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ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR “CEL MILTON FREIRE DE ANDRADE”

DIVISÃO DE ENSINO E PESQUISA – DEP


CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS – CFO/2023
SOCIOLOGIA APLICADA À SEGURANÇA PÚBLICA

Auguste Émile
Comte Durkheim

Introdução ao Estudo da Sociologia

Max Karl
Weber Marx

Docentes
Cel PM RR Marcos Baptista MENDES – MsC.
Profª. HILDERLINE Câmara de Oliveira – Drª.
Cap PM MOAB Batista de Lucena – MsC

2023
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DIVISÃO DE ENSINO E PESQUISA – DEP
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SOCIOLOGIA APLICADA À SEGURANÇA PÚBLICA

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA SOCIOLOGIA

1 O QUE É SOCIOLOGIA?

As Ciências Sociais (Sociologia, Antropologia, Economia e Política) constituem


um ramo que engloba as ciências cujo objeto de estudo se relaciona com as
atividades, o comportamento humano e a interação social a partir da análise das
manifestações materiais ou simbólicas da sociedade. Assim, a Sociologia é uma
ciência social, que surgiu no século XIX decorrente da necessidade de se
compreender os problemas sociais decorrentes da industrialização ocorrida no século
XVIII.

Seu objetivo maior é compreender e analisar com profundidade a realidade social


em sua complexidade, tendo como objeto as interações sociais propriamente ditas e
a realidade social, ou seja, os fatos sociais 1. Em seu conceito mais basilar, “pode ser
entendida como o estudo científico do comportamento humano que é construído pela
sociedade ou o estudo das interações humanas” 2. Ela examina questões como
estrutura social, desigualdade, mudança social, cultura, instituições sociais e
interações humanas.

2 DA FILOSOFIA SOCIAL ÀS CIÊNCIAS SOCIAIS

Ao retroceder no tempo, aos períodos anteriores à industrialização, percebe-se


que havia uma preocupação de caráter mais filosófico quanto aos fenômenos sociais
e, assim, buscava-se encontrar soluções visando remediar as crises. Essa
preocupação era notoriamente centrada na proposição de formas ideais e normas de
organização da sociedade, em lugar de procurar compreender sua real organização.

A sociedade e as questões sociais eram pensadas de forma fragmentada, sob


a ótica da filosofia ética e da religião, isto é, o assunto era tratado com base no
dogmatismo religioso e na influência teológica.

1
Fato Social, de acordo com o pensamento de Émile Durkheim, consiste em “toda maneira de agir, fixa
ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então ainda, toda maneira de
fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresentando uma existência própria,
independente das manifestações individuais. (DURKHEIM, 2005, p. 52)
2
DIAS, 2006, p. 15.
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Ao final do século XIV e início do século XV, com o advento do movimento


chamado Renascimento, ocorreu a libertação do pensamento dogmático católico,
passando-se a uma reflexão caracterizada pela objetividade e pelo realismo baseado
na experimentação, com o propósito de oferecer uma explicação aos fenômenos da
natureza e dos problemas sociais, o que leva ao desenvolvimento das ciências
naturais. Essas condições favorecem a constituição das Ciências Sociais enquanto
um campo do saber, e o contexto histórico e intelectual do século XV, teve relevância
nessa construção. Naquele período, a Europa passou por uma série de mudanças
que iriam transformar profundamente a sociedade e a cultura ocidentais, mudanças
essas promovidas por alguns fatores relevantes, conforme é apresentado a seguir.

1.1 Fatores Socioculturais

1.1.1 A Crise do Feudalismo

A crise do feudalismo, que ocorreu aproximadamente entre os séculos XIV e


XV, trouxe diversas consequências que afetaram significativamente a estrutura social,
política e econômica da Europa, ainda que não tenham ocorrido de forma homogênea
em todo o continente, variando de acordo com a região e o contexto histórico
específico. Aqui estão algumas das principais consequências dessa crise:

a. Declínio do sistema feudal

A crise do feudalismo resultou no enfraquecimento do sistema feudal como um


todo. O poder dos senhores feudais diminuiu, enquanto os camponeses, que
anteriormente estavam subordinados aos senhores, ganharam maior liberdade e
mobilidade social.

b. Crescimento do poder real

Os monarcas centralizaram e fortaleceram seu poder durante a crise feudal.


