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Realismo, Impressionismo
e os Pré-Rafaelitas N
(1848 a 1885)
mais interes-
enquanto estilo eatitude intelectual.
Cada vez as pessoas se
A
tamento
savam pelo universo físico, pela fisiologia, pelo empirismo pela
como forma de compreensão da natureza, da sociedade e do compor-
12agão e da urbanização, as fisiologias 1850, o réalisme foi uma chamada às armas da nova arte c da
muta-
interpretar e compreender profundas
as
Ontrado para literatura. O evangelista do realismo era o crítico Jules-Antoine
Oes sociais que ocorriam. Castagnary (1831-1888), que, na sua crítica do Salon de 1857,
n o m e de
recebeu o
política, este n o v o pragmatismo
Na
realidade",
escreveu: "não é necessário regressar à história, procurar refúgio
da
calpolitik. palavra alemã que significa "política em lendas nem invocar os poderes da imaginação. A beleza está
perante os nossos olhos, não nos nossos cérebros; está no presente,
REALSI,
InRESSIONISM0 E OS PRE-RAFAELITAS (1848 A I885) 88I
POSITIVIsMO:
CAPITULO 25 A ERA DO
00 Milhas
sete Florença
doNIg Boston PORTUGAL Madrid
Roma
Hartiord TÁLIA
Chicago r Nova lorque ESPANHAR MEDITERRANE
e lander St Louis Gettysbu Atlantic City
Cincinnati Filadélfia
ESTADOS Washington
PRarguei Nacong
dosemite UNIDOS CAROLINA DO SUL ARGELIA
Atlanta "charleston
OCEANO ATLANTICO
Golfo do México
MEXICO ÁFRICA
JAPÃO
MA
DAS CARAIBAS Baia
de Tóquio
OCEANO
PACIFICO
AMÉRICA DO SUL
500
00 1000 Milhas
1000 Quilometros
LIBÉRIA 500
0 Mihas
Quilometras
os colec-
mento célere. Na pintura de paisagem, este realismo evoluiu vanguarda e por alguns peritos de arte, entre os quais
cionadores. A dissociação entre a vanguarda e o público
em
beira-rio. Pintando ao ar livre, com pinceladas rápidas e ousadas, ças radicais que ocorreram na sociedade e que o seu nascl
e com cores fortes, os Impressionistas captavam com rapidez o coincide com a grande Revolução de 1848, que deflagrou po
mundo que se desenrolava perante o seu olhar, a aparência toda a Europa.
provisóriae de esboço dos quadros concluídos, reflectiam o
carácter transitório de um mundo contemporâneo em constante
O REALISMO EM FRANÇA
mudança.
Se os Impressionistas estavam empenhados na criação de O ano de 1848 marcou profundamente a França. pelos
ran
uma arte
empíricae figurativa real1sta meros levantamentos e tunmultos populares que a atravCs
e, por conseguinte, -o
-
ociedade
Modernismo foi, inadvertidamente, um subproduto das suas Republicanos, liberais e socialistas (defensores de uma
ados } or
inovaçõcs estilísticas. Para as geraçõcs seguintes, as cores vivas Sem classes, na qu:al os meios de produção são control ano
cas
pinceladas amplas, ou seja, as qualidades abstractas, areciam un colectivo popular ou pelo governo) uniram-se nes
d o o ret
destronar os componentes figurativos para exigir uma presença mais forte no governo. u
enquanto temas princ1pais 1t:vel e
das suas telas. No século xx, críticos e historiadores Luis Filipe recusou, o conflito armado tornou-se ine
etiquetaram 1sOrio
esta mudança na arte em
direcção à abstracção como "Moder- Ievou à abdicação do monarca. Um primeiro governo pi
burgues1a floresceu, ao mesmo tempo que crescia a sua apetên- caricatura, convenceu Courbet a regressar às suas raízes rurais
Cia por bens materiais. A e a pintar o mundo simples de Ornans.
Exposição Internacional de Paris de
1855
resposta às novas atitudes consumistas e nela se
surgiu em No Outono de 1849, Courbet regressou, pois, a Ornans e foi
apresentaram produtos provenientes de países de todo o mundo. no sótão da dos seus pais
casa
que ele pintou o Enterro em Ornans,
A uma tela com mais de 6 metros de
exposição parisiense foi criada para competir com a primeira comprimento (fig. 25.1), que
grande feira internacional de comércio apresentada em Lond res, foi aceite no Salon para a
exposição de 1850-51. Muitos obser-
no ano de 1851, a Grande Exposição dos Trabalhos da Indústria vadores consideraram-se ofendidos e chocados
pela pintura, que
de Todas as Nações. Em Paris, a nova atmosfera de apresentava uma procissão de homens e mulheres do povo,
prosperidade, gente
combinada com o aumento do tempo disponível para lazer, fez comum, representada de uma forma
grosseira e pesada, sem
despontar um sem fim de grandiosos restaurantes, cafés, gran- traço de elegância ou idealização. Os
populares de Ornans,
muitos dos quais podem ser
des armazéns, teatros, clubes, parques e pistas de corridas, onde identificados, posaram para Cour-
as bet e o pintor não só documentou as suas
pessoas, muitas vezes oriundas de classes sociais diferentes, roupas e pose como
se deu ao trabalho de
Se reuniam e faziam compras. identificá-los pelas feições,
contavam narizes
nas
quais se
General Wolfe (ver fig. 23.7). Ao invés, a imagem favorece as De novo, Courbet retrata as figuras de forma
composições simples e ousadas que se encontram em obras de
completamente
verídica: a pobrezae a classe social são anunciadas pelas roupas
arte popular como panfletos, almanaques e folhas impressas com
rasgadas, pela dureza do seu trabalho e pela sujidade sob as
canções populares a arte do povo, não da academia. unhas. Além disso, Courbet dá aos trabalhadores a mesma
O quadro parece tão factual que se torna difícil apreender intensidade de pormenores com que executou as pedras e o tacto
o tema a uma primeira observação.
A esquerda, temos os por- de não podermos ver os seus rostos transforma-05 em objectos
tadores do caixão e o mesmo, a que se segue um padre e o inanimados, como as próprias rochas e as ferramentas de tra-
sacristão, seguidos por habitantes da cidade; à direita, encontra- balho. De novo falta uma estrutura convencional à composiçao
mos as mulheres. Em primeiro plan0, ao centro, uma
sepultura eo nosso olhar salta de um elemento para o seguinte, sem direc
aberta. Porém, não chegamos sequer a saber de quem é o fune- ção de qualquer natureza.
ral e não é claro que este quadro seja um comentário sobre o Se a mensagem socialista do quadro dividiu o público em
carácter definitivo da morte, embora seja cste o candidato mais críticas e elogios, os dois lados não deixaram de admirar a
forte ao tema. E claro que o quadro é um documento de um materialidade da imagem. Aqui, como no Enterro, Courbet
ritual social que obedece rigorosamcnte às distinções de género, aplicou a tinta em pinceladas generosas, por vezes chegando
profissão e classe em Ornans. Acima de tudo, cleva os rituais da de
a servir-se uma espátula de pintura, transformando o pin
burgucsia provinciana a um estatuto semelhante ao dos acon- tor num artesão ou num
jornaleiro. A ousadia na aplicaçaod
tecimentos históricos. Com efeito, esta pintura representou um natureza física e poderosa das figuras e. pel
tinta retorça a
ataque ao género, então muito apreciado, da pintura de história, Sua mera presença, acaba por substituir-se aos objectos ma
pelo que não surpreende que a obra de Courbet tenha suscitado riais. Tanto em O Enterro como em Os Canteiros, as tig
sentimentos de repulsa e rejeição em muitos parisienses. Igual- ocupam um espaço pouco profundo, parecendo terem su
mente desagradável foi a ameaça 10
política da burguesia de Ornans, impelidas para a
superficie da tela. A própria paisagem
e
que durante a Segunda República dispunha de considerável pouco profunda que parece um pano de cena, forçando o no
poder eleitoral, capaz de influenciar as eleições nacionais. Além Olnar a permanecer em primeiro plano. Courbet nunca rc
disso, a burguesia de Ornans lembrava a muitos burgueses de nheceu ter pintado Os Canteiros com objectivos socialistas. t
Paris as suas próprias origens provincianas, algo que muitos esta "completa expressão da miséria humana", como o propl
indo-
tentavam igualmente esconder. artista reconheceu, incidia sobre a injustiça social, asst
Courbet expôs uma segunda pintura de Ornans no Salon de -Se como produto da Revolução de 1848. Neste espirito.
1850-1851, Os Canteiros (fig. 25.2), em quc nos apresenta, cm Cz ae apresentar a vida rural numa cena bucólica ou col
tamanho natural, dois trabalhadores que encontrou nos arra- dos seus
Ourbet preferiu representar a dureza da realidade s
baldes da povoaçãoa partir pedra para a construção das estradas.
habitantes.
bem que não tenha sido rejeitado pelos Salons, Courbet recusou
Cpender deles para promover a sua carreira e, ao invés, Virou-se
para as mostras comercais.
