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COMO
SE FAZ?
DOCUMENTOS
PSICOLÓGICOS

AUTORA
Kalbla Barbosa Queiroz de Santana

4 sanar

COMO
SE FAZ?
DOCUMENTOS PSICOLÓGICOS

Kallila Barbosa Queiroz de Santana

# sanar
2021
© Todos os direitos autorais desta obra são reservados e protegidos à Editora Sa-
nar Ltda. pela Lei n°9.610, de 19 de Fevereiro de 1998. É proibida a duplicação ou
reprodução deste volume ou qualquer parte deste livro, no todo ou em parte, sob
quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, gravação, fotocópia ou out-
ros), essas proibições aplicam-se também à editoração da obra, bem como às suas
características gráficas, sem permissão expressa da Editora.

Título Como se faz? Documentos Psicológicos


Editora Fernanda Fernandes
Projeto gráfico e diagramação Fabrício Sawczen
Capa Fabrício Sawczen
Revisor Ortográfico Karen Duarte
Conselho Editorial Caio Vinícius Menezes Nunes
Itaciara Lazorra Nunes
Paulo Costa Lima
Sandra de Quadros Uzekla
Silvio José Albergaria da Silva

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Tuxped Serviços Editoriais (São Paulo-SP)

8238c Barbosa, Kallila.

Como se faz? Documentos Psicológicos / Kallila Barbosa.- 1. ed.- Salvador, BA: Editora Sanar, 2021.
192 p. (Coleção Como se faz?).

Inclui bibliografia.
ISBN 978-65-89822-14-1

1. Atestados. 2. Documentos. 3. Laudos. 4. Preliminares. 5. Psicologia. 6. Registros. I. Título. II. Assunto. III. Barbosa,
Kallila.

CDD 150
CDU 159.9

ÍNDICE PARA CATALOGO SISTEMÁTICO


1. Psicologia.
2. Psicologia.
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário Pedro Anizio Gomes CRB-8 8846

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BARBOSA, Kallila. Como se faz? Documentos Psicológicos. 1. ed. Salvador, BA: Editora Sanar, 2021. (Coleção Como se faz?).

Editora Sanar Ltda.


R. Alceu Amoroso Lima, 172 -SalvadorOffice
& Pool, 3ro Andar- Caminho das Arvores CEP
# sanar 41820-770, Salvador - BA
Tel.: 0800 337 6262
atendimento@sanar.com
www.sanarsaude.com
Autora

KALLILA BARBOSA QUEIROZ DE SANTANA

Mestre em Educação e Contemporaneidade pela Universi-


dade do Estado da Bahia. Graduada em Psicologia pela Uni-
_
versidade Federal da Bahia. Professora em níveis de gradua-
ção e pós graduação, escritora, psicoterapeuta, parecerista,
supervisora e mentora profissional, com experiência com
Perícia Psicológica, Assistência Técnica. Perfil @deproposito-
porproposito.
Sumário
1. PRA COMEÇAR 9
1. Documentos psicológicos 11
2. 0 lugar do exame 15
3. Mapeamento de solicitação documental 1 ferramenta 17
Referências 21

2. PRELIMINARES 23
1. 10 Tempo: Instrumento científico-político 25
2. 20 Tempo: Comunicação da Prestação de Serviços 26
3. Respostas dos Exercícios 52
Referências 54

DECLARAÇÃO 55
1. Abertura 55
2. Estrutura 57
3. Modelo 58
4. Dúvidas Comuns 60
Referências 61

4. RELATÓRIOS 63
1. Introdução 63
2. Relatório psicológico 65
3. Relatório multiprofissional 72
4. Dúvidas comuns 78
5. Mapa mental 84

5. PARECER PSICOLÓGICO 85
1. Introdução 85
2. Estrutura 95
3. Check list 98
4. Dúvidas comuns 99
Referências 102
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA 103
1. Introdução 103
2. Conceitos 105
3. Planejamento 111
4. Dúvidas comuns 118
Referências 122

7. ATESTADO PSICOLÓGICO 123


1. Atestado Psicológico 123
2. Exercícios 131
3. Estrutura 132
4. Dúvidas comuns 137
5. Respostas dos exercícios. 140
Referências 142

8. LAUDO PSICOLÓGICO 143


1. Procedimentos de Coleta de Dados: 148
2. A Avaliação Psicológica 148
3. Meu Método de Elaboração 153
4. Dúvidas Comuns 155
Referências 158

9. EXTRAPOLANDO 159
1. Registros documentais 161
2. Objetivos da prestação de serviços 167
3. Psicoterapias 170
Referências 173

10. CONSULTA RÁPIDA 175


1. Documentos Técnicos 177
2. Demanda documental 178
3. Finalidade documental 179
4. Fontes de dados para elaboração de Documento
Técnico Psicológico 180
5. Declaração 181
6. Atestado psicológico 182
7. Relatórios Psicológico e Multiprofissional 183
8. Laudo Psicológico 184
9. Parecer Psicológico 185
10. Considerações importantes 186
11. Registro Documental 188
12. Prontuário Psicológico 189
CAPÍTUL011
PRA COMEÇAR

O que você irá ver nesse capítulo:

o Documentos psicológicos
0 O lugar do exame
o Mapeamento de solicitação documental 1 Ferramenta

"Quem elegeu a busca


Não pode recusar a travessia"
Guimarães Rosa.

Começar uma jornada normalmente não é tarefa fácil... Em


começos, há de se tomar decisões, escolher destino, traçar ca-
minho, preparar bagagem, contar com imprevistos. Se com-
prometer. Uma jornada começada tem obstáculo, tem cansaço
e tem respiros, no plural. Tem prazer. Tem orgulho. Tem legado.
Eu não sei em que etapa de sua jornada em psicologia estamos
tendo esse encontro, mas que bom que nos encontramos, que
estamos aqui.
Esse livro é um tanto diferente: ele não se propõe ser um
livro! Sei que pode parecer confuso, mas explico - meu objeti-
vo em uma proposta de Como Fazer documentos psicológicos
foi pegar em sua mão. Construí cada capítulo como conversas
numa caminhada e torço que assim chegue para você. Nem
de longe tenho a intenção de encerrar assuntos, ao contrário:
quero mesmo é abrir possibilidades! Mais que me ocupar sobre
o que eu não disse, fiz questão de focar no que precisava dizer.
É uma caminhada, enquanto você atuar profissionalmente.
9
CAPÍTULO 1

Minha intenção aqui é te fazer par num trecho de sua Jornada,


por vezes tão solitária, enquanto também vou fazendo, de cá,
a minha própria caminhada. E estar junto é muito bom!
Antes de mergulharmos especificamente no tema desse li-
vro, Documentos Psicológicos, quero te convidar a pensar so-
bre a sua escolha profissional, pois acredito que estar aqui não
é apenas sobre um conteúdo novo, uma qualificação ou
capacitação profissional (ou não deveria ser). Você lembra
porque escolheu a Psicologia? Lembra, lá atrás, o que te fazia
brilhar os olhos, o seu e somente seu motivo de querer fazer-se
psi"? Para te provocar nesses resgates de memória, lanço aqui
algumas perguntas (que usaremos muitas vezes!!):

PERGUNTAS FUNDAMENTAIS

1. Por que você faz o que faz?


2. Para que faz o que faz?
3. Para quem faz o que faz?
4. Quando você faz?
5. Como faz?

Essas não são provocações simples e, se por acaso, elas


não mexeram "aí por dentro", arrisco dizer que você ficou na
"superfície do pensamento". E, tudo bem, é escolha. Mas, acre-
dite colega, para que mergulhemos fundo em algo, fazer algu- c
mas conexões, investir em resgates são importantes porque
nem sempre estaremos motivados, nem sempre colheremos, c
de pronto, frutos desejados. E, estar aqui, revela sobre tempo
II
de plantio. Te convidar à lembrar de você, de seus motivos é
minha maneira de fazer você vir comigo nessa jornada até o
fim, mesmo que nem sempre tão animada, mas sempre de
propósito.

10
PRA COMEÇAR

"O motivo para você procurar motivo pode ser o


de ser o melhor terapeuta que puder, ajudando
pessoas a serem também melhores que quando
te encontraram pela primeira vez. Eu penso que
esse é um motivo e tanto para que você ouse nas
profundezas e se encontre com seu motivo. Acre-
dite, a motivação para cuidar de pessoas, isso que
você escolheu, deve ser algo muito, muito pessoal
e só em um encontro profundo, você se (re)conec-
tará com o seu porquê'".

Quando escolho esse caminho de lembrar "por que faze-


mos o que fazemos" faço com que renovemos nossos votos
com nossa escolha de exercício profissional - somos convoca-
dos a honrar nosso compromisso de sermos profissionais ca-
pacitados para as demandas que assumimos - eu e você pro-
metemos agir com ética na colação de grau, lembra? Buscar
ser profissionais melhores é bancar a jornada de investir: em
tempo, em grana, em prática, em supervisão. É arriscar, testar,
ajustar. E vamos cá começar mais uma travessia. Vuuumbora!!!

1. DOCUMENTOS PSICOLÓGICOS

Vou começar por uma confissão: há anos esperava um novo


conjunto de regras e orientações para elaborar nossos diferen-
tes documentos técnicos! Fui formada na então recém vigên-
cia do Manual de Elaboração de Documentos de 2003, ensi-
nei muitos colegas com base nessa normativa e foram alguns
"rebolados" para manejar furos e lacunas. Em 2019 celebrei a
Resolução CFP no 04, que logo foi revogada dando lugar à nor-
mativa atual. Ufaa, enfim, novos tempos!
Vou te contar algo sobre mim: sou apaixonada por comuni-
cação. Gente, em todo tempo nós estamos trocando informa-
ções, ideias, saberes, de diferentes e múltiplas formas. Cada um

11
CAPÍTULO 1

tem sua própria forma de se expressar e, particularmente, acho


isso de uma beleza singular. Os diferentes documentos téc-
nicos em psicologia são a nossa forma de dizer, por escrito,
nossos fazeres profissionais e deveríamos usar esse poder,
de propósito, a nosso favor; isso certamente nos diferenciaria!
Mas, ao longo de minha jornada, o que vi foi muito colega ávi-
do por "modelos documentais", como se pegassem empresta-
do a voz, o estilo de terceiros para comunicar seu fazer. Lembro
de uma frase do Saramago que diz assim:

"No fundo, todos temos necessidade de dizer


quem somos e o que é que estamos a fazer e a
necessidade de deixar algo feito, porque esta vida
não é eterna e deixar coisas feitas pode ser uma
forma de eternidade3"

Quero (é torço!) muito que essa nossa jornada te apoie em


construir, deixar algo feito em que se orgulhe, que seja seu pas-
saporte para bancar seu estilo de comunicação escrita, com
método e técnica necessários para te deixar segura em escre-
ver sobre suas atividades profissionais em psicologia.
Esse nosso papo aqui ao longo dessa obra está baseado na
Resolução CFP 06/2019, nossa resolução de referência, quarta
normativa específica da nossa categoria profissional sobre
elaboração de documentos psicológicos. As resoluções CFP
030/2001, 017/2002 e 007/2003 são as anteriores - a leitura
vale a pena como referência evolutiva do assunto. Gente, nos-
so fazer profissional está condicionado a conhecer e seguir as
orientações normativas de nossa categoria profissional. A não
observância das regras constitui falta ético-disciplinar.
Eu não sei se você sabe, mas documentos psicológicos re-
presentam grande parte de representações contra profissio-
nais de psicologia junto aos Conselhos Regionais, com foco
especial para os Laudos Psicológicos4, última etapa do pro-
cesso de avaliação psicológica. Ora, veja bem, estamos falan-

12
PRA COMEÇAR

do de um documento privativo de nossa categoria, já que ele


é condicionado a um processo que só nós podemos, por lei
(Lei 4119/1962), realizar: deveríamos fazer com primor! Mas
a jornada ainda é longa.
Quando falamos de documentos psicológicos precisamos
entender que ele deve ser encarado como um instrumento
de comunicação escrita de nossa prestação de serviço. E,
quando solicitado, precisamos garantir que essa comunicação
cumpra a demanda e atinja a finalidade a que se propõe (isso
não significa contemplar o desejo de quem solicita). Aliás, essa
casadinha demanda-finalidade, que muitas vezes chamo de
'clíade: é f-u-n-d-a-m-e-n-t-a-1 para que elaboremos qualquer
documento escrito. Lá na frente vamos aprofundar esse
papo com uma ferramenta específica de Ma peamento de So-
licitação Documental. Mas preciso muito que tenha em seu
campo de visão que não há como seguir sem esse tripé:

Demanda Finalidade Destinatário

Aqui, o que farei agora é te dar uma visão geral, a partir de


um esquema, como se estivéssemos sobrevoando o terreno.
Ao longo de nossa jornada aqui, vamos aprofundar cada um
dos pontos, construindo cada vez mais seu conhecimento com
intimidade e confiança na elaboração. Vuumbora!

13
CAPÍTULO 1

Sistematiza uma Documentos Elaborado por


-4-
conduta profissional Psicológicos solicitação

Em processo ou Instrumento de Quem pode solicitar:


finalizado comunicação escrita • usuária(o) do serviço
de Psicologia;
• seus responsáveis
legais;
Sustentado por três Princí- • uma(um) profissio-
pios Fundamentais: nal específico;
• Princípios de Linguagem; • equipes multidisci-
• Princípios Técnico cientí- plinares;
ficos; • autoridades;
• Princípios Éticos. • produto de um
processo de avaliação
psicológica.

Modalidades de
Documentos

Relatório Atestado Laudo


Parecer
Declaração Psicológico e/ou Psicológico Psicológico
Psicológico
Multiprofissional

V-

Não condicionados à Condicionados à


processo de Avaliação processo de Avaliação
Psicológica Psicológica

14
PRA COMEÇAR

2. O LUGAR DO EXAME

Bom, apesar de estarmos fazendo uma jornada sobre Como


Fazer Documentos Psicológicos, eu, no lugar e papel de quem
caminha ao seu lado como guia, preciso te convocar a pensar
para além do contexto situacional de uma elaboração docu-
mental. Não é, nem de longe, só sobre demanda-finalidade e
nós precisamos ter clareza analítica de nossos fazeres. Nossos
documentos têm o poder de intervir na realidade de pes-
soas e a gente precisa falar sobre isso!

"O exame que coloca os indivíduos num campo


de vigilância situa-os igualmente numa rede de
anotações escritas; compromete-os em toda uma
quantidade de documentos que os captam e os
fixam. Os procedimentos de exame são acompa-
nhados imediatamente de um sistema de registro
intenso e de acumulação documentaria. Um "po-
der de escrita" é constituído como uma peça es-
sencial nas engrenagens da disciplina. Em muitos
pontos, modela-se pelos métodos tradicionais da
documentação administrativa. Mas com técnicas
particulares e inovações importantes. Umas se re-
ferem aos métodos de identificação, de assimila-
ção, ou de descrição5".

Quando diante de uma solicitação documental, o que se


busca é a palavra de um técnico, o examinador, alguém que
estaria investido do poder, travestido da ciência, de "falar a ver-
dade sobre sujeitos". Aqui cabe a produção conceituai foucaul-
tiana de"panoptismo", o que tudo vê, como forma de vigilância
e controle de corpos por exames de aptidão.

15
CAPÍTULO 1

"A psicologia tem, portanto, um caráter instrumen-


tal na produção positiva de subjetividades, como
técnica que organiza experiencias de si como su-
jeito "normal" ou "anormal", separando condutas
desejáveis das indesejáveis, não por meio da lei,
mas por meio da norma, seja ela, como diria Can-
guilhem, estatística ou relativa ao que seria social-
mente desejável6"

Comunicar por escrito sobre nosso fazer precisa sempre


estar fundamentando num questionamento ético quanto ao
uso do documento que produzimos para que não façamos
parte de modelos institucionalizados que ferem a igualdade
entre sujeitos e hierarquiza as relações de poder e controle:
aqui, mais uma vez, demanda, finalidade e destinatário são
fundamentais para que nossos documentos não virem ins-
trumentos do instrurnentalismo6. Nossos fazerem precisam
fomentar a liberdade das pessoas, não controlar seus corpos.

"Os documentos que produzimos são portadores


do poder que advém de um regime de verdade
que privilegia seu status entre as ciências huma-
nas: poder buscar as causas de e prever condutas às
humanas torna a psicologia uma disciplina extre- en
mamente valiosa6" fin
cu
Lembre sempre que em nossos Princípios Fundamentais, lá
do nosso Código de Ética Profissional, nos comprometemos, pe
dentre outras coisas, com o respeito e a promoção da Liber- 50!
dade, da dignidade e da igualdade. Cada intervenção e/ou ea
Avaliação Psicológica concentra em si diferentes camadas di- plz
mensionais e cabe ao profissional que presta serviço o ques-
tionamento contínuo de seus fazeres. E essa responsabilidade
é de cada um de nós.

