verão, que determinam o período húmido e as chuvas de inverno (ao longo da faixa costeira a
Sul dos 19 de latitude Sul, na Província da Zambézia e em áreas de maior altitude em redor de
Espungabera, Manica) e as chuvas só de verão.

A grandeza da intensidade das chuvas mostra um aumento do Sul para o Norte do País embora a
frequência de ocorrência dos períodos de chuva mais intensa apresente um padrão oposto. Mais,
a precipitação anual apresenta uma variação sistemática com o tempo.

Todas estas características da precipitação exercem uma influência significativa no padrão de


utilização da terra em Moçambique.

3.2.2. Temperatura

Os valores de temperatura média anual apresentam, para o caso de Moçambique, alguma


variação regional em função da fisiografia e proximidade do mar (Anexo 3). Assim, para as
regiões mais elevadas, as temperaturas são inferiores a 23C, o mesmo acontecendo para a
região costeira do Sul do País. A média anual da temperatura excede os 26C nos arredores de
Chicoa, na Província de Tete, e em Pemba, na Província de Cabo Delgado.

A maior parte do País apresenta temperaturas de 23-26C, estando as médias da temperatura


média mensal à volta dos 24- 28C, enquanto que a temperatura mínima mensal está à volta dos
19-22C, durante os principais meses de chuva.

À excepção de algumas zonas elevadas, a média anual da radiação solar global é superior a 425
cal/cm²/dia.

Geralmente os meses mais quentes são Outubro, Novembro e Dezembro, na região Norte, e
Janeiro e Fevereiro, no Sul.

Mais uma vez, é importante referir que as temperaturas e a radiação global solar estão de certo
modo associadas à elevação/altitude.

Em geral, a variação numa base anual não é alta, sendo contudo de tomar em consideração as
amplitudes térmicas, em função das médias máximas e mínimas, que são altas.

3.2.3. Humidade

A variação da média anual da humidade relativa é de 60-80%, o que permite considerar que uma
grande faixa do território nacional apresenta caracteristicas sub-húmidas, em particular as
regiões situadas ao longo da faixa costeira.

17
3.2.4. Velocidade do vento

A média anual da velocidade do vento varia de 2,5 a 9,4 km/hora, sendo elevada na faixa
Ulongué-Lichinga, nas Províncias de Tete e Niassa, e ao longo da costa. É relativamente baixa
na Província da Zambézia, e nas partes mais secas das Províncias de Maputo e Gaza (Anexo 4).

Apesar da variação anual da velocidade do vento não ser significativa, há alturas do ano em que,
devido à baixa percentagem de humidade na atmosfera, algumas regiões do País são assoladas
por ventos secos, com mais incidência na transição da estação seca para a estação das chuvas.

3.2.5. Evapotranspiração potencial

Em qualquer estudo da avaliação agro-climática tendo em vista a produção agrícola, o segundo


parametro climático mais importante, a seguir à pluviosidade, é a evapotranspiração potencial, a
qual define, em geral, as necessidades atmosféricas de humidade para uma cultura.

Para Moçambique, a média anual da evapotranspiração potencial varia de 1114 mm e 2016 mm,
segundo o método de Penman. Os valores máximos de evapotranspiração ocorrem na Província
de Tete, ao longo da margem direita do Rio Zambeze, e perto de Pemba, na zona costeira.

3.3. CARACTERIZAÇÃO AGRO-CLIMÁTICA

O clima é o componente do meio que mais influência exerce na distribuição do uso da terra em
áreas relativamente extensas, podendo o comportamento, adaptabilidade e praticabilidade dos
diferentes usos da terra, ser principalmente considerados como devido ás diferenças das
condições climáticas e só secundariamente, devido ás diferenças dos outros recursos, como é o
caso dos solos, sendo uma alta variabilidade das produções anuais em determinada região,
indício da falta de adaptabilidade às condições climáticas prevalecentes.

Em Moçambique, a distribuição de um tipo de uso de terra faz-se segundo este princípio,


conforme nos referimos mais adiante.

A adaptação ás condições do meio é uma necessidade que se impõe, particularmente aos


utilizadores de recursos agrários que não possuem ou dispõem dos meios necessários para
contrariar tais condições.

Essa adaptação a condições do meio verifica-se especialmente quanto às condições do clima, o


que traduz, na prática, o reconhecimento de consequências desastrosas de uma má adaptação ao
clima, talvez maior do que em relação aos outros recursos naturais.

Um desfazamento em relação ao clima, por parte dos principais sectores produtivos, significa a
ocorrência de produções deficientes ou mesmo baixas.

A adaptabilidade de muitos dos sistemas de produção quer simples, quer integrados, quer de
múltiplo uso, é condicionada à aptidão agro-climática ou agro-ecológica, a partir do potencial
dos recursos físicos. Assim, são identificados e recomendados diferentes tipos de uso da terra,
tendo em vista a optimização e uso racional dos recursos agrários.

Fazendo referência a um dos vários métodos de classificação agro-climática (Indice de


Humidade Modificado de Thornthwaite) e segundo Reddy (1973), em Moçambique as zonas
18
agro-climáticas, generalizadas, consistem de quatro principais zonas: nomeadamente a zona
árida, limitada às áreas de baixa precipitação (menos de 500 mm) e um coeficiente alto de
variação da precipitação; uma zona semi-árida, por sua vez subdividida em semi-árida seca,
correspondendo às áreas de precipitação moderada (500-800 mm) e semi-árida húmida
(800-1000 mm); uma zona sub-húmida correspondendo às áreas com elevada precipitação
(1000-1400 mm), ao longo da faixa costeira e nas zonas de altitude; e uma zona húmida, de
precipitação muito elevada (mais de 1400 mm), correspondendo às zonas elevadas da Alta
Zambézia e pequenas áreas à volta de Espungabera, na Província de Manica (Anexo 5).

Estas diferentes zonas podem agrupar-se, por ordem crescente de representatividade em


semi-áridas (80%), sub-húmida (15%), árida (3%) e húmida (2%), com alguma variação de
humidade dentro das suas maiores classes.

3.3.1. Potencial agro-climático e áreas agro-climatologicamente criticas

Conforme já foi referido anteriormente, em Moçambique, existe uma correlação considerável


entre as condições climáticas e a produção agrária.

Esta situação faz com que Moçambique seja predominantemente um País de feição agrária, pois
que, as actividades agrícolas, pecuárias, florestais, silvícolas e faunísticas estão na base da sua
economia e constituem a principal fonte de receitas da sua população, a qual, em grande
percentagem, vive exclusivamente do uso da terra.

A sua forma e localização, beneficiando do facto de ser cortada por grandes rios como o
Zambeze, o Save, o Limpopo, o Incomáti, o Sabié, o Umbelúzi e o Maputo, implica grande
diversidade de condições ecológicas, com regiões que vão de climas áridos a altamente
pluviosos, muito quentes e húmidos a condições quase temperadas, de planas a fortemente
acidentadas.

Tal diversidade acarreta, necessariamente, situações sócio-económicas e culturais igualmente


diversas, que se traduzem simplesmente por um indicador, a sua densidade populacional,
variando de menos 5 a 50 habitantes por km².

Por outro lado, é de salientar que é nas zonas costeiras que a população mais se adensa, pois
ultrapassa os 50 habitantes/km².

Considerando esta diversidade e os factores a ela inerentes, tentar-se-á definir, em termos


regionais, os tipos de clima responsáveis pela dominância de determinado uso da terra, tendo em
conta o seu potencial e principais limitações à produção agrária.

Assim, em função do tipo de clima, Moçambique divide-se em três principais zonas agrícolas,
utilizando-se para o efeito os valores médios de evapotranspiração potencial e de precipitação
(Fig. 3.6).

Nas zonas norte e central, abrangendo os climas do tipo sub-húmido e húmido, com valores de
evapotranspiração potencial inferiores a 1300 mm, onde existe a predominância da cultura do
milho, é ainda possível distinguir duas sub-regiões: uma com deficiência nula ou moderada de
água no inverno, abrangendo as regiões mesoplanálticas e antiplanálticas de Espungabera,
Manica e Catandica, onde a cultura predominante é o milho; a segunda sub-região, com uma
grande deficiência de água no inverno, abrange as regiões altas de Lichinga e Tete, sendo o
milho a cultura dominante e o feijão a cultura secundária.
19
A precipitação média anual é de cerca de 1200 mm, dos quais 90% caem até finais de Março.

Há ainda que referir, para o Norte e Centro do País, outras áreas onde predomina o clima
sub-húmido seco, com valores de evapotranspiração potencial entre 1300 e 1500 mm,
correspondendo às regiões mesoplanálticas de Cabo Delgado e sub-planálticas de Niassa e
Nampula.

Para estas regiões, a queda pluviométrica anual é ligeiramente inferior a 1000 mm,
predominando a cultura de mapira.

É ainda possível encontrar outros tipos de clima, nomeadamente do tipo semi-árido, ocorrendo
em algumas das zonas costeiras e no vale do Zambeze.

Nesta região, o tipo de agricultura praticada depende fundamentalmente da quantidade total de


precipitação e da sua distribuição anual.

Para a zona Sul, é difícil a definição dos principais campos climáticos, associados à agricultura,
por esta zona não ser, sob o ponto de vista climático, decisivamente apta para qualquer das
culturas tradicionais.

Os valores de evapotranspiração potencial são, em geral, inferiores a 1300 mm, limitando a


produção de algumas culturas típicas no Norte, como é o caso da mandioca, mapira e mexoeira,
que encontram campos climáticos bem definidos resultando na sua dominância. Contudo, na
região Sul, o milho é a cultura dominante, mas o risco de falha de cultura é bastante elevado
devido à ocorrência de longos períodos secos durante o período de crescimento.

3.3.2 Capacidade erosiva da Precipitação

Os mecanismos primários que causam erosão do solo, são a quantidade e a intensidade de


precipitação.

Em Moçambique, a magnitude da intensidade de precipitação mostra um aumento de Sul para o


Norte do País. Mas, a frequência da ocorrência de intervalos de precipitação intensa mostra
diferenças regionais consideráveis (Anexo 7).

De acordo com a computarização do modelo, a contribuição da energia cinética relacionada


com a capacidade erosiva para intervalos de precipitação de intensidade menor que 10 mm/hora
é menor que 20% em termos anuais.

Isto significa que, 80% da energia cinética relacionada com a capacidade erosiva, é determinada
por intervalos de chuva de mais de 10 mm/hora, embora a contribuição para a capacidade
erosiva, através de intervalos de chuva de mais de 20 mm/hora, pareça ser baixa.

Caso se confirme esta suposição, então as regiões de baixa precipitação a Sul do Rio Save,
mesmo que a precipitação média anual seja baixa, com intervalos intensivos mais frequentes,
podem ter igualmente um elevado risco de erosão comparativamente às regiões montanhosas do
Centro e Norte do País.

Algumas áreas em redor de Nampula também apresentam um baixo risco de erosão.

20
Contudo, de forma a se ter uma caracterização geral do Índice de Capacidade Erosiva das
chuvas e das regiões do País mais susceptíveis à erosão, podemos agrupá-las do seguinte modo:
a) Áreas de menor risco de erosão. Inclui as áreas de baixa precipitação de Província de Gaza,
áreas de baixa precipitação do Sul da Província de Tete e áreas de baixa precipitação á volta
de Pemba, Província de Cabo Delgado.
b) Áreas onde o risco de erosão é elevado. Inclui a Província da Zambézia, Província do Niassa,
Centro e Nordeste da Província de Cabo Delgado, Norte da Província de Tete, regiões
ocidentais das Províncias de Manica e Sofala e áreas costeiras das Províncias de Inhambane
e Gaza.

3.4. POTENCIAL AGRO-ECOLÓGICO

A caracterização Agro-Ecológica do País é determinada pelos factores ambientais descritos nos


capítulos anteriores, como o clima, a topografia, os solos e a cobertura vegetal, e pela resposta
das várias zonas a diferentes formas de utilização do solo. Assim, são diferenciadas, em geral,
cinco grandes regiões naturais, como complemento das diferentes zonagens até agora
mencionadas (Figs. 3.8 e 3.18 a 3.23).

3.4.1. Região Agro-Ecológica I

Esta região inclui zonas com uma nítida especialização agrícola, mas o seu potencial agrícola
pode ser bastante diversificado, devido às suas qualidades naturais.

Esta região abrange as zonas planálticas e montanhosas de Mussorize, Chimanimane, Planaltos


altos da Angónia e Maravia, Alta Zambézia (Gúruè, Namarroi, Milange, Tacuane e Alto
Molócue) e Lichinga e Maniamba.

É fortemente ondulada, acidentada. As deficiências hídricas são, em geral, baixas, enquanto que
os excessos atingem valores elevados.

É uma região de características naturais que a tornam adequada para certas culturas, cuja
produção não é viável noutras regiões do País, como é o caso das culturas do chá, café, batata-
semente, fruteiras de climas temperados e produção de gado leiteiro. Nas áreas susceptíveis para
o aproveitamento agrícola, é recomendada a exploração florestal, devido à defesa do solo contra
a erosão, dada a topografia e ocorrência de declives.

Uma vez que nesta região ocorrem solos predominantemente ferralíticos, por vezes húmidos, a
produção agrícola intensiva é recomendada, associada à pecuária (leiteira e produção de carne).
As culturas principais poderão ser o chá, café, tabaco, fruteiras, batata, milho, trigo, feijão,
leguminosas forrageiras, soja, girassol e mandioca. O reflorestamento deve ser sempre tomado
em consideração.

O arroz de sequeiro, em particular na Alta Zambézia, tem grandes possibilidades de produção,


pois há regiões em que o período de crescimento é superior a 280 dias. Esta região tem ainda um
grande potencial para o reflorestamento e exploração da floresta natural, em particular nas áreas
onde ocorrem solos delgados (litossolos).

3.4.2. Região Agro-Ecológica II

Esta região inclui parte da zona baixa ao Norte do Rio Búzi, na Província de Sofala, parte
importante das zonas sub-planálticas e mesoplanálticas de Zóbue e restantes na Província de
21
Tete, o litoral e sublitoral da Província da Zambézia (baixa e média Zambézia), as zonas de
Muecate, Mecuburi, Nampula, Ribáuè e Malema, na Província de Nampula, Maúa e Mandimba,
na Província do Niassa, e o planalto de Mueda, na Província de Cabo Delgado.

O relevo é quase plano e suave a fortemente ondulado.

Climaticamente a região é caracterizada por se verificar uma deficiência de água no período seco
(Junho, Julho, Outubro e Novembro) e excessos de água em quatro meses do ano (Dezembro,
Janeiro, Março e Abril).

Nesta região é possível o desenvolvimento de várias culturas, das quais muitas delas e seus
respectivos resíduos, são de interesse para a produção pecuária.

A boa utilização do solo e a sua conservação, deve constituir a base de qualquer dos tipos de
utilização das terras, praticando-se sistematicamente o sistema de rotações, a incorporação dos
resíduos das culturas e a introdução de leguminosas.

A infestação de tripanossomiase (Tsé-Tsé) é das principais limitações à introdução do gado


bovino, situação idêntica à região Agro-Ecológica I.

A região é apta à produção de milho, amendoim, mandioca, feijão, algodão, fruteiras,


oleaginosas, tabaco, quenafe, mapira e ananás.

As baixas dos Rios Zambeze, Púngoè e Búzi, de solos aluvionares, em regra férteis, em muitos
casos hidromórficos e em alguns halomórficos, são constituídas por solos adaptados ao regadio
(Fig. 3.9), com aptidão climática para agricultura irrigada e, por conseguinte, votadas a uma
produção agrícola intensiva, sendo as principais culturas o milho, arroz, cana-de-açúcar e
hortícolas. Nas zonas mais altas, melhor drenadas e de solos mais leves, a cultura do coqueiro
adapta-se perfeitamente, consistindo parte de um sistema de produção integrado Agro-pecuário.

Nas regiões sub e mesoplanálticas recomenda-se o reflorestamento e a exploração ordenada da


floresta natural.

3.4.3. Região Agro-Ecológica III

Região essencialmente de exploração semi-intensiva, a Sul do Rio Save, abrangendo toda a faixa
costeira com altitudes inferiores a de 200 metros. Esta região está representada pela Província de
Sofala, inflectindo para Oeste até à fronteira, incluindo parte de Báruè (Manica), Gorongosa
(Sofala) e o afundimento do Urema. Prolonga-se para Norte do Zambeze, ficando sobranceira ao
Baixo Chíre. Na Província de Tete desenvolve-se, na quase totalidade, para Norte do Rio
Zambeze, abrangendo as zonas subplanálticas de transição entre as regiões IV e as áreas
planálticas. Predomina nas Províncias de Cabo Delgado e Nampula, incluído numa pequena
faixa marginando a Lago Niassa.

A região é bastante heterogénea do ponto de vista de altitude, abrangendo áreas baixas, litorais e
sublitorais e zonas altas, embora não ultrapassando os 1000 m. A faixa costeira do Sul do Save e
Sofala é levemente ondulada a ondulada.

A distribuição irregular das chuvas, ao longo do ano, aliada a temperaturas bastante elevadas,
origina deficiências hídricas, no período Maio/Dezembro, e excessos de água, no resto do ano
(2-3 meses). A irregularidade da precipitação ocasiona sub-períodos secos ao longo do período
22
de crescimento o que, embora seja atenuado a Norte do Zambeze, acarreta grandes dificuldades
do ponto de vista da Agricultura de sequeiro.

A utilização dos recursos deverá ser do tipo misto, agro-pecuária. A região tem ainda boa
aptidão para a fruticultura de espécies tropicais, relativamente resistentes a deficiências hídricas,
como é o caso do cajueiro e mangueira na faixa costeira.

Em termos de culturas alimentares dever-se-á ter em conta cultivos de variedades tolerantes á


seca, devido ao stress hídrico e ao seu ciclo curto.

Culturas mais resistentes á seca como o algodão, mapira, mandioca e girassol têm mostrado
melhor adaptabilidade.

Do ponto de vista pecuário, algumas das zonas encontram-se infestadas de mosca tsé-tsé, o que é
um factor limitante, embora se considere que, com operações/tratamentos de combate à tsé-tsé,
tais limitações podem ser minimizadas.

Nos solos pouco evoluídos, delgados, a exploração florestal e reflorestamento talvez sejam as
actividades mais adequadas, assim como a produção pecuária.

Nas baixas e vales poderão ser praticadas culturas cerealíferas, algodão e leguminosas. As
principais culturas, neste caso, seriam o milho, mapira, mandioca, feijão, algodão, gramineas e
leguminosas forrageiras.

Nos vertissolos recomendam-se as culturas do milho, algodão, pastagens melhoradas, feijões,


batata-doce e arroz, onde for possível o regadio.

As zonas do Alto Lúrio, Rovuma, Lugenda, de solos predominantemente de textura ligeira,


apresentam boas condições para a produção de milho, tabaco, algodão e mandioca. Nos solos
aluvionares e hidromórficos poderão, instalar-se explorações intensivas de regadio. A actividade
florestal poderá constituir uma alternativa económica, nas áreas mais marginais, à utilização
agrícola.

Na faixa que compreende Nampula, Montepuez e Negomano, predominam solos vermelhos


profundos e de fertilidade limitada. Culturas como milho, mapira, amendoim e mandioca têm
boas possibilidades de produção, embora se deva considerar a rotação com o algodão. Esta zona
é seriamente afectada pela mosca tsé-tsé, limitando a actividade pecuária de forma sistemática.

Nas zonas onde predominam os solos de textura ligeira, do ponto de vista agrícola, têm grande
interesse as culturas do amendoim, mandioca, cajueiro, mapira e feijões.

Nos solos de textura mais pesada deve-se fomentar a produção de culturas de rendimento mais
como algodão e tabaco.

Nos aluviões dos rios, em regra férteis, recomenda-se a produção agrícola intensiva, tendo como
principais culturas o trigo, arroz, milho, feijões, hortícolas, batata-doce e cana-de-açúcar.
Contudo, há que ter em atenção os cuidados indispensáveis na utilização das terras, devido à
salinização-sodicidade, tornando-se necessário a existência de medidas efectivas em termos de
drenagem e rega.

23
Na faixa arenosa costeira, a produção agrícola de sequeiro é a mais indicada, considerando-se as
culturas do milho, amendoim, feijões, em consociação, e o cajueiro, entre outras. Ainda nesta
zona o aproveitamento florestal é também aconselhável.

3.4.4. Região Agro-Ecológica IV

Esta região está representada, no Sul do Save, por uma faixa sub-litoral, estendendo-se até à
fronteira e abrangendo o Sul do Rio dos Elefantes, à excepção de uma pequena mancha
correspondente à Namaacha.

Em Sofala abrange uma faixa sub-litoral a sul do Rio Búzi. Na Província de Tete tem grande
representação no Mázoe e baixo Zumbo. Nas Províncias de Nampula e Cabo Delgado abrange a
mancha litoral Mecúfi-Memba.

O relevo é na generalidade quase plano a ondulado. A precipitação média anual varia de 600 a
800 mm, traduzindo-se numa acentuada falta de água no solo. A irregularidade das chuvas é
muito importante, ocasionado secas e sub-períodos secos ao longo da estação das chuvas.

Para o desenvolvimento desta região, dada a irregularidade das chuvas, diferentes formas de
conservação de água devem ser consideradas.

A produção pecuária e a florestal são talvez os tipos de uso de terra melhor adaptados às
condições ecológicas prevalecentes.

A produção agrícola está sujeita a riscos de perda das culturas em grande parte dos solos. Onde a
natureza do solo permite, é de recorrer à produção de mapira, meixoeira, girassol e tabaco dada a
sua maior adaptabilidade. Nas zonas aluvionares, com solos argilosos normalmente profundos, é
de acrescentar a produção de algodão, recomendando-se, sempre que possível, a rega. Nestas
zonas a pecuária semi-extensiva é talvez o uso de terras com melhor potencial.

Em geral, as culturas principais mais aconselháveis são o milho, mandioca, feijões, mapira,
meixoeira, algodão, gramineas e leguminosas forrageiras. Assim, é recomendada a promoção
dum desenvolvimento integrado à base de pecuária e agricultura sequeiro.

3.4.5. Região agro-ecológica V

Região de exploração extensiva, na sua maior parte abrangendo as bacias do Limpopo, Save e
Zambeze, com altitudes inferiores a 200 metros.

A precipitação média anual, a Sul do Save e para o interior, chega a ser inferior a 400 mm,
enquanto que para a restante zona varia de 400-800 mm.

A distribuição irregular das chuvas, o baixo valor da sua média anual, as elevadas temperaturas e
evapotranspiração, são indicativos de uma produção agrícola irregular, mesmo para variedades
mais tolerantes á seca. A actividade agrária deverá ser baseada na produção pecuária extensiva,
dependendo da capacidade de carga animal e disponibilidade de água, é muitas vezes dificultada
pela grande profundidade de lençol freático e pela má qualidade da água (alto teor em sais
solúveis).

A actividade agrícola só é viável sob a forma de regadios e ao longo das margens dos rios e seus
tributários (Fig. 3.9).
24
Assim, a potencialidade agrícola é limitada ás manchas de solos de textura mais pesada, de
fertilidade e capacidade de retenção de água moderada a alta, limitando-se à produção de
algodão, mapira e mexoeira.

Nos locais de maior dificuldade hídrica, face às actividades agro-pecuárias, a exploração da


fauna bravia encontra uma maior adaptabilidade ao ambiente.

3.5. OS RECURSOS DO SOLO

3.5.1. As Grandes Classes de Solos

A variabilidade dos solos em Moçambique é notória, uma vez que se observa a existência de
uma grande gradação de tipos. É objectivo considerarem-se as diferentes classes, de uma forma
geral, em função de suas principais características, atendendo ao seu material originário.

A influência dos factores climáticos e a própria geologia nos fenómenos de pedogénese (Fig.
3.11) encontra-se bem evidente na distribuição dos solos, podendo-se encontrar desde solos
fortemente lavados até solos com características halomórficas nas regiões mais áridas, de acordo
com as seguintes classes (Fig. 3.11):

1) Solos aluvionares e hidromórficos (Fluvissolos e Gleissolos) - pouco evoluídos, originários


de material fluvial, lacustre, marinho e sedimentos não consolidados, ocorrendo
dominantemente nas grandes planícies aluvionares dos principais rios, nomeadamente
Umbelúzi, Maputo, Incomáti, Limpopo e Zambeze, assim como associados ás grandes planícies
costeiras. Solos hidromórficos - poderão ainda ser diferenciados em minerais (dambos e
tandos), orgânicos (machongos e solos turfosos) e psamo-hidromórficos, de sedimentos não
consolidados. Apesar da sua potencialidade para a agricultura, estes solos tem a particularidade
de, nas regiões deltáicas, serem fortemente influenciados pelas marés, resultando na salinização
dos mesmos, necessitando de um maneio de água adequado.

2) Vertissolos - desenvolvidos de material não consolidado, rochas sedimentares calcárias e


rochas eruptivas básicas, estes solos estão presentes ao longo da costa, norte-este e nas planícies
aluvionares do Rio Búzi, na parte ocidental da Beira. Estes solos ocorrem ainda no Sul do País,
em particular nas regiões da Moamba e Sábiè.

3) Solos arenosos (Arenossolos) - originários de material não consolidado, de rochas


sedimentares do Karroo, rochas cristalinas quartzíferas, rochas eruptivas básicas e de rochas
sedimentares do Cretácico e do Terciário. Estes solos cobrem grandes áreas do Sul do País,
assim como da região da média Zambézia e do Norte do País, Nampula e Cabo Delgado. Estes
solos, de textura grosseira, ocorrem essencialmente nas regiões semi-áridas do País, onde os
índices de precipitação são normalmente baixos.

4) Solos arenosos hidromórficos e salgados - associados à ocorrência de planícies costeiras e


depressões, comuns a Este do Rio Limpopo.

5) Solos Vermelhos argilosos, profundos e bem drenados, originários essencialmente de


rochas cristalinas quartzíferas, sedimentos não consolidados e rochas sedimentares não
consolidadas. Estes solos são bem característicos da região Norte do País onde ocorrem em
catenas, associados à topografia (planaltos e pediplanícies).
25
7) Solos pouco profundos (litossolos e solos litólicos) - desenvolvidos de material consolidado,
ocorrem nas regiões montanhosas e planálticas bastante dissecadas, podendo ser encontrados a
Sul (Libombos e Pequenos Libombos) e Norte do País. Para além da sua limitada profundidade,
há ainda a salientar o facto de serem bastante pedregosos, o que constitui duas das principais
limitações para a actividade agrícola, mostrando, contudo, grande potencial para a produção
pecuária dada a sua vegetação característica.

Para além destes grandes grupos de solos, aqui descritos, existem outros de menor importância.

3.5.2. Características Agro-edáficas

Entre os solos pedogenicamente pouco evoluídos, os aluvionares são aqueles com maior
potencial agrícola apresentam, assim como ocupam áreas consideráveis, distribuídas pelo
extenso delta do Zambeze e margens do muitos rios, nomeadamente o Rovuma, Messalo,
Montepuez, Lúrio, Lugenda, Ligonha, Zambeze, Chíre, Púngoè, Búzi, Save, Limpopo, Incomáti,
Sábiè, Umbelúzi e Maputo. As áreas ocupadas pelos solos aluvionares incluem manchas
significativas de solos hidromórficos e halomórficos.