25.3. Jean-lFrançois Millet. ( Semeudo. ca. 1850. Oleo sobre tela.
101,6 x 82,6 cm. Museum of Fine Arts, Boston. IDoação de
da Quincy
EAN-FRANÇOIS MILLET Podemos ver a simplicidade Adams Shaw através cde (Quincy A. Shaw Jr. e Mrs. Marion Shaw
apresentação ea falta de emoçãodas pinturas de (Courbet quando Haughton. 17.1485
25.5. Honoré
Daumicr. A Carruagem de Terceina
Classe. ca. 1863-1865. Olco sobre tela,
The
Mctropolitan Museum of Art, Nova 65,4x 90,2 cm.
Legado de Mrs. H. O. Havemeyer, 1929. lorque.
Colecgão H. O. Havemeyer (29.100.129)
A emergência de um
público burguês letrado e o desenvolvi- tenha aprendido a pintar sozinho durante a década de 1840. Em
mento de um
tipo de papel e processos de impressão de baixo contraste com a sua produção mais comercial, os óleos que pin-
custo converg1ram no jornal como hoje o conhecemos e as lito-
tou são obras que revelam uma
profunda compaixão pelas
grafias e as xilogravuras foram os meios usados para a sua realidades representadas. Nelas não se detectam quaisquer ves-
popularização. A maior parte dos trabalhos de Daumier era tígios de humor ou sátira e, aproveitando a perícia do caricaturista
absorvida pelos jornais socialistas La Caricature c Le Charivari, para captar concisamente os caracteres e os tipos físicos das suas
consagrados à sátira política e social. Era um "casamento per- personagens, capturou, na perfeição, os ambientes psicológicos
feito", na medida em que Daumier era um fervoroso defensor da vida urbana, vê A
das causas sociais e dedicava a sua vida a desmascarar os males
como se em
Carruagem de Terceira Classe
(fig. 25.5), quadro executado por volta de 1863. Nele, Daumier
gue atigiam a sociedade, desde a corrupção e a repressão do capta uma típica característica dos seus contemporâneos: "a
governo à mesquinhez e à soberba dos novos-ricos. As suas multidão solitária", composta por trabalhadores
apinhados numa
litografias, brilhantes, documentavam com rapideze subtileza carruagem de comboio de terceira classe, sentados em duros
as várias profissões, classes e tipos que iam emergindo numa assentos de madeira, que contrastam com o conforto dos veludos
Paris em crescimento e mudança, criando, inclusive, paralelos e acolchoados
das carruagens de
primeira. O óleo
Com as longas descrições factuais dos panfletos. As suas carac- variada
regista uma
panóplia de tipos, todos anónimos, que integram as
terizações anteciparam-se às representações dos vários tipos massas urbanas então em
expansão que aparentam suportar
e
op
sociais dos realistas e impressionistas urbanos das décadas de trajecto quotidiano. O tema do quadro é a família em
primeiro
1860 e de 1870. Em Este Pode Seguir! (fig. 25.4) é manifesta a plano, cansada ao fim de um dia de trabalho. Mais simples e mais
tincza da observação, o humor cáustico e a excelência da arte pobres do que os pequeno-burgueses enm segundo plano, a famí-
de Daumier; a obra foi executada em 1834 depois de um levan- lia parece representar os
pobres rurais desenraizados que, vindos
tamento de trabalhadores em Paris, que resultou na morte de para Paris à procura de melhores
oportunidades, caíram nas
Varios cidadãos inocentes dos estratos sociais mais baixos. malhas do urbanismo moderno. Silenciosos e
fatigados, aprisiona-
**PcSCnta-nos uma caricatura do obeso rei Luís Filipe que, ao -os uma obscuridade abafada que os
separa do brilho e da
4Cgurar-se da ausência de pulso num trabalhador, emaciado vivacidade que as janelas da carruagem
permitem entrever.
Cpreso por cadeias, o deixa ir em liberdade. Porém, Daumier retratou-os com coragem e
dignidade, confe-
Não obstante a sua popularidade como caricaturista, Daumier rindo às duas mulheres em primeiro plano uma
amplitude de
ansiava por reconhecimento no contexto das belas-artes e foi por formas já observada em O Semeador de Millet. A família
cam-
Salons cde ponesa que julgamos ver a um primeiro olhar é transformada
a razão que expôs uma mão-cheia de quadros nos
849 e de 1850-1851. Contudo, as suas telas foram ignoradas e, num conjunto que evoca a Virgem e Menino conm Santa Isabel.
durante o resto da sua vida, o artista resguardou a sua produçao Como Millet, que aliás adnirava, Daumier toi
sucessivamente
SICa dos olhos do público, apenas expondo unma única vCz, apelidado de realista e de romântico e as suas pinturas combina-
antes de Por razão, os ram temas típicos dos realistas com
poderoso sentido de
morrer, numa galeria privada.
uadros permaneceram por descobrir. E de crer que Daumier
essa
scus cOmpaixao caracteristico dos românticos.
o
da igualdade de direitos para a mulher. Não é. pois, de surpreen um quadro com mais de do1S metros e meio de comprin inhedos,
der que Rosa tenha querido, desde tenra idade, ser uma mulher que foi apresentado ao público no Salon de 1850 (fg. 25.66). E. de
bem-sucedida num universo masculino. Em vez de se limitar crer que inspiração para este tema tenha sido 0 Lago do Dieabo
a
a exceutar naturezas-mortas de pequeno formato ou as trad- (1846), um romance de George Sand (pscudónimo de Amand
dinc-
cionais aguarelas normalmente associadas às mulheres pintoras, -Aurore-Lucile Dupin, Baronesa Dudevant [1804-1876.
que,
Bonheur decidiu pintar animais em grande escala, no que ex1bu enquanto mulhcr bem-sucedida, serviu de modelo a heur.
o requinte técnico dos mais consumados pintores académicos. No prefácio, Sand declarava quc o romance "devolvia o
homer
Ao contrário do univers cxótico dos animais dos românticos civilizado aos encantos da vida primitiva". Enquanto a
dus-
Delacroix e Barye, Bonlheur escolheu pintar animais rurais como trialização transformava o rosto da França e criava centrog
bovinos, cavalos e ovelhas. Influenciada pelo empirismo cienti- urbanos, e com eles males como a sobrelotaçao habitacional, más
fico da história natural, Bonheur estudou cuidadosamente os condiçõcs de alojamento, conflito de classes e o desenraizamento
seustemas, representando-os conm rigor, por vezes com grande dos trabalhadores migrantes, Sand advogava o regresso à natu-
minúcia de pormenores. No salon de 1841 apresentou, pela reza, a um mundo "primitivo e de maior simplicidade, um
primeira vez, os seus quadros e, durante o decurso dessa década, tema que também está patente nas telas de Millet
e que viria a
a sua reputação como pintora foi aumentando (ver final da conquistar grande popularidade junto da comunidade cultural
Parte IV, Fontes Primárias
Complementares). nas últimas décadas do século. O interesse de Bonheur
pelos
animais do campo cra sinal do interesse da pintora pela natureza
e, depois de 1860, Bonheur abandonou Paris e fixou-se na floresta
rural de Fontainebleau, perto de Barbizon, onde viveu com a
sua companheira, Natalie Micas, e desat1iou as convenções sociais
ao ousar vestir roupas de homem, cortar os cabelos curtos e
fumar em público.
Para criar Arar no Nivernais, Bonheur passou semanas a tho
na região rural de Nivernais, na França Central, estudando as
particularidades da terra, dos animais, dos utensilios de lavoura
e dos trajos regionais, criando uma
riqueza de pormenores a que
o público dos Salons sabia corresponder. Ao contrário de Millet,
Bonheur ateve-se à realidade e criou uma imagem factual e des-
provida da emotividade de O Semeador. Por outro lado, ao evitar
os lados nmenos agradáveis da vida rural, Bonheur também se
manteve distante de Courbet e de O Enterro em Ornans, ou seja,
a
pintora permitiu-nos sentir o volume dos enormes animais a
Nivernais poupando-nos ao cheiro das bestas, ao suor da lavoura
eaos odores da terra, embora nenhum destes elementos esteja enm
falta. Como nas fisiologias, Bonheur documenta, cataloga e cla-
sifica. Apenas as dimensöões dos bois e o alinhamento dos animas
em
jeito de
prociSsao emprestam grandeza à cena.
te
escala resecrvada à pintura de história, Courbet lançou un
tot
ataquc aos valores da Academia Francesa e ao gosto burgu
Com eteito, ao elevar deste modo a realidadle contempor.ancu
em particular, as condiçöes sociais dos seus contempor.
r.inco».
25.7.
mente, os artistas vanguardistas de fim do século vit dos
Adolphe-William
Olco sobre tela, 2,8 1,8 Bouguereau. Ninfas
eSátiro. 1873. recuperar as temáticas de história e religiosa). A rejelg
fin
x m.