16
PRA COMEÇAR

"Nesse sentido, podemos compreender a pro-


dução de documentos psicológicos como resul-
tantes de um conjunto de procedimentos que
não apenas falam de avaliações ou intervenções
psicológicas, mas que constituem, em si, uma in-
tervenção documental. Se deixarmos de questio-
nar os sentidos, ou as relações de poder que en-
volvem tal intervenção, veremos a nós mesmos,
junto com os nossos atestados de competência
profissional, à deriva ou cooptados, irremediável
e inadvertidamente, por estratégias de poder que
nos utilizam como "instrumentos do instrumenta-
lismo", como diria Canguilhem, ou como agentes
do poder disciplinar, como diria Foucault6"

3. MAPEAMENTO DE SOLICITAÇÃO DOCUMENTAL 1


FERRAMENTA

Os primeiros passos para adentramos no universo de Docu-


mentos Técnicos em Psicologia é ter muita clareza em relação
à solicitação que chega até você. Esse primeiro momento, de
entendimento do que se pede, é importante para desde de-
finir a modalidade documental até para planejar o trajeto de
cumprimento da solicitação.
Quando diante de uma solicitação documental, existem
perguntas essenciais para fundamentar seus próximos pas-
sos. Preciso que tenha segurança e a investigação minuciosa
e aprofundada de cada um desses pontos é fundamental para
planejar seu caminho de elaboração documental. Vamos a elas:

17
CAPÍTULO 1

1. O que o solicitante quer informar com o docu-


mento (demanda)?
Pense no conteúdo do documento, certo? O que se
quer dizer, informar? Para que você tenha um posicio-
namento técnico sobre esse conteúdo, precisará fazer
avaliação psicológica?

2. Para que se quer informar o descrito no item 1


(finalidade)?
O desejo de informar sobre o conteúdo é para que?
O que o sujeito supões de beneficio com esse compar-
tilhamento? Quem receberá essa informação (qual o
papel e o poder decisório)?

3. Por que se quer informar o descrito no item 1


(motivo)?
O que motiva o sujeito a querer informar-o descrito
no item 1?

4. Qual o caminho para cumprir demanda-finalida-


de (como fazer)?
Você já tem os dados necessários para realização
do documento? Precisará produzir diagnóstico? Qual
o melhor caminho para atender a solicitação?

Qual documento melhor atende a solicitação:

18
PRA COMEÇAR

Cada vez que chegar uma solicitação de produção de docu-


mento, como prestação de serviço ou mesmo no meio de uma
atividade já em andamento ou finalizada, investir um tempo
no entendimento da solicitação fara toda a diferença nos
próximos passos. Para que você possa usar essa ferramenta
sempre que precisar como apoio em sua atuação profissional,
preparei, de presente, ela em arquivo: segue o QRCode.

Bom, acho que agora podemos adentrar para os próximos


capítulos, hum? Mas antes, de irmos para as Preliminares (ca-
pítulo 2), vou te trazer sete dicas (para_estudo de produção
documental, atuação profissional, e vida cotidiana):

1. Se comprometa. Para mim há uma diferença muito gran-


de entre querer ser um bom terapeuta e se comprometer
em ser um bom terapeuta. Aqui, querer não é poder.
2. Esteja atento ao seu propósito. Atenção para todas as
coisas: teoria, relações, oportunidades. Tenha clareza de
seu motivo, se você se perde dele, muda tudo, inclusive o
que justifica suas escolhas.
3. Seja integro. Assuma quem você é. Algumas pessoas não
estarão com você por isso e outras estarão também por
isso. E está tudo bem.
4. Persista. Vão existir obstáculos e não serão poucos. Mas
quem tem um motivo, um por que, enfrenta qualquer
como.

19
CAPÍTULO 1

5. Esteja aberta. Nem sempre o que você entende como o


certo agora fará sentido para você amanhã. As coisas po-
dem estar definidas mas não são definitivas.
6. Cuide de sua energia. A gente se preocupa muito em
ofertar energia mas negligencia o abastecimento. Quais
são as formas que você pode se nutrir do que quer ofe-
recer? Isso vale para as relações que a gente estabelece.
7. Seja de e por propósito. Ter intencionalidade no fazer e
ser protagonista da própria história é fundamental para
que possamos convocar o outro para assumir esse lugar
e papel'°.

Vuuuumboraaa!!

20
PRA COMEÇAR

REFERÊNCIAS

1. Barbosa, Kallila (coord.). 101 Ferramentas terapeuticas em Psico-


logia. Salvador: Sanar, 2019.
2. Cortella, Mario. Porque fazemos o que fazemos. São Paulo:> Pla-
neta, 2016.
3. Saramago, José. La Provincia. 1997.
4. Shine, Sidnei. Andando no fio da Navalha: riscos e armadilhas na
confecção de laudos psicológicos para a Justiça. São Paulo, 2009.
5. Foucault, Michael. Vigiar e punir: história da violência nas prisões.
Petropolis, RJ: Vozes, 1983.
6. Lourenço, Adindo; Ortiz, Marta; Shine, Sidney. Produção de do-
cumentos em Psicologia: prática e reflexões teórico-criticas. São
Paulo: Vetor Editora, 2018.
7. Barbosa, Kallila (coord.). 101 Ferramentas terapeutícas em Psico-
logia. Salvador: Sanar, 2019.

21
c
CAPÍTUL02
PRELIMINARES

O que você irá ver nesse capítulo:

O 1° Tempo: Instrumento científico-político


2° Tempo: Comunicação da Prestação de Serviços
Parte I "Considerandos"
Parte II 1 Princípios fundamentais
6 Respostas dos Exercícios

Confesso que foi difícil nomear esse capítulo, já que, por se


tratar de um livro para profissionais de psicologia sobre como
fazer diferentes documentos técnicos escritos, provavelmente
você está ávida para saber o principal: elaborar qualquer um
dos documentos descritos em nossa resolução de referência
sobre o assunto! Mas calma aí, pois a gente precisa começar
com algo que antecede "o principal", que metaforicamente
chamo de"o topo da pirâmide" e aprofundar nas camadas que
sustentam o topo, desde a base, os fundamentos e é por isso
que estamos aqui nas preliminares! Quando somos demanda-
das a produzir um documento, a ponta da pirâmide, teremos
que "mergulhar", aprofundar, acessar todas as camadas que
compõem a pirâmide ou ela não se sustentará. Vamos a um
esquema para ilustrar o que estou falando:

23
CAPÍTULO 2

A Documento

Asehr Metodologia e
Ancoragem Teórica

Normas
regulamentadoras

Código de Ética
Profissional

Chamar esse momento do livro de Preliminar dá a dimen-


são de toda essa prévia, essas camadas -super importante e
necessária para nos preparar para a produção documental
propriamente dita e é exatamente isso que nós vamos fazer
aqui nesse capítulo, em dois tempos: refletir sobre o lugar e
papel dos documentos emitidos por profissionais de psico-
logia, entendendo eSses materiais através de suas dimensões
científico-política e estudar os Considerandos e os Princípios
Fundamentais: os Princípios de Linguagem formal escri-
ta, os Princípios Técnico-científicos e os Princípios Éticos
descritos na nossa resolução CFP 06/2019', esse conjunto de
orientações e regras para a produção documental por profis-
sionais da psicologia como instrumento de comunicação de
nossa prestação de serviço.

1° Tempo: 2° Tempo:
Instrumento Comunicação da
científico-político Prestação de Serviço

Eu sugiro fortemente que você não pule essa parte, mesmo


estando com vontade - o que vamos ver aqui são os pilares
de qualquer bom documento técnico: no primeiro tempo, o

24
PRELIMINARES

convite é ao entendimento e reflexão do lugar de poder que


resulta em um documento e o segundo, em uma perspectiva
mais ética, sobre essa necessidade dos profissionais de psi-
cologia conhecerem, zelarem e seguirem as orientações nor-
mativas do CFP. Para te ajudar, fiz esquemas e exercícios para
você reter as ideias centrais expostas na norma de referência,
objetivando zelar pela excelência técnica e formal dos nossos
documentos escritos. Vuumbora!

1° TEMPO: INSTRUMENTO CIENTÍFICO-POLÍTICO

Iniciar esse capítulo chamando sua atenção para o "para


-além" do entendimento dos documentos técnicos em psicolo-
gia serem uma comunicação escrita da prestação de serviços
é bem importante para te convidar a olhar o que vou nomear
aqui de além fmuros. Dentro dos nossos muros está o entendi-
mento de que com uma produção documental estamos comu-
nicando algo resultante de nosso trabalho (2) - seja já findado
ou em andamento. Mas, olhando por cima do muro, veremos
que, mais que um instrumento de comunicação escrita, esta-
mos diante de instrumentos científico-politicos (1) capazes de
influenciar e intervir na vida cotidiana das pessoas, por deci-
são delas mesmas ou de terceiros. Vou desenhar aqui embaixo
com o objetivo de me fazer entender:

Fonte: Autoria própria.

25
CAPÍTULO 2

Precisamos alcançar e entender a necessidade de olhar para


além do que está posto, a função social e política da própria
psicologia quando somos demandadas por um documento
técnico, perceber o exercício de poder a partir dos encami-
nhamentos que fazemos, das conclusões que documentamos:
eles podem alterar e intervir na vida de pessoas. Atestar se es-
tão aptas ou não para desempenhar atividades laborativas, se
necessitam de um tempo afastadas de atividades cotidianas,
descrevem seus estados subjetivos, suas histórias, traumas e o
impacto disso em suas funções na vida, por exemplo, ou, como
diria Foucault, a função de examinar sujeitos exige-se res-
ponsabilidade da profissional de não apenas elaborar o docu-
mento solicitado, naquele tempo, espaço e circunstância, mas
de entender a necessidade de avalia-se a si e seus métodos,
técnicas, instrumentos e ancoragem teórica de maneira crítica
- o lugar do "suposto saber" precisa ser ocupado com cuidado,
responsabilidade e crítica constantes.

2° TEMPO: COMUNICAÇÃO DA PRESTAÇÃO DE


SERVIÇOS

PARTE I l"CONSIDERANDOS"

Nessa sessão nós vamos estudar o que foi levado em consi-


deração para a construção da resolução de referência para ela-
boração de documentos técnicos em psicologia: é aqui onde
encontraremos justificativas e fundamentações legais para a
construção do documento normativo. Estudar os consideran-
dos desta norma é fundamental para nos localizar no tempo e
no espaço de sua elaboração, além de ser um convite à nos (re)
conectar com nossa profissão. Então, minha sugestão é: viva
esse momento da forma mais intensa que puder!
Mas, antes de mergulharmos, vale deixar bem claro o ob-
jetivo da resolução, que está lá no parágrafo único do art. 1°

26
PRELIMINARES

da Resolução CFP 06/2019, já que a profissional da psicologia é


proibida de emitir comunicação por escrito sem seguir as dire-
trizes da norma em questão (art.3°):

"Orientar a(o) psicóloga(o) na elaboração de documentos


escritos produzidos no exercício da sua profissão e fornecer
os subsídios éticos e técnicos necessários para a produção
qualificada da comunicação escrita':

Para contribuir com seu aprendizado, construí essa parte da


seguinte forma: dentro das caixas de texto estão os argumen-
tos extraídos da nossa Resolução CFP 06/2019, os chamados
"considerandos" e, abaixo, as idéias centrais e/ou discussões e
comentários pertinentes a partir do que foi exposto. Além dis-
so, como já antecipei, você encontrará esquemas e exercícios
para otimizar ainda mais seu trabalho aqui e as respostas esta-
rão no final desse capítulo (mas só vá lá depois de responder,
combinado?). Então, sem mais delongas, vamos ao trabalho:

CONSIDERANDO que a(o) psicóloga(o), no exercício profissio-


nal, tem sido solicitada(o) a apresentar informações docu-
mentais com objetivos diversos e a necessidade de editar
normativas que forneçam subsídio à(ao) psicóloga(o) para a
produção qualificada de documentos escritos;

Nesse primeiro "considerando", três marcas importantes


para nossa atenção:

1. Diferentes objetivos dos clientes e/ou instituições provo-


cam solicitação de produção documental na prestação de
serviços em psicologia (demanda crescente);

27
CAPÍTULO 2

2. Não há uma área de atuação na psicologia que seja desta-


cada nessa consideração de elaboração instrumental de
comunicação;
3. Uniformização de normas para elaboração de documen-
tos objetivando uma produção escrita qualificada da
categoria profissional. Vale lembrar que um documento
fraco tecnicamente fragiliza a profissão, além de ser uma
infração ética*.

CONSIDERANDO os princípios éticos fundamentais que


norteiam a atividade profissional da(o) psicóloga(o) e os
dispositivos sobre avaliação psicológica contidos na Resolu-
ção CFP n°10/2005, que institui o Código de Ética Profissional
do Psicólogo - diploma que disciplina e normatiza a relação
entre as práticas profissionais e a sociedade que as legitima,
cujo conhecimento e cumprimento se constitui como condi-
ção mínima para o exercício profissional;

ti
Ética é sempre um tema que atravessa a discussão sobre
prática profissional. E é importante aqui fazermos a diferença,
por exemplo, entre a perspectiva aristotélica de ética'', conce-
bida numa dimensão mais individualizada do sujeito, de es- t(
colha mesmo, e a ética de uma categoria profissional - aqui, c
supõe-se valores refletidos e compartilhados por aquele grupo o
de pessoas. Quando somos convocadas à refletir sobre a con- t(
duta ética da psicologia como condição mínima para o exercí- A
cio profissional, refletida pelo seu código instituído na Resolu-
ção CFP 10/20052, mais que a orientação normativa, estamos c
* Artigo 20, alínea "g", Resolução CFP 010/2005, Código de Ética Profissional do Psicó-
logo.
** Pensar a etimologia da palavra pode nos ajudar aqui: a palavra ética originou-se E
do grego "ethos"3, que significa modo de ser ou hábito. É escolha individual. Quando
pensamos uma normatização compartilhada desses modos de ser ou hábitos, aí esta-
mos diante da moral, de origem no termo latino "morales" que significa "relativo aos
costumes". Funcionamento coletivo.

28
PRELIMINARES

diante daquele momento que falei lá em cima: de (re)conexão


com nossa profissão. Percebe o quanto isso é importante e que
não dá para "passar batido"?

CONSIDERANDO que a Psicologia no Brasil tem, nos últimos


anos, se deparado com demandas sociais que exigem da(o)
psicóloga(o) uma atuação transformadora e significativa,
com papel mais ativo na promoção e respeito aos direitos
humanos, ponderando as implicações sociais decorrentes
da finalidade do uso dos documentos escritos produzidos
pelas(os) psicólogas(os);

Esse considerando aqui traz duas palavras fundamentais


para pensarmos nossas atuações profissionais, independente
dos campos de atuação: 1) transformadora e 2) significativa.
Não sei qual o efeito que surge por aí, mas, para mim, adjetivar
a minha prática profissional como transformadora e significa-
tiva me reconecta e me torna ainda mais potente, cuidadosa e
responsável em minhas prestações de serviços.
Outra palavra relevante nesse parágrafo, já não mais volta-
da à atuação profissional, mas para a elaboração de documen-
tos propriamente dita é FINALIDADE. Você precisa ter muito
claro o fim ao qual o documento será destinado. Para que será
o documento? E para quem (que além de ser uma formalidade,
te ajudará a entender de forma mais ampliada a finalidade)?
Aqui, às vezes, rola uma confusão, como se os profissionais da
psicologia quisessem avaliar e/ou validar a finalidade da soli-
citação e não é isso, essa, nem de longe, é uma competência
nossa: todos tem direito de solicitar um instrumento de co-
municação escrita - os documentos! A necessidade da clareza
em relação à finalidade tem ligação direta com a elaboração
documental, principalmente o tipo e as informações pertinen-

29
CAPÍTULO 2

tes. A finalidade muitas vezes balizará inclusive sobre o sigilo


profissional, mas calma, a gente falará sobre isso lá na frente.
Sigamos!

CONSIDERANDO que, com o objetivo de garantira valoriza-


ção da autonomia, da participação sem discriminação, de
uma saúde mental que sustente uma vida digna às pessoas,
grupos e instituições, a(o) psicóloga(o) encontra-se inseri-
da(o) em diferentes setores de nossa sociedade, conquis-
tando espaços emergentes que exigem normatizações que
balizem sua ação com competência e ética;

CONSIDERANDO que a(o) psicóloga(o) deve pautar sua


atuação profissional no uso diversificado de conhecimentos,
técnicas e procedimentos, devidamente reconhecidos pela
comunidade científica, que se configuram nas formas de ava-
liação e intervenção sobre as pessoas, grupos e instituições;

Aqui eu faço questão de fazer um esquema' para você pre-


encher, só para eu ter certeza que você fixou bem. Vamos lá:

* Esquema A - resposta no final do capítulo.


E

30
PRELIMINARES

Mesmo depois desse esquema para ratificar sobre nossa


atuação profissional independente de que área estejamos fa-
lando, quero marcar aqui com você outras considerações im-
portantes. Veja que foi usada diversidade para qualificar os
conhecimentos, técnicas e procedimentos de nossas presta-
ções de serviços, obviamente que devidamente reconhecidos
pela comunidade científica. Aqui deixo bem claro que não há
delimitação em relação à abordagem teórica, mas implicita-
mente a sua competência de manejo. Se ligou?