Ainda dentro dos solos pouco evoluídos há a salientar os regossolos, dada a sua distribuição,
junto ou próximo do litoral das Províncias de Cabo Delgado, Nampula, Zambézia, Sofala e
Maputo e também no interior das Províncias de Gaza e Inhambane. Constituem a maior parte da
faixa costeira arenosa, designação que inclui uma extensa faixa que acompanha o litoral, do
Rovuma à Ponta de Ouro, intercalando, de onde em onde, os solos aluvionares com outros das
depressões. São solos normalmente de baixo potencial para a produção de culturas anuais,
devido à sua baixa fertilidade, baixa capacidade de retenção de água e textura grosseira.
Contudo, é ao longo desta faixa onde se pode encontrar o maior potencial para a produção de
culturas perenes, nomeadamente o cajueiro e o coqueiro, uma vez que é também ao longo da
costa que a duração do período de crescimento atinge normalmente os 240 dias.

Os litossolos ou solos litólicos estendem-se por grandes áreas das Províncias de Tete, Sofala,
Manica, Gaza, Zambézia e Maputo. São solos mal desenvolvidos, delgados, com muitos
elementos grosseiros e fragmemtos de rocha, sendo normal a ocorrência de cascalho, pedras e
afloramentos à superfície. A ocorrência destes solos é muito heterogénea, dado formar
complexos de carácter catenário. Ocorrem também em áreas de transição das regiões húmidas
para as semi-áridas. São predominantemente usados para pastagens naturais extensivas, devendo
contudo ter-se atenção à capacidade de carga, de modo a não produzir a degradação de
vegetação e a erosão do solo.

Outro grande grupo de solos a salientar, são os arenosos, que ocupam vastas regiões de clima
semi-árido e sub-húmido seco das Províncias do Sul e as Províncias de Sofala, Manica e Tete.
Destes solos os mais ricos são os pardo-avermelhados, formados a partir de rochas eruptivas
básicas, que ocorrem na Província de Maputo e nas Províncias de Manica e Sofala.

Os solos fersialíticos de textura média a fina, bem drenados e profundos, são aqueles que têm
maior representação, estando associados a climas sub-húmidos e desenvolvendo-se em catenas,
em que existe uma associação topográfica ou topográfica e litológica. A coloração destes solos
depende da sua produção topográfica, sendo os de cores vermelhas dos topos e os cinzentos das
baixas. Estes solos ocupam grande parte das Províncias Centro e Norte do País.

26
Os solos vermelhos, bem drenados, argilosos e profundos, estão associados a climas húmidos e
sub-húmidos, ocupando manchas consideráveis nas regiões altas, muito chuvosas, das
Províncias de Niassa, Zambezia e Manica. Estes solos destacam-se pela sua elevada fertilidade e
grande potencial agrícola.

3.5.3 - Erosão dos Solos

Falar da erosão ou da degradação dos solos, exige todo um relacionamento de diferentes


parâmetros para além das propriedades físicas do solo, que têm uma grande influência nos riscos
de erosão. O solo, por si só, não será suficiente para, em condições naturais, induzir qualquer
forma de degradação.

Assim, a precipitação (erosividade das chuvas) a topografia/ declive, a erodibilidade dos solos e
a vegetação/uso de terra, são os principais factores para a determinação do maior ou menor grau
de suseptibilidade de um certo solo à erosão.

Desde que se introduzam ou pratiquem normas de maneio de solo correctas ou mais de acordo
as condições naturais de solo, são praticamente mínimas as possibilidades de degradação dos
solos.

Em Moçambique, podemos dizer que, em função do risco potencial de erosão, as áreas são
susceptíveis à degradação, considerando a erosão hídrica.

As principais zonas onde o risco de erosão poderá assumir particular importância, são as regiões
cujo relevo é ondulado e dissecado, onde os solos são normalmente delgados, pouco profundos
(Fig. 3.12).

Ao longo da faixa costeira, arenosa, a erosão eólica, pode também assumir proporções graves,
em particular nos períodos de transição entre as duas estações, quando os solos se encontram
desprovidos de cobertura vegetal.

3.5.4 - Fertilidade dos Solos

Para a presente discussão, Moçambique poderá, de forma geral, ser dividido em duas regiões,
Norte e Sul do Rio Save.

Na região Sul as condições climáticas são prevalecentes e determinantes para a produção


agrária, sendo a fertilidade dos solos secundária. Nas áreas mais baixas-planas, onde se situam
os maiores perímetros de irrigação, os solos são em regra férteis, sendo os requisitos em
fertilizantes baixos, de forma a manter os nutrientes no solo após vários anos de cultivo.

Nas zonas mais altas, os solos podem, normalmente, ter algumas deficiências em nutrientes
(Nitrogenio e Fosforo), sendo especialmente seria a baixa fertilidade dos solos arenosos
densamente povoados da faixa costeira.

Na região Norte, onde as condições climáticas são melhores, em termos de distribuição e


regularidade, a fertilidade é, sem duvida, o factor que poderá limitar a produção agrícola, em
particular das culturas alimentares. Os solos são, geralmente, deficientes em Nitrogénio, Fósforo
e Enxofre e, algumas vezes, em Potássio. Embora as camadas mais profundas do solo tenham
um maior conteúdo em argila, o solo superficial é de textura mais leve o que, no início da
estação das chuvas, devido à alta intensidade das chuvas e possível ausência de cobertura
27
vegetal, induz à perda do solo superficial ou lavagem dos nutrientes, situação que se agrava
quando ocorre em zonas declivosas.

3.5.5. Água Disponível nos Solos

Um dos principais factores que limitam, periodicamente, os rendimentos das culturas em países
de clima tropical seco é a precipitação. Contudo, estes aspectos poderão, até certo ponto, ser
minimizados se tomarmos em consideração o factor solo, que actua como reservatório de água
das chuvas, disponibilizando a mesma, para o crescimento das culturas, nos períodos mais
críticos.

Assim, considerando a textura, estrutura, classe de declive e a profundidade do solo, é possível


estimar-se a capacidade de armazenamento de água dos solos.

Os valores médios da capacidade de água disponível dos solos de Moçambique variam entre os
10 mm e os 250 mm, representando respectivamente os litossolos (pouco profundos) e os
vertissolos (argilosos, profundos), tendo a maior parte do País, em média, uma capacidade acima
dos 100 mm. Os valores mínimos e máximos da capacidade de retenção de água encontram-se
principalmente ao longo das margens dos rios (Fig. 3.13).

3.6. VEGETAÇÃO

A vegetação natural ou espontânea em Moçambique ocorre sobre diferentes tipos de formações


vegetais, dadas as grandes diferenças de altitude, longitude, geologia, originando diversos tipos
de climas e solos, que oferecem condições mais ou menos propícias ao desenvolvimento da
cobertura vegetal.

Segundo os diferentes estudos taxonómicos e sistemas de classificação, Moçambique faz parte


da grande região e Centro de Endemismo Zambezíaca, correspondendo às áreas fitogeográficas
em que ocorrem as principais formações vegetais a nível do continente africano.

Em Moçambique e de acordo com a sua forma, densidade e altura, poderemos encontrar


diferentes tipos de formações vegetais, das quais as mais importantes são as florestas, a
"woodland", as brenhas, os graminais (pastagens) e os mangais.

28
3.6.1. Formações Florestais

3.6.1.1. Florestas

São caracterizadas segundo a cobertura contínua das copas das árvores e a altura das diferentes
espécies de árvores, formando diferentes estratos, onde as copas tendem sempre a se sobrepor
umas ás outras. Nelas normalmente, ocorre um estrato arbustivo, em que as espécies lenhosas e,
especialmente, as árvores, contribuem para a sua característica fisionómica e fitomassa, havendo
sempre um número superior de espécies lenhosas em comparação às herbáceas.

Grande parte das formações florestais em África são do tipo sempre verde ou parcialmente
sempre-verde, embora a floresta de folha caduca ou decídua ocorra localmente e, em certos
casos, possa ser representativa.

Em Moçambique ocorrem essencialmente estes dois últimos tipos de formações florestais, a


semi-verde (seca) e de folha caduca ou decídua, seca.

A primeira formação florestal é o tipo de floresta que é sujeita a uma estação seca, durante
alguns meses do ano, em que a humidade atmosférica é baixa, recorrendo as plantas à humidade
disponível no solo, os quais, em geral, são férteis, em condições naturais.

Em Moçambique pode-se dizer que esta formação ocorre muito localmente em áreas onde a
precipitação excede os 1200 mm/ano, muito particularmente nas regiões planálticas e
mesoplanálticas do centro e norte do País e em regiões de transição para a floresta de montanhas,
actualmente representada por pequenos focos e manchas florestais.

Convém ainda referir que esta formação florestal é bastante susceptível a algumas das práticas
tradicionais na agricultura, caso da agricultura itenerante e queimadas.

As espécies mais representadas neste tipo de floresta, correspondente a climas húmidos (sub-
húmidos transição), são: Khaya nyasica, Pteleopsis myrtifolia, Xylopia aethiopica, Trichilia
emetica, Albizia gummifera, Syzygium guineense, Milletia stuhlmannii, Cordyla africana,
Pericopsis angolensis, etc..

A segunda formação florestal é a floresta decídua, de folha caduca, normalmente também


considerada como a formação florestal de transição para a savana arbórea, ocorrendo em áreas
do país com índices de precipitação variando de 600 a 900 mm/ano.

Neste tipo de formação florestal é possível encontrarem-se determinados tipos de estratos de


espécies secundárias, que normalmente são representativos das vegetações com que fazem
margem e de transição ou de terrenos com alguns problemas de degradação.

É ainda de assinalar a existência da floresta de montanha, localizada acima dos 1300 m de


altitude e concentrada em alguns locais de Manica, Alta Zambézia e na cadeia dos Libombos.

Outra formação florestal é a floresta agelria, ocorrendo localmente, em solos húmidos,


localizados ao longo de cursos de água e em faixas estreitas, geralmente não superiores a 20 m
de largura.

29
3.6.1.2. "Woodland"

"Woodlands" constituem, por vezes, uma transição das formações florestais semi-verdes secas e
de folha caduca, para formações lenhosas/arbóreas; são drasticamente influenciadas pelo uso da
terra e pelas queimadas. Noutros casos ocorrem como uma formação lenhosas caracteristica de
certos ambientes, sendo considerada como a principal forma de vegetação em Moçambique.

Este tipo de vegetação apresenta em regra um ou dois estratos arbóreos, com as espécies a não
ultrapassarem os 20 m, e as mais comuns a terem 15 a 18 m de altura.

Dentro deste tipo de vegetação podem-se distinguir 4 tipos de vegetação: "miombo woodland",
"mopane woodland", "woodland" não diferenciado e "acácia woodland".

3.6.2. Brenhas

Vários tipos de brenhas ocorrem localmente através do país, variando a sua densidade em função
das características do solo e precipitação. A maior parte das espécies são decíduas, podendo
algumas apresentar características sempre-verdes. Podem-se distinguir diferentes tipos de
brenhas, se bem que as mais importantes sejam as desenvolvidas nos morros de muchém,
afloramentos rochosos, ao longo da faixa costeira.

No primeiro tipo de brenhas as espécies de Acacia e Albizia aparecem como dominantes,


enquanto que no segundo ocorrem espécias como Bauhinia spp., Commiphora spp., Stychnos
spp., Afzelia quanzensis e Sclerocarya birrea.

3.6.3. Estrato graminoso

3.6.3.1. Pradarias (Graminais)

Dentro da vegetação natural importa salientar o estrato herbáceo, dada a sua grande importância
e valor para a produção pecuária e faunística.

As grandes áreas cobertas por pastagens naturais em Moçambique e em particular a Sul do Rio
Save, constituem um recurso valioso, o qual pode ser utilizado sem se recorrer à utilização de
grandes insumos. Aliado a este aspecto está o facto de o Sul do Save ser praticamente uma
região onde a incidência de infestação da mosca Tsé-Tsé é baixa, quando comparada à de outras
regiões do país.

O estrato graminoso aparece associado aos solos aluvionares de textura média a fina e com
características de inundação, se bem que existem áreas extensivas de gramíneas secundárias. Os
graminais podem ocorrer associados a depressões de terreno, suaves, pouco profundas e
temporariamente alagáveis, nas planícies de alagamento dos rios ou a outros tipos de vegetação,
em particular às savanas, em que o estrato graminoso atinge grande cobertura em associação
com as espécies lenhosas.

O graminais associados a depressões, ocorre nas regiões planálticas, sendo normalmente


conhecido por dambos, no norte do País. Andropogon spp., Hyparrhenia spp. e Themeda
triandra são as espécies mais comuns.

Os graminais das planícies de inundação aparecem associados à vegetação de pantanal e


vegetação aquática, podendo ocupar grandes áreas nas margens das principais linhas de
30
drenagem dos rios. As espécies mais comuns são Echinochloa spp., Panicum spp., Paspalum
spp. e Setaria spp..

3.6.3.2. Pastagens

A produção pecuária em Moçambique, em geral, foi sempre baseada em regime de pastagens


naturais, as quais ocorrem em Moçambique segundo três tipos:
- Pastos doces - distribuídos segundo as médias de precipitação, ocorrem normalmente em
regiões de solos mais pesados, onde a precipitação média é baixa e irregular, variando de
400-600 mm. O graminal mantêm-se palatável e nutritivo durante todo o ano.
- Pastos acres ou amargos - associados a zonas de precipitação elevada, encontram-se em
Moçambique sobretudo nas zonas mais altas e em que o graminal é palatável apenas durante
o período de crescimento e se torna muito lenhoso e pouco palátavel para o fim da época das
chuvas. É de considerar que a produtividade deste tipo de pasto é maior que o dos pastos
doces.
- Pastos mistos - apresentando características dos dois tipos anteriores, constitui uma
transição. A cobertura graminosa é, em geral, superior à dos pastos doces.

31
4. SISTEMAS DE PRODUÇÃO

4.1. INTRODUÇÃO

Sistemas de Produção (Farming Sistems) é uma expressão antiga. Um sistema é um conjunto


ordenado de componentes interdependentes e interactuantes, nenhum dos quais pode ser
modificado sem causar mudanças nalguma outra parte do sistema.

Sistemas de produção são parcialmente determinados por factores ambientais como clima, solo,
vegetação natural e topografia e parcialmente por factores sócio-económicos como costumes do
povo, o seu nível tecnológico, densidade populacional, recursos financeiros disponíveis como
capital de investimento e a procura de comida/culturas, quer como culturas alimentares para o
uso da família, quer como culturas comerciais para o abastecimento do mercado.

Na África tropical o aumento da produção agrícola (nos últimos anos) não foi capaz de
equilibrar o rápido aumento da população (FAO, 1969).

Crescimento da população 3,0%


Crescimento da produção 0,5%

Deste modo muitos países, potencialmente produtores de comida, passaram a importadores de


comida, especialmente nos anos de baixa pluviosidade.

O sistema tradicional, dependente da utilização e restabelecimento natural da fertilidade do solo,


já não pode ser utilizado devido á grande pressão existente sobre o solo (agricultura itenerante),
que tem levado ao encurtar do período de pousio. Como resultado do curto período de pousio, a
terra tende a degradar-se e os rendimentos a diminuir.

Métodos modernos são ainda utilizados por uma minoria, sendo a maior parte da área, cultivada
por pequenos camponeses (80-90% e mais).

Com o aumento dos preços dos produtos de importação, estas possibilidades foram ainda mais
reduzidas.

Tentativas governamentais para o aumento global da produção, através do cultivo de culturas de


alto rendimento (alto lucro), tiveram como resultado normal o falhanço. Pois, o objectivo do
pequeno agricultor não é o lucro mas a produção de meios de subsistência. Isto leva a que o
camponês dê mais valor à estabilidade e segurança da produção do que ao lucro. Este novo tipo
de tecnologia necessita normalmente de um maior investimento, apresentando normalmente
maiores riscos de perda da cultura, o que, em estações com condições ambientais adversas leva
geralmente à fome.

É preciso mudar o sistema de produção em utilização. Mas, para tal, é necessária a participação
do camponês. Enquanto que o camponês contribui com os seus conhecimentos sobre os factores
que afectam os rendimentos, sobre o sistema de produção e suas interacções com o meio
ambiente, uma equipa de cientistas tentaria compreender as interacções entre factores ambientais
e sociais, com o objectivo de propor métodos para solucionar os problemas.

Os principais problemas do sistema de produção dos pequenos agricultores na África Ocidental


são (Norman, 1973; Lagemann, 1977):
a) Baixa produtividade dos solos.
32
b) Falta de terras para cultivo.
c) Falta de mão-de-obra (baixa produtividade).
d) A erraticidade da precipitação.
e) Falta de capital de investimento.
f) Acesso limitado ao crédito.

Estes factores também podem ser considerados como problemáticos em Moçambique. Contudo,
outros factores adicionais como:
a) Falta de semente, especialmente melhorada.
b) Falta de pacotes de práticas culturais melhorados.
c) Deficiente sistema de comercialização.
d) Uso de culturas pouco adaptadas ao local.
e) Instabilidade económica e social (derivados da situação de guerra).
f) Desequilíbrio na oferta de produtos alimentares derivado do influxo de donativos
(importados e normalmente vendidos a preços baixos).

Visto isto, é fácil depreender que o actual sistema de produção, embora geralmente bem
adaptado à região, necessita de ser melhorado, com o objectivo de aumentar as produções e os
rendimentos. Qualquer melhoramento implica a introdução dum novo sistema de produção, que
pode ser muito ou pouco diferente do actual. Para que seja aceitável, qualquer novo sistema de
produção deve ter em conta os seguintes objectivos:
a) Aumento da fertilidade do solo.
b) Aumento da produtividade do trabalho.
c) Produção de rendimentos estáveis.
d) Aumentar a eficiência das machambas, especialmente quando os inputs são baixos ou
mesmo nulos.

4.2. FORMAS DE USO DA TERRA E SISTEMAS DE PRODUÇÃO

A terra é em geral usada de 4 formas:


a) Vegetação natural.
b) Cultivo arável.
c) Produção animal.
d) Construções.

4.2.1. Vegetação natural

Os tipos de vegetação natural mantidos como forma de uso da terra são:


a) florestas.
b) savanas.
c) desertos.

A vegetação na sua forma natural pode ter vários usos, para além da sua não utilização,
entendida como a não interferência do homem no sistema e a não exploração comercial da
natureza.

As outras formas de exploração da vegetação natural incluem sistemas de maneio integrado, que
permitem a manutenção do meio ambiente e mesmo o seu melhoramento, fazendo-se
simultaneamente a sua exploração económica.

33
Nas áreas de florestas, são usados os sistemas silvícolas, através das várias formas de
exploração madeireira.

Nas áreas de savanas, sempre que existam pastos de qualidade aceitável, são usados os:
a) sistemas pastorais - através da exploração da criação gado, podendo este ser tanto
doméstico (bovino, caprino, etc.) como de outra natureza (antílopes, avestruzes, etc.).
b) sistemas silvipastorais - estes sistemas são mais adequados a zonas de bosque ou floresta
aberta, onde é possível fazer a exploração integrada de madeira e gado.

Nos sistemas pastorais e silvipastorais, temos dois tipos básicos de exploração das pastagens a
considerar:
a) Pastos naturais. Em que a pastagem é mantida na sua composição natural e o material usado
na alimentação animal é material nativo.
b) Pastos naturais melhorados. Neste caso, as pastagens naturais são reforçadas, adicionando-se
plantas não nativas, com o objectivo de aumentar a produtividade e/ou o valor alimentar da
pastagem. O reforço pode ser feito com leguminosas ou gramineas de alta qualidade.

Qualquer que seja o tipo de vegetação natural, este pode ser usado para a recreação. Esta é uma
das formas de utilização da vegetação natural que tem vindo a ganhar cada vez mais espaço.
Incluindo as várias formas de exploração económica dos recursos naturais, através do seu
maneio de forma não destrutiva e exploração turística paralela, sendo de realçar a exploração
integrada da fauna bravia e flora, como é o caso dos parques e reservas de caça.

Existem ainda algumas outras formas de uso da vegetação natural com o fim de recreação, como
sejam o uso de espaços verdes para descanso e diversão, como por exemplo as zonas para
pic-nics.

4.2.2. Cultivo arável

Duma maneira muito geral consideram-se dois tipos de agricultura (cultivo arável):
a) agricultura de sequeiro, quando depende exclusivamente da água fornecida pela chuva.
b) agricultura de regadio, quando a água utilizada pela planta é parcial ou totalmente
fornecida através de rega.

O sistema de produção mais comum na agricultura tradicional dos países tropicais é a


Agricultura itenerante. A agricultura itenerante inclui as seguintes fases:
a) Desmonte.
b) Queima.
c) Cultivo.
d) Pousio.

Com o aumento da pressão populacional, aumento da população, o período de pousio diminuiu,


passando o sistema a ser semi-permanente. Isto levou a vários problemas como sejam:
a) Declíneo da produção e fertilidade do solo.
b) Deterioração das condições físicas do solo.
c) Erosão acelerada do solo.

Para que a eficiência do período de pousio seja mantida, de forma a garantir a manutenção da
fertilidade do solo, reduzindo o período de pousio ao mínimo possível, podem ser consideradas
diversas formas para o melhoramento do sistema de produção tradicional:

34
a) Cultivo de leguminosas - Como exemplo, podem-se citar os casos do feijão nhemba, do
amendoim e da soja, que através da fixação de azoto (N), podem adicionar grandes
quantidades de N ao solo:
 o nhemba pode adicionar 73-354 Kg de N/ha/ano (Nutman, 1976).
 a soja e o amendoim podem adicionar até 80-90 Kg de N/ha/ano (NAS, 1975).
b) Sideração - Procedendo ao enterramento de material verde de leguminosas antes da cultura
de milho, obtiveram-se os seguintes rendimentos médios (considerando 22 anos) (Rattray e
Ellis, 1953):
 monocultura de milho - 1,35 t/ha (com 22 anos de cultivo de milho.
 com sideração - 2,99 t/ha (com 14 anos de cultivo de milho).
c) Estrumação - Ao se adicionar estrumes (excrementos animais junto com as camas),
obtiveram-se os seguintes resultados (Grimes e Clarke, 1962):
 rendimento do milho. Médias de 6 anos:
 sem estrumação - 0,6 t/ha
 com estrumação (7,5 t de estrume/ha) - 0,9 t/ha
 rendimento da mandioca:
 sem estrumação - 6,2 t/ha
 com estrumação (7,5 t de estrume/ha) - 9,6 t/ha
d) Compostos - Estes são constituidos por uma mistura parcialmente decomposta de resíduos
da habitação, resíduos de culturas, infestantes e outros resíduos vegetais, com ou sem a
adição de excreções animais ou humanas e, ainda, com ou sem adição de fertilizantes
inorgânicos. O uso de compostos tem resultados semelhantes aos obtidos com a estrumação.
e) Adubos - Muitas vezes com a adição de pequenas quantidades de adubos, conseguem-se
aumentos de rendimento significativos. Por exemplo, a adição de 40 Kg P2O5/ha, sob a
forma de Super-Fosfato Simples (18%), no amendoim, conseguiram-se os seguintes
resultados (Ramanaiah et al, 1987):
 sem adubo - 959 kg/ha
 com adubo - 2570 kg/ha
f) Rotação - Eis alguns resultados obtidos com a cultura da mapira (Northern Nigeria, 1955-
56).
 monocultura - 353 Kg/ha
 com rotação - 709 Kg/ha
g) Cultivo simultâneo - O cultivo simultâneo de mais de uma cultura no mesmo terreno,
durante o mesmo período de tempo, tem trazido várias vantagens aos agricultores, como por
exemplo a obtenção de maiores produções. Os dados apresentados foram produzidos por
Eliseu (1991), em Moçambique:

Cultura/Sistema Densidade Rendimento LER Milho Equivalente


(plantas/m²) (Kg/ha) (Kg de milho/ha)
Amendoim puro 11,3 898,6 1,00 3594,4
Milho puro 2,0 1750,9 1,00 1750,9
Amendoim consociado 9,5 1470,4 1,64 5881,6
Milho consociado 1,4 766,8 0,44 766,8
Consociação - - 2,04 6648,4
Razão de preços (Amendoim:Milho) = 4:1

h) Preparação do solo - Os sistemas de cultivo podem ainda ser subdivididos dependendo do


processo de preparação do solo em:
 convencional.
 no-till ou 0-tillage.
35
Em geral diz-se que o sistema 0-tillage pode vir a ter grande importância na agricultura
tradicional. Pode-se citar o exemplo da utilização de forca de trabalho e produção do sistema
Milho+Nhemba em savanas (adaptado de Wrigley (1981) de Wijewardene (1978)):

Sistema de cultivo Forca de Trabalho Rendimento


(Homens/h/ha) (kg/ha)
Convencional 515 1255
No-till ou 0- tillage 51 2400

i) Sistemas produtivos mistos - envolvem culturas, animais e/ou árvores. Podem ser:
 Agroflorestais (agrossilvícolas).
 Agropecuários - é o caso do sistema ley, onde vários anos de produção de culturas são
seguidos por anos de pousio/pastagem.
 Agropecoflorestais.

4.2.2.1. Padrões e sistemas de cultivo

No sistema de produção tradicional, muitos padrões e sistemas de cultivo são utilizados.


Contudo, para se entender o conceito de sistema de cultivo, é necessário conhecer algumas
definições.

Padrão de cultivo - é a sequência anual e arranjo espacial das culturas e, por vezes, pousio
numa área.

Sistemas de cultivo - são determinados pelos padrões de cultivo utilizados numa unidade
produtiva e a sua interacção com os recursos da unidade, outras unidades e a tecnologia
disponível.

Seguidamente apresentar-se-á um breve resumo dos diferentes sistemas de cultivo.

a) Monocultura - sempre a mesma cultura ano após ano.


b) Cultivo puro - uma só cultura, um só cultivar em populações puras á densidade normal, e
semeado em determinada porção de terra. Podem ser usadas:
- culturas anuais, que inclui um período de pousio anual.
- culturas perenes, em que o campo fica ocupado durante todo o ano.
c) Cultivo múltiplo - ocorre a intensificação do cultivo no espaço e/ou no tempo. Duas ou mais
culturas são semeadas no mesmo ano, no mesmo terreno.

Podem existir várias formas de cultivo múltiplo.

a) Cultivo sequencial - uma cultura segue a outra depois da colheita. Existe uma intensificação
no tempo. O cultivo sequencial pode ser:
- duplo - duas culturas consecutivas no mesmo ano.
- triplo - três culturas consecutivas no mesmo ano.
- quadruplo - quatro culturas consecutivas no mesmo ano.
- ratoon cropping - cultivo do recrescimento. Este é o caso da cana sacarina, em que a
mesma plantação é colhida várias vezes, voltando a crescer depois de cada corte.

36
b) Cultivo simultâneo - Intensificação no espaço e no tempo. Duas ou mais culturas são
cultivadas no mesmo terreno ao mesmo tempo. Podemos distinguir várias formas de cultivo
simultâneo:
- Cultivo misto - as culturas estão simultaneamente no terreno, durante a maior parte do
seu ciclo. As plantas não têm qualquer arranjo espacial.
- Consociação - as culturas estão simultaneamente no mesmo terreno durante a maior
parte do ciclo, sendo semeadas em linhas ou qualquer outro arranjo espacial definido.
- Consociação em faixas (strip intercropping) - as culturas são cultivadas simultaneamente
no mesmo terreno, durante a maior parte do seu ciclo, em faixas suficientemente largas
para permitirem práticas culturais independentes e suficientemente estreitas para
interactuarem agronómicamente.
- Sobressementeira (relay cropping) - a segunda cultura é semeada depois da primeira
atingir o estado reprodutivo mas antes da colheita. As culturas estão simultaneamente no
mesmo terreno durante menos que 1/3 do ciclo das culturas.
- Cultivo de estratificado (multistorey intercropping) - é a associação entre culturas
perenes altas e anuais baixas (ex. Leucaena + mexoeira ou coqueiro + arroz).