Sterling and Francine Clark lustitute, temas e dos valores académicos presentecm Courbet, co
Williamstown, MA .fo
de dar conta das condições sociais do mundo modet
A
ARTE OFICIAL E OS SEUS EPiGONos Estamos cien-
de
risCOs de generalização ao classificarmos uma
obra 25.9. Charles Garnier. Opera de Paris. 1861-1874
ensinada na Ecole
"académica" e
COrrente artística como
o facho de uma tradição moribunda, pelo que cumpre fazer impressao de estarmos perante figuras "despidas", e não nus
justiça ao refinamento da sua técnica e à intensidade psicológica artísticos, quando observamos pormenores como cotovelos,
das personagens neste caso, o abandono aos prazeres eróti- rótulas e cinturas roliças em corpos que, por exemplo, Canova
cos mais tarde tema fulcral das interrogações artísticas. Em (ver fig. 24.28) teria executado lisos e sem mácula. Se a inspira-
regra, os quadros de Bouguereau têm como pano de fundo a ão para as figuras veio do Neoclassicismo, nenhuma delas no05
natureza, reforçando a expresso dos desejos fundamentais do parece grega ou romana, mas sim do Segundo Império. No
ser humano e correspondendo a um anseio por escapar das entanto, ao cabo de um ano, a ira do público desvanecia-se e os
complexidades de uma existência urbana e industrializada e olhares das pessoas, já habituados ao Naturalismo de Carpeaux.
regressar aos prazeres simples da Arcádia e do campo. aclamaram os seus conjuntos erotizados tossem
como se gral
Na escultura, a ligaço ao Classicismo e as representações diosos monumentos da tradição clássica.
de nus femininos continuaram a ser a norma. Um dos esculto- Pelo movimento e pelo excesso da composição
barro
res mais destacados do período foi Jean-Baptiste Carpeaux (demasiada nudez e demasiado júbilo), A Dança acabou por
(1827-1875) e A Dança (fig. 25.8) é uma das suas obras mais servir de complemento perfeitoao seu cenário, a Opera (tig.
famosas. Trata-se de um dos quatro mármores encomendados Traçada por Charles Garnier (1825-1898), a Ópera foi constru
cm 1867 para a entrada da nova
Opera de Paris, que represen- ida de 1861 a 1874 e comunga das características da pe
tam as quatro componentes do espectáculo operático. No modelo escultórica. O edificio transfornou-se, ao longo dos tempod.
em
aqui reproduzido com maior vivacidade e rigor do
gesso -
25.1. Édouard Manet. (olympia. 1863. Öleo solre tela, 1,i} x 19l m. NMusée d'Orsay, Paris. Inv. RE2772
ALA longa tradição das grandes obras de arte. Com efeito, Manet
anuncia não só que o seu real1smo é o caminho mais válido para
na
de Marcantonio Raimondi, inspirada no Julgamento de Páris, de alicerces da nova pintura, longe já do espaço e da modelaçao
Rafael (fig. 16.29). Contudo, ninguém se lembrou de identificar ilusionísticas. Com Dejeuner sur l'Herbe, Manet inaugurou o
a mulher de camisa de noite, ao fundo, como a Banhista de que os críticos de arte do século xx viriam a desig1nar por mo
Watteau, também no Louvre. Com efeito, fora esse o título mento Modernista, que realça as características abstractas a
original que Manet deu à sua obra. pintura e que viria a durar cerca de 100 anos. E quase certo quc
Para os críticos, porém, não bastavam as alusões a estas Manet se tenha deleitado com a oposição irreverente que Suas
augustas obras para ultrapassar a flagrante falta de decorum, um telas de aspecto esboçado e inacabado erguiam à tradiçauoea
crime cometido a uma escala de 2,13 metros por 2,69, dimensões démica e com a Alenm
reacção chocada do gosto burguês. d
geralmente reservadas para a pintura de história. Assim sendo, ro
o
pintor usou o estilo para criar uma sensação de etene
novo
oque terá levado Manet a basear a sua cena contemporânea em
a rapidez das mudanças do
fontes históricas? A resposta poderá residir no artificialismo das
e momentâneo,
que reflectia mun
contemporâneo, esse mesmo mundo que oflâneur captava ecOm
suas
figuras, que não interagem de forma convincente. Como tanta acuidade.
á foi apontado por um historiador de arte, as personagens
assemelham-se a alunos da Ecole des Beaux-Arts dispostos numa
Por todas estas razões, não deixa de surpreender
que
Olympia (fig, 25.11), executaca em 1863, tenha sido aceite no d
as
pose que recria a de uma pintura famosa. Com efeito, Manet de 1865. Trata-se da representação incquívoca de uma con
rtcsl
diz-nos que não viver do lt:is.
o
presente pode passado, como era o
prostituta, cujos clientes são abastados e oriundos dlas elasses
as
chapelarias de senhora, as corridas de cavalos em Longchamp,
Os cafés-concerto, a ópera, os cafés e os botequins. O seu olhar
aguçado captou tipos de todos os estratos sociais, da burguesia
e dos artistas de variedades à classe
aos
marg1nais e
operária.
Um quadro clássico da década de 1860 é a Orquestra da Opera
de Paris (fig. 25.12), que data de 1868-1869. O
quadro começou
como um retrato do tocador de fagote, em primeiro plano, mas
cedo inclui os outros músicos, muitos dos quais são identificáveis.
Na essência, quadro é
o uma
pintura de género, em
que não
vemos apenas os músicos da orquestra mas também as bailarinas
25.13. Andõ Hiroshige. Jardim de Ameixieiras,
Kameido,
em
palco. Porém, o tema n o se resume ao talento e ao esforço
da série Cem Vistas Famosas de Edo. 1857. dos artistas, mas também à intensidade, à excitação eàfragmen-
34 x 22,6 cm.
Xilogravura,
Brooklyn Museum of Art, Nova lorque. tação da própria vida contemporânea, apresentada com grande
Doação de Anna Ferris. 30.1478.30
simplicidade. Degas trouxe o observador literalmente para
dentro do fosso da orquestra,
podendo observar sem ser visto.
A visão não é directa, mas faz-se em linha
diagonal, o que não
deixa de ser invulgar para um
quadro, embora muito comum
para um frequentador do teatro. O violoncelista foi arbitraria-
Este nu, inspirado na Vénus de Urbino, de Ticiano (fig. 17.30), cor- mente cortado, à direita, sugerindo a fragmentação do todo
poriza o ideal de deusa moderna do cavalheiro francês do Segundo privilégio apenas de uma parte do panorama global. O mesmo
emn
Império. Toda a Paris sabia disto, porque Olympia era um nome se aplica às bailarinas, cujas cabeças pernas foram cortadas. e
comum adoptado pelas cortesãs poderosas. Ademais, o toque clás- Esta energia é intensificada
pelos planos das paredes, pelo
SIco do nome era também um ataque inteligente aos nus eróticos palco, pela fila da frente da orquestra. O espaço parece
mido, já compri-
gue apareciam nos Salons pretextando serem alegorias. a que proximidade
e a distância parecem diametralmente
A Olympia de Manet retrata a realidade da Paris sua con- opostos, por exemplo, na
cabeça do
escura violoncelista e nas
temporânea. Os homens abastados que compravam nus cores vivas dos tutus. A
imagem parece ascender no
plano pic-
académicos pelo erotismo, não pelo disfarce de obras clássicas, tórico, em vez de se afastar no
espaço. Uma linha
rigorosa define
Cram os mesmos que visitavam prostitutas ou que tinham as
figuras os objectos, mas as pinceladas rápidas esporádicas,
e
e
ämantes. Ao contrário da Vénus de Ticiano, a Olympia de Manet patentes nos tutus das bailarinas, acrescentam
Cra mais angulosa, algo grosseira, e de formas rígidas, não tanto e efémero ao
espontaneidade
conjunto, oferecendo-nos a
impressão de unm
confiança momento.
ncas. A personagem enfrenta o nosso olhar com
dcixaram-se encantar pela cultura japoinesa ao ponto de criarem género, dedicaram a maior parte da sua atenção à transform de
um termo cspecitico para a sua mania: o Japonismo, designação das plácidas aldeias ao redor de Paris em
subúrbios nsformação
com f
também usada pelos ingleses e pelos norte-americanos. A mos- cas,entrepostos fluviais e pontes ferroviárias, por um lado e
tra mais popular na Exposição Universal de 1867, em Paris, foi restaurantes, regatas e embarcações destinadas ao
por
laze.dos
justamente opavilhão japonés. As gravuras japonesas revelaram- parisienses, por outro. Os impressionistas interesaram-se mais
-se especialmente apelativas para os artistas. As gravuras pela representação de paisagens campestres e urbanas e em z .
chegaram à Europa como papel de embrulho para objectos de construírem as suas composiçoes em estudio, com
modeloc
frágeis, mas acabaram por ser coleceionadas, nos finais da década trabalhavam empiricamente, ao ar livre, onde registavama
a
de 1850, pelos pintores do círculo de Manet, que as consideraram paisageme as condições atmOsféricas que testemunhavam num
visualmente fascinantes. dado momento. Pintavam não tanto objectos mas sim a
lu
Como podemos ver em Pomar de Ameixieiras em Kameido colorida que estes reflectiam. Com efeito, eles pintavam o que
(fig. 25.13), de Andõ Hiroshige (1797-1858), a produção pictórica Viam, nao o que sabiam estar lá.
