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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 2

TOMANDO A PROPRIEDADE DOS POBRES 4


A Lei de Terras 5
Os cortiços 6
Por que “favela”? 6

O QUE PODEMOS FAZER 8


Por que regularizar? 9
O papel da Associação de Moradores no 10
reconhecimento da propriedade privada
As legislações que envolvem o uso do solo 11
e o acesso à terra no Brasil
Assistência gratuita para habitação? 12
O passo a passo para a regularização fundiária 12
Quais são as etapas envolvidas no processo de 13
Regularização Fundiária Urbana?
Fase 1 - Requerimento aos legitimados 13
Fase 2 - Procedimento administrativo 13
Fase 3 - Elaboração do Projeto de Regularização Fundiária - PRF 14
Fase 4 - Saneamento do processo administrativo 14
Fase 5 - Decisão da autoridade competente 15
Fase 6 - Expedição da CRF (Certidão de Regularização Fundiária) 15
Fase 7 - Registro da CRF e do Projeto de Reurb 15

ATUAÇÃO DO STUDENTS FOR LIBERTY BRASIL 17


Nossos Documentários 18
Experiências de regularização fundiária 18

REFERÊNCIAS 19
As favelas são tão comuns à paisagem das cidades brasileiras que acreditamos que elas
sempre estiveram lá. Quase como se a vida na cidade dependesse da existência deste
tipo de aglomeração urbana. E como se os moradores que lá vivem fossem condenados
pelo acaso àquela vida.

Mas isso não é verdade. Como você verá neste e-book, favelas são o produto direto da
intervenção estatal.

Seja expulsando os pobres das suas casas, seja simplesmente os impedindo de construir
novas moradias, o estado brasileiro é o principal responsável por condenar milhões de
pessoas à uma vida inteira em habitações subnormais.

Felizmente, há muito o que podemos fazer para mudar esta situação. Se na primeira
parte do livro você entenderá como chegamos aqui, na segunda você compreenderá o
que deve ser feito. O melhor de tudo? Não precisamos esperar por políticos para mudar
essa situação.

Esperamos que este material possa ser um ponto de virada e sirva como guia para todos
aqueles que querem devolver aos pobres o que é seu por direito.

Sincerely & For Liberty,

Ivanildo Santos Terceiro


iterceiro@studentsforliberty.org
Comms Director SFLB

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Publicado com alterações a partir deste texto original

Oficialmente, a escravidão brasileira, a única remanescente nos países independentes do


continente americano, foi abolida em 13 de maio de 1888.

Entretanto, o ambiente vinha sendo moldado há cerca de 40 anos para que isso ocorresse da
forma menos dolorosa possível — para os donos de escravos.

Por pressão inglesa, o Brasil já havia começado a dar alguns passos em direção ao fim da
escravidão.

A mais emblemática e ineficaz “lei para inglês ver”, a Lei Feijó, foi sancionada em 1832, dando
nominalmente a liberdade a escravos desembarcados no país. Somente em 1850 a Lei
Eusébio de Queirós proibiu efetivamente o tráfico de escravos para o território nacional. O fim
da escravidão no Brasil estava, ao menos, bem sinalizada, embora outras medidas também
tenham servido para estender a vida do regime.

Em 1871, a chamada Lei do Ventre Livre foi aprovada, “libertando” os filhos de escravos
— que ficariam sob os “cuidados” dos seus senhores ou do estado até os 21 anos, isto é,
permaneceriam escravizados até esta idade. Em 1885, a Lei dos Sexagenários, “libertou” os
escravos com mais de 65 anos — efetivamente dando uma licença de descarte dos escravos
aos senhores. Finalmente, a “abolição” ocorreu com a Lei Áurea.

Era de se esperar que medidas assim servissem para a continuação da manutenção do poder
estatal. Entretanto, nenhuma delas se compara à desumanidade que seria perpetuada até
hoje pela Lei de Terras, menos famosa, de vinte anos antes.

A Lei de Terras
Aprovada apenas duas semanas após a Lei Eusébio de Queirós, a lei nº 601 de 18 de
setembro de 1850 foi na direção contrária da sua contraparte americana.

Nos Estados Unidos, o Homestead Act permitiu a qualquer pessoa ter a posse de uma
propriedade de 64 hectares. Bastava trabalhar nela durante cinco anos.

