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DIRETORIA DE PRODUÇÃO EDUCACIONAL

PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIVERSOS

FICHA TÉCNICA DO MATERIAL


grancursosonline.com.br

CÓDIGO:
1052023624

TIPO DE MATERIAL:
Gran Juris Informativos

NOME DO ÓRGÃO:
STF

ÚLTIMA ATUALIZAÇÃO:
04/2023
SUMÁRIO
Direito Administrativo................................................................... 11
Conselhos de Fiscalização Profissional; Criação, Extinção e Reestruturação
de Órgãos Ou Cargos Públicos............................................................ 11
Direito Constitucional.................................................................... 11
Repartição de Competências; Processo Legislativo................................ 11
Direito Constitucional.................................................................... 14
Ordem Social; Assistência Social; Direito Social À Moradia..................... 14
Direito Constitucional.................................................................... 18
Organização Político-Administrativa; Repartição de Competências;
Política Tarifária de Energia Elétrica; Contrato de Concessão; Equilíbrio
Econômico-Financeiro....................................................................... 18
Direito Constitucional.................................................................... 20
Repartição de Competências; Meio Ambiente........................................ 20
Direito Ambiental.......................................................................... 20
Política Nacional do Meio Ambiente..................................................... 20
Direito Internacional..................................................................... 23
Cooperação Internacional; Internet; Compartilhamento de Dados........... 23
Direito Constitucional.................................................................... 23
Devido Processo Legal; Provas........................................................... 23
Direito Processual Penal.................................................................... 26
Execução Penal; Remição da Pena; Falta Grave; Perda de Dias Remidos... 26
Direito Constitucional.................................................................... 26
Organização dos Poderes; Poder Legislativo; Poder Judiciário; Atribuições;
Princípio da Separação de Poderes...................................................... 26
Direito Tributário........................................................................... 29
Impostos; Icms; Zona Franca de Manaus; Substituição Tributária........... 29
Direito Constitucional.................................................................... 29
Princípios Fundamentais; Limitações do Poder de Tributar; Imunidade
Tributária........................................................................................ 29
Direito Administrativo................................................................... 32
Agências Reguladoras; Infração Administrativa; Regulamentação............ 32
Direito Constitucional.................................................................... 32
Princípios Fundamentais; Direitos e Garantias Fundamentais; Princípio
da Legalidade; Organização Político-Administrativa............................... 32
Direito Administrativo................................................................... 35
Fundações Públicas; Serviço Público de Saúde; Regime Jurídico.............. 35
Direito Constitucional.................................................................... 35
Organização Político-Administrativa; Administração Pública; Ordem
Social; Saúde................................................................................... 35
Direito Administrativo................................................................... 37
Servidores Públicos; Regime de Subsídios; Percepção de Adicionais;
Polícia Rodoviária Federal.................................................................. 37
Direito Constitucional.................................................................... 37
Direitos e Garantias Fundamentais; Organização Político-Administrativa;
Administração Pública; Segurança Pública; Polícia Rodoviária Federal....... 37
Direito Constitucional.................................................................... 40
Organização dos Poderes; Poder Judiciário; Remoção e Promoção de
Juízes; Estatuto da Magistratura......................................................... 40
Direito Constitucional.................................................................... 42
Princípios Constitucionais; Administração Pública; Servidor Público.......... 42
Direito Previdenciário.................................................................... 42
Pensão............................................................................................ 42
Direito Constitucional.................................................................... 44
Princípios Constitucionais; Direitos e Garantias Fundamentais................. 44
Direito Administrativo................................................................... 44
Servidores Públicos; Agência Reguladora; Vedações.............................. 44
Direito Constitucional.................................................................... 46
Repartição de Competências; Energia Elétrica...................................... 46
Direito Previdenciário.................................................................... 49
13º Salário; Base de Cálculo; Contribuições Previdenciárias; Salário de
Contribuição e Salário de Benefício..................................................... 49
Direito Tributário........................................................................... 51
Impostos; Icms; Base de Cálculo; Energia Elétrica................................ 51
Direito Constitucional.................................................................... 51
Repartição de Competências.............................................................. 51
Direito Constitucional.................................................................... 54
Controle de Constitucionalidade; Efeitos da ......................................... 54
Declaração de Inconstitucionalidade.................................................... 54
Direito Processual Civil.................................................................. 54
Coisa Julgada; Limites; Relações de Trato ........................................... 54
Sucessivo........................................................................................ 54
Direito Tributário........................................................................... 54
Contribuições Sociais; Csll; Tributos Pagos de Modo Continuado.............. 54
Direito Constitucional.................................................................... 57
Repartição de Competências; Educação; ............................................. 57
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.................................... 57
Direito Constitucional.................................................................... 60
Tributação e Orçamento; Execução Orçamentária; Cultura..................... 60
Direito Processual Civil.................................................................. 62
Normas Fundamentais do Processo Civil;
Efetivação dos Julgados; Poderes do Magistrado; Adequação,
Razoabilidade, Necessidade e ............................................................ 62
Proporcionalidade............................................................................. 62
Direito Constitucional.................................................................... 62
Direitos e Garantias Fundamentais; Duração Razoável do Processo......... 62
Direito Processual Civil.................................................................. 64
Associações; Partes e Procuradores; .................................................. 64
Substituição Processual..................................................................... 64
Direito Constitucional.................................................................... 64
Direitos e Garantias Fundamentais; Associações................................... 64
Direito Administrativo................................................................... 66
Estatuto da Advocacia; Incompatibilidades........................................... 66
Direito Constitucional.................................................................... 66
Funções Essenciais À Justiça; Advocacia; Direitos e Garantias
Fundamentais; Administração Pública.................................................. 66
Direito Administrativo................................................................... 69
Servidor Público; Policiais Civis; Conselho; Sindicância.......................... 69
Direito Constitucional.................................................................... 69
Segurança Pública; Processo Legislativo; Direitos e Garantias
Fundamentais; Presunção de Inocência............................................... 69
Direito Constitucional.................................................................... 72
Repartição de Competências; Direito do Trabalho; Processo Legislativo;
Iniciativa de Leis.............................................................................. 72
Direito Financeiro.......................................................................... 74
Lei de Direitrizes Orçamentárias; Execução Orçamentária; Despesa de
Pessoal; Limitação............................................................................ 74
Direito Constitucional.................................................................... 74
Orçamento; Poder Judiciário; Ministério Público; Elaboração de Propostas
Orçamentárias; Autonomia Financeira................................................. 74
Direito Tributário........................................................................... 77
Contribuições Sociais; Contribuições Previdenciárias; Base de Cálculo;
Folha de Salários; Receita Bruta; Produção Rural; Senar........................ 77
Direito Constitucional.................................................................... 77
Ordem Social; Sistema Tributário Nacional; Repartição de Competências. 77
Direito Tributário........................................................................... 81
Sanções Tributárias; Multa Isolada; Crédito Tributário; Extinção;
Compensação.................................................................................. 81
Direito Constitucional.................................................................... 81
Direitos e Garantias Fundamentais...................................................... 81
Direito Tributário........................................................................... 83
Sanções Tributárias; Multa Isolada; Crédito Tributário; Extinção;
Compensação.................................................................................. 83
Direito Constitucional.................................................................... 83
Direitos e Garantias Fundamentais...................................................... 83
Direito Administrativo................................................................... 86
Concurso Público; Direito À Nomeação; Candidato Estrangeiro................ 86
Direito Constitucional.................................................................... 86
Direitos e Garantias Fundamentais...................................................... 86
Direito Constitucional.................................................................... 88
Repartição de Competências; Saúde; Plano de Saúde; Tratamento Médico-
Hospitalar; Fornecimento de Medicamentos; Pessoa Com Deficiência....... 88
Direito Constitucional.................................................................... 91
Repartição de Competências; Trânsito; Transporte................................ 91
Direito Administrativo................................................................... 91
Sistema Nacional de Trânsito; Infrações.............................................. 91
Direito Financeiro.......................................................................... 93
Orçamento; Diretrizes Orçamentárias; Despesas Com Pessoal; Limite;
Contratos de Terceirização de Mão de Obra; Lei de Responsabilidade
Fiscal.............................................................................................. 93
Direito Constitucional.................................................................... 93
Repartição de Competências; Direito Financeiro; Orçamento; Equilíbrio
Fiscal.............................................................................................. 93
Direito Penal................................................................................. 96
Norma Penal Em Branco; Tipicidade; Crimes Contra A Saúde Pública;
Infração de Medida Sanitária Preventiva.............................................. 96
Direito Constitucional.................................................................... 96
Repartição de Competências.............................................................. 96
Direito Processual Penal................................................................ 99
Jurisdição; Habeas Corpus................................................................. 99
Direito Constitucional.................................................................... 99
Poder Judiciário; Competência Jurisdicional Originária........................... 99
Direito Tributário......................................................................... 101
Impostos; Icms; Não Cumulatividade; Crédito Tributário; Substituição
Tributária...................................................................................... 101
Direito Constitucional.................................................................. 101
Sistema Tributário Nacional; Impostos dos Estados e do Distrito Federal;
Combustíveis................................................................................. 101
Apresentação Gran Juris Informativos do stf 

Olá, queridos alunos do Gran!

Sabemos que cada vez mais os concursos exigem do candidato o conhecimen-


to dos informativos de jurisprudência dos tribunais superiores. Independentemen-
te da banca, a cobrança é sempre certa!

Assim, saber como estudar informativos jurídicos é muito importante para


aqueles que estão prestando concursos públicos.

Com a ajuda do Gran Cursos Online, vamos demonstrar que não tem mistério
para estudar informativos! Vejamos algumas dicas rápidas.

1) Que informativos estudar?

Os concursos exigem o conhecimento tanto da jurisprudência do STF, quan-


to do STJ.

2) Como estudar os informativos?

Quanto aos informativos do STF, primeiramente verifique se não houve pe-


dido de vista de algum Ministro – esses julgados não foram concluídos e, por-
tanto, não serão usados pelos examinadores do concurso.

Diferentemente, os informativos divulgados pelo STJ já estão concluídos e a


conclusão do julgado vem em uma frase em negrito, logo no início do extrato.
Esses trechos em destaque são bastante utilizados em provas objetivas
e destacados nas nossas compilações de julgados. Nas provas subjetivas e
orais faz-se necessário entender também o raciocínio que levou o tribunal àquela
conclusão, pois esse aprofundamento é necessário para melhor fundamentar suas
respostas.
3) Crie hábito de revisão

Nós sabemos que o volume de matéria é bastante significativo e, por esse mo-
tivo, fazer revisões frequentes é imprescindível para a aprovação.

Com isso, tenha o hábito de revisar os estudos dos informativos para que você
tenha uma clara compreensão acerca do posicionamento dos tribunais superiores.
Aproveite o Gran Informativos para auxiliá-lo na revisão!

Com essas dicas, é certo que você terá um proveitoso estudo.

Boa leitura!

Professor Renato Borelli

RENATO BORELLI
Juiz Federal Substituto do TRF1. Foi Juiz Federal Substituto do
TRF5. Exerceu a advocacia privada e pública. Foi servidor público
e assessorou Desembargador Federal (TRF1) e Ministro (STJ).
Atuou no CARF/Ministério da Fazenda como Conselheiro (antigo
Conselho de Contribuintes). É formado em Direito e Economia,
com especialização em Direito Público, Direito Tributário e
Sociologia Jurídica.
GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

*Informativos: 1084, 1085, 1086, 1087, 1088

*Informativo: 1084

DIREITO ADMINISTRATIVO
CONSELHOS DE FISCALIZAÇÃO PROFISSIONAL; CRIAÇÃO,
EXTINÇÃO E REESTRUTURAÇÃO DE ÓRGÃOS OU CARGOS
PÚBLICOS

DIREITO CONSTITUCIONAL
REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS; PROCESSO LEGISLATIVO
Iniciativa de lei para a criação do Conselho Federal e dos Conse-

lhos Regionais de educação física - ADI 3.428/DF

Resumo:

É formalmente inconstitucional — por vício resultante da usurpa-


ção do poder de iniciativa (CF/1988, art. 61, § 1º, II, “a”) — lei fede-
ral de origem parlamentar que cria conselhos de fiscalização profis-
sional e dispõe sobre a eleição dos respectivos membros efetivos e
suplentes.

De acordo com a jurisprudência desta Corte, os conselhos de fiscalização


profissional, diante do caráter público da atividade que desenvolvem, pos-
suem natureza jurídica de autarquia e personalidade jurídica de direito públi-
co, com autonomia administrativa e financeira (1).
Nesse contexto, as autarquias que integram a Administração Pública fe-
deral, entre as quais se incluem os conselhos de fiscalização profissional, só
podem ser criadas por leis de iniciativa do Presidente da República (2) (3).

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

Essa regra constitucional encontra fundamento direto na separação de


Poderes, que, de um lado, garante ao Executivo a prerrogativa de controlar a
forma e o modo do funcionamento básico da Administração e, de outro, o juízo
de conveniência e oportunidade que informam os custos dessa organização.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou pro-
cedente a ação para declarar a inconstitucionalidade dos arts. 4º e 5º da Lei
9.696/1998 (4), com eficácia ex nunc, tendo em vista que a matéria já foi
supervenientemente regulamentada pela Lei 14.386/2022, cuja aprovação
derivou de projeto de lei de iniciativa do Poder Executivo federal.
(1) Precedente citado: MS 22.643.
(2) CF/1988: “Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias
cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados, do Senado
Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo
Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores, ao Procurador-Geral da República
e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. § 1º São
de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...) II – dispo-
nham sobre: a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na adminis-
tração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração;”
(3) Precedentes citados: ADI 2.249; ADI 3.061 e ADI 2.892.
(4) Lei 9.696/1998: “Art. 4º São criados o Conselho Federal e os Conse-
lhos Regionais de Educação Física. Art. 5º Os primeiros membros efetivos
e suplentes do Conselho Federal de Educação Física serão eleitos para um
mandato tampão de dois anos, em reunião das associações representativas
de Profissionais de Educação Física, criadas nos termos da Constituição Fede-
ral, com personalidade jurídica própria, e das instituições superiores de ensi-
no de Educação Física, oficialmente autorizadas ou reconhecidas, que serão
convocadas pela Federação Brasileira das Associações dos Profissionais de
Educação Física - FBAPEF, no prazo de até noventa dias após a promulgação
desta Lei.”

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

ADI 3.428/DF, relator Ministro Luiz Fux, julgamento virtual finalizado em


28.2.2023 (terça-feira), às 23:59

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

DIREITO CONSTITUCIONAL
ORDEM SOCIAL; ASSISTÊNCIA SOCIAL; DIREITO SOCIAL
À MORADIA
Validade do programa Bolsa Aluguel no Estado do Amapá - ADI

4.727/DF

Resumo:

É constitucional lei estadual que autoriza o Poder Executivo a ins-


tituir, no âmbito do ente federado, programa destinado ao pagamen-
to de aluguel de imóvel a famílias que residam em local de situação
de risco iminente ou que tenham seu imóvel atingido por catástrofes,
utilizando o valor do salário mínimo como parâmetro para a conces-
são do benefício de programa social.

