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INTRODUÇÃO 2
REFERÊNCIAS 19
As favelas são tão comuns à paisagem das cidades brasileiras que acreditamos que elas
sempre estiveram lá. Quase como se a vida na cidade dependesse da existência deste
tipo de aglomeração urbana. E como se os moradores que lá vivem fossem condenados
pelo acaso àquela vida.
Mas isso não é verdade. Como você verá neste e-book, favelas são o produto direto da
intervenção estatal.
Seja expulsando os pobres das suas casas, seja simplesmente os impedindo de construir
novas moradias, o estado brasileiro é o principal responsável por condenar milhões de
pessoas à uma vida inteira em habitações subnormais.
Felizmente, há muito o que podemos fazer para mudar esta situação. Se na primeira
parte do livro você entenderá como chegamos aqui, na segunda você compreenderá o
que deve ser feito. O melhor de tudo? Não precisamos esperar por políticos para mudar
essa situação.
Esperamos que este material possa ser um ponto de virada e sirva como guia para todos
aqueles que querem devolver aos pobres o que é seu por direito.
Entretanto, o ambiente vinha sendo moldado há cerca de 40 anos para que isso ocorresse da
forma menos dolorosa possível — para os donos de escravos.
Por pressão inglesa, o Brasil já havia começado a dar alguns passos em direção ao fim da
escravidão.
A mais emblemática e ineficaz “lei para inglês ver”, a Lei Feijó, foi sancionada em 1832, dando
nominalmente a liberdade a escravos desembarcados no país. Somente em 1850 a Lei
Eusébio de Queirós proibiu efetivamente o tráfico de escravos para o território nacional. O fim
da escravidão no Brasil estava, ao menos, bem sinalizada, embora outras medidas também
tenham servido para estender a vida do regime.
Em 1871, a chamada Lei do Ventre Livre foi aprovada, “libertando” os filhos de escravos
— que ficariam sob os “cuidados” dos seus senhores ou do estado até os 21 anos, isto é,
permaneceriam escravizados até esta idade. Em 1885, a Lei dos Sexagenários, “libertou” os
escravos com mais de 65 anos — efetivamente dando uma licença de descarte dos escravos
aos senhores. Finalmente, a “abolição” ocorreu com a Lei Áurea.
Era de se esperar que medidas assim servissem para a continuação da manutenção do poder
estatal. Entretanto, nenhuma delas se compara à desumanidade que seria perpetuada até
hoje pela Lei de Terras, menos famosa, de vinte anos antes.
A Lei de Terras
Aprovada apenas duas semanas após a Lei Eusébio de Queirós, a lei nº 601 de 18 de
setembro de 1850 foi na direção contrária da sua contraparte americana.
Nos Estados Unidos, o Homestead Act permitiu a qualquer pessoa ter a posse de uma
propriedade de 64 hectares. Bastava trabalhar nela durante cinco anos.
No Brasil, a Lei de Terras impediu que qualquer terra pudesse ser apropriada através do
trabalho. A partir daquele momento, qualquer nova propriedade deveria ser comprada
diretamente do estado em leilões com pagamento à vista.
Não se sabe se a legislação foi feita de caso pensado. No entanto, o seu principal efeito
foi impedir que escravos recém-libertos e os estratos mais pobres do país encontrassem
trabalho longe das propriedades dos senhores. Faz-se mister notar que tais propriedades,
por diversas vezes, haviam sido recebidas como doações da Coroa portuguesa e, mais
tarde, do Governo Imperial.
Os Cortiços
Recém libertos, sem-terra e impedidos pelo estado de conseguir uma boa parte dos
ex-escravos, passou a ocupar moradias coletivas nos centros das cidades, o chamado
“cortiço”.
Este tipo de habitação surgiu após a chegada de D. João VI ao Rio de Janeiro. Na ocasião,
a fim de acomodar a família real e seu séquito, a Coroa expulsou 30% dos moradores das
cidades de suas casas.
Ocorre que cortiços são sub-habitações. Aluísio Azevedo na famosa obra homônima,
descreve o lugar como um “paraíso de vermes”, “viveiro de larvas sensuais”, “aquela em
que se matam homens sem a polícia descobrir os assassinos”.
A ideia de retirar os pobres de suas únicas habitações não encontrou resistência. De fato,
tais medidas eram defendidas como uma forma de proteger quem estava na pobreza
da “ganância” dos empresários da construção civil. O Dr. Xavier Azevedo, membro da
Comissão de Saúde criada para investigar as condições dos cortiços acreditava que:
Mas existe um problema que pode ser facilmente resolvido com apenas uma canetada.
Em 2011, as pesquisadoras Maria Isabel Andrade e Valéria de Toledo Pero foram a campo
registrar os impactos da regularização fundiária na comunidade de Quinta do Caju, no Rio
de Janeiro.
Comparando as casas do mesmo local que não tinham entrado no programa de concessão
de títulos de propriedade com as que receberam seu registro, constatou-se que as
últimas tiveram um incremento que variou de 20% a 32% na renda domiciliar.
Estas conclusões não são de um economista liberal, mas dos principais afetados pelo
projeto: os moradores.
O poder dos direitos de propriedade é tão forte que foram capazes de enfrentar um grupo
terrorista e vencê-lo.
Nas décadas de 80 e 90, o Peru era flagelado pelo grupo marxista terrorista Sendero
Luminoso. Contando com o apoio informal da população pobre, que compartilhava com
Abimael Guzmán, líder do Sendero, uma profunda desconfiança com as elites peruanas,
o grupo chegou a controlar 60% do território do país.