No Brasil, a Lei de Terras impediu que qualquer terra pudesse ser apropriada através do
trabalho. A partir daquele momento, qualquer nova propriedade deveria ser comprada
diretamente do estado em leilões com pagamento à vista.

Não se sabe se a legislação foi feita de caso pensado. No entanto, o seu principal efeito
foi impedir que escravos recém-libertos e os estratos mais pobres do país encontrassem
trabalho longe das propriedades dos senhores. Faz-se mister notar que tais propriedades,
por diversas vezes, haviam sido recebidas como doações da Coroa portuguesa e, mais
tarde, do Governo Imperial.

Ao analisar a economia brasileira na primeira metade do século XX, o economista Nathaniel


Leff notou o efeito pernicioso e sustentado da Lei de Terras. Ao impedir que pobres
tivessem acesso à propriedade, o estado brasileiro criou uma massa de desalentados.
Se nos Estados Unidos o pobre poderia ter a própria terra e trabalhar para si, no Brasil, a
única opção restante era vender a sua mão-de-obra.

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Enquanto no Norte, 75% da população rural vivia e trabalhava numa terra que era sua, no
Brasil, boa parte da população concorriam entre si por um emprego. O principal efeito
deste arranjo, de acordo com Leff, foi a depressão dos salários oferecidos.

Os Cortiços
Recém libertos, sem-terra e impedidos pelo estado de conseguir uma boa parte dos
ex-escravos, passou a ocupar moradias coletivas nos centros das cidades, o chamado
“cortiço”.

Este tipo de habitação surgiu após a chegada de D. João VI ao Rio de Janeiro. Na ocasião,
a fim de acomodar a família real e seu séquito, a Coroa expulsou 30% dos moradores das
cidades de suas casas.

Ao longo do tempo, ex-combatentes da Guerra do Paraguai e imigrantes se somaram aos


desabrigados iniciais. Com a Lei Áurea, vieram os recém-libertos.

Ocorre que cortiços são sub-habitações. Aluísio Azevedo na famosa obra homônima,
descreve o lugar como um “paraíso de vermes”, “viveiro de larvas sensuais”, “aquela em
que se matam homens sem a polícia descobrir os assassinos”.

A ideia de retirar os pobres de suas únicas habitações não encontrou resistência. De fato,
tais medidas eram defendidas como uma forma de proteger quem estava na pobreza
da “ganância” dos empresários da construção civil. O Dr. Xavier Azevedo, membro da
Comissão de Saúde criada para investigar as condições dos cortiços acreditava que:

O proprietário dessas estalagens indo sempre por diante, e


construindo pequenos quartos separados por tabiques de madeira,
onde faltam todas as condições precisas, exigindo somente do
locador uma só condição, a importância do aluguel que ele
considera a única e essencial

No início do século XX, o prefeito do Rio de Janeiro se imbuiu na missão de modernizar


a cidade e resolveu, então, transformá-la de acordo com a sua visão. Destruiu casas,
alargou ruas, e, o mais importante, botou cortiços abaixo. Sem muitas opções, os
pobres moradores destes locais tomaram o mesmo rumo já traçado pelos desabrigados
da destruição do cortiço Cabeça de Porco: subir os morros que circundam o Centro da
cidade. Assim, as favelas brasileiras começaram a se espalhar.

Por que “favela”?


Em 1897, o Governo Federal prometeu aos soldados enviados para a Guerra de Canudos
uma residência a todos que voltassem vitoriosos. Entretanto, findada a guerra, os cerca
de 10 mil combatentes se dirigiram à então capital brasileira e ficaram à míngua. Em uma
época que o transporte entre regiões era praticamente impossível para os despossuídos,
os soldados fizeram o mesmo caminho que os desabrigados pela destruição do cortiço
Cabeça do Porco e ocuparam o Morro da Providência.

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O termo “favela” veio em referência ao arbusto “faveleira” que cobria as terras do sertão
baiano, palco da guerra.

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Por que regularizar?
É comum que políticos acreditem que sua caneta tem poderes mágicos capazes de
resolver todos os problemas da humanidade. Nenhum legislador sugeriu a proibição da
pobreza como solução para ela é um milagre que deveria ser agradecido pelos brasileiros
todos os dias.