A jurisprudência desta Corte é firme no sentido de que o salário mínimo


não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de ser-
vidor público ou de empregado (1), posicionamento que foi consolidado com
a edição do enunciado da Súmula Vinculante 4 (2). Contudo, na espécie, não
se trata de verba remuneratória de servidor, mas de benefício assistencial
destinado às pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica e cujo
valor do salário mínimo é previsto como o teto da quantia a ser paga, de
modo que não incide a proibição constitucional (CF/1988, art. 7º, IV) nem a
compreensão sumulada do Tribunal.
Ademais, não usurpa a competência privativa do chefe do Poder Execu-
tivo norma de origem parlamentar que, embora possa criar despesa para a
Administração Pública, não trata da estruturação ou atribuição de seus ór-
gãos, tampouco do regime jurídico de servidores, mas apenas determina o

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

pagamento de auxílio aluguel pelo Poder Público nas situações nela contem-
pladas (3).
É inconstitucional norma que estabelece prazos ao chefe do Poder
Executivo para a apresentação de projetos de lei ou para a regula-
mentação de disposições legais.
Na espécie, a lei amapaense impugnada, de iniciativa do Poder Legislativo,
criou obrigação ao Poder Executivo e fixou o prazo de 90 dias para a regula-
mentação da norma, em afronta ao princípio da separação dos Poderes (4),
sendo indiferente a finalidade da norma.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcial-
mente procedente a ação para declarar a inconstitucionalidade da expressão
“no prazo de 90 (noventa) dias”, contida no art. 8º da Lei 1.600/2011 do Es-
tado do Amapá (5).
(1) Precedente citado: RE 565.714.
(2) Súmula Vinculante 4: “Salvo nos casos previstos na Constituição, o
salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de
vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por de-
cisão judicial”.
(3) Precedentes citados: ARE 878.911 RG; RE 871.658 AgR; ADI 4.723 e
ADI 4.288.
(4) Precedentes citados: ADI 821; ADI 3.394; ADI 179 e ADI 4.052.
(5) Lei 1.600/2011 do Estado do Amapá: “Art. 1º. Fica o Poder Executivo
autorizado a instituir o Programa Bolsa Aluguel, que consiste na concessão
de benefício financeiro destinado ao subsídio para pagamento de aluguel de
imóvel a famílias que atendam os seguintes requisitos: I. Residam em as-
sentamentos precários e que devam ser removidas da área de risco iminente
que não seja passível de adequação urbanística; II. Estejam em área de de-
sadensamento ou adequação urbana, nos processos de urbanização de favela
e áreas de ressaca; III. Cuja residência tenha sido destruída por incêndio,
deslizamento, desmoronamento, vendaval, ou esteja totalmente interditada

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

pela Defesa Civil; IV. Tenham imóvel atingido por catástrofe, fato natural que
inviabilize a moradia ou qualquer fato análogo que impossibilite a moradia ou
exploração econômica do imóvel. Parágrafo único. Com base em avaliação
técnica, devidamente fundamentada, a indicação das famílias a serem bene-
ficiadas ficará sob a responsabilidade dos órgãos competentes da administra-
ção. Art. 2º. O Programa Bolsa Aluguel instituído por esta Lei destina-se às
famílias com renda familiar per capita de até 3 (três) salários mínimos, e será
efetuado na seguinte conformidade: I. Período máximo de 12 (doze) meses,
prorrogável pelo mesmo período; II. Caso não tenha ocorrido ainda o atendi-
mento definitivo pelos programas de habitação de interesse social; III. Desde
que mantida a pobreza da família beneficiária. § 1º. Por se tratar de benefício
financeiro exclusivamente destinado ao subsídio para pagamento de locação
de imóvel, os valores destinados a cada família não poderão ultrapassar a (1)
um salário mínimo. § 2º. É vedada a concessão do benefício a mais de um
membro da mesma família, sob pena de suspensão do benefício. Art. 3º. O
limite de renda per capita previsto no caput do artigo 2º não se aplica nos ca-
sos previstos no inciso IV do artigo 1º da presente Lei. Art. 4º. Nos casos de
catástrofe, ou qualquer outro fato análogo, a família não necessitará compro-
var rendimentos, sendo beneficiária do programa com a simples demonstra-
ção de perda ou deterioração de perda do imóvel residencial. Art. 5º. O paga-
mento às famílias deverá ser preferencialmente efetuado mediante depósito
bancário, com a indicação dos titulares para saques em dinheiro ou por meio
de cartão eletrônico. § 1º. A titularidade para o pagamento dos benefícios
será preferencialmente concedida à mulher responsável pela família. § 2º. O
pagamento dos benefícios deverá ser realizado diretamente ao beneficiário
ou, excepcionalmente, conforme o caso e a critério dos órgãos responsáveis,
ao locador. § 3º. A Administração Pública não será responsável por qualquer
ônus financeiro ou legal com relação ao locador, em caso de inadimplência ou
descumprimento de qualquer cláusula contratual por parte do beneficiário.
Art. 6º. A localização do imóvel, negociação de valores, contratação da loca-

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

ção e pagamento mensal aos locadores será responsabilidade do titular do


benefício. Parágrafo único. Caberá à Administração prestar orientação e apoio
técnico ao beneficiário de forma a viabilizar a correta utilização do benefício.
Art. 7º. Cessará o benefício, perdendo o direito a ele a família que: I - deixar
de atender, a qualquer tempo, aos critérios estabelecidos no caput dos artigos
1º e 2º da presente Lei; II - sublocar o imóvel objeto da concessão do bene-
fício; III - descumprir qualquer das cláusulas do Termo de Responsabilidade,
que deverá ser lavrado antes da concessão do primeiro benefício mensal. Art.
8º. O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de 90 (noventa) dias,
estabelecendo normas necessárias para operacionalização do Programa. Art.
9º. As despesas decorrentes da execução desta Lei correrão por conta de ver-
bas orçamentárias próprias, suplementadas se necessário. Art. 10. Esta Lei
entra em vigor na data de sua publicação.”
ADI 4.727/DF, relator Ministro Edson Fachin, redator do acórdão Ministro
Gilmar Mendes, julgamento finalizado em 23.2.2023

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

DIREITO CONSTITUCIONAL
ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA; REPARTI-
ÇÃO DE COMPETÊNCIAS; POLÍTICA TARIFÁRIA DE ENER-
GIA ELÉTRICA; CONTRATO DE CONCESSÃO; EQUILÍBRIO
ECONÔMICO-FINANCEIRO
Isenção de tarifa de energia elétrica em âmbito estadual aos con-

sumidores atingidos por enchentes - ADI 7.337 MC-Ref/MG

Resumo:

Há plausibilidade jurídica na alegação de inconstitucionalidade,


decorrente da incompatibilidade com o modelo de repartição de com-
petências — violação à competência da União para legislar sobre ener-
gia elétrica (CF/1988, art. 22, IV), para explorar, diretamente ou por
delegação, os serviços e instalações de energia elétrica (CF/1988,
art. 21, XI, “e”), e para dispor sobre política de concessão de serviços
públicos (CF/1988, art. 175, parágrafo único, III) —, de lei estadual
que confere ao governador poderes para conceder isenção de tarifa
de energia elétrica aos consumidores residenciais, industriais e co-
merciais atingidos por enchentes no estado.

Na linha da jurisprudência da Corte (1), leis estaduais não podem inter-


ferir em contratos de concessão de serviços federais, alterando as condições
que impactam na equação econômico-financeira contratual e afetando a or-
ganização do setor elétrico.
Na espécie, além da presença da fumaça do bom direito, vislumbra-se o
perigo da demora diante do iminente risco de se fazer impositiva a prestação
gratuita de energia elétrica apta a ensejar desequilíbrio econômico-financeiro

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

no contrato de concessão, visto que, no presente período do ano, ocorrem


fortes chuvas e enchentes no estado.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, referendou a li-
minar concedida para, até julgamento final do mérito, suspender os efeitos
dos arts. 2º, 3º e 4º (caput e parágrafo único), todos da Lei 23.797/2021 do
Estado de Minas Gerais (2).
(1) Precedentes citados: ADI 2.299; ADI 5.960; ADI 2.337 e ADI 6.912.
(2) Lei 23.797/2021 do Estado de Minas Gerais: “Art. 2º – A Companhia
Energética de Minas Gerais – Cemig – poderá, mediante ato do governador do
Estado, conceder isenção total da tarifa de energia elétrica aos consumidores
residenciais, industriais e comerciais atingidos por enchentes no Estado. Art.
3º – A isenção prevista nos arts. 1º e 2º aplica-se nos três meses subsequen-
tes ao período em que forem constatadas pelo poder público enchentes de
grande proporção nos municípios do Estado. Art. 4º – Os consumidores resi-
denciais, industriais e comerciais atingidos por enchentes deverão procurar
as empresas a que se referem os arts. 1º e 2º para a realização de cadastro
e a obtenção da isenção de que trata esta lei no período estabelecido. Pará-
grafo único – Caberá às empresas a que se referem os arts. 1º e 2º realizar a
fiscalização dos imóveis isentos na forma desta lei no período determinado.”
ADI 7.337 MC-Ref/MG, relator Ministro Alexandre de Moraes, julgamento
virtual finalizado em 28.2.2023 (terça-feira), às 23:59

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

DIREITO CONSTITUCIONAL
REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS; MEIO AMBIENTE

DIREITO AMBIENTAL
POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE
Proibição de destruição e inutilização de bens apreendidos em

operações de fiscalização ambiental - ADI 7.203/RO

Resumo:

É inconstitucional — por violar a competência da União para legis-


lar sobre normas gerais de proteção ao meio ambiente e sobre direito
penal e processual penal (CF/1988, arts. 24, VI e VII; e 22, I) — lei
estadual que proíbe os órgãos ambientais e a polícia militar de des-
truírem e inutilizarem bens particulares apreendidos em operações
de fiscalização ambiental.

O Poder Público e toda a sociedade possuem o dever de defender e preser-


var um meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo permitida a aplica-
ção de sanções penais e administrativas às condutas e atividades a ele lesivas
(CF/1988, art. 225, caput, e § 3º).
As diretrizes traçadas pela legislação editada pela União (Lei 9.605/1998
e Decreto 6.514/2008), em determinadas situações e atendidos todos os re-
quisitos, permitem o uso do poder de polícia quando constatada a infração
ambiental, adotando-se a medida administrativa de destruição e inutilização
dos produtos, subprodutos e instrumentos da infração (1) (2).
Nesse contexto, a sistemática adotada pela lei impugnada é incompatível
com a legislação federal, uma vez que o afastamento da sanção configura

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

extravasamento da atuação legislativa estadual em detrimento das diretrizes


gerais estabelecidas pela União, o que, de acordo com a jurisprudência desta
Corte é hipótese de reconhecimento de inconstitucionalidade formal (3).
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou pro-
cedente a ação para declarar a inconstitucionalidade da Lei 5.299/2022 do
Estado de Rondônia (4).
(1) Lei 9.605/1998: “Art. 25. Verificada a infração, serão apreendidos seus
produtos e instrumentos, lavrando-se os respectivos autos. (...) § 3º Tratan-
do-se de produtos perecíveis ou madeiras, serão estes avaliados e doados a
instituições científicas, hospitalares, penais e outras com fins beneficentes.
§ 4º Os produtos e subprodutos da fauna não perecíveis serão destruídos
ou doados a instituições científicas, culturais ou educacionais. § 5º Os ins-
trumentos utilizados na prática da infração serão vendidos, garantida a sua
descaracterização por meio da reciclagem. (...) Art. 72. As infrações admi-
nistrativas são punidas com as seguintes sanções, observado o disposto no
art. 6º: (...) IV - apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e
flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natu-
reza utilizados na infração; V - destruição ou inutilização do produto; (...) VIII
- demolição de obra; (...) § 6º A apreensão e destruição referidas nos incisos
IV e V do caput obedecerão ao disposto no art. 25 desta Lei.”
(2) Decreto 6.514/2008: “Art. 3º As infrações administrativas são punidas
com as seguintes sanções: (...) V - destruição ou inutilização do produto;
(...) Art. 101. Constatada a infração ambiental, o agente autuante, no uso
do seu poder de polícia, poderá adotar as seguintes medidas administrativas:
(...) V - destruição ou inutilização dos produtos, subprodutos e instrumen-
tos da infração (...) Art. 111. Os produtos, inclusive madeiras, subprodutos
e instrumentos utilizados na prática da infração poderão ser destruídos ou
inutilizados quando: I - a medida for necessária para evitar o seu uso e apro-
veitamento indevidos nas situações em que o transporte e a guarda forem
inviáveis em face das circunstâncias; ou II - possam expor o meio ambiente

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Mês de Março de 2023

a riscos significativos ou comprometer a segurança da população e dos agen-


tes públicos envolvidos na fiscalização. Parágrafo único. O termo de destrui-
ção ou inutilização deverá ser instruído com elementos que identifiquem as
condições anteriores e posteriores à ação, bem como a avaliação dos bens
destruídos (...) Art. 134. Após decisão que confirme o auto de infração, os
bens e animais apreendidos que ainda não tenham sido objeto da destinação
prevista no art. 107, não mais retornarão ao infrator, devendo ser destinados
da seguinte forma: (...) IV - os instrumentos utilizados na prática da infração
poderão ser destruídos, utilizados pela administração quando houver neces-
sidade, doados ou vendidos, garantida a sua descaracterização, neste último
caso, por meio da reciclagem quando o instrumento puder ser utilizado na
prática de novas infrações; V - os demais petrechos, equipamentos, veículos
e embarcações descritos no inciso IV do art. 72 da lei n. 9.605, de 1998, po-
derão ser utilizados pela administração quando houver necessidade, ou ainda
vendidos, doados ou destruídos, conforme decisão motivada da autoridade
ambiental;”
(3) Precedentes citados: ADI 6.650; ADI 6.672; ADI 5.675 e ADI
7.007 MC-Ref.
(4) Lei 5.299/2022 do Estado de Rondônia: “Art. 1º Fica proibido aos
órgãos ambientais de fiscalização e polícia militar do Estado de Rondônia,
a destruição e inutilização de bens particulares apreendidos nas operações/
fiscalizações ambientais no estado. Parágrafo único. Aos bens apreendidos na
prática de infrações ambientais serão dados a destinação que prevê o art. 25,
§ 5º, da Lei Federal n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 e/ou o disposto no
art. 105 do Decreto Federal n. 6.514, de 22 de julho de 2008.”
ADI 7.203/RO, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finaliza-
do em 28.2.2023 (terça-feira), às 23:59

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DIREITO INTERNACIONAL
COOPERAÇÃO INTERNACIONAL; INTERNET; COMPARTI-
LHAMENTO DE DADOS

DIREITO CONSTITUCIONAL
DEVIDO PROCESSO LEGAL; PROVAS
Possibilidade da requisição direta de dados feita por autoridades

nacionais a provedores no exterior - ADC 51/DF

Resumo:

As empresas de tecnologia que operam aplicações de internet no


Brasil sujeitam-se à jurisdição nacional e, como tal, devem cumprir
as determinações das autoridades nacionais do Poder Judiciário — in-
clusive as requisições feitas diretamente — quanto ao fornecimento
de dados eletrônicos para a elucidação de investigações criminais,
ainda que parte de seus armazenamentos esteja em servidores loca-
lizados em países estrangeiros.

A utilização apenas de mecanismos diplomáticos de obtenção de prova,


por se revelarem acordos complexos e morosos, dificulta a apuração de deli-
tos cometidos em ambiente virtual, razão pela qual, uma vez considerado o
avanço tecnológico, não devem ser ignoradas outras formas de cooperação
jurídica internacional, previstas em tratados e convenções internacionais que
objetivem dar maior celeridade à preservação da prova, tendo em vista que a
demora na obtenção dos dados pode ensejar a sua supressão.
Nesse contexto, nos termos do artigo 11 da Lei 12.965/2014, conhecida
como “Marco Civil da Internet” (1), cuja previsão encontra respaldo na Con-

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Mês de Março de 2023

venção sobre Crimes Cibernéticos de Budapeste (art. 18), deverá ser obriga-
toriamente respeitada a legislação brasileira relativamente a qualquer opera-
ção de coleta, armazenamento, guarda e tratamento de registros, de dados
pessoais ou de comunicações por provedores de conexão e de aplicações de
internet, em que pelo menos um desses atos ocorra em território nacional.
Ademais, inexiste inconstitucionalidade no procedimento do Acordo de As-
sistência Judiciária em Matéria Penal, previsto pelo Decreto 3.810/2001, nem
nas normas fixadas em dispositivos do Código de Processo Civil e do Código
de Processo Penal que tratam da cooperação jurídica internacional e da emis-
são de cartas rogatórias, em especial nos casos em que a comunicação ou a
prestação de serviços tenham ocorrido fora do território nacional.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, conheceu da
ação e no mérito, por unanimidade, a julgou parcialmente procedente para
declarar a constitucionalidade dos dispositivos indicados e a possibilidade de
solicitação direta de dados e comunicações eletrônicas das autoridades na-
cionais a empresas de tecnologia, nas específicas hipóteses do art. 11 do
Marco Civil da Internet e do art. 18 da Convenção de Budapeste, ou seja,
nos casos de atividades de coleta e tratamento de dados no País, de posse
ou controle dos dados por empresa com representação no Brasil e de crimes
cometidos por indivíduos localizados em território nacional, com comunicação
desta decisão ao Poder Legislativo e ao Poder Executivo, para que adotem as
providências necessárias ao aperfeiçoamento do quadro legislativo, com a
discussão e a aprovação do projeto da Lei Geral de Proteção de Dados para
Fins Penais (LGPD Penal) e de novos acordos bilaterais ou multilaterais para
a obtenção de dados e comunicações eletrônicas, como, por exemplo, a cele-
bração do Acordo Executivo definido a partir do Cloud Act.
(1) Lei 12.965/2014: “Art. 11. Em qualquer operação de coleta, armaze-
namento, guarda e tratamento de registros, de dados pessoais ou de comu-
nicações por provedores de conexão e de aplicações de internet em que pelo
menos um desses atos ocorra em território nacional, deverão ser obrigatoria-

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Mês de Março de 2023

mente respeitados a legislação brasileira e os direitos à privacidade, à prote-


ção dos dados pessoais e ao sigilo das comunicações privadas e dos registros.
§ 1º O disposto no caput aplica-se aos dados coletados em território nacional
e ao conteúdo das comunicações, desde que pelo menos um dos terminais
esteja localizado no Brasil. § 2º O disposto no caput aplica-se mesmo que as
atividades sejam realizadas por pessoa jurídica sediada no exterior, desde que
oferte serviço ao público brasileiro ou pelo menos uma integrante do mesmo
grupo econômico possua estabelecimento no Brasil. § 3º Os provedores de
conexão e de aplicações de internet deverão prestar, na forma da regulamen-
tação, informações que permitam a verificação quanto ao cumprimento da
legislação brasileira referente à coleta, à guarda, ao armazenamento ou ao
tratamento de dados, bem como quanto ao respeito à privacidade e ao sigilo
de comunicações. § 4º Decreto regulamentará o procedimento para apuração
de infrações ao disposto neste artigo.”
ADC 51/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento finalizado
em 23.2.2023

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DIREITO PROCESSUAL PENAL


EXECUÇÃO PENAL; REMIÇÃO DA PENA; FALTA GRAVE;
PERDA DE DIAS REMIDOS

DIREITO CONSTITUCIONAL
ORGANIZAÇÃO DOS PODERES; PODER LEGISLATIVO;
PODER JUDICIÁRIO; ATRIBUIÇÕES; PRINCÍPIO DA SEPA-
RAÇÃO DE PODERES
Art. 127 da LEP: perda de dias remidos por falta grave e revisão ou

cancelamento do enunciado da súmula vinculante 9 - RE 1.116.485/

RS (Tema 477 RG)

Tese fixada:

“1. A revogação ou modificação do ato normativo em que se fun-


dou a edição de enunciado de súmula vinculante acarreta, em regra,
a necessidade de sua revisão ou cancelamento pelo Supremo Tribunal
Federal, conforme o caso. 2. É constitucional a previsão legislativa de
perda dos dias remidos pelo condenado que comete falta grave no
curso da execução penal.”