4.2.2.2 - Consociação

A consociação é o cultivo de duas ou mais culturas simultaneamente numa mesma área, durante
parte significativa do seu ciclo. Isto não quer dizer que as culturas tenham que ser semeadas ao
mesmo tempo ou colhidas ao mesmo tempo, mas que, em geral, as culturas ficam
simultaneamente no terreno durante mais de 2/3 do ciclo da cultura de menor duração. Embora
cultivo misto e consociação sejam diferenciados, por definição, em função do arranjo espacial
das plantas no terreno, o termo consociação é vulgarmente utilizado de forma a englobar os dois
casos.

Cultivo misto e consociação são práticas comuns em toda a zona tropical (Willey, 1979a).
Historicamente, contudo, tem sido vista como uma pratica primitiva, que deve dar lugar ao
cultivo puro como uma consequência do desenvolvimento da agricultura (Trenbath, 1974).
Jodha (1976), na Índia, mostrou que, à medida que maior quantidade de inputs se tornam
disponíveis, especialmente a irrigação, os agricultores tendem a deixar a consociação.

A consociação comporta-se melhor a baixos níveis de retorno monetário, enquanto que o cultivo
puro favorece a obtenção de maiores lucros. Contudo, a consociação reduz o risco de perda
(ICRISAT, 1986).

Francis e Sanders (1978) referiram os sistemas consociados como sistemas agrícolas de baixos
inputs, baixo lucro e baixo risco, usados essencialmente por agricultores de subsistência.

Para se entender a consociação, é importante que sejam apresentados alguns conceitos.

Cultura componente - é cada uma das culturas que compõem a consociação.

Cultura pura - é cada uma das culturas incluídas na consociação, quando cultivadas em
separado.

Rendimento consociado - é o rendimento de cada uma das culturas componentes.

37
Rendimento esperado - é o rendimento consociado que seria obtido se a cultura componente
tivesse o mesmo nível de competição que a respectiva cultura pura. Este é uma função da
densidade e pode ser expresso pela seguinte equação:

E=pxS
onde,
E = rendimento esperado.
S = rendimento puro.
p = razão das densidades consociada e pura.

Pelo que se pode depreender, o conceito de rendimento esperado supõe que a competição intra-
específica seja igual á competição inter-específica.

A avaliação da consociação pode ser feita de diversas formas, sendo as seguintes as mais
comuns:

a) LER - Land Equivalent Ratio - Taxa de Terra Equivalente - é a razão da área necessária
em cultivo puro, para obter a mesma produção que 1 ha de consociação ao mesmo nível de
maneio. Isto é determinado pelo somatório das razões entre o rendimento consociado e o
rendimento puro de cada uma das culturas componentes. A equação que expressa o conceito é a
seguinte:

n
Ii
LER  
i 1 Si
onde:
Ii - rendimento consociado.
Si - rendimento puro.
i - cada uma das culturas componentes.

b) Grão equivalente - Geq - é o rendimento total do sistema expresso em termos de rendimento


da cultura principal, em função do preço das várias culturas em uso.

Pcc
Grão equivalent e  Rcp  Rcc x
Pcp

onde:
R = rendimento.
P = preço.
cp = cultura principal.
cc = cultura consociada (secundária).

c) IER - Income Equivalent Ratio - Taxa de Valor Equivalente - é a razão da área necessária
em cultivo puro, para produzir o mesmo valor de produção que 1 ha de consociação com o
mesmo nível de maneio.

Na investigação sobre a consociação usam-se em geral dois tipos de combinação de culturas e


densidades de plantas:

38
a) séries aditivas - inclui os casos em que a cultura principal é mantida á mesma densidade que
em cultivo puro, adicionando-se uma certa população de plantas da cultura secundária. Deste
modo, considerando a densidade das respectivas culturas puras como 100%, a densidade da
consociação em séries aditivas leva a densidades totais superiores a 100%. Este caso é usado
quando não se deseja que o rendimento da cultura principal seja reduzido pelo sistema e que
a cultura secundária seja portadora de um bónus adicional.

b) séries de substituição - neste caso, uma parte da densidade da cultura principal é substituída
por uma percentagem igual da cultura secundária. Como resultado, a densidade total é
sempre igual a 100%. Este tipo de tratamentos é considerado ser particularmente útil, quando
existe um ou mais factores ambientais como limitantes.

Como forma de ilustrar o mencionado poder-se-ia assinalar o exemplo da zona Sul de


Moçambique. É por demais conhecido que, no Sul de Moçambique o padrão da precipitação é
bastante errático, variando não só na quantidade total de chuva, mas também no início e fim da
época das chuvas. Assim, é comum ter-se situações de deficiência de humidade em qualquer
fase de crescimento.

Assumindo que o potencial para a falta de humidade existe, a utilização de séries aditivas pode
levar ao acentuar dessas deficiências, prejudicando as culturas. A quantidade total de água por
planta diminui ainda mais.

Sobre as vantagens e desvantagens da consociação

Snaydon e Harris (1981) reportaram os possíveis mecanismos que, envolvendo o uso mais
eficiente dos recursos ambientais, podem levar a aumentos da produção ou dos rendimentos:
a) As espécies consociadas só competem parcialmente pelos factores limitantes:
- Usando os mesmos recursos, mas de fontes diferentes. Neste caso podem-se assinalar
culturas usando o mesmo recurso em tempos diferentes e, portanto, não competindo por
ele, como é o caso de culturas com ciclos diferentes com os períodos pico de uso de
água, luz e nutrientes não simultâneos.
- Usando diferentes recursos limitantes. O exemplo mais simples é o caso da
consociação entre cereais e leguminosas, em que os cereais usam o azoto do solo, sob a
forma de nitrato, enquanto as leguminosas usam o azoto atmosférico, captado pelo
Rhizobium em simbiose nas raízes.
b) A competição é completa, com o componente mais produtivo sendo mais competitivo. Num
caso de competição total o resultado é imprevisível. Podem ser diferenciadas duas situações,
com o ambiente variando no espaço ou no tempo.

Willey (1979) mencionou que as vantagens da consociação são tanto maiores quanto maior é a
complementaridade entre as culturas envolvidas, tendo diferenciado dois tipos de
complementaridade:
a) complementaridade temporal - com as culturas a usarem os recursos ambientais em
épocas (tempos) diferentes, como é o caso da consociação mapira (ciclo de 90 dias) com
feijão boer (ciclo de 180 dias).
b) complementaridade espacial - em que as culturas usam os recursos em diferentes zonas
(espaços). Por exemplo, culturas com sistemas radiculares diferentes. Uma com uma raiz
aprumada, indo buscar nutrientes a maior profundidade, e outra com uma raiz fasciculada,
mais superficial, usando nutrientes da camada superficial do solo. Um outro exemplo é o
caso da consociação entre a mandioca e o amendoim, em que as culturas envolvidas usam
luz de diferentes estratos, não competindo por ela.
39
O mesmo autor assinalou que, quanto maior for a complementaridade, menor é a competição
entre as culturas e maior é a produtividade total do sistema.

Evans (1960) apresentou os critérios gerais para o aumento da eficiência na consociação da


seguinte forma:
a) a competição entre culturas consociadas deve ser menor que a competição dentro da própria
cultura.
b) o arranjo espacial e as proporções relativas das culturas contribuintes afecta a expressão da
diferença em competição.
c) os períodos de demanda máxima devem ocorrer em diferentes tempos devido aos diferentes
ciclos de crescimento das culturas envolvidas, ou a diferentes datas de sementeira.

Trenbath (1974) mencionou que uma consociação bem manejada não terá a possibilidade, em
princípio, de igualar ou exceder o rendimento potencial duma cultura pura, com um grau de
maneio comparado, semeada à densidade óptima. Mas, Clark e Francis (1985) contrapuseram
que, no cultivo puro, a energia fotossintética que atinge o solo no período que vai da sementeira
à cobertura total, representa uma perda de recursos. De Wit (1960) sugeriu que essa energia
perdida podia ser usado, com benefício, por uma cultura consociada.

As vantagens da consociação podem ser sumarisadas como segue:


a) Maximização dos retornos sobre a terra e o trabalho (Chowdury, 1981 e Steiner, 1984).
b) Minimização do risco e aumento da estabilidade do rendimento (Norman, 1972; Willey,
1979a e Steiner, 1984).
c) Suprimento de alimento contínuo e diversificado (Steiner, 1984).
d) Melhor uso dos recursos para o crescimento (Trenbath, 1974; Willey, 1979a e Steiner,
1984):
- uso mais eficiente da luz (Fisher, 1977a).
- uso mais eficiente dos recursos do solo (Fisher, 1977a e Mutsaers, 1978).
e) Redução das perdas devidas a infestantes (Litsinger e Moody, 1975 e Rao e Shetty, 1977).
f) Redução das perdas devido a pragas e doenças (Ayer, 1949; Batra, 1962 e Altieri et al.,
1978). Mas, Osiru (1974) não encontrou qualquer vantagem no controlo de pragas.
g) Melhoramento da fertilidade do solo por redução da erosão e do lexiviamento de nutrientes
(Steiner, 1984).
h) Distribuição balanceada das necessidades de força de trabalho e atenuação dos picos de
utilização (Aiyer, 1949; Norman, 1972 e Chowdury, 1981).
i) Maiores rendimento por unidade de área (Chowdury, 1981 e Steiner, 1984).
j) Maiores lucros (Chowdury, 1981).

Também houve algumas publicações mencionando desvantagens da consociação. Risser (1969)


e Rice (1974) encontraram efeitos alelopáticos que podem reduzir o rendimento das culturas. A
desvantagem mencionada mais frequentemente é a dificuldade de maneio prático, especialmente
quando um alto grau de mecanização é usado ou quando as culturas componentes têm diferentes
necessidades de fertilizantes, herbicidas, pesticidas, etc. Contudo, estas dificuldades estão
associadas com a agricultura moderna (Willey, 1979a).

4.2.3. Produção Animal

Em termos de produção animal, podemos encontrar 3 sistemas básicos de produção:


a) Produção nómada.
b) Produção semi-nómada.
40
c) Ranchos ou fazendas.

4.2.4. Construções

As principais construções a considerar são:


a) canais de irrigação.
b) estradas.
c) habitações.
d) armazéns.
e) eiras.
f) celeiros.
g) silos, etc.

Literatura recomendada

Webster, C.C., e Wilson, P.N., 1980. Agriculture in the Tropics. 2nd Ed. Tropical Agriculture
Series, Longman Group, New York and London. Capítulos 6, 7 e 8.

Wrigley, G., 1981. Tropical Agriculture - The Development of Production. 4th Ed. Longman
Group, New York and London. Págs. 96-109, 131-142, 149-153.

Youdeowei, A., Ezedima, F.O.C. e Onazi, O.C., 1986. Introduction to Tropical Agriculture.
Longman Group, U.K.

Speeding, C.R.W., 1979. An introduction to Agricultural Systems. Applied Science Publishers.


U.K.

Dregne, H.E. e Willis, W.O., 1983. Dryland Agriculture. ASA/CSSA/SSSA. USA.

Ruthenberg, H:, 1980. Farming Systems in the Tropics. 3rd Ed. Oxford Science Publications.
N.Y.

ILACO, 1981. Agricultural Compendium for Rural Development in the Tropics and Subtropics.
Elsevier Scientific Pub. Company. Netherlands.

Francis, C.A., 1986. Multiple Cropping Systems. Macmillan Pub. Company. N.Y.

Steiner, K.G., 1982. Intercropping in Tropical Smallholder Agriculture with Special Reference
to West Africa. GTZ 137, Eschborn.

Willey, R.W., 1979. Intercropping. It's Importance and Research Needs. 1. Competition and
Yield Advantages. 2. Agronomy and Research Approaches. Fiel Crop Abstracts 32:1-10,
73-85.

Questões de raciocínio e controlo

1) O que é um sistema de produção. Quais os principais problemas do sistema de produção


tradicional de Moçambique. Que faria para o melhorar?

2) Suponha que você foi nomeado responsável pela agricultura dum distrito da Província de
Gaza com as seguintes características:
41
- 95% da área cultivada por agricultores de subsistência.
- 90% da produção provém do Sector familiar.
- as principais culturas são milho, amendoim, nhemba, mandioca, cajueiro, abóbora e arroz
(em zonas baixas).
- as culturas são normalmente consociadas.
O seu principal objectivo é fazer com que a produção e a produtividade e, acima de tudo, o bem
estar geral do camponês, aumentem. Que passos (estágios de trabalho) seguiria para poder fazer
as recomendações que levariam ao cumprimento dos objectivos visados, alterando o actual
sistema de trabalho. Justifique.

3) Sabendo que um dos problemas actuais em algumas regiões agrícolas como o Sábie é o
aumento da pressão populacional, diga como enfrentaria o problema do possível abaixamento da
fertilidade do solo no Sector familiar. Justifique.

4) Sendo você o responsável técnico do sector florestal num distrito, tendo em conta que um dos
principais objectivos para o distrito é o aumento do efectivo arbóreo (pelo reflorestamento).
Diga como encararia a introdução da tracção animal para a produção agrícola.

5) Fale sobre o sistema de produção tradicional, das sua vantagens e desvantagens, da sua
adaptação ou não ao ambiente de cultivo do camponês, das suas razões para possíveis
abaixamentos dos rendimentos, dos seus baixos rendimentos. Justifique as afirmações.

6) Fale sobre as razões para a obtenção de vantagens com a consociação, tanto no sector familiar
como no modernizado. Discuta o caso "amendoim + feijão boer".

7) A consociação é geralmente utilizada pelo sector familiar, estando provado que é um sistema
de cultivo bem adaptado às condições de produção do camponês e aos seus objectivos.
a) diga quais as razões que fazem com que o camponês use a consociação.
b) discuta as razões porque a consociação amendoim+mandioca é comum no Sul de
Moçambique.
c) discuta as razões porque a consociação alface + milho pode produzir valores de LER > 1 em
condições de regadio.

8) Mason et al. (1986) em trabalhos realizados na consociação mandioca + nhemba, semeadas


em séries aditivas (100% + 100%), com densidades e compassos iguais na cultura pura e na
consociação, obteve os seguintes resultados:

Mandioca Nhemba LER


HI (%) R (t/ha) Vagens/planta R (kg/ha)
(raízes) (semente)
1981
pura 0.67 22.6 12.3 3195
consociada 0.69 18.2 8.9 2170
1.48
DMS (5%) n.s. 0.7 2.7 707
CV% 1.0 6.7 22.3 11.7
1982
pura 0.59 12.7 8.8 2227
consociada 0.57 12.3 5.3 1328
1.56
DMS (5%) n.s. n.s. 1.5 424
42
CV% 2.6 4.9 9.3 10.6
HI(%) = Harvest Index (índice de colheita).
R = Rendimento.
DMS (5%) = Diferença Mínima Significativa a 5% de probabilidade.
CV% = Coeficiente de Variação em percentagem.

Discuta e comente os resultados. Justifique as afirmações.

9) Chang e Shibles (1985) estudaram os efeitos da competição entre o milho e o feijão


nhemba, semeados em diversos sistemas de cultivo e densidades de plantas (séries de
substituição) e com vários níveis de adubação azotada (N1 e N2) e fosfatada (P1 e P2), sobre
os rendimentos e o LER. Os gráficos com os resultados são apresentados na Figura.
Densidades óptimas usadas: milho = 5 plantas/m2 e nhemba = 10 plantas/m2. Discuta, comente
e justifique as afirmações.

N1 - 0 e N2 - 75 kg de N/ha
P1 - 0 e P2 - 43 kg de P/ha
M - milho puro 100%
Mc - 75% milho + 25% nhemba
mc - 50% milho + 50% nhemba
mC - 25% milho + 75% nhemba
C - nhemba puro 100%

Figura - Efeito de diferentes proporções de culturas no rendimento de grão (t/ha) e LER (grão)
para a consociação milho\feijão nhemba.

10) Moody e Pamplona estudando o efeito da consociação e do maneio de infestantes nos


rendimentos (kg/ha) do milho e do nhemba, apresentaram a seguinte tabela:

Tratamento Puro Consociado


(controlo de Milho Nhemba Linhas alternas Na mesma linha
infestantes) Milho Nhemba Milho Nhemba
Enxada 2888 713 1990 249 2131 150
sem sacha 2049 307 1450 147 1606 45

Discuta e comente os resultados. Justifique as afirmações.

43
11) Discuta sobre as possíveis razões que podem levar a que a consociação de feijão boer com
mapira, semeada em séries de substituição, com 2 linhas de mapira para cada linha de boer,
tenha produzido valores de LER >1.4. O ciclo da mapira utilizada era de 90-100 dias, enquanto
que o boer era de 180 dias. Justifique.

12) Fale sobre as razões que podem causar vantagens no rendimento das culturas consociadas.
Detalhe para o caso da consociação entre o feijão nhemba e a mapira.

13) A figura representa a biomassa das infestantes 30 dias depois da emergência e aos 80 dias
(data da colheita da mexoeira), os rendimentos e o LER, para vários padrões de cultivo de
amendoim e mexoeira, tanto em cultura pura como em consociação.
Comente e justifique.

44
Figura - Efeito do arranjo espacial no rendimento de infestantes, rendimento de grão e LER
para a consociação mexoeira\amendoim (Shetty e Rao, 1979)

14) Os dados apresentados (Rao and Shetty, 1976) comparam condições de cultivo puro e
consociado, em relação à quantidade de infestantes presentes (g de matéria seca/m2) aos 44 dias
depois de sementeira. Discuta-os.

Cultura secundária Cultivo puro Cultivo consociado


com Boer com Mapira
mexoeira 30.3 34.8 18.7
milho 42.1 34.4 21.4
amendoim 44.8 62.4 41.4
nhemba 37.7 69.3 34.1
Cultivo puro - 132.2 53.3

15) Os dados apresentados na Tabela correspondem à avaliação de várias combinações da


consociação de Mapira com 17 variedades Feijão Boer, segundo dois métodos:
i) LER calculado com base no rendimento puro da mesma variedade de boer usada na
consociação.
ii) LER calculado com base no rendimento puro da melhor variedade de boer.
Comente os dados. Assinale as vantagens e desvantagens de usar um ou outro método.
Justifique.

Rendimento (Kg/ha) LER usando o mesmo LER usando o mesmo


genótipo de Boer genótipo de Boer
Boer Consociado Mapira Boer Total Boer Boer Total
Puro Mapira Boer (4+5) Puro Cons. (4+8)
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9)
1699 3804 850 0.96 0.50 1.47 1.00 0.50 1.46
1525 3931 842 0.99 0.55 1.56 0.90 0.50 1.49
1428 3640 740 0.92 0.52 1.44 0.84 0.44 1.36
1407 3630 815 0.92 0.58 1.50 0.83 0.48 1.40
1389 3386 757 0.86 0.54 1.43 0.82 0.45 1.31
1376 3344 895 0.85 0.64 1.48 0.81 0.52 1.37
1323 3899 799 0.99 0.60 1.62 0.78 0.47 1.46
1296 3381 619 0.86 0.48 1.45 0.76 0.36 1.22
1264 3973 585 1.01 0.46 1.44 0.74 0.34 1.35
1226 3757 619 0.95 0.50 1.45 0.72 0.36 1.31
1222 3232 512 0.82 0.42 1.24 0.72 0.30 1.12
1185 3500 463 0.89 0.39 1.25 0.70 0.27 1.16
1169 3323 503 0.84 0.43 1.27 0.69 0.30 1.14
1148 3930 661 0.99 0.58 1.58 0.68 0.39 1.38
1106 3198 718 0.81 0.65 1.47 0.65 0.42 1.23
1063 3645 530 0.92 0.50 1.42 0.63 0.31 1.23
1038 3677 720 0.93 0.68 1.66 0.62 0.42 1.35
a) Rendimento da mapira pura foi de 3952 Kg/ha

16) Rao et al. (1990), trabalhando em sistemas agroflorestais, incluindo sebes de Leucaena
consociadas com mapira e feijão boer, obteve os seguintes resultados.
Comente-os. Diga que sistema usaria. Justifique.

45
Rendimentos médios em toneladas/ha (4 anos) de Leucaena e das culturas anuais em cultivo
puro e consociado.

Distância entre Leucaena Mapira F.Boer LER


sebes (m) Forragem (ms) Madeira(c)
Estação Estação Varas Cepo Grão Palha Grão Palha
húmida seca (a) (b)
1,3511,875,25 8,73 5,53 1,75 2,87 0,73 2,45 0,79
2,2511,666,47 9,52 5,58 3,57 5,17 1,06 4,12 1,03
3,15 9,455,17 7,49 4,60 5,04 7,20 0,90 4,45 1,03
4,05 8,805,98 7,78 4,21 6,21 8,16 1,17 4,70 1,12
4,95 6,634,85 6,13 3,76 7,28 11,32 1,02 5,00 1,16
Leucaena Pura 20,22 13,48 17,90 10,69 ---- 1,00
Mapira/Boer - -- - 11,71 16,98 1,65 9,07 1,32
Boer Puro - -- ---3,31 17,66 1,00
Mapira Pura - -- - 15,95 19,29 -- 1,00

a - Madeira na colheita final.


b - Inclui caule, ramos e folhas.
c - Com base nos rendimentos de Matéria Seca.
ms - matéria seca.

17) Rao e Singh (1990) trabalhando com vários sistemas de cultivo puros e consociados
obtiveram os seguintes resultados. Discuta-os, elabore recomendações e justifique as afirmações.

Culturas A-Mapira A-Mapira A-Amendoim A-Amendoim


Componentes B-Boer B-MexoeiraB-Boer B-Mexoeira
Média EP Média EP Média EPMédia EP
a) rendimentos (t/ha)
Culturas puras
A 4,10 1,20 4,10 1,20 1,18 0,68 1,18 0,68
B 1,23 0,60 2,71 0,68 1,23 0,60 2,71 0,68
Consociação
A 3,38 1,02 1,95 0,67 0,66 0,38 0,74 0,46
B 0,79 0,39 1,59 0,42 1,15 0,54 1,36 0,55
b) LER's
A 0,82 0,21 0,47 0,15 0,60 0,30 0,68 0,26
B 0,67 0,32 0,60 0,13 0,94 0,39 0,51 0,19
A+B 1,49 0,38 1,07 0,13 1,53 0,39 1,18 0,25
EP - erro padrão.

18) Ong et al. (1991) trabalhando com a consociação amendoim/ mexoeira obtiveram os
seguintes resultados. Comente-os, elabore recomendações para o sector familiar, justifique.

Ano Cultura Matéria seca LER RendimentoLER Radiação


total (t/ha) (MS) grão ou vagem Total (MJ/m²) Eficiência
(t/ha)Interceptado de Conversão
(g/MJ)
20-80 dds 80-colh. 20-80 dds 80-colh.
1985 Mexoeira6,10 1,23 584 - 0,92-
Amendoim2,80 0,93 453 319 0,54 0,13
46
Consociação
Mex/amend 3,00/2,38 1,34 0,85/0,82 1,57512 287 0,73 0,06
1986 Mexoeira4,72 1,81 565 - 0,89-
Amendoim2,10 0,16 348 125 0,60 0,03
Consociação
Mex/amend 2,27/1,65 1,26 1,04/0,05 0,88385 143 0,68 0,04
1987 Mexoeira6,47 2,21 442 - 1,29-
Amendoim3,60 1,89 310 246 1,07 0,19
Consociação
Mex/amend 2,29/2,63 1,08 0,87/1,25 1,05378 236 1,14 0,10

Colheita da mexoeira aos 80 dds (dias depois da sementeira)


20-80 dds = período dos 20 aos 80 dias depois da sementeira.
80-colh. = período dos 80 dias até à colheita.

47
5. TRABALHO DO SOLO

Como trabalho de solo deve ser considerada toda a actividade que envolva qualquer forma de
movimentação do solo, desde a destronca até à armação final do terreno.

5.1 - MÉTODOS DE DESMONTE

Desmonte ou destronca é a primeira fase da conquista de um novo terreno para a actividade


agrícola ou pecuária. É a fase em que as árvores e arbustos são removidos do terreno. Podem-se
considerar dois métodos de desmonte, essencialmente em função de quem a realiza e como a
realiza:

1) Métodos nativos - Neste caso usam-se instrumentos manuais. Primeiro cortam-se os arbustos
e árvores a uma altura de 0,5 a 1 m. No caso de árvores de grande porte, por vezes é praticada a
queima da base do caule. Devido a se deixarem cepos de árvores e bases de arbustos no terreno,
este método possibilita uma regeneração da vegetação natural mais ou menos rápida. É comum
deixarem-se algumas árvores seleccionadas no terreno, especialmente quando o uso final é a
pastagem, devido á necessidade de sombra dos animais.

2) Métodos comerciais - Quando se recorre ao uso de métodos de desmonte comerciais, o


objectivo é em geral a mecanização. Podem ser distinguidos vários métodos:

a) Desmonte manual - é feito em duas fases:

i) Corte.
ii) Queima.

b) Tracção - Este método é muito económico, por não necessitar de grandes investimentos em
maquinaria. Com um guincho colocado em duas árvores próximas, a alturas diferentes, induz-se
a tracção, que abate as árvores devido ao efeito de alavanca (Fig. 5.1). Este método é mais
efectivo se o solo estiver húmido. Quando o solo está seco, corre-se o risco que partir as árvores,
especialmente as raízes. Pode-se usar para árvores de até 20 cm de diâmetro. Para árvores de
maior diâmetro, devem ser usados dois guinchos.

A – Guincho
B – Tracção
C – Direcção de queda
Figura 5.1. Método de tracção.

Para se fazer uma eficiente remoção das raízes, remoção quase completa, a tracção é feita,
primeiramente num dos lados, com o objectivo de soltar as raízes, sendo a tracção final feita no
lado oposto.

c) Remoção do anel e envenenamento - Um anel do córtex com 20-45cm de largura é removido


a cerca de 1m de altura, bloqueando a passagem de seiva. Como resultado a árvore morre em 1-2
anos. Por vezes recorre-se ao uso de herbicidas, ou ainda ao método combinado de remoção de
anel e aplicação de herbicidas, como forma de acelerar o processo de morte.

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d) Limpeza mecânica - Este método é caracterizado pela remoção do bosque existente através do
uso de maquinaria pesada (dozers). Podem ser distinguidas várias fases:

a) Limpeza da vegetação de crescimento rasteiro (com buldozers) e arbustos.

b) Tomba de árvores. O método mais comum é o uso de bulldozers. Contudo, o uso de


tractores pesados rebocando uma corrente de cerca de 15 metros, por vezes com
contra-pesos no meio, foi usado com sucesso. É ainda possível usar uma "treedozer"
(dozer de árvores) que, aplicando a lamina a cerca de 2-3 m de altura e uma cunha na
base da árvore e fazendo, simultaneamente, uma força de empuxe e outra de levantar,
acaba derrubando a árvore (Fig. 5.2).

A – Treedozer
B – Cunha
C – Lâmina
D – Direcção de queda

Fig. 5.2 - Apresentação esquemática do abate duma árvore com uma "treedozer".

c) Remoção final de troncos, cepos e outras partes das plantas do terreno.

d) Empilhamento (utilização ou queima da madeira).

e) Corte, remoção e empilhamento das raízes (ripagem).