Eles aproveitaram a desordem e a fraqueza dos senhores feudais para ampliar sua
autoridade e controlar territórios anteriormente dispersos.

c. Surgimento da burguesia

A crise do feudalismo contribuiu para o surgimento da burguesia, uma classe


social composta por comerciantes, artesãos e profissionais urbanos. Essa nova classe

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social adquiriu riqueza e poder econômico à medida que as cidades cresceram e o


comércio se expandiu.

d. Mudanças nas relações de trabalho

A crise feudal levou a mudanças nas relações de trabalho. Com o declínio do


sistema feudal, os camponeses buscaram alternativas, como o trabalho assalariado
nas cidades ou a migração para terras livres. Isso resultou em transformações
significativas nas relações sociais e nas estruturas econômicas.

e. Aumento das tensões sociais

A crise do feudalismo gerou uma série de tensões sociais, uma vez que as
mudanças ocorridas ameaçavam as estruturas tradicionais de poder e privilégio. Os
camponeses revoltaram-se contra a exploração feudal, enquanto os senhores feudais
resistiam à perda de seus privilégios. Desta forma, ocorreu a desagregação da
sociedade feudal e consolida-se a sociedade capitalista.

f. Expansão do comércio e desenvolvimento urbano

Durante a crise feudal, ocorreu um aumento significativo do comércio,


impulsionado pelo crescimento das cidades e pela ascensão da burguesia. As rotas
comerciais se expandiram, estimulando a atividade econômica e o desenvolvimento
de centros urbanos.

g. Renascimento cultural

A crise do feudalismo também teve implicações culturais. O período pós-feudal


viu um renascimento cultural, conhecido como Renascimento, que foi marcado pela
valorização das artes, ciências e conhecimento humanista.

1.1.2 A Revolução Industrial e seus desdobramentos

A Revolução Industrial foi um período de transformação econômica e social que


ocorreu principalmente na Grã-Bretanha, entre o final do século XVIII e meados do
século XIX. Essa revolução teve um impacto significativo em todo o mundo e resultou
em mudanças profundas na produção, no trabalho, na tecnologia e nas condições de
vida das pessoas.

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O início da Revolução Industrial deu-se na Grã-Bretanha devido a uma


combinação de fatores, incluindo a disponibilidade de recursos naturais, como carvão
e minério de ferro, a expansão do comércio colonial, o acúmulo de capital através do
sistema bancário e o surgimento de uma classe empresarial empreendedora.

Uma das principais características da Revolução Industrial foi a transição da


produção artesanal para a produção em massa em fábricas. A introdução de máquinas
e tecnologias, como a máquina a vapor, permitiu a mecanização dos processos
produtivos, aumentando a eficiência e a produtividade. Isso levou ao surgimento de
indústrias têxteis, siderúrgicas e de mineração em grande escala.

Essas mudanças na produção também resultaram em transformações sociais


significativas:

a. Troca do trabalho agrícola pelo trabalho fabril

As pessoas deixaram o trabalho agrícola para trabalhar nas fábricas, em busca


de melhores oportunidades de emprego e salários mais altos. No entanto, as
condições de trabalho nas fábricas eram frequentemente precárias, com longas
jornadas de trabalho, salários baixos e falta de regulamentação.

b. Êxodo rural e o crescimento das cidades

A busca por trabalho nas fábricas fez com que levas populacionais saíssem do
campo para as cidades, provocando o crescimento desordenado das cidades, o que
gerou problemas de habitação, poluição e condições sanitárias precárias. A
exploração do trabalho infantil e a desigualdade social se agravaram.

c. Impacto nos transportes e nas comunicações

A construção de ferrovias e a invenção do telégrafo possibilitaram a expansão


dos mercados, o comércio em larga escala e a integração das economias. A criação
de um sistema ferroviário permitiu o transporte rápido e eficiente de mercadorias e
pessoas, sem falar nos barcos e navios a vapor.

d. Avanços tecnológicos

A Revolução Industrial impulsionou avanços áreas como a química, a


eletricidade e a medicina. Novas descobertas científicas e invenções revolucionaram
a forma como vivemos e trabalhamos, marcando o início da era moderna e preparando

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o terreno para a industrialização em outros países, desencadeando processos de


urbanização e transformação econômica em escala global.

e. Mudanças econômicas e sociais

A Revolução Industrial em sua evolução, promoveu o surgimento de um novo


modo de produção econômica, baseado no uso da máquina, na concentração de
capitais e na acumulação de riquezas, concorrendo, concomitantemente, para a
formação do proletariado e da consciência de classes.

f. Impacto ambiental

O surgimento e expansão da produção em massa nas indústrias, contribuiu


para a degradação dos recursos naturais, na busca por matéria-prima para as
atividades fabris, bem como, promoveu o aumento da poluição.