Resumo:

Em regra, deve-se revisar ou cancelar enunciado de súmula vincu-


lante quando ocorrer a revogação ou a alteração da legislação que lhe
serviu de fundamento. Contudo, o STF pode concluir, com base nas
circunstâncias do caso concreto, pela desnecessidade de tais medidas.

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Mês de Março de 2023

O papel de última instância decisória e a função de órgão soberano sobre a


interpretação constitucional não foram conferidos constitucionalmente ao STF
de forma isolada e absoluta (1). Em um ambiente democrático, não se deve
atribuir a qualquer órgão, seja do Poder Judiciário, seja do Poder Legislativo,
a faculdade de pronunciar a última palavra sobre o sentido da Constituição.
Com efeito, visando promover o avanço e o aperfeiçoamento de soluções
democráticas às questões de interesse público, a interpretação constitucio-
nal deve perpassar por um processo de construção plural entre os Poderes
estatais — Legislativo, Executivo e Judiciário — e os diversos segmentos da
sociedade civil organizada.
O Poder Legislativo possui a prerrogativa de superar entendimentos vin-
culantes firmados por esta Corte, mas, a depender do instrumento normativo
adotado pelo Congresso Nacional, o caso concreto pode demandar posturas
distintas por parte do STF (2). Nesse contexto, o art. 5º da Lei 11.417/2006,
que regulamentou o art. 103-A da CF/1988, ofereceu solução para as hipóte-
ses em que haja modificação ou revogação do diploma legislativo em que a
edição da Súmula Vinculante tenha se fundado (3).
Assim, na hipótese de manifesta dúvida sobre a constitucionalidade da
lei superveniente de conteúdo divergente e da medida legislativa adotada,
o Poder Judiciário, quando provocado, pode se debruçar novamente sobre a
questão, de modo a estabelecer a prevalência ou não do conteúdo da Súmula
Vinculante no caso concreto, com a manutenção de seus efeitos.
É constitucional a perda dos dias remidos pelo condenado que co-
mete falta grave no curso da execução penal, nos termos previstos
pelo art. 127 da Lei 7.210/1984 (Lei de Execução Penal – LEP), na
redação dada pela Lei de 12.433/2011.
Na espécie, não se vislumbra superação legislativa inconstitucional em
relação aos mandamentos da Súmula Vinculante 9, mas um aperfeiçoamento
de sua redação, diante da superveniência da Lei 12.433/2011, que alterou o
art. 127 da LEP (4). A súmula — sem pretender tecer considerações a res-

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peito do conceito de falta grave ou da intensidade da perda dos dias remidos


(se total ou proporcional à falta grave cometida) — teve como principal fi-
nalidade fixar a tese de que a previsão legislativa de perda dos dias remidos
foi recepcionada pela nova ordem constitucional, de modo que não haveria
direito adquirido aos dias remidos em razão de estarem submetidos a regras
específicas. A alteração legislativa superveniente, por sua vez, apenas limitou
a 1/3 (um terço) o tempo remido suscetível de ser revogado pelo juiz ante o
cometimento de falta grave pelo condenado.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apreciar o
Tema 477 da repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário.
Nos termos do art. 5º da Lei 11.417/2006, o Tribunal resolveu aguardar o
julgamento das Propostas de Súmula Vinculante 60 e 64 para que se delibere
quanto à oportunidade da revisão ou cancelamento da SV 9, via adequada
para apreciação da questão.
(1) Precedentes citados: RE 661.256; Rcl 11.243; MS 33.340; ADI 4.066
e ADPF 292.
(2) Precedente citado: ADI 5.105.
(3) Lei 11.417/2006: “Art. 5º Revogada ou modificada a lei em que se
fundou a edição de enunciado de súmula vinculante, o Supremo Tribunal Fe-
deral, de ofício ou por provocação, procederá à sua revisão ou cancelamento,
conforme o caso.”
(4) LEP/1984: “Art. 127. Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até
1/3 (um terço) do tempo remido, observado o disposto no art. 57, recome-
çando a contagem a partir da data da infração disciplinar. (Redação dada pela
Lei n. 12.433, de 2011)”
RE 1.116.485/RS, relator Ministro Luiz Fux, julgamento virtual finalizado
em 28.2.2023 (terça-feira), às 23:59

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DIREITO TRIBUTÁRIO
IMPOSTOS; ICMS; ZONA FRANCA DE MANAUS; SUBSTI-
TUIÇÃO TRIBUTÁRIA

DIREITO CONSTITUCIONAL
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS; LIMITAÇÕES DO PODER DE
TRIBUTAR; IMUNIDADE TRIBUTÁRIA
Zona Franca de Manaus e determinação do encerramento do dife-

rimento ou da suspensão do ICMS devido na compra de combustíveis

por meio de Convênio do Confaz - ADI 7.036/DF

Resumo:

É inconstitucional — por violar os arts. 40 do ADCT (1) e 155, § 2º,


X, “a”, da CF/1988 — trecho de dispositivo de convênio interestadual
que determina o encerramento do diferimento ou suspensão do lan-
çamento do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS) devido na compra de etanol anidro combustível (EAC) ou de
biodiesel (B100) quando a operação interestadual for isenta ou não
incidir o tributo na saída do insumo para distribuidora de combustí-
veis situada na Zona França de Manaus (ZFM).

Na hipótese de encerramento dos referidos benefícios fiscais, embora se


faça alusão à existência de uma isenção ou não tributação, há inequívoca ne-
cessidade de a distribuidora de combustíveis adquirente dos insumos pagar o
ICMS à unidade federada remetente do EAC ou do B100.
Sob pena de se descaracterizar a ZFM, a eficácia da proteção do art. 40
do ADCT depende da manutenção dos favores fiscais previstos no Decreto-lei

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Mês de Março de 2023

288/1967 (2), o qual expressamente estabelece que a operação de venda ou


remessa de mercadorias de origem nacional — para consumo ou industriali-
zação na ZFM — equivale, para todos os efeitos fiscais, a exportação. Relati-
vamente ao ICMS, o texto constitucional dispõe serem imunes as operações
que destinem mercadorias para o exterior (art. 155, § 2º, X, a), razão pela
qual inexiste competência dos estados federados ou do Distrito Federal a am-
parar a instituição ou a cobrança do imposto nessas hipóteses.
Assim, o tributo não pode ser cobrado na operação interestadual de saída
dos insumos para distribuidora de combustíveis localizada na ZFM. Contudo,
a imunidade ao ICMS é inaplicável na operação interestadual de saída para
distribuidora de combustíveis localizada em outras áreas de livre comércio —
como a Amazônia Ocidental —, pois as normas do art. 40 do ADCT são dire-
cionadas apenas à ZFM (3).
Na parte em que não dizem respeito à ZFM, os §§ 2º e 3º da cláusula
vigésima primeira do Convênio ICMS 110/2007 (4), firmado no âmbito do
Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), cuidam de substituição
tributária do ICMS em operações envolvendo combustíveis e abrangem todas
as distribuidoras que ali se enquadrem, não apenas as localizadas em áreas
de livre comércio. Nesse contexto, o encerramento do diferimento do tributo
pode ser alvo de deliberação pelos estados federados e pelo DF e não eviden-
cia ofensa a preceitos constitucionais.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou parcial-
mente procedente a ação, apenas para declarar a inconstitucionalidade da
expressão “para a Zona Franca de Manaus”, constante do § 2º da cláusula
vigésima primeira do Convênio ICMS 110/2007-Confaz.
(1) ADCT: “Art. 40. É mantida a Zona Franca de Manaus, com suas ca-
racterísticas de área livre de comércio, de exportação e importação, e de in-
centivos fiscais, pelo prazo de vinte e cinco anos, a partir da promulgação da
Constituição. Parágrafo único. Somente por lei federal podem ser modificados

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Mês de Março de 2023

os critérios que disciplinaram ou venham a disciplinar a aprovação dos proje-


tos na Zona Franca de Manaus.”
(2) Precedentes citados: ADI 2.399 e ADI 4.254.
(3) Precedentes citados: ADI 2.348 MC e RE 631.435 AgR.
(4) Convênio ICMS 110/2007-Confaz: “Cláusula vigésima primeira. Os
Estados e o Distrito Federal concederão diferimento ou suspensão do lança-
mento do imposto nas operações internas ou interestaduais com EAC ou com
B100, quando destinados a distribuidora de combustíveis, para o momento
em que ocorrer a saída da gasolina C ou a saída do óleo diesel B promovida
pela distribuidora de combustíveis, observado o disposto no § 2º. § 1º O im-
posto diferido ou suspenso deverá ser pago de uma só vez, englobadamente,
com o imposto retido por substituição tributária incidente sobre as operações
subsequentes com gasolina ou óleo diesel até o consumidor final, observado
o disposto nos §§ 3º e 13. § 2º Encerra-se o diferimento ou suspensão de
que trata o caput na saída isenta ou não tributada de EAC ou B100, inclusive
para a Zona Franca de Manaus e para as Áreas de Livre Comércio. § 3º Na
hipótese do § 2º, a distribuidora de combustíveis deverá efetuar o pagamen-
to do imposto suspenso ou diferido à unidade federada remetente do EAC
ou do B100.”
ADI 7.036/DF, relator Ministro Nunes Marques, redator do acórdão Ministro
Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 28.2.2023 (terça-feira), às 23:59

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*Informativo: 1085

DIREITO ADMINISTRATIVO
AGÊNCIAS REGULADORAS; INFRAÇÃO ADMINISTRATI-
VA; REGULAMENTAÇÃO

DIREITO CONSTITUCIONAL
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS; DIREITOS E GARANTIAS
FUNDAMENTAIS; PRINCÍPIO DA LEGALIDADE; ORGANI-
ZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA
Competência normativa da ANTT - ADI 5.906/DF

Resumo:

O exercício da atividade regulatória da Agência Nacional de Trans-


porte Terrestre (ANTT) — especialmente as disposições normativas
que lhe conferem competência para definir infrações e impor sanções
e medidas administrativas aplicáveis aos serviços de transportes —
deve respeitar os limites para a sua atuação definidos no ato legisla-
tivo delegatório emanado pelo Congresso Nacional.

Exige-se que o ato regulatório apresente uma correspondência direta com


diretrizes e propósitos firmados em lei ou na própria Constituição Federal
(1). Assim, as agências reguladoras não podem, no exercício de seu poder
normativo, inovar primariamente a ordem jurídica sem expressa delegação,
regulamentar matéria para a qual inexista um prévio conceito genérico em
sua lei instituidora, assim como criar ou aplicar sanções não previstas em lei.

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

Contudo, isso não impede que os regulamentos emanados das agências re-
guladoras inovem, acrescentando e complementando, desde que seu conteúdo
normativo não traduza desbordamento dos limites que lhe foram delegados.
Nesse contexto, os parâmetros fixados na Lei 10.233/2001 são capazes de
dar sustentação jurídica à Resolução 233/2003 da Diretoria-Geral da ANTT, pois
as disposições desse ato normativo infralegal obedecem às diretrizes legais, na
medida em que protegem os interesses dos usuários, relativamente ao zelo pela
qualidade e pela oferta de serviços de transportes que atendam a padrões de efi-
ciência, segurança, conforto, regularidade, pontualidade e modicidade das tarifas.
Ademais, a cominação das penas (todas de multa) não ultrapassa os parâ-
metros estabelecidos na lei, razão pela qual inexiste, na espécie, afronta aos
princípios da separação dos Poderes, da legalidade e dos demais fixados para
a Administração Pública.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou improce-
dente a ação direta para declarar a constitucionalidade do art. 24, XVIII, e do
art. 78-A, ambos da Lei 10.233/2001 (2).
(1) Precedentes citados: ADI 4.093; ADI 4.954; RMS 28.487 e ADI 4.874.
(2) Lei 10.233/2001: “Art. 24. Cabe à ANTT, em sua esfera de atuação,
como atribuições gerais: (...) XVIII – dispor sobre as infrações, sanções e
medidas administrativas aplicáveis aos serviços de transportes. (Incluído pela
Lei n. 12.996, de 2014) (...) Art. 78-A. A infração a esta Lei e o descumpri-
mento dos deveres estabelecidos no contrato de concessão, no termo de
permissão e na autorização sujeitará o responsável às seguintes sanções,
aplicáveis pela ANTT e pela ANTAQ, sem prejuízo das de natureza civil e pe-
nal: I - advertência; II - multa; III – suspensão IV – cassação V - declaração
de inidoneidade. VI - perdimento do veículo. § 1º Na aplicação das sanções
referidas no caput, a Antaq observará o disposto na Lei na qual foi convertida
a Medida Provisória n. 595, de 6 de dezembro de 2012. § 2º A aplicação da
sanção prevista no inciso IV do caput, quando se tratar de concessão de porto
organizado ou arrendamento e autorização de instalação portuária, caberá ao

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Mês de Março de 2023

poder concedente, mediante proposta da Antaq. § 3º Caberá exclusivamente


à ANTT a aplicação da sanção referida no inciso VI do caput.”
ADI 5.906/DF, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Ministro Ale-
xandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 3.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

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DIREITO ADMINISTRATIVO
FUNDAÇÕES PÚBLICAS; SERVIÇO PÚBLICO DE SAÚDE;
REGIME JURÍDICO

DIREITO CONSTITUCIONAL
ORGANIZAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA; ADMINIS-
TRAÇÃO PÚBLICA; ORDEM SOCIAL; SAÚDE
Constituição de fundações públicas de direito privado para a pres-

tação de serviço público de saúde - ADI 4.197/SE

Tese fixada:

“É constitucional a constituição de fundação pública de direito pri-


vado para a prestação de serviço público de saúde.”

Resumo:

Lei estadual pode autorizar a criação de fundação pública de direi-


to privado para atuar na prestação de serviço público de saúde.

O art. 5º, IV, do Decreto-Lei 200/1967 (incluído pela Lei 7.596/1987) (1)
foi recepcionado com eficácia de lei complementar pela Constituição Federal
(2). O serviço público de saúde não incide no óbice do desempenho, pelas
fundações públicas, de atividades que exigem a atuação exclusiva do Esta-
do — os denominados serviços públicos inerentes — já que, “a assistência à
saúde é livre à iniciativa privada” (CF/1988, art. 199).
Ademais, inexiste modelo pré-definido pela Constituição Federal para a
prestação de tais serviços pelo poder público, razão pela qual deve prevalecer

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Mês de Março de 2023

a autonomia de cada ente federativo para definir a forma mais eficiente de


realizar as atividades correlatas (CF/1988, art. 18).
Com relação ao regime de pessoal, a jurisprudência desta Corte entende
que a relação jurídica mantida entre as fundações de direito privado institu-
ídas pelo poder público e seus prestadores de serviço é regida pela CLT (3),
e que a exigência de instituição de regime jurídico único não se estende às
fundações de direito privado (4).
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimida-
de, conheceu parcialmente da ação e, nessa extensão, a julgou improceden-
te para assentar a constitucionalidade das Leis 6.346/2008, 6.347/2008 e
6.348/2008, todas do Estado de Sergipe.
(1) DL 200/1967: “Art. 5º Para os fins desta lei, considera-se: (...) IV -
Fundação Pública – a entidade dotada de personalidade jurídica de direito
privado, sem fins lucrativos, criada em virtude de autorização legislativa, para
o desenvolvimento de atividades que não exijam execução por órgãos ou en-
tidades de direito público, com autonomia administrativa, patrimônio próprio
gerido pelos respectivos órgãos de direção, e funcionamento custeado por
recursos da União e de outras fontes.”
(2) CF/1988: “Art. 37. (...) XIX – somente por lei específica poderá ser
criada autarquia e autorizada a instituição de empresa pública, de sociedade
de economia mista e de fundação, cabendo à lei complementar, neste último
caso, definir as áreas de sua atuação (Redação dada pela Emenda Constitu-
cional n. 19, de 1998)”
(3) Precedente citado: ADI 4.247.
(4) Precedente citado: RE 716.378 (Tema 545 RG).
ADI 4.197/SE, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finali-
zado em 28.2.2023 (terça-feira), às 23:59

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DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS; REGIME DE SUBSÍDIOS; PER-
CEPÇÃO DE ADICIONAIS; POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL

DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS; ORGANIZA-
ÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA; ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA; SEGURANÇA PÚBLICA; POLÍCIA RODOVIÁRIA
FEDERAL
Regime de subsídios da carreira de policial rodoviário federal - ADI

5.404/DF

Tese fixada:

“O regime de subsídio não é compatível com a percepção de outras


parcelas inerentes ao exercício do cargo, mas não afasta o direito à
retribuição pelas horas extras realizadas que ultrapassem a quanti-
dade remunerada pela parcela única.”

Resumo:

É constitucional o regime de subsídios da carreira de policial rodovi-


ário federal (Lei 11.358/2006) na parte em que veda o pagamento de
adicional noturno e quaisquer outras gratificações ou adicionais, mas
garante o direito à gratificação natalina, ao adicional de férias e ao
abono de permanência. Contudo, deve ser afastada interpretação que
impeça a remuneração desses policiais pelo desempenho de serviço ex-
traordinário (horas extras) que não esteja compreendida no subsídio.