Mas existe um problema que pode ser facilmente resolvido com apenas uma canetada.

Milhões de brasileiros vivem à margem da formalidade. Suas residências não são


reconhecidas pelo estado. De fato, o único motivo real para sua não expulsão é o trabalho
envolvido e a perda de popularidade do político que toma essa decisão.

Garantias que, infelizmente, só duram até o próximo grande projeto de urbanização ou


grande evento, como a Copa e as Olimpíadas, quando 250 mil pessoas foram expulsas das
suas casas.

O que ocorreria, então, se um prefeito legalizasse todas as ocupações feitas em cima de


solo estatal?

Em 2011, as pesquisadoras Maria Isabel Andrade e Valéria de Toledo Pero foram a campo
registrar os impactos da regularização fundiária na comunidade de Quinta do Caju, no Rio
de Janeiro.

Comparando as casas do mesmo local que não tinham entrado no programa de concessão
de títulos de propriedade com as que receberam seu registro, constatou-se que as
últimas tiveram um incremento que variou de 20% a 32% na renda domiciliar.

Ao que se pode atribuir isso?

1. O cidadão com um título de propriedade deixa de ser um invasor e se torna um


proprietário;
2. A propriedade privada, enfim, se torna seu refúgio contra abusos do estado;
3. E permite sua formalização junto às prestadoras de serviço.

Estas conclusões não são de um economista liberal, mas dos principais afetados pelo
projeto: os moradores.

O poder dos direitos de propriedade é tão forte que foram capazes de enfrentar um grupo
terrorista e vencê-lo.

Nas décadas de 80 e 90, o Peru era flagelado pelo grupo marxista terrorista Sendero
Luminoso. Contando com o apoio informal da população pobre, que compartilhava com
Abimael Guzmán, líder do Sendero, uma profunda desconfiança com as elites peruanas,
o grupo chegou a controlar 60% do território do país.

Como conselheiro do governo, o economista Hernando de Soto Polar viu a oportunidade


perfeita para aplicar uma tese que vinha formulando nos últimos anos. Em 1986 ele
escreveu o livro “El Outro Sendero”, em que formulou o conceito de “muros de papel”. Para

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De Soto, a burocracia exigida pelo estado para se formalizar é tão grande, que age como
um muro impedindo que as populações mais pobres empreendam e subam na vida.

Para vencer o terrorismo, De Soto propôs uma mudança de paradigma. Em vez de olhar os
pobres como pessoas que desesperadamente precisam de ajuda, que tal olhá-los como
pessoas dispostas a trabalhar?

O que mudou os termos do debate, e a resposta do governo, foi


a constatação de que os pobres no Peru não eram trabalhadores
e fazendeiros desempregados ou subempregados, tal como a
opinião convencional afirmava na época.
Os pobres, na verdade, eram pequenos empreendedores que
trabalhavam fora dos registros, na economia “informal” peruana.
Eles constituíam 62% da população e geram 34% do seu PIB - e
tinham acumulado por volta de 70 bilhões de dólares em ativos
imobiliários.
Essa nova forma de ver a realidade econômica levou a grandes
mudanças legais e constitucionais.
O governo do Peru reduziu 75% das barreiras burocráticas de
acesso à atividade econômica, proporcionou corregedorias e
mecanismos para registrar queixas contra agências do governo e
reconheceu os direitos de propriedade de uma vasta maioria.
Somente um único pacote legislativo deu reconhecimento oficial
a 380 mil negócios informais, trazendo à tona, de 1990 a 1994, 500
mil empregados e 8 bilhões de dólares em receita de impostos.
Essas conquistas deixaram os terroristas peruanos sem apoio
nas cidades.

As dificuldades não são muito diferentes das encontradas no Brasil. Em nosso país é
proibido dar a própria residência como garantia de um empréstimo para um banco. Tudo
bem para quem tem dinheiro e outros bens, péssimo para quem precisa de crédito para
comprar um carrinho de cachorro quente e começar a acumular capital.

Hernando de Soto estima que, entre situações como a do Brasil e propriedades não
reconhecidas formalmente, cerca de US $9,3 trilhões estão impedidos de participar da
economia mundial.