CONSIDERANDO que a(o) psicóloga(o) deve atuar com au-


tonomia intelectual e visão interdisciplinar, potencializando
sua atitude investiga tiva e reflexiva para o desenvolvimento
de uma percepção crítica da realidade diante das demandas
das diversidades individuais, grupais e institucionais, sendo
capaz dê consolidar o conhecimento da Psicologia com
padrões de excelência ética, técnica e científica em favor dos
direitos humanos;

Quero fazer algumas perguntas para você, com o objetivo


de ampliar sua reflexão acerca dos conceitos super importantes
trabalhados nesse "considerando". Minha sugestão é que você
pare um tempo para responder essas questões, entender suas
representações mentais em relação às expressões expostas*:

1. Para você, o que significa autonomia intelectual?


2. O que é ter uma visão interdisciplinar?

Sugiro que, depois de responder essas questões, você ex-


plore outros saberes, pesquise, considere outros entendimen-

* Não temos uma resposta certa, o objetivo aqui é que seja um gatilho para você pen-
sarsobre essas dimensões já que elas, inclusive, justificam a nossa norma de referência
e deveriam embasar nossa prática profissional.
31
CAPÍTULO 2

tos além do seu. Isso fará com que amplie sua percepção con-
ceituai e fortaleça sua concepção de saber. Continuemos.

CONSIDERANDO que a(o) psicóloga(o) deve: construir argu-


mentos consistentes da observação de fenômenos psicológi-
cos; empregar referenciais teóricos e técnicos pertinentes em
uma visão crítica, autônoma e eficiente; atuar de acordo com
os princípios fundamentais dos direitos humanos; promo-
ver a relação entre ciência, tecnologia e sociedade; garantir
atenção à saúde; respeitar o contexto ecológico, a qualidade
de vida e o bem-estar dos indivíduos e das coletividades,
considerando sua diversidade;

_ Aqui temos informações extremamente relevantes em rela-


ção ao que se espera de nossa atuação profissional. Esquema-
tizemos então o que diz aqui nosso considerando em questão.
A profissional da psicologia deve:

Construir argumentos consistentes da

2. Empregar pertinentes
em uma visão e

3. Atuar de acordo com os


dos direitos humanos;
4. Promover a relação entre
e
5. Garantir atenção à
6. Respeitar o contexto ,a
eo
dos indivíduos e das coletividades, considerando sua

32
PRELIMINARES

CONSIDERANDO a complexidade do exercício profissional


da(o) psicóloga(o), tanto em processos de trabalho que
envolvem a avaliação psicológica como em processos que en-
volvem o raciocínio psicológico, e a necessidade de orientar
a(o) psicóloga(o) para a construção de documentos decor-
rentes do exercício profissionalnos mais variados campos de
atuação, fornecendo os subsídios éticos e técnicos necessá-
rios para a elaboração qualificada da comunicação escrita;

Como já vimos, há duas possibilidades de elaboração de


documentos na prática profissional da psicologia: Ou quando
somos solicitados ou ao final de um processo de Avaliação
Psicológica. Independente do "start", a necessidade de orien-
tação para garantir a qualidade dos documentos emitidos pela
psicologia em diferentes campos de atuação garante os com-
ponentes éticos e técnicos necessários para a produção da co-
municação es‘crita.

Quando devo elaborar


documento técnico?

Solicitação de quem você Última etapa de um processo


presta serviço de Avaliação Psicológica.

* No Módulo I vimos possíveis demandantes de instrumentos de comunicação escrita


decorrentes de serviços psicológicos, lembra?

33
CONSIDE
CAPÍTULO 2

que toda a ação da(o) psicóloga(o) deman-


da um raciocínio psicológico, caracterizado por uma atitude
avaliativa, compreensiva, integradora e contínua, que deve
orientar a atuação nos diferentes campos da Psicologia e
estar relacionado ao contexto que origina a demanda;

Desde o "considerando" anterior a expressão raciocínio psi-


cológico já tinha aparecido, você percebeu? Montei aqui mais
um esquema* para termos a conceituação.

Raciocínio
Psicológico
(Atitudes)


As atitudes descritas devem ser um norte para a nossa atu-
ação profissional e terem relação direta com o contexto em
que a demanda se origina, independente de que campo de
atuação estejamos inseridos. Fez sentido para você?

* Esquema C na sessão de respostas (final do capítulo).

34
PRELIMINARES

CONSIDERANDO que um processo de avaliação psicológica


se caracteriza por uma ação sistemática e delimitada no
tempo, com a finalidade de diagnóstico ou não, que utiliza
de fontes de informações fundamentais e complementares
com o propósito de uma investigação realizada a partir de
uma coleta de dados, estudo e interpretação de fenômenos e
processos psicológicos;

Como a Avaliação Psicológica também gera produção


documental, esse "considerando" deu um foco maior a esse
processo, trazendo dimensões de caracterização, finalidade,
fontes de informação (coleta de dados) e propósito investiga-
tivo (estudo e interpretação dos dados coletados). Vale aqui
já falar que temos uma resolução recente que orienta sobre a
Avaliação Psicológica, a CFP 09/2018', super importante para
os documentos que são produzidos a partir do processo de
avaliação. Nós vamos falar mais sobre ela lá na frente, antes de
entrarmos nos documentos produtos de avaliação psicológica.

CONSIDERANDO a função social do Sistema Conselhos de


Psicologia em contribuir para o aprimoramento da qualidade
técnico-cientifica dos métodos e procedimentos psicológicos;

Agora, já no final dessa sessão, estaremos diante de justi-


ficativas mais formais e institucionais para a normatização de
elaboração de documentos via resolução do CFP. Agora é"para
conhecimento" nosso. Vuuumbora!

1
* Essa resolução "estabelece diretrizes para a realização de Avaliação Psicológica no
exercício profissional da psicóloga e do psicólogo, regulamenta o Sistema de Avalia-
ção de Testes Psicológicos - SATEPSI e revoga as Resoluções n°002/2003, no 006/2004
e n°005/2012 e Notas Técnicas n°01/2017 e 02/2017'

35
CAPÍTULO 2

CONSIDERANDO a Resolução CFP n°01/1999, que estabelece


normas de atuação para as(os) psicólogas(os) em relação à
questão da Orientação Sexual; Resolução CFP no 18/2002,
que estabelece normas de atuação para as(os) psicólo-
gas(os) em relação ao preconceito e à discriminação racial;
a Resolução CFP n° 01/2009, alterada pela Resolução CFP n°
005/2010, que dispõe sobre a obrigatoriedade do registro
documental decorrente da prestação de serviços psicológi-
cos; a Resolução CFP n°01/2018, que estabelece normas de
atuação para as(os) psicólogas(os) em relação às pessoas
transexuais e travestis e a Resolução CFP n°09/2018 que
estabelece diretrizes para a realização de Avaliação Psicoló-
gica no exercício profissional da(o) psicóloga(o), regulamen-
ta o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos - SATEPSI e
revoga as Resoluções n°002/2003, n°006/2004 e n°005/2012
e Notas Técnicas n° 01/2017 e 02/2077;

CONSIDERANDO que as(os) psicólogas(os) são profissionais


que atuam também na área da saúde, em conformidade com
a caracterização da Organização Internacional do Trabalho,
Organização Mundial da Saúde e Classificação Brasileira de
Ocupação;

CONSIDERANDO que o artigo 73, parágrafo 7°, da Lei n°


4.119, de 27 de agosto de 1962, estabelece que é função da(o)
psicóloga(o) a elaboração de diagnóstico psicológico;

CONSIDERANDO a Resolução n°218, de 06 de março de 1997


do Conselho Nacional de Saúde, que reconhece as(os) psicó-
loga(os) como profissionais de saúde de nível superior;

CONSIDERANDO a decisão deste Plenário em sessão realiza-


da no dia 23 de fevereiro de 2019;, resolve:

E daqui entramos na nossa resolução propriamente dita!


Ufaa!

36
PRELIMINARES

PARTE II j PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS:

Vamos adentrar agora nos Princípios Fundamentais des-


critos em nossa Resolução 06/2019 para elaboração de docu-
mentos escritos pela psicóloga(o). Normalmente já levamos
bem a sério quando estamos diante dos princípios de alguém,
não é verdade? Imagina que aqui não falaremos de um princí-
pio qualquer, estamos diante dos ele se nomeou de Princípios
Fundamentais! São os mais importantes daquilo que já é im-
portante, percebe? Bom, tendo feita essa ressalva, agora, va-
mos a eles:
São Princípios Fundamentais na elaboração de seus docu-
mentos:

✓ Técnicos e científicos da profissão (artigos 5° da Resolu-


ção);
✓ As técnicas da linguagem escrita formal (artigo 6° da Re-
solução);
v Os princípios éticos (artigo 7° da Resolução).

Um documento escrito por um profissional da psicologia é


uma forma de comunicar algo, finalizado ou em andamento,
da prestação de serviço. Como em nossa resolução temos bem
descrito cada um desses princípios, resolvi trazer os pontos
mais importantes de cada uma dessas sessões em forma de
exercício*, como num estudo dirigido, para que você possa fi-
xar as informações mais importantes. Construindo essa sessão
dessa forma, garanto que você leia a resolução e escreva aqui,
apostando na retenção pela repetição. Vamos lá!

* Você já sabe, mas não custa lembrar: as respostas estão no final desse capitulo.

37
CAPÍTULO 2

O que é um Documento Psicológico?

2. Qual o objetivo do Documento Psicológico?

3. O que um documento técnico sistematiza?

Quais as duas situações para produção de um documento


escrito?
a.
b.

5. Quem pode solicitar um documento para o profissional


da psicologia?
a.
b.
c.
d.
e.

38
PRELINAINARES

A. PRINCÍPIOS DE LINGUAGEM FORMAL ESCRITA:

Já vamos começar"subvertendo a ordem", já que em nosso


documento de referência, o primeiro principio trabalhado é o
técnico científico da profissão, mas não será por ele que iremos
começar e torço que meu argumento, além de justificar a mi-
nha escolha, marque o peso que é a necessidade de dominar
a sua língua! E aí, já que vamos falar de Língua Portuguesa, me
conte como anda suas atualizações em relação às regras gra-
maticais, hein? Ou a coerência de construir em palavras pen-
samentos que tenham início, meio e fim? Escrever não é das
tarefas mais fáceis, principalmente quando não temos tanta
prática e acredito que essa seja uma dos maiores obstáculos
a serem vencidos, já que, muitas vezes, há um hiato entre o
que quero escrever e o que eu realmente escrevo. Gente, não
percam de vista que escrita tem muito da gente, é estilo*! Você
tenderá a descobrir o seu... Escrevendo!
A intimidade com a sua língua, na forma escrita, é a
apresentação de seu documento técnico, seja ele qual for. Não
sei se já aconteceu com você, mas pegar um erro de português
num texto, seja ortográfico ou gramatical, geralmente
descredibiliza o conteúdo.

Complete a frase:

Ao produzir um documento psicológico, a profissional deve


se expressar de maneira (a) e expor
seu (b) diante da sua atuação
profissional.

* Confesso que sou bem resistente a apresentação de modelos de documentos psi-


cológicos, justamente por que as pessoas tendem a ficar presas e não desenvolve-
rem suas próprias formas de escrever. Escreva, escreva novamente, e mais uma vez...
E assim você vai moldando o seu estilo, sem perder de vista as orientações de nossa
Resolução.

39
CAPÍTULO 2

Aproveitando que já fizemos um esquema sobre o item


(b) da questão anterior (volte algumas páginas!), quando
estávamos discutindo os "considerandos" de nossa reso-
lução, vou deixar um espaço para você relembrar o con-
ceito ("repetir para fixar!"):

Produção Documental: Na Escrita:

a. Norma culta da língua portuguesa; cl


b. Técnica em relação à psicologia;

a. Articulação de ideias; c. Objetividade na comunicação;

b. Sequência lógica de posicionamen- d. Garantia dos Direitos Humanos;


tos; e. Marcado pela impessoalidade;
c. Nexo causal resultante do raciocí- f: produzido na 3a pessoa;
nio psicológico.
g. Idéias ordenadas;

h. Itens da estrutura documental in-


dependentes.

Não se deve fazer dos


atendimentos, salvo quando houver justificativa técnica
para isso.

B. PRINCÍPIOS TÉCNICO-CIENTÍFICOS:

Bom, agora que já estudamos sobre a linguagem formal


como um princípio para a elaboração de documentos escritos
na prestação de serviços em psicologia, vamos às considera-
fi r

40
PRELIMINARES

ções e estudo dirigido sobre os Princípios Técnico-científicos


(qualidade técnico-científica):

9. Para você, o que é uma informação com significado fun-


damental*?

*Os dados expostos no documento precisam ser fidedignos com a finalida-


de e a demanda.

10. A produção documental é resultado de:

a.

b.

c. Observando

11. Deve-se sempre levar em consideração aspectos:

a.

b.

e os efeitos sobre o fenômeno psicológico.

* Não perca de vista a relação desse significado fundamental com a demanda e a


finalidade.

41
CAPÍTULO 2

12. Pilares a serem ratificados no documento sobre o Fenô-


meno Psicológico:

a. b. c

13. Sobre a base que fundamenta decisões em um Processo


de Avaliação Psicológica:

Avaliação Psicológica_

14. As referências teóricas, quando incluídas, devem estar


preferencialmente em (a) . As laudas
precisam estar numeradas, rubricadas até a penúltima,
sendo que a última precisa estar (b)

C PRINCÍPIOS ÉTICOS:

Bom, aqui vamos às orientações éticas para a elaboração de


documentos e sei que são muitas as fantasias e os fantasmas
que envolvem esse assunto, principalmente ao que se refere
ao Sigilo profissional. As referências citadas na nossa resolução
que se referem ao Código de Ética, descritas nos incisos de I a
V do artigo 7° §1°, trarei aqui em nesta sessão em uma caixa de

42
PRELIMINARES
1
1
texto. Já vamos começar essa parte resgatando nossos Princí-
pios Fundamentais (Código de Ética):

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS»
I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promo-
ção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade
do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declara-
ção Universal dos Direitos Humanos.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um docu-


mento super importante: ela influencia a nossa legislação mais
importante enquanto cidadãos - a Constituição Federal de
1988 e é norte para o documento profissional mais importan-
te da Psicologia - o Código de Ética. A pergunta agora é: você
já fez uma leitura analítica desse documento tão importante?
Sabe em que contexto ele foi construído? Quais os desdobra-
mentos de sua edição?

Il. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a


qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contri-
buirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Se fizermos a leitura corrida, é meio óbvio pensar que nos-


so deve promover a saúde e tal mas vamos trazer mais para o
concreto:
a. Como seu trabalho pode promover saúde e qualidade
de vida para as pessoas?
b. Quais ações você pode adotar para eliminar qualquer
forma de negligência, discriminação, exploração, vio-
lência, crueldade e opressão? Aliás, você sabe o que
significa conceitualmente cada uma dessas palavras?

* Vou ratificar que aqui estamos diante dos Princípios fundamentais descritos no nos-
so.Código de Ética profissional, para que não haja confusão em relação aos princípios
fundamentais de elaboração de documentos escritos pela psicóloga(o).

43
CAPÍTULO 2

Por exemplo: o que é violência? Como ela se expressa?


Quais são os tipos? Em quais modalidades de vínculo ela pode
se manifestar? Quais as repercussões subjetivas das experiên-
das de violência? Quando eu me comprometo a eliminar algo,
a primeira coisa que preciso fazer é conhecer o que preciso
eliminar - entender quais caminhos posso seguir para cumprir
minha promessa, entende? Fazer uma leitura corrida dá a nos-
sa prática a "profundidade de um pires". Se é para fazer, faça
direito!

O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisan-


do crítica e historicamente a realidade política, econômica,
social e cultural.

Esse é um ponto super importante e que sustenta o que fa-


lamos lá no início deste capítulo: não podemos perder de vista
essa dimensão científico-política de nosso fazer, comunicada
através dos documentos ou eles serão apenas "instrumentos
do instrumentalismo".

IV. O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do


contínuo aprimoramento profissional, contribuindo para o
desenvolvimento da Psicologia como campo científico de
conhecimento e de prática.

Esse princípio fundamenta a reflexão que fizemos no item


anterior: somente por um constante processo de de avaliação
crítica e aprimoramento profissional temos possibilidade de
dar movimento reflexivo às práticas profissionais em psicolo-
gia e promover mudanças tanto para o indivíduo que nos soli-
cita o documento (o que está dentro do nosso muro, naquela
metáfora lá do início de nosso capítulo, lembra?) quando para

44
PRELIMINARES

ocuparmos o lugar de quem examina e diz, como um"controle


normatizante que permite qualificar, classificar e punir"6.

V. O psicólogo contribuirá para promover a universalização


do acesso da população às informações, ao conhecimento
da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da
profissão.

Outro texto que precisamos sair do rasinho, aprofundar a


reflexão e a aplicabilidade para cumprir o que prometemos
em nossa formatura: como, em suas práticas profissionais co-
tidianas, você pode promover o acesso das pessoas à ciência
psicológica? De que maneira você pode - contribuir para uni-
versalizar saberes psis? Penso que o tempo em que vivemos,
de redes sociais, nos dá uma baita ajuda nesse nosso princípio
fundamental e precisamos fazer isso com responsabilidade!

VI. O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja


efetuado com dignidade, rejeitando situações em que a Psi-
cologia esteja sendo aviltada.

VII. O psicólogo considerará as relações de poder nos contex-


tos em que atua e os impactos dessas relações sobre as suas
atividades profissionais, posicionando-se de forma crítica e
em consonância com os demais princípios deste Código.