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O regime constitucional de remuneração por subsídio teve o objetivo de ra-


cionalizar a forma de remuneração de algumas carreiras públicas. A instituição
do regime de parcela única não impede o pagamento dos direitos trabalhistas
aplicáveis aos servidores públicos (CF/1988, art. 39, § 3º), como os valores
adicionais que retribuam o exercício de atividades excepcionais e eventuais.
Essa forma de pagamento só veda os adicionais que remunerem atividades
inerentes ao cargo, isto é, relativas ao trabalho mensal ordinário (1).
Na espécie, a concessão de adicional noturno aos policiais rodoviários fe-
derais para o exercício de funções inerentes ao cargo representaria elevação
de vencimentos pelo Poder Judiciário, o que afronta a Constituição e a ju-
risprudência desta Corte no sentido de não competir àquele poder, por não
possuir função legislativa, a prerrogativa de aumentar o vencimento de ser-
vidores públicos sob o fundamento de isonomia (2).
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, julgou par-
cialmente procedente a ação para dar interpretação conforme à Constituição
ao caput do art. 1º e ao inciso XI do art. 5º da Lei 11.358/2006 (3), de modo
a afastar qualquer aplicação que impeça a remuneração dos policiais rodoviá-
rios federais pelo serviço extraordinário desempenhado que exceda a jornada
de trabalho prevista em lei.
(1) Precedentes citados: ADI 4.079; ADI 4.941 e RE 650.898 (Tema 484 RG).
(2) Precedentes citados: RE 592.317 (Tema 315 RG); ADI 1.822; RE
711.344 AgR; RE 223.452 AgR e Súmula Vinculante 37.
(3) Lei 11.358/2006: “Art. 1º A partir de 1º de julho de 2006 e 1º de
agosto de 2006, conforme especificado nos Anexos I, II, III e VI desta Lei,
respectivamente, passam a ser remunerados exclusivamente por subsídio,
fixado em parcela única, vedado o acréscimo de qualquer gratificação, adicio-
nal, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória,
os titulares dos cargos das seguintes Carreiras: (...) VII – Carreira de Policial
Rodoviário Federal. (...) Art. 5º Além das parcelas de que tratam os arts. 2º,
3º e 4º desta Lei, não são devidas aos integrantes das Carreiras a que se

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refere o art. 1º desta Lei as seguintes espécies remuneratórias: (...) XI – adi-


cional pela prestação de serviço extraordinário; e”
ADI 5.404/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finali-
zado em 3.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

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DIREITO CONSTITUCIONAL
ORGANIZAÇÃO DOS PODERES; PODER JUDICIÁRIO; REMO-
ÇÃO E PROMOÇÃO DE JUÍZES; ESTATUTO DA MAGISTRATURA
Remoção entre juízes vinculados a tribunais de justiça distintos -

ADI 6.782/RN

Resumo:

É inconstitucional — por violar a competência da União para dispor


sobre a magistratura brasileira, tanto na justiça estadual como na
justiça federal — norma estadual que permite a remoção entre juízes
de direito vinculados a diferentes tribunais de justiça.

Até o advento da lei complementar de iniciativa do STF (1), o Estatuto da


Magistratura continua a ser disciplinado pela Lei Complementar 35/1979 (Lei
Orgânica da Magistratura Nacional - LOMAN) (2).
As disposições da LOMAN constituem um regime jurídico único dos magis-
trados do País. Assim, como o Poder Judiciário é nacional, os seus membros
devem se submeter a regras uniformes (3), de modo que, para preservar a
independência assegurada constitucionalmente ao Poder Judiciário, as nor-
mas da LOMAN vinculam o legislador e o judiciário estaduais (4).
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou pro-
cedente a ação para declarar a inconstitucionalidade do trecho “permitindo-se
a remoção entre juízes vinculados a Tribunais de Justiça distintos, por reso-
lução própria do Tribunal com a definição dos requisitos mínimos”, constante
do art. 76, caput, da Lei Complementar 643/2018 do Estado do Rio Grande
do Norte (5).
(1) CF/1988: “Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Fe-
deral, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:”

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(2) Precedentes citados ADI 2.370 MC; ADI 2.753; ADI 1.503 e AO 185.
(3) Precedente citado AO 155.
(4) Precedentes citados: ADI 2.494; ADI 6.800 e ADPF 482.
(5) Lei Complementar 643/2018 do Estado do Rio Grande do Norte: “Art.
76. O acesso, a promoção, a remoção e a permuta dar-se-ão nos termos das
Constituições Federal e Estadual, da Lei Orgânica da Magistratura Nacional,
dos atos normativos do CNJ e daqueles expedidos pelo Tribunal de Justiça
sobre a matéria, permitindo-se a remoção entre juízes vinculados a Tribunais
de Justiça distintos, por resolução própria do Tribunal com a definição dos
requisitos mínimos.”
ADI 6.782/RN, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finaliza-
do em 3.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

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DIREITO CONSTITUCIONAL
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS; ADMINISTRAÇÃO PÚ-
BLICA; SERVIDOR PÚBLICO

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
PENSÃO
Pensão especial a dependentes de prefeitos e vice-prefeitos fale-

cidos no exercício do mandato - ADPF 783/ES

Tese fixada:

“São incompatíveis com a Constituição Federal de 1988 a conces-


são e, ainda, a continuidade do pagamento de pensões mensais vitalí-
cias não decorrentes do RGPS a dependentes de prefeitos e vice-pre-
feitos, em razão do mero exercício do mandato eletivo.”

Resumo:

Contraria a ordem constitucional vigente — por se tratar de benefí-


cio incompatível com a sua sistemática previdenciária e com os prin-
cípios republicano e da igualdade — o pagamento de pensão especial
a ex-detentor de cargo público e a seus dependentes.

Na linha da jurisprudência desta Corte, a concessão desse benefício impli-


ca tratamento diferenciado e privilegiado, sem fundamento jurídico razoável
e com ônus aos cofres públicos, em favor de quem não mais exerce função
pública ou presta qualquer serviço à Administração, ou, ainda, de quem ja-
mais o fez (1).

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Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente


a ação para declarar a não recepção das Leis 67/1977, 8/1979, e 105/1980,
todas do Município de Mucurici/ES, bem como modulou os efeitos da decisão
tão somente para afastar o dever de devolução dos valores já pagos até a
data da publicação da ata desse julgamento.
(1) Precedentes citados: ADI 3.853; ADI 4.552 MC; ADPF 413 e ADPF 912.
ADPF 783/ES, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado
em 3.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

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DIREITO CONSTITUCIONAL
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS; DIREITOS E GARANTIAS
FUNDAMENTAIS

DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS; AGÊNCIA REGULADORA; VEDA-
ÇÕES
Agências reguladoras: vedação do exercício de outras atividades

profissionais por seus servidores efetivos - ADI 6.033/DF

Tese fixada:

“É constitucional norma legal que veda aos servidores titulares de


cargo efetivo de agências reguladoras o exercício de outra atividade
profissional, inclusive gestão operacional de empresa, ou de direção
político-partidária.”

Resumo:

A Lei 10.871/2004 — no ponto em que veda o exercício de outra


atividade profissional, inclusive gestão operacional de empresa ou
direção político-partidária, com exceção dos casos admitidos em lei
— assegura a observância dos princípios da moralidade, da eficiência
administrativa e da isonomia, e constitui meio proporcional apto a
garantir a indispensável isenção e independência dos servidores ocu-
pantes de cargos efetivos das agências reguladoras.

Um conjunto de normas constitucionais (CF/1988, arts. 5º, XVIII; 37, I;


e 39, caput) demonstra que o constituinte delegou ao legislador ordinário

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competência para: (i) especificar as restrições profissionais ao exercício de


qualquer trabalho, ofício ou profissão; (ii) regular os requisitos de acesso aos
cargos públicos; e (iii) dispor sobre o regime jurídico e planos de carreira dos
servidores públicos ocupantes de cargos efetivos.
Ademais, o regime especial das agências reguladoras foi concebido para
lhes assegurar independência e isenção no desempenho de suas funções nor-
mativas, fiscalizatórias e sancionatórias.
Nesse contexto, a jurisprudência desta Corte tem, reiteradamente, decla-
rado a constitucionalidade de preceitos legais que restringem a liberdade de
exercício de atividade, ofício ou profissão com o objetivo de proteger o inte-
resse público contra possíveis conflitos de interesses decorrentes da prática
profissional ou de tutelar princípios constitucionais aplicáveis à Administração
Pública (1).
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou im-
procedente a ação para declarar a constitucionalidade do art. 23, II, c, e do
art. 36-A, da Lei 10.871/2004 (2).
(1) Precedentes citados: ADI 5.235; ADI 5.454 e ADI 3.541.
(2) Lei 10.871/2004: “Art. 23. Além dos deveres e das proibições previs-
tos na Lei n. 8.112, de 11 de dezembro de 1990, aplicam-se aos servidores
em efetivo exercício nas Agências Reguladoras referidas no Anexo I desta Lei:
(...) II - as seguintes proibições: (...) c) exercer outra atividade profissional,
inclusive gestão operacional de empresa, ou direção político-partidária, ex-
cetuados os casos admitidos em lei; (...) Art. 36-A. É vedado aos ocupantes
de cargos efetivos, aos requisitados, aos ocupantes de cargos comissionados
e aos dirigentes das Agências Reguladoras referidas no Anexo I desta Lei o
exercício regular de outra atividade profissional, inclusive gestão operacio-
nal de empresa ou direção político-partidária, excetuados os casos admiti-
dos em lei.”
ADI 6.033/DF, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finali-
zado em 3.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

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DIREITO CONSTITUCIONAL
REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS; ENERGIA ELÉTRICA
Energia elétrica: obrigatoriedade das concessionárias estaduais

de expedirem notificação pessoal para a realização de vistoria - ADI

3.703/RJ

Resumo:

É inconstitucional — por violação à competência da União para ex-


plorar os serviços e instalações de energia elétrica e para legislar
sobre energia (CF/1988, arts. 21, XVII, “b”; 22, IV; e 175, parágrafo
único) — lei estadual que obriga as empresas concessionárias de ener-
gia elétrica a expedirem notificação com aviso de recebimento para a
realização de vistoria técnica no medidor de usuário residencial.

Como a União é responsável pela prestação dos serviços de fornecimento


de energia elétrica, também lhe compete legislar sobre o regime jurídico das
autorizadas, concessionárias e permissionárias desse serviço público, bem
como sobre os direitos do usuário, a política tarifária e a obrigação de manu-
tenção da qualidade adequada do serviço (1).
Na espécie, a lei estadual impugnada alterou aspectos relevantes da re-
lação jurídico-contratual mantida entre o poder concedente federal e as em-
presas do setor de energia elétrica, estabelecendo direito, em benefício dos
usuários do serviço público, não contido no instrumento contratual (2).
Ademais, essa previsão onera as concessionárias de serviço público, pois
impacta diretamente nas receitas por elas auferidas e, consequentemente, no
custo e no equilíbrio econômico-financeiro do contrato de concessão, neces-
sário à sustentabilidade do sistema de fornecimento de energia elétrica.

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Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente


a ação para declarar a inconstitucionalidade da Lei 4.724/2006 do Estado do
Rio de Janeiro (3).
(1) CF/1988: “Art. 21. Compete à União: (...) XII - explorar, diretamen-
te ou mediante autorização, concessão ou permissão: (...) b) os serviços e
instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de
água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroe-
nergéticos; (...) Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...)
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; (...) Art.
175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime
de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de ser-
viços públicos. Parágrafo único. A lei disporá sobre: I - o regime das empresas
concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de
seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade,
fiscalização e rescisão da concessão ou permissão; II - os direitos dos usu-
ários; III - política tarifária; IV - a obrigação de manter serviço adequado.”
(2) Precedentes citados: ADI 3.322 MC; ADI 3.533; ADI 2.615 MC; ADI
2.337 MC; ADI 3.866 e ADI 2.337.
(3) Lei 4.724/2006 do Estado do Rio de Janeiro: “Art. 1º - As empresas
concessionárias de serviços públicos fornecedoras de energia elétrica, no Es-
tado do Rio de Janeiro, quando da realização de vistoria técnica no medidor
do usuário residencial, deverão expedir notificação pessoal com aviso de re-
cebimento (AR) a ser enviada para o endereço do consumidor, apresentando
dia e hora da vistoria, salvo quando do registro da queixa-crime de furto de
energia na delegacia competente. Parágrafo único - A vistoria Técnica deverá
ser marcada em prazo superior a 48 (quarenta e oito) horas da entrega do
Aviso de Recebimento pelo usuário. Art. 2º - A não observância à regra do
‘caput’ do art. 1º ocasionará a nulidade absoluta do laudo de vistoria técnica
realizada no medidor do usuário residencial, salvo as hipóteses de denúncias

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expressas de furto de energia elétrica. Art. 3º - Esta Lei entrará em vigor na


data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.”
ADI 3.703/RJ, relator Ministro Edson Fachin, redator do acórdão Minis-
tro Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 3.3.2023 (sexta-fei-
ra), às 23:59

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO
13º SALÁRIO; BASE DE CÁLCULO; CONTRIBUIÇÕES PRE-
VIDENCIÁRIAS; SALÁRIO DE CONTRIBUIÇÃO E SALÁRIO
DE BENEFÍCIO
13º salário e sua integração na base de cálculo de contribuições

previdenciárias - ADI 1.049/DF

Resumo:

É constitucional a exclusão da gratificação natalina (13º salário)


da base de cálculo de benefício previdenciário, notadamente diante
da inexistência de ofensa à garantia constitucional da irredutibilidade
do valor dos benefícios da seguridade social.

O 13º salário possui natureza salarial e, como tal, pode ser tributado me-
diante contribuição previdenciária, conforme enunciado da Súmula 688 do
STF (1). Contudo, os benefícios previdenciários são calculados com base nos
valores das contribuições e no tempo de trabalho, motivo pelo qual a grati-
ficação natalina, ao somar uma parcela de contribuição às doze anuais, tem
potencial para distorcer o aspecto temporal do cálculo do benefício.
É constitucional, em especial diante da ausência de violação ao
direito adquirido, a eliminação do abono de permanência em serviço
do rol dos benefícios previdenciários sujeitos à carência de 180 con-
tribuições mensais, já que mantido esse período de carência para as
demais prestações pecuniárias previstas (aposentadoria por idade,
aposentadoria por tempo de serviço e aposentadoria especial).
No entanto, inexiste direito adquirido para aqueles que não preencheram
os requisitos necessários até a data da entrada em vigor da lei impugnada.
Essa norma, a partir de então, tem o poder de modificar, legitimamente, a re-

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lação previdenciária, a qual, por se inserir em um amplo regime jurídico, pode


passar por alterações que eventualmente afastem expectativas de direito (2).
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu
parcialmente da ação e, nessa extensão, a julgou improcedente para assentar
a constitucionalidade do art. 28, § 7º, da Lei 8.212/1991 (3) e do art. 25, II,
da Lei 8.213/1991 (4), ambos alterados pela Lei 8.870/1994.
(1) Súmula 688: “É legítima a incidência da contribuição previdenciária
sobre o 13º salário.”
(2) Precedente citado: RE 278.718.
(3) Lei 8.212/1991: “Art. 28. Entende-se por salário-de-contribuição: (…)
§ 7º O décimo-terceiro salário (gratificação natalina) integra o salário-de-
-contribuição, exceto para o cálculo de benefício, na forma estabelecida em
regulamento.”
(4) Lei 8.213/1991: “Art. 25. A concessão das prestações pecuniárias do
Regime Geral de Previdência Social depende dos seguintes períodos de ca-
rência, ressalvado o disposto no art. 26: (…) II – aposentadoria por idade,
aposentadoria por tempo de serviço e aposentadoria especial: 180 contribui-
ções mensais.”
ADI 1.049/DF, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finaliza-
do em 3.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

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DIREITO TRIBUTÁRIO
IMPOSTOS; ICMS; BASE DE CÁLCULO; ENERGIA ELÉTRICA

DIREITO CONSTITUCIONAL
REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS
Operações com energia elétrica: inclusão da TUSD e TUST na base

de cálculo do ICMS e competência legislativa - ADI 7.195 MC-Ref/DF

Resumo:

Vislumbram-se presentes os requisitos para a manutenção da cau-


telar: (i) a fumaça de bom direito decorre da alegada ilegitimidade
da definição dos parâmetros para a incidência do ICMS (imposto es-
tadual) por norma editada pelo Poder Legislativo federal, ainda que
veiculada por meio de lei complementar, bem como da adoção do
termo “operações”; e (ii) o perigo da demora se revela em face dos
prejuízos bilionários sofridos pelos cofres estaduais em decorrência
da norma legal impugnada.

Ainda existe uma indefinição (a questão é objeto de análise pelo Tema


repetitivo 986 no STJ, cujo julgamento encontra-se pendente) sobre qual se-
ria a base de cálculo adequada do ICMS na tributação da energia elétrica, ou
seja, se a base de cálculo passível de ser tributável corresponderia ao valor
da energia efetivamente consumida ou ao valor da operação, o que incluiria,
no último caso, os encargos setoriais denominados Tarifa de Uso do Sistema
de Distribuição (TUSD) e Tarifa de Uso do Sistema de Transmissão (TUST).
Há indícios, ainda, de que o Poder Legislativo federal, ao editar a norma
complementar questionada, desbordou do poder conferido pela Constituição

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Federal para disciplinar questões relativas ao ICMS. Aparentemente, o art.