Até mesmo a estética da comunidade pode ser alterada graças ao poder dos direitos
de propriedade. É relativamente comum encontrar televisões de LCD e outros bens de
consumo “supérfluos” dentro de barracos caindo aos pedaços. Tal decisão, por incrível
que pareça, é completamente racional. Se um dia você for expulso, sempre poderá levar
sua televisão debaixo do braço, não uma parede.

O papel da Associação de Moradores no reconhecimento da


propriedade privada
O art. 14, parágrafo II da Lei 13.465/2017, sancionada pelo presidente Michel Temer,
garante legitimidade para que a associação de moradores possa fazer o requerimento

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para que o poder público inicie os procedimentos de regularização fundiária.

Os moradores e as associações não podem praticar todos os atos do processo, mas


podem fazer o projeto de regularização e, após aprovado pelo poder público, solicitar o
registro no Cartório de Imóveis.

A associação de moradores possui um papel fundamental na conscientização de todos


os beneficiários para a regularização fundiária. A mediação e o diálogo destes grupos é
essencial para diminuir as angústias e reticências dos moradores quanto à regularização.

As legislações que envolvem o uso do solo e o acesso à terra no


Brasil
Com o grande e rápido aumento da urbanização na década de 1960, o Brasil se transformou
em um país urbano. Aliado a este fenômeno, também aumentaram as procuras por
empregos e serviços públicos, assim como saneamento e outras infraestruturas básicas.

A demanda por melhores condições de vida fez surgir movimentos sociais urbanos, como
movimentos por moradia e pela implantação ou melhoria dos serviços públicos.

A lei 6.766/79, conhecida como Lei de Parcelamento do Solo, define regras para o
loteamento (quando há necessidade de criação de novas ruas e infraestrutura para o
fracionamento de um lote), e desmembramento (quando é feita a subdivisão de um lote
urbano, sem demanda por novos logradouros) de terrenos, assim como casos onde estes
não são permitidos.

A lei 10.257/01, o Estatuto da Cidades, define, ao longo de 5 Capítulos, as políticas urbanas,


que têm como objetivo ordenar o desenvolvimento das cidades e garantir a sua função
social. Dentre diversos pontos abordados no texto, estão:

• Ferramentas para que se tenha êxito no planejamento urbano;


• O papel da população nas tomadas de decisões que afetam o desenvolvimento
das cidades;
• Quando o poder público pode solicitar um imóvel já ocupado;
• Regras para o usucapião de imóveis urbanos;
• Estabelecimento do Plano Diretor.

O Plano Diretor é uma lei municipal obrigatória para todas as cidades com mais de 20 mil
habitantes ou integrante de região metropolitana e serve para controlar e orientar o seu
crescimento e desenvolvimento.

Ele possui a missão de definir o zoneamento de todo território municipal, ou seja, definir
quais bairros serão residenciais, comerciais, industriais ou de proteção ambiental, assim
como as medidas permitidas para as ruas, casas, prédios e as distâncias entre todos os
imóveis do bairro.

Grande parte dessa legislação dificultou e ainda dificulta o acesso à terra urbanizada por
uma parte considerável da população. Para que a população de baixa renda tenha acesso
à moradia, precisamos retirar a burocracia que existe em diversos programas sociais.

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Muitas das vezes, as pessoas desistem desses programas por não conseguir lidar com
a burocracia, seja na hora de apresentar seus documentos pessoais, comprovar renda
ou, como em muitos casos, apresentar registro do imovel para programas de melhoria
habitacional ou financiamentos diversos.

Assistência gratuita para habitação?

A Assistência Técnica de Habitação de Interesse Social (ATHIS) é um serviço público


desconhecido por boa parte dos brasileiros.

Regulamentado a partir da lei 11.888/2018, a legislação prevê que famílias de baixa renda
possam receber dos municípios assistência técnica para o projeto e a construção de
habitação de interesse social.

Podem fazer uso do serviço famílias que:

• Tenham renda mensal de até 3 (três) salários mínimos, isto é, a renda somada
de todos os indivíduos que compõem o núcleo familiar não pode ultrapassar
este valor;
• Sejam proprietárias do imóvel;
• Possuam apenas um imóvel em todo território nacional;
• Ser residente em áreas urbanas ou rurais - regularizadas ou passíveis de
regularização.