Dois pontos importantes aqui:

1 A responsabilidade que nos cabe para que a nossas práti-


cas profissionais, independente do contexto, sejam reali-
zadas de maneira digna. Aí vem a pergunta: o que é digni-
dade? Só posso garantir aquilo que conheço.

45
CAPÍTULO 2

2. Reconhecer hierarquias não significa estar submetida a


elas. Sei, por exemplo, que meu chefe ocupa um lugar de
poder hierarquicamente superior ao meu, mas de forma
alglima posso permitir que posições dele influencie os re-
sultados de meu trabalho, entende?

Ufaa!! Depois desse passeio aos nossos Princípios Funda-


mentais, vamos à parte dos Deveres Fundamentais, Veda-
ções e outros artigos importantes descritos no Código de Éti-
ca Profissional e que nossa resolução de referência faz menção.

Art. 1°- São deveres fundamentais dos psicólogos:

b) Assumir responsabilidades profissionais somente por


atividades para as quais esteja capacitado pessoal, teórica e
tecnicamente;

Esse é um dever fundamental que se explica: eu não posso


assumir nenhum trabalho que não seja capaz de dar conta, e
essa avaliação de dar ou não conta precisa ser nas três dimen-
sões trazidas no texto: pessoal, teórica (fundamentação) e
técnica (aplicação).

c) Prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições


de trabalho dignas e apropriadas à natureza desses serviços,
utilizando princípios, conhecimentos e técnicas reconhecida-
mente fundamentados na ciência psicológica, na ética e na
legislação profissional;

f) Fornecer, a quem de direito, na prestação de serviços psico-


lógicos, informações concernentes ao trabalho a ser realiza-
do e ao seu objetivo profissional;

46
PRELIMINARES

g) Informar, a quem de direito, os resultados decorrentes da


prestação de serviços psicológicos, transmitindo somente o
que for necessário para a tomada de decisões que afetem o
usuário ou beneficiário;

h) Orientar a quem de direito sobre os encaminhamentos


apropriados, a partir da prestação de serviços psicológicos, e
fornecer, sempre que solicitado, os documentos pertinentes
ao bom termo do trabalho;

i) Zelar para que a comercialização, aquisição, doação, em-


préstimo, guarda e forma de divulgação-do material priva-
tivo do psicólogo sejam feitas conforme os princípios deste
Código;

Pontos trazidos nestes textos que precisam ser observados


por nós:

-I Nossa obrigação de, quando assinamos Como psicólogas,


só fazer uso de métodos, técnicas e instrumentos reco-
nhecidos pela ciência psicológica;
/ Nosso dever de fornecer informações, no início da nossa
prestação de serviço, de como o trabalho vai funcionar e
qual ou quais objetivo(s) se deseja alcançar a partir do tra-
balho a ser desenvolvido. Você pode estar se perguntan-
do: "isso é antiético, não posso fazer previsão taxativa de
resultado!" Gente, traçar objetivos no trabalho a ser de-
senvolvido é beeeem diferente de garantir que eles serão
alcançados, beleza?
/Além de nosso dever de informação no início de nosso
trabalho, ao final, também devemos comunicar os resul-
tados (que podem ser indicativos os conclusivos) relacio-
nados à demanda inicial, lembra?
v Encaminhamentos: dever nosso! Todas as vezes que você
perceber que algo ultrapassa sua competência você de-

47
CAPÍTULO 2

verá fazer as orientações para encaminhar e fornecer do-


cumentos que otimizem esse suporte;
V O cuidado com material privativo da psicologia - dever
nosso!

Art. 2°-Ao psicólogo é vedado:

f) Prestar serviços ou vincular o título de psicólogo a serviços


de atendimento psicológico cujos procedimentos, técnicas
e meios não estejam regulamentados ou reconhecidos pela
profissão;

g) Emitir documentos sem fundamentação e


qualidade técnico-científica;

h) Interferir na validade e fidedignidade de instrumentos


e técnicas psicológicas, adulterar seus resultados ou fazer
declarações falsas;

j) Estabelecer com a pessoa atendida, familiar ou terceiro,


que tenha vínculo com o atendido, relação que possa interfe-
rir negativamente nos objetivos do serviço prestado;

k) Ser perito, avaliador ou parecerista em situações nas quais


seus vínculos pessoais ou profissionais, atuais ou anteriores,
possam afetar a qualidade do trabalho a ser realizado ou a
fidelidade aos resultados da avaliação;

q) Realizar diagnósticos, divulgar procedimentos ou apresen-


tar resultados de serviços psicológicos em meios de comuni-
cação, de forma a expor pessoas, grupos ou organizações.

Vamos comentar as proibições em nosso exercício profis-


sional trazidos também pela nossa norma técnica sobre elabo-
ração de documentos em referência ao Código de Ética Profis-
sional:

48
PRELIMINARES

/ Quando eu utilizar o título de psicóloga - inclusive quan-


do assino os documentos técnicos (mas não somente
nesses momentos), não posso vincular meu título de psi-
cóloga com outros que não sejam reconhecidos e/ou re-
gulamentados pela psicologia - caso você exerça também
atividades que se caracterizam pela descrição, a sugestão
é não misturar as coisas (ou, no bom baianês "ado, aado,
cada um no seu quadrado";
✓ Emitir documentos sem fundamentação e qualidade
técnico-científica - Esse eu gostaria de colocar em neon
com pisca-pisca ou qualquer coisa que chamasse sua
atenção! E ainda tem gente que compra pacote de mode-
los de documentos...
/ Atenção aos vínculos estabelecidos e a interferência na
prestação de serviços - se você não tem como prever a
possibilidade ou não de ruído na prestação de serviço a
partir das relações que estabelece com a pessoa atendida
ou terceiros, não combine sobre o desenvolvimento do
trabalho (qualquer que seja ele);
/ Expor pessoas, grupos ou organizações atendidas por
você em qualquer meio.

Art. 11 - Quando requisitado a depor em juízo, o psicólogo


poderá prestar informações, considerando o previsto neste
Código.

Art. 12- Nos documentos que embasam as atividades em


equipe multiprofissional, o psicólogo registrará apenas as
informações necessárias para o cumprimento dos objetivos
do trabalho.

49
CAPÍTULO 2

Mesmo em sendo pedido informações pela autoridade


judicial ou em equipes multidisciplinares, minha fala deverá
limitar-se ao objeto do caso - estamos, também na situação
descrita, submetidas ao sigilo profissional. Aqui, vale ainda
pensar sobre a possibilidade de refletir com quem receber as
informações:

1. Riscos em relação à quebra de sigilo;


2. Compromisso em resguardo das informações.

Art. 18- O psicólogo não divulgará, ensinará, cederá,


emprestará ou venderá a leigos instrumentos e técnicas
psicológicas que permitam ou facilitem o exercício ilegal da
profissão.

Gente, muito conteúdo relevante pode ser extraído desses


artigos de nosso Código de Ética Profissional. Minha sugestão
é que consuma aos poucos, refletindo em cada parte aqui ex-
posta para a construção de seus princípios éticos na elabora-
ção documental.
Outra reflexão fundamental e extremamente necessária é
em relação às margem sobre o sigilo profissional e, não tenha
dúvida nenhuma, sem ter clareza da DEMANDA e FINALIDA-
DE, a sensação é de insegurança em relação a essas margens,
inclusive quando na comunicação com equipes interdiscipli-
nares, com a justiça e com as políticas públicas. Outro ponto
importante é em relação ao alcance das informações na garan-
tia dos direitos humanos. Vale avaliar se cabe registrar riscos
e compromissos do alcance social do documento elaborado.
Voltaremos a falar sobre isso quando estivermos nos debru-
çando sobre os documentos propriamente ditos.
É importante que a gente lembre também que é nosso de-
ver elaborar e fornecer documentos psicológicos sempre que

50
PRELIMINARES

solicitada(o) ou quando finalizado um processo de avaliação


psicológica, conforme art. 4° da resolução de referência.

Ter clareza da Finalidade e demanda é para construção do


documento, nunca um critério condicional de produção.

Diante de um não cumprimento do que é orientado, somos


responsáveis ética e disciplinarmente, sem prejuízo da respon-
sabilidade civil e criminal decorrentes das informações que fi-
zerem constar nos documentos psicológicos. Ou seja: vam-os
estudar de propósito!!!!

51
CAPÍTULO 2

RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS

PARTE I CONSIDERANDOS:

Esquema A
1. Conhecimentos;
2. Técnicas;
3. Procedimentos;
4. Avaliação Psicológica; e
5. Intervenção Psicológica.

Esquema B
1. Observação de fenômenos psicológicos;
2 Referenciais teóricos e técnicos / crítica, autônbma e efi-
ciente;
3. Princípios fundamentais;
4. Ciência, tecnologia e sociedade;
5. Saúde;
6. Ecológico, a qualidade de vida e o bem-estar / diversida-
de.

Esquema C
1. Avaliativa;
2. Compreensiva;
3. Integradora;
4. Contínua.

PARTE II I PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS:

1. O documento psicológico constitui instrumento de co-


municação escrita (art. 4°, caput);
2. Comunicar algum conteúdo resultante da prestação de
serviço psicológico à pessoa, grupo ou instituição (art 40,
caput);

52
PRELIMINARES

3. A conduta profissional na relação direta de um serviço


prestado à pessoa, grupo ou instituição (art. 4° §2°).
4. (art. 4° § 1°):
a. Mediante solicitação;
b. Produto de avaliação psicológica.
5. (art. 4° § 1°):
a. O usuário do serviço de Psicologia;
b. Um responsável legal do usuário (em caso de crianças,
adolescentes ou interditos);
c. Um profissional específico que acompanha o usuário;
d. Em contexto de equipes multidisciplinares;
e. Autoridades constituídas legalmente.
6. (art. 6° §1°):
a. Maneira precisa;
b. raciocínio psicológico.
7. O raciocínio psicológico é caracterizado por uma atitu-
de avaliativa, compreensiva, integradora e contínua, que
deve orientar a atuação nos diferentes campos da Psico-
logia e estar relacionado ao contexto que origina a de-
manda.
8. Descrição literal (art. 6° §5°):
9. Aqui nós não temos uma resposta fechada declarada
em nossa resolução. Mas veja, diante de nosso dever em
preservar o sigilo, as informações expostas em um docu-
mento psicológico precisam ter nexo causal direto com a
finalidade e demanda do documento. Atenção a isso nos
ajudara a não extrapolar em relação ao conteúdo docu-
mentado.
10. (art. 5° §2°):
a. uma avaliação psicológica;
b. e/ou intervenção psicológica,
11. (art. 5° §20):
a. condicionantes históricos;
b. condicionantes sociais.

53
CAPÍTULO 2

12. (art. 5° §2°):


a. natureza dinâmica;
b. não definitiva;
ci não cristalizada.
13. (art. 5° §2°):
a. métodos;
b. técnicas;
c. instrumentos psicológicos reconhecidos cientifica-
mente para uso por profissionais da psicologia.
14. (art. 5° §7° e §8°):
_a. nota de rodapé;
b. assinada.

REFERÊNCIAS

1. Conselho Federal De Psicologia. Resolução CFP N.° 06/2019. Bra-


sília: CFP, 2019.
2. Foucaul, Michael. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Trad.-Lígia
M. Ponde Vassalo. Petrópolis: Vozes, 1987.
3. Conselho Federal De Psicologia. Resolução CFP N.° 010/2005.
Brasília: CFP, 2005.
4. Ferreira ABH. Dicionário da língua portuguesa. 5. ed. Curitiba: Po-
sitivo, 2010.
5. Conselho Federal De Psicologia. Resolução CFP N.° 09/2018. Bra-
sília: CFP, 2018.
6. Foucaul, Michael. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Trad. Lígia
M. Ponde Vassalo. Petrópolis: Vozes, 1987.

54
CAPÍTUL03
DECLARAÇÃO

O que você irá ver nesse capítulo:

o Abertura
Estrutura
o Modelo
o Dúvidas Comuns

1. ABERTURA

Então, vamos começar! Antes de entrarmos no documen-


to propriamente dito, precisamos entender o que significa a
palavra declaração. Declarar é um verbo que significa "tornar
público, anunciarl" e pode acontecer de forma falada ou escri-
ta. Como aqui estamos estudando um tipo de documento pro-
duzido a partir da prestação de serviços psicológicos, daremos
ênfase nas declarações fornecidas por escrito, documentadas,
mas é importante lembrar que o que se torna público a partir
de nossas práticas profissionais, mesmo que pela oralida-
de, também pode ser considerada uma declaração e deve-
mos ter responsabilidade sobre informações publicizadas.
Como vimos lá no início do livro, no capítulo "Para come-
çar', quando diante da solicitação de um documento, a partir
de nossa prestação de serviço, para que possamos definir qual
o tipo de documento deveremos elaborar, ter clareza sobre o
que se quer informar com o documento e para que se quer o

55
CAPÍTULO 3

documento - demanda e finalidade, respectivamente - é con-


dição essencial para a escolha de qual documento produzir.
Como consta em nossa Resolução 06/2019, finalidade de uma
Declaração é:

"Registrar, de forma objetiva e sucinta, informações sobre a


prestação de serviço realizado ou em realização, abrangendo
as seguintes informações:
I. Comparecimento da pessoa atendida e seu (sua) acom-
panhante;
II. Acompanhamento psicológico realizado ou em realiza-
ção;
III. Informações sobre o tempo de acompanhamento, dias
e horáriosz".

Para decidirmos produzir uma declaração, que é um do-


cumento mais objetivo e sucinto, a finalidade do solicitante é
meramente informativa sobre a rotina da prestação de servi-
ços. Inclusive, perceba que o documento, na própria resolução
de referência, não tem a qualificação de declaração "psicológi-
ca"*, justamente por que em seu conteúdo não terá nenhuma
informação coletada ou concluída a partir da nossa prestação
de serviços. É muito importante que fique bem claro que a de-
claração não pode conter nenhuma informação técnica sobre
o sujeito, é proibido que ela tenha registro de sintomas, situa-
ções ou estados psicológicos.

*Vamos à uma situação hipotética para que você entenda melhor: é como se alguém
que trabalhasse com você, uma secretária por exemplo, poder elaborar uma declara-
ção — as informações que ela tem acesso são as possíveis de estarem contidas em uma
declaração. Qualquer informação que uma pessoa que trabalhasse na rotina de sua
prestação de serviços não tivesse acesso, por não atender o cliente, não deverá estar
em uma Declaração.

56
DECLARAÇÃO

2. ESTRUTURA

A estrutura de uma declaração deve apresentar cada item


descrito em nossa Resolução 06/2019 de forma detalhada.
Quando na construção do documento, você pode escolher
produzi-lo em texto corrido (contendo as informações de cada
item) ou por sessão, de forma separada. Essa escolha tem rela-
ção direta com seu estilo de escrita - não há certo ou errado.
O importante é que o documento contenha todas as informa-
ções orientadas à sua elaboração.
Vamos à estrutura:

1 —Título: "Declaração".
II— Expor no texto:
a) Nome da pessoa atendida: identificação do nome com-
pleto ou nome social completo;
b) Finalidade: descrição da razão ou motivo do documento;
c) Informações sobre local, dias, horários e duração do
acompanhamento psicológico.
Ao final, a declaração deve ser encerrada com indicação do lo-
cal, data de emissão, carimbo, em que conste nome completo
ou nome social completo da(o) psicóloga(o), acrescido de sua
inscrição profissional e assinatura.

57
CAPÍTULO 3

3. MODELO'

DECLARAÇÃO

Declaro, com a finalidade de , que


(1) (2)

(3)

(4) (5)

1. Qual o fim (motivo) a que se destina essa declaração?


2. Nome completo ou nome social da pessoa atendida e/ou
seu acompanhante ou instituição organizacional. Caso
necessário, informar data de nascimento, RG, CPF, matrí-
cula, etc. (essas outras informações deverão constar a de-
pender da finalidade e demanda dessa declaração. Se for,
por exemplo, para a empresa onde a pessoa trabalha, vale
informar número de matrícula).
1 A demanda do pedido: o que se quer informar? Não es-
queça que na declaração, as informações possíveis são so-
bre local, dias, horários e duração do acompanhamento
psicológico, não devendo constar nenhuma informação
de sintomas, situações ou estados psicológicos.

* Não perca de vista que esse é um modelo apresentado em texto corrido, meu estilo
predominante para uma declaração e tem como objetivo te orientar na sua produção,
mas não é a única forma de produzir o documento. É importante que você encontre
a sua própria forma de produzir o documento, dentro das orientações do Conselho
Federal de Psicologia - CFR

58
DECLARAÇÃO

4. Cidade.
5. Data de emissão.
6. Nome do profissional completo ou social com carimbo e
inscrição profissional.

Vamos agora para um "Check list"! Minha sugestão é que


sempre que for produzir uma Declaração, passe o olho nesse
quadro para que tenha certeza que não deixou nada passar:

Check List:
✓ Nome completo ou nome social da pessoa
atendida e/ou responsável;
✓ Outras informações, caso necessário, de iden-
tificação do solicitante e/ou responsável;
✓ Finalidade da declaração;
✓ Descrição da demanda - informação pedida
documentada;
v Nenhuma informação técnica (sintoma, esta-
do psicológico, situações ou diagnostico).
• No Encerramento você:
Fez indicação do local de atendimento (cida-
de)?
J Colocou a data de emissão?
v Carimbou?
✓ Assinado (com seu nome completo ou nome
social)?