155, II, e § 3º, da CF/1988 (1), e o art. 34, § 9º, do ADCT (2) disciplinaram
a questão no sentido de atestar a incidência da exação sobre o total das ope-
rações e não do montante relativo ao exclusivo consumo do bem, no caso, da
energia elétrica.
Ademais, revela-se urgente a concessão da medida diante da manifestação
da Secretaria Nacional do Consumidor (SENACON), a qual instou os estados a
excluir os valores da TUSD e da TUST da base do ICMS, sob pena de atuarem
ilegalmente e em clara lesão a direitos do consumidor de energia elétrica.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, referendou a deci-
são que concedeu a medida cautelar pleiteada, para suspender os efeitos do
art. 3º, X, da LC 87/1996, com a redação dada pela LC 194/2022 (3), até o
julgamento do mérito da ação.
(1) CF/1988: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir
impostos sobre: (...) II - operações relativas à circulação de mercadorias e
sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e
de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no ex-
terior; (...) § 3º À exceção dos impostos de que tratam o inciso II do caput
deste artigo e o art. 153, I e II, nenhum outro imposto poderá incidir sobre
operações relativas a energia elétrica, serviços de telecomunicações, deriva-
dos de petróleo, combustíveis e minerais do País.”
(2) ADCT: “Art. 34. O sistema tributário nacional entrará em vigor a partir
do primeiro dia do quinto mês seguinte ao da promulgação da Constituição,
mantido, até então, o da Constituição de 1967, com a redação dada pela
Emenda n. 1, de 1969, e pelas posteriores. (...) § 9º Até que lei complemen-
tar disponha sobre a matéria, as empresas distribuidoras de energia elétrica,
na condição de contribuintes ou de substitutos tributários, serão as respon-
sáveis, por ocasião da saída do produto de seus estabelecimentos, ainda que
destinado a outra unidade da Federação, pelo pagamento do imposto sobre
operações relativas à circulação de mercadorias incidente sobre energia elé-

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Mês de Março de 2023

trica, desde a produção ou importação até a última operação, calculado o


imposto sobre o preço então praticado na operação final e assegurado seu
recolhimento ao Estado ou ao Distrito Federal, conforme o local onde deva
ocorrer essa operação.”
(3) LC 87/1996: “Art. 3º O imposto não incide sobre: (...) X - serviços de
transmissão e distribuição e encargos setoriais vinculados às operações com
energia elétrica. (Incluído pela Lei Complementar n. 194, de 2022)”
ADI 7.195 MC-Ref/DF, relator Ministro Luiz Fux, julgamento virtual finali-
zado em 3.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

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*Informativo: 1086

DIREITO CONSTITUCIONAL
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE; EFEITOS DA
DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


COISA JULGADA; LIMITES; RELAÇÕES DE TRATO
SUCESSIVO

DIREITO TRIBUTÁRIO
CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS; CSLL; TRIBUTOS PAGOS DE
MODO CONTINUADO
Coisa julgada em matéria tributária: limites de sua eficácia tem-

poral quando derivada de relação jurídica de trato continuado - RE

955.227/BA (Tema 885 RG) e RE 949.297/CE (Tema 881 RG) 

Tese fixada:

“1. As decisões do STF em controle incidental de constitucionali-


dade, anteriores à instituição do regime de repercussão geral, não
impactam automaticamente a coisa julgada que se tenha formado,
mesmo nas relações jurídicas tributárias de trato sucessivo. 2. Já as
decisões proferidas em ação direta ou em sede de repercussão ge-
ral interrompem automaticamente os efeitos temporais das decisões
transitadas em julgado nas referidas relações, respeitadas a irretro-

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atividade, a anterioridade anual e a noventena ou a anterioridade


nonagesimal, conforme a natureza do tributo.”

Resumo:

Os efeitos temporais da coisa julgada nas relações jurídicas tribu-


tárias de trato sucessivo são imediatamente cessados quando o STF
se manifestar em sentido oposto em julgamento de controle concen-
trado de constitucionalidade ou de recurso extraordinário com reper-
cussão geral.

A coisa julgada não pode servir como salvo conduto imutável a fim de ser
oponível eternamente pelo jurisdicionado somente porque lhe é benéfica, de
modo que, uma vez modificado o contexto fático e jurídico — com o pronun-
ciamento desta Corte em repercussão geral ou em controle concentrado — os
efeitos das decisões transitadas em julgado em relações de trato continuado
devem se adaptar, aplicando-se a lógica da cláusula rebus sic stantibus.
Na espécie, os contribuintes possuíam o direito de não recolher a Con-
tribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) com fundamento em decisões
transitadas em julgado que consideraram a inconstitucionalidade incidental
da Lei 7.689/1998 (que institui a referida contribuição). Em 2007, sobreveio
o julgamento da ADI 15, na qual esta Corte declarou a constitucionalidade
da norma, retomando-se a cobrança da contribuição (1). Assim, desde o
julgamento de 2007, já estava clara a posição do STF em relação à validade
da Lei 7.689/1988, interrompendo automaticamente (independentemente de
ação rescisória) os efeitos temporais das decisões transitadas em julgado que
declararam a inconstitucionalidade da incidência da CSLL (em relação a fatos
geradores posteriores a esse ano).
Caso mantidas essas decisões, haveria notável discrepância passível de
ofender a igualdade tributária e a livre concorrência, pois, em se tratando de
relação jurídica de trato continuado, o contribuinte dispensado do pagamento

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Mês de Março de 2023

da CSLL ostentaria vantagem competitiva em relação aos demais, já que não


destinaria parcela dos seus recursos a essa finalidade.
Ademais, uma decisão da Corte, em controle concentrado ou em reper-
cussão geral, que seja contrária à coisa julgada favorável ao contribuinte em
relações jurídicas tributárias de trato continuado produz para ele uma norma
jurídica nova (situação semelhante à criação de um novo tributo), motivo pelo
qual, a depender da espécie do tributo, deve-se observar a irretroatividade, a
anterioridade anual e a noventena (no caso das contribuições para segurida-
de social, a anterioridade nonagesimal).
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, (i) ao
apreciar o Tema 885 da repercussão geral, negou provimento ao recurso ex-
traordinário da União; (ii) ao apreciar o Tema 881 da repercussão geral, deu
provimento ao recurso extraordinário da União; e (iii) fixou, para ambos os
casos, a tese acima registrada. Por maioria, não modulou os efeitos da de-
cisão e entendeu aplicáveis as limitações constitucionais temporais ao poder
de tributar.
(1) Precedente citado: ADI 15.
RE 955.227/BA, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento finalizado
em 8.2.2023
RE 949.297/CE, relator Ministro Edson Fachin, redator do acórdão Ministro
Roberto Barroso, julgamento finalizado em 8.2.2023

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DIREITO CONSTITUCIONAL
REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS; EDUCAÇÃO;
LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL
Proibição do uso de “linguagem neutra” nas escolas e em editais

de concursos públicos - ADI 7.019/RO 

Tese fixada:

“Norma estadual que, a pretexto de proteger os estudantes, pro-


íbe modalidade de uso da língua portuguesa viola a competência le-
gislativa da União.”

Resumo:

É inconstitucional — por violar a competência privativa da União


para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional (CF/1988,
art. 22, XXIV) — lei estadual que veda a adoção da “linguagem neu-
tra” na grade curricular e no material didático de instituições de en-
sino públicas e privadas, assim como em editais de concursos públi-
cos locais.

Embora os estados possuam competência para legislar concorrentemen-


te sobre educação, devem observar as normas gerais editadas pela União
(CF/1988, art. 24, IX).
Nesse contexto, a União editou, no exercício de sua competência nacional,
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9.394/1996), cujo senti-
do engloba as regras que tratam de currículos, conteúdos programáticos, me-
todologia de ensino ou modo de exercício da atividade docente (1). Portanto,
no âmbito da competência concorrente, a União fixa as regras minimamente
homogêneas em todo território nacional (2).

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Mês de Março de 2023

Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou proce-


dente a ação para declarar a inconstitucionalidade formal da Lei 5.123/2021
do Estado de Rondônia (3).
(1) Precedente citado: ADPF 457.
(2) Lei 9.394/1996: “Art. 9º A União incumbir-se-á de: (...) IV - esta-
belecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino fundamental e
o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de
modo a assegurar formação básica comum;”
(3) Lei 5.123/2021 do Estado de Rondônia: “Art. 1º Fica garantido aos es-
tudantes do Estado de Rondônia o direito ao aprendizado da língua portugue-
sa de acordo com a norma culta e orientações legais de ensino estabelecidas
com base nas orientações nacionais de Educação, pelo Vocabulário Ortográfico
da Língua Portuguesa (VolP) e da gramática elaborada nos termos da refor-
ma ortográfica ratificada pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
- CPLP. Art. 2º O disposto no artigo anterior aplica-se a toda Educação Básica
no Estado de Rondônia, nos termos da Lei Federal n. 9.394/96, assim como
aos Concursos Públicos para acesso aos cargos e funções públicas do Estado
de Rondônia. Art. 3º Fica expressamente proibida a denominada ‘linguagem
neutra’ na grade curricular e no material didático de instituições de ensino
públicas ou privadas, assim como em editais de concursos públicos. Art. 4º A
violação do direito do estudante estabelecido no artigo 1º desta Lei acarreta-
rá sanções às instituições de ensino privadas e aos profissionais de educação
que concorrerem ministrar conteúdos adversos aos estudantes, prejudicando
direta ou indiretamente seu aprendizado à língua portuguesa culta. Art. 5º As
Secretarias responsáveis pelo ensino básico do Estado de Rondônia deverão
empreender todos os meios necessários para a valorização da língua portu-
guesa culta em suas políticas educacionais, fomentando iniciativas de defesa
aos estudantes na aplicação de qualquer aprendizado destoante das normas
e orientações legais de ensino. Art. 6º Fica o Poder Executivo autorizado a

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

firmar convênio com instituições públicas e privadas voltadas à valorização da


língua portuguesa no Estado de Rondônia. Art. 7º Esta Lei entra em vigor na
data de sua publicação.”
ADI 7.019/RO, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finalizado
em 10.2.2023 (sexta-feira), às 23:59

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Mês de Março de 2023

DIREITO CONSTITUCIONAL
TRIBUTAÇÃO E ORÇAMENTO; EXECUÇÃO ORÇAMENTÁRIA;
CULTURA
Socorro financeiro destinado ao setor cultural e de eventos: inér-

cia do Poder Executivo e necessidade de prorrogação da execução

orçamentária - ADI 7.232 TPI-Ref/DF 

Resumo:

Diante da inércia do Poder Executivo em adotar providências para


cumprir de modo integral e tempestivo a decisão do STF que suspen-
deu os efeitos da MP 1.135/2022 e manteve a obrigatoriedade da en-
trega dos recursos financeiros destinados a apoiar o setor cultural e
de eventos, é legítima a prorrogação do prazo de execução financeira
até o final do ano de 2023, a fim de garantir a eficácia da medida cau-
telar deferida e referendada oportunamente (1).

Conforme ressaltado pelo TCU, os recursos repassados por força da Lei


Complementar 195/2022 representam transferência obrigatória da União, ra-
zão pela qual podem ser utilizados após o final de 2022, mesmo que não em-
penhados e inscritos em restos a pagar no exercício.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, referendou a
decisão que deferiu a tutela de urgência (i) para autorizar a execução da
Lei Complementar 195/2022 (Lei Paulo Gustavo) pelos entes federados até
31.12.2023 ou até que o Congresso Nacional conclua a apreciação da MP
1.135/2022, devolvendo-se ao Tesouro Nacional os recursos não utilizados
até aquela data, na forma das leis da República; (ii) para que seja efetuado
pelos órgãos federais competentes, especialmente o Ministério da Fazenda e
o Ministério do Turismo, até o dia 31.12.2022, sem óbice direto ou indireto,

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

sob pena de responsabilidade de quem der causa ou impedir o cumprimento


integral das normas, o empenho global e emissão de nota de empenho para
a unidade gestora da SECULT/MTUR, nos termos dos itens 3.2.2.7, 3.2.2.7.1,
3.2.2.7.2 e 3.2.2.7.3 do Manual do SIAFI, para fins de cumprimento da Lei
4.320/1964, pela impossibilidade de serem discriminados os valores para os
favorecidos pelo empenho dos recursos, isto é, os entes federados pela plata-
forma +Brasil; e (iii) para que se inscreva a SECULT/MTUR em restos a pagar
relativamente aos recursos empenhados nos termos do item anterior.
(1) Precedente citado: ADI 7.232 MC-Ref/DF
ADI 7.232 TPI-Ref/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual,
realizado em sessão virtual extraordinária, finalizado em 2.2.2023 (quinta-
-feira), às 23:59

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Mês de Março de 2023

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL;
EFETIVAÇÃO DOS JULGADOS; PODERES DO MAGISTRADO;
ADEQUAÇÃO, RAZOABILIDADE, NECESSIDADE E
PROPORCIONALIDADE

DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS; DURAÇÃO RA-
ZOÁVEL DO PROCESSO
Constitucionalidade da previsão de medidas atípicas para assegu-
rar o cumprimento de ordens judiciais - ADI 5.941/DF 

Resumo:

São constitucionais — desde que respeitados os direitos funda-


mentais da pessoa humana e observados os valores especificados
no próprio ordenamento processual (1), em especial os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade — as medidas atípicas previstas
no CPC/2015 destinadas a assegurar a efetivação dos julgados.

A duração razoável do processo, que decorre da inafastabilidade da ju-


risdição, deve incluir a atividade satisfativa (CF/1988, art. 5º, LXXVIII; e
CPC/2015, art. 4º). Assim, é inviável a pretensão abstrata de retirar deter-
minadas medidas do leque de ferramentas disponíveis ao magistrado para
fazer valer o provimento jurisdicional, sob pena de inviabilizar a efetividade
do próprio processo, notadamente quando inexistir uma ampliação excessiva
da discricionariedade judicial.

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

A previsão de uma cláusula geral, contendo uma autorização genérica,


se dá diante da impossibilidade de a legislação considerar todas as hipóteses
possíveis no mundo contemporâneo, caracterizado pelo dinamismo e pelo
risco relacionados aos mais diversos ramos jurídicos.
Assim, as medidas atípicas devem ser avaliadas de forma casuística, de
modo a garantir ao juiz a interpretação da norma e a melhor adequação ao
caso concreto, aplicando ao devedor ou executado aquela que lhe for menos
gravosa, mediante decisão devidamente motivada.
A discricionariedade judicial não se confunde com arbitrariedade, razão
pela qual qualquer abuso deverá ser coibido pelos meios processuais pró-
prios, que são os recursos previstos no ordenamento processual.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improceden-
te a ação para assentar a constitucionalidade do art. 139, IV, do CPC/2015 (2).
(1) CPC/2015: “Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e inter-
pretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Cons-
tituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste
Código; (...) Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins
sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a digni-
dade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a
legalidade, a publicidade e a eficiência. (...) Art. 805. Quando por vários meios
o exequente puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo
menos gravoso para o executado. Parágrafo único. Ao executado que alegar ser
a medida executiva mais gravosa incumbe indicar outros meios mais eficazes e
menos onerosos, sob pena de manutenção dos atos executivos já determinados.”
(2) CPC/2015: “Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposi-
ções deste Código, incumbindo-lhe: (...) IV- determinar todas as medidas
indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para as-
segurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham
por objeto prestação pecuniária;”
ADI 5.941/DF, relator Ministro Luiz Fux, julgamento finalizado em 9.2.2023

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Mês de Março de 2023

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


ASSOCIAÇÕES; PARTES E PROCURADORES;
SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL

DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS; ASSOCIAÇÕES
Associações genéricas e inaplicabilidade do Tema 1.119 RG - ARE

1.339.496 AgR/RJ 

Resumo:

Não se aplica às associações genéricas — que não representam


qualquer categoria econômica ou profissional específica — a tese fir-
mada no Tema 1.119 da sistemática da repercussão geral, sendo in-
suficiente a mera regularidade registral da entidade para sua atuação
em sede de mandado de segurança coletivo, pois passível de causar
prejuízo aos interesses dos beneficiários supostamente defendidos.

No julgamento do aludido Tema (1), o STF considerou que a substituição


processual pelas associações teria sede direta no art. 5º, LXX, b, da CF/1988
(2), e fixou a seguinte tese: “É desnecessária a autorização expressa dos asso-
ciados, a relação nominal destes, bem como a comprovação de filiação prévia,
para a cobrança de valores pretéritos de título judicial decorrente de mandado
de segurança coletivo impetrado por entidade associativa de caráter civil”.
Contudo, ao apreciar os embargos de declaração opostos contra o acórdão
que fixou a tese, esta Corte ressalvou, expressamente, não ter analisado se
as associações genéricas poderiam ter seus associados beneficiados por deci-
sões em mandado de segurança coletivo (3).