Cumprindo esses requisitos, a legislação prevê à família o direito à assistência técnica


pública para o projeto e acompanhamento da execução da obra. Desde a orientação a
respeito do processo, a lista de materiais, e como obter as licenças de construção.

A família interessada deve se apresentar no setor de infraestrutura e desenvolvimento


social do município, requerer o serviço, e comprovar o cumprimento dos requisitos. O
requerimento deve ser analisado por meio de um Conselho Municipal, composto por
membros do poder público e da sociedade civil.

Apesar de previsto em lei, nem todos os municípios têm programas de ATHIS. No entanto,
não é incomum que instituições de ensino com cursos voltadas para Arquitetura,
Urbanismo, Engenharia Civil, e Construções de Edificações mantenham projetos próprios
seguindo o modelo previsto na legislação.

O passo a passo para a regularização fundiária


O processo de urbanização no território brasileiro teve por característica a classificação
da cidade em dois grupos distintos:

• A cidade formal, regular, planejada, aprovada conforme as normas e projetos


de cunho urbanísticos e com acesso rápido e fácil aos serviços públicos;
• A cidade informal, que tem como principal característica a autoconstrução,
sem observar as normas legais de parcelamento, uso e ocupação do solo;
sem a mínima condição de infraestrutura e sem planejamento. Esse tipo de
construção geralmente causa uma enorme degradação ambiental e prejuízos
à qualidade de vida, além de não possuir acesso a qualquer serviço público.

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A Regularização Fundiária, apresentada pela Lei 13.465 de 2017 e o Decreto 9.310 de
2018, vem para conceder o direito de posse, que é garantia para quem vive em terrenos
irregulares, e assim reduzir os impactos causados pela cidade informal.
Diversos municípios não possuem equipe capacitada para todas as etapas que a
Regularização Fundiária traz. Isso faz com que a Regularização Fundiária, seja Urbana ou
Rural, seja esquecida e perca espaço para a formação de novos núcleos informais.

Aqui buscamos dar um passo a passo para auxiliar novos projetos de regularização ao
redor do Brasil, de forma que possamos proporcionar o acesso ao direito de propriedade
para nossas famílias.

Quais são as etapas envolvidas no processo de Regularização Fundiária


Urbana?

O projeto de Reurb é definido pelas seguintes fases:

Fase 1 – Requerimento aos legitimados


(Art.14 da Lei Federal 13.465/2017 e Art. 7 do Decreto 9.310/2018)

O processo de regularização fundiária começa com a abertura de um processo


administrativo de Reurb (Regularização Fundiária Urbana) na prefeitura. O requerimento
nada mais é que o pedido da pessoa interessada na regularização, para que a prefeitura
inicie, então, o processo administrativo.

Ele pode ser solicitado por qualquer uma das partes abaixo:

• A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, diretamente ou através


de entidades da administração pública indireta;
• Os seus beneficiários de forma individual ou coletiva, ou através da associação
de moradores;
• Os proprietários de imóveis ou terrenos, loteadores e incorporadores;
• A Defensoria Pública, em nome dos beneficiários hipossuficientes (aqueles
que não podem custear qualquer despesa sem comprometer sua qualidade
de vida);
• O Ministério Público.

O requerimento deverá ser feito ao município em que se situa o núcleo a ser regularizado.
Já quando o próprio município for o requerente, este deverá instaurar o procedimento de
ofício.

Fase 2 – Procedimento administrativo


(Art.31 da Lei Federal 13.465/2017 e Art. 24 Decreto 9.310/2018)

A partir de seu início, o poder público tem 180 dias para classificar e fixar uma das
modalidades de Reurb abaixo, ou indeferir, desde que explique o motivo. (Art.30, §2º da
Lei Federal 13.465/17 e Art.23, §2º do Decreto 9.310/18)

Classificações: (Art.13 da Lei 13.465 e Art.5 do Decreto 9.310)

• Reurb-S – Regularização Fundiária aplicável aos núcleos urbanos informais,

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ocupados predominantemente por população de baixa renda, após declaração
do poder público municipal ou distrital. Os beneficiários não pagam o
requerimento, taxas e registro no cartório. O lote é regularizado de forma
gratuita.
• Reurb-E – Regularização Fundiária aplicável aos núcleos urbanos informais
ocupados por população não qualificada em Reurb-S.