Japonesa era consideravelmente alhcia à visão ocidental. As formas
são planificadas, de contornos muito nítidos. Por seu turno, o espaço CLAUDE MONET O
é comprimido e o primeiro
principal responsável pela evolução do
plano éempurrado contra o observador, Impressionismo foi Claude Monet (1840-1926), que nasceu e
enquanto o plano de fundo é puxado para primeiro plano. Não
cresceu em Le Havre, na Normandia. Monet começou
existe transição entre os dois planos. A mera ideia de situar o obser- por
estudar informalmente com um consumado pintor paisagista
vador numa árvore, da qual poderá contemplar a actividade
principal à distância deve ter-se afigurado de um radicalismo
local, Eugène Boudin (1824-1898), que pintava en plein air, ou
ao ar livre. Mais tarde,
para ajudar tinanceiramente a mercea-
extremo para o
pintor ocidental. Contudo, os contornos sem pro-
ria do pai, Monet foi estudar para Paris com o pintor Charles
fundidade, o corte abrupto e a contracção espacial das gravuras Gleyre, de orientação académica mas de espírito liberal. Foi
japonesas terão, decerto, influenciado Degas e Manet, embora de
no estúdio deste que conheceu Auguste Renoir e os dois,
forma menos óbviae sem
chegarem a copiar os originais. jun
tamente com Camille Pissarro, muito mais velho, viriam a
sionismo também partilha com estes o VIoleta) aumentava quando se juntavam (ver Materia1s e
sentido da urbe e do nicas, página 898).
"moderno". Como Manet e Degas,
mais interessados em
os
Impressionistas estavam Podemos ver a eficácia da paleta de Monet em Na Marge
registar as transformações que ocorram Sena, Bennecourt (fig. 25.14), pintado em 1868 numa peq
frente uma árvore, uma casa, um campo, seja o que for. Pensa apenas: [FONTE: THE AMERICAN MAGAZINE OF ART, 18 DE MARÇo 1927]
a mesma qualidade efémera que associamos ao realismo, conse- ao contrário de Manet, Monet, Degas e Renoir, o artista nunca
guida, em parte, pela pincelada bruxuleante e leve e pela Se considerou parisiense e preteriucampos ao redor
v i v e r nos
composição assimétrica que parte da direita da tela. A composi- de Paris, que, não obstante, se transformavam progressivamente
cão é tão seccionada e fragmentada como a Orquestra da Opera em subúrbios. Pintor de fábricas e comboios, Pissarro era um
qualidades intemporais e monumentais que caracterizavam as aos jovens artistas, Pissarro também serviu de
árbitro à Societé
em todas
grandes obras do passado. Em O Almoço dos Remadoves, Renoir Anonyme des Artistes, da qual era membro, participando
começou a modelar as suas figuras, chegando ao ponto de traçar as suas oito exposições.
contornos distintos aos objectos e às figuras. Como veremos, os Pissarro foi um pintor cauteloso, intelectual e ponderado, que,
pintores de vanguarda da década de 1880 viriam a regressar aos tal como o Monet da década de 1860, trabalhava ao ar livre,
muitos valores que associamos à pintura clássica. desenvolvendo uma paleta colorida e um estilo de execução ousado,
CAMILLE PISSARRO (I830-1903) Pissarro foi o decano etémera. As suas composições eram, por vezes, extremamente
dos impressionistas. Cerca de uma década mais velho que os pelo Caminho do Eremitério
complexas, como se pode ver
seus colegas, Pissarro chegou a Paris em 1855 vindo de St. Tho- de Pontoise, subúrbio de Paris.
(fig. 25.17), de 1875, no sítio um
mas, nas Caraíbas, onde nasceu e foi criado. Durante a década Nesta tela, Pissarro ocultou parcialmente a aldeia, vista ao fundo,
de 1860, o pintor procurou os conselhos de Corot e estudou um denso biombo verde, formado por u m renque de árvores.
por
ointura de paisagem com Courbet e Charles Daubigny um Este espreitar em profundidade é contrastado, à direita, por um
famoso pintor influenciado pelo estilo de Barbizon, que traba- carreiro ascendente, que parece subir no plano pictórico, em vez
lhava ao ar livre e era especialmente conhecido por pintar em de descer. Os troncos, as folhas e as árvores foram pintados em
cima de um barco. O empenho de Pissarro na pintura de pai- amplas pinceladas e a traços de espátula, conferindo-lhes uma
sagem foi igualado pelo af do pintor em desenvol ver um tipo uniformidade de superfície que raia a abstracção. Por seu turno,
de arte moderna radical e, por volta do final da década de 1860, as casas à distância foram construídas em perspectiva e assemelharm-
Pissarro tixara-se num estilo que, tal como o de Monet, era -Se a densos volumes cúbicos cuja solidez contrasta com o aspecto
plano dos restantes elementos. Ao mesmo tempo que retlecte a ticipou em quase todas e foi um dos seus apoiantes mais
paixão pela natureza e pela vida rural da Escola de Barbizon,
fervorosos, negou repetidamente o rótulo de impressionista.
Pissarro realçou, em simultâneo, as qualidades abstractas do fazer Porém, o seu desinteresse pela cor e pela luz separa-o do grupo
pictórico, contrastando abertamente linhas geométricas sólidas e nuclear. Manet nunca
chegou a
expor com os
impressionistas,
direitas com formas orgânicas não estruturadas, ou com a vista
preterindo esperar pelo reconhecimento dos Salons e pela acei-
rasgada, entre árvores planificadas, de uma vereda ascendente. ação da academia. No início da década de 1870, porém, Manet
Como veremos, as composiçóes complexas e altamente estrutu-
decidiu por fim adoptar a paleta impressionista e, em 1875,
radas de Pissarro viriam a exercer um
impacto fulcral sobre o começou a pintar ao ar livre, com Monet, em Argenteuil, nos
impressionista Paul Cézanne, que, por seu turno, influenciou arrabaldes de Paris, embora tenha mantido a untuos1dade aas
Pablo Picasso e o movimento cubista. Suas tintas e as suas cores nunca tenham chegado a atingir a
c não um reflexo, contempla-nos com um olhar vago e triste, não pode ser comprada pelo dinheiro. Porém, as telas de Manet
indicador de alienação, a realidade da vida contemporânea. Tam- são também puzzles elaborados, que desafiam as leituras ine-
bem ela aparece no espelho, mas distorcida, porque se inclina quívocas e permanecem abertas a várias e controversas
geiramente para a frente, como se estivesse activa. No espelho interpretações.
Vemos também um cliente, um homem bem vestido de chapéu
alto, aparentemente interessado nas frutas e nas bebidas sensual- BERTHE MORIsOT Berthe Morisot (1841-1895) foi uma
mente dispostas sobre o balcão. Alguns historiadores sugerem figura-chave no círculo impressionista. Nascida numna contor-
que o homem se insinua perante a empregada, argumentando tável família parisiense, Berthe e a sua irm Edna levaram a
faziam parte das pintura a sério nos finais da década de l850. A Ecole des Beaux-
que muitas destas empregadas se prostituíam e
espectáculos e Arts não permitiaoacesso às mulheres, mas as irm s estudaram
atracçöes das Folies Bergères, juntamente com os
O Convívio. A teoria explica, sem dúvida, a distorção da figura no autonomamente com artistas menos conhecidos, mas que lhes
Cspelho, aludindo à dupla identidade e papéis desempenhados proporcionaram conhecinentos sólidos e apoiaram os seus
encon- esforços.Quando se interessaram pela pintura de paisagem, em
empregada. Independentemente da interpretaço,
o
Pela
tro tranquilo dos dois, afastado do bulício da multidão no espelho, inícios da década de 1860, prouraram Corot, que,
impressionado
com a qualidade das obras, se encontrou com as irm s
rellecte a realidade da vida moderna - encontros anóninmos
e
por várias
OTuitos ealienação urbana. A imagem tambénn parece comentar vezes, chegandoa dar-lhes uma das suas próprias pinturas, par.a
vida moderna. A clientela que pudessem estudar. As duas Alorisot apresentar.am pinturas
aterialismo que perpassa por toda a
Como mulher, Morisot não podia frequentar o Café Guer- (fig. 25.19), um tema clássico, tanto realista como impressionista,
bois, como os outros pintores, mas não obstante conseguiu ser uma actividade de lazer
íntima e até favorita do círculo de vanguarda, privando com
de que tem lugar num lugar da moda.
A maneira de Morisot, as figuras bem trajadas não comunicam,
Manet, Degas e outros realistas em jantares e salons
jantares
-
passar férias nos subúrbios e 1866, onde começou por estudar com um
àbeira-mar. No entanto, o que pintor que aD
impressionou verdadeiramente atelier
a mulheres, antes de ser
aceite como aluna do renot do
os colegas de vanguarda de Morisot foi a brilhante técnica e o académico Jean-Léon Gérôme. Cassatt também estudou e
requinte da execução: sua pincelada parecia definir as
a
de
figuras Parma e em Roma antes de regressar a Paris, em 1874.
o
c os
objectos como por magia, ao mesmo tempo
que criava uma passou o resto da sua vida. Foi também em Paris que Cas
tapeçaria abstracta de tinta através da superfície da tela, unm sinno.