O desmonte passa normalmente por uma fase de queima de material vegetal. Esta actividade,
muito contestada, tem os seus prós e contras, devendo estes ser ponderados antes de se proceder
à queima. Assim, pode-se assinalar:
- Causa a destruição de matéria orgânica, tanto da vegetação, como dos resíduos vegetais. Este
facto acaba por facilitar a erosão por desnudar o solo.
- Não provoca grandes perdas na matéria orgânica humificada da superfície do solo.
- Causa a perda de quantidades consideráveis de Carbono orgânico, Nitrogénio e Enxofre.
- Aumenta o teor de Fósforo e Potássio no solo, através da adição das cinzas.
- Ao se facilitar a erosão do solo, devido à queima, facilita-se também a "erosão" das cinzas.
- Devido á existência de grandes quantidades de aniões na solução do solo, o seu lexiviamento
é facilitado.
- Aumenta o pH do solo (o solo torna-se mais básico), induzindo a nitrificação, o que pode
levar a uma perda de Nitrogénio mais acelerada.
- Permite um certo grau de desinfecção do solo, matando insectos, animais, fungos, etc..

49
5.2. PREPARAÇÃO DO SOLO. LAVOURAS

A preparação do solo inclui todas as actividades que se realizam no solo antes da sementeira,
com o objectivo de criar um leito adequado para o crescimento e desenvolvimento da cultura
atravéz de:
- modificações na estrutura do solo.
- modificações no teor de água do solo.
- incorporação de materiais estranhos e adubos.
- redução da população de infestantes.
- criação de condições para a mecanização.
- controlo de pragas.
- tornar alguns nutrientes mais assimiláveis pelas plantas.
- aumentar a permeabilidade do solo.
- facilitar o enraizamento.
- nivelar e armar o terreno depois de actividades culturais ou colheita em período chuvoso.
- aumentar a temperatura do solo.

A preparação do solo realizada por pequenos agricultores, normalmente feita com enxada, é
geralmente pouco profunda, limitada apenas ao mais essencial em termos de adequação do solo
para cultivo e controlo de infestantes.

O uso de tracção animal permite uma lavoura mais profunda, mais uniforme e uma maior área
lavrada. Contudo, esta técnica é ainda pouco utilizada em Moçambique.

Para além das vantagens directas trazidas pela introdução da tracção animal para as lavouras,
alguns problemas podem acontecer se não se tiverem certos cuidados. Com o uso da tracção
animal, maiores áreas podem ser lavradas por cada camponês. Mas, caso não se introduzam, em
simultâneo, algumas alfaias para outras práticas culturais como a sacha, problemas podem
acontecer. Isto porque, com maiores áreas lavradas e semeadas, maior será a necessidade de
força de trabalho para a sacha e a colheita, especialmente durante os períodos pico. Assim, como
a disponibilidade de mão-de-obra duma família camponesa é limitada, pode haver tendência
para o atraso das várias práticas culturais, mormente a sacha. Com o atraso do controlo de
infestantes, maior será a competição imposta por estas, provocando-se assim um abaixamento
dos rendimentos. Este abaixamento pode mesmo provocar uma redução da produção total.

Não só devido ao custo das lavouras, mas também devido aos seus efeitos, é comum dizer-se
que, os objectivos a serem atingidos com as lavouras se devem lograr com o mínimo de trabalho
possível. Pois, o excesso de trabalho pode causar a pulverização da superfície que, por reduzir a
infiltração, causa o aumento do run-off e, subsequentemente, da erosão laminar.

Os efeitos benéficos das lavouras são temporários. A longo prazo, todos os métodos permitem
que a chuva destrua os agregados do solo, induzem à formação de crosta, permitem a eluviação
de partículas finas para maiores profundidades e levam a maior run-off.

A investigação ainda não conseguiu provar os benefícios de lavouras profundas nos trópicos.
Nas regiões tropicais a realização de lavouras profundas é importante quando:
a) Existe hardpan.
b) Existem horizontes impermeáveis.
c) Os solos são muito pesados.
d) Existe necessidade de eliminar plantas perenes com raízes profundas.
e) Existe a necessidade de incorporar resíduos vegetais.
50
O mais importante é que a lavoura providencie uma boa cama, livre de infestantes.

A preparação do solo no cedo é uma técnica muito vantajosa, pois permite semear logo no início
das chuvas, possibilitando rendimentos maiores, por se usar mais eficientemente a precipitação.

Lavouras de estação seca, por vezes chamadas de lavouras de inverno, são muito úteis, pois
permitem a realização da sementeira em tempo. Estas são especialmente vantajosas quando se
usa a tracção animal. Pois, ao se fazer uma lavoura logo após a colheita, permite-se que os
animais concluam o trabalho no início da época das chuvas com menor esforço. É de realçar
que, depois do inverno (época seca), existe uma tendência para se terem animais mais fracos
devido a uma alimentação deficiente, sempre que não exista um stock de alimentos. Estas
lavouras de inverno remexem o solo enquanto ainda não está completamente seco, reduzindo a
potência necessária para a realização da lavoura no início da época das chuvas.

As lavouras tendem a acelerar a destruição da estrutura do solo, acelerar a decomposição da


matéria orgânica (M.O.), devido ao aumento da erosão e aumento da exposição do solo ao calor
solar, tendo como consequência, o aumento da mineralização da matéria orgânica e o "leaching"
de nutrientes.

5.2.1. Tractores, mecanização, técnica vs sociologia

Segundo Abercombie (1972), os tractores beneficiam os grandes agricultores, mas não a


economia nacional.

A mecanização necessita investimento externo e usa pouca mão-de-obra, sendo aplicável para
culturas anuais de pouco valor de mercado.

O custo desta tecnologia é muito alto em relação aos lucros do agricultor. Como geralmente as
machambas são pequenas e dificultam o trabalho mecânico, para além de que, nem todos os
arbustos são removidos, ocorrem perdas de tempo no contorno de obstáculos e as avarias são
frequentes. Mas, estes resíduos ajudam o recrescimento da vegetação natural, facilitando a
recuperação natural do solo durante o período de pousio.

Normalmente os utilizadores não estão familiarizados com o uso de maquinaria, originando a


sua má utilização e encurtando o seu período de vida. Como resultado do sistema de cultivo
dominante, os tractores só são usados por pouco tempo em trabalho agrícola, sendo usados
durante grandes períodos no transporte e noutras actividades não agrícolas.

5.3. SISTEMAS DE TRABALHO MÍNIMO, TRABALHO REDUZIDO (MINIMUM TILLAGE,


REDUCED TILLAGE E 0-TILLAGE)

Sistemas de trabalho mínimo e trabalho reduzido são aqueles em que, ao invés de se fazer a
preparação do solo pelo sistema convencional de lavouras e gradagens, o remechimento do solo
é mantido a um mínimo, optando-se por fazer a sementeira num campo "sujo" e fazendo o
controlo de infestantes através de produtos químicos (herbicidas).

Em geral os sistemas de trabalho mínimo reduzem o tempo e o esforço necessário para a


preparação do solo, permitindo que a sementeira seja feita a tempo, que o controlo de infestantes

51
seja melhorado, que a área preparada (semeada) seja maior, acabando por permitir que um maior
número de culturas seja feito em cada estação ou ano.

Tem sido assinalado que, entre as principais vantagens do "minimum tillage", está o facto de
reduzir a potência necessária para a preparação do solo, assim como os seus custos.

Com a eliminação de práticas como as lavouras e gradagens, foi necessário encontrar


alternativas para o controlo de infestantes. Assim, recorre-se ao uso de herbicidas, tanto
pré-emergentes como pós-emergentes. Um dos exemplos mais comuns é o uso de Paraquat, um
herbicida de contacto, que destrói a cobertura vegetal, eliminando assim a competição na fase
inicial da cultura.

Muito embora geralmente se usem herbicidas para o controlo de infestantes no "minimum


tillage", fazer o controlo manual (com enxada) das infestantes pode levar a efeitos semelhantes
àqueles obtidos com o uso de herbicidas.

Uma das vantagens dos sistemas de trabalho mínimo é o melhoramento do solo a longo prazo.
Com a adição contínua de matéria orgânica no solo, com o sistema radicular das plantas a
decompor-se "in-situ", não só a permeabilidade aumenta, por a água poder passar pelos
canalículos abertos pelas raízes, como a própria estrutura do solo vai melhorando.

Como se sabe, o processo de decomposição da matéria orgânica consome azoto do solo, pelo
que é frequente que os vários sistemas de trabalho mínimo necessitem de maiores adições de
azoto, para o suprimento das necessidades das culturas.

Sempre que se pensa em introduzir o "minimum tillage" é fundamental fazer uma análise
económica, pesando-se os custos da potência utilizada no sistema convencional de preparação
do solo contra os custos dos herbicidas a usar no "minimum tillage".

É um facto de que o sistema convencional usa maior quantidade de trabalho (mão-de-obra) que
o "minimum tillage" (Tab. 5.1).

Como se pode ver pela tabela 5.2, a barreira formada pelas plantas queimadas pelo herbicida
actua como protecção do solo, reduzindo o run-off e a perda do solo por erosão.

Embora inicialmente tivesse tido pouco interesse para os grandes agricultores, incluindo nos
países desenvolvidos, hoje muitos são os agricultores convertidos ao "0-tillage". Entre os
factores que levaram a este fenómeno pode-se destacar:
a) Desenvolvimento de reguladores do crescimento das plantas, como sejam os herbicidas de
contacto.
b) Migrações para as cidades, que levaram a reduções na mão-de-obra disponível e na sua
substituição por equipamento e pesticidas.
c) Produção de equipamento adequado ao "0-tillage", que permite a sementeira em terreno não
cultivado, não preparado.
d) Atrasos na sementeira devido a chuvas pesadas, devido à impossibilidade de se realizarem
lavouras em terrenos encharcados, que levam geralmente à redução dos rendimentos. Este
talvez tenha sido um factor chave para a aceitação definitiva do "0-tillage". Pois, é
relativamente fácil que os agricultores aceitem a introdução de práticas que adiantem a
sementeira.

52
Tabela 5.1. Comparação das necessidades de mão-de-obra usando "0- tillage" (@) e o sistema
convencional, para as culturas de milho e feijão nhemba, cultivadas numa savana, dominada por
Imperata sp., na Nigéria (Wijewardene, 1978).

Operação Homens-hora/ha
0-tillage Convencional
A. Preparação do campo:
a) Corte, queima e lavoura manual 180
b) Pulverização CDA com herbicida de contacto 4
B. Sementeira:
a) Sementeira manual em solo lavrado com enxada (baixa
densidade) 20
b) Sementeira com Auto-jab através da cobertura de mulch
(milho e nhemba a 75x25 cm) 35
C. Controlo de infestantes:
a) Dois controlos manuais 280
b) Pulverização CDA com herbicida pré-emergente 4
D. Aplicação de fertilizantes: 25
a) Em bandas, manual, ao longo das linhas
b) Usando um aplicador de bandas movido manualmente 6
E. Protecção de plantas:
a) Aplicação de insecticida no nhemba com pulverizador de
dorso 10
b) Duas pulverizações CDA com insecticida (em toda a cultura) 2
Total de homens-hora usados por hectare 51 515
Comparação dos rendimentos 2400 1255
(@) - os instrumentos usados no "0-tillage" foram pulverizadores CDA e o plantador automático
"jab" (auto-jab) do IITA.

Tabela 5.2. Efeito da interacção entre a natureza da cultura e as técnicas de maneio do solo no
run-off e perda de solo em Ibadan, Nigéria (Lal, 1976).

Declive(%) Run-off (% da precipitação) Perda de solo (t/ha)


Milho Nhemba Milho Nhemba
(0-tillage) (convencional) (0-tillage) (convencional)
1 1,2 15,8 0,01 0,24
5 1,8 31,1 0,03 0,65
10 3,1 40,0 0,00 1,71
15 3,5 17,2 0,10 1,22
Nota : Precipitação = 781 mm.

Entre as vantagens do "0-tillage" podem-se destacar:


a) permite o controlo da erosão.
b) redução na quantidade de combustível necessária, reduzindo não só a necessidade total de
combustível, como também atenuando os picos de necessidade. O "0-tillage" usa 60-75%
menos combustível na preparação do solo, que o sistema convencional.
c) permite uma maior flexibilidade na sementeira e na colheita. Pois, não é necessário esperar
que o solo seque, uma vez que o solo lavrado tem maior traficabilidade.
d) aumento do uso da terra, permitindo um aumento de 10-30% na intensidade de cultivo.
e) reduz as necessidades de trabalho.
53
Sistema Área trabalhada
(ha/homem)
"0-tillage" 2 a 320
convencional 0,8 a 160

f) permite o melhoramento na retenção da água no solo na ordem dos 19%.


g) reduz a evaporação, por existir uma maior cobertura do solo.
h) permite uma maior infiltração de água no solo.
i) reduz o run-off.
j) permite a manutenção do nível de matéria orgânica no solo, devido à sua adição continua.
k) reduz a compactação do solo.
l) permite um aumento na eficiência no uso da rega.
m) as técnicas culturais utilizadas adaptam-se à maioria das culturas. Contudo, as culturas de
raízes e tubérculos têm menos possibilidades, devido á grande necessidade de remoção de
solo na altura da colheita e, por vezes, na sementeira.
n) reduz a necessidade de equipamento.

Entre as desvantagens há a salientar:


a) exige um mais alto nível de maneio ou pode ser mesmo necessária uma tecnologia nova.
b) a necessidade e o uso de adubos pode ser diferente do convencional, tanto na quantidade
como no tempo, podendo levar a uma necessidade de investigação, para a identificação de
novas recomendações.
c) exige novas técnicas para a sementeira. Aspectos tais como a profundidade, estabelecimento
do contacto entre a semente e o solo e a forma de cobertura da semente devem ser
aprendidos e identificados.
d) a temperatura do solo tende a ser mais baixa em 2-10C que o sistema convencional. Este
facto pode ser um problema nas regiões temperadas. Contudo, nas regiões tropicais, isto
pode ser uma vantagem.
e) o controlo de infestantes tende a ser mais difícil. A propensão para rápidas mudanças na
composição florística pode levar à necessidade de adopção de novas técnicas de aplicação e
selecção e identificação de novos herbicidas, assim como de rotação de culturas.
f) devido à existência de resíduos orgânicos na superfície do solo, existe tendência para a
ocorrência duma maior incidência de insectos, roedores e doenças.
g) falta de estética de campos "sujos".

5.4. CLASSIFICAÇÃO DAS LAVOURAS

As lavouras podem ser realizadas com alfaias de:


a) discos.
b) aivecas.

Podem-se usar:
a) arados de discos ou aivecas.
b) grades de discos ou bicos.
c) rolos compactadores lisos ou dentados.

Quanto à profundidade as lavouras podem ser:


a) superficiais (0 a 10-15 cm).
b) ordinárias (15 a 25-30 cm).
54
c) profundas (25-30 a 40-45 cm).
d) subsolagens (mais de 40-45 cm).

Quanto ao equipamento usado as lavouras podem ser:


a) lavoura ou aradura.
b) gradagem.
c) nivelamento.
d) compactação.

Quanto à forma como fica a superfície do solo, as lavouras podem ser:


a) à rasa ou plana.
b) em sulcos ou camalhões.
c) em canteiros, camas ou leiras.

Quanto á forma de realização as lavouras podem ser:


a) lavoura com arado reversível (Fig. 5.3).

Fig. 5.3 - Modo de fazer a lavoura com arado reversível. a) e b) são cortes do sulco de cabeceira.
Note-se que a leiva é virada sempre para o mesmo lado.

A lavoura com arado reversível permite que a leiva de solo seja sempre virada para o mesmo
lado, deixando o solo nivelado.

b) lavoura com arado fixo, abrindo ou fechando:


- método europeu (Fig. 5.4).
- método americano (Fig. 5.4).

55
Fig. 5.4 - Modo de fazer a lavoura com arado fixo. a) abertura do campo segundo o método
europeu. b) abertura do campo segundo o método americano.

A lavoura com arado fixo deixa no terreno sulcos e contra-sulcos a espaços regulares. Embora o
método americano seja mais rápido, por apenas precisar de dois passes para a abertura do
campo, o método europeu tem a vantagem de não deixar um contra-sulco tão saliente e deixar o
fundo da lavoura a uma profundidade uniforme, para além de todo o solo ficar solto, mesmo por
baixo do contra-sulco.

c) lavoura circular:
- de fecho ou remate (Fig. 5.5).
- abrindo (Fig. 5.6).
- fechando (Fig. 5.7 e 5.8).

Fig. 5.5 - Depois do campo estar lavrado, faz-se a lavoura circular de fecho.

56
Fig. 5.6 - Lavoura circular abrindo (um sulco morto). O campo é lavrado sem se levantar a
charrua. O tractor ao fazer o trajecto de saída, deixa um sulco morto.

Fig. 5.7 - Lavoura circular fechando. No início a charrua é levantada, até que a largura da área
lavrada seja suficiente para fazer a viragem sem a levantar.

57
Fig. 5.8. Lavoura circular fechando. Recorrendo-se à feitura de "orelhas" nos primeiros passes,
consegue-se fazer toda a lavoura sem levantar a charrua.

Para além da lavoura circular de fecho ou remate, há a realçar a lavoura circular abrindo, em que
o centro do terreno fica aberto, deixando um sulco morto, e a lavoura circular fechando, em que,
no centro do terreno, fica um contra-sulco.

A lavoura circular tem uma vantagem imediata que é o facto de permitir que a lavoura seja feita
sem levantar a charrua. Como se pode ver pelas figuras 5.7 e 5.8, o início da lavoura circular
pode ser feita de mais que uma maneira. Enquanto que na figura 4.7 a charrua é levantada até
que a largura trabalhada seja suficientemente larga para permitir a viragem sem levantar a
charrua, na figura 5.8, opta-se por nunca levantar a charrua, mercê do facto de se fazerem
viragens mais largas, em forma de orelhas, até que a largura seja suficiente para uma viragem
directa.

5.5. COMO FAZER A LAVOURA

A. Com arado reversível.

Primeiro abrem-se os sulcos de cabeceira. Estes fazem-se com o intuito de uniformizar a linha
de início da lavoura, facilitar a penetração da charrua e deixar área suficiente para as manobras
do tractor. Os sulcos de cabeceira devem ser sempre feitos de forma a virar a leiva de solo para
dentro do campo.

O segundo passo é a lavoura do campo.

O passo final é a realização de uma lavoura circular de fecho, de forma a deixar todo o terreno
lavrado.

B. Com arado fixo.

58
Depois de se abrirem os sulcos de cabeceira, definem-se as parcelas.

A largura das parcelas deve ser calculada de forma a permitir a máxima eficiência da maquinaria
e o mínimo de perda de tempo nas viragens. Regra geral a largura das parcelas ronda os 30 m.
Contudo, o uso da seguinte equação permite a determinação simples da largura das parcelas:

Install Equation Editor and double-


click here to view equation. onde,

L = largura das parcelas.


Lt = largura de trabalho da alfaia.
C = comprimento da parcela.

A fase seguinte é a da lavoura. Escolhem-se parcelas alternadas e faz-se uma lavoura abrindo,
fazendo-se uma lavoura fechando nas restantes. Deste modo, a distância entre sulcos- mortos e
contra-sulcos é mantida a uma distância igual à largura das parcelas. Em anos consecutivos, as
lavouras devem ser invertidas, passando a fazer-se lavouras abrindo onde se tinha feito fechando
e vice-versa, com o objectivo de nivelar o solo.

Nas lavouras com arado fixo a leiva é sempre virada para a direita, devendo ser feita no sentido
do maior comprimento, ou segundo as curvas de nível.

O tempo para a realização das lavouras depende de:


a) Cultura a fazer.
b) Objectivo da lavoura.
c) Vegetação natural (tipo e quantidade).
d) Solo (estrutura e textura).
e) Humidade (sazão ou tempero).
f) Conservação do solo.

Literatura recomendada

Webster, C.C., e Wilson, P.N., 1980. Agriculture in the Tropics. 2nd Ed. Tropical Agriculture
Series, Longman Group, New York and London. Págs. 155-167.

Wrigley, G., 1981. Tropical Agriculture - The Development of Production. 4th Ed. Longman
Group, New York and London. Págs. 107-109, 134-142.

Youdeowei, A., Ezedima, F.O.C. e Onazi, O.C., 1986. Introduction to Tropical Agriculture.
Longman Group, U.K.

ILACO, 1981. Agricultural Compendium for Rural Development in the Tropics and Subtropics.
Elsevier Scientific Pub. Company. Netherlands.

Phillips, R.E. e Phillips, S.H., 1984. No-tillage Agriculture. Principles and Practices. Published
by Van Nostrand Reinhold Company Inc. N.Y.

Dregne, H.E. e Willis, W.O., 1983. Dryland Agriculture. ASA/CSSA/SSSA. USA.

59
Questões de raciocínio e controlo

1) Discuta as possibilidades de utilização do método de "0-Tillage" no sistema de produção


tradicional da faixa costeira do Sul de Moçambique. Acha que poderia valer a pena a sua
testagem em ensaios para futura recomendação ao Sector familiar. Justifique.

2) Discuta sobre as possibilidades de utilização do "0-tillage" pelo sector familiar em


Moçambique.

3) Diz-se que as lavouras em climas tropicais são especialmente importantes para o controlo de
infestantes. Porquê?

4) Calcule o tempo de trabalho necessário para lavrar um campo com área igual a 1 ha se:
- comprimento do campo = 100 m
- largura do campo = 100 m
- velocidade de trabalho = 5 Km/h
- tempo médio de viragem = 30 segundos
- largura de trabalho = 80 cm

5) Supondo que você é o responsável técnico duma empresa e tivesse que fazer a lavoura dum
talhão com 1500 m de comprimento e 500 m de largura. Sabendo que:
- o solo é franco-arenoso.
- largura de trabalho da charrua de discos = 120cm
- cultura anterior = milho de sequeiro
- cultura a ser realizada = algodão de sequeiro
Diga como faria a lavoura? Que método usaria? Justifique as respostas.

6) Os dados apresentados a seguir foram publicados por Harrold et al. (1967), no seu trabalho
sobre o efeito de métodos de trabalho do solo sobre os rendimentos do milho e a perda de solo.
Comente e justifique as afirmações.

Ano Perda de solo (t/ha) Rendimento (Kg/ha)


Convencional No-tillage Convencional No-tillage
1964 6.3 0.1 5963 8537
1965 0.1 0 6654 6654
1966 0 0 6088 7344

7) Os dados apresentados referem-se aos custos de produção de dois sistemas de trabalho de


solo. Discuta-os e comente sobre as diferenças. Justifique as afirmações.

Prática Custos de produção em Cr$/ha


Sistema tradicional Trabalho mínimo
Preparação do solo 128420 -
Sulcagem 26660 26660
Adubação 108333 90833
Mudas de cana 239583 239583
M-d-o na plantação 31250 31250
Formicidas 1667 -
Herbicidas 34875 17438
Sachas mecânicas 8750 4372
Sachas manuais 33333 16667
60
8) Os dados apresentados por Laurence (1983) relativos ao efeito do sistema de armação do
terreno e densidade de plantação na população à colheita e rendimento do amendoim, são
apresentados em baixo. Discuta-os, elabore recomendações e justifique as respostas.

Sistema de maneio do solo/Densidade Densidade à Rendimento de


(plantas/m²) colheita vagens
(plantas/m²) (t/ha)
Sulcos
0.8 0.71 2.55
2.0 1.92 4.08
4.5 4.34 4.93
7.0 7.24 4.90
12.0 12.08 5.15
24.0 18.67 5.00
Camas/canteiros (faixas)
0.8 0.55 1.59
2.0 2.24 4.54
4.5 3.92 4.67
7.0 6.78 4.80
12.0 11.50 4.80
24.0 17.69 4.29
DMS (5%)
a) densidades no mesmo sistema de armação = 0.74 0.45
b) outros 1.04 0.63

9) A tabela apresenta dados referentes aos efeitos do método de preparação do solo e da cultura
anterior no rendimento do milho. Existem diferenças significativas para os valores dum mesmo
ano. Discuta-os e elabore possíveis recomendações para o sector comercial. Justifique as
respostas.

Tratamento Rendimento (t/ha)


1985 1986 média
trigo NT/soja NT/milho NT 9.03 4.68 7.81
trigo CT/soja NT/milho NT 9.25 5.16 8.04
trigo CT/soja NT/milho CT 5.55 3.56 6.02
trigo CT/soja CT/milho CT 5.47 3.58 6.00
NT - "0-tillage".
CT - lavoura convencional.

10) Os dados apresentados são parte do trabalho de Maurya (1986) "efeito da lavoura e do
maneio de resíduos no rendimento do milho e do trigo e nas propriedades físicas dum solo
franco- arenoso, irrigado, no Norte da Nigéria". Soil and Tillage Res. 8:161-170. Discuta-os e
justifique as afirmações.

Método de lavoura Maneio de resíduos Rendimento do milho (t/ha)


1982 1983 1984
No-tillage com 3.3 3.0 2.3
sem 3.4 2.8 1.9
Lavoura convencional com 4.1 3.9 2.2
sem 4.0 3.9 2.2
DMS (5%) método 0.28 n.s. n.s.
resíduo n.s. n.s. n.s.
61
11) Obi (1989) trabalhando com diferentes sistemas de preparação do solo apresentou os
seguintes resultados. Comente-os, elabore recomendações e justifique as afirmações.

Ano Sistema Milho Quiabo Amendoim


(t de grão/ha) (t de frutos/ha) (t de grão/ha)
1983 CT 3,0 3,6 1,0
NT 2,6 2,6 0,8
1984 CT 3,2 0,7 0,7
NT 3,5 0,6 0,6
1985 CT 3,9 0,6 0,7
NT 4,1 0,3 0,7
Média CT 3,4 1,6 0,8
NT 3,4 1,2 0,7
CT - Sistema convencional
NT – No-tillage

9) A tabela que se segue (Ramanaiah et al., 1988) apresenta dados sobre a área lavrada (para
semear na época das chuvas) por um par de animais (m²/dia), em zonas onde uma lavoura de
inverno (depois da colheita e das últimas chuvas) foi ou não realizada. Discuta-os e justifique as
afirmações.

Distrito Área lavrada por um par de animais (m²/dia)


sem lavoura de inverno com lavoura de inverno
Maputo 1000 1800
Marracuene 2000 2500
Nhacoongo 2500 3500
Média 1833 2600

Data de sementeira + tarde + cedo


Rendimento menor Maior

62
6. SEMENTEIRA E PLANTAÇÃO. DATAS DE SEMENTEIRA. COMPASSOS

6.1. SEMENTEIRA E PLANTAÇÃO

Geralmente em países de climas temperados, a semente é semeada mecanicamente em linhas e


enterrada.

Em países tropicais, o agricultor semeia não só vários tipos de semente, como também tem
preferências quanto ao tempo e modo de semear. usando geralmente:
a) Sementeira directa - cereais, leguminosas, oleaginosas.
b) Sementeira indirecta em alfobres - quando usa sementes pequenas (tabaco, arroz), cujas
plantas são depois transplantadas.
c) Sementeira indirecta em alfobres e depois em viveiros para futura enxertia e plantação -
fruteiras.
d) Plantação directa - quando faz uso de material vegetativo – cana-sacarina, bananeira, ananás,
mandioca, batata-doce.
e) Plantação em viveiros para posterior transplante - café, cacau, sisal, seringueira.

Para a realização de uma sementeira bem feita deve-se ter em conta:


a) Tipo de instrumentos a utilizar.
b) Método de sementeira.
c) Data de sementeira.
d) Taxa de sementeira.
e) Profundidade da sementeira.
f) A qualidade da semente a usar.

6.2. ALFOBRES E VIVEIROS

Têm a vantagem de permitir um controlo e selecção rigorosos durante o período de


aviveiramento.