59
CAPÍTULO 3

4. DÚVIDAS COMUNS

1. O que pode conter de informações numa Declaração?


Em uma declaração podem conter apenas informações so-
bre a rotina da prestação de serviços, seja ele já concluído ou
em andamento, como o comparecimento a uma sessão (tan-
to do cliente como de seu responsável), informação sobre a
prestação de serviço, como o acompanhamento psicológico, o
tempo do acompanhamento, os dias e horários que ocorrem.
Nenhuma informação coletada a partir da prestação de ser-
viços, como hipótese diagnóstica _ou estado psicológico, por
exemplo, podem estar em uma Declaração.

2. Devo colocar informações sobre meu cliente na Decla-


ração?
Em uma declaração não deve constar nenhuma informa-
ção sobre o sujeito, grupo ou organização atendida, fruto da
prestação de serviços psicológicos. O que deve conter sobre
seu cliente são informações apenas para identificá-lo e elas
poderão ser escolhidas a partir do conhecimento do destino
do documento. Por exemplo: se for para entregar numa em-
presa ou instituição de ensino, você poderá acrescentar o nú-
mero de matrícula ou do RG do cliente e/ou acompanhante.

3. Caso o cliente peça, posso informar na declaração um


estado psicológico?
Se o cliente tem a finalidade de informar sua condição sub-
jetiva, o documento que você deverá elaborar não é uma de-
claração — que só pode conter informações sobre rotina da
prestação de serviços. Veja, não há nada de errado com o pedi-
do do cliente; o erro está na escolha documental e aqui caberá
avaliar diante da finalidade e demanda do sujeito qual docu-

60
DECLARAÇÃO

mento se encaixa à sua realidade (a escolha documental é res-


ponsabilidade do profissional que presta serviço psicológico).

4. Não posso chamar o documento de Declaração


Psicológica?
Como o documento não traz conteúdo que seja privativo
da prestação de serviço psicológica, não faz sentido qualifi-
cá-lo como um documento psicológico - já que não requer
nenhuma técnica ou método psicológico para produzir uma
declaração.

5. Até quanto tempo depois de concluída a prestação de


serviços posso ser solicitada a produzir uma declara-
ção sobre ele?
Temos a orientação de guardar por pelo menos 05 (cinco)
anos informações pertinentes à nossa prestação de serviços.
Logo, durante esse intervalo de tempo, é possível que seja de-
mandada a produzir uma declaração, por exemplo, contendo
informações da prestação de serviço já realizado.

REFERÊNCIAS

1. Ferreira ABH. Dicionário da língua portuguesa. 5. ed. Curi-


tiba: Positivo, 2010.
2. Conselho Federal De Psicologia. Resolução CFP N.°
06/2019. Brasília: CFP, 2019.

61
CAKTUL04
RELATÓRIOS

O que você irá ver nesse capíturo:

o Introdução
Relatório Psicológico
Relatório Multiprofissional
Dúvidas comuns

1. INTRODUÇÃO

A primeiríssima coisa que quero dizer para começar esse


capítulo é que estou extremamente feliz em escrevê-lo, ofi-
cializando, finalmente, que relatório e laudo são documentos
diferentes. Viva!! Por muito tempo (2003-2019, regência da re-
solução anterior), foram estratégias "mirabolantes" que desen-
volvi e ensinei para conseguir lidar com essa lacuna nas nor-
mas sobre elaboração de documentos sem que transgredisse
princípios éticos e técnicos da profissão e, não tenha dúvida,
muita energia investida!
Na nossa nova resolução, ainda temos, digamos, um plus:
a descrição de dois tipos de relatórios. Além do conhecido Re-
latório Psicológico, tivemos a formalização com orientações
para a produção de Relatórios Multiprofissionais, docu-
mento que já produzimos, enquanto categoria profissional, há

63
CAPÍTULO 4

tempos, em conjunto com outros saberes e que agora ganhou


orientação. Entende minha felicidade?
A partir daqui da produção do relatório, você vai conhecer
o meu método de elaborar documentos, o GPS documen-
tal, que cruza finalidade, demanda, destinatário, economia de
tempo, resguardo de informações e ética profissional. Eu acre-
dito muito que fará sentido para você e te apoiará a produzir
seus documentos com mais segurança! Se atente à minha es-
tratégia de produção, desenvolvida ao longo desses anos de
prática profissional, pois ela é contra intuitiva, mas muito es-
truturante na hora de elaborar sua comunicação escrita.
Um ponto importante que quero te trazer logo no início de
nosso papo sobre Relatórios (Psicológico ou Multiprofissional),
é que estamos diante de um documento que fala sempre
sobre o seu fazer, que comunica sobre a sua prestação de
serviços - em andamento ou concluído (sim, é possível que,
depois de finalizado um trabalho, alguém retorne e te solicite
um Relatório Psicológico!). Faça essa comunicação de maneira
detalhada, precisa, mostrando pedagogicamente a conduta
que você escolheu para manejo do caso ou situação e que es-
teja ligado diretamente com o motivo e a finalidade a que o
documento se destina. Falaremos disso mais para a frente, mas
quero que, desde já, guarde isso com você.
Bom, agora, vamos ao que interessa, né? Nossos documen-
tos! Vamos estudar os dois tipos de relatórios separadamente,
primeiro o Relatório Psicológico e depois o Multiprofissional,
assim como disposto em nossa norma de referência, a Resolu-
ção CFP 06/2019. Vuuumbora!

64
RELATÓRIOS

2. RELATÓRIO PSICOLÓGICO

Produzir um relatório psicológico é estar diante de um do-


cumento que descreve circunstâncias do sujeito foco de sua
prestação de serviço, levando em consideração condicionan-
tes históricos e sociais da pessoa, grupo ou instituição atendi-
da. Como descrito em nossa resolução, o relatório psicológico
tem por objetivo:

Comunicar nossa atuação em diferentes etapas da


prestação de serviços, podendo_ter caráter infor-
mativo, de orientação, recomendações, encami-
nhamentos e intervenções pertinentes à situação
descrita.

Não perca de vista que os relatórios são documentos técni-


cos: eles apresentam informações descritivas acerca do estado
psicológico ou outras informações em resposta à demanda e
finalidade documental. Como agora o documento relatório
psicológico pode ser emitido independente de avaliação psi-
cológica (não confundindo isso com o fato de não ser técnico),
o diagnóstico psicológico não é uma finalidade de produ-
ção (gostaria que você marcasse isso!). Isso significa dizer que,
se a demanda documental que chega para você passar pela
necessidade de produzir um diagnóstico, o relatório psico-
lógico não é a opção de documento que cumpre o pedido,
beleza?
Bom, já que falamos de uma não finalidade de um relató-
rio psicológico, então, em que situações eu devo produzir um
Relatório Psicológico, você pode estar se perguntando. Vamos
a elas:

65
CAPÍTULO 4

Caráter Informativo

Orientação

RELATÓRIO PSICOLÓGICO Recomendação

Encaminhamento

Intervenções

Perceba que as finalidades elencadas dão conta de possí-


veis demandas cotidianas de uma produção documental (in-
formar, orientar, recomendar, encaminhar e/ou descrever in-
tervenções) não condicionada à avaliação psicológica - aqui,
a fonte de informações para a produção documental são os
próprios registros da profissional da psicologia (os registros
documentais são obrigatórios no exercício profissional, con-
forme a Resoluções CFP 01/2009 e 05/2010).

Na produção de um Relatório Psicológico, a princi-


pal fonte de informações da profissional que fará
a elaboração do documento são seus próprios re-
gistros documentais.

Você pode se perguntar também sobre o que definirá o


conteúdo do relatório, se terá um caráter informativo, se as-
sumirá uma "pegada" mais de orientação, se trará recomen-
dações, fará encaminhamentos ou ainda, descreverá suas in-
tervenções no processo de prestação de serviços e aqui vai a
resposta: depende!

66
RELATÓRIOS

Ter clareza da finalidade e demanda além, claro,


do destinatário, é fundamental para que saibamos
o tom que daremos ao documento que será pro-
duzido. O "porque" e o "para que" devem literal-
mente, orientar qualquer prática nossa, inclusive
na produção documental.

Apesar de não ser mais* produto de avaliação psicológi-


ca, como já falamos acima (não custa nada repetir), o relató-
rio psicológico continua sendo uma produção de nature-
za e valor técnico", devendo, portanto, ser produzido com
narração, como fala nossa resolução, "detalhada e didá-
tica, com precisão e harmonia". Não perca de vista que é
necessário conhecimento técnico em psicologia para emiti-10
(diferenciando-se de um documento produzido pelo senso
comum), por isso essa orientação em relação à produção.
Como já discutimos lá na seção de Princípios Fundamentais,
em Linguagem Formal Escrita, a linguagem utilizada deve ser
acessível e compreensível ao destinatário (e saber a quem se
destinará o seu relatório é fundamental para a sua elaboração),
respeitando os preceitos do Código de Ética Profissional do
Psicólogo, com base nos nossos registros de atendimento,
como nos ensina a Resolução CFP n° 01/2009' (ou substitutas
da mesma).

* Quando falamos em não ser mais, é em referência a nosso manual de 2003 que nor-
matizava que o relatório era produto de avaliação psicológica.
** Lembra quando falamos lá no documento "declaração" sobre a possibilidade de
qualquer pessoa a emitir, por não ser um documento técnico, devido a -não necessida-
de de ser um técnico em psicologia para prestar as informações que são pertinentes à
finalidade de uma declaração? Estou resgatando isso justamente para que fique clara a
ideia de natureza e valor técnico: é uma informação ou conteúdo que precisa ser feita
por um profissional da psicologia para ter validade.
*** Dispõe sobre a obrigatoriedade do registro documental decorrente da prestação
de serviços.

67
CAPÍTULO 4

Como já vimos também lá nos princípios fundamentais


para elaboração de documentos escritos pela psicologia, não
faz nenhum sentido descrições literais de sessões, atendimen-
to ou acolhimento realizado, mas o que tecnicamente pode
se considerar a partir deles. Pontuais descrições podem ser
colocadas quando se justificam e/ou sustentam algum posi-
cionamento e há sentido de fazê-las presentes no documento
produzido. O que deve sempre estar presente são:

1. Demanda.
2. Procedimentos.
3. Raciocínio técnico-científico.
4. Conclusões e/ou recomendações (quando houver e cou-
ber).

Para que você fixe em seu juízo, vou lançar aquela estraté-
gia da repetição como um caminho de aprendizado: vamos a
um esquema * para que você preencha sobre o que deve sem-
pre estar presente na produção de um rélatório psicológico:

RELATÓRIO 2.
PSICOLÓGICO 3.
4.

* Para que não exista dúvida sobre seu esquema, vamos aqui, discretamente, às res-
postas: (1) demanda, (2) procedimentos, (3) raciocínio técnico-científico da(o) profis-
sional, (4) conclusões e (5) recomendações.

68
RELATÓRIOS

Vumbora fazer aqui um momento de orientação para o


start de um Relatório Psicológico:

1. Qual o motivo de se querer um documento psi-


cológico?
2. O que se pretende explicitar no documento?
3. Para quem é o documento?

2.1. ESTRUTURA DO DOCUMENTO

Pensemos agora a estrutura normatizada em nossa Resolu-


ção para a produção de um relatório psicológico. Como sem-
pre defendo, você deverá ver a forma e estilo de escrita que
fazem mais sentido para você: seja topicalizado ou como texto
corrido (as duas formas de produzir o documento são igual-
mente possíveis), o relatório deve estar estruturado (de forma
detalhada) em cinco itens a seguir:

1. Identificação:
a) Título (relatório psicológico).
b) Nome da pessoa ou instituição atendida*.
c) Nome do solicitante"".
d) Finalidade.
e) Autor (com CRP).

* Identificação do nome completo ou nome social completo e, quando necessário,


outras informações sócio-demográficas.
** Identificação de quem solicitou o documento, especificando se a solicitação foi
realizada pelo Poder Judiciário, por empresas, instituições públicas ou privadas, pelo
próprio usuário do processo de trabalho prestado ou por outros interessados.

69
CAPÍTULO 4

2. Descrição da demanda':
a) Motivo da prestação de serviço com indicação de
quem forneceu as informações e as demandas que
levaram à solicitação do documento.
3. Procedimento: O fato de, nessa resolução, termos a di-
ferenciação de relatórios e laudo psicológico, cabe uma
multiplicidade procedimental; isso dá conta de uma la-
cuna deixada pela normativa anterior. Fontes de informa-
ções principais e secundárias (observações, análises) ca-
bem aqui: lembre-se, estamos falando de um documento
que comunica sobre o seu fazer - tudo o que você faz,
que tenha relação com a demanda-finalidade, é procedi-
mento e precisa ser descrito.
a) Apresentação do processo de trabalho escolhido pelo
profissional, e os recursos técnico-científicos utiliza-
dos, especificando o referencial teórico metodológi-
co que fundamentou análises, interpretações e con-
clusões técnicas a partir da demanda descrita no item
anterior e proporcional à m6ma.

a) Tópico descritivo, narrativo (situações relacionadas


à demanda) e analítico (pensamento sistêmico e de
fundamentação técnico-teórica) dos dados coletados.
Devemos ter um cuidado especial na linguagem de
maneira objetiva e precisa, especialmente quando se
referir a informações de natureza subjetiva.
* Na descrição da demanda é fundamental que se apresente o raciocínio técnico-cien-
tífico adotado pelo profissional para que, posteriormente, se justifique os procedimen-
tos adotados. Em outras palavras, precisa ter um nexo causal entre procedimento e
demanda descrita.
** Todos os caminhos escolhidos para a prestação de serviço devem constar descri-
tos no procedimento (resguardando a finalidade e demanda documental): aqui deve
constar citar as pessoas ouvidas na prestação de serviço, as informações objetivas, o
número de encontros e o tempo de duração do processo realizado.
*** Por se tratar de documento técnico, não é possível constar nenhuma afirmação
sem referenciar a fonte da informação ou sem descrever a sustentação da afirmação
em fatos colhidos e/ou em teorias psicológicas.

70
RELATÓRIOS

b) Principais características e evolução do trabalho reali-


zado (em sintonia com a finalidade documental).
• Lembre-se que o Relatório Psicológico é um docu-
mento de natureza técnica, logo, você precisará, na
análise, "filtrar" as informações que escolher fazer
constar no documento, relacionados à díade deman-
da-finalidade a partir de uma teoria psicológica - se
assim não acontece, o que está posto é uma mera des-
crição de atendimento ou intervenção, por exemplo,
que qualquer pessoa presente poderia fazer, sem ne-
nhuma habilidade técnico-científica. Não perca isso
de vista na hora de produzir seu relatório; as suas im-
pressões precisam se ancorar em algum lugar ou seu
documento estará à deriva.
Conclusão:
a) Descrição de conclusões*: em sintonia com a deman-
da documental (objetivo informativo, orientação, re-
comendações, encaminhamentos ou intervenções).
b) Indicação do local, data de emissão, nome do profis-
sional, assinatura, CRP e carimbo.
c) Páginas numeradas, rubricadas da primeira até a pe-
núltima lauda, considerando que a última estará assi-
nada e carimbada.
d) Cabem encaminhamentos, recomendações, orienta-
ções sugestões ao caso circunstância do seu Relató-
rio? Esse é o momento e espaço de fazê-las!
e) Caso deseje, você poderá fazer constar aqui:
• A proibição de uso do documento em situações e
contextos diferentes do que foram descritos enquan-
to finalidade na identificação.
• Assinalar sobre o caráter sigiloso do documento (aqui
você pode, se desejar, elencar os riscos da quebra de
sigilo ou, o contrário disso, os benefícios em mantê-lo).
* Ratifico a necessidade de sinalização sobre a natureza dinâmica e não cristalizada
do seu objeto de estudo.

71
CAPÍTULO 4

A sua não responsabilização pelo uso dado ao relató-


rio por parte da pessoa, grupo ou instituição, após a
sua entrega em entrevista devolutiva.

3. RELATÓRIO MULTIPROFISSIONAL

Siiiim!!! Chegou o momento de falarmos do relatório mul-


tiprofissional", aquele que pode ser produzido em conjunto
com profissionais de outras áreas, preservando-se a autono-
mia e a ética profissional dos envolvidos. Antes, não tínhamos
regulamentação para esse tipo de prática, tão comum em
contextos multiprofissionais em que a psicologia está inserida.
Para que iniciemos a elaboração do documento, a primei-
ra coisa que precisa ficar clara é que, em sendo um relatório,
teremos as orientações gerais e características do Relatório
Psicológico. para produção. A segunda: lembra daquelas per-
guntinhas que eu disse que era de orientação para a produção
de qualquer documento? As respostas pára elas precisam estar
claras também aqui, na produção de um documento multipro-
fissional. Vamos resgatá-las, acrescendo uma para produção
do relatório multiprofissional?

1. Qual o motivo de se querer um documento


multiprofissional?
2. O que se pretende explicitar no documento?
3. Para quem é o documento?
4. Quais os objetivos da atuação multiprofissional?

* Ele é resultado da atuação do profissional da psicologia em contexto multiprofis-


sional.

72
RELATÓRIOS

Pois é, os objetivos da atuação multiprofissional precisam


estar presentes no relatório multidisciplinar, até para que se
possa avaliar o cumprimento deles, obviamente, resguardan-
do sigilo*.