Notificação: (Art.31, §1º, §2º, §4º e §5º da Lei 13.465 e do Decreto 9.310)

Quanto à notificação, ela poderá ser encaminhada:

• Por AR (Aviso de Recebimento – serviço complementar à postagem, que


permite a comprovação da entrega do recebedor e validade jurídica), no
endereço em que constar da matrícula ou transcrição.
• Por edital, apresentando de forma resumida a descrição da área a ser
regularizada.

Em ambos os casos, o prazo de manifestação é de 30 dias.

Fase 3 – Elaboração do Projeto de Regularização Fundiária – PRF


(Art. 35 e da Lei 13.465 e Art.30 do Decreto 9.310)

São necessários os seguintes procedimentos:

1. Levantamento planialtimétrico cadastral, com georreferenciamento,


subscrito por profissional competente. Esse levantamento demonstrará as
unidades habitacionais, as construções, o sistema viário, as áreas públicas,
os acidentes geográficos e os demais elementos caracterizadores do núcleo
a ser regularizado. Ele é acompanhado de Anotação de Responsabilidade
Técnica (ART) ou Registro de Responsabilidade Técnica (RRT).

Ou seja, nesta parte o serviço de engenharia vai a campo para coletar dados,
como a metragem das casas, e faz todo um relatório com as características
dos imóveis e terrenos, com exatidão.

2. Cadastro Social, realizado a partir do levantamento planialtimétrico


cadastral da área a ser regularizada (elemento essencial do projeto de
regularização), tendo como objetivo a pesquisa detalhada das condições
sociais e econômicas dos moradores de cada lote que será regularizado.

Nesta fase o assistente social, ou outro profissional devidamente capacitado bate de


porta em porta para saber a situação de cada família e quem receberá a documentação
e responderá pelo imovel.

Fase 4 – Saneamento do processo administrativo

Nessa etapa, o município analisa todo o processo de regularização fundiária novamente,


além de todos os dados dos beneficiários e dos projetos que foram realizados na fase
2 e 3. É muito importante que o poder público verifique se foram cumpridos todos os
requisitos contidos na lei.

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Entre as correções, podemos citar:

• Correção no projeto de Regularização;


• Ajustes relativos à situação do domínio da área;
• Realização de notificação complementar se for o caso;
• Correções no procedimento de cadastro;
• Ações voltadas a corrigir erros ocorridos durante o processo administrativo.

Fase 5 – Decisão da autoridade competente

É o pronunciamento da autoridade competente (prefeito ou secretário municipal), que


decide se aprova o processamento administrativo da Reurb (Art.40 da Lei 13.465 e Art.37
do Decreto 9.310) e deverá:

1. Indicar as intervenções a serem executadas, se for o caso, conforme o projeto


de Reurb aprovado;
2. Aprovar o projeto de Regularização Fundiária resultante do processo de Reurb;
3. Identificar e declarar os ocupantes de cada unidade imobiliária com destinação
urbana regularizada, e os respectivos direitos reais.

Esse pronunciamento, muitas vezes, é feito através de decreto (ato geral ou individual,
emitido pelo prefeito, que serve como decisão para determinado assunto) e publicado no
mural de avisos ou no próprio site da prefeitura.

Fase 6 – Expedição da CRF (Certidão de Regularização Fundiária)

A Certidão de Regularização Fundiária é o ato administrativo de aprovação da Reurb, que


deverá acompanhar o projeto aprovado. O documento é emitido pela prefeitura municipal
e depois encaminhado para o cartório, juntamente com toda a documentação que foi
levantada nas demais fases. (Art. 41 da Lei 13.465 e Art.38 do Decreto 9.310) Ele deverá
conter:

1. O nome do núcleo (bairro) urbano regularizado;


2. A localização;
3. As modalidades de Regularização (Reurb-S ou Reurb-E);
4. As responsabilidades das obras e serviços constantes do cronograma (no
caso em que o poder público realizará melhorias nos serviços urbanos);
5. A indicação numérica de cada unidade regularizada, quando houver;
6. A listagem, contendo os nomes dos ocupantes que houverem adquirido
a unidade por título de legitimação fundiária, assim como o estado civil;
profissão; o número de inscrição no cadastro das pessoas físicas do Ministério
da Fazenda; o número do Registro Geral da Cédula de Identidade; e filiação.