Contudo, não se tira a vantagem máxima deste sistema. Por vezes semeiam-se várias sementes
por covacho, para que se possa fazer uma selecção mais tarde. Isto leva a uma maior competição
entre plantas, para além de maior tempo de influência dos factores ambientais (pobre preparação
do solo, infestantes, sequia).

E mais fácil controlar plantas agrupadas em viveiros. A adubação, o sombreamento, a rega, o


controlo de infestantes e a protecção fitossanitária são facilitados e mais económicos. O uso de
alfobres e viveiros permite o avanço na produção de plantas, de forma a que as plantas já
estejam prontas para o transplante, quando o terreno estiver pronto e as condições forem
propicias.

O uso de sacos de plástico perfurados na base para drenagem produz árvores mais rapidamente e
permite uma maior taxa de sobrevivência depois do transplante.

Deve-se usar solo novo para cada viveiro, devendo-se dar particular atenção à rega.

Sombreamento com rede fina (verde) é excelente e permite a rega.

63
Como forma de seleccionamento, as plantas com mau desenvolvimento ou atacadas por doenças
devem ser queimadas.

Existem 3 tipos fundamentais de alfobres:

i) tradicionais. __________
/ \
......._______/ SOLO \________....

Este tipo de alfobre é feito com uma largura de 1,0 a 1,2 m, sendo o seu comprimento variável,
podendo variar de 1 m (agricultura familiar) a 30 m ou mais. A altura dos canteiros varia de 15 a
35 cm.

A largura dos canteiros é definida pelo comprimento médio do braço humano, de forma a que,
dois homens, trabalhando em lados opostos, possam fazer as várias práticas culturais -
sementeira, mondo, arranque, etc. - de forma a cobrir todo o canteiro.

Os alfobres tradicionais são particularmente úteis em solos pesados, pois permitem uma
drenagem melhorada, devido à elevação do solo.

ii) controlados.
......._______ _______....
! !
SOLO !_____________! SOLO

As dimensões gerais dos viveiros controlados são semelhantes ás dos tradicionais. Contudo,
estes têm a vantagem de permitirem uma mais fácil de coberturas, tanto de material vegetal,
como de rede ou plástico.

iii) tecnificados.
__ __
! ! ! !
!__!.......................................!__!
....._______! ! SOLO + M.O.(5-8 cm) ! !_______.......
!__!.......................................!__!
SOLO ! ! AREIA (20-25 cm) ! ! SOLO
!__!.......................................!__!

tijolo ou bloco

Este tipo de alfobre, embora sendo o mais caro de todos, permite um controlo mais cuidado das
várias práticas culturais, sendo particularmente vantajoso para a produção de plantas delicadas.
É, ainda, usado para permitir a criação de condições ambientais diferentes das climáticas. A
armadura em tijolo ou bloco pode ainda servir como suporte para coberturas.

Depois das plantulas produzidas em viveiro ficarem prontas, estas podem ser directamente
transplantadas para o campo definitivo, no caso de culturas como a maioria dos hortícolas e o
arroz, ou, como é o caso das fruteiras e espécies florestais, transplantadas para o viveiro, para
uma segunda fase de cuidados intensos.

Os tipos básicos de viveiros são:


64
a) tradicional ou estacionário - em que as plantas são criadas no próprio terreno, até à altura do
transplante final. Regra geral as plantas são arranjadas em faixas de 4-5 linhas, separadas por
distâncias variáveis dependendo da espécie. Estes canteiros são depois separados por
caminhos de largura variável (2-3 m), dependendo da forma como os vários tratamentos são
feitos. Em caso de tratamento fitossanitário mecanizado, os caminhos devem ser maiores,
para deixarem passar o tractor. O comprimento destes canteiros é variável.

A grande desvantagem deste método de aviveiramento é o facto de forçar as plantulas a


passar por uma segunda crise de transplante, que é agudizada pelo facto de o transplante ser
geralmente feito com as raízes nuas.

b) móvel ou em vasos ou sacos plásticos - em que as plantas são colocadas em sacos de


plástico. A estrutura geral dos viveiros móveis é semelhante à dos fixos, permitindo contudo
um maior número de linhas, devido à maior facilidade de arrumação dos sacos cheios.

Neste caso, o transplante é feito com toda a terra contida no saco, sendo este rompido ou
removido, sem destruir o torrão de terra, e colocado em covas previamente preparadas.

O enchimento dos sacos é feito com uma mistura de solo e matéria orgânica à razão de 4:1.

6.3. MÉTODOS DE SEMENTEIRA E PLANTAÇÃO

A sementeira pode ser feita segundo três métodos básicos:


a) Método mecânico - pouco usado na agricultura tradicional, podendo a semente ser
distribuída a lanço, em sulcos ou em linhas.
b) Método manual - este é método normalmente usado pelo camponês de subsistência.
Podem-se identificar duas formas de distribuição básicas:
- A lanço - quando sementes pequenas são usadas.
- Sementeira localizada - quando se usam sementes grandes como as do milho, algodão,
amendoim.

Muitas vezes existe a tendência para semear muitas sementes por covacho. Neste caso, se não se
fizer o desbaste, o rendimento é fortemente reduzido pela competição entre plantas.

Tradicionalmente, é comum fazer-se a sementeira em zig-zag, ou seja, distribuindo as plantas de


forma mais ou menos uniforme pelo campo, mas sem qualquer arranjo espacial
geométricamente definido. Embora a sementeira em zig-zag feita pelos camponeses em
Moçambique já tenha sido por diversas vezes acusada de ser uma das causas do baixo
rendimento do Sector Familiar, a afirmação não é completamente verdadeira pois, uma das
possíveis causas, de certo modo encoberta pela sementeira em zig-zag, é a baixa densidade
normalmente usada.

Ainda no respeitante ao papel detrimental da sementeira em zig-zag, existem indicações que


levam a concluir o contrário. Ensaios realizados na Provincia de Maputo (Eliseu, 1991),
forneceram os seguintes resultados:

65
Método de sementeira Densidade Rendimento
(plantas/m²) (Kg/ha)
a) milho
Em linhas (1 semente/covacho) 2,0 1750,9
Zig-zag (1 semente/covacho) 2,7 2147,7
Em linhas (3 sementes/covacho) 2,6 1409,6
Zig-zag (3 sementes/covacho) 3,7 2181,0
b) amendoim
Em linhas 11,3 898,6
Zig-zag 12,4 872,7

Como se pode ver, enquanto que no amendoim não se encontraram diferenças em as duas
formas de sementeira, o mesmo não aconteceu com o milho, onde os maiores rendimentos
foram obtidos com a sementeira em zig-zag. Contudo, é fundamental realçar que a densidade de
plantas à colheita foi maior no caso da sementeira em zig-zag.

Podemos distinguir duas formas gerais de sementeira:


a) sementeira directa.
b) ii) sementeira indirecta em alfobres.

A sementeira e/ou a plantação pode ser feita segundo 3 métodos:


a) em sulcos.
b) ii) em linhas.
c) iii) a lanço.

Na maioria dos casos, a sementeira localizada (linhas ou sulcos) é mais vantajosa que a
sementeira a lanço porque:
a) garante maior economia de semente (menor taxa de sementeira).
b) permite uma distribuição mais uniforme da semente.
c) permite maior uniformidade na profundidade de sementeira.
d) devido a se usarem menores densidades, existe menor competição entre as plantas.
e) o ataque de pragas e doenças é geralmente menor.
f) permite maior facilidade na realização das práticas culturais.

Quanto á forma da superfície do solo, a sementeira pode ser:

a) lister.
........_____ _______ ______........
\ / \ /
\ / SOLO \ /
O O -----> semente

b) plana.

........____________________________.......
SOLO O O O O O -------> semente

66
c) em camalhões.
/-------> superfície
/
** ** / **
* * * * * *
* O * * O * * O *
** ** \ ** **
SOLO \
\------> semente

d) em camas ou canteiros

........_____ _________________ ______........


\ / \ /
SOLO \ / O O O O \ / SOLO
V \ V
\
\-------> semente

Quanto à distância entre as linhas temos a sementeira:


a) a jorro ou em linhas contínuas.
b) ii) em linhas a espaços.
c) iii) em rectângulo.
d) iv) hexagonal ou quinconcial.

Quanto ao número de linhas, a sementeira pode ser:

a) standard.
O O O O
O O O O
O O O O
O O O O

Compasso = Dl x Dp (em m ou cm).

Dl = distância entre linhas.


Dp = distância entre plantas.

Ex. Compasso do milho = 70 x 30 cm, indica que a distância entre linhas é de 70 cm e a


distância entre plantas, na mesma linha, é de 30 cm.

b) linhas duplas.
O O O O O O
O O O O O O
O O O O O O
O O O O O O

Compasso = (Df + Dlf) x Dp (em m ou cm).

67
Df = distância entre faixas.
Dlf = distância entre linhas numa faixa.
Dp = distância entre plantas.

Ex. Compasso do sisal = (2 + 1) x 1 m, indica que a distância entre faixas é de 2 m, a distância


entre linhas dentro da faixa é de 1 m e a distância entre plantas, na mesma linha, é de 1 m.

c) em faixas ou linhas múltiplas.


O O O O O O O O O O O O
O O O O O O O O O O O O
O O O O O O O O O O O O
O O O O O O O O O O O O

O - localização das plantas

6.4. DENSIDADE DE SEMENTEIRA/PLANTAÇÃO

Compasso óptimo - É aquele que permite o crescimento de folhagem suficiente para utilizar
maximamente a radiação, sem que ocorra excesso de auto-sombreamento, enquanto que as
raízes têm espaço suficiente para absorção de água e nutrientes.

Existe pouca resposta à variação da densidade de sementeira nas culturas com afilhamento e
culturas prostradas, devido à sua grande plasticidade.

Variedades erectas devem ser semeadas em maiores densidades. Por exemplo, para o
amendoim, em Moçambique recomenda-se a utilização de compassos de:
a) 45 x 10 cm para as variedades erectas.
b) ii) 60 x 10 cm para as variedades prostradas.

Plantas perenes semeadas a altas densidades reduzem de rendimento com a idade devido ao
auto-sombreamento, como é o caso dos citrinos e da bananeira, e também por falta de espaço
para o crescimento e desenvolvimento do sistema radicular.

Por vezes, semeia-se apertado para se fazer um futuro desbaste (em linhas alternas ou plantas
alternadas). Mas, deve-se pensar nos custos. Por vezes esse desbaste é atrasado e efeitos
negativos ocorrem. Noutros casos, removem-se plantas vigorosas e de alto rendimento,
deixando-se outras menos produtivas.

No Sudão (Gezira), semear algodão de ciclo longo em densidades altas é uma necessidade,
especialmente para reduzir os danos causados por insectos.

O efeito de fertilidade do solo na densidade de plantação depende da cultura e do local. Solos


mais férteis podem suportar mais ou menos plantas que solos menos férteis, dependendo do tipo
de cultura, do seu crescimento e da tecnologia utilizada.

A densidade de plantação depende de aspectos como:


a) pragas, doenças e infestantes.
b) clima.
c) solo.
d) local.
68
e) espécie/cultura.
f) cultivar.

Em árvores e em grandes plantações, é preferível plantar em linhas com distâncias que permitam
a circulação de tractores para a realização de diferentes práticas culturais, como é o caso da
sacha e da protecção fitossanitária. Esta redução da densidade, por aumento da distância
entre-linhas. Isto pode ser compensado quando se provoca um aumento do número de plantas
dentro da mesma linha.

Embora muitas vezes o factor de maior influência no rendimento seja a densidade, casos há em
que o uso de um ou outro padrão de sementeira provocam alterações no rendimento. Contudo, o
papel mais importante dos vários padrões de sementeira é a adaptação aos vários níveis de
mecanização possível. Assim, mantendo uma mesma densidade de plantas, a sementeira pode
ser feita em linhas simples, duplas ou múltiplas, podendo ainda manipular-se a distância entre
linhas e entre plantas sem grandes alterações no rendimento (Tabela 8).

Tabela 8 - Efeito da densidade e do padrão de sementeira no rendimento do milho (Pendleton,


1979).
Rendimento do milho (t/ha)
Densidade Distância entre linhas (cm)
(plantas/ha) 100 75 50
40.000 6,3 8,5 8,5
60.000 9,2 9,9 9,5
80.000 9,2 9,7 9,4

Como se pode ver pela Figura 6.1., o rendimento das várias culturas aumenta com o aumento da
densidade. Enquanto que o rendimento biológico (matéria seca total) vai aumentando com o
aumento da densidade, acabando por estabilizar a um determinado nível, com o rendimento
económico (parte comercial da cultura), depois de se atingir um determinado valor máximo, o
rendimento começa a descer, devido ao acentuar da competição entre plantas e à redução da
partição de carbohidratos para os órgãos reprodutores.

Figura 6.1. Curvas generalizadas mostrando o efeito da densidade de plantas no rendimento


biológico e económico. A - milho (grão). B - algodão (algodão-caroço).

Vejamos agora o relacionamento entre a densidade de plantas e os recursos ambientais:

69
a) água - com o aumento da deficiência de água, deve-se reduzir a densidade, para garantir o
suprimento das plantas.
b) nutrientes - em solos férteis ou onde a disponibilidade de nutrientes é alta, podem-se usar
densidade mais altas, de forma a atingir maiores rendimentos.
c) luz - com o aumento da densidade, reduz-se a quantidade de luz disponível por planta,
causando um maior sombreamento. Com vista a garantir máxima intercepção deve-se:
- minimizar a competição intra- e inter-específica.
- melhorar o padrão de distribuição e orientação das folhas.
- aumentar a densidade, até atingir o LAI óptimo.

Para além do anteriormente assinalado, pode-se ainda assinalar os seguintes efeitos do aumento
da densidade de plantas:
- redução da extensão do sistema radicular e aumento da sobreposição das raízes de várias
plantas.
- aumento da altura da planta.
- aumento da susceptibilidade à acama.
- devido ao aumento da competição entre plantas, a taxa de mortalidade das plantas aumenta.
- como as plantas ficam, regra geral, mais sensíveis, o índice de incidência de doenças
aumenta. A roseta do amendoim e outras doenças transmitidas por afideos, tem a tendência
de reduzir a velocidade de espalhamento com aumento da densidade. Com densidades mais
baixas, embora o total de plantas atacadas possa ser o mesmo, a área afectada é maior.
- atrasa a maturação.

6.5. PROFUNDIDADE DA SEMENTEIRA

A profundidade de sementeira depende essencialmente do tamanho da semente e do tipo de solo,


muito embora a disponibilidade de água no solo também tenha a sua influência.

Em solos arenosos, solos leves ou em solos quentes deve-se fazer uma sementeira mais
profunda. Pois, a resistência posta pelo solo á germinação é menor, devido à pouca coesão
existente entre os grãos de areia. Para além disso, deve-se ter em mente que, solos mais leves
têm a tendência a secarem a superficie do solo com maior rapidez. Assim, com uma sementeira
mais profunda, garante-se que a semente fique mais tempo em contacto com solo humido.

Quando se usam culturas com sementes grandes, fazem-se as sementeiras a maior profundidade.
Estas sementes, por terem maior quantidade de carbohidratos armazenados, conseguem vencer
camadas de solo mais grossas, apenas com as reservas acumuladas na semente.

6.6. DATAS DE SEMENTEIRA

É mais importante que os compassos, tendo maior influência sobre os rendimentos (Tabela 9).

Tabela 9 - Efeito da data de sementeira e da densidade de plantas no rendimento de


algodão-caroço. Os dados são provenientes de ensaios feitos em Namapa durante 5 anos
(Carvalho, 1958).

Rendimento de algodão-caroço em Kg/ha.


Compasso No. de plantas Datas de sementeira
(m) por covaho 30/12 15/01 30/01
70
1 x 0,35 1 634 574 461
1 x 0,35 2 684 661 471
1 x 0.50 1 619 545 336
1 x 0,50 2 696 621 359
1 x 0,65 1 587 478 286
1 x 0,65 2 615 452 318
DMS (0,1%) 32
nível de significancia C *** DS *** NP/C ***

Normalmente os camponeses atrasam as sementeiras.

Deve-se semear logo que as chuvas começam mas, a preparação do solo é difícil em terreno seco
e, só depois do início das chuvas, é iniciada.

Algumas culturas (alimentos base) tem prioridade, atrasando a sementeira das outras. Para além
disso, aspectos como carência de mão-de-obra familiar e falta de semente, podem também levar
ao atraso da data de sementeira.

O atraso na sementeira, na agricultura de sequeiro, reduz normalmente a quantidade de água


disponível, o que leva normalmente a reduções no rendimento (Figuras 6.2. e 6.3.).

Figura 6.2. Rendimento comparado de dois híbridos de milho de ciclos vegetativos diferentes,
quando semeado em diferentes datas de sementeira (Pendleton, 1979).

71
Figura 6.3. Nos USA foi determinado que, por cada dia de atraso da data de sementeira, o
rendimento reduz em cerca de 80 Kg. A sementeira atempada é provavelmente a pratica cultural
mais importante a seguir pelos agricultores. Para além do mais, não inclui custos extras.

Ruston (1962) mencionou que o atraso de 2 semanas, em relação ao óptimo, reduz o rendimento
em 14% (algodão de sequeiro), aumentando essa redução para 40% e 50% com atrasos de 4 e 6
semanas respectivamente.

Usando-se algodão de regadio (Sudão), com o atraso de 4 e 6 semanas, o rendimento foi


reduzido em 25% e 31% respectivamente.

No amendoim, dois exemplos podem ser citados, qualquer deles assinalando e efeito prejudicial
do atraso da sementeira:

Local Data de sementeira Abaixamento Rendimento


do rendimento (kg/ha)
(%)
Sudão 1 mês de atraso 40% --
Índia em tempo -- 1985
(a) 15 dias de atraso 47% 1050
35 dias de atraso 85% 290
(a) - Freire (1987).

6.7. IMPORTÂNCIA DO USO DE SEMENTES DE QUALIDADE

Antes da sementeira deve-se saber qual a qualidade da semente que se vai usar.

Assim, devem-se determinar:

i. Características externas:
a) Forma.
b) Tamanho (pode ser dado pelo peso de 100 sementes).
c) Cor.

ii. Características internas:

72
a) Pureza Genética - é um indicador do grau de uniformidade genética do material em uso.
Pode ser dado pela razão entre o peso das sementes fora do normal e o peso do lote.

b) Pureza Física (%) - é o indicador do conteúdo de impurezas contidas no lote de


sementes. Sementes partidas devem ser consideradas como impurezas.

(Peso das impurezas)


PF (%) = ------------------------- x 100
(Peso Total da amostra)

Não devem ser aceites como semente, material com menos de 85-90% de pureza física.

c) Teor de Humidade (%) - o conhecimento do teor de humidade da semente é


fundamental para decidir sobre se armazenar e sobre o período de armazenamento.

d) Poder Germinativo (%) ou viabilidade - indica-nos a quantidade de semente viável no


lote.

(No. de sementes germinadas)


PG (%) = ----------------------------------------- x 100
(No. Total de sementes da amostra)

Não devem ser aceites como semente, material com menos de 85-90% de pode
germinativo.

e) Energia germinativa ou vitalidade - é um indicador da velocidade de germinação da


semente. Geralmente constróem-se gráficos cumulativos do número de sementes
germinadas ao longo do tempo.

f) Valor agrícola (%) - indica o valor global da semente, integrando o poder germinativo e
a pureza física da semente. Dá-nos a indicação da quantidade de sementes viáveis em
relação a uma amostra do lote de sementes.

PG(%) * PF(%)
VA(%) = --------------------
100

Sementes com um Valor Agrícola (VA) menor que 80-85% ou uma Percentagem de
Germinação - PG(%) - menor que 85-90% deve ser rejeitada.

6.7.1. Qualidade da semente

i. Sementes inteiras vs partidas - Sementes partidas têm:

a) maior mortalidade.
b) menor germinação. No amendoim, muitas vezes as sementes sem parte ou sem a
totalidade do tegumento não germinam.
c) maior susceptibilidade a infecções.
d) produzem plantas mais pequenas.

73
ii. Maturação da semente. Sabe-se que:

a) o PG(%) diminui com o aumento da imaturidade.


b) o amendoim é mais propenso a infecção por Aspergillus flavus durante o
armazenamento, quando colhido antes do tempo.
c) no milho, sementes maduras produzem plantulas mais pesadas.
d) sementes imaturas são mais susceptíveis à infecção por fungos.

iii. Tamanho da semente. Sementes pequenas produzem plantulas pequenas. Como é


ilustrado na figura seguinte, no trigo, sementes pequenas produziram 18% menos grão.

Figura 6.3.

Literatura recomendada

Webster, C.C., e Wilson, P.N., 1980. Agriculture in the Tropics. 2nd Ed. Tropical Agriculture
Series, Longman Group, New York and London. Págs. 271-273;285-287.

Wrigley, G., 1981. Tropical Agriculture - The Development of Production. 4th Ed. Longman
Group, New York and London. Págs. 142-153.

Youdeowei, A., Ezedima, F.O.C. e Onazi, O.C., 1986. Introduction to Tropical Agriculture.
Longman Group, U.K.

ILACO, 1981. Agricultural Compendium for Rural Development in the Tropics and Subtropics.
Elsevier Scientific Pub. Company. Netherlands.

74
7. MÉTODOS DE PROPAGAÇÃO VEGETATIVA

Os métodos de propagação vegetativa incluem todos os métodos de propagação de culturas e


variedades à exclusão das sementes. Podem-se distinguir os seguintes:
a) Estaquia.
b) Mergulhia.
c) Alporquia.
d) Divisão de tufos ou de perfilhações.
e) Multiplicação por rebentos de raízes.
f) Enxertia.

7.1. ESTAQUIA

Estaquia é a propagação por órgãos vegetativos, inteiros ou fragmentados, podendo ser feita
por meio de:
a) folhas inteiras ou divididas.
b) fragmentação de raízes.
c) fragmentação de ramos.
d) fragmentação de rizomas.
e) fragmentação de colmos.
f) fragmentação de tubérculos.
g) bulbilhos e bolbos.
h) gemas.
i) escamas.

Na propagação por estacas deve-se ter em conta:

a) natureza das estacas (Fig. 7.1):


- raízes.
- caules.
- folhas.
- escamas.
- gemas.
- ramos.

b) consistência das estacas (Fig. 7.1):


- lenhosas.
- sub-lenhosas.
- herbáceas.

c) forma da base da estaca (Fig. 7.1):


- simples.
- cruzeta
- com talão.
- estaca semente - uma só gema.
- estaca de raiz.

75
Fig. 7.1 - Diferentes tipos de estacas. a) estaca lenhosa com cruzeta. b) estaca lenhosa simples.
c) estaca lenhosa com talão. d) estaca lenhosa, simples de caule (mandioca). e) estaca
semente, lenhosa, sub-lenhosa, de caule. f) estacas de ramo, herbácea (batata-doce) e
sub-lenhosa. g) estaca de raíz.

d) tamanho das estacas


- curtas - 10-15 cm.
- normais - 20-30 cm.
- largos - 35-50 cm.
- grandes - maiores que 1 m e com 5-10 cm de diâmetro.

e) tipos de estacas - estão relacionados com os órgãos da planta donde provêm:


- estaca de raiz - é por vezes, mas raramente, usada em citrinos (Fig. 7.2).
- rizomas - banana.
- tubérculos - batata.
- de gema - utiliza-se na figueira e na videira. Pois, estas têm gemas volumosas. As
estacas são delicadas e requerem muito cuidado.
- de ramos herbáceos - (floricultura) removem-se folhas (total ou parcialmente)
deixando-se as folhas apicais.
- de ramos lenhosos - usam-se ramos com idade entre 8 meses e 1,5 anos, desde que
tenham atingido os 1-2cm de diâmetro.

76
1 - raiz longa.
2 - raiz cortada em pedaços.
3 - porta-enxerto (estaca de raiz).
4 - Enxerto (de caule ou ramo).
5 - montagem.
6 - atadura.

Fig. 7.2 - Preparação de estacas de raíz de macieira para posterior enxertia (garfagem).

Deve-se proceder a estaquia em períodos de repouso vegetativo (tempo seco), para que hajam
bastante substancias de reserva nos tecidos cambiais.

Com o objectivo de facilitar o enraizamento faz-se:


a) ataduras apertadas (com arame) - o ramo entumesce ocorrendo o crescimento em diâmetro
e a acumulação de seiva no local acima da atadura. Este ponto vai facilitar o enraizamento.
Este é considerado o melhor método. Pois é mais simples, mais rápido e obtêm-se os
melhores resultados.
b) incisões anelares – retira-se um anel da casca (lenho) da base da futura estaca. Isto
provoca a acumulação de seiva e a formação de um calus, que vai facilitar o enraizamento.
c) entalhes.

Em geral as estacas devem ter 25-30 cm de comprimento, com um mínimo de 3 nós. Os cortes
devem ser feitos em biesel longo. É preferível plantar em solos arejados, drenados, fofos mais
ou menos quentes (solos francos com matéria orgânica), para que se consiga um pegamento
máximo. A estaca deve ser enterrada em 2/3 do seu comprimento e do número de nos.

7.2. MERGULHIA

Parte dum ramo é enterrado, continuando ligado a planta, até que o enraizamento se verifique
e o corte seja feito. Os varios tipos de mergulhia são:

a) Mergulhia simples (Fig. 7.3).


b) Mergulhia invertida (Fig. 7.4).
c) Em serpentina (Fig. 7.5).
d) Mergulhia chinesa (Fig. 7.6).
e) Mergulhia de cepo (Fig. 7.7).
f) Mergulhia aérea ou alporquia (Fig. 7.8).

77
Fig. 7.3 - Dois aspectos da mergulhia simples.

Fig. 7.4 - Mergulhia invertida. A - mergulhia invertida natural da framboesa. B - os cortes e


extração de aneis de cortéx têm um efeito benéfico sobre o enraizamento. C - aspecto geral da
mergulhia invertida.

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Fig. 7.5 - Mergulhia em serpentina.

Fig. 7.6 - Mergulhia chinesa.

79
Fig. 7.7 - Produção de plantas pela mergulhia de cepo.

Fig. 7.8 - Mergulhia aérea ou alporquia. a) preparação do ramo por remoção dum anel de
córtex. b) implantação dum saco com uma mistura de solo e matéria orgânica. c)
enraizamento. d) aspecto duma planta com vários alporques (litchi).

80
7.3. ENXERTIA

É uma prática antiga, praticada muito antes da era cristã. Os chineses começaram a sua
utilização, mas a sua divulgação foi feita, mais tarde, pelos fenincios.

Um fragmento da planta susceptível de se desenvolver por meio duma gema solda-se pela
união das camadas cambiais a uma outra planta.

Condições para a realização da enxertia:

a) Deve haver um certo grau de parentesco.


b) Devem ser fisiologicamente análogas.
c) Devem ser análogas na consistência.
d) Devem ser análogas na anatomia.
e) Devem ser análogas no porte e vigor.
f) Devem ser análogas em relação ao clima e por vezes aos solos.
g) As superfícies de contacto devem ser uniformes, lisas, bem limpas e operadas com
instrumentos bem afiadas e limpos.
h) Devem ser mantidas em contacto intenso.
i) Pode haver época especial para a enxertia (para os citrinos no Sul de Moçambique vai de
Fevereiro a Março).
j) Deve-se escolher a parte do porta-enxerto em que se opera a enxertia.

A enxertia é uma dibiose, podendo ser dividida em:


- olidibiose - quando se usa um cavalo com ramo único.
- humidibiose - quando se usa um cavalo com mais que um ramo.

A dibiose inclui duas partes:


- o hipobioto, porta enxerto ou cavalo.
- o ipibioto, enxerto ou cavaleiro.

Se existe afinidade perfeita o calo da cicatriz quase desaparece.