3.1. ESTRUTURA DO DOCUMENTO

Como se trata de um documento que pode ser produzido


por diferentes profissionais que compõem uma equipe técni-
ca, nosso documento de referência não pode instituir normas
sobre toda produção documental: as orientações que constam
em nossa resolução se referem ao que tange a atuação e pro-
dução do profissional da psicologia.
À parte que compete a gente, precisaremos apresentar as
informações detalhadas de cada um dos tópicos da estrutura
recomendada para o documento", podendo ser dividido ou,
ainda, em texto corrido. Caberá a quem produz o documento
escolher a melhor forma de apresentá-lo. A estrutura aqui é a
mesma indicada para o Relatório Psicológico:

1. Identificação:
a) Título (relatório multiprofissional).
b) Nome da pessoa ou instituição atendida'.
c) Nome do solicitante'.
d) Finalidade.
e) Autoras (e referidas inscrições profissionais, quando
houver).
* A baliza sobre o que pode ou não fazer constar no documento tem relação direta
com aquelas palavrinhas que amo e vou falar até o final de nosso curso: finalidade e
demanda! Eles serão as margens do que pode ou não ser dito!
** Como estamos diante de uma produção em equipe, a escolha da melhor forma e
estilo poderá ser feita em conjunto com os técnicos envolvidos.
*** Identificação do nome completo ou nome social completo e, quando necessário,
outras informações sócio-demográficas.
**** Identificação de quem solicitou o documento, especificando se a solicitação foi
realizada pelo Poder Judiciário, por empresas, instituições públicas ou privadas, pelo
próprio usuário do processo de trabalho prestado ou por outros interessados.

73
CAPÍTULO 4

2 Descrição da demanda*:
a) Motivo da busca pelo processo de trabalho multipro-
fissional, indicando quem forneceu as informações e
as demandas que levaram à solicitação do documento.
3. Procedimento:
a) Apresentação do processo de trabalho escolhido pelo
profissional ou pela equipe (deve ser uma única seção
de procedimento), e os recursos técnico-científicos
utilizados, especificando o referencial teórico meto-
dológico" que fundamentou análises, interpretações
e conclusõ_es técnicas a partir da demanda descrita no
item anterior e proporcional à mesma.
b) Caso existam procedimentos e/ou técnicas privativas
da Psicologia, esses devem vir separados das descritas
pelos demais profissionais.
4. Análise:
a) Cada profissional deve fazer sua análise separada-
mente, identificando, com subtítulo, o nome e a cate-
goria profissional. Para a psicologia, cabe o que já foi
indicado em análise de relatório psicológico - Princi-
pais características e evolução do trabalho realizado
no contexto multiprofissional (em sintonia com a fi-
nalidade documental).

* Na descrição da demanda é fundamental que se apresente o raciocínio técnico-cien-


tífico adotado pelo profissional para que, posteriormente, se justifique os procedimen-
tos adotados. Em outras palavras, precisa ter um nexo causal entre procedimento e
demanda descrita.
** Todos os caminhos escolhidos para a prestação de serviço devem constar descri-
tos no procedimento (resguardando a finalidade e demanda documental): aqui deve
constar citar as pessoas ouvidas na prestação de serviço, as informações objetivas, o
número de encontros e o tempo de duração do processo realizado.

74
RELATÓRIOS

5. Conclusão:
a) Descrição de conclusões*: em sintonia com a deman-
da documental à equipe multiprofissional (qual foi o
objetivo do documento? informativo, orientação, re-
comendações, encaminhamentos ou intervenções).
Pode ser feita em parte única, por todos os profissio-
nais envolvidos.
b) Indicação do local, data de emissão, nomes dos profis-
sionais envolvidos, registros e inscrições profissionais,
quando existirem, e carimbo.
c) P4inas numeradas, rubricadas da primeira até a pe-
núltima lauda, considerando que a última estará assi-
nada por todos os profissionais participantes e carim-
bada.
d) Caso deseje, a equipe poderá fazer constar aqui a proi-
bição de uso do documento em situações e contextos
diferentes do que foram descritos enquanto finalida-
de na identificação, assinalar sobre o caráter sigiloso
do documento e que não se responsabiliza pelo uso -
dado ao relatório por parte da pessoa, grupo ou ins-
tituição, após a sua entrega em entrevista devolutiva.

É importante marcarmos que o relatório multiprofissional


não isenta a(o) psicóloga(o) de realizar o registro documental
da prestação de serviços em contexto multiprofissional.

Ufaaa! Parece que é muita coisa, mas, calma! Você vai ver
que com dedicação e prática vai ser tranquila a sua produção.
Vuuumbora!

* A(o) psicóloga(o) deve elaborar a conclusão a partir do relatado na análise, consi-


derando a natureza dinâmica e não cristalizada do seu objeto de estudo, podendo
constar encaminhamento, orientação e sugestão de continuidade do atendimento ou
acolhimento.

75
CAPÍTULO 4

3.2. MÉTODO DE PRODUÇÃO DOCUMENTAL

Lá no início do capítulo te falei que a partir de agora com-


partilharia com você o meu método de produção documental
que me auxilia a elaborar diferentes documentos, delineando
as margens do que pode ou não ser dito em minha produção,
me fazendo economizar tempo e me deixando mais segura - e
a partir de agora, compartilharei essa técnica com você.
Bom, muito provavelmente as palavras que mais aparecem
nesse livro são demanda e finalidade. Definitivamente, não há
possibilidade de escrever um documento, seja eleAual for, sem
ter clareza de o que se pede e de para que se pede. Bom,
depois de ter clareza clara (redundância proposital, para que
você perceba a necessidade de saber muito bem isso), você
vai transformar em pergunta essa demanda-finalidade. Se al-
guém solicita algo da profissional da psicologia, ela quer a sua
resposta à urna pergunta. Que pergunta é essa? Traduzir essa
díade demanda-finalidade em uma pergunta, será a base forte
de um documento psicológico, que você entenderá mais para
frente. Siga comigo.
Depois de definir sua pergunta norte, o próximo passo é,
acessar seus registros documentais (provenientes da presta-
ção de serviços), e responder à pergunta! Isso mesmo, você
vai direito à resposta da pergunta, certo? Esse será o rascunho
da conclusão de seu Relatório Psicológico. Depois da resposta
produzida, o que você vai descrever são os argumentos que
sustentam a resposta! Nada de fazer aquela descrição corrida,
sem margens, gente! Além de ser um gasto energético ab-
surdo por não ter limites, você fica sem clareza em relação ao
que deve ou não fazer constar em seu documento, afinal tudo
pode "parecer" importante. Aqui, o caminho será o de apenas
fazer constar informações que sustentem a resposta que você
deu, ou seja, a conclusão documental. Essa sustentação é o es-
boço de sua análise! Perceba que fazendo dessa forma, você
tem muito mais clareza para definir o que cabe e o que não

76
RELATÓRIOS

cabe naquele relatório - a pergunta base, tradução da díade


demanda-finalidade é o que te faz traçar as margens de seu
documento! Vamos à um esquema, demonstrando as etapas
de elaboração dócumental, para reforçar a explicação do mé-
todo de produção documental:

Definição da pergunta base

Resposta à pergunta base

Argumentos que sustentam a resposta

Dados técnicos que justificam dos argumentos

a. Clarificação da demanda e finalidade.


b. Tradução na PERGUNTA NORTE.
c. Resposta à pergunta note (Conclusão).
d. Descriçãb dos argumentos (análise), ancorados teorica-
mente, que sustentam a resposta que você descreve no
item C.
e. Dados técnicos que corroboram com os argumentos do
item D.
f. Descrição dos procedimentos (no relatório, que tem
como base seus registros, você irá especificar a própria
prestação de serviços até a produção documental).
g. Preenchimento da Identificação (comum aos documen-
tos).

E aí, ficou mais claro agora? Percebe que quando você tem
um método, as coisas ficam muito, mas muito mais fáceis? Te
falei que era um método contraintuitivo pois te ensino a cons-
truir o documento "de trás para frente"! Não perca de vista que
estamos diante de um documento que prevê descrição deta-
lhada e pedagógica dos dados técnicos e argumentos, além,
é claro da sua "resposta" que deve ser indicativa ou conclusiva

77
CAPÍTULO 4

com a finalidade documental. Leve em consideração o desti-


natário: a forma como você responde para um médico ou para
um juiz são diferentes, mesmo que a demanda seja a mesma
- mesmo que os dois profissionais te solicitem a mesma coisa,
a finalidade deles é diferente, pela própria natureza das ativi-
dades exercidas. Então, fique atenta ao destino do documento,
para quem ele vai comunicar sobre a sua prestação de serviços
(já falamos sobre isso, mas estou terapeutizada a pecar por ex-
cesso).

4. DÚVIDAS COMUNS

1. É possível produzir Relatório Psicológico e/ou Multi-


profissional a partir de um único atendimento?
Siiiiimmmmilill Com a regulamentação atual, é possível a
gente emitir um relatório técnico com apenas um encontro,
uma visita domiciliar, enfim, com o que você tem de dados
até o momento da elaboração documental. Lembre-se que
a base de dados do Relatório, seja o Psicológico ou o Multi-
profissional, são os seus registros obrigatórios (Resolução CFP
01/2009) decorrentes da prestação de serviços psicológicos.
Você construirá seu documento com descrição detalhada de
informações colhidas, naquele tempo e espaço margeado pela
circunstância da solicitação documental - clareza da demanda
e finalidade do documento.

2. A demanda pelo documento é a de informar diagnós-


tico psicológico. A cliente já veio com o diagnóstico
fechado quando chegou. Posso emitir o relatório com
essas informações?
Essa é uma questão recorrente e complexa. Vamos por par-
tes aqui, acompanhe comigo:

78
RELATÓRIOS

1 Se a demanda tem como finalidade a comunicação de


diagnóstico psicológico, você só poderá fazê-lo se já hou-
ver, anteriormente, realizado um processo de avaliação
psicológica com finalidade psicodiagnóstica. Lembre-se
que um relatório não tem como finalidade produzir diag-
nóstico psicológico e, caso isso seja necessário, precisare-
mos planejar um processo de avaliação - o documento
resultado disso é o Laudo Psicológico, beleza?
2. Essa questão de um cliente já chegar com diagnóstico é
"um negócio", principalmente quando você precisa pro-
duzir documento psicológico - como você assinará do-
cumentos fazendo afirmações que não foi você quem
avaliou? Numa situação como a descrita, por exemplo,
caso eu precisasse fazer esse documento, certamente
faria constar que a pessoa já chegou para mim com o
diagnóstico (se ela tiver um relatório de outro profissio-
nal). Caso seja uma informação "de boca", sem nenhum
documento comprobatório, o relatório psicológico seria
construído com dados que eu já tinha, mas provavelmen-
te não cumpriria o objetivo ou iniciaria Avaliação Psicoló-
gica para produção de laudo ou atestado - dependendo
da finalidade documental, já que a demanda é informar
diagnóstico.
v Aqui vai uma dica: quando um cliente, paciente chega
para você com o "diagnóstico fechado", peça à pessoa có-
pia de relatórios ou outros documentos comprobatórios
e os anexe aos seus registros. Outra coisa: não é porque a
pessoa diz que tem o diagnóstico "x" que você não pode
realizar sua avaliação psicodiagnóstica que ratificará ou
retificará o que está posto. Penso que o processo, inclu-
sive, te apoiará nos planejamentos interventivos para al-
cançar os objetivos da prestação de serviços.

79
CAPÍTULO 4

3. Existe possibilidade de emitir Relatório Psicológico


sem solicitação?
Tecnicamente, não. Mas, vamos olhar mais de perto: uma das
finalidades de um Relatório Psicológico é o encaminhamento.
Quando você entende que deve encaminhar seu paciente
para um outro profissional, você pode produzir esse Relatório
de Encaminhamento sem que seja solicitado, combinando
com a pessoa para quem você presta o serviço (é nosso
dever fundamental, descrito no primeiro artigo de nosso
Código de Ética Profissional "orientar a quem de direito sobre
os encaminhamentos apropriados, a partir da prestação de
serviços psicológicos, e fornecer, sempre que solicitado, os
documentos pertinentes ao bom termo do trabalho"). Não é
uma regra, mas pode ser uma escolha a depender do caso em
questão.

4. Não tenho registros documentais, como fazer o Rela-


tório psicológico e/ou Multiprofissional?
Tecnicamente, não tem como fazer!!! Primeira coisa, se
o profissional de psicologia presta serviços psicológicos e
não registra em documentos o seu trabalho, ele incorre em
infração ética. Gente, na Resolução CFP 01/2009 está toda
orientação para que façamos os registros documentais
proveniente de nossa prestação de serviços. Corre para corrigir
essa falha urgente! Dito isso, sigamos: a produção do relatório
psicológico tem como base os registros feitos pelo profissional
de psicologia ao longo da prestação de serviços - com o docu-
mento, a profissional irá comunicar algo específico do serviço
prestado (em andamento ou já concluído).Tecnicamente, você
não deverá fazer nada extra para a produção documental, a
não ser para complementar informações que você já tenha. No
resumo, fica bem comprometida sua produção de Relatório
Técnico, seja Psicológico ou Multiprofissional, sem seus regis-
tros documentais. Bom, agora que você já leu isso aqui, vum-

80
RELATÓRIOS

bora fazer um combinado? Nada de deixar de registar o que


quer que seja proveniente de sua prestação de serviços, certo?

5. Posso produzir Relatório Psicológico para comparti-


lhar informações com outro profissional?
Não só pode, como deve!!! Sempre que esse compartilha-
mento de informações qualificar o serviço prestado, restrin-
gindo-se ao motivo e objetivo de informar. E lembre-se que
seu cliente, paciente, como queira chamar, precisa saber desse
compartilhamento, certo?

6. No caso de Relatório Multiprofissional, a conclusão


também é por área de conhecimento assim como a
análise?
O Relatório Multiprofissional, produto de uma equipe, pode
ser produzido em conjunto com os profissionais de outras áre-
as tanto no texto da análise quanto no da conclusão. Não há
regra específica para a construção documental, se escreverão
juntos o texto ou se cada profissional escreverá a sua parte e
depois compilarão tudo em um único documento, contanto
que tenha a estrutura orientada em nossa resolução de refe-
rência:
a) Identificação.
b) Descrição da Demanda.
c) Procedimento.
d) Análise.
e) Conclusão.

7. Qual a diferença do Relatório Multiprofissional para o


Relatório Psicossocial?
Essa é uma pergunta bem difícil de responder e por um mo-
tivo bem simples: não há nenhuma regulamentação em rela-
ção ao Relatório Psicossocial - que documento é esse? Qual a
sua finalidade? Ele deve ser elaborado a partir de que deman-
da? Quem pode solicitá-lo? Quem é competente para elaborá-

81
CAPÍTULO 4

-lo? Veja quantas perguntas ficam à deriva de resposta por não


termos uma orientação clara a respeito desse "tipo" de docu-
mento. Nesses casos, o que vai regular é muito mais o costume
que, de fato, uma orientação normatizada.
Bom, depois desse desabafo, vamos à pergunta propria- ni
mente dita (me esforçando para responder da melhor maneira
possível): ele pode ser o mesmo documento se, por exemplo,
for feito em conjunto com uma profissional de serviço social,
por exemplo, como pode também ser produzido só pela pro-
fissional de psicologia - neste caso, o relatório não é multipro- th.
fissional, é psicológico, percebe? A gente vê muita solicitação (a
de Relatório Psicossocial feito pela autoridade judicial e nas via
instituições de assistência social. as

8. Posso especificar a finalidade de um Relatório Psicoló- e


gico no título?
Pode siiim!!! Você pode colocar, logo no título, Relatório de ec
Encaminhamento, por exemplo, se a finalidade daquele docu- co
mento é de encaminhar a pessoa que você presta serviços para su
um outro profissional ou instituição. Vamos a outros exemplos rel
de finalidade documental já descrita no título do documen- ec
to: a) Relatório Psicológico de Visita Domiciliar; ou c) Relatório qu
Semestral de Acompanhamento, percebe? Esses documentos cri
precisam seguir o que discutimos ao longo desse capítulo, cer- aq
to? O título, se escolher colocar, é só para adjetivar seu docu- de
mento, mas não modifica em nada a sua estrutura, beleza? ca
en
9. Intervenções, decisões que tomei no serviço que eu sã
presto, devo fazer constar no meu Relatório Psicoló- dc
gico? en
Certamente! Lembre-se que o relatório, a partir de uma de-
manda e com uma finalidade que precisa estar clara, comunica qi
sobre o seu fazer, a sua prestação de serviços. Tudo que você Ps
escolheu fazer, além dos dados técnicos colhidos e quem te-
nham relação com a díade demanda-finalidade, devem cons-

82
RELATÓRIOS

tar no documento produzido, incluindo seu raciocínio psicoló-


gico para a escolha feita. Um lembrete: não estamos falando de
você fazer transcrições de manejo, sistematização de conduta
ou descrição de dados, estamos diante de um documento téc-
nico, não se limite ao conteúdo!