Todos os atos da Regularização Fundiária podem ser acompanhados nos murais de avisos
da prefeitura e associação comunitária.

Fase 7 – Registro da CRF e do Projeto de Reurb

Nesta etapa o projeto é encaminhado ao cartório de registro de imóveis. (Art.42 ao 54 da


Lei Federal 13.465 e art.40 ao 52 do Decreto 9.310).

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O registro da CRF e do projeto de Regularização Fundiária aprovado será requerido pelo
município, diretamente ao oficial do cartório de registro de imóveis, e será efetivado,
independente de determinação judicial ou do ministério público.

O oficial do registro poderá se recusar a realizar o registro, hipótese na qual deverá ser
justificado o motivo.

Após o recebimento dos documentos, o oficial irá:

1. Abrir nova matrícula, quando for o caso;


2. Abrir matrículas individualizadas para os lotes e áreas públicas resultantes do
projeto de regularização fundiária aprovado;
3. Registrar os direitos reais indicados na CRF junto às matrículas dos respectivos
lotes, dispensada a apresentação de título individualizado;

O procedimento registral deverá ser concluído no prazo de sessenta dias, prorrogável por
até igual período, mediante justificativa fundamentada do oficial do cartório de imóveis.
Após realizado o procedimento, o cartório emitirá os títulos de propriedade, que serão
entregues a cada titular.

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O Students For Liberty Brasil tem procurado, através de ações regionais e nacionais,
instigar o debate público sobre o problema da habitação, ainda tão deficitária no Brasil,
por falta de políticas públicas que garantam o direito constitucional da propriedade aos
moradores de comunidades faveladas.

Nossos documentários
Entre os projetos realizados pelo país, está o documentário New Hope. O filme em
360º acompanha a realidade dos moradores da comunidade de Nova Esperança, em
São Paulo, mostrando como o direito à residência é um gerador de dignidade humana,
principalmente àqueles que se encontram marginalizados da sociedade.

Outro ponto de atuação do Students For Liberty Brasil é o documentário “Título de


Dignidade”. Seu objetivo é promover e dar espaço ao debate sobre os direitos de
propriedade como a melhor solução para a crise das favelas no Brasil. O documentário
conta com 3 episódios:

• Episódio 1 – Como as favelas surgiram – 19:43 minutos


• Episódio 2 – A favela pode vencer? – 23:17 minutos
• Episódio 3 - Preparando um Brasil diferente – 14:50 minutos

Experiências de regularização fundiária


Atualmente, diversas cidades têm adotado medidas para regularizar a situação daqueles
que vivem em imóveis irregulares. No caso de Barroso, cidade do Sudeste de Minas
Gerais, foram entregues cerca de 180 títulos de propriedade em 2021 e há programação
de 2.620 entregas em 2022, através do trabalho realizado por Vitor Graçano, voluntário
do SFLB que atua em Projetos de Regularização Fundiária em Minas Gerais.

Quando entregamos os títulos de propriedade entregamos sonhos,


projetos e direito à moradia digna, as pessoas deixam de ser
possuidoras e passam a ser proprietárias. É através da entrega
dos títulos que nós avançamos na criação de Políticas Públicas
que garantam a moradia digna, direito garantido na Constituição
Federal. É a gratidão das famílias que nos dá força para seguirmos
lutando por cidades mais justas.

Vitor Graçano

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10257.htm

https://legislacao.presidencia.gov.br/
atos/?tipo=LIM&numero=601&ano=1850&ato=8350TPR9EeJRVT7f0

https://studentsforliberty.org/brazil/blog/sfler-lidera-programa-regularizacao-
fundiaria/

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6766.htm

OVANDO JÚNIOR, Altivo. Regularização Fundiária Urbana: Comentários à Lei


13.465/2017. I edição. Belo Horizonte, MG: Editora Del Rey, 2021.

RIBEIRO, Amarolina. Contrastes nas favelas. Brasil Escola. Disponível em: https://
brasilescola.uol.com.br/brasil/contrastes-nas-favelas.htm. Acesso em 21 de janeiro de
2022.

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