Não deve haver incompatibilidade, quer ela seja:


- biológica - por diferenças na constituição da seiva bruta.
- bioquímica - por diferenças na composição da seiva bruta.
- na resposta ao ambiente.

Podemos distinguir três tipos básicos de enxertia:

a) borbulha ou escudagem (com uma só gema).

A borbulhia pode ser feita:


- em T invertido (Fig. 7.9)
- em T ou normal (Figs. 7.9 e 7.10).
- em janela ou placagem (Figs. 7.11 e 7.12).
- em flauta (Fig. 7.12).

b) garfagem (com pelo menos duas gemas) (Figs. 7.13, 7.14 e 7.15).

c) encostia ou aproximação (com uma ou mais gemas) (Figs. 7.16 e 7.17).


81
Para cada um dos métodos de enxertia existe uma época óptima:
- para a borbulhia - período de crescimento vegetativo activo.
- para a garfagem - período de repouso vegetativo activo.
- para a encostia - período de repouso vegetativo activo.

Fig. 7.9. Enxertia de borbulha ou escudagem. a) borbulhia em T. b) borbulhia em T invertido.

Fig. 7.10 - Modo de fazer a borbulhia em T. 1 - identificação da gema. 2 - corte do escudete. 3


- escudete. 4 - incisão em T no porta-enxerto. 5 - preparação do local de recepção da gema. 6 -
colocação da gema e atadura. 7 - depois do vingamento da enxertia, remove-se a cabeça do
porta-enxerto.

82
Fig. 7.11 - Borbulhia em janela ou placagem. 1 - preparação do escudete. 2 - preparação do
porta-enxerto. 3 - montagem.

Fig. 7.12 - Borbulhia. a) a h) borbulhia em janela ou placagem. a) corte em H. e) corte em


janela. b) e f) gema. c) e g) colocação da gema. d) e h) atadura. i) borbulhia em flauta.

83
1 - garfo.
2 - porta-enxerto.
3 - montagem.
Fig. 7.13 - Garfagem.

1 - incisões no porta-enxerto.
2 e 3 - garfos talhados em bisel.
4 - montagem.
Fig. 7.14 - Garfagem de coroa (cepo decepado), com incisão do córtex.

1 - abertura (incisão) do ramo.


2 - preparação dos garfos.
3 - colocação dos garfos.
4 - cobertura das superfícies
com resina para protecção dos
superfícies sem cortéx.
Fig. 7.15 - Garfagem de coroa (cepo decepado), com incisão do ramo.

84
Fig. 7.16. Encostia - método antigo.

Fig. 7.17. Encostia - método novo. a) e d) enxerto. b) porta-enxerto. c) e e) montagem.

85
8. ADUBAÇÃO, SIDERAÇÃO, MATÉRIA ORGÂNICA, MULCHES

8.1. MATÉRIA ORGÂNICA

8.1.1. Introdução

Em solos tropicais, húmidos, bem arejados a decomposição da M.O. e relativamente rápida.

microorganismos
M.O. ------> Húmus -------------------------------> nutrientes disponíveis

Em solos tropicais o CEC e normalmente alto, por volta dos 200 m.e./100g, retendo catioes
(Na+, K+, Ca++ e Mg++) e impedindo o leaching.

Como o teor de M.O. tende a ser um tanto elevado, a capacidade de retenção de água também é
alta.

A M.0. é mais estável em solos argilosos que em solos arenosos, por estar mais protegida contra
a decomposição por microorganismos. Pois, a actividade dos microorganismos é diminuída pela
menor aeração e maior humidade.

O húmus contém cerca de 60% de C e 5% de N, com a razão C/N a variar de solo para solo.

Percentagem de matéria orgânica em diferentes solos


Solos de savana Solos de floresta
< M.O > M.O
1 - 1,5% 2 - 4%

O conteúdo de húmus no solo esta relacionado com a precipitação nos solos não cultivados.

A redução do conteúdo de húmus no solo pode levar a:


- Deterioração da estrutura do solo.
- Redução de capacidade de retenção de água.
- Redução da capacidade de troca cationica.
- Perda de nutrientes (por exemplo o N).

O resultado final destes efeitos é a redução dos rendimentos se não forem usados adubos para
repor os nutrientes consumidos.

8.1.2. Agricultura itenerante

8.1.2.1. Húmus

8.1.2.1.1. Em solos de floresta

A taxa de decomposição de húmus é de aproximadamente 3% ao ano, enquanto que a taxa de


acumulação de M.O., em pousio, é de 2-5% ao ano. Sendo assim, se o período de pousio for
observado, em principio, não ocorrerão problemas de redução na fertilidade do solo.

86
8.1.2.1.2. Em solos de savana

A decomposição do húmus é de aproximadamente 4% ao ano, sendo a acumulação de M.0. da


ordem dos 0.5 - 1.2% ao ano em pousio.

8.1.2.2. N - Azoto

8.1.2.2.1. Em solos de floresta

São geralmente solos com pH Baixo, o que resulta em baixos níveis de libertação de nutrientes.
Normalmente, depois da queima de material vegetal recém-desmatado, o pH aumenta,
aumentando a disponibilidade de nutrientes.

Se o pH varia de 5.0-7.0 a redução de N pode ou não ser significativa.

Depois de 8-10 anos (Vine, 1953 - Nigeria) o conteúdo de N no solo reduziu muito devido a
ocorrência de leaching durante o período de cultivo, especialmente antes da cultura estar
estabelecida.

8.1.2.2.2. Em solos de savana

Normalmente a disponibilidade em N é baixa, o que resulta em baixo leaching pois:


- existe pouco N disponível, para ser lavado.
- a precipitação é baixa.

Depois das chuvas ocorre um período de rápida produção de N03 e as perdas são acentuadas,
fazendo com que a deficiência de N reduz os rendimentos.

8.1.2.3. P - Fósforo

Depois da queima o conteúdo de fósforo aumenta.

8.1.2.3.1. Em solos de floresta

A realização da queima adiciona 27 kg de fósforo/ha, depois de 10 anos de pousio.

8.1.2.3.2. Em solos de savana

A adição de fósforo depois da queima é apenas de 4-9 kg P/ha, depois de 10 anos de pousio.

8.2. LEGUMINOSAS E FIXAÇÃO DE N

A fixação de Azoto ocorre pela simbiose com Rhizobium nos nódulos das raízes. Isto resulta
fundamental porque:
- ajuda a manter a fertilidade do solo.
- o N faz parte de proteínas alimentares.

87
As leguminosas podem ser usadas em:
- Rotação.
- Cultivo misto/consociado.
- Pousio melhorado.
- Sideração.
- Forragem.
- Componente de pastagens.

Uma leguminosa fixa Azoto suficiente para o seu próprio suprimento restando ainda uma parte
que fica disponível para a cultura seguinte caso as plantas sejam:
- Usadas como sideração.
- Incorporadas depois da colheita.

Algum N pode ficar disponível para a(s) cultura(s) associada(s) durante o crescimento por
excreção ou queda e decomposição dos nódulos.

Nos USA, em culturas como soja, amendoim, ervilha, 80-90 kg N/ha podem fixados. A fixação
de N é influenciada por:
- suprimento de energia sob a forma de fotossintatos produzidos pela planta.
- condições ambientais. Dias longos, alta intensidade da luz, adequada humidade do solo,
aeração, nutrientes e pH adequado, favorecem a fixação de N, enquanto que a competição
pelos carbohidratos por outras partes da planta (sink - flores, frutos) pode reduzir a fixação.
- o comprimento do dia e intensidade da luz. No feijão nhemba, o peso dos nódulos efectivos
por planta reduz com fotoperíodos de menos de 12 horas. O sombreamento reduz a
nodulação em relação ao peso das plantas.
- stress hídrico reduz a fixação de N, por reduzir o crescimento e a actividade dos nódulos
existentes, restringindo a formação de novos nódulos. Embora muitas leguminosas sejam
relativamente resistentes a sequia devido ao sistema radicular profundo, tem tendência a
soltar os nódulos quando o solo esta seco. Em consociação, uma densidade alta pode reduzir
a luz disponível e aumentar o stress hídrico, podendo resultar na redução da fixação de N.

Nhemba

a) Temperatura do ar (Summerfield et al., 1974)

Dia/noite Crescimento
21/10 C reduzido
27/22 C melhor
30/36 C reduzido

b) Temperatura do solo (Rothamsted E.S., 1975 a)

Temperatura Observação
25-36 C Não tem efeito na fixação de N
40 C 20-90% redução na fixação de N

88
Soja (Dart et al., 1976)

Temperatura do solo Observação


21 C menor
27 C máxima fixação de N
33 C menor

Em solos tropicais nos primeiros 2.5-5.0 cm, a temperatura do solo pode variar entre 40-45 C
durante 6 horas. Isto pode afectar negativamente a fixação, reduzindo a sobrevivência e
actividade do Rhizobium.

A falta de P disponível pode limitar a nodulação e fixação de N. Como o status de P em solos


tropicais costuma ser baixo, a adubação com P e frequentemente benfica, mesmo tendo em conta
que as leguminosas tropicais estão adaptados a solos com baixo conteúdo de P e tem alta
eficiência na sua extracção.

A adubação com N geralmente tem efeitos negativos. Contudo, pode aumentar os rendimentos
se:
- não existe a linha especifica de Rhizobium no solo.
- as temperaturas são muito altas.

Elementos como Mg, S, Mo, Zn, Cu, B e Co são necessários.

O Mo e essencial para a formação de nitrogenose (enzima), ficando menos disponível com o


aumento da acidez.

As linhas de Rhizobium podem ser:


- efectivas - muitos nódulos e muita fixação.
- inefectivas - poucos ou muitos nódulos, mas pouca fixação.

8.3. SIDERAÇÃO

O efeito positivo mais importante na sideração com leguminosas é:


- o aumento do azoto disponível no solo resultado da decomposição rápida do material vegetal
enterrado (baixa razão C/N). As plantas não leguminosas (razão C/N maior), decompõem-se
mais lentamente e podem ser importantes para fixar o N no solo evitando o "leaching".
- aumento da matéria orgânica (especialmente com espécies com razão C/N alta).
- aumento dos agregados estáveis.
- aumento da retenção de água.
- em alguns solos pode aumentar a disponibilidade em P (esta relacionado com a habilidade
de algumas leguminosas em extrair P e K dos solos e torna-los em formas mais disponíveis).
- Culturas com sistema radicular profundo vão buscar nutrientes nas camadas profundas,
nutrientes que são depois incorporados na superfície.

Em Harare, Zimbabwe, em ensaios feitos durante 22 anos, em zonas com uma precipitação de
762 mm durante a estação de cultivo, a sideração com Mucuna utilis ou Crotolaria juncea deu
os seguintes resultados (Rattray & Ellis, 1953):

89
a)

Sistema Período Número de Rendimento do milho (t/ha)


culturas de milho Total Média
Milho continuo 1928-50 22 29.64 1.35
Sideração - milho 1928-50 14 41.90 2.99

b) Rendimento do milho média de 6 anos

Tratamento Ano depois da sideração


1 2 3 4
A - sideração - milho 100 - - -
B - sideração – milho - milho 93.5 52.9 - -
C - sideração - milho - milho - milho 95.6 53.5 48.2 -
D - sideração - milho - milho - milho - 87.1 51.5 41.2 36.4
milho

E preferível enterrar as plantas antes da floração do que colher o grão e enterrar os restos, porque
se a semente é colhida o N que vai para as sementes não é adicionado no solo.

Ensaios realizados em Harare, Zimbabwe por Rattray (1956), com a cultura do milho,
forneceram os seguintes resultados (rendimento em t/ha):

Cultura precedente Incorporado Semente colhida


antes da floração
Crotolaria juncea (sunhemp) 5.50 4.34
Velvet bean 5.45 3.55
Soja 4.97 4.04
Girassol 4.04 2.65

Em alguns casos a sideração tem benefícios mais devido à adição de nutrientes e fixação de N
do que por adição de M.O.

Deve se dar tempo suficiente entre a incorporação e a próxima sementeira de modo que a M.O.
se decomponha e os nutrientes fiquem disponíveis. Mas, deve-se ter cuidado de não o fazer cedo
demais, pois isso pode facilitar o "leaching" dos nutrientes.

Como a humidade e necessária para o crescimento e decomposição das plantas, a sideração não
e efectiva em solos secos.

A sideração não produz efeitos duradouros quanto ao conteúdo de húmus e N. Os seus efeitos
positivos duram geralmente pouco mais que um ano. Mesmo a alternância sideração - cultivo
pode não prevenir o declínio da M.O.

90
8.4. ESTRUMES

Estrumes são excreções animais misturadas com as camas (palha) dos mesmos animais. A
composição e muito variável:

a) humidade = 24.4-70.8 %
b) percentagem de nutrientes na matéria seca:
- N = 1.03-2.12 %
- P205 = 0.49-1.30 %
- K20 = 2.33-5.54 %

Na maioria dos solos tropicais a adição de estrume permite manter os rendimentos em cultivo
continuo, se própria rotação for seguida.

Algumas recomendações:

- 2.5 t/ha de estrume aplicadas uma vez em 3 anos (Russel, 1958) Africa Oriental.
- 12.5 t/ha de estrume aplicadas uma vez em 5 anos com a rotação 4 anos de cultivo e 1 de
pousio (Jameson & Kerkham, 1960), Uganda.
- 7.5 t/ha/ano em solos pobres (Grimes & Clarke, 1962), no Kenya.
- os mesmos autores recomendam a aplicação de 7.5 t/ha em cada 3 anos em solos férteis.

Cultura Anos de Rendimento (Kg/ha)


cultivo sem estrume adubação 7.5 t/ha 22.5 t/ha
anual (a) estrume (a) estrume
milho 6 584 970 875 944
mapira 6 1058 1929 1649 1586
mandioca 6 6206 10228 9600 9270
batata doce 4 2585 5118 5432 4687
(a) a quantidade de N, P e K e equivalente nos dois tratamentos.

A maior parte dos efeitos do estrume e devido a adição de nutrientes, mais do que a adição de
M.O. em si. Noutros casos, a longo prazo, a adição continua de estrume produz maiores
rendimentos do que adubações equivalentes.

8.5. COMPOSTOS

Possuem menos nutrientes que os estrumes, mas produzem respostas similares.

8.6. ADUBAÇÕES

Antes de se iniciar com este aspecto, convém relembrar que existem 3 grandes grupos de
nutrientes:
a) Nutrientes primários - N, P2O5, K2O e, por vezes, MgO.
b) Nutrientes secundários - S, Ca.
c) Vestigiais - B, Mn, Cu, Zn, Mo.

91
Em numerosos ensaios, em muitos países tropicais, encontra-se que, depois de se cultivar um
terreno durante 2-3 anos consecutivos ou mais, as culturas normalmente utilizadas pelo pequeno
camponês respondem positivamente a adubações com N e P e menos frequentemente a K.

Em ensaios conduzidos pela FAO - Campanha pela Liberdade contra a Fome (FAO, 1986a)
mostrou-se que, em 90% dos casos, um aumento médio de 50% do rendimento resultou de
aplicações de 20-40 Kg N/ha ou 20-40 Kg K2O/ha e 10-20 Kg P2O5/ha, sendo em geral
economicamente rentável.

Mas, os preços dos adubos são altos para os pequenos agricultores (agricultura de subsistência).
Mas, mesmo assim, o consumo de adubos tem vindo a aumentar nos países em
desenvolvimento, principalmente devido a:
- aumento do número de fabricas locais (adubos azotados).
- subsídios governamentais.
- uso de variedades do alto rendimento.

Para que a aplicação seja económica, deve-se determinar e conhecer:


- o tipo certo de adubos.
- a dose óptima.
- o tempo óptimo de aplicação.
- o método de aplicação apropriado.
- o status de nutrientes do solo.
- os efeitos do clima (especialmente precipitação).

Se a precipitação for limitante, o uso de adubos pode ser antieconómico e não trazer benefícios.
Por vezes, apenas pequenas doses resultam económicas.

Normalmente, as respostas a aplicação de adubos, ocorrem se houver medidas para aumentar a


infiltração.

Caso haja períodos secos, durante o período de crescimento, a aplicação de grandes doses de N
pode encorajar um rápido crescimento vegetativo, que leva a uma utilização acelerada da água,
deixando insuficiente humidade para a maturação. Mas, nas mesmas condições, a aplicação de
fósforo normalmente ajuda a suportar os períodos de sequia, por acelerar a maturação.

Em zonas húmidas ou com períodos de alta intensidade de precipitação, aparecem problemas de


"leaching" de nutrientes (muito N e algum K). Este tipo de problema pode ser reduzido se se:
- aplicar correctamente o adubo - local.
- escolher o tempo próprio.
- usar formas menos solúveis.

8.4.1. N (Azoto)

A deficiência mais comum e a deficiência de N. Respostas a adubações azotadas são grandes


depois de um longo pousio com gramineas. Pois, estas inibem a nitrificação. Assim, a
quantidade de azoto disponível para a planta fica dependente do adubo aplicado.

Geralmente não existem ou as respostas são pequenas em solos de baixas recém desmatados
(florestas ou longos pousios). Mas, depois de alguns anos de cultivo, as respostas são grandes e
facilmente detectáveis.
92
Normalmente as gramineas respondem bem as adubações azotadas.

Os adubos azotados mais importantes são:


a) Sulfato de Amónia (NH4S04 - 21%) - muito usado, mas causa acidificação do solo e perda de
catioes como Ca++ e Mg++.
b) Ureia (45%) - e muito volátil.

Todas as formulas convencionais são rapidamente solúveis e raramente tem efeitos residuais.

Deve-se aplicar a dose óptima. Mas, esta varia com a estação/ano devido a diferenças na
precipitação, sendo difícil predizer o crescimento da cultura e a quantidade de N do solo
disponível.

Devem-se recomendar doses que tenham bom comportamento médio em ensaios de longo-
prazo.

A subdivisão das aplicações em diversos períodos (sementeira e mais tarde) tem dado bons
resultados com algumas culturas. Pois, para alem de reduzir o "leaching", permite fornecer N
nos estádios de crescimento em que o N e mais efectivo.

No caso do milho, as adubações são feitas aquando da sementeira, cerca de um mês depois da
sementeira, quando as plantas tem a altura do joelho, e, por vezes, na altura do
embandeiramento. As adubações mais importantes e que dão maiores resultados são, sem
duvidas, as duas primeiras.

Como a amónia livre e tóxica para as plantulas, não pode ser colocada muito perto das sementes.
Para reduzir a solubilidade pode-se:
a) adicionar inibidores da nitrificação.
b) usar adubos de libertação lenta que sejam:
- pouco solúveis em água.
- grânulos em sacos plásticos perfurados ou revestidos.

8.4.2. P (Fósforo)

Normalmente os solos tropicais são pobres em P.

As culturas diferem na resposta ao fosfato e na sua habilidade em usar formas mais solúveis.

As leguminosas respondem bem e conseguem usar formas menos disponíveis.

Normalmente incorpora-se o P na sementeira porque as culturas tem maiores necessidades nos


primeiros estádios de crescimento.

93
Os adubos fosfatados mais importantes são:
a) Superfosfato simples (18-21 % P2O5). E mais difícil e caro de transportar mas contem
CaSO4 na sua composição.
b) Superfosfato triplo (43-52 % P2O5). E mais caro e não possui Ca nem S. Contudo, por ser
mais concentrado e mais fácil e económico o seu transporte.

A adubação fosfatada e mais eficiente se se faz uma aplicação localizada, em bandas ou covas,
do que se se espalhar.

Os adubos de grânulos com maiores dimensões são preferíveis. Aquando da dissolução


formam-se compostos menos solúveis. Se grãos grandes forem aplicados em bandas, a difusão e
reacção com o solo são retardados, e o P e absorvido pelas raízes mais próximas.

Só uma pequena parte do P e usado pelas culturas, resultando num efeito residual longo. O
fosfato não esta sujeito ao "leaching".

8.4.3. K - Potássio

Respostas ao K são pouco frequentes e geralmente ocorrem mais em solos leves (arenosos).
O potássio e geralmente aplicado na sementeira sob a forma de KCl (50-60% K20). O K2S04
(48-53% K20) e preferido para o tabaco, porque os ioes de Cl- tem efeitos negativos na qualidade
de queima.
1) Comparação do grau de mobilidade dos nutrientes básicos
N>K>P
2) Tendência para a ocorrência de "leaching"
N>K>P

Geralmente o K não é importante em solos tropicais.

8.4.4. Adubos compostos

O uso de adubos compostos NP ou NPK pode ser vantajoso para o pequeno camponês. Mas, só
podem usados quando 2-3 elementos são necessários em proporções conhecidas.

O uso de adubos e um dos factores para o aumento da produção. Contudo só a aplicação de


adubos não e suficiente para aumentar a produção. As adubações devem ser acompanhadas por:
- uso de variedades do alto rendimento.
- uso de variedades com respostas mais positivas em relação a altas adubações.
- melhoramento no controlo/maneio de infestantes, pragas e doenças.
- melhoramento das praticas culturais, sob o risco de ser antieconómico.

A adubação de culturas perenes e difícil e complexa pois depende de:


- estudo dos solos.
- analise de solos.
- sintomas visuais de deficiências.
- analise foliar.
- ensaios em vasos e no campo.

94
Deficiência Deficiência Óptimo Utilização de Toxicidade
aguda luxúria

Crescimento Nível crítico


ou
rendimento

Concentração de nutrientes na folha


Fig. - Variação da concentração dos nutrientes nas folhas (analise foliar) e sua relação com o
crescimento e o rendimento das culturas.

Deve-se comparar os resultados da analise foliar com ensaios de adubação, realizados com base
em desenhos experimentais factoriais.

A utilização da análise foliar tem problemas quanto a:


- método a usar (é necessário standardisar).
- quando fazer a amostragem.
- não indica quanto adubo aplicar.
- que folhas devem ser seleccionadas para a análise.
- a concentração óptima pode variar com a idade, estação, solo, clima, variedade
- deve-se conhecer qual o balanço de nutrientes mais adequado.

8.4.5. Uso de adubos

O problema básico na nutrição das plantas, para as culturas de sequeiro nas zonas semi-áridas
(baixa Precipitação) e o ajustamento entre a aplicação de adubos e o regime hídrico sob o qual as
culturas devem crescer.

Mesmo com limitado suprimento de humidade, deficiências nutritivas reduzem a W.U.E (


eficiência do uso de água). Mas, com o aumento excessivo das adubações, o uso de água nos
primeiros estádios de crescimento aumenta, facilitando a ocorrência de stress hídrico mais tarde,
durante o ciclo da cultura, especialmente durante períodos críticos, reduzindo a Eficiência de
Utilização de Água (W.U.E.) e os rendimentos.

Por um lado devem-se limitar as aplicações de adubo, para não promover um crescimento maior
do que aquele que a humidade do solo pode suportar (i.e., prevenir a quebra do delicado e crítico
balanço entre o crescimento vegetativo e reprodutivo) em condições de humidade limitada.

Por outro lado, se a Precipitação for adequada, o agricultor tem interesse em assegurar níveis de
adubação que possibilitem o uso completo e eficiente da humidade disponível.

Em zonas de baixa Precipitação, em condições de sequeiro, o leaching é mínimo. Pois, como o


conteúdo de nitratos depende basicamente da cobertura vegetal presente e a vegetação e
relativamente pouca, a decomposição da Matéria Orgânica fornece apenas pequenas quantidades
de Azoto, reduzindo as possibilidades deste ser lavado.
95
Na maior parte dos solos áridos e semi-áridos, existem largas reservas de potássio, que são
adequados para o cultivo em sequeiro.

Normalmente as reservas de fósforo foram quase esgotadas pelo cultivo e as quantidades


existentes são inadequadas para produzir rendimentos satisfatórios.

Assim, dependendo do maneio pode ocorrer:


- esgotamento do solo.
- aumento da fertilidade do solo.

Em ambos os casos, a influencia da humidade do solo e fundamental.

Nas regiões semi áridas, onde a Precipitação e suficiente para a produção de culturas, em solos
não perturbados durante longos períodos, a fertilidade natural do solo e, normalmente, suficiente
para a produção durante um período mais ou menos longo sem adição de adubos, podendo a
fertilidade começar a baixar. Foi sugerido que, depois das reservas de fósforo no solo terem sido
restabelecidas, pequenas aplicações na altura da sementeira são suficientes, fornecendo fósforo
facilmente disponível para a planta, nos primeiros estádios de crescimento, e assegurando
próprio crescimento e enraizamento.

8.4.6. Humidade do solo e a resposta a adubação

A humidade do solo afecta a eficiência do uso de adubos em duas maneiras principais:


- aumentando a absorção de nutrientes.
- aumentando a produção de matéria seca.

96
8.4.7. Efeito da adubação na evapotranspiração e uso da água do solo

Brown (1972), em estudos sobre o efeito do Azoto, apresentou os seguintes dados:

Dose de Rendimento ET Extracção de Água que sobra WUE


Azoto (kg/ha) (mm) humidade do solo na maturação (kg/mm)
(kg/ha) (mm) (mm)
0 1610 221 61 180 71
67 3090 272 112 132 114
268 3630 315 155 96 115

A adição de Azoto não tem influencia na profundidade das raízes e, consequentemente, na


extracção de água.

Em trigo adubado com Azoto, quando a Precipitação foi suficiente para cobrir o aumento das
necessidades de evapotranspiração, o rendimento aumentou.

O potássio afecta a transpiração. Pouco potássio na solução do solo aumenta a transpiração (trigo
e ervilha). Isto e resultado da regulação da abertura dos estomas.

8.4.8. Relações entre precipitação e adubação

Ate agora, é difícil afirmar quando e que se justifica adubar em condições de baixa humidade,
devido a fraca investigação realizada, sendo os resultados muito variáveis.

Quanto menor for a Precipitação, menor é a possibilidade de obter respostas positivas a


adubação.

E mais fácil ter respostas positivas ao fósforo que ao azoto.

Com pouca humidade do solo, a adubação pode ter efeitos negativos.

Quanto à Precipitação mínima necessária para diferentes culturas, alguns valores empíricos
podem ser assinalados, tais como:
- 300 mm durante o inverno.
- 500 mm durante o verão.

8.4.9. Tempo e balanceamento das adubações

Fazendo a aplicação de azoto e fósforo, em amendoim, em condições de sequeiro e com pouca


humidade no solo, registou-se:
a) aumento do crescimento das raízes.
b) aumento do número de raízes.
c) aumento do peso das raízes.
d) aumento do peso dos nódulos.
e) aumento da razão raiz/parte aérea.
f) aumento da evapotranspiração.
g) aumento da matéria seca total.
h) redução dos rendimentos, possivelmente devido a exaustão, no cedo, da H solo.
97
O fósforo é normalmente benéfico ao aumentar a capacidade de resistência a sequia.

Trigo em condições de sequia (Piper & Uries, 1964).

Tratamento (kg P2O5/ha) Rendimento (kg/ha) Percentagem do controlo (%)


0 81 100
12.4 236 289
24.8 466 574

Uma adubação balanceada possibilita um melhor uso da humidade do solo, especialmente


quando esta é uma das limitantes.

Um método, aplicado em cereais, consiste em adubar com fósforo na sementeira e so juntar


azoto, quando as plantas mostram sinais de necessidade de um estimulante.