travou amizade academismo pelo reau
acto de
grande equilíbrio que próprio Manet se viu
o
com
Degas e trocou o
retrospectiva na
organizadora da
Galeria Durand-Ruel, em
sua nista, em 1879. Por esta altura, pintava já em cores
s,
Conm
25.19. Berthe Morisot. Dia de Verão. ca. 1879, Olco sobre tela, 49,/ x 7,2 em. The National Gallery, Londres,
Oleo sobre tela, 100,3 x 66 cm. The Art Institute of Chicago, medas e à natureza. Gettroy
a reacção emocionalde Monet
Colecgão Robert S. Waller
deu às imagens uma leitura potica, descrevendo as medas nut
dos quadros como "brilhando como montes de gemas precos
e noutro como "lareiras incandescentes". As pinturas das NMetas
O REALISMO BRITÂNICO
MONET DURANTE A D CADA DE 1890 Em 1886, data ntor-
da última exosiçio inpressonisM.A, (qu.alequer coæsiv sctida pelo Do outro lado do canal da Mancha, o Realismo assurmu co
icdo
Hrupo de base há muito que desaparecera, substituida por nuvas ns uto termo cm si nunca tenna
dilerentes, cmbor.a o
preox upagöcse ovosestilos. A morte de Manel, cm I883, 1marca, pheados attes visuais. Nis Ilhas Brit.inicas, o Positi a m e n t e
sinbolicamente, a morte do movinnento que Courbet iniciata prluziu um naturalismo pormenotizavlo, protu
na década de 40. Contudo, Monet viveu até 1926 e sem nunc.a dedicado à naturer.a e muito ntcresdo, cm
rticular, pel
um
levava
abandonar a preiss.a realist.a da sua aute nem a su.a dedic.açio s sOais. Em lnglaterr.a, Revoluçio lndustrial
a u
ao lmpressionism0, cNceutou pinturas qjue se contaram cntre as Vangoe quase de um século sobre Frnça.A industrializ r e s t . a n t e s
mais abstractas doo seu temo, ao mcsmo temxo oque assuiam caurbanizagioerann responsiveis pela pobreza e pe
contornos cada VCz mais oniricos. ales sKLAs que hoje conhecemos através dos ro
crença bíblica do serviçoà comunidadee na renúncia à fortuna luxo, porque ajudava a moldar vidas e a consolidar valores;
pessoal, ou então na partilha da mesma. E foi a essas mesmas grandes obras de arte produziam grandes povos. Por arte, Ruskin
condições de vida que o filósofo político alemão Karl Marx não se referia exclusivamente à
pintura, à escultura e à arqui-
(1818-1883) e o socialista Friedrich Engels (1820-1895) se diri- tectura, mas também às artes decorativas, que tinham de ser
giram no seu Manifesto Comunista, publicado, em 1848, na executadas manualmente, muito belas e sinceras, como na Idade
Inglaterra, onde viviam e trabalhavam. Média. O próprio Ruskin foi influenciado
pelo Movimento da
Contudo, foi de John Ruskin (1819-1900), pintor, educador, Eclesiologia, que apareceu na Inglaterra por volta da década de
escritor, crítico de arte e ambientalista, que partiu a iniciativa 1830. Este movimento foi responsável
pela inversão da crescente
de tentar travar esse resvalar social para o inferno industrial. inércia social e moral, senão mesmo o declínio, da Igreja Angli
A seguir à Rainha Vitória, Ruskin é uma das maiores forgas da cana, ao promover, entre outras coisas, o ressuscitar do ritual
era vitoriana e o seu impacto foi além das fronteiras britânicas, eclesial, quase ao ponto de se aproximar ao catolicismo.
ajudando a moldar o gosto dos norte-americanos. A sua influên- A ênfase de Ruskin na natureza e na
religião
assinala o
cia começou em 1846, ao publicar o primeiro dos seus quatro início da procura oitocentista vida mais
por uma
simples, que
volumes de Pintores Britânicos Modernos, e continuou a fazer-se rejeitasse os avanços da urbanização e da industrialização. Comno
sentir de 1851 a 1853 com as Seven Lamps of Architecture vimos, Rosa Bonheur e George Sand advogavam, praticamente
Do pensamento de Ruskin avulta a crença na necessidade ao mesmo
tempo, regresso a um mundo mais primitivo o
o -
Contemporânea de aspirar a uma nova espiritualidade e a um campo. Para Ruskin, este mundo primitivo mais puro podia ser
orgulho moral mais definido, que requeria a adesão à verdade encontrado na Natureza ou na espiritualidade do Cristianismo
Ca 1dentificação com o carácter divino da Natureza. Ruskin medieval. Pelos finais da centúria, a fuga ao mundo moderno
defendia a educação artística para todas as classes sociais, tanto e a procura do primitivo viriam a ser temas dominantes. Con-
Para a classe operária como para o consumidor burguës, e acre- tudo, as sementes desta busca haviam sido já plantadas em
tava firmemente que a arte era uma necessidade e não u meados de Oitocentos.
a libxrdade
-eatravés dela purezaea beleza
a onde os trabalhadores chamdos "naveies" se entrega
-
-
de pintar a terra debaixo das unhas de Jesus, tal como Courbet padrão superficial abstracto baseado num ramo de oliveira
com os scus pedreiros, o que ajuda a identificar o Salvador com A arcasimples, também desenhada por Burne-Jones, é da
a classe operária. autoria do arquitecto Phillip Webb, que também desenhou o
sobre a substituição de artigos de inferior qualidade, produzidos recobriam as paredes das casas das classes altas. Já não se
em série, por extraordinários produtos de uma concepção e aceitavapintar madeira de pouca qualidade para imitar o grão
execução sem par que, tal como na ldade Média, se destinavam das madeiras nobres. A influência de Morris nas artes aplica-
a conciliar os trabalhadores com os seus produtos. Depois de das foi profunda e duradoura, lançando o movimento que
colaborar, em 1859, com arquitectos, pintores e desenhadores ficou conhecido por Arts and Crafts e que rapidamente alastrou
pré-rafaelitas e do círculo de Ruskin para desenhar e conceber aos Estados Unidos da América.
a sua
própria casa, Morris, juntamente com alguns destes artistas,
abriu uma companhia dc design em 1865, que viria a ser conhe- O Movimento Estético: as
Psicologias
cida por Morris & Cia.. A companhia produzia belos tecidos de
Individuais e a Repressão do Erotismo
execução manual, papéis de parede, tapeçarias, carpetes, mosai- Se William Morris manteve vivo
programa moral e espiritual
o
cos, mobílias e vitrais e o
próprio Morris desenhou a maior parte de Ruskin
dos papéis de parede e dos tecidos, um talento que mais tarde
no movimento Arts and Crafis, o grupo dos Pré
-Rafaelitas já se tinha dissolvido por volta da década de 1860.
Co.).
25.25. William Morris (Morris &
de Jantar Verde. 1867.
Victoria a
Sala
Albert Museum, Londres
o que não deixa de ser irónico. Rossetti, com escassa produção 1848 Karl Marx,Manifesto Comunista
artística durante os anos de 1850, acabou por gravitar em direc-
185 Herman Melville, Moby Dick
ção a um tipo de pintura visionária, cnquadrada por cenários 863 Construida a primeira linha do metropolitano,
medievalistas, cm queexpressava a sua psicologia pessoale não em Londres
os valores morais da sua época, no que foi seguido por Edward ca. 1864-1870 Beata Beatrix, de Rossetti
Burne-Jones, cm cdirecção a um tipo de arte visionária que viria 1864 Sinfonia em Branco : AJovem de Branco,
de Whistler
a consolidar-se no que ticou conhecido por Movimento Estético.
1877 A RainhaVitória é coroada Imperatriz da India
Pelos quadros de Rossetti e Burne-Jones perpassam temas mar-
cados pela repressão sexual, reflexo do rígido código moral da
Inglaterra vitoriana, que proibia qualquer manifestação de
atracção sexual ou sequer a mera discussão da sexualidade.
usara na famosa ópera do mesmo nome, em 1845. Burnc-Jones
representa Vénus sendo elogiada em canções por donzelas que
DANTE GABRIEL ROSSETTI Hoje, Dante Gabriel Rossetti
o romancista Henry James (1843-1916) descreveu como "pálidas,
(1828-1882) é o pintor mais conhecido e apreciado desse movi-
descoradas e doentias, como todos os jovens do Sr. Burne-Jones"
mento mercê das telas que executou após a dissolução dos
O mesmo pode ser dito de Vénus, cujo corpo, languidamente
Pré-Rafaelitas. Líder e porta-voz da Irnmandade, o seu afasta- reclinado numa chaise-longue, indica saudade e frustração, bem
mento dos principios do
movimento revestiu-se de grande como repressão sexual. A figura funde-se com a tapeçaria em
importância. O óleo Beata Beatrix (fig. 25.26), cncetado em 1864,
pano de fundo, que narra uma cena da sua vida, enquanto à
está mais próximo da sua última fase de produço artística eé esquerda, na janela, tão irreais e artificiais como a própria tape-
um retrato da mulher do pintor, Elizabeth Siddal, que, em 1862, çaria, cavaleiros espreitam, como voyeurs, as donzelas. E nítida
se suicidou com unma dose excessiva de láudano,
anestésico um a tensão entre o espaço masculino, aberto, c a densidade do
derivado do ópio, que era frequentemente receitado para as
espaço feminino, fechado. A obra está coberta por um estranho
dores mas tomado em excesso.
Rossetti representou Siddal como Beatrice, o amor fugidio e
espiritual que o seu homónimo italiano, o pocta Dante Alighieri,
descreveu em La Vita Nuova (ca. 1293), e o estilo é claramente
Renascentista, tanto pela sua simplicidade como pela sua lineari-
dade (comparar com a fig. 15.17). O relógio de sol, àsua
esquerda,
marca as nove horas (a hora da morte de Siddal), enquanto uma
pomba aureolada, símbolo do Espírito Santo, depõe um ramalhete
de papoilas no seu regaço. Em plano de fundo, Dante e o Amor
caminham pelas ruas de Florença sem se encontrarem, perdidos
no nevoeiro, um sinal premonitório da morte de Beatrice antes
des-
Eogio de Vénus) (fig. 25.27), datado de 1873-1878. O tema
cende da lenda de Tannhäuser, um rei dividido cntre o amor 25.26. Dante Gabriel Rossetti. Beata Beutrix. ca.