Para vencer o terrorismo, De Soto propôs uma mudança de paradigma. Em vez de olhar os
pobres como pessoas que desesperadamente precisam de ajuda, que tal olhá-los como
pessoas dispostas a trabalhar?
As dificuldades não são muito diferentes das encontradas no Brasil. Em nosso país é
proibido dar a própria residência como garantia de um empréstimo para um banco. Tudo
bem para quem tem dinheiro e outros bens, péssimo para quem precisa de crédito para
comprar um carrinho de cachorro quente e começar a acumular capital.
Hernando de Soto estima que, entre situações como a do Brasil e propriedades não
reconhecidas formalmente, cerca de US $9,3 trilhões estão impedidos de participar da
economia mundial.
Até mesmo a estética da comunidade pode ser alterada graças ao poder dos direitos
de propriedade. É relativamente comum encontrar televisões de LCD e outros bens de
consumo “supérfluos” dentro de barracos caindo aos pedaços. Tal decisão, por incrível
que pareça, é completamente racional. Se um dia você for expulso, sempre poderá levar
sua televisão debaixo do braço, não uma parede.
A demanda por melhores condições de vida fez surgir movimentos sociais urbanos, como
movimentos por moradia e pela implantação ou melhoria dos serviços públicos.
A lei 6.766/79, conhecida como Lei de Parcelamento do Solo, define regras para o
loteamento (quando há necessidade de criação de novas ruas e infraestrutura para o
fracionamento de um lote), e desmembramento (quando é feita a subdivisão de um lote
urbano, sem demanda por novos logradouros) de terrenos, assim como casos onde estes
não são permitidos.
O Plano Diretor é uma lei municipal obrigatória para todas as cidades com mais de 20 mil
habitantes ou integrante de região metropolitana e serve para controlar e orientar o seu
crescimento e desenvolvimento.
Ele possui a missão de definir o zoneamento de todo território municipal, ou seja, definir
quais bairros serão residenciais, comerciais, industriais ou de proteção ambiental, assim
como as medidas permitidas para as ruas, casas, prédios e as distâncias entre todos os
imóveis do bairro.
Grande parte dessa legislação dificultou e ainda dificulta o acesso à terra urbanizada por
uma parte considerável da população. Para que a população de baixa renda tenha acesso
à moradia, precisamos retirar a burocracia que existe em diversos programas sociais.
Regulamentado a partir da lei 11.888/2018, a legislação prevê que famílias de baixa renda
possam receber dos municípios assistência técnica para o projeto e a construção de
habitação de interesse social.
• Tenham renda mensal de até 3 (três) salários mínimos, isto é, a renda somada
de todos os indivíduos que compõem o núcleo familiar não pode ultrapassar
este valor;
• Sejam proprietárias do imóvel;
• Possuam apenas um imóvel em todo território nacional;
• Ser residente em áreas urbanas ou rurais - regularizadas ou passíveis de
regularização.
Apesar de previsto em lei, nem todos os municípios têm programas de ATHIS. No entanto,
não é incomum que instituições de ensino com cursos voltadas para Arquitetura,
Urbanismo, Engenharia Civil, e Construções de Edificações mantenham projetos próprios
seguindo o modelo previsto na legislação.
Aqui buscamos dar um passo a passo para auxiliar novos projetos de regularização ao
redor do Brasil, de forma que possamos proporcionar o acesso ao direito de propriedade
para nossas famílias.
Ele pode ser solicitado por qualquer uma das partes abaixo:
O requerimento deverá ser feito ao município em que se situa o núcleo a ser regularizado.
Já quando o próprio município for o requerente, este deverá instaurar o procedimento de
ofício.
A partir de seu início, o poder público tem 180 dias para classificar e fixar uma das
modalidades de Reurb abaixo, ou indeferir, desde que explique o motivo. (Art.30, §2º da
Lei Federal 13.465/17 e Art.23, §2º do Decreto 9.310/18)
Notificação: (Art.31, §1º, §2º, §4º e §5º da Lei 13.465 e do Decreto 9.310)
Ou seja, nesta parte o serviço de engenharia vai a campo para coletar dados,
como a metragem das casas, e faz todo um relatório com as características
dos imóveis e terrenos, com exatidão.
Esse pronunciamento, muitas vezes, é feito através de decreto (ato geral ou individual,
emitido pelo prefeito, que serve como decisão para determinado assunto) e publicado no
mural de avisos ou no próprio site da prefeitura.
Todos os atos da Regularização Fundiária podem ser acompanhados nos murais de avisos
da prefeitura e associação comunitária.
O oficial do registro poderá se recusar a realizar o registro, hipótese na qual deverá ser
justificado o motivo.
O procedimento registral deverá ser concluído no prazo de sessenta dias, prorrogável por
até igual período, mediante justificativa fundamentada do oficial do cartório de imóveis.
Após realizado o procedimento, o cartório emitirá os títulos de propriedade, que serão
entregues a cada titular.
Nossos documentários
Entre os projetos realizados pelo país, está o documentário New Hope. O filme em
360º acompanha a realidade dos moradores da comunidade de Nova Esperança, em
São Paulo, mostrando como o direito à residência é um gerador de dignidade humana,
principalmente àqueles que se encontram marginalizados da sociedade.
Vitor Graçano
https://legislacao.presidencia.gov.br/
atos/?tipo=LIM&numero=601&ano=1850&ato=8350TPR9EeJRVT7f0
https://studentsforliberty.org/brazil/blog/sfler-lidera-programa-regularizacao-
fundiaria/
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6766.htm
RIBEIRO, Amarolina. Contrastes nas favelas. Brasil Escola. Disponível em: https://
brasilescola.uol.com.br/brasil/contrastes-nas-favelas.htm. Acesso em 21 de janeiro de
2022.