Também em amendoim, Modha Wadia et al. (1981) - Índia - forneceram os seguintes


resultados:

Tratamento Rendimento (kg/ha)


Vagens Palhas
a) dose em kg P2O5/ha
0 9.7 13.2
25 11.1 15.3
50 11.5 15.6
75 11.7 15.9
DMS(5%) 0.34 0.33
b) método de aplicação em percentagem da dotação total
Dias Depois de Sementeira
0 30
% de adubo aplicado
100 10.8 15.0
50 + 50 11.1 15.1
50 + 50 foliar 11.0 14.8
75 + 25 11.9 15.1
75 + 25 foliar 11.5 15.1
DMS(5%) 0.32 n.s.
foliar - indica adubação por pulverização foliar.

8.4.10. Método de aplicação de adubos sólidos

Existem dois métodos básicos de aplicação de adubos sólidos:

a) Distribuição uniforme (a lanço), seguida de incorporação. Este método é normalmente


utilizado quando:
- grandes quantidades de adubos são usadas.
- culturas não são feitas em linhas.
- culturas utilizadas possuem um sistema radicular superficial extenso.

98
- se usam sais de azoto e potássio muito solúveis, para evitar possíveis efeitos
fitotoxicos, especialmente em solos leves, causados pela concentração de adubo em
locais determinados.
- se usam sais de fósforo insolúveis em água.
b) Localizado em bandas ou bolsas. Este método trás vantagens e pode ser usado se:
- pequenas quantidades de adubo são aplicadas.
- as plantas são semeadas em linhas afastadas e bem definidas.
- as culturas utilizadas possuem um sistema radicular lateral pobre.
- formas de fósforo solúveis são usadas.
- o potássio e usado em solos com argilas fixadoras.
- os solos utilizados são de fertilidade muito baixa.

8.4.11. Classificação dos nutrientes

1) Nutrientes primários
- N
- P2O5
- K2O
- por vezes MgO
2) Nutrientes secundários
- S
- Ca
3) Nutrientes vestirias
- B
- Mn
- Cu
- Zn
- Mo

Literatura recomendada

Questões de raciocínio e controlo

99
9. PRÁTICAS CULTURAIS

Práticas culturais são as várias actividades realizadas entre a sementeira e a colheita. Em geral
podem-se distinguir:

a) Ressementeira.
b) Desbaste.
c) Cultivações, práticas de cultivo (que incluem como parte dos seus objectivos o controlo de
infestantes):
- monda.
- sacha manual.
- sacha mecânica.
- amontoa.
- controlo químico.
- escarificação.
d) Rega.
e) Protecção fitossanitária.
f) Roguing (selecção negativa).
g) Poda, desrame.
h) Desponte.

9.1. RESSEMENTEIRA E RETANCHA.

A ressementeira e a retancha pressupõem nova actividade de sementeira devido à ocorrência de


baixas densidades de plantas estabelecidas.

Tanto a ressementeira como a retancha são feitas quando a densidade de plantas é inferior ao
óptimo estabelecido. Se a diferença entre a densidade óptima e a obtida for baixa, é geralmente
aconselhável que se faça a retancha ou reposição de falhas. Contudo, se a densidade de plantas
for demasiado baixa para que a reposição de falhas seja economicamente rentável, prefere-se
abater o talhão e fazer nova sementeira - ressementeira. A não realização destas práticas pode
trazer as seguintes consequências:

- baixa de rendimento devido à baixa população.


- maior competição com infestantes, devido ao maior espaço vital disponível para estas se
desenvolverem.
- Subutilização do solo.
- aumento dos custos unitários devido aos baixos rendimentos.

Antes de se realizar a ressementeira devem considerar os seguintes factores:


- tipo de cultura/variedade - hábito de crescimento, plasticidade.
- percentagem de falhas admissíveis. Para cada cultura existem normalmente limites de falhas
permissíveis, que são geralmente determinados especialmente por factores de carácter
económico.
- quando fazer. Regra geral, a retancha não deve ser feita mais tarde que 5 a 10 dias depois da
emergência da cultura. Contudo, este período depende muito do tipo de cultura. O atraso da
retancha implica, muitas vezes, o acentuar da competição entre as plantas das duas datas de
sementeira, com efeito negativo nas mais novas, podendo ainda fazer com que a colheita das
plantas lais novas ocorra cedo demais, antes destas estarem completamente maduras.

100
9.2. DESBASTE

O desbaste é a prática contrária á retancha. É feito quando a densidade obtida é maior que a
óptima, arrancando-se algumas plantas para se obter a densidade óptima. O desbaste deve ser
feito bem cedo, para evitar que o processo de competição entre as plantulas inicie, o que pode vir
a ter efeitos negativos.

9.3. CULTIVAÇÕES PRÁTICAS DE CULTIVO

Como cultivações podem-se entender as várias práticas culturas que, remexendo o solo ou não,
têm efeito no controlo de infestantes. Podem-se distinguir os seguintes objectivos:
- controlo de infestantes.
- conservação da humidade do solo.
- aumento da aeração.
- aumento da nitrificação (devido ao maior conteúdo de humidade do solo, maior aeração e
maior temperatura).
- aumento da absorção e retenção de calor.
- outros específicos como são os casos da amontoa e escarificação.

As infestantes competem com as culturas pelos vários recursos ambientais como sejam:
- humidade.
- nutrientes.
- luz.

Para além dos efeitos negativos causados pela competição entre as infestantes e a cultura, as
infestantes podem ter efeitos tóxicos devido a exudações das raízes, existindo algumas que são
venenosas para os animais. Regra geral, a competição imposta pelas gramíneas é mais forte que
a das folhas largas.

Devido ás suas características, rusticidade e maior adaptação às condições ambientais, as


infestantes têm em geral maior competitividade que as culturas. Assim, a competição entre as
infestantes e a cultura tende a ser maior:
- em condições de baixa fertilidade, baixos inputs.
- nos primeiros estádios de crescimento da cultura.

Uma das formas por que as infestantes ganham maior competitividade sobre as culturas está
relacionada com o grande número de plantas que se estabelecem. Isto deriva do facto das
infestantes se poderem reproduzir sexual e vegetativamente

Contudo, as infestantes podem ser importantes na adição de matéria orgânica e no controlo de


erosão em solos inclinados. Algumas infestantes exudam produtos nematicidas sendo
aconselháveis em rotações.

Quando se permite o livre crescimento das infestantes, estas produzem sementes, que acabam se
misturando com o produto colhido, juntamente com restos de folhas e ramos, aumentando os
custos da limpeza da semente. Para além do aumento de custos ligado à limpeza das sementes,
os custos aumentam ainda devido à maior dificuldade no processo de colheita.

Quando se faz agricultura de regadio, o facto de não se fazer um controlo efectivo das
infestantes causa problemas no processo de rega, devido à redução da velocidade de escoamento
101
da água noa canais. Ademais, deve-se considerar o facto da a água transportar sementes para
dentro dos campos, aumento assim os problemas normalmente existentes.

Quando o fim do ciclo se aproxima e devido ao facto de, com infestantes, existir maior
quantidade de material vegetal, o perigo de fogo e seu espalhamento é aumentado.

Outro dos problemas causados pelas infestantes está relacionado com o facto de estas poderem
ficar no campo mesmo depois da colheita, por vezes durante quase todo o ano. Em termos de
protecção fitossanitária, as infestantes podem causar um aumento dos problemas existentes, por
serem hospedeiras alternativa para pragas, doenças e nemátodos que atacam as culturas.

Ligado à rusticidade das infestantes, é de assinalar a dificuldade existente em erradicar espécies


infestantes. As infestantes produzem, em geral, grandes quantidades de sementes com
dormência, só germinando quando as condições ambientais são adequadas, germinando
gradualmente ao longo dos anos e podendo ficar no solo até 20 anos com capacidade de
germinação.

9.3.1. Amontoa

A amontoa é uma prática cultural usada em culturas semeadas em linhas. Nesta actividade solo
proveniente do espaço entre duas linhas contíguas é removido e amontoado na linha da cultura,
aumentando a altura do solo. Esta actividade, para além de permitir um certo controlo das
infestantes, permite ainda atingir os seguintes objectivos:
- aumentar o ancoramento.
- facilitar a rega por gravidade.
- facilitar a drenagem.
- permitir o enterramento dos adubos.

9.3.2. Escarificação

Embora a escarificação tenha por objectivo primário quebrar a crosta superficial formada em
alguns solos, permite ainda conseguir um certo grau de controlo de infestantes, devido a remover
a crosta superficial do solo, desenraizando as plântulas mais pequenas.

9.3.3. Métodos de controlo de infestantes

No campo do controlo de infestantes e da chamada ciência das infestantes, existe a controvérsia


sobre se o que se deve fazer é "controlo de infestantes" ou "maneio de infestantes". Enquanto
que o termo controlo pressupõe o controlo total das infestantes, a sua eliminação total, enquanto
que o termo maneio pressupõe uma gestão económica das actividades de controlo de infestantes.
É ideia aceite que o correcto é fazer-se o maneio, eliminando-se as infestantes nos estádios de
crescimento da cultura em que elas causam maiores danos e quando as actividades são mais
baratas. Contudo, devido ao termo "controlo de infestantes" ser largamente usado em
Moçambique, este será usado, com o significado de maneio de infestantes.

102
Para o controlo de infestantes podem ser usados vários métodos:

1) Métodos preventivos. Incluem os vários métodos que permitem a redução das probabilidades
de entrada de sementes de fora para dentro do campo, incluem:

- uso de semente limpa.


- eliminação de infestantes antes da sementeira (ex. lavoura).
- manter os canais de rega limpos.
- prevenção do run-off e erosão.

2) Monda. É a remoção de infestantes feita à mão, sendo especialmente utilizada em alfobres e


viveiros.

3) Imersão. Quando se usam culturas que permitem certos períodos de alagamento e quando as
infestantes mais comuns são susceptíveis ao alagamento, pode-se usar o método de imersão,
onde se usa uma lamina de água de cerca de 10 cm, que permite o asfixia e morte das
infestantes. Depois o terreno é novamente drenado. Este método é usado em campos de arroz de
alagamento, razão pela qual a maioria das infestantes existentes nestes campos são resistente ao
alagamento ou plantas aquáticas.

4) Métodos mecânicos. São métodos que pressupõem a eliminação das infestantes


mecanicamente, arrancando-as, enterrando-as ou moendo-as. Podem-se se distinguir:

Sacha manual. É o método normalmente utilizado pelos camponeses no controlo de infestantes.


Os instrumentos utilizados são geralmente a enxada e sachadeiras.

Sacha mecânica. Usada geralmente na agricultura mecanizada. Pressupõe o uso de sachadores,


cultivadores, enxadas rotativas.

Lavoura. O mais importante objectivo das lavouras em climas tropicais é sem duvida o controlo
de infestantes. Assim, as lavouras devem ser planificadas e feitas de forma a conseguir o melhor
controlo de infestantes possível. As infestantes são mortas por enterramento. Uma forma de
aumentar a eficiência das lavouras no controlo de infestantes é fazer-se uma rega ligeira antes da
lavoura. Esta rega induz a germinação de parte das sementes de infestantes, que são depois
eliminadas durante a lavoura, reduzindo a quantidade de infestantes possível de germinar.

Moagem. Esta é uma das possibilidades de controlo de infestantes e redução da população de


infestantes em épocas posteriores. Quando as infestantes entram em floração e, de preferência,
antes de produzirem sementes viáveis, as infestantes são cortadas e moídas, podendo ser depois
usadas para a alimentação animal.

5) Métodos químicos. Implicam o uso de herbicidas em tempos, estádio de crescimento e


dosagens certas para o controlo das infestantes. No acto de escolha do herbicida apropriado
deve-se ter em conta factores como as culturas/variedades utilizadas, o tipo de infestantes
existentes e, ainda, o tipo de solo e o clima do local.

103
Assim, podemos dizer que, na escolha do herbicida a utilizar deve-se ter em conta:

i) Tipo de infestantes. Deve-se saber qual o tipo de infestante(s) dominante(s) no terreno, ou


seja, se são:

- de folha larga - dicotiledoneas.


- de folha fina - monocotiledoneas.
- lenhosas.
- parasíticas.

ii) Tipo de herbicida. Deve-se conhecer aspectos do herbicida, especialmente sobre a forma de
mistura, aplicação e forma de actuação. Os herbicidas podem ser:

- selectivos ou não. Os herbicidas selectivos são em geral específicos para certo tipo de culturas
e controlam alguns tipos de infestantes em particular. Por exemplo, um herbicida selectivo para
leguminosas, controla especialmente gramineas.
- de contacto ou sistémicos. Os herbicidas sistémicos, que actuam depois de absorvidos pela
planta e no seu metabolismo, necessitam em geral de menos água que os de contacto (ex. os
herbicidas sistémicos necessitam em geral entre 50 a 100 litros de água, contra os cerca de 500
litros para os de contacto), por não precisarem de boa distribuição e cobertura na planta.
- activos no solo ou na planta. Regra geral, os herbicidas activos no solo são mais persistentes,
têm maior residualidade, sendo geralmente absorvidos pela raíz.
- tipo de formulação.
- Possibilidade de uso em misturas.

iii) Quantidade a ser aplicada. Neste caso deve-se ter em conta que, um herbicida considerado
selectivo a certas doses, se a dose for ultrapassada, pode-se tornar num herbicida total,
queimando também a própria cultura. Em contrapartida, doses mais baixas que o recomendado,
normalmente não têm o efeito desejado.

iv) Tempo de aplicação. Os herbicidas, em função do tempo em que são aplicados, podem ser:
- pré-plantação.
- pós-plantação mas pré-emergência.
- pós-emergência.

É importante ter em conta que as infestantes são mais susceptíveis aos herbicidas nos períodos
de rápido crescimento e depois de terem esgotado as reservas nutritivas das sementes. Assim, é
importante que o controlo com herbicidas seja feito quando as plantas são pequenas. A aplicação
de herbicidas em plantulas traz a vantagem adicional de se necessitar menores quantidades de
produto para o seu controlo.

v) Método de aplicação. Os principais métodos de aplicação são:


- foliar, geralmente pulverização sobre as folhas.
- no solo. Neste caso, a aplicação tanto pode ser superficial como seguida de incorporação.
Neste caso é importante assinalar que em solos mais pesados precisam-se de maiores doses.
- sobre toda a planta (pulverização).

104
vi) Condições de aplicação. As condições de aplicação devem ser tomadas em conta pois que,
estas, influenciam e eficiência da aplicação:

- deve-se evitar aplicações com tempo seco. Com baixas humidades relativas as gotas da
solução de herbicida têm tendência a evaporar, perdendo-se parte do material.
- deve-se ter cuidado para não fazer aplicações com vento forte (superior a 2 m/s) pois isto
pode causar "drifting" (fluxo das gotas para fora do campo), o que pode vir a queimar outras
culturas em campos adjacentes, para além de se perder produto.
- deve-se fazer aplicações quando a humidade do ar é alta, o que leva ao aumento da eficiencia
herbicida.
- quando se usam herbicidas de actuação no solo deve-se fazer a aplicação quando a humidade
do solo é alta, o que permite uma adequada actuação do herbicida.
- por razões já explicadas, as aplicações devem ser feitas quando as infestantes são pequenas.
- o uso de altas pressões leva à formação de gotas mais pequenas, o que permite uma melhor
cobertura da planta. Contudo, em caso de ventos fortes, a possibilidade de "drifting" é maior.
- para melhorar a eficiência dos herbicidas, podem-se usar produtos aderentes, para uma
melhor retenção do produto nas infestantes.
- o uso de humedecedores pode aumentar a cobertura.
- a utilização de óleos aumenta a eficácia do produto, aumenta a sua absorção.

Estádios de crescimento e susceptibilidade aos herbicidas

i) estádio de plantula - Como a planta é pequena, fraca e com um sistema radicular pouco
desenvolvido, este é o estadio ideal para o seu controlo com herbicidas.

ii) estádio de crescimento vegetativo - Como a taxa de crescimento é alta, a área foliar aumenta
rapidamente, o sistema radicular é extenso, para que o herbicida seja letal, são necessárias
maiores doses de herbicidas do que na fase anterior.

iii) estádio reprodutivo - Uma vez que nesta fase o crescimento praticamente pára, este é o
estádio mais inadequado.

Alguns problemas com o controlo químico

Em primeiro lugar deve-se assinalar que, o controlo químico das infestantes é bastante difícil,
senão quase impossível, quando se usa o cultivo consociado. Isto está essencialmente ligado ao
facto de, quando se cultivam no mesmo terreno várias culturas de diferentes famílias (exemplo
gramineas e leguminosas), ser extremamente difícil encontrar um herbicida que seja permitido
pelas várias culturas e, simultaneamente, controle as várias infestantes (mono- e dicotiledoneas)
sem prejudicar pelo menos uma das culturas.

Em segundo lugar é de salientar o facto de que, quando o controlo químico é usado de forma
inadequada, como por exemplo, usando o mesmo herbicida durante vários anos consecutivos,
existe a possibilidade de que a composição das espécies de infestantes altere, tornando o mesmo
herbicida ineficaz e exigindo a sua mudança.

Por fim, é importante dizer que, o uso do controlo químico, ao contrário do controlo manual,
necessita treino específico, pelo que pressupõe alguma forma de formação, que implica
dispêndio de tempo e dinheiro.

105
6) Métodos integrados. Estes métodos permitem directa ou indirectamente um melhor controlo
de infestantes:
- nivelamento.
- rotação.
- consociação.
- localização dos adubos.
- controlo de infestantes prolongado.

7) Controlo biológico. Entre os métodos de conrolo biológico distinguem-se:


- a introdução de insectos comedores de folhas.
- uso de culturas isco para atrair as infestantes parasíticas.
- uso do pastoreio.

9.3.4. Períodos críticos de competição infestante-cultura

O período mais importante na competição infestante-cultura é o período inicial (Tab. 9.1),


porque as infestantes crescem mais rápido e vigorosamente e tem normalmente maior
competividade que as culturas.

Tabela 9.1. Rendimento do algodão em percentagem do controlo (livre de infestantes) em


função do tempo para a primeira sacha e do número de sachas.

Tempo 1 sacha depois 2 sachas Média


de desbaste depois do
desbaste
Sachado antes do desbaste 84 100 93
Sachado no desbaste 26 40 33
Média 55 70 +

Se o solo estiver limpo nos primeiros estádios de crescimento das culturas a ocorrência de
infestantes mais tarde afecta pouco o rendimento, sendo geralmente preferível e económico
deixar as infestantes crescerem.

Geralmente os camponeses fazem a sacha tardiamente. Contudo, é sabido que é necessário mais
trabalho para fazer uma sacha tardia e ineficiente que uma sacha em tempo. Baker (1975)
observou que é necessário o mesmo trabalho para uma sacha tardia que para duas sachas ligeiras
feitas a tempo.

Devido às características do clima, as perdas devido a infestantes podem ser até 23 vezes
maiores em zonas tropicais que nas zonas temperadas, tendo já sido assinalas perdas de até 50%
e mais devido ás infestantes. Gupta e Lamba (1978), trabalhando com milho mencionaram que:

- Chuvas frequentes mantém a superfície do solo húmida durante longos períodos,


encorajando vários fluxos de infestantes
- Clima quente e húmido favorece o crescimento das infestantes, especialmente das
gramineas.
- As largas distâncias entre-linhas oferecem muito espaço não competitivo para o crescimento
das infestantes.

106
Os mesmos autores observaram que o período crítico para o controlo de infestantes no milho são
os primeiros 40-45 dias de crescimento, podendo causar perdas de 20-85%. As tabelas 9.2 e 9.3
confirmam a afirmação.

Tabela 9.2. Efeito do período até á primeira sacha no rendimento do milho (Aldrich et al., 1975).

Período até á primeira sacha R (t/ha)


Sem infestantes 8.2
Com infestantes 2 semanas 7.5
durante as 3 semanas 7.0
primeiras 5 semanas 6.8

Tabela 9.3 - Efeito do período até à primeira sacha no rendimento do milho (Gleason, 1956).

Período até á primeira sacha Redução do rendimento


(% do controlo)
3 semanas 56
4 semanas 73
5 semanas 84

Considera-se que infestantes com 15-20 cm de altura já tiveram o seu efeito na redução de
rendimento. O mais importante é controlar aquelas infestantes que emergem ao mesmo tempo
ou quase no mesmo tempo que a cultura.

9.3.5. Efeito residual dos herbicidas

Para evitar efeitos residuais dos herbicidas, que possam causar problemas na rotação deve-se:
- não aplicar mais herbicida que o necessário.
- ao aplicar herbicidas de alta residualidade deve-se reduzir a dose ou aplicar em bandas, de
forma que a dose por hectare seja menor.
- se se tiver que usar herbicidas de alta residualidade, deve-se evitar o uso de plantas sensitivas
na época seguinte.
- se se tem que usar plantas sensitivas, deve-se escolher herbicidas com pouca ou sem
residualidade.

Como se pode vêr pela tabela 9.4 a menor dose de herbicida produz o mesmo rendimento de
milho que as doses maiores. Contudo, apenas a dose mais alta (2.0 l/ha) tem algum efeito
residual, reduzindo o rendimento do trigo.

Tabela 9.4. Efeito residual da atrazina, em pré-emergência, aplicada ao milho sobre o


rendimento do trigo subsequente.

Dose(l/ha) Milho (t/ha) Trigo (t/ha) Milho+trigo (t/ha)


Ano 1 Ano 2 Ano 1 Ano 2 Ano 1 Ano 2
0.5 3.37 - 3.33 - 6.70 -
1.0 3.52 2.34 3.24 2.40 6.76 4.74
1.5 3.37 2.46 3.21 2.31 6.58 4.77
2.0 - 2.45 - 1.87 - 4.35
DMS (5%) n.s. n.s. n.s. 0.26 n.s. 0.30

107
Pelo que se pode ver pela tabela 9.5, tanto a Simazina como o EPTC não apresentam problemas
de residualidade, mesmo nas doses mais altas.

Tabela 9.5. Efeito do controlo de infestantes com Simazina e EPTC no milho e seu efeito
residual na ervilha.

Tratamento Milho (t/ha) Ervilha (t/ha)


Sem sacha 2.95 2. 19
Sachado 4.67 2.19
P-E Simazina (1.12 Kg/ha) 4.38 2.01
P-E Simazina (2.24 Kg/ha) 4.89 1.91
P-P EPTC (3.36 Kg/ha) 3.93 2.20
P-P EPTC (6.73 Kg/ha) 4.31 2.20
LSD(5%) 0.30 n.s.
P-E - em pré-emergência
P-P - em pré-plantação

A tabela 9.6, com dados apresentados por Prasada e Mani (1985) mostra claramente as
vantagens económicas do uso de herbicidas, assim como a maior eficiência das sachas feitas no
cedo.

Tabela 9.6. Comparação da sacha manual com a aplicação de atrazina (1,25 Kg/ha) no
rendimento do milho e na massa de infestantes à colheita.

Tratamento Tempo Matéria Seca de Rendimento do milho Lucro


(DDEM) infestantes (Kg/ha) (Kg/ha) Adicio-
(75 DDEM) nal (Rs)
1982 1983 Média 1982 1983 Média
1SM 10 1458 1022 1240 2426 3732 3079 2410
1SM 25 770 833 802 1935 3250 2593 1390
1SM 40 203 240 222 1593 2019 1806 396
2SM 10, 25 905 779 812 2824 4482 3653 2322
2SM 10, 40 226 230 228 3296 5102 4199 3020
2SM 24, 40 223 267 245 1843 4389 3121 1648
3SM 10, 25, 40 203 203 203 4482 5519 5001 3607
Amontoa 25 1330 1721 1526 2130 3028 2579 1537
1SM+Amontoa 25 1773 1454 1314 2741 5093 3917 2837
Atrazina P-E 640 774 707 4796 5204 5000 4610
Atrazina P-E + Amontoa 25 399 571 485 6139 5991 6065 5706
Sem sacha - 2440 3614 3027 1361 1010 1186 -
DMS (5%) - 873 1009 - 390 471 - -
DDEM - dias depois da emergência do milho.
Rs - Rupias.
SM - Sacha manual.
P-E - Pré-emergência.

Literatura recomendada

Questões de raciocínio e controlo


108
10. COLHEITA E ARMAZENAMENTO

10.1. COLHEITA

A maior parte da área e produção agrícola nos países tropicais e particularmente em


Moçambique é feita pelos pequenos camponeses. Por exemplo:
- cerca de 90% do milho.
- a quase totalidade do amendoim.
- toda a mapira, meixoeira, batata-doce.
- grande parte do algodão.

Assim, é de esperar que a maior parte da colheita seja feita manualmente.

Contrariamente aos países tropicais e às culturas hortícolas em que a maior parte da colheita é
feita manualmente, devido à baixa capacidade de investimento dos agricultores de subsistência e
à necessidade de manter alta qualidade do produto depois da colheita, nos países temperados,
onde a capacidade de investimento é maior, a carência de força de trabalho é notável e a
intensidade da agricultura considerável, a colheita mecânica é geralmente preferida.

Várias culturas têm a sua colheita completamente mecanizada, como é o caso do chá, algodão,
milho, trigo, arroz, cana sacarina, etc. Contudo, em Moçambique, devido às pequenas áreas
existentes, á necessidade de as culturas se fazerem em zonas planas e ao facto do equipamento
ser caro e complicado, a colheita mecânica tem sido preterida em relação à manual.

Embora a colheita manual seja trabalhosa e frequentemente compulsiva, envolvendo muito


trabalho e uma parte considerável dos custos (40% do chá e 15% do milho), esta tem as suas
vantagens:
a) Só o produto maduro é colhido, como é fundamental para culturas como o tabaco, cacau,
algodão, café.
b) Colheitas periódicas e regulares previnem o crescimento de certas doenças e pragas, como é
o caso dos manchadores da fibra de algodão.
c) Possibilita ao agricultor eliminar produto sem qualidade, aumentando a qualidade final do
produto.
d) Possibilita a selecção cuidadosa de semente para a campanha seguinte.
e) É importante para a colheita de raízes e tubérculos que são melhor conservados no solo e
colhidos apenas quando necessários.
f) É o único método possível para a consociação.

Tabela 10.1. Quantidades de produto possíveis de colher manualmente.


Cultura Norma de colheita (kg/pessoa/dia)
Mandioca 200
Coco 100 cocos caídos
Algodão 10-20 (Moçambique = 30kg)
Toranja 1000-1500 frutos colhidos e encaixotados
Amendoim 1/75 ha levantados e empilhados
Milho 270-360 kg de maçarocas colhidas
Boer 70-90
Arroz 1/25 ha
Cana sacarina (75t/ha) 2-3 t cortadas e limpas em campos
Batata doce 136-225

109
10.2. ARMAZENAMENTO

O processo de armazenamento devido à possibilidade de perdas existentes. A FAO estimou em


10% as perdas de armazenamento (média mundial). Os maiores níveis de perdas ocorrem em
climas quentes e húmidos.

A) Perdas.

As perdas são devidas a:


- Insectos.
- Microorganismos.
- Roedores.

Podem ainda haver perdas causadas durante o manuseamento, transporte e processos


bioquímicos.

As perdas podem ser causadas por perda de peso e perda de qualidade.

B) Humidade.

Existe uma relação entre a Humidade do Produto e a Humidade Relativa do ar. A humidade do
produto, considerada óptima, deve estar em equilíbrio com uma humidade relativa do ar de 70%.
Quando a humidade do produto é maior que um certo nível crítico favorece o crescimento de
microorganismos, que levam à deterioração do produto.

A alta humidade do produto leva a:


- Aquecimento.
- Descoloração.
- Formação do bolo.
- Rebentamento, brotamento ou grelamento.
- Facilitar o ataque de insectos.

Tabela 10.2. Humidade óptima do produto para o armazenamento a 27C.