I864-1870.
arnal de Vénus c a purcza da amada, quc Richard Wagner Oleo sobre tela, 80,4 x (6 cm. The Tate
Gallery, Londres
padrão l1near e uma vez que tudo nela possui uma sô textura, de Branco, é um bom exemplo. O título, posterior à obra, é pos-
toda a
inmagem
transtorma numa intricada tapeçaria.
se sível que tenha sido inspirado pelo poema "Sinfonia em Branco
Em Laus Veneris a franca moralidade e realismo
pré-rafaelitas Maior", de Gautier. Em 1863, Whistler apresentou o quadro ao
deram lugar a um mundo onírico, estranho e magnético, domi- Salon des refusés e a tela foi pendurada a pouca distância de
nado não
Déjeuner
pela acção, determinação ou pelos factos, mas por uma surl'Herbe, de Manet. Comoo poema de Gautier, uma sobrepo-
psicologia tingida de um intenso erotismo latente. Burne-Jones sição de várias visões em branco, a pintura orquestra uma
apresentou o quadro na Galeria Grosvenor, um espaço relati-
variegada amplitude de brancos, amarelos pálidos e vermelhos
vamente recente dedicado à pintura do novo Movimento num retrato de corpo inteiro da amante do
Estético. O grande catalisador da nova atitude artística foi o pintor, Jo, vestida de
branco contra um tundo branco, na sua maior
poeta Algernon Charles Swinburne (1837-1909); este, por seu parte. Se Gautier
e Swinburne influenciaram Whistler em termos
turno, foi influenciado durante a década de 1850 conceptuas,
pelo crítico visualmenteo
pintor deixou-se enfeitiçar pelo Japonismo, de que
francês Théophile Gautier, acérrimo defensor da teoria da "arte
Sinfonia em Branco II: A Jovem de Branco 25.28), de (fig. 1864
pela arte', segundo a qual a arte deveria ser bela sobre todos os é
outros atributos,
um
exemplo ainda mais consumado. A um certo nível, a pintura
apelando aos sentidos e não projectando valo é uma
exibição sensual de cor, formas e composições abstractas
res morais ou a
narração de uma história. Ambos, Rossetti e Criando camadas
Burne-Jones, caíram sob o feitiço de Swinburne. Mas o maior quase transparentes de cor por meio de pince
ladas gráceis e delicadas, Whistler soube criar uma sinfonia de
e mais famoso cultor do Movimento Estético foi o
pintor norte- brancos, amarelos, vermelhos, azuis que
-americano James Abbott McNeill Whistler. rosas e dançam suave
mente sobre o plano pictórico. Whistler opõe a suavidade da
pincelada e das formas (como no vestido de Jo) contra a linearidade
JAMES ABBOTT MCNEILL WHISTLER Educado entre a
rectangular da lareira, do espelho e das molduras nele reflectidas.
Rússia e a Nova Inglaterra, James Abbott
McNeill Whistler As flores, à
(1834-1903) estudou pintura com Charles Gleyre (1806-1874), em direita, introduzem um toque de novidade e delica"
deza, um artifício compositivo japonês que Degas já tinha usadd,
Paris, onde viveu de 1855 a 1859. Whisler tornou-se
Monet, que conheceu no estúdio de Gleyre, e
amigo de para criar
fragmentação e espontaneidade, mas que aqui faz cO
de Courbet e deixou
a sua marca
enquanto real1sta, pintando cenas da vida
que as
pétalas pareçam flutuar magicamente.
rânca que captavam contempo- A pintura foi concebida como tributo a Ingrès e lembrd a
o
pulsar visceral da cidade. Quando se mudou
para Londres, 1859 composição de O Retrato de Madame Inês Moitessier
(e
(Whistler nunca chegou a regressar
em
aos g 24.17), ao mesmo tempo que reconhece a capacidade ineret
Estados Unidos), o pintor continuou a
passar grandes temporadas
em Paris, fazendo várias vezes o aogrande pintor clássico de criar a beleza perfeita. Porém. a
finais da década de 1860,
trajecto entre as duas cidades até
psicologia subjacente à obra é análoga à de Beata Beatra
cultivando as suas ligações amizades
e
parisienses apresentando quadros
e (tig. 25.26), uma vez que Whistler representa uma be
eldade
nos salons. Além disso, foi
também em Paris que Whistler conheceu gualmente sonhadora e meditativa (além de sensual), de long
Manct Gautier, através de cabelos soltos. O reflexo de
Courbet, tendo conhecido Swinburne em
e
Jo flutua no
spec-
espelho como um esp
Por volta de 1863, Whistler Londres. tro e esta ema,
James Abbott McNeill Whistler. Sinfonia em Branco ll: A Jovem de Branco. 1864. Óleo sobre tela.
25.28.
The Tate Gallery, Londres
76,7 x 51,3 cm.
25.29.
a
Europa e trouxeram mobiliário e obras de arte europeus e
James Abbot McNeill Whistler. Nocturno em
A Queda do Foguete. ca. 1875. COleo sobre Negroe Ouro: construíram villas e châteaur ao gosto
europeu. O período também
madeira, 60,2 x 48,6 cm. se define
The Detroit Institute of Arts, por uma expansão contínua para ocidente,
IDoação de Dexter M. Ferry, Jr. preenchendo
o
que a nação via como o seu Destino Manifesto, ordenado
por
Deus: dominar por
Na década seguinte, a completo o continente norte-americano.
pintura de Whistler tornou-se cada vez Equipas topográticas mapearam os novos territórios e o caminho-
mais abstracta, como se vê em Nocturno em
Negro e Oruro: O Foguete -de-ferro transcontinental foi concluído em 1869
em Oueda
(fig. 25.29), de 1875. A tela foi exposta em 1877, na por trabalhadores
mal pagos. Por volta de
Galeria Grosvenor, com sete outros nocturnos do rio 1890, o governo já detinha o controlo
Tamisa, telas absoluto sobre as nações nativas
ctéreas, em tonalidades de azul-acinzentado, todas americanas, quer pela tormaçao
destinadas a de reservas em territórios restritos, quer
consubstanciar a sua defesa da arte pela arte. O pela sua aniquilaçao
Foguete em Queda violenta.
é, sem dúvida, a sua tela mais
abtracta,
ao
ponto de o
pintor ter
sido acusado por um Ruskin envelhecido de "ter
atirado O Realismo
de tinta à cara do
público". O tema, a representação
de
um
um
pote
fogo- Thomas Eakins
Científico: Thomas Eakins
-de-artifício em Cremorne Gardens, um local muito (1844-1916), natural de Filadélfia, encontrava-se
no bairro londrino de
popular sito entre os
primeiros e mais fortes pintores realistas norte
Chelsea, permitiu a Whistler ser, a um -americanos. As suas cenas do mundo moderno incluíam no
tempo, realista e abstracto, criando uma imagem credivel, che- só actividades de lazer da classe média como tambénm
gando mesmo a reproduz1r uma imagem da vida moderna, mas,
taçoes dos
represen
ainda assim, confeccionada em estúdio desportos e passatempos populares da América d
segundo ditames subjec Norte do
pós-guerra civil. Além disso, Eakins retratou clinicas
tivos. Como o título
sugere, ao incluir palavras como sinfonia, de
cirurgia em que os cirurgiões eram
onatu e nocturno, Whistler
considerava a pintura
música visual, modernos, ao mesmo tempo que
apresentados comoheró
chegando mesmo declará-la abstracta, na sua essência (ver Fonte
a realçava novas técnicas c
tilicas como a anestesia e a rdou
Primária, página 911) (em obediência à mesma cirurgia antiséptica. Eakins a
analogia, Burne- O seu
realismo de forma cientíifica, o s
-Jones retratou, váras vezcs, donzelas tocando
instruimentos dos
que distinguiu1s su
musicais). Semo tútulo, O cquadros realistas de Manete Degas que o cano
Foguete em Dueda, seria dificil discernir tinha
norte-aniet
deste podido observ.ar Paris, de 1866 a 1869, enquanto cs
em
o tema
quadro eo observador limitar-se-ia saborear
a a dava com u n renomado
exibigão de salpicos laranja aarelos que correm,
e pintor da academa.
mente, sobre um lundo de cnzentos, azuis preguiçosa .ntre as
primeiras obras «que Eakins completou pouco po
e
castanhos, dado em de
regressar a Filadlélfia está uma série de dores
pinturas de re
The Gentle Art of Making Enemies (1893) anor, o p:atriotisno c outros senclhantes. Nenhuna destas se rclaciona
é a
autobiografia de Whistler.
com acjuela eé por iss cuc eu insisto cm chamar às minhas obras
"arran
al conmo a música é apocsa do sOm, assim a pintura a jose "harmonias".
pocsia
da visão, c o tema n+o tem nada a ver com a
harmonia do som e
da cor.