1.1.3 A Revolução Francesa

A Revolução Francesa, que ocorreu entre 1789 e 1799, apresentando como


lema a expressão “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, teve uma série de
consequências significativas que moldaram o curso da história não apenas da França,
mas também do mundo em geral.

A Revolução aboliu muitas das antigas instituições e práticas do Antigo Regime,


a exemplo dos privilégios da nobreza e do clero, os tribunais feudais e o sistema
desigual de impostos.

A queda Ancien Régime, que política e socialmente estava fundado na


monarquia absoluta, abriu caminho para a ascensão de ideais democráticos e
republicanos. Além disso, a promulgação da Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão (1789) estabeleceu como fundamentais os princípios de liberdade, igualdade
e fraternidade, para a sociedade, influenciando a moderna concepção dos direitos
humanos.

A Revolução promoveu o sentimento de nacionalismo, o qual, espalhado pela


Europa, influenciou outros movimentos revolucionários, não só no continente europeu,
todavia, inspirou movimentos de independência nas colônias da América Latina. O
nacionalismo levou à formação de Estados-nação e à definição das fronteiras em toda
a Europa.
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A França, a partir de então, modernizou-se e secularizou-se, implementando


reformas sociais, legais e educacionais, além de suprimir o poder político e social da
Igreja Católica.

1.2 Fatores Intelectuais

No início da Era Moderna, a Renascença estava em pleno curso, trazendo um


novo interesse pelo conhecimento humano, pelo racionalismo e pela valorização do
indivíduo. A invenção da imprensa por Johannes Gutenberg permitiu a disseminação
mais ampla do conhecimento, incluindo obras filosóficas e científicas.

Outro fator importante foi a Reforma Protestante, iniciada por Martinho Lutero
em 1517. A Reforma questionou a autoridade da Igreja Católica e provocou uma
ruptura na unidade religiosa da Europa. Esse movimento religioso gerou um clima de
questionamento das estruturas estabelecidas e abriu espaço para novas formas de
pensar e interpretar a sociedade.

Havia a necessidade de pensar os problemas provocados pelos


acontecimentos, questionar a sacralidade das organizações sociais, enquanto
produtos históricos e sujeitos a transformações a partir da realidade, o que representa
objetividade e criticidade.

Auguste Comte (1798-1857), filósofo e sociólogo francês, fundador do


Positivismo, empreendeu a primeira tentativa sistemática de caracterizar seu objeto,
método e problemas fundamentais, compreendendo que era necessário afastar os
preconceitos, as pressuposições, para atingir a neutralidade, imparcialidade e
objetividade. E isso leva a visualizar as implicações ideológicas conservadoras: “Se
as leis sociais são leis naturais, então a sociedade não pode ser transformada.”

Em 1839, Comte consagrou o termo “Sociologia”, ao empregá-lo em lugar da


expressão “física social”, como uma ciência autônoma que teria o objetivo de estudar
as leis que governam a sociedade e fornecer orientação para o progresso social. Ele
acreditava que a sociedade passava por três estágios evolutivos: o teológico, o
metafísico e o positivo.

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Figura 1: O que é Sociologia?

PROBLEMAS ADVINDOS DE ESTRUTURAS


SOCIAIS MAIS COMPLEXAS

Urbanização

Epidemias
Necessidade de
Problemas Sociais
Compreensão
Violência e Criminalidade

Desemprego
Sociologia

2 A SOCIOLOGIA CLÁSSICA

A Sociologia Clássica constitui a grande fonte de inspiração para os cientistas


sociais, pois, a partir dela, é possível compreender as são as bases pelas quais a
sociedade funciona e para onde está caminhando.

Ela contribuiu para a consolidação de uma mentalidade científica no tratamento


dos diversos campos das relações sociais, estabelecendo métodos e objeto próprios.
Além disso, valores que antes eram considerados de um ponto de vista histórico,
passaram a ser entendidos como frutos da interação humana.

A Sociologia, enquanto integrante do estudo das humanidades, é um campo do


saber relativamente jovem, se comparada às demais áreas, tendo se consolidado
cientificamente por volta do século XIX, com a obra de pensadores chamados
clássicos, cuja riqueza e profundidade das obras, constituem elementos básicos para
a explicação científica dos fenômenos sociais.