10. É válido colocar em um Relatório Psicológico o tempo


de validade do documento?
A validade dos documentos é um tópico pouco deba-
tido e, muitas às vezes, confundida com o tempo de guarda
(arquivamento) dos documentos psicológicos. Definir a
validade de um documento é determinar por quanto tempo
as conclusões que sua comunicação encerra valem antes de
que se tenha a necessidade de um novo pedido documental
e esse tempo é urna decisão do profissional que faz do
documento técnico. Acredito que cada caso pede uma reflexão
e decisão específica sobre a validade documental, levando em
consideração a finalidade e demanda a que se destina. Minha
sugestão é que você eleja algum critério temporal que tenha
relação com o que está sendo discutido em seu documento
e decida sobre em quanto tempo você indica uma revisão ao
que está sendo exposto. Por exemplo: um relatório sobre uma
criança e a sua evolução escolar - um bom critério temporal
aqui (mas não é o único) é o "ano letivo", já que reavaliar troca
de escola, por exemplo, no meio de um ciclo não é o mais indi-
cado, percebe? Precisaremos sempre ter sensibilidade e levar
em consideração múltiplos fatores antes de tomar uma deci-
são, entendendo que o tempo cronológico é beeeem diferente
do tempo subjetivo. Outra coisa: gente, não é todo documento
em que vai caber determinar tempo de validade, mas, sempre
que couber, sugere-se que o faça, combinado? Os documentos
que, necessariamente, precisa constar a validade são Relatório
Psicológico, Laudo Psicológico e Atestado Psicológico.

83
J
CAPÍTULOS
PARECER PSICOLÓGICO

O que você irá ver nesse capítulo:

o Introdução
Estrutura
Checklist
e Dúvidas comuns

1. INTRODUÇÃO

Chegamos em um documento do qual pouco se fala. Es-


tudá-lo, então... estamos longe de fazê-lo. De maneira geral,
quando se fala em Parecer Psicológico, lembramos logo da
figura da psicóloga assistente técnica* em processos judiciais
- papel normalmente exercido por profissionais da psicologia
que atuam junto ao Sistema de Justiça. Mas aqui quero mar-
car que essa produção documental não é restrita à Assistentes
Técnicos. E mais, vou revelar agora o "pulo do gato": você tem
possibilidade de ofertar mais um serviço, além dos que já
oferece - a elaboração de Pareceres Técnicos Psicológicos.
Mas calma, vamos em um passo de cada vez, com atenção, e
você entenderá melhor onde quero chegar! Vumboraa!
* Sim, o documento que o assistente técnico emite é um parecer psicológico - docu-
mento técnico que não é fruto de avaliação psicológica, normalmente construído em
crítica ao trabalho pericial. Falaremos disso mais à frente.

85
CAPÍTULO 5

Antes de aprofundarmos, vamos ao velho e bom significa-


do da palavra: Parecer. Segundo o dicionário, significa "ter o
aspecto de, a aparência de; assemelhar-se"'. Para te aproximar
mais dessa produção documental e sustentar sugestões que
farei mais à frente, neste capítulo, escolhi trazer também o sig-
nificado de Parecer extraído de um Dicionário Jurídico, que diz
assim: "O parecer trata-se do documento onde se é apresen-
tada a análise realizada sobre um caso, situação, fato ou
opinião técnica sobre um ato, projeto, processo ou relatório"".
Nossa Resolução CFP 06/20192 diz que:

"O parecer psicológico é um pronunciamento por es-


crito, que tem como finalidade apresentar uma análi-
se técnica, respondendo a uma questão-problema
do campo psicológico ou a documentos psicológicos
questionados" (art. 14)3.

Perceba que todas as referências que temos sobre um pa-


recer técnico, independente da área de conhecirnento, trazem
um tripé que esquematizo abaixo:

Questão Problema

Embasamento Posicionamento
Teórico Técnico

* Para que entenda melhor, costumo dizer que é como se você pudesse entregar o
mesmo parecer técnico a pessoas diferentes que estão numa mesma situação.

86
PARECER PSICOLÓGICO

Como visto lá em nosso capítulo introdutório, já sabemos


que o Parecer Psicológico não é fruto de Avaliação Psicológi-
ca e, por isso, muitas pessoas tem dificuldade de entender a
questão-problema.
Quantas vezes você já emitiu um posicionamento técnico (ou
melhor, narrou e ancorou técnica e teoricamente sua posição so-
bre algum tema do "universo psi") acerca de alguma questão do
campo psicológico?
Sem perceber, a gente faz isso muitas, muitas vezes! Pense
em situações do cotidiano - fenômenos que não diz respeito
a uma pessoa apenas, mas a maior parte das pessoas na mes-
ma dinâmica. Quando há um posicionamento técnico (lembra
de frases iniciadas com "a psicologia diz que" ou "do ponto
de vista psicológico") sobre essas situações do cotidiano, es-
tamos diante de um Parecer e fazê-lo por escrito, embasan-
do teoricamente o posicionamento técnico, é a forma de
construir não apenas o documento psicológico em questão
neste capítulo, mas uma nova modalidade de prestação de
serviços psicológicos. O que estará ext)osto no documento
são teorias e entendimentos psicológicos - presentes na li-
teratura. Como eu disse que teria um "pulo do gato", aqui está:
você pode produzir tecnicamente um documento e cobrar
por esse serviço! Vamos pensar junt@s: o Parecer Psicológico
tem a finalidade de diminuir ou dirimir dúvidas sobre algum
conteúdo do campo psicológico que estão interferindo em
uma decisão, certo? Então, amplie seu universo de possibili-
dades sobre quem te demanda essa resposta, quem precisará
tomar a decisão (as pessoas aqui tendem a interpretar como
se fosse sempre a decisão judicial e nem de longe é só isso!).
Quando eu afirmo que pode se tornar mais uma possibilidade
de prestação de serviços para você, eu parto do pressuposto
que você só vai aceitar produzir um parecer se tiver compe-
tência técnica e teórica para isso, até por que a elaboração de
parecer psicológico exige da gente conhecimento específico e

87
CAPÍTULO 5

competência no assunto'. Mais à frente, aprofundaremos essa


possibilidade.
Diante do que vimos, poderíamos separar o documento Pa-
recer Psicológico em duas categorias:

Parecer Psicológico

A) Análise de B) Opinião Técnica


um documento (campo de saber
psicológico psicológico)

Se formos parar para pensar, mesmo quando estamos dian-


te da análise de um documento psicológico (A) ou, como sina-
liza a nossa resolução, quando questionado algum documento
psicológico (normalmente no universo da psicologia jurídica)
e é solicitado um parecer sobre a produção documental, ainda
assim estamos diante de uma opinião técnica (B) - a profis-
sional analisará o documento questionado e se posicionará
técnica e teoricamente sobre a produção documental entre-
gue à autoridade judicial. Mas, por uma questão de metodo-
logia, manterei essas categorias de maneira horizontal, o que
já facilitará muito o entendimento e a construção documental.
Sigamos!

*Aqui eu mega ratifico a necessidade de termos nichos de atuação. E esses nichos são
as demandas reais das pessoas, ao contrário do que muitas vezes é estimulado — espe-
cialização em teorias psicológicas. Mas isso é papo para um outro momento..

88
PARECER PSICOLÓGICO

1.1. ANÁLISE DE DOCUMENTO PSICOLÓGICO (Á)

Apesar de mais comum nas práticas psicológicas que as-


sistem o Sistema de Justiça, as demandas para análises do-
cumentais não são exclusividades desse campo de atuação.
Em verdade, sempre que há uma produção de documento
técnico, independente do campo de atuação do profissional
da psicologia, principalmente quando há Avaliação Psicoló-
gica, é possível solicitar uma avaliação técnica do documento
produzido e o produto disso será o Parecer Psicológico.
Para ampliar seu repertório de possibilidades sobre análise
documental, vamos a algumas situações hipotéticas em que
um pedido de produção de parecer técnico é possível:

a. Uma juíza solicita uma avaliação psicológica como prova


pericial em um processo de disputa de guarda à uma psi-
cóloga. As partes do processo contratam, cada uma, uma
profissional de psicologia* para acompanhar a produção
da prova pericial e garantir qué os métodos, técnicas e
instrumentos utilizados são compatíveis com o que está
sendo discutido com o processo em curso.
b. Uma psicóloga clínica entrega um Laudo Psicológico com
um diagnóstico psicológico aos pais de uma criança de
06 (seis) anos. Apesar de acompanhar o diagnóstico da
pediatra da criança, os pais têm dúvidas sobre o proce-
dimento utilizado pela profissional de psicologia para
avaliação da criança. Por conta disso, procuram uma ou-
tra profissional para avaliar o laudo psicológico entregue
pela avaliadora.

* Essa atividade é conhecida com assistência técnica e é prevista em nossos códigos


processuais. Há regras legais específicas para garantia dos princípios processuais (cada
área do direito normatiza em seu respectivo código). Para quem quiser aprofundar,
vale também a leitura da Resolução CFP n°008/2010 que dispõe sobre a atuação do
psicólogo como perito e assistente técnico no Poder Judiciário.

89
CAPÍTULO 5

c. Uma empresa recebe um documento psicológico em que


há descrição de condição psicológica e a recomendação
de alteração na rotina profissional do funcionário - com
a justificativa de inaptidão para o desempenho de deter-
minadas atividades e a empresa escolhe buscar um outro
profissional para avaliar o documento recebido.

Perceba que nas três situações hipotéticas descritas em con-


textos institucionais diferentes, sempre diante de uma dúvida
em relação a um documento psicológico recebido, pode haver
a solicitação de análise_ do mesmo, para avaliar se ele condiz
com os princípios da ciência psicológica. Esse documento que
será produzido, produto da análise de um outro documento
psicológico, será o Parecer Psicológico.

1.1.1. SOBRE OS DOCUMENTOS PSICOLÓGICOS


PASSÍVEIS DE ANÁLISE
Na teoria, qualquer documento psicológico é passível de
ser avaliado por outro profissional da psicologia - dependen-
do principalmente da motivação de analisar o documento em
questão. Até mesmo uma declaração, considerado o mais sim-
ples dos documentos psicológicos, pode ser fruto de um pare-
cer. Por exemplo, há um questionamento se uma declaração
entregue a um cliente seguiu as normas estabelecidas pelo
CFP (questão-problema). Neste caso, posso contratar uma pro-
fissional de psicologia para analisar a declaração em questão e
se posicionar tecnicamente, embasada teoricamente, sobre o
foco de estudo. Na prática, é mais comum laudos e relatórios
psicológicos serem, mais frequentemente, objetos de análise
documental por terem maior repercussão objetiva para os su-
jeitos e instituições e, por isso, serem questionados. Você pode
estar se perguntando sobre o por que de Atestado psicológico
não entrar nessa lista e eu te digo: primeiro, por conta de os
profissionais da psicologia, de maneira geral, se esquivarem de

90
PARECER PSICOLÓGICO

produzir o atestado psicológico (e a gente vai falar sobre isso


lá no capítulo sobre Atestado psicológico); segundo, por conta
da estrutura do atestado - como não há exposição de proce-
dimentos, a 'análise documental, do ponto de vista teórico, é
mais difícil já que os registros da avaliação psicológica ficam
com a profissional que emitiu o atestado e essa liberação para
o acesso seria a partir da solicitação do próprio cliente (laudo
resultante da Avaliação Psicológica), Conselho Regional de Psi-
cologia - CRP ou pela autoridade judicial.
Bom, feitas essas considerações, vamos às perguntas es-
senciais que a parecerista deverá responder diante da neces-
sidade da análise de um documento psicológico:

✓ A demanda que motivou o documento está clara?


✓ A finalidade está descrita?
✓ O fechamento do documento está conectado à de-
manda e finalidade?
✓ Os instrumentos utilizados para a coleta de dados são
compatíveis com o que foi avaliado?
✓ A análise de dados está embasada teoricamente?
✓ A metodologia adotada está descrita? É pertinente
com o objeto do documento?
✓ Os princípios éticos, técnicos e de linguagem foram
cumpridos para a produção documental?
✓ 0 documento cumpriu ao que se destinou?

Depois de fazer essas perguntas (podem existir outras, a de-


pender de especificidades do caso), você está apta para cons-
truir seu Parecer Psicológico seguindo à estrutura que veremos
logo mais!

91
CAPÍTULO 5

1.2. OPINIÃO TÉCNICA (8)

Essa segunda categoria de Pareceres é, ao mesmo tempo,


pouco demandada e muito solicitada. E explico: quantas ve-
zes você já ouviu perguntas sobre diferentes questões do coti-
diano, para serem respondidas do"ponto de vista psicológico"?
Imagino que diversas! Agora, a segunda pergunta: quantas
vezes já te demandaram, como serviço, um posicionamento
técnico sobre uma questão ou dúvida do cotidiano? Arrisco di-
zer que poucas ou nenhuma. Como não temos o costume de
ofertar esse tipo de serviço, a demanda por ele &praticamente
inexistente. Penso que alimentamos alguns problemas quan-
do não "profissionalizamos" o posicionamento técnico como
uma prestação de serviços: primeiro, os posicionamentos fi-
cam superficiais, sem a descrição do embasamento teórico,
o que fragiliza a opinião profissional; segundo, fortalecemos
uma volatilidade da ciência psicológica como campo de saber
diverso e plural, já que como não se expressa o norte teórico
utilizado, é possível que existam diferentes variáveis e posições
por diferentes profissionais. É sedutor, eu sei, responder uma
pergunta quando ela é feita, até "alimenta" nossa vaidade, eu
diria! Mas a análise precisa ser mais ampliada e não apenas no
curto prazo, já que quem pergunta tem uma motivação e uma
finalidade para perguntar (e são essas motivações e destinos
que determinam se é só um papo ou se pede algo mais formal,
documentado, percebe?). Claro que não estou defendendo
um radicalismo de você só se posicionar tecnicamente a partir
de um Parecer Psicológico, mas acredito que esse é um docu-
mento subutilizado e que isso repercute, inclusive, na percep-
ção social da psicologia enquanto campo de saber.
Como já vimos diversas vezés ao longo desse livro, o Parecer
Psicológico não é fruto de Avaliação Psicológica, mas nem de
longe é um documento raso ou mesmo simples de ser elabora-
do. Requererá da parecerista amplitude técnica, prática e emba-

92
PARECER PSICOLÓGICO

sarnento teórico para um posicionamento com valor'. Acredito


que como a psicologia tem uma prática, de forma geral, mais
generalista, sem um afunilamento, reconhecer expertise para
solicitar (e pagar!) Por um parecer parece uma prestação de ser-
viço distante.
Assim como fiz em relação a analise documental, trarei aqui
dez situações** que podem ter um Parecer Psicológico como
resposta à questão-problema:

a. Pais de uma criança que discordam sobre educação do


filho.
b. Dúvida sobre a •repercussão subjetiva de interrupção
abrupta da amamentação.
c. Efeitos da privação da presença de uma das figuras paren-
tais para o desenvolvimento de uma criança.
d. Interferência da depressão nas atividades laborais.
e. Violência sexual na infância e trauma.
f. Mal atendimento como gatilho de crise psicopatológica.
g. Divórcio como fonte trauma.
h. Atividade laborativa como causa de depressão.
i. "Palmada educativa" e desenvolvimento infantil.
j. Abusos maternos e estresse pós traumático.

Perceba que nas dúvidas acima (ou tantas outras que pode-
riam ser descritas), ou questões-problema, não se discute a
perspectiva individual de"João"ou de"Maria", mas de qualquer
pessoa que esteja vivenciando a mesma dinâmica situacional.
E, claro, qualquer resposta que concluirmos em nossos docu-
mentos deve ser sempre sobre o ponto de vista psicológico

*Para que você tenha uma idéia, existem áreas que a expertise do parecerista influen-
cia diretamente o posicionamento no documento e ele acaba tendo maior credibili-
dade e sendo mais "verdadeiro", entende? Isso tem relação direta a aprofundamento
técnico, teórico e prática profissional.
** As situações descritas foram questões-problemas reais e resultaram em Pareceres
Psicológicos feitos ou supervisionados por mim.

93
CAPÍTULO 5

com ancoragem técnica, teórica e ética. Caso exista posicio-


namentos diferentes, dependendo da abordagem teórica por
exemplo, cabe, na análise (logo mais veremos a estrutura do
Parecer Psicológico), explanar os diferentes posicionamentos
teóricos mas, na conclusão, espera-se que você, parecerista,
se posicione a partir das leituras feitas e da sua prática profis-
sional. Lembre-se, quem assina o Parecer Técnico é você! Ao
final do documento, que será uma conclusão sobre a questão
que motivou a demanda do Parecer Psicológico, ou questão-
-problema, a gente precisa se posicionar de forma indicativa
ou conclusiva, alinhada com a finalidade a que o documento
se destina.

Dica de ouro: se especialize para ter o parecer psicológi-


co como mais uma forma de construir seu leque de ser-
viços profissionais! A demanda pelo parecer irá existir na
medida que as pessoas souberem que prestamos esse
serviço, afinal nem tudo é psicoterapia!