Os grandes músicos sabiam isto. Bcethoven e os outros cscrcveram
música simples1nente música, sintonia neste tom, concerto ou sonata
naqucle. [FONTE: THE GENTLE ART OF MAKING ENEMIES (NY. PUTNAM, 1925)]
25.30. 1honas Eakins. Max Sehmitt em Single Sull (0 Canmfcio de Sngle Se ull). 1871. Oleo sobre tela,
82x 117,5 cm. The Metropolitan Muscum ot Art, Nova orjue. F'uno Nllred . Punnette legalo George
vezes
de metodologia na história de arte pode por
ma mudança
afectar as atitudes dos estudiosos perante os artistas, fazendo por
vezes reviver artistas anteriormente conhecidos mas que, por uma razão
mulheres, como pode ser visto neste retrato, de 1897, de Edith Stokes, roupas de homem, ou um corpete baseado na canmisa mascuina c
vez
socialite nova-iorquina (. N. Phelps Stokes e Esposa). Em vez de nos de sacriticio pessoal, a mulher moderna procurava a realização pe>
apre-
sentar uma mulher recatada e feminina, Sargent oferece-nos Sargent apresenta-nos Edith Stokes como uma destas nmuu
heres,
uma agressiva
senhora Stokes, que representa a"Nova Mulher" representando-a à frente do marido. Para o seu tempo. esta e
uma
que
feminino reivindicava acesamente direitos iguais, muitas mulheres afirma m
Imagem lcónica e Paisagem Naturalista: frances. Podemos ver essa abordagem emblemática em Snap the
Whip (0Jogo da Corda) (fig. 25.31), datado de 1872. Este registo
Winslow Homer e Albert Berstadt VIsual de um jogo intantil parece, à primeira vista, ser de um
Winslow Homer (1836-1910) esteve em Paris por volta do mesmo
período de Eakins. Homer já estava predisposto a pintar o
Impressionismo americanizado: a imagem é uma cena banhada
pelo sol, representada com cores razoavelmente vivas e pince
mundo moderno, posto que encetara carreira de ilustrador de ladas exuberantes. Porém, a cor de Homer não é tão intensa
revistas em 1857, registando o último grito da moda e as activi-
como a dos Impressionistas e a pincelada não é tão solta. Este
dades sociais. Mais tarde, viria a fazer a cobertura da Cuerra
quadro não se resume a cor e luz e à captação empírica de uma
Civil como repórter. Em 1866-1867, Homer esteve em Paris, cena específica e de um momento fugidio - é uma imagem
onde pode contemplar as obras de Courbet, Millet e Manet, mas
congelada. As figuras foram cuidadosamente delineadas e
não ficou tempo suficiente para sentir todo o impacto do Impres- modeladas e são monumentais; a sua solidez é reforçada pela
sionismo. Ao regressar a Nova lorque, pintou cenas ao ar livre
geometria do edificio da escola e pela ousadia do fundo, cons-
que retratavam as actividades de lazer da classe média, como tituído pela montanha que corre em paralelo ao movimento dos
jogar croquet, desfrutar das mais modernas estâncias à beira-mar rapazes. As crianças descalças e com simples roupas do campo,
e andar de cavalo nas White Mountains, no New Hampshire, tal como a escola atrás, são emblemas de
diversões que o caminho-de-ferro tornara acessíveis.
simplicidade e pureza,
sendo que a sua juventude projecta inocência e esperança futura
Contudo, em vez de retratar um momento fugaz, Homer para um país recentemente reuniticado. O próprio jogo simbo-
criou imagens icónicas, simbólicas da vida e dos temas norte- liza a união, uma vez
que a corrente de rapazes apenas é tão
-americanos, tal como Millet havia retratado o camponês forte quanto o seu elo mais fraco. Numa altura em
que a nação
artistas-cxploradores, como foi o caso de Albert Bierstadt -Se então ao pintor Louis-Jacques-Mandé Daguerre (1787-185),
(1830-1902); eram pintores que viajavam para o Oeste bem como Este último, ao descobrir a fotossensibilidade do iodeto de prata
locais e do vapor de mercúrio, revestiu uma chapa de cobre com este
para a América do Sul e para o Arctico para registar
exóticos de grande efeito. preparado e inventou o daguerreótipo em 1838. O governo
Albert Bierstadt era alemão, criado no Massachusettsc francês comprou-lhe a patente do processo e partilhou-o com o
resto do mundo, menos com a grande rival - a Inglaterra.
formado pela Academia de Düsseldorf. Em 1859, associou-se a
uma unidade militar que supervisionava uma rota terrestre A invenção foi um triunto nacional1sta e imperialista para os
através das Montanhas Rochosas e foi um dos primeiros euro- franceses, já que lhes permitiu documentar no só os monu-
-americanos a testemunhar a beleza sublime destas mentos em território metropolitano, mas também os das colónias
espectaculares elevações. Em 1863, pintou Montanhas Rochosas, francesas e do Egipto, em particular. Além disso, a fotografia
pico de Lander (fig. 25.32) no seu estúdio nova-iorquino, a par- passou a ser vista como um meio artístico republicano por exce-
tir de esquissos e fotografias tomados durante aquela viagem. lência, uma vez que, ao contrário da pintura e da escultura,
O quadro continua a tradição da paisagem sublime da Escola tornaria o retrato muito acessível a todas as classes sociais.
do Rio Hudson (ver página 855), uma vez que Bierstadt capta Entretanto, em Inglaterra, William Henry Fox Talbot
a espantosa escala das Montanhas Rochosas (que chegam a (1800-1877) anunciou, em 1839, ser possível fixar uma imagem
tornar pequena uma catarata enorme). Uma luz divina é reflec- sobre papel, prescindindo, portanto, das chapas metálicas ou
tida num lago cristalino e vemos indios americanos em vítreas até então utilizadas. Em 1841, Talbot registou a patente
harmonia com a natureza. da nova fotografia obtida a partir do processo negativo/positivo,
Executado na época das batalhas mais ferozes da Guerra a que chamou calótipo, uma impressão sobre papel fixada com
Civil, esta gigantesca tela foi recebida como um emblema de sais de prata. Ao contrário do daguerreótipo, que apenas pro
paz: o tema, afastado do campo de combate, reconfortava os duzia uma só imagem, o calótipo podia gerar um número
norte-americanos, mostrando-lhes que o Jardim do Eden per- infinito de positivos com um só negativo.
manecia intacto algures. Depois da guerra, estes quadros No início da década de 1850, o daguerreótipo e o calótipo
desempenhariam unm papel fundamental nas migrações para foram ultrapassados pelas invenções simultâneas em
França
ocidente e, com a abertura do caminh0-de-ferro, ajudaram a na Grã-Bretanha do processo de colódio húmido. Esta técnica
promover o turismo. usava uma emulsão altamente sensível, colódio
(algodão-pólvora
dissolvido em éter de álcool), que reduzia o tempo de
exposição
para menos de um segundo e produzia um negativo muito nítido
A FOTOGRAFIA: UM MEIO MECÂNICO DE
e facilmente reprodutível. No entanto, processo, moroso
PRODUÇÃO ARTISTICA EM SERIE o
da
registar imagens e papel
par"
comum
pintura real1sta e
impressionista. impressão.
Na
verdade, fotografia em potência já existia cdesde a
a
m 1846, Talbot publicou un livro com ilustrações totogra
Antiguidade, sob a forma de um artificio chamado câmera ficas intitulado O Lápis da Natureza, cujo titulo evocavaa
luz.
escura.Era uma caixa dotada de um "lápis da natureza", "desenhando" sobre uma superticie tra
tada
pequeno orificio num dos
lados por onde a luz projectava, na
parede oposta do interior (aliás, a palavra gregaphotograph deriva das palavras greg spara
da caixa, a
imagem invertida de opicos
um
qualquer objecto exterior. luz"edesenho") e onde se esboçava a maior partedes
ORegisto da Realidade
Na década de 1850, a fotografia era usada principalmente como
meio de registar pessoas, paisagens e objectos. Estas imagens
eram consideradas factuais, não sem alguma ironia, uma vez
que, como veremos, os fotógrafos podiam manipular as imagens
de várias maneiras, através da selecgão de motivos para fotogra-
Tar, por exemplo, ou daquilo que era ou não incluído no
enquadramento.
oRETRATO Os norte-americanos aderiram em especal a
lado a lado, tiradas por uma câmara fotográfica dle eluas lentes, da categorização de tipos sociais, tio cara à mentalidade positivista,
a VIsio hurmana binocular. Quando as duas cin lmndon Tabour and
para reproduzir c un dos primeiros cxemplos aparcce
catálogo de
fotografias são colocadas num vis0or cspecial, surgem como uma london P'or (1851-1862), de Henry Mayhew, un
só imagenm, tridimcnsional. P'ara responder à enorme procura trabalhadores c de cicladäos anóninos ilustrado com litografias,
deste tipo de fotografias, as companhias distribuidoras chegavam a artir de daguerreótipos de Richard Béard, quc abriu o prineiro
a ter cerca de 300 O00 imagens em armazém, de cacda vcz. A ra- estúdio de retrato em Londres. Talvez o primeiro cxemplo deste
picdez da impressão produzia fotografias de baixa qualidade, uso cda fotografia seja a Street Life in London (1878), de Adolphe
brochura
problema complicado pelo tamanho (6 x 15 cm), embora existis- Sinith, inicialmentc publicado mensalmnente,
como
Smith era o
sem formatos maores.
ilustrada, muito ao estilo das fisiologias de França.