2.1 Os Pensadores da Sociologia Clássica

Dentre os pensadores da Sociologia Clássica, pode-se destacar, além de


Auguste Comte, como visto, considerado o fundador da Sociologia, a relevância de
Émile Durkheim, Karl Marx e Max Weber, autores que, a partir de suas respectivas

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obras, formaram uma base teórica consistente para o desenvolvimento de novos


estudos sociológicos, fomentando, desta feita, condições para que outros estudiosos
da Sociologia, ofertassem sua contribuição.

2.1.1 Émile Durkheim (1858 – 1917)

Foi um sociólogo francês, considerado um dos


pais fundadores da Sociologia Moderna, cujos
estudos têm uma abordagem fundamental na
compreensão da sociedade e seus componentes e
ajudaram a estabelecer essa disciplina como uma
ciência social distinta.

Durkheim estava interessado em


compreender como a sociedade se mantém unida e
como os indivíduos interagem dentro desta. Ele acreditava que os fenômenos sociais
deveriam ser estudados como entidades distintas e independentes das características
individuais dos membros da sociedade. Sua abordagem conhecida como
funcionalismo, enfatiza a interdependência entre os diferentes aspectos da sociedade.

Um dos conceitos centrais na obra de Durkheim é o de fato social, definido por


ele como padrões de comportamento, crenças e instituições que são externos aos
indivíduos e exercem controle sobre eles. São formas de pensar, agir e sentir,
compartilhadas por membros de uma sociedade, que existem independentemente das
vontades individuais e que, segundo Durkheim, têm uma existência objetiva e podem
ser estudados como fenômenos observáveis.

Outro conceito relevante no trabalho de Durkheim reside na coesão social. Ele


identificou dois tipos principais de solidariedade: a mecânica e a orgânica.

A solidariedade mecânica é caracterizada por uma forte coesão social baseada


na semelhança de crenças, valores e práticas, algo típico de sociedades tradicionais,
onde os indivíduos compartilham estilos de vida e papéis sociais semelhantes.

A solidariedade orgânica é baseada na interdependência e na divisão do


trabalho. É encontrada em sociedades modernas, onde os indivíduos têm funções

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especializadas e dependem uns dos outros para a sobrevivência e o funcionamento


social.

Durkheim destacou a importância das instituições sociais na manutenção da


ordem social. As instituições, como a família, a religião e o sistema educacional,
desempenham um papel crucial na socialização dos indivíduos e na transmissão de
normas e valores sociais. Elas fornecem uma estrutura e uma base estável para a
vida social.

Em seus estudos, ele também abrangeu o fenômeno do suicídio, tratado em


seu livro "O Suicídio: Um Estudo em Sociologia". De acordo com seus argumentos, o
suicídio não implicava unicamente em um ato individual, mas também um fenômeno
social. Durkheim identificou diferentes tipos de suicídio, como o suicídio egoísta
(resultante da falta de integração social) e o suicídio anômico (resultante da falta de
regulação social). Esses tipos de suicídio refletem os desequilíbrios e as tensões
presentes em uma sociedade.

Resumindo, a sociologia de Durkheim enfatiza a importância dos fatos sociais,


da solidariedade social e das instituições na compreensão da sociedade e suas
principais obras são:

. "Da Divisão do Trabalho Social" (1893) - discute a divisão do trabalho na


sociedade e como isso afeta a coesão social.

. "As Regras do Método Sociológico" (1895) - apresenta e defende a


abordagem metodológica da sociologia, delineando as regras que os sociólogos
devem seguir em suas pesquisas.

. "O Suicídio: Estudo Sociológico" (1897) - investiga as causas sociais do


suicídio, analisando dados estatísticos e desenvolvendo uma teoria sociológica para
explicar os padrões encontrados.

. "As Formas Elementares da Vida Religiosa" (1912) - explora a natureza e a


função da religião na sociedade, investigando as crenças e práticas religiosas das
sociedades primitivas.

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2.1.2 Karl Marx (1818 – 1883)

Filósofo, economista e sociólogo alemão,


conhecido por sua teoria do materialismo histórico e
sua crítica ao capitalismo.

A sociologia de Marx, conhecida como


marxismo, é uma teoria crítica que se concentra nas
relações sociais, nas estruturas de poder e na luta de
classes. Marx acreditava que a sociedade era
moldada pelas condições econômicas e que o motor
da mudança social era a luta entre a classe trabalhadora, que detinha os meios de
produção, e a classe capitalista, que detinha o poder econômico. s classes sociais era
o motor da mudança social.