Cultura Humidade do Produto (%)


Milho (amarelo) 13
Milho (branco) 13,5
Arroz 14
Mapira 13,5
Trigo 13,5
Feijão 15
Ervilha 14
Nhemba 15
Amendoim (com casca) 9
Amendoim (grão) 7
Soja 11
Girassol 9,5
Algodão-caroço 10
Copra 7

110
C) Temperatura.

O armazenamento a baixa temperatura é preferível para reduzir a deterioração biológica e


bioquímica. Contudo, deve-se realçar que a temperatura de armazenamento pode aumentar
devido à actividade respiratória combinada de:
- Produto.
- Insectos.
- Mites.
- Micro-organismos.

Levando a um aumento da possibilidade de deterioração do próprio produto. Um dos casos de


deterioração causados pelo aumento de temperatura é o facto de a humidade se mover com o ar
dos lugares mais quentes (maior pressão) para os mais frios, acabando por se condensar,
fornecendo todas as condições possíveis para o desenvolvimento de doenças.

D) Insectos e Mites.

Estas pragas por crescerem e se desenvolverem em meios extremamente variáveis, podem ser
extremamente prejudiciais.

Em geral os insectos e mites desenvolvem-se a temperaturas de 17 a 35C a qualquer que seja a


humidade do ar. Vários insectos, a temperaturas da ordem dos 25-30C e com humidades
relativas da ordem dos 70%, conseguem completar o ciclo em 4-6 semanas.

Existem diferenças varietais quanto a resistência contra insectos. Em culturas como milho,
nhemba e mapira, entre outras, o ataque começa no campo.

E) Micro-organismos.

Os micro-organismos são seres sempre presentes. Desenvolvem-se a temperaturas que variam de


5 a 30C. Alguns podem formar mitocoxinas, como é o caso do Aspergillus flavus ao produzir a
aflatoxina no amendoim.

F) Roedores.

O principal problema causado por roedores é devido ao consumo directo do produto. No caso de
armazenamento de sementes, os roedores podem ser extremamente daninhos, por danificarem os
embriões, destruindo completamente as sementes.

G) Secagem.

A secagem pode ser:


- secagem natural - é feita ao sol ou com ventilação natural, com ou sem sol.
- artificial - esta pode ser feita a baixas, médias ou altas temperaturas.

I) Secagem ao sol. Esta deve ser feita em camadas finas, sobre superfícies impermeáveis, devem
ser periodicamente controladas. Contudo, pode levar a secagem irregular e quebra dos grãos.

II) Ventilação natural. Quanto maior for a ventilação melhor será a secagem. Esta pode ser feita
em plataformas, crivos ou cestos. Contudo, por a secagem ser lenta e não uniforme, esta pode
levar a quebras.
111
III) Secadores de baixas temperaturas. Esta é feita em estruturas com a circulação de ar a ser
forçada por ventoinhas. Em geral, o ar é ligeiramente aquecido. Esta pode ser feita no chão ou
em contentores e, ainda e com muito sucesso no Zimbabwe, em túneis de secagem elaborados a
partir do empilhamento ordenado de sacos.

IV) Secadores de temperaturas médias. A secagem é feita em períodos curtos. A temperatura de


secagem é 5 a 15C maior que a temperatura ambiente, podendo vir a necessitar de um período
de arrefecimento antes do armazenamento final. Podem-se distinguir:
a) secadores de fluxo contínuo.
b) secadores de sacos.

V) Secadores de altas temperaturas.

H) Selecção do secador. Aquando da selecção do tipo, volume e características do secador,


devem-se ter em conta os seguintes factores:

- quantidade total a secar.


- frequência de entrega ao secador.
- condições de armazenamento antes e depois da secagem.
- tipo de material a secar.
- sistema de comercialização - a granel ou em sacos.
- investimento inicial e custos de operação.

I) Estruturas de armazenamento. De entre as várias estruturas de armazenamento deve-se


salientar:

- Armazéns.
- Silos (devem ser impermeáveis para permitir a realização de fumigações).
- Armazéns subterrâneos - muitas vezes têm problemas de aumento da humidade do ar devido
a problemas de ventilação.
- Armazenamento impermeável - em contentores selados (latas, pacotes). O oxigénio, depois
de utilizado, reduz a sua concentração, forçando os seres viventes existentes dentro dos
contentores a reduzirem a respiração e o metabolismo em geral. O desenvolvimento de
insectos pode-se tornar quase impossível.

J) Insecticidas.

K) Fumigentes.

L) Fungicidas.

M) Rodenticidas.

112
12. CONSERVAÇÃO DE ÁGUA E SOLO

Um dos pressupostos da Agricultura é garantir que a terra seja mantida e protegida contra a sua
degradação. Pois, este deve ser entregue ás próximas gerações, senão em melhores condições
que as actuais, pelo menos nas mesmas condições.

Para que a terra, o solo, seja utilizada correctamente, os seguintes factores devem ser garantidos:
- obtenção de altos rendimentos.
- conservação da água.
- conservação do solo e da sua fertilidade.

É comum associar-se a conservação do solo com a conservação da água, pois ambos têm os
mesmos objectivos. Enquanto a conservação de água inclui métodos destinados a aumentar a
infiltração, de forma a que maior quantidade de água esteja disponível para as plantas, a
conservação do solo inclui métodos destinados a proteger o solo da erosão. Para que a erosão
seja mantida sobre controlo, é fundamental controlar a capacidade erosiva da água, o que é
geralmente feito através do uso de técnicas que impeçam o escoamento superficial da água, o
que pressupõe o aumento da infiltração. Assim, em geral, os métodos de conservação do solo,
são também métodos de conservação de água.

12.1. A EROSÃO. TIPOS DE EROSÃO

Podem ser identificados dois tipos básicos de erosão:


- a erosão natural e
- a erosão acelerada.

Erosão natural - é a erosão que tem lugar na superfície do solo no ambiente natural, não
perturbado pela actividade humana. Esta pode ser dividida em:
- erosão rochosa (onde não existe solo ou vegetação).
- erosão do solo (solo com vegetação natural).

Em qualquer caso de erosão natural, a regeneração é natural, sendo a erosão compensada pela
regeneração natural do solo.

Erosão acelerada - é a extracção e movimento de substâncias sólidas da superfície do solo pelo


vento (erosão eólica) ou pela água (erosão hídrica), tomando lugar depois do homem perturbar
as condições naturais. Pode ser considerada como a erosão feita pelo homem.

Uma das formas mais importantes e destruidoras da erosão acelerada, é a erosão hídrica, que está
directamente ligada ao “run-off”.

113
12.2. EROSÃO. FACTORES QUE A AFECTAM

12.2.1 - Erosão hídrica

Para se estudar a erosão hídrica devem-se ter em conta duas características importantes, estando
o seu volume em sua função:
- a erosividade da água, que é a habilidade potencial da água em causar erosão e
- a erodibilidade do solo, que é vulnerabilidade do solo à erosão, ou a sua capacidade em
resistir à erosão.

A erosão hídrica está directamente relacionada com o run-off, sendo este determinado por
factores como:

i) Precipitação. O efeito da precipitação depende de:

1 - Energia das gotas. A energia das gotas está ligada á força do seu impacto sobre o solo. Em
solo nu a terra é espalhada pelo impacto das gotas de água, provocando remexemento do solo e
facilitando a erosão.

2 - Quantidade da precipitação. Quanto maior for a precipitação, maior é a sua força erosiva.
A superfície do solo fica saturada, reduzindo a infiltração e, consequentemente, e promovendo a
possibilidade de ocorrência de run-off. Assim, em condições de solo nú e não havendo entraves
para o livre escorrimento da água, a erosão é acentuada.

3 - Intensidade da chuva. Com o aumento da intensidade da chuva, a diferença entre a


precipitação e a quantidade de água infiltrada tende a aumentar, aumentando-se a quantidade de
água com poder erosivo. Por exemplo, com precipitações da ordem dos 30-60 mm/hora, apenas
10% da chuva é erosiva. Contudo, com precipitações maiores que 100 mm/hora, toda a chuva é
erosiva pois, não existe tempo para que a infiltração ocorra.
Pr 30-60mm/h so 10% da chuva e erosiva.

ii) Natureza do solo. Alguns solos são mais erodíveis que outros. A erodibilidade do solo é
difícil de quantificar, pois depende de factores como:
- características do solo.
- influência do homem.
- factores climáticos.

Regra geral, solos com maior infiltração são menos erodíveis, por terem maior porosidade e
melhor estrutura.

Solos profundos tem maior capacidade de armazenamento, por isso, têm menos possibilidades
de sobre-saturação da superfície do solo. Consequentemente, permitem uma maior quantidade
de água infiltrada e, assim, são menos erodíveis.

Tanto em solo não perturbado, como em solo já trabalhado ou usado pelo homem, superfícies
onduladas, reduzem a velocidade de escoamento da água. Assim, permitem uma maior
infiltração, o run- off é reduzido e a erosão tende a ser menor.

iii) Declive. Quanto maior for o declive, maior é a probabilidade de ocorrer erosão. Pois, a água
ganha maior velocidade (Fig. 12.1). Existe informação indicando que, quando o declive
quadruplica, a velocidade da água passa para o dobro.
114
Do mesmo modo, com o aumento do comprimento das encostas, maior a erosão, pois, o volume
de água que se vai acumulando ao longo da descida é cada vez maior, ganhando maior
velocidade (Fig. 12.1).

Fig. 12.1 - Efeito do declive e do comprimento da encosta na erosão.

iv) Vegetação. Quanto maior for a cobertura vegetal, menor a possibilidade de ocorrência de
erosão (Tab. 12.1). Pois, a vegetação intercepta as gotas de chuva e quebra-as, reduzindo a sua
energia cinética. A vegetação de florestas e de pastos absorve a energia cinética das gotas,
reduzindo o seu impacto sobre o solo, permitindo maior infiltração e, consequentemente,
aumentando a infiltração. Assim, a natureza e a quantidade da vegetação é de extrema
importância (Tab. 12.1).

Tabela 12.1. Efeito da natureza e quantidade da cobertura vegetal na perda de solo.

Declive Perda de solo


Solo nu 7% 89.0 (t/ha/ano)
Floresta 7-15% 0.24
Pousio natural 7% 5.3
Citrinos 7% 18.9
Citrinos + mulch 7% 4.3

Especialmente em solos de florestas, a camada de matéria orgânica superficial filtra o limo e


impede a selagem dos poros, mantendo a infiltração do solo.

As espécies cultivadas têm um efeito protectivo variável, dependendo o seu efeito tanto da
espécie utilizada, como do maneio (práticas culturais e medidas de conservação do solo)

v) Tipo e fertilidade do solo. O tipo de solo é importante devido à sua erodibilidade, taxa de
infiltração e drenagem natural. Estas características dependem essencialmente da textura do solo,
da sua estrutura, do conteúdo de matéria orgânica, do conteúdo de colóides, da sua profundidade
e da natureza do perfil.

Regra geral, solos leves são mais erodíveis.

Solos com maior profundidade, por terem maior capacidade de armazenamento de água, são
menos propensos à erosão.

Solos com pior estrutura, com baixo teor de matéria orgânica e menos agregados de solo,
tendem a ser mais facilmente erodidos.

A erosão, por retirar a camada superficial do solo, reduz a fertilidade do solo, o que por sua vez
leva à redução da cobertura vegetal, o que acaba por levar a acentuar da erosão.

vi) Utilização do solo, práticas de cultivo. O deficiente uso do solo é geralmente uma das
principais causas de erosão. Por exemplo, a utilização de terrenos inclinados com culturas anuais
115
segundo métodos tradicionais (sem camalhões nas curvas de nível), leva geralmente ao
despoletar e acentuar da erosão. Regra geral, é preferível não perturbar o equilíbrio natural entre
o solo, a vegetação e a precipitação.

Sempre que se cultivem zonas de perigo de erosão hídrica potencial, devem-se usar práticas
culturais que permitam:
- aumentar a infiltração.
- reduzir o run-off.

Podem distinguidos três tipos de erosão hídrica:


a) Erosão laminar - Quando particulas de solo dispersas pela superfície do solo são carregadas
pela água.
b) Erosão por sulcos - Quando a erosão se acentua e sulcos começam a parecer na superficie do
solo.
c) Erosão por ravinas - Este é o estado terminal da erosão hidrica. A água, ao descer pelas
encostas, concentra-se em certos caminhos, cavando ravinas de maior ou menor
profundidade.

12.2.1. Erosão Eólica

A erosão eólica, por depender da força do vento, só se faz sentir em solos secos, quando estes
não estão protegidos pela vegetação.

As áreas de maior susceptibilidade à erosão eólica são:


- áreas de baixa precipitação, áridas e com estação seca longa.
- áreas de altas temperaturas, onde os solos secam com rapidez.
- áreas ventosas. A erosão tende a ser maior com o aumento da velocidade do vento.

Solos leves são mais erodíveis por terem pior estrutura. As partículas do solo com diâmetros
superiores a 1 mm são resistentes à erosão, devido ao seu peso.

Um dos efeitos mais importantes do vento, é o seu efeito mecânico na destruição da vegetação, o
que pode facilitar a influência da erosão hídrica.

O principal método de conservação de solos contra a erosão eólica é conservar o solo em


condições húmidas e, adicionalmente, aumentar a rugosidade do solo e reduzir a velocidade do
vento.

12.3. CONSERVAÇÃO DO SOLO

A erosão pode comparada a uma dor de cabeça, sendo geralmente um indicador de uma
desordem. A cura pode ser tão simples como tomar uma aspirina. Mas, se a causa da dor de
cabeça for uma perna partida, a aspirina deixa de ser suficiente, devendo curar primeiro a causa,
ou seja a perna partida. Contudo, é geralmente preferível fazer por nunca chegar a partir a perna.

A conservação do solo pode ser feita de dois modos:


- por métodos preventivos.
- com medidas curativas.

116
Preferivelmente devem ser usados os métodos preventivos. Pois, com o seu uso não ocorrem
danos no solo e o rendimento não diminui, para além de poderem ser feitos pelos próprios
agricultores. Estes métodos são geralmente mais baratos.
Ao delinear as técnicas de conservação do solo a utilizar, devem-se ter em conta os seguintes
factores:

- Precipitação.
- Condições do solo.
- Topografia.
- Utilização actual (agricultura e vegetação).
- Homem.

Para um controlo efectivo da erosão é necessário fazer um uso adequado da terra e proceder ao
tratamento dos vários tipos de solo em toda a área de colecta de água (bacia), de acordo com as
específicidades de cada porção de terreno diferente (Tab. 12.2):
a) A cada terra o seu uso.
- Em terras muito declivosas é preferível permitir a existência de floresta ou de pasto
permanentes.
- Em terras de declive menos acentuado devem-se deixar árvores altamente protectivas.
- Em terras pouco declivosas pode-se fazer culturas.
b) A cada terra o seu tipo de conservação.
c) Identificação das necessidades de medidas mecânicas.

Tabela 12.2. Os usos intensivo mais adequados para cada classe de uso da terra (Webster e
Wilson, 1980 citando Vernon, 1958).

Classe de uso da terra Uso intensivo mais adequado


I. Declives A e B em solos bons Adequado para o cultivo (preparação do solo)
praticamente sem limitações
II. Principalmente declives C em solos bons Adequado para o cultivo (preparação do solo)
com limitações moderadas
III. Principalmente declives D. Alguns declives Adequado para o cultivo (preparação do solo)
menos acentuados em solos menos favoráveis com fortes limitações
IV. Principalmente declives E, alguns declives Adequado para culturas arbóreas, gramineas e
D cultivo muito limitado
V. Principalmente declives E e F Não adequado para cultivo mas adequado para
plantação de florestas, culturas arbóreas ou
graminais melhorados
VI. Principalmente terras rochosas muito Não adequado para o cultivo. Adequado para
inclinadas ou climas secos florestas pobres
VII. Formações rochosas expostas, solos Pouco ou nenhum uso produtivo
lavados por rios, etc.

Declive () A B C D E F
0-2 2-5 5-10 10-20 20-30 mais de 30

Categoria + 0 1 2 3 4 5
s de
erosão

117
Acréscim Nula Pequena Moderad Severa Muito Extremament
o a severa e severa

12.3.1. Principais Métodos de Controlo

Os principais métodos de controlo podem ser divididos em:

1) Protecção mecânica.
2) Medidas agronómicas.
3) Protecção biológica.

12.3.1.1. Protecção mecânica

Entre as medidas de protecção mecânica do solo contra a erosão destacam-se:

a) drenos de tempestade. (Fig. 12.2 e 12.3). São a defesa de primeira linha das encostas ou terras
cultivadas a proteger. São geralmente colocados no inicio das encostas, para prevenir o run-off a
partir das terras altas. Tem como utilidade principal a intercepção e desvio das águas
provenientes das terras a montante da zona a proteger. São valas de tamanho variável, com um
gradiente de 0,25 a 1%.

b) Terraços de canais. São canais colocados no meio das encostas a proteger ou de terras
cultivadas, essencialmente com o objectivo de reduzir o volume e velocidade do run-off,
desviando a água para canais de drenagem vertical. Podem ou não ter gradiente. Distinguem-se
os seguintes tipos principais:
i) terraços de canais ou terraços de contra-sulcos.
ii) terraços graduais, com gradiente.
iii) terraços de contorno ou absorção, sem gradiente, podendo estes ter o fim aberto ou
fechado.

1. terraços de contra-sulcos de base estreita. (Fig. 12.4). São usados em terras com declives de
10-20%. O gradiente dos canais não deve ser superior a 0,75%, não devendo o comprimento dos
canais exceder os 300 m. O intervalo vertical (IV) ou diferença de altura vertical entre dois
canais consecutivos pode ser calculado da seguinte forma:

- fórmula usada no Zimbabwe

IV (m) = (S% + f)/6,4 onde,

S% é o declive em percentagem e
f varia de 3 a 6 dependendo da erodibilidade do solo.

118
- Formula usada na África do Sul

IV (m) = (S%/4 + 1)/3,2

O intervalo horizontal (IH) é calculado a partir da equação:

IH = (IV x 100)/S%

2. terraços de contra-sulcos de base larga. (Fig. 12.5). São usados em terras com declives de
2-12%. O gradiente dos canais varia de 1 a 5%, não devendo o comprimento dos canais exceder
os 320 m. O intervalo vertical e o intervalo horizontal são calculados da mesma maneira que
para os terraços de contra-sulcos de base estreita. Assim, embora o intervalo vertical aumente
com o aumento do declive, o intervalo horizontal reduz-se.

3. terraços em bancos ou de bancada. Usam-se em terrenos com declives de 20 a 50%. O declive


vertical dos terraços pode ser protegido através de cobertura vegetal se não exceder a razão
IH:IV de 2:1. Com razões da ordem dos 1:1 a protecção tem que ser por enrocamento. O declive
dos terraços é geralmente de 1%. Os terraços podem ser construídos nas curvas de nível ou ter
um ligeiro gradiente.

Podemos distinguir os seguintes tipos mais importantes:

- terraços de bancada nivelados (Fig. 12.6).


- terraços inclinados para fora (Fig. 12.6).
- terraços inclinados para dentro (Fig. 12.6).
- terraços em degraus (Fig. 12.6).
- terraços de irrigação (Fig. 12.6).
- terraços de pomares (Fig. 12.6). São terraços de bancadas modificados. Cada bancada tem
1,2 a 1,8 m de largura, comportando uma linha da cultura. O intervalo horizontal é igual à
distância entre linhas recomendada.
- canais de vertente (Fig. 12.7). São geralmente usados em zonas com declives de 7-25. O
intervalo vertical é dado pela equação

IV = (S% + f)/10 onde

f varia de 4 a 6 dependendo da erodibilidade do solo.

Os canais são construídos com um gradiente variável (Tab. 12.3), geralmente não excedendo os
0,5-1%. O comprimento dos canais não deve exceder 100-180 m.

Devido ao continuo movimento do solo, por erosão, a longo prazo estes canais de vertente
tendem a se nivelarem e formar terraços.

Existem ainda tipos especiais de canais de vertente como sejam:


- os canais de vertente com tanques de sedimentação (Fig. 12.7).
- os terraços Fanya Juu (Fig. 12.7) utilizados no Quénia.

119
Tabela 12.3. Tamanho dos canais de vertente e seu gradiente, em função da área de colecta de
água.

Área de colecta de Profundidade dos Largura dos canais Gradiente máximo(%)


água (ha) canais (cm) (cm)
1 35 50 4,0
2 45 70 2,5
4 55 100 1,5
8 70 140 1,0
16 85 200 0,5
32 115 280 0,4

c) Barreiras de pedra. São barreiras de pedra colocadas no meio das encostas, segundo as curvas
de nível, com o objectivo de colher as partículas de solo em suspensão na água e infiltrar a água
do run-off. A longo prazo permitem o desenvolvimento de terraços. São especialmente
eficientes em zonas onde a vegetação é rara.

Estas barreiras têm uma altura de 0,5 m por 1 m de largura, precisando-se de cerca de 0,25 m² de
pedras para cada metro de barreira.

O intervalo vertical é de 1 m.

d) Microbacias em meia-lua. (Fig. 12.8). Embora sejam especialmente utilizadas para a


conservação de água em zonas de baixa pluviosidade, podem ser também usadas para a
protecção contra a erosão.

A implantação no terreno é feita de forma triangular ou em quinconcio, a distâncias de 2,5-3 m


entre os centros de duas bacias consecutivas e 2,5-3 m entre duas linhas de bacias. As bacias têm
um diâmetro de 2 a 4 m. Podem ser utilizadas em quase todos os declives, menos nos mais
acentuados.

12.3.1.2. Medidas agronómicas

As medidas agronómicas são sem duvida as mais económicas e simples de implantar, por
envolverem essencialmente sementeiras e plantações e trabalhos bem conhecidos de preparação
do solo, não necessitando de conhecimentos técnicos especializados. Podemos distinguir as
seguintes medidas:

a) Lavoura, lavoura nas curvas de nível. São especialmente utilizadas por permitirem, a curto
prazo, o aumento da infiltração e, consequentemente a redução do run-off. Uma das
possibilidades é o uso do "zero-tillage". A realização de lavouras segundo as curvas de nível é,
sem duvida, o método mais simples e mais barato de prevenção da erosão.

b) Cultivo em sulcos nas curvas de nível. Este não é mais que uma adição às lavouras. Assim,
depois da preparação do terreno, forma-se o terreno em sulcos e contra-sulcos. Esta prática
permite que a precipitação se acumule nos sulcos, infiltrando no solo, ou escorrendo lentamente
pelos sulcos (gradiente 1:400) até ser descarregada em canais de drenagem. Para além de
conservar o solo, conserva também água.

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c) Cultivo em sulcos fechados nas curvas de nível. Faz-se o cultivo nas curvas de nível, com a
única diferença que, a intervalos de 1,5-3,5 m, o sulco é interrompido por uma barreira,
formando-se assim pequenas bacias, que impedem o livre escorrimento da água, obrigando à sua
infiltração. Os sulcos devem ter um gradiente de 0,25% (Fig. 12.9).

d) Sulcos de pastagem. No meio de pastos localizados em terrenos inclinados, fazem-se sulcos


nas curvas de nível, a intervalos calculados em função do declive. Estes têm como função
reduzir a velocidade da água e uniformizar a frente de escoamento da água.

e) Cultivo em faixas. Neste método alternam-se faixas de culturas susceptíveis (ex. milho) com
faixas de culturas protectivas (ex. nhemba). As faixas protectivas reduzem a velocidade da água,
levando ao aumento da infiltração (mais tempo disponível) e à redução do run-off.

f) Faixas de vegetação tampão. Estas têm uma função muito semelhante à das faixas protectivas
no cultivo em faixas. Contudo, normalmente são mais eficientes por serem escolhidas
especialmente para tal e não terem como função produzir nenhum rendimento. São normalmente
compostas por gramineas perenes, podendo incluir também algumas leguminosas. Para além de
reduzir a velocidade da água, servem ainda de filtro, obrigando à acumulação dos materiais em
suspensão. Esta acumulação, se for continua, pode levar à formação de terraços de contra-sulcos.

g) Sebes. As sebes são geralmente faixas de arbustos, normalmente leguminosas, plantadas nas
curvas de nível, antes ou depois de terraços de contra-sulcos ou de canais, com a função de
segurar o solo e fornecer apoio á vegetação rasteira na sua função de faixa de vegetação tampão.

h) Rotação de culturas. As rotações, incluindo pousios em que gramineas ou forrageiras são


utilizadas, cobrindo o solo completamente, permitem que, em certos períodos o solo esteja
completamente protegido, evitando-se o run-off e a erosão.

i) Mulching. A cobertura do solo com material vegetal morto permite, para além do
fornecimento de matéria orgânica ao solo, reduzir a energia das gotas de chuva, reduzindo o seu
impacto no solo. Assim, permite uma maior infiltração, menor run-off e, finalmente, maior
estabilidade do solo. Para além disso, permite ainda um certo controlo sobre as infestantes, por
reduzir a quantidade de luz incidente no solo e disponível para as plantulas infestantes.

12.3.1.3. Protecção biológica

a) Reflorestamento.

b) Estabelecimento de pastagens (cobertura vegetal permanente).

c) Quebraventos (Fig. 12.10). Os quebraventos são o principal de protecção contra a erosão


eólica. Os seus efeitos podem ser assim resumidos, estando directamente ligados à redução da
velocidade do vento:
- reduz os danos mecânicos causados pelo vento.
- melhora o crescimento e o rendimento.
- reduz a evapotranspiração.
- aumenta ligeiramente a temperatura diurna e a Humidade Relativa (%) do ar.
- pode melhorar a polinização. O vento pode atrapalhar os insectos polinizadores.

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Literatura recomendada

Webster, C.C., e Wilson, P.N., 1980. Agriculture in the Tropics. 2nd Ed. Tropical Agriculture
Series, Longman Group, New York and London. Capítulo .

Wrigley, G., 1981. Tropical Agriculture - The Development of Production. 4th Ed. Longman
Group, New York and London. Págs. 153-163

Youdeowei, A., Ezedima, F.O.C. e Onazi, O.C., 1986. Introduction to Tropical Agriculture.
Longman Group, U.K.

ILACO, 1981. Agricultural Compendium for Rural Development in the Tropics and Subtropics.
Elsevier Scientific Pub. Company. Netherlands.

Hudson, N., 1981. Soil Conservation. Bradford Academic and Educational, London.

Moldenhauer, W.C., and Hudson, N.W., 1988. Conservation Farming on Steep Lands. Soil and
Water Conservation Society, World Association of Soil and Water Conservation, Ankeny,
Iowa, USA.

Elwell, H.A., 1986. Soil Conservation. The College Press (PVT) LTD. Harare, Zimbabwe.

Whitthall, P.C., 198_. A Guide to Gully Control and Reclamation. Department of Agrocultural
Technical and Extension Services, Branch of Soil and Water Conservation, Harare,
Zimbabwe.

Fig. 12.2 - Componentes básicos da protecção mecanica e sua implantação.

Fig. 12.3 - Aspectos da construção de drenos de tempestade.

Fig. 12.4 - Terraços de contra-sulcos de base estreita.

Fig. 12.5 - Terraços de contra-sulcos de base larga.

Fig. 12.6 - Terraços de bancada. a) nivelados. b) inclinados para fora. c) inclinados para dentro.
d) em degraus. e) de irrigação. f) e g) de pomares (modificado).

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Fig. 12.7 - Canais de vertente. a) vista lateral. b) implantação. c) tipos de canais de vertente. d)
com tanques de sedimentação. e) Fanya juu.

Fig. 12.8 - Microbacias em meia-lua.

Fig. 12.9 - Cultivo em sulcos fechados.

Fig. 12.10 - Quebraventos. Efeito do uso de cortinas a) impermeáveis e b) permeáveis.

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