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

Nesse contexto, a mera criação e o registro da associação não impõem


ou autorizam, no aspecto da atuação processual, a automática e autêntica
legitimidade ativa das associações, sendo necessário à regular substituição
processual, que se determine, minimamente, o seu objeto social, a partir do
qual definido o conjunto de seus associados (4).
Com base nesse e em outros entendimentos, a Segunda Turma, por maio-
ria, deu provimento ao agravo regimental da União (Fazenda Nacional) para
negar provimento ao agravo em recurso extraordinário da Associação Brasi-
leira de Contribuintes Tributários (ABCT).
(1) Precedente citado: ARE 1.293.130 RG (Tema 1.119 RG)
(2) CF/1988: “Art. 5º (...) LXX – o mandado de segurança coletivo pode
ser impetrado por: (...) b) organização sindical, entidade de classe ou asso-
ciação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano,
em defesa dos interesses de seus membros ou associados;”
(3) Precedente citado: ARE 1.293.130 ED (Tema 1.119 RG).
(4) Precedente citado: RE 612.043 (Tema 499 RG).
ARE 1.339.496 AgR/RJ, relator Ministro Edson Fachin, redator do acórdão
Ministro André Mendonça, julgamento em 7.2.2023

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Mês de Março de 2023

*Informativo: 1087

DIREITO ADMINISTRATIVO
ESTATUTO DA ADVOCACIA; INCOMPATIBILIDADES

DIREITO CONSTITUCIONAL
FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA; ADVOCACIA; DIREITOS E
GARANTIAS FUNDAMENTAIS; ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Exercício da advocacia em causa própria por policiais e militares -

ADI 7.227/DF

Resumo:

É inconstitucional — por ofensa aos princípios da isonomia, da mo-


ralidade e da eficiência administrativa — norma que permite o exer-
cício da advocacia em causa própria, mediante inscrição especial na
OAB, aos policiais e militares da ativa, ainda que estritamente para
fins de defesa e tutela de direitos pessoais.

Esta Corte já concluiu que as restrições ao exercício da advocacia impos-


ta aos policiais e militares não ofendem a Constituição (1). Isso porque as
incompatibilidades têm a função de resguardar a liberdade e a independên-
cia da atuação do advogado, afastando-se a subordinação hierárquica ou o
exercício de atividades de Estado que exijam a imparcialidade em favor do
interesse público na aplicação da lei (2).
O advogado é indispensável à administração da Justiça (CF/1988, art.
133), de modo que o seu desempenho não pode ocorrer com sujeição a po-

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Mês de Março de 2023

deres hierárquicos próprios a atividades e regulamentos militares, ou ainda a


poderes hierárquicos decorrentes da atividade policial civil.
Nesse contexto, os regimes jurídicos a que os policiais e os militares são
submetidos não se compatibilizam com o exercício simultâneo da advocacia,
mesmo que em causa própria, pois inexiste a possibilidade de conciliarem as
atividades sem que ocorram conflitos de interesses.
As funções estatais relacionadas à preservação da segurança pública e da
paz social por eles exercidas propiciam uma influência indevida e privilégios
de acesso a autos de inquéritos e processos, entre outras vantagens que de-
sequilibram a relação processual. Assim, a incompatibilidade constitui medida
legal que objetiva impedir abusos, tráfico de influência ou práticas que colo-
quem em risco a independência e a liberdade da advocacia.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, converteu
a apreciação da medida cautelar em julgamento de mérito e julgou proceden-
te a ação para declarar a inconstitucionalidade dos §§ 3º e 4º do art. 28 da
Lei 8.906/1994, incluídos pela Lei 14.365/2022 (3).
(1) Precedentes citados: ADI 3.541 e RE 550.005 AgR.
(2) Precedentes citados: ADI 5.235 e RE 199.088.
(3) Lei 8.906/1994: “Art. 28. A advocacia é incompatível, mesmo em causa
própria, com as seguintes atividades: (…) V - ocupantes de cargos ou funções
vinculados direta ou indiretamente a atividade policial de qualquer natureza; VI -
militares de qualquer natureza, na ativa; (…) § 3º As causas de incompatibilidade
previstas nas hipóteses dos incisos V e VI do caput deste artigo não se aplicam
ao exercício da advocacia em causa própria, estritamente para fins de defesa e
tutela de direitos pessoais, desde que mediante inscrição especial na OAB, veda-
da a participação em sociedade de advogados. (Incluído pela Lei n. 14.365, de
2022) § 4º A inscrição especial a que se refere o § 3º deste artigo deverá cons-
tar do documento profissional de registro na OAB e não isenta o profissional do
pagamento da contribuição anual, de multas e de preços de serviços devidos à
OAB, na forma por ela estabelecida, vedada cobrança em valor superior ao exi-
gido para os demais membros inscritos. (Incluído pela Lei n. 14.365, de 2022)”

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Mês de Março de 2023

ADI 7.272/DF, relatora Ministra Cármen Lúcia, julgamento virtual finaliza-


do em 17.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

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DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDOR PÚBLICO; POLICIAIS CIVIS; CONSELHO; SINDICÂNCIA

DIREITO CONSTITUCIONAL
SEGURANÇA PÚBLICA; PROCESSO LEGISLATIVO; DIREI-
TOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS; PRESUNÇÃO DE
INOCÊNCIA
Estatuto da Polícia Civil do Estado do Paraná: alterações substan-

ciais e procedimentos em sede de sindicância policial - ADI 2.926/PR

Resumo:

É inconstitucional — por ofender o princípio da simetria — nor-


ma de Constituição estadual que prevê a edição de lei complementar
para disciplinar as atribuições e o estatuto das carreiras exclusivas
de Estado, visto que essa exigência não encontra paralelo na Consti-
tuição Federal (1), sobretudo em relação à carreira policial (CF/1988,
art. 144, § 7º).

Por outro lado, a votação e a aprovação de lei complementar em contexto


no qual se exigiria lei ordinária é apenas redundante, sem implicar vício for-
mal. Assim, se editada lei complementar para dispor sobre a organização e o
funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, a norma de-
verá ser tratada como lei ordinária, e não anulada por suposta inobservância
do processo legislativo.
É inconstitucional — por violar o devido processo legal (CF/1988,
art. 5º, LIV) e o princípio da não culpabilidade (CF/1988, art. 5º,
LVII) — norma estadual que prevê a supressão remuneratória de

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Mês de Março de 2023

policial investigado em sede de sindicância. Não obstante, o afas-


tamento do acusado deve ser analisado à luz do caso concreto, com
observância às garantias constitucionais do contraditório e da ampla
defesa (CF/1988, art. 5º, LV).
Esta Corte já decidiu que a presunção de inocência se estende até o trân-
sito em julgado da sentença penal condenatória. Desse modo, é evidente que
a tramitação do processo criminal, em si, não autoriza a supressão do paga-
mento do servidor público acusado de crime (2).
Já a possibilidade do afastamento preventivo do policial em sede de sindi-
cância (LC paranaense 14/1982, art. 240, §§ 5º e 6º) dependerá das circuns-
tâncias do caso concreto, diante da inviabilidade de determinação de um rol
exaustivo dos elementos fáticos que podem surgir na apuração administrativa
da falta funcional.
No que se refere à necessidade de um representante da Procuradoria-Geral
do Estado no Conselho da Polícia Civil (LC paranaense 14/1982, art. 6º, VII),
não há previsão constitucional no sentido de vedar o exercício aos advogados
públicos, ainda que em disponibilidade, de qualquer outra função pública (3).
No mais, é meramente expletiva a determinação de aplicação subsidiária
de normas análogas (na espécie, do Código de Processo Penal) a situações de
aparente anomia (LC paranaense 14/1982, na redação dada pela LC parana-
ense 98/2003, art. 243, § 1º). Esse método decorre do DL 4.657/1942 (Lei
de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - LINDB) (4).
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por unanimidade, conheceu
parcialmente da ação e, nessa extensão, por maioria, a julgou parcialmente
procedente para: (i) declarar a inconstitucionalidade do termo “complemen-
tar”, constante do § 9º do art. 33 da Constituição do Estado do Paraná; (ii)
declarar a inconstitucionalidade da expressão “com supressão das vantagens
previstas nesta lei”, contida no art. 216, § 1º, da LC 14/1982, na redação
dada pela LC 98/2003, ambas do Estado do Paraná; (iii) declarar a constitu-
cionalidade formal das LC 89/2001 e 98/2003, ambas do Estado do Paraná; e

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

(iv) declarar a constitucionalidade dos arts. 6º, VIII; 240, §§ 5º e 6º; e 243,
§ 1º, todos da LC 14/1982, na redação dada pela LC 98/2003, ambas do Es-
tado do Paraná.
(1) Precedente citado: ADI 5.003.
(2) Precedente citado: HC 151.430 AgR-segundo.
(3) CF/1988: “Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal,
organizados em carreira, na qual o ingresso dependerá de concurso público
de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em
todas as suas fases, exercerão a representação judicial e a consultoria jurí-
dica das respectivas unidades federadas. Parágrafo único. Aos procuradores
referidos neste artigo é assegurada estabilidade após três anos de efetivo
exercício, mediante avaliação de desempenho perante os órgãos próprios,
após relatório circunstanciado das corregedorias.”
(4) LINDB: “Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acor-
do com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.”
ADI 2.926/PR, relator Ministro Nunes Marques, julgamento virtual finaliza-
do em 17.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

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DIREITO CONSTITUCIONAL
REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS; DIREITO DO TRABA-
LHO; PROCESSO LEGISLATIVO; INICIATIVA DE LEIS
Criação de salas de descompressão para profissionais de enfer-

magem em hospitais - ADI 6.317/SP

Resumo:

É inconstitucional — por violação à competência privativa da União


para legislar sobre direito do trabalho (CF/1988, art. 22, I) — lei es-
tadual que obriga hospitais públicos e privados a criarem uma sala de
descompressão para ser utilizada por enfermeiros, técnicos de enfer-
magem e auxiliares de enfermagem.

A lei impugnada prevê a ampliação de um direito criado para determinada


categoria profissional e, ainda que vise à melhoria da saúde de seus integran-
tes, trata de questão trabalhista. Por esse motivo, não há se falar que o con-
teúdo normativo abrange matéria sanitária, atinente à política de proteção e
defesa da saúde, cuja competência, por outro lado, é concorrente da União,
dos estados e do Distrito Federal (CF/1988, art. 24, XII).
Ademais, como a lei em análise é de iniciativa parlamentar, também é
possível verificar sua inconstitucionalidade formal quanto aos hospitais públi-
cos, pois deve partir do chefe do Poder Executivo a iniciativa de projeto de lei
para regular relação com seus próprios servidores.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maio-
ria, julgou procedente a ação para declarar a inconstitucionalidade da Lei
17.234/2020 do Estado de São Paulo (1).
(1) Lei 17.234/2020 do Estado de São Paulo: “Art. 1º Os hospitais públicos
e privados do Estado ficam obrigados a criar uma sala de descompressão para

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ser utilizada pelos enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares de en-


fermagem. Art. 2º Nos hospitais públicos, a utilização do espaço de descom-
pressão de que trata o artigo 1º deverá ser regulamentada pela Secretaria da
Saúde do Estado. Art. 3º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.”
ADI 6.317/SP, relator Ministro Edson Fachin, redator do acórdão Ministro
Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em 15.3.2023

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DIREITO FINANCEIRO
LEI DE DIREITRIZES ORÇAMENTÁRIAS; EXECUÇÃO ORÇA-
MENTÁRIA; DESPESA DE PESSOAL; LIMITAÇÃO

DIREITO CONSTITUCIONAL
ORÇAMENTO; PODER JUDICIÁRIO; MINISTÉRIO PÚBLI-
CO; ELABORAÇÃO DE PROPOSTAS ORÇAMENTÁRIAS;
AUTONOMIA FINANCEIRA
Lei de Diretrizes Orçamentárias estadual: limitação das despesas

previstas em folha complementar pertencentes ao Poder Judiciário

e ao Ministério Público e exigência de participação conjunta - ADI

7.340 MC-Ref/CE

Resumo:

Encontram-se presentes os requisitos para a concessão da medida


cautelar, pois (i) há plausibilidade jurídica quanto às alegações de
que a norma cearense em debate não oportunizou a devida partici-
pação do Poder Judiciário e do Ministério Público cearenses no ciclo
orçamentário para o exercício de 2023; e (ii) há perigo da demora
na prestação jurisdicional, porque, na execução mensal do orçamen-
to público do ente cearense, a norma impugnada renovou a incons-
titucional limitação da autonomia financeira do Poder Judiciário e
do Ministério Público estaduais outrora verificada na LDO 2022 (Lei
17.573/2021 do Estado do Ceará).

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

Em apreciação envolvendo objeto similar ao do presente caso, esta Corte


fixou a seguinte tese de julgamento: “É inconstitucional a limitação de despe-
sas da folha complementar do Ministério Público Estadual do Estado do Ceará
em percentual da despesa anual da folha normal de pagamento, sem a devida
participação efetiva do órgão financeiramente autônomo no ato de estipula-
ção em conjunto dessa limitação na Lei de Diretrizes Orçamentárias” (1).
Nesse contexto, a grande probabilidade de a norma que dispõe sobre as
diretrizes para a elaboração e execução da lei orçamentária cearense para o
exercício de 2023 não ter possibilitado a participação do Poder Judiciário e do
Ministério Público estaduais, revela a aparente inconstitucionalidade do ob-
jeto ora hostilizado, por violação à sistemática orçamentária e financeira (2).
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, referendou a
medida cautelar deferida, com eficácia ex tunc, para: (i) declarar a inconstitu-
cionalidade da expressão “e Judiciário, no Ministério Público Estadual”, conti-
da no art. 74, § 5º, da Lei 18.159/2022 do Estado do Ceará (3); (ii) determi-
nar que, até o julgamento definitivo do mérito desta ação, não haja qualquer
limitação por parte dos Poderes Executivo e Legislativo que se fundamente
no objeto ora impugnado em termos de execução orçamentária do Poder Ju-
diciário e do Ministério Público cearenses, no que se refere às despesas em
folha suplementar em função de percentual dos gastos em folha normal de
pagamento, inclusive quanto ao mês de janeiro de 2023; e (iii) determinar
aos Poderes Executivo e Legislativo do Estado do Ceará que se abstenham
de incluir norma limitativa da execução de despesas previstas em folha su-
plementar do Poder Judiciário ou do Ministério Público estaduais, sem prévia
e devida participação destes, sob pena de responsabilidade em todas esferas
cabíveis de quem der causa ou impedir o cumprimento integral dessa decisão.
(1) Precedente citado: ADI 7.073.
(2) CF/1988: “Art. 99. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia ad-
ministrativa e financeira. § 1º Os tribunais elaborarão suas propostas or-
çamentárias dentro dos limites estipulados conjuntamente com os demais

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Poderes na lei de diretrizes orçamentárias. (...) Art. 127. O Ministério Público


é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incum-
bindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses
sociais e individuais indisponíveis. (...) § 2º Ao Ministério Público é assegura-
da autonomia funcional e administrativa, podendo, observado o disposto no
art. 169, propor ao Poder Legislativo a criação e extinção de seus cargos e
serviços auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de pro-
vas e títulos, a política remuneratória e os planos de carreira; a lei disporá
sobre sua organização e funcionamento. § 3º O Ministério Público elaborará
sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretri-
zes orçamentárias. (...) Art. 168. Os recursos correspondentes às dotações
orçamentárias, compreendidos os créditos suplementares e especiais, desti-
nados aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério Público e
da Defensoria Pública, ser-lhes-ão entregues até o dia 20 de cada mês, em
duodécimos, na forma da lei complementar a que se refere o art. 165, § 9º.”
(3) Lei 18.159/2022 do Estado do Ceará: “Art. 74. Para efeito da elabora-
ção e execução da despesa de pessoal, os Poderes e órgãos consignarão do-
tações específicas, distinguindo pagamento da folha normal e pagamento da
folha complementar. (...) § 5º As despesas da folha complementar do exercí-
cio de 2023 não poderão exceder a 1% (um por cento) da despesa anual da
folha normal de pagamento de pessoal projetada para o exercício de 2023,
em cada um dos Poderes, Executivo, Legislativo, compreendendo o Tribunal
de Contas do Estado, e Judiciário, no Ministério Público Estadual e na Defen-
soria Pública, ressalvados o caso previsto no inciso I do § 3º deste artigo, e
os casos definidos em lei específica.”
ADI 7.340 MC-Ref/CE, relator Ministro André Mendonça, julgamento virtu-
al finalizado em 17.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

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DIREITO TRIBUTÁRIO
CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS; CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCI-
ÁRIAS; BASE DE CÁLCULO; FOLHA DE SALÁRIOS; RECEI-
TA BRUTA; PRODUÇÃO RURAL; SENAR

DIREITO CONSTITUCIONAL
ORDEM SOCIAL; SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL; RE-
PARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS
Art. 25 da Lei 8.870/1994 e contribuição à seguridade social devida

pelo produtor rural pessoa jurídica - RE 700.922/RS (Tema 651 RG)

Tese fixada:

“I – É inconstitucional a contribuição à seguridade social, a cargo


do empregador rural pessoa jurídica, incidente sobre a receita bru-
ta proveniente da comercialização da sua produção, prevista no art.
25, I e II, da Lei 8.870/1994, na redação anterior à Emenda Consti-
tucional 20/1998; II – É constitucional a contribuição à seguridade
social, a cargo do empregador rural pessoa jurídica, incidente sobre
a receita bruta proveniente da comercialização da sua produção, pre-
vista no art. 25, I e II, da Lei 8.870/1994, na redação dada pela Lei
10.256/2001; III – É constitucional a contribuição social destinada
ao Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), de que trata o
art. 25, § 1º, da Lei 8.870/1994, inclusive na redação conferida pela
Lei 10.256/2001.”