O ponto central da teoria marxista é o conceito de materialismo histórico, que


postula que as relações sociais e as ideias são determinadas pela estrutura
econômica de uma sociedade. Ele argumentava que o modo de produção de uma
sociedade, isto é, como os bens materiais são produzidos e distribuídos, influencia
todas as outras esferas da vida social, incluindo a política, a cultura e as relações de
poder.

Segundo os argumentos de Marx, o capitalismo era um sistema injusto,


baseado na exploração dos trabalhadores. Assim, Marx identificou os dois principais
atores sociais na sociedade capitalista: a burguesia, que detém os meios de produção,
e o proletariado, que vende sua força de trabalho para sobreviver. Ele afirmava que a
burguesia explorava o proletariado, obtendo lucro com o trabalho excedente dos
trabalhadores e descreve esse processo de exploração como alienação. Marx afirmou
que o trabalho assalariado aliena os trabalhadores de sua própria essência e os
transforma em meros instrumentos de produção. Além disso, a alienação também
ocorre nas relações sociais, na medida em que os indivíduos se tornam isolados uns
dos outros e das suas próprias capacidades humanas.

A luta de classes desempenha um papel central na teoria de Marx. Ele previa


que, à medida que as contradições do capitalismo se aprofundassem, o proletariado
se conscientizaria de sua posição de exploração e se uniria em uma revolução para

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derrubar a burguesia. Essa revolução levaria à criação de uma sociedade socialista,


na qual os meios de produção seriam coletivamente controlados pelos trabalhadores.

Marx também criticou o Estado como uma instituição que servia aos interesses
da classe dominante. Ele via o Estado como um mecanismo de dominação e
opressão, utilizado pela burguesia para manter seu poder. Marx acreditava que, na
sociedade comunista, o Estado se tornaria obsoleto, pois não haveria mais classes
sociais em conflito.

De forma resumida, a sociologia de Karl Marx é uma teoria crítica que analisa
a sociedade a partir de uma perspectiva econômica e enfatiza a luta de classes como
o fator que leva à mudança social. Suas principais obras são:

. "O Manifesto Comunista" (1848) - escrito em parceria com Friedrich Engels,


este é um dos trabalhos mais conhecidos e influentes de Marx. Ele apresenta uma
visão geral da teoria marxista e argumenta a favor da luta de classes e da revolução
proletária.

. "O Capital" (Das Kapital) (1867) - considerada a principal contribuição de Marx


para a teoria econômica. Dividida em três volumes, Marx analisa a dinâmica do
capitalismo, sua exploração da classe trabalhadora e a teoria do valor-trabalho.

. "Contribuição para a Crítica da Economia Política" (1859) - examina as teorias


econômicas existentes no período e apresenta uma teoria própria acerca do valor-
trabalho e da mais-valia.

. "A Ideologia Alemã" (1845-1846) - publicada postumamente, essa obra é


considerada fundamental para a compreensão do pensamento de Marx. Nele, Marx
critica várias correntes filosóficas contemporâneas e desenvolve os conceitos de
materialismo histórico e alienação.

. "Grundrisse" (1857-1858) - conjunto de manuscritos econômicos que Marx


escreveu como um rascunho preparatório para "O Capital". Neles, Marx aborda
questões como a mercadoria, o trabalho assalariado, o dinheiro e o capital.

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2.1.3 Max Weber (1864 – 1920)

Sociólogo, economista e cientista político


alemão, Weber ficou conhecido por suas importantes
contribuições para o campo da Sociologia.

Weber desenvolveu uma teoria sociológica


abrangente que explorava várias dimensões da
sociedade e do comportamento humano. Seu
trabalho enfatizava a relevância da compreensão
interpretativa na Sociologia, procurando entender o
significado que as pessoas atribuem às suas ações sociais. Aliás, este é um dos
conceitos centrais na sociologia weberiana: ação social.

Para Weber, a ação social “significa uma ação que, quanto a seu sentido visado
pelo agente ou pelos agentes, se refere ao comportamento de outros, orientando-se
por este em seu curso”3, ou seja, consiste em qualquer comportamento humano que
seja orientado pela conduta de outros indivíduos, podendo ser motivada por uma
variedade de fatores, incluindo valores, interesses, crenças e emoções. Entretanto,
nem toda a ação é social, como, por exemplo, o fato de as pessoas abrirem
simultaneamente seus guarda-chuvas em meio a um temporal. Ele identificou quatro
tipos ideais de ação social: ação racional com relação a fins (quando os indivíduos
agem de forma calculada para alcançar objetivos específicos), ação racional com
relação a valores (quando os indivíduos agem de acordo com suas crenças e valores),
ação afetiva (quando os indivíduos agem de acordo com suas emoções) e ação
tradicional (quando os indivíduos agem de acordo com costumes e tradições
estabelecidas).