(1846-1924), u m
A semelhança dS seus cOngéneres pintorcs, um grande
pseudónimo de Adolphe Smith Hcadingley
Thomson
número de fotógratos norte-americanos especializou-se em activista social, que se associou ao fotógrafo John
fotografia de paisagem e deslocou-se para ocidente, acompa- (1837-1921). Este, por sua vez, também escreveu a maior parte
nhando frequcntemente cquias de agrimensores, para registar tipo cada social. Como
dos extensos textos que acompanhavam
as sublimes paisagens naturais que simbolizavam a nação norte- se afirmava na sua introdução, os dois consideravam a fotografia
-americana. Destes primciros grupos avulta a figura de Carleton como um instrumento de validação das suas descrições: "[Nós
Watkins (1829-1916), que, a partir de 1861, tirou centenas de queremos.. realçara precisão da fotografia
na ilustração do nosso
paisagens estereográticas sobre vidro do Parque de Yosemite, tema. O rigor inquestionável deste testemunho permitir-nos-á
Pobres de Londres,
apresentar exemplos verdadeiros dos
sem que
juntamente como cerca de um milhar de impressõcs em albu-
mina, com 85 x 113 cm. Apesar do seu marketing comercial, sejamos acusados de estar a subvalorizar
ou a exagerar pecculia-
Watkins considerava as suas fotografias obras de arte, não ape- ridades ou aparências individuais."
nas registos documentais. Originário de Onconta, Nova lorque, Se bem que a maior parte das imagens de Thomson sejam
The
Watkins foi para São Francisco durante a Corrida ao Ouro, em muito objectivas e livres de preconceito, já outras, como
1851, e viria a tirar retratos em daguerreótipo e a reg1star a Crawlers (fig. 25.36), são poderosas e plenas de compaixão,
paisagem fotograficamente, para levantamentos topográficos. levando o observador a simpatizar com as difíceis condições de
Ao ouvir falar das maravilhas de Yosemite, Watkins partiu de vida dos pobres de Londres. Aqui, uma viúva, sem abrigo, cuida
imediato, cm 1861, para tirar fotografias dessa maravilhosa e de uma criança, cuja m e foi trabalhar. A foto apareceu numa
primordial paisagem. Para captar a grandiosa escala da paisagem, brochura chamada The Crawlers (literalmente, Os Rustejantes).
o fotógrafo achou necessário tirar fotografias em grande formato; uma alusão aos pobres sem abrigo que quando obtinham dinheiro
por conseguinte, desenvolveu uma câmara gigantesca que tun- suticiente para comprar chá "rastejavam" para um pub onde
cionava com grandes chapas de vidro. Depois encerrava-se num pediam água quente.
vagão coberto, no meio de uma tonelada de equipamento, que
incluía chapas de vidro húmidas e uma câmara escura, e come- O Relato de Notícias: Fotojornalismo
ava a revelar as exposiçöes recém-tiradas. Como precursoras do fotojornalismo, as primeiras fotogratias
Os resultados, como vemos em Vista do Vale de Yosemite da registaram acontecimentos famosos, de que ressaltam as imagens
Melhor Perspectiva Geral (fig. 25.35), executado na segunda da Guerra Civil, como Colheita da Morte (fig. 25.37), de Timo-
viagem a Yosemite, e m 1865-1866, foram tão arrebatadores thy O'Sullivan (ca. 1840-1882), que, tal como Watkins, viria a
que ajudaram a Presidente Lincoln a criar a reserva
convencer o ser um dos grandes fotógrafos do Oeste norte-americano. Antes
natural do Parque de Yosemite. Watkins, tal como Bierstadt desta viagem de documentação, O'Sullivan começou a carreira
no seu quadro de Landers Peak, soube capturar a sublime como aprendiz de Mathew Brady (1823-1896), o dono de uma
escala natural da paisagem selvagem americana, em que os das mais afamadas galerias de retrato norte-americanas, em
picos montanhosos são tão avassaladores que reduzem Yosenmite Nova lorque (Abraham Lincoln posou cerca de 30 vezes
para
Falls, u m a das maiores quedas de água dos Estados Unidos da Brady e atribuiu a sua vitória nas cleições de Novenmbro de 1860o
América, a quase nada. Watkins conseguiu uma imagem ao retrato que Brady dele fizera nesse ano). Em 1862-1863.
trabalhar texturas e x t r e m a m e n t e ricas
durante O'Sullivan fez um contrato com a equipa fotográfica de Ale-
Sumptuosa ao
criou forte sentido teatral através xander ardner e contribuiu com 44 imagens para o álbum
proceso de revelação e um
de de valores e de uma composição em Gardner's Photographic Sketchbook of the War (1866). Ao contrá-
poderosos contrastes
da direita. Para rio dos banais registos totográticos das guerras, como os
que descem da esquerda e
Vincadas diagonais,
céu transformasse num branco monótono, realizados durante a Guerra da Crimeia, entre 1854-1856, as
mped1r que o se
CAPITULo 25 A ERA DO POSITIVISHO: REALISMO, IMPRESSIONISMO E Os PRE RAFAELITAS (I848 A 188s) 917
11101tas. Sio 1magcns tiradas de um acontecimento real,. que teve
ao Sexo do que
feminino. O primeiro plano desfocado é mais
un artificio que confere à imagem a aparência de quadro pin
lado; tem também um significado psicológico simbólico, porque
o dissolver as formas das flores e do beb , Cameron faz com
25.38. Julia Margaret Canmeron. Os Espíritos das Irms. ca. 1865.
ucas mulheres estejam conscientes das indefiniçöes no destino Impressão sobre allbumina, 3l.6 x 26,6 cm. George Eastman
dobebé. preocupação, o ar pensativo e a dúvida estão escritos
House, Rochester, Nova lorque. Doaço da
nos seus TOstos e sentimos um laço espiritual atravessar este Kodak Companhia Eastman
stou convencido de quc os mal apl1cados avanços da totograha, razöes prolissionais. (...) Poren, uma veZ (que Ihe seJa permitilo entra
do artístico frances..
na esfera do intangíivel e do imaginário, sobre cqualkquer coisa que teniha
valor apcnas porque o homem Ihe acrescentou qualjuer coisa da sua
Tandemcnte para empobrceimento
o
génio
Ajia c o progreo são dois homens ambiciosos que se detestam
própria alma, então pobres de nós!
mutuamente, com um ódio instintivo, e quando se encontram num
caminho, um dos dois tem de ceder o lugar ao outro. Se permitimos à [FONTE: ART IN PARIS, 1845-1862, TR. jONATHAN HAYNES (LONDRES, PHAIDON PRESS,. 1965)]
céu nas suas marinhas fotográficas. Ainda que tenha sido pio- lembrar pinturas em que a luz e a sombra contrastam teatral
nciro ao int roduzir o uso de negativos de papel e o processo de mente. Para conseguir este efeito, Le Gray inventou processos
colódio húmido, que permitiam obter imagens mais nítidas e que produziam graduações de tom extremamente finas e uma
com maior riqucza de pormenor, as suas fotografias fazem técnica que lhe permitiu desenvolver uma impressão cerca de
25.39. Gustave L.e Gray. Vistu do Meditenáneo em Sete. 1856-1859. Immpressão de sais de prata sobre papel de
albumina, a partir de deis negativosemchapa de vidro. 32,1 x 41,9 cm. The Metropeolitan Museunm of Art.
Colevgo (ilman. Compra, I.egado de Rubert Rusenkranze, 2005 (2005.10048)
CAPiTULO 25 A ERA DO POSITIVISMO: REALIShO, IfiRESSONISMO E OS PRE - RAFAELITAS (1848 A 1885) 921
A ARTE NO SEU TEMPO
25.41. Sir Joscph Paxton. Palácio de Cristal, Londres. 1851. Reconstruído em Sydenham em 1852.
Destruído num incêndio de 1936.
O Palácio de Cristal possuía uma atmosfera fortemente tecno- uso do ferro num importante cdifício cívico foi em Paris, na
lógica, talvez porquc foi concebiclo como edificio temporário e Bibliothèque Sainte-Genevieve, traçada c m 1842 por Henri
não tradicional, destinacdo a acolher uma exposição ledicadaà Labrouste (1801-1875). Oexterior da biblioteca (fig. 25.43) trazà
tecnologia e à indústria. Em regra, o ferro não era o material memória ecos da famosa Biblioteca renascentista de San Marco
escolhido para a construção dos cdificios faustosos e monumen- cm Veneza, datada de 1536 c traçada por Jacopo Sansovino, (que
tais dos tribunais, dos teatros e dos parlamentos; em vez disso, inspirou os arcos que despontam dos pilares, enquanto as propor-
pedra era o material privilegiado. Os edificios deviam ser OCs e outros componentes do cdificio, c o m o as galerias fechadas
também"figurativos , ou seja, delineados num estilo revivalista no piso térreo e no piso superior, lembram o Banco dos Mdici,
que estabelecesse unma ascendënCa ancorada no passado clássico, em Milão (ca. 1460), criando uma analogia entre o edifício e uma
gotico ou renascentista. Vimos, por exemplo, a forma como casa do tesouro, desta feita, dos tesouros do intelecto. Labrouste
Garnier incorporou clementos do Louvre na Opera, para real- alude aos templos egipcios de Ptolemcu, nas aberturas do segurndo
çar a ligação entre Napoleão IIl e Louis XIV. piso, tapadas até meia altura para receberem inscriçócs que nos