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Resumo:

É constitucional o art. 25, I e II, da Lei 8.870/1994 (1), com a


redação dada pela Lei 10.256/2001, que prevê contribuição à segu-
ridade social, a ser paga pelo empregador rural pessoa jurídica, in-
cidente sobre a receita bruta proveniente da comercialização de sua
produção, em substituição à contribuição incidente sobre a folha de
salários de que tratam os incisos I e II do art. 22 da Lei 8.212/1991.

Nos termos previstos na redação originária do dispositivo, feita pela Lei


8.870/1994, a referida contribuição é inconstitucional. Por outro lado, na re-
dação conferida pela Lei 10.256/2001, que é posterior à EC 20/1998, ela é
constitucional. Isso, porque somente após a alteração do texto constitucional
ampliou-se a base econômica passível de incidência para também se consi-
derar a receita.
A contribuição, por estar assentada no art. 195, I, b, da CF/1988 (2), não
necessita da edição de lei complementar, já que não representa nova fonte
de custeio para a seguridade social. Nesse sentido, esta Corte reconheceu
que, quando há autorização constitucional para a instituição da contribuição,
inexiste afronta aos arts. 154, I, e 195, § 4º, da CF/1988 (3) (4).
Ademais, a proibição constitucional à cumulatividade e ao bis in idem
impede a criação de imposto ou contribuição social novos com fato gerador
ou base de cálculo próprios de imposto ou contribuição social já existentes.
Porém, é possível criar uma contribuição social constante do texto constitu-
cional com fato gerador ou base de cálculo idênticos aos de imposto existen-
te. Quanto ao princípio da não cumulatividade dos novos tributos, ele não
se refere à cumulação de dois tributos já previstos na Constituição Federal e
incidentes sobre o mesmo fato gerador.
É constitucional a contribuição social destinada ao SENAR, a ser
paga pelo empregador pessoa jurídica que se dedique à produção ru-
ral, estabelecida pelo § 1º do art. 25 da Lei 8.870/1994 (5).

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O ADCT expressamente autoriza a superposição tributária sobre fatos ge-


radores idênticos (art. 240) e remete a legislação do SENAR aos mesmos
moldes do regramento das demais entidades de serviço social e formação
profissional (art. 62).
Além disso, a contribuição para o SENAR não se submete às vedações dos
arts. 195, § 4º, e 154, I, da CF/1988, pois seu fundamento de validade reside
no art. 149 da CF/1988 (6).
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, ao
apreciar o Tema 651 da repercussão geral, deu provimento ao recurso extra-
ordinário da União, para denegar a segurança pleiteada. Por unanimidade, o
Tribunal fixou a tese supracitada.
(1) Lei 8.870/1994: “Art. 25. A contribuição devida à seguridade social
pelo empregador, pessoa jurídica, que se dedique à produção rural, em subs-
tituição à prevista nos incisos I e II do art. 22 da Lei 8.212, de 24 de julho de
1991, passa a ser a seguinte (Redação dada pela Lei n. 10.256, de 9.7.2001):
I – dois e meio por cento da receita bruta proveniente da comercialização de
sua produção; II – um décimo por cento da receita bruta proveniente da co-
mercialização de sua produção, para o financiamento da complementação das
prestações por acidente de trabalho.”
(2) CF/1988: “Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a
sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I – do empregador, da
empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre:
a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados,
a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo
empregatício; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro;”
(3) CF/1988: “Art. 154. A União poderá instituir: I – mediante lei com-
plementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não
cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos dis-

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Mês de Março de 2023

criminados nesta Constituição; (...) Art. 195. (...) § 4º A lei poderá instituir
outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade
social, obedecido o disposto no art. 154, I.”
(4) Precedente citado: ADI 1.417.
(5) Lei 8.870/1994: “Art. 25. A contribuição devida à seguridade social
pelo empregador, pessoa jurídica, que se dedique à produção rural, em subs-
tituição à prevista nos incisos I e II do art. 22 da Lei 8.212, de 24 de julho de
1991, passa a ser a seguinte: (...) § 1º O disposto no inciso I do art. 3º da
Lei 8.315, de 23 de dezembro de 1991, não se aplica ao empregador de que
trata este artigo, que contribuirá com o adicional de zero vírgula vinte e cinco
por cento da receita bruta proveniente da venda de mercadorias de produção
própria, destinado ao Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR).”
(6) CF/1988: “Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contri-
buições sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das ca-
tegorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas
respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e
sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a
que alude o dispositivo.”
RE 700.922/RS, relator Ministro Marco Aurélio, redator do acórdão Minis-
tro Alexandre de Moraes, julgamento finalizado em 15.3.2023

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DIREITO TRIBUTÁRIO
SANÇÕES TRIBUTÁRIAS; MULTA ISOLADA; CRÉDITO TRI-
BUTÁRIO; EXTINÇÃO; COMPENSAÇÃO

DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
Débito tributário: multa isolada pela não homologação de declara-

ção de compensação - ADI 4.905/DF

Resumo:

É inconstitucional — por violar o direito fundamental de petição e


o princípio da proporcionalidade — a aplicação de multa isolada pela
mera não homologação de declaração de compensação quando não
caracterizados má-fé, falsidade, dolo ou fraude.

Atendidos os requisitos legais, a compensação tributária configura direito


subjetivo do sujeito passivo que não se subordina à apreciação de conveniên-
cia e oportunidade da administração tributária. Por sua vez, a declaração de
compensação é um pedido lato sensu submetido à análise da administração,
que decidirá de forma definitiva, expressa ou tacitamente, pela homologa-
ção ou não.
Nesse contexto, a norma impugnada não se mostra proporcional, porque
(i) não é adequada para coibir fraudes, falsidade ou abuso de direito, eis que
essas condutas não fazem parte do preceito antecedente para a aplicação da
sanção; e (ii) a penalidade de multa não atende ao teste da necessidade, por
existirem mecanismos menos gravosos ao contribuinte de boa-fé para a pro-
teção dos interesses do Fisco.

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

Ademais, a aplicação automática da referida multa inibe o sujeito passivo


— atingindo principalmente os contribuintes de boa-fé — de pleitear a homo-
logação da declaração de compensação, de modo que representa obstáculo
ao exercício de seu direito de petição.
Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, conheceu em
parte da ação e, nessa extensão, a julgou procedente para declarar a in-
constitucionalidade do § 17 do art. 74 da Lei 9.430/1996, incluído pela Lei
12.249/2010 e alterado pela Lei 13.097/2015 (1), e, por arrastamento, a in-
constitucionalidade do inciso I do § 1º do art. 74 da Instrução Normativa da
Receita Federal do Brasil 2.055/2021.
(1) Lei 9.430/1996: “Art. 74. O sujeito passivo que apurar crédito, inclu-
sive os judiciais com trânsito em julgado, relativo a tributo ou contribuição
administrado pela Secretaria da Receita Federal, passível de restituição ou de
ressarcimento, poderá utilizá-lo na compensação de débitos próprios relati-
vos a quaisquer tributos e contribuições administrados por aquele Órgão. (...)
§ 17. Será aplicada multa isolada de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor
do débito objeto de declaração de compensação não homologada, salvo no
caso de falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo.”
ADI 4.905/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finaliza-
do em 17.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

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DIREITO TRIBUTÁRIO
SANÇÕES TRIBUTÁRIAS; MULTA ISOLADA; CRÉDITO TRI-
BUTÁRIO; EXTINÇÃO; COMPENSAÇÃO

DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
Multa automática pela simples negativa do pedido de compensa-

ção tributária - RE 796.939/RS (Tema 736 RG)

Tese fixada:

“É inconstitucional a multa isolada prevista em lei para incidir


diante da mera negativa de homologação de compensação tributária
por não consistir em ato ilícito com aptidão para propiciar automática
penalidade pecuniária.”

Resumo:

O pedido de compensação tributária não homologado, ao invés de


configurar ato ilícito apto a ensejar sanção tributária automática (Lei
9.430/1996, art. 74, § 17), configura legítimo exercício do direito de
petição do contribuinte (CF/1988, art. 5º, XXXIV).

Esse pedido de compensação não se compatibiliza com a função represso-


ra das multas tributárias, pois a automaticidade da sanção, sem se considerar
a índole subjetiva do agente, tornaria ilícito o próprio exercício de um direito
subjetivo público garantido pela Constituição (1).
Além disso, o art. 74, § 17, da Lei 9.430/1996 (2) viola o princípio do
devido processo legal em suas duas dimensões (3). Quanto à dimensão pro-

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Mês de Março de 2023

cessual, não se observa, no processo administrativo fiscal sob exame, uma


garantia às partes em relação ao exercício de suas faculdades e poderes
processuais. Quanto à material, inexiste razoabilidade, pois a legitimidade
tributária é ignorada na hipótese, dada a insatisfação simultânea do binômio
eficiência e justiça fiscal por parte do Estado.
Nesse contexto, somente a partir de um necessário juízo concreto, mo-
tivado e fundamentado em relação à observância, ou não, do princípio da
boa-fé pelo contribuinte que pretende a compensação tributária na via ad-
ministrativa, será possível afirmar eventual abusividade no exercício do seu
direito constitucional de petição, e aplicar a sanção tributária correspondente.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, ao apreciar o
Tema 736 da repercussão geral, conheceu do recurso extraordinário e negou-
-lhe provimento para declarar a inconstitucionalidade do já revogado § 15, e
do atual § 17 do art. 74 da Lei 9.430/1996.
(1) CF/1988: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual-
quer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e
à propriedade, nos termos seguintes: (...) XXXIV – são a todos assegurados,
independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Po-
deres Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e
esclarecimento de situações de interesse pessoal;”
(2) Lei 9.430/1996: “Art. 74. O sujeito passivo que apurar crédito, inclu-
sive os judiciais com trânsito em julgado, relativo a tributo ou contribuição
administrado pela Secretaria da Receita Federal, passível de restituição ou de
ressarcimento, poderá utilizá-lo na compensação de débitos próprios relati-
vos a quaisquer tributos e contribuições administrados por aquele Órgão. (...)
§ 17. Será aplicada multa isolada de 50% (cinquenta por cento) sobre o valor
do débito objeto de declaração de compensação não homologada, salvo no
caso de falsidade da declaração apresentada pelo sujeito passivo.”

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(3) Precedentes citados: ADI 173; ARE 915.424 AgR e ADPF 156.
RE 796.939/RS, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finaliza-
do em 17.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

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*Informativo: 1088

DIREITO ADMINISTRATIVO
CONCURSO PÚBLICO; DIREITO À NOMEAÇÃO; CANDIDA-
TO ESTRANGEIRO

DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
Direito à nomeação de estrangeiro aprovado em concurso público

– RE 1.177.699/SC (Tema 1.032 RG)

Tese fixada:

“O candidato estrangeiro tem direito líquido e certo à nomeação


em concurso público para provimento de cargos de professor, técni-
co e cientista em universidades e instituições de pesquisa científica
e tecnológica federais, nos termos do art. 207, § 1º, da Constituição
Federal, salvo se a restrição da nacionalidade estiver expressa no
edital do certame com o exclusivo objetivo de preservar o interesse
público e desde que, sem prejuízo de controle judicial, devidamente
justificada.”

Resumo:

É inconstitucional — por violar o princípio da isonomia (CF/1988,


art. 5º, caput) e a norma que estabelece às universidades e insti-
tuições de pesquisa científica e tecnológica a possibilidade de pro-
ver seus cargos com professores, técnicos e cientistas estrangeiros

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(CF/1988, art. 207, § 1º) — a negativa de nomeação de aprovado em


concurso público para cargo de professor em instituto federal, funda-
da apenas em motivo de nacionalidade.

Aos estrangeiros residentes no País é assegurada a inviolabilidade do di-


reito à igualdade. No que se refere a concurso público, a interpretação desse
preceito constitucional, em conjunto com os demais que norteiam a tutela dos
direitos essenciais da pessoa, garante ao cidadão estrangeiro aprovado o di-
reito de ser nomeado na respectiva função pública, em igualdade de condições
com os brasileiros (1). Assim, qualquer restrição relacionada à nacionalidade
deverá ser expressamente prevista em edital e devidamente fundamentada
em aspecto de interesse público, passível de controle judicial.
Na espécie, o concurso público para o qual o autor foi aprovado no cargo
de professor de informática do Instituto Federal Catarinense (IFC), refere-se
ao Edital 049/DDPP/2009, publicado na vigência da Lei 9.515/1997. Esta, por
sua vez, foi editada com o objetivo de regulamentar o § 1º do art. 207 da
CF/1988, incluído pela EC 11/1996.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema
1.032 da repercussão geral, deu provimento ao recurso extraordinário para
julgar procedentes os pedidos formulados na inicial, relativos à nomeação do
autor e ao direito à indenização por danos morais e materiais, estes últimos,
equivalentes ao período em que deveria ter sido empossado.
(1) Precedentes citados: ADI 1.350; RE 826.221 AgR e ARE 1.054.768 AgR.
RE 1.177.699/SC, relator Ministro Edson Fachin, julgamento virtual finali-
zado em 24.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

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DIREITO CONSTITUCIONAL
REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS; SAÚDE; PLANO DE
SAÚDE; TRATAMENTO MÉDICO-HOSPITALAR; FORNECI-
MENTO DE MEDICAMENTOS; PESSOA COM DEFICIÊNCIA
Obrigações contratuais de operadoras de plano de saúde em rela-

ção a pessoas com deficiência em âmbito estadual - ADI 7.208/MT

Tese fixada:

“É inconstitucional, por violação à competência da União para le-


gislar sobre direito civil e seguros (CF/1988, art. 22, I e VII), lei
estadual que estabelece obrigações contratuais para operadoras de
planos de saúde.”

Resumo:

Compete à União regular o mercado de planos de saúde, o que


inclui a normatização da matéria (CF/1988, art. 22, VII), bem como
toda a fiscalização do setor (CF/1988, art. 21, VIII).

Os planos de saúde compartilham com os seguros e a previdência privada


um forte componente atuarial. Assim, a regulação econômica em sentido es-
trito é confiada ao ente central, de modo que, considerado o caráter nacional
da atividade regulada, cabe à União, na condição de única entidade federativa
com abrangência territorial para alcançar todo o mercado nacional, o plane-
jamento, a absorção e a distribuição de seus efeitos (1).
Na espécie, a lei estadual impugnada busca definir, dentre outros, os tra-
tamentos e intervenções terapêuticas que as prestadoras estão obrigadas a
custear, a cobertura a ser ofertada aos consumidores, a quantidade e a du-
ração das sessões. Nesse contexto, ela interfere diretamente na regulação

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

dos planos de saúde, mais especificamente na relação jurídica entre as suas


operadoras e usuários, matéria que já possui vasta normatização federal,
seja pela Lei 9.656/1998 ou pelas resoluções da ANS que regulam o rol de
procedimentos e eventos em saúde.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou pro-
cedente a ação para declarar a inconstitucionalidade da Lei 11.816/2022 do
Estado do Mato Grosso (2).
(1) Precedentes citados: ADI 4.701; ADI 7.172; ADI 6.452 e ADI 7.023.
(2) Lei 11.816/2022 do Estado do Mato Grosso: “Art. 1º As empresas de
seguro-saúde, empresas de medicina de grupo, cooperativas de trabalho mé-
dico ou outras que atuam sob a forma de prestação direta ou intermediação
dos serviços médico-hospitalares e operam no Estado de Mato Grosso estão
obrigadas a garantir o atendimento integral e fornecer o tratamento adequa-
do às pessoas com deficiência, nos termos da Lei Federal n. 12.764, de 27 de
dezembro de 2012, e da Lei Federal n. 13.146, de 6 de julho de 2015, não po-
dendo impor restrições de qualquer natureza. § 1º Compreende-se por aten-
dimento integral e tratamento adequado como aqueles que cumprem total e
integralmente a prescrição médica que definiu a melhor intervenção terapêu-
tica ou tratamento ao paciente pelo profissional de saúde que o acompanha.
§ 2º As determinações desta Lei não incluem a busca ou fornecimento de
medicamentos de quaisquer naturezas. Art. 2º As prestadoras de serviço de
saúde descritas no caput do art. 1º devem oferecer cobertura necessária para
multiprofissional, respeitando os termos do médico assistente que acompa-
nha a pessoa com deficiência, sob pena de serem compelidas a custear ou
reembolsar integralmente as despesas com profissionais não credenciados.
Parágrafo único A observância à prescrição médica indicada ao paciente, res-
peitando o atendimento multiprofissional ao deficiente, abrange a presença
de profissionais capacitados e especializados nas áreas prescritas, bem como
a quantidade e a duração das sessões e a aplicação da técnica indicada pelo
médico assistente que acompanha o paciente com deficiência. Art. 3º A fis-

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Mês de Março de 2023

calização, apuração de denúncias e autuação por descumprimento desta Lei


é de responsabilidade dos órgãos de proteção ao consumidor, sem prejuízo
da atuação do Ministério Público. Art. 4º O não cumprimento dos preceitos
desta Lei sujeitará às operadoras de plano ou seguro de saúde infratoras, sem
descartar a responsabilidade solidária das clínicas de tratamento, à multa de
1.000 (mil) Unidades Padrão Fiscal de Mato Grosso - UPF/MT para cada caso
apurado, aplicando-se o dobro em caso de reincidência. Parágrafo único. Os
valores decorrentes da cobrança das multas serão integralmente revertidos
para capacitação, treinamento e melhoria das condições de trabalho dos pro-
fissionais que atuam junto às pessoas com deficiência nas clínicas e centros
de atendimento do Estado de Mato Grosso. Art. 5º Esta Lei entra em vigor na
data de sua publicação.”
ADI 7.208/MT, relator Ministro Roberto Barroso, julgamento virtual finali-
zado em 24.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

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DIREITO CONSTITUCIONAL
REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS; TRÂNSITO; TRANSPORTE

DIREITO ADMINISTRATIVO
SISTEMA NACIONAL DE TRÂNSITO; INFRAÇÕES
Previsão de parcelamento de multas de trânsito e pagamento de débitos
com cartões de crédito em âmbito distrital - ADI 6.578/DF
Resumo:
É inconstitucional — por violar a competência privativa da União para le-
gislar sobre trânsito e transporte (CF/1988, art. 22, XI) — lei distrital que
prevê a possibilidade de parcelamento de multas decorrentes de infrações de
trânsito e o pagamento de débitos com cartão de crédito.
Na espécie, a lei distrital impugnada possibilita o parcelamento das multas
aplicadas aos veículos automotores, emitidas por órgão ou entidade executi-
va de trânsito e executiva rodoviária do Distrito Federal, em até 12 vezes, e
o pagamento dos débitos junto ao seu Departamento de Trânsito por cartão
de crédito.
Esta Corte possui entendimento consolidado no sentido da inconstitucio-
nalidade de normas estaduais que disponham sobre as formas de pagamen-
to das multas aplicadas pelos órgãos de fiscalização de trânsito, bem como
daquelas que, de algum modo, inovem em matéria pertinente à disciplina
normativa do trânsito (1).
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou pro-
cedente a ação para declarar a inconstitucionalidade da Lei 5.551/2015 do
Distrito Federal (2).
(1) Precedentes citados: ADI 3.708; ADI 3.196; ADI 3.444; ADI 5.778;
ADI 5.222; ADI 3.269 e ADI 6.612.