Outro conceito fundamental na sociologia de Weber é o de dominação. Weber


identificou três tipos ideais de dominação: dominação legal-racional (baseada em
regras e leis), dominação tradicional (baseada em tradições e costumes) e dominação
carismática (baseada na devoção e no carisma de um líder). Esses tipos de
dominação desempenham um papel crucial na estruturação das relações de poder
em uma sociedade.

3
WEBER, 1994, p. 3.
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Weber também desenvolveu a teoria da ação social e da racionalização. Ele


argumentava que a sociedade moderna estava se tornando cada vez mais
racionalizada, o que significava que os indivíduos estavam se orientando cada vez
mais por critérios racionais na tomada de decisões. Essa racionalização tinha
implicações em várias esferas da vida social, como a economia, a política e a religião.

Além disso, Weber estudou amplamente o papel da religião na sociedade. Ele


argumentava que as crenças religiosas e os sistemas de valores desempenhavam um
papel importante na formação das estruturas sociais e nas motivações dos indivíduos.
Weber foi especialmente conhecido por sua análise da ética protestante e do espírito
do capitalismo, argumentando que certos valores religiosos do protestantismo
ascético, como a busca pela salvação individual e a disciplina no trabalho,
contribuíram para o desenvolvimento do capitalismo moderno.

Em suma, a sociologia de Max Weber caracteriza-se por enfatizar a ação social,


na compreensão dos tipos de dominação e na análise da racionalização e do papel
da religião na sociedade. Suas principais obras são:

. "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo" (1904-1905) - examina a


relação entre o calvinismo e o desenvolvimento do capitalismo na Europa. Argumenta
que a ética religiosa protestante, com sua ênfase na disciplina, na busca do lucro e no
trabalho árduo, desempenhou um papel fundamental na formação do espírito
capitalista.

. "A Política como Vocação" (1919) - explora o conceito de política, analisando


o que significa ser um político e quais são os motivos e as aspirações que levam as
pessoas a se envolverem na política. Também discute os diferentes tipos de liderança
política e as características da ação política racional.

. "Economia e Sociedade: Fundamentos da Sociologia Compreensiva" (1922) -


coleção de ensaios de Weber que abrange diversos temas sociológicos. Ele discute a
relação entre a economia e outras esferas sociais, examina a burocracia como uma
forma de organização social, explora a relação entre o direito e a economia, entre
outros tópicos relevantes.

. "A Objetividade do Conhecimento nas Ciências Sociais e na Política Social"


(1904) - discute a natureza e os desafios do conhecimento nas ciências sociais.
Argumenta que os pesquisadores devem buscar a objetividade em suas análises, mas
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também reconhece a influência das perspectivas individuais e dos valores pessoais


na pesquisa sociológica.

. "A Religião dos Chineses" (1915) - analisa o confucionismo e outras formas


de religião na China. Ele explora as influências religiosas e culturais sobre a sociedade
chinesa, bem como as implicações dessas crenças para a organização social e
política.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Martins Fontes, 1999. (Ensino Superior).
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DIAS, Reinaldo. Fundamentos de sociologia geral. Campinas, SP: Editora Alínea, 2006.
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Ione de Andrade e Fausto N. Pellegrini. 2. ed. São Paulo: Ática, 1980. (Grandes Cientistas Sociais: 10)
OLIVEIRA, Hilderline Câmara de. As ciências sociais e os pensadores clássicos. Apresentação em
MS Power Point. 39 slides. Mensagem no WhatsApp: Grupo Sociologia, 05 Jun 2023. 13h4min. Acesso
em: 05 Jun 2023.
QUINTANEIRO, Tania; BARBOSA, Maria Lígia de Oliveira; OLIVEIRA, Márcia Gardênia Monteiro de.
Um toque de clássicos: Marx, Durkheim, Weber. 2. ed. rev. amp. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.
RODRIGUES, José Albertino (org.); FERNANDES, Florestan (coord.). Durkheim. Tradução Laura
Natal Rodrigues. 9. ed. 8. impr. São Paulo: Ática, 2005. (Grandes Cientistas Sociais: 1)
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______. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. 3. ed. Brasília, DF: UnB,
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