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Mês de Março de 2023

(2) Lei 5.551/2015 do Distrito Federal: “Art. 1º As multas aplicadas aos


veículos automotores, emitidas por órgão ou entidade executiva de trânsito
e executiva rodoviária do Distrito Federal, podem ser parceladas em até 12
vezes. Parágrafo único. A solicitação do parcelamento previsto no caput e o
pagamento da primeira parcela garantem ao proprietário do veículo a emis-
são do Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo. Art. 2º Os débitos
junto ao Departamento de Trânsito do Distrito Federal – DETRAN-DF podem
ser pagos com cartão de crédito, ficando a cargo dos usuários todas as taxas
cobradas pela respectiva operadora do cartão de crédito. Art. 3º O Poder Exe-
cutivo regulamentará esta Lei no prazo de 90 dias, contados da data de sua
publicação. Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Art. 5º
Revogam-se as disposições em contrário.”
ADI 6.578/DF, relator Ministro Ricardo Lewandowski, julgamento virtual
finalizado em 24.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

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DIREITO FINANCEIRO
ORÇAMENTO; DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS; DESPESAS
COM PESSOAL; LIMITE; CONTRATOS DE TERCEIRIZAÇÃO
DE MÃO DE OBRA; LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL

DIREITO CONSTITUCIONAL
REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS; DIREITO FINANCEIRO;
ORÇAMENTO; EQUILÍBRIO FISCAL
LDO distrital: cálculo do limite da despesa total com pessoal para

o exercício financeiro e exclusão dos valores relativos aos contratos

de terceirização de mão de obra - ADI 5.598 MC/DF

Resumo:

É inconstitucional — por violar a competência da União para estabe-


lecer normas gerais sobre direito financeiro e orçamentário (CF/1988,
art. 24, I, II e §§ 1º a 4º) e por afrontar o princípio do equilíbrio fiscal
(CF/1988, art. 169) — lei distrital que, ao tratar do cálculo do limite
da despesa total com pessoal para o exercício financeiro, estabelece
regime contrário ao fixado na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

Na espécie, os diplomas distritais questionados, ao preverem que não se


qualificam como substituição de servidores e empregados públicos os con-
tratos de terceirização de mão de obra cujo objeto é o desempenho de ativi-
dades com determinadas características, invadem a competência da União e
se antecipam ao intérprete da legislação federal, em sentido colidente com o
propósito do art. 18, § 1º, da LC 101/2000, a LRF (1).

93
GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

Nesse contexto, o legislador distrital não pode, a pretexto de suplementar


e especificar o sentido da referida norma geral federal, alterar o seu significa-
do de modo a afastar a sua incidência sobre hipótese em que, na realidade,
deveria incidir.
Ademais, as leis impugnadas, que dispõem sobre as diretrizes orçamentá-
rias para os exercícios financeiros de 2017 e 2018 do Distrito Federal, confe-
rem ao Poder Executivo a possibilidade de excluir do cômputo das despesas
com pessoal, discricionariamente, todo e qualquer contrato de terceirização
firmado pela Administração distrital, de modo a consagrar a realização de
despesa com pessoal em excesso aos limites estabelecidos na LRF (2).
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, converteu o
julgamento da medida cautelar em julgamento definitivo de mérito, conheceu
parcialmente da ação e, nessa extensão, a julgou procedente para declarar
a inconstitucionalidade formal e material do art. 51, § 1º, da Lei 5.695/2016
(3), e do art. 53, § 1º, da Lei 5.950/2017 (4), ambas do Distrito Federal.
(1) LRF/2000: “Art. 18. Para os efeitos desta Lei Complementar, entende-
-se como despesa total com pessoal: o somatório dos gastos do ente da Fede-
ração com os ativos, os inativos e os pensionistas, relativos a mandatos ele-
tivos, cargos, funções ou empregos, civis, militares e de membros de Poder,
com quaisquer espécies remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens,
fixas e variáveis, subsídios, proventos da aposentadoria, reformas e pensões,
inclusive adicionais, gratificações, horas extras e vantagens pessoais de qual-
quer natureza, bem como encargos sociais e contribuições recolhidas pelo
ente às entidades de previdência. § 1º Os valores dos contratos de terceiriza-
ção de mão de obra que se referem à substituição de servidores e emprega-
dos públicos serão contabilizados como ‘Outras Despesas de Pessoal’.”
(2) Precedente citado: ADI 5.449 MC-Ref.
(3) Lei 5.695/2016 do Distrito Federal: “Art. 51. O disposto no art. 18,
§ 1º, da LRF, aplica-se para fins de cálculo do limite da despesa total com
pessoal. § 1º Não se consideram como substituição de servidores e empre-

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Mês de Março de 2023

gados públicos, para efeito do caput, os contratos de terceirização relativos


à execução indireta de atividades que, simultaneamente: I - sejam acessó-
rias, instrumentais ou complementares aos assuntos que constituem área de
competência legal do órgão ou entidade; II - atenda a pelo menos uma das
seguintes situações: a) não se refiram a categorias funcionais abrangidas por
plano de cargos do quadro de pessoal do órgão ou entidade, salvo expressa
disposição legal em contrário, ou b) se refiram a cargo ou categoria extinta,
total ou parcialmente, c) tenha sua desnecessidade declarada por meio de ato
administrativo.”
(4) Lei 5.950/2017 do Distrito Federal: “Art. 53. O disposto no art. 18,
§ 1º, da LRF, aplica-se para fins de cálculo do limite da despesa total com
pessoal. § 1º Não se consideram como substituição de servidores e empre-
gados públicos, para efeito do caput, os contratos de terceirização relativos
à execução indireta de atividades que, simultaneamente: I – sejam acessó-
rias, instrumentais ou complementares aos assuntos que constituem área de
competência legal do órgão ou entidade; II - atenda a pelo menos uma das
seguintes situações: a) não se refiram a categorias funcionais abrangidas por
plano de cargos do quadro de pessoal do órgão ou entidade, salvo expressa
disposição legal em contrário; b) se refiram a cargo ou categoria extinta, to-
tal ou parcialmente; c) tenha sua desnecessidade declarada por meio de ato
administrativo.”
ADI 5.598/DF, relatora Ministra Rosa Weber, julgamento virtual finalizado
em 24.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

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DIREITO PENAL
NORMA PENAL EM BRANCO; TIPICIDADE; CRIMES CON-
TRA A SAÚDE PÚBLICA; INFRAÇÃO DE MEDIDA SANITÁ-
RIA PREVENTIVA

DIREITO CONSTITUCIONAL
REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS
Complementação de norma penal em branco por ato normativo estadual
ou municipal - ARE 1.418.846/RS (Tema 1.246 RG)
Tese fixada:

“O art. 268 do Código Penal veicula norma penal em branco que


pode ser complementada por atos normativos infralegais editados
pelos entes federados (União, Estados, Distrito Federal e Municípios),
respeitadas as respectivas esferas de atuação, sem que isso implique
ofensa à competência privativa da União para legislar sobre direito
penal (CF, art. 22, I).”

Resumo:

A complementação de norma penal em branco por ato normativo


estadual, distrital ou municipal, para aplicação do tipo de infração
de medida sanitária preventiva (Código Penal, art. 268), não viola
a competência privativa da União para legislar sobre direito penal
(CF/1988, art. 22, I).

O art. 268 do Código Penal (1) veicula, em sua redação, o preceito primá-
rio incriminador, isto é, o núcleo essencial da conduta punível, de modo que a

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Mês de Março de 2023

União exerceu, de forma legítima e com objetivo de salvaguardar a incolumida-


de da saúde pública, sua competência privativa de legislar sobre direito penal.
No entanto, o referido tipo penal configura norma penal em branco hete-
rogênea, razão pela qual necessita de complementação por atos normativos
infralegais, tais como decretos, portarias e resoluções (2). Na espécie, essa
complementação se faz mediante ato do poder público, compreendida a com-
petência de quaisquer dos entes federados.
Ademais, ela não se reveste de natureza criminal, mas, via de regra, ad-
ministrativa e técnico-científica, o que justifica a possibilidade de edição do
ato normativo suplementador pelo ente federado com competência adminis-
trativa para tanto.
Nesse contexto, de acordo com o entendimento desta Corte, a compe-
tência para proteção da saúde, no plano administrativo e no legislativo, é
compartilhada entre a União, o Distrito Federal, os estados e os municípios,
inclusive para impor medidas restritivas destinadas a impedir a introdução ou
propagação de doença contagiosa. Assim, o descumprimento das medidas e
dos atos normativos de controle epidemiológico previstos na Lei 13.979/2020,
editados pelos entes federados em prol da incolumidade pública, enseja con-
sequências no campo do direito penal.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, reconheceu
a existência da repercussão geral da questão constitucional suscitada (Tema
1.246 da repercussão geral) e, no mérito, por maioria, reafirmou a juris-
prudência dominante sobre a matéria (3) para dar provimento ao recurso
extraordinário e, consequentemente, determinar o prosseguimento da ação
penal ao afastar a alegação de atipicidade da conduta por ausência de norma
complementadora do art. 268 do Código Penal.
(1) CP/1940: “Art. 268 - Infringir determinação do poder público, destina-
da a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa: Pena - deten-
ção, de um mês a um ano, e multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de

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um terço, se o agente é funcionário da saúde pública ou exerce a profissão de


médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro.”
(2) Precedente citado: HC 128.894.
(3) Precedentes citados: ADI 6.341 MC-Ref; ADPF 672 MC-Ref e ADI 6.855.
ARE 1.418.846/RS, relatora Ministra Presidente, julgamento finalizado no
Plenário Virtual em 24.3.2023

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DIREITO PROCESSUAL PENAL


JURISDIÇÃO; HABEAS CORPUS

DIREITO CONSTITUCIONAL
PODER JUDICIÁRIO; COMPETÊNCIA JURISDICIONAL ORI-
GINÁRIA
Competência do TJDFT para julgar habeas corpus contra ato de autorida-
des locais - ADI 5.278/DF
ODS: 16
Resumo:
É inconstitucional — por usurpar a competência do STJ (CF/1988, arts.
105, I, “a” e “c”; e 128, I, “d”) — norma que atribui ao TJDFT a competência
originária para processar e julgar ações de habeas corpus nas quais figurem
como autoridades coatoras (i) o Presidente e membros do TJDFT; (ii) o Pre-
sidente e membros do Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF); e (iii) o
Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios.
Consoante disposição expressa da Constituição Federal de 1988, compete
ao STJ processar e julgar originariamente a ação de habeas corpus quando o
coator ou paciente for desembargador do TJDFT, membro do TCDF ou mem-
bro do Ministério Público da União que oficie perante tribunais (1).
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou pro-
cedente a ação para declarar a inconstitucionalidade parcial, sem redução do
texto, do art. 8º, I, c e d, da Lei 11.697/2008 (2), a fim de afastar a inter-
pretação segundo a qual compete ao TJDFT processar e julgar habeas corpus
contra ato: (i) do Presidente ou de qualquer dos membros do TJDFT; (ii) do
Presidente ou qualquer dos membros do TCDF; e (iii) do Procurador-Geral de
Justiça do Distrito Federal e dos Territórios.

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(1) CF/1988: “Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - pro-


cessar e julgar, originariamente: a) nos crimes comuns, os Governadores
dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os
desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal,
os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos
Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho,
os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do
Ministério Público da União que oficiem perante tribunais; (...) c) os habeas
corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas mencionadas
na alínea ‘a’, ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro
de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, res-
salvada a competência da Justiça Eleitoral; (...) Art. 128. O Ministério Público
abrange: (...) I - o Ministério Público da União, que compreende: (...) d) o
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios;”
(2) Lei 11.697/2008: “Art. 8º Compete ao Tribunal de Justiça: I – proces-
sar e julgar originariamente: (...) c) os mandados de segurança e os habeas
data contra atos do Presidente do Tribunal e de qualquer de seus órgãos e
membros, do Procurador-Geral da Justiça do Distrito Federal e dos Territórios,
dos Juízes do Distrito Federal e dos Territórios, do Governador do Distrito Fe-
deral, dos Governadores dos Territórios, do Presidente do Tribunal de Contas
do Distrito Federal e de qualquer de seus membros, do Procurador-Geral do
Distrito Federal e dos Secretários de Governo do Distrito Federal e dos Terri-
tórios; d) os habeas corpus, quando o constrangimento apontado provier de
ato de qualquer das autoridades indicadas na alínea c deste inciso, exceto o
Governador do Distrito Federal;”
ADI 5.278/DF, relator Ministro Gilmar Mendes, julgamento virtual finaliza-
do em 24.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

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Mês de Março de 2023

DIREITO TRIBUTÁRIO
IMPOSTOS; ICMS; NÃO CUMULATIVIDADE; CRÉDITO
TRIBUTÁRIO; SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA

DIREITO CONSTITUCIONAL
SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL; IMPOSTOS DOS ESTA-
DOS E DO DISTRITO FEDERAL; COMBUSTÍVEIS
Direito a crédito de ICMS requerido por distribuidora de combus-

tíveis nas operações com diferimento do pagamento do tributo – RE

781.926/GO (Tema 694 RG)

Tese fixada:

“O diferimento do ICMS relativo à saída do álcool etílico anidro com-


bustível (AEAC) das usinas ou destilarias para o momento da saída da
gasolina C das distribuidoras (Convênios ICMS 80/1997 e 110/2007)
não gera o direito de crédito do imposto para as distribuidoras.”

Resumo:

As distribuidoras de combustíveis não possuem direito a crédito


do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) rela-
tivo ao álcool etílico anidro combustível (AEAC) adquirido de usinas
ou destilarias quando ocorrer o diferimento do pagamento daquele
tributo (consistente em substituição tributária para trás).

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Março de 2023

A “gasolina C”, comercializada pelas distribuidoras, resulta da mistura de


“gasolina A”, insumo adquirido de refinarias com o AEAC, insumo adquirido
das usinas e destilarias pelo regime de diferimento.
Nesse contexto, o ICMS referente à saída do álcool anidro das usinas ou
destilarias é postergado para o momento em que ocorrer a saída da “gasolina
C” dos estabelecimentos distribuidores de combustíveis. O estado federado
não cobra o ICMS quando da própria saída do AEAC das usinas ou destilarias
para as distribuidoras. As usinas, as destilarias e as refinarias também nada
pagam a título do ICMS quando da saída do álcool em questão. Assim, sem o
recolhimento anterior do ICMS, não é possível o creditamento pelas distribui-
doras em razão da aquisição do AEAC, ainda que o imposto fique “destacado”
na nota fiscal de venda do álcool (1).
A técnica do diferimento respeita a não cumulatividade, que busca afastar
o efeito cascata da tributação. Ausente esse efeito, inexiste qualquer violação
ao preceito do art. 155, § 2º, I, da CF/1988 (2). Ademais, a cobrança unifica-
da do ICMS não se confunde com cobrança cumulativa do imposto (3).
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por maioria, ao apre-
ciar o Tema 694 da repercussão geral, negou provimento ao recurso extraordinário.
(1) Precedente citado: ADI 4.171.
(2) CF/1988: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir
impostos sobre: (...) II – operações relativas à circulação de mercadorias e
sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e
de comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exte-
rior; (...) § 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: I – será
não cumulativo, compensando-se o que for devido em cada operação relativa
à circulação de mercadorias ou prestação de serviços com o montante cobra-
do nas anteriores pelo mesmo ou outro Estado ou pelo Distrito Federal;”
(3) Precedente citado: RE 91.848.
RE 781.926/GO, relator Ministro Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado
em 24.3.2023 (sexta-feira), às 23:59

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