Antes de seguirmos à estrutura do Parecer Psicológico, que-


ro apresentar um esquema para te ajudar a decidir que tipo de
documento elaborar:

r Precisa expor informações pessoais Não cabe Parecer


ou estados psicológicos, por exemplo, (avaliar laudo
para alcançar a finalidade do ou Relatório
documento? Psicológico)
Questão-problema
do Campo
Psicológico A revisão literária associada a prática
profissional do parecerista são Parecer
suficientes para atingir a finalidade do Psicológico
documento

94
PARECER PSICOLÓGICO

2. ESTRUTURA

Depois de tantas informações, considerações, vamos à es-


trutura de nosso documento. As informações de cada compo-
nente do Parecer Psicológico devem ser apresentadas com de-
talhamento em forma de itens. Conforme nossa resolução de
referência, o Parecer Psicológico é composto de, no mínimo, 5
(cinco) itens:

Identificação Demanda Análise

Conclusão Referências

2.1. IDENTIFICAÇÃO

Nesta sessão, que é mais formalidade que técnica, devem


ter todas as informações para identificar o tipo de documen-
to produzido, o demandante além de outros dados úteis que
possam identificá-lo (dependendo do destino do documento),
destinatário e qual o fim a que se destina o documento (sem
isso fica bem difícil produzir qualquer documento, como já
bem falamos).

v Título: "Parecer Psicológico";


'7 Nome da pessoa ou instituição objeto do questiona-
mento (ou do parecer): identificação do nome ou nome
social completo e, quando necessário, outras informações
sócio-demográficas da pessoa ou instituição cuja dúvida
ou questionamento se refere;
'Nome do solicitante: identificação de quem solicitou o
documento, especificando se a solicitação foi realizada
pelo Poder Judiciário, por empresas, instituições públicas
ou privadas, pelo próprio usuário do processo de trabalho
prestado ou outros interessados;

95
CAPÍTULO 5

V Finalidade: descrição da razão ou motivo do pedido;


-7 Nome da(o) autora(or): nome ou nome social completo
da(o) psicóloga(o) responsável pela construção do docu-
mento, com a respectiva inscrição no Conselho Regional
de Psicologia e titulação que comprove o conhecimento
específico e competência no assunto.

2.2. DESCRIÇÃO DA DEMANDA

Transcrição do objetivo da consulta ou demanda. Deve-se


apresentar as informações referentes à demanda (lembre-se
que a finalidade do documento deve estar contida lá na iden-
tificação). -

v A descrição da demanda deve justificara escolha das


fontes científicas para análise que será realizada.

2.3. ANÁLISE

A discussão da questão específica do Parecer Psicológico


se constitui na análise minuciosa da questão explanada e
argumentada com base nos fundamentos éticos, técnicos
e/ou conceituais da Psicologia, bem como nas normativas
vigentes que regulam e orientam o exercício profissional.
Apesar de não haver uma regra, seu posicionamento técnico
estará muito melhor construído com mais de um autor - cos-
tumo dizer que, pelo menos, dois ou três, garantem a você um
bom lastro de discussão. Para te ajudar, diria que três deles já
estão previamente escolhidos:

V Autor de maior autoridade sobre a questão-problema.


V Autor mais recente.
v Autor de referência em sua abordagem teórica.

96
PARECER PSICOLÓGICO

Proporcione uma "conversa" entre os teóricos, destaque


pontos de maior relevância que tenham ligação direta com
o que está sendo trabalhado em seu parecer. Não economize
mas não exagere. Com a prática, você encontrará a sua medida.

2.4. CONCLUSÃO

Neste item, a(o) psicóloga(o) apresenta o seu posiciona-


mento sobre a questão-problema ou documentos psicoló-
gicos questionados. E é muito importante deixar bem claro:
não é a posição de Freud, de Aaron Beck, de Rogers... Não! Você
poderá trazer "quem for" para discutir em sua análise mas, na
conclusão, espera-se que você, a partir de todas essas (e
outras) leituras associadas a sua prática profissional, con-
clua o documento a partir do que acredita, já que será você
quem assinará ao final. Além de seu posicionamento técnico,
nessa sessão ainda deve conter:

v Indicação do local de produção.


-/ Data de emissão.
v Carimbo, em que conste nome completo ou nome social
completo da(o) psicóloga(o), acrescido de sua inscrição
profissional.
V Todas as laudas numeradas, rubricadas da primeira até a
penúltima lauda, e a assinatura da(o) psicóloga(o) na últi-
ma página.

Opcional: É facultado à(ao) psicóloga(o) destacar, ao final


do parecer, que este não poderá ser utilizado para fins dife-
rentes do apontado no item de identificação, que possui ca-
ráter sigiloso, que se trata de documento extrajudicial e que
não se responsabiliza pelo uso dado ao parecer por parte da
pessoa, grupo ou instituição, após a sua entrega ao beneficiá-
rio, responsável legal e/ou solicitante do serviço prestado.

97
CAPÍTULO 5

2.5. REFERÊNCIAS

Na elaboração de pareceres psicológicos, é obrigatória a


informação das fontes científicas ou referências bibliográfi-
cas utilizadas, em nota de rodapé, preferencialmente. Não há
orientação específica sobre qual norma utilizar, então a escolha
fica a seu critério. Em tendo escolhido, respeite as orientações
referentes à citações, transcrição e referenciamento, certo?

3. CHECK LIST

v Título;
• Nome completo ou nome social da pessoa ou institui-
ção atendida;
✓ Outras informações (que nossa resolução chama de
informações sócio-demográficas) para identificação
do usuàrio, quando necessário (isso tem relação dire-
ta com a finalidade documental): número de matricu-
la, RG e/ou CPF;
• Solicitante;
-7 Finalidade do Documento;
✓ Sua identificação profissional;
✓ Descrição da Demanda do Documento;
-7 Diversidade teórica.

No Encerramento você:
✓ Numerou e rubricou" as laudas?
✓ Colocou a data e local de emissão?
✓ Carimbou (constante seu CRP)?
✓ Assinou a última página (com seu nome completo ou
nome social)?
V Fez as devidas referências teóricas utilizadas?

*As rubricas são até a penúltima página, considerando que a ultima estará assinada
por você.

98
PARECER PSICOLÓGICO

4. DÚVIDAS COMUNS

1. Pode existir em um Parecer Psicológico informações


sobre o cliente?
As informações pessoais de quem te contrata deverão
constar em seu Parecer Psicológico apenas na identificação!
Fora isso, nenhuma informação de seu cliente deve constar
no documento, já que ele é um posicionamento técnico de
uma questão-problema, a partir de uma revisão literária e de
sua prática profissional. Costumo dizer que se, por exemplo, eu
fizesse um parecer técnico analisando o nexo causal entre trau-
ma infantil e divórcio parental e aparecessem dez casos com
essa mesma questão problema, eu poderia entregar o mesmo
parecer aos dez clientes! Um parecer não fala sobre o trauma
infantil de :"João" no divórcio com "Maria", entende? Mas, a
análise e a conclusão são mais generalistas: casos de divórcio
como causa de trauma infantil. Veja bem, se para atingir a fi-
nalidade do documento você precisar descrever, por exemplo,
sua condição psicológica, provavelmente você está fazendo o
documento errado (um relatório psicológico ou um laudo psi-
cológico pode atender).

2. Atendo um cliente em psicoterapia há um tempo que


é parte em um processo jurídico e ele pede para eu ser
parecerista numa perícia psicológica por confiar em
mim. Posso?
Não pode. Segundo a Resolução CFP n° 008/2010 que dis-
põe sobre a atuação do psicólogo como perito e assistente téc-
nico no Poder Judiciário, Capítulo IV, art. 10, inciso I, nos reco-
menda que a psicóloga que acompanha o cliente não poderá
assumir o papel nem de perita nem de assistente técnica em
um processo judicial:"Com intuito de preservar o direito à inti-
midade e equidade de condições, é vedado ao psicólogo que
esteja atuando como psicoterapeuta das partes envolvidas em

99
CAPÍTULO 5

um litígio: I - Atuar como perito ou assistente técnico de pes-


soas atendidas por ele e/ou de terceiros envolvidos na mesma
situação litigiosa".

3. Um Parecer Psicológico é feito, necessariamente, por


um assistente técnico?
Não! Quando se pensa dessa forma, parte-se da crença de
que o Parecer Psicológico é produzido apenas nas práticas da
psicologia jurídicas (e ainda assim, é possível existir um perito
que produza um parecer técnico e não um laudo pericial, por
demanda específica, mas esse papo não cabe aqui). O contrá-
rio sim, é verdadeiro - a assistente técnica produz sempre um
Parecer Psicológico por fazer uma análise documental (mesmo
existindo brecha para coleta de dados, observações, entrevis-
tas, visitas domiciliares e institucionais, aplicação de testes psi-
cológicos, utilização de recursos lúdicos e outros instrumen-
tos, métodos e técnicas reconhecidas pelo Conselho Federal
-de Psicologia - por parte do assistente técnico - art. 2° da Re-
solução CFP 008/2010). Como vimos ao longo desse capítulo,
a elaboração de um Parecer Psicológico pode ter diferentes
finalidades para posicionamento técnico de diversas questões.

4. Posso construir um Parecer Psicológico sem escolher


uma ancoragem teórica?
Preste bem atenção à minha resposta: é possível você esco-
lher não ancorar a sua análise técnica em uma única aborda-
gem teórica, mas não há condição de produzir um documento
técnico sem ancorá-lo teoricamente. Lembre-se que o emba-
sarnento teórico é um dos elementos que compõem o tripé
para a sustentação do Parecer Psicológico e, sem ele não há
um Parecer Técnico, é apenas uma opinião de senso comum.

100
PARECER PSICOLÓGICO

5. Se considerar a possibilidade de oferecer o Parecer


Psicológico como um tipo de serviço, como eu preci-
ficaria?

Bom, para quem está começando a pensar sobre isso e que


se fixar como expert para construir pareceres técnicos: a primei-
ra pergunta que te faria para responder essa questão é "qual o
preço de sua hora de trabalho (há cálculo específico para isso,
vale a pesquisa se não souber)?" Sabendo quanto custa a sua
hora de trabalho, só calcular, em média, quanto tempo você le-
vará para construir seu Parecer Técnico e fazer a multiplicação!

6. Posso dizer que um Parecer Psicológico se aproxima


de um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso)?

Essa é urna boa comparação, principalmente para quem


usou a revisão bibliográfica como fonte para a construção de
seu TCC. Gente, o Parecer Psicológico é isso: uma discussão
sobre questões cotidianas, a partir de dúvidas ou perguntas
sobre o campo psicológico, que possa ser aplicado à maioria
das pessoas. Caso haja necessidade de trazer elementos par-
ticulares para cumprimento da finalidade do documento, pro-
vavelmente, o Parecer não seria a produção mais indicada para
o caso.

7. Na identificação do documento, quando, fala-se de


"solicitante" e "pessoa ou instituição objeto do ques-
tionamento". Essa diferença não está clara. Poderia
explicar melhor?
Esse é mesmo um ponto que, as vezes, alguns colegas con-
fundem...Veja bem, o parecer não tem uma "pessoa atendida"
mas pode ser sobre alguém, entende? Por exemplo: um juiz
está atuando em um processo em que dona Maria é parte e

101
CAPÍTULO 5

solicita um parecer. Você não atenderá Dona Maria mas ela é


parte do processo que motiva a demanda do documento téc-
nico, percebe? É um caso que envolve dona Maria. Neste caso,
ela entra na identificação, inclusive para qualificar seu docu-
mento, já que é no processo dela que nasce alguma dúvida
que interfere na decisão e, por isso, há demanda para você res-
ponder.

Bom, agora, mão na massa!

REFERÊNCIAS

1. Ferreira ABH. Dicionário da língua portuguesa. 5. ed. Curitiba: Po-


sitivo; 2010.
2. Silva DP e. Dicionário Jurídico Conciso. Rio de janeiro (RJ): Editora
Forense; 2008.
3. Conselho Federal De Psicologia. Resolução CFP N.o 06/2019. Bra-
sília: CFP; 2019.
4. Conselho Federal De Psicologia. Resolução CFP N.o 008/2010.
Brasília: CFP; 2010.

102
CAPÍTUL06
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

O que você irá ver nesse capítuld:

o Introdução
O Conceitos
Planejamento
Dúvidas comuns
1.

1. INTRODUÇÃO

Nem de longe o objetivo desse capítulo é te "ensinar" a re-


alizar uma Avaliação Psicológica, uma área complexa vincu-
lada a diversas correntes epistemológicas: a aquisição dessa
competência foi iniciada em sua formação acadêmica (muito
provavelmente apoiada com o bom e velho livro da Jurema
Cunha') e deve se estender ao longo de sua vida profissional.
Nesse capítulo, o objetivo é revisar pontos fundamentais de
um processo de Avaliação Psicológica objetivando a elabora-
ção de documentos técnicos, principalmente porque é só e a
partir dele que você poderá emitir os dois documentos que
vamos estudar nos próximos capítulos: Atestado e Laudo Psi-
cológicos. Então, vumbora!

103
CAPÍTULO 6

Se pararmos para pensar, a Avaliação Psicológica está nos


momentos iniciais da história da psicologia enquanto cam-
po de saber e ciência e as chamadas "testagens psicológicas"
inauguram essa nossa atividade técnica. Inclusive, há registro
antigo de testagens em escala com objetivo específico de se-
leção de pessoas para o império na China, há mais de 2200
anos2. Desde então, buscamos construir e aperfeiçoar técnicas
e instrumentos com diferentes finalidades para atender múlti-
plas demandas. Difícil pensar em práticas psicológicas, princi-
palmente na elaboração de documentos, sem intimidade com
essa área disciplinar.
Bom, inicio esse nosso papo sobre Avaliação Psicológica te
trazendo a ancoragem legal desses processos como função da
profissional da psicologia: vamos à Lei 4.119/62, que regula-
menta a profissão de psicólogo no Brasil, em seu artigo 10, § 1°:

"Constitui função privativa do Psicólogo e utilização de méto-


dos e técnic.as psicológicas com os seguintes objetivos:
a. - diagnóstico psicológico;
b. orientação e seleção profissional;
c. orientação psicopedagógica;
d. solução de problemas de ajustamento3?

Perceba que o nascedouro da psicologia brasileira já traz


a Avaliação Psicológica como atividade privativa dos profis-
sionais de psicologia, inclusive com o objetivo diagnóstico (o
que, ainda hoje, é motivo de angústia ou negativa de muitos
colegas da "tribo psi" e de profissionais de saúde de maneira
geral). Logo, para que a gente encerre dúvidas sobre a possibi-
lidade diagnóstica da psicologia:

Siiiim, psicólogas e psicólogos têm respaldo


legal para emitirem diagnóstico psicológico.

104
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Aqui vale a marca de que a nosologia (campo de saber mé-


dico que estuda e classifica doenças) é apenas uma das formas
diagnósticas, mas não é a única. Sindrômico, Funcional, Topo-
gráfico e Ecológico são, por exemplo, outros tipos diagnósti-
cos — inclusive, na lei que falamos há pouco, a descrição é de
"diagnóstico psicológico", sem critério classificatório. Fica à sua
escolha (profissional que realiza a avaliação psicológica), por
exemplo, indicar código classificatório da psicopatologia, caso
haja, lembrando que existem classificações mais usuais, Classi-
ficação Internacional de Doenças — CID e o Manual Diagnósti-
co e Estatístico de Transtornos Mentais DSM (atenção à casos
específicos onde esse uso é imprescindível: processos legais e
justiça do trabalho), beleza.?

2. CONCEITOS

Para continuarmos nesse"esquente", vamos para o conceito


apresentado pelo CFP, Resolução 009/2018 (inclusive, essa é a
normativa de referência atual para Avaliação Psicológica), que
estabelece diretrizes para a realização de Avaliação Psicológica
no exercício profissional da psicóloga e do psicólogo, dentre
outas coisas:

"Avaliação Psicológica é definida como um pro-


cesso estruturado de investigação de fenôme-
nos psicológicos, composto de métodos, técni-
cas e instrumentos, com o objetivo de prover
informações à tomada de decisão, no âmbito
individual, grupai ou institucional, com base em
demandas, condições e finalidades específicas"
(grifos meus).

105
CAPÍTULO 6

A avaliação psicológica é um processo que permite a com-


pressão dos fenômenos psicológicos através de procedi-
mentos diagnósticos e prognósticos. Também se define
como um conjunto de práticas investigativas com finalidade
de responder alguma questão-problemas. Em outras palavras,
se fôssemos adaptar esses conceitos para a nossa realidade de
estudo aqui nesse livro de produção documental, é uma ques-
tão (demanda) dirigida ao profissional da psicologia sobre um
fenômeno psicológico que, para responder, esse profissional
precisará escolher e traçar um processo de metodologia in-
vestigativa - a metodologia é estruturada pelas escolhas de
método, técnicas e procedimentos, objetivando responder a
questão motivadora da prestação de serviço. Esquematizando:

Análise ancorada

Técnica

Resposta à questão
(indicativa ou
conclusiva)

Método Avaliação
Psicológica

Metodologia investigativa
com Métodos, Técnicas e
Instrumentos

Fonte: Própria autora.

Para realização de uma Avaliação Psicológica, há um


caminho a se fazer que precisa, antes mesmo de iniciar a pres-
tação de serviço, estar muito claro para você: etapas, decisões
a serem tomadas, desde o momento em que a Avaliação Psico-
106
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

lógica é demandada até o momento da elaboração do Laudo


Psicológico, última etapa do processo de avaliação.

Desenhar essa rota com clareza fará toda dife-


rença para cumprir a finalidade a que se desti-
na a prestação de serviço.

Para diversificar ainda mais esse nosso passeio conceitual,


trago outro que eu gosto muito e que vai nos ajudar a estru-
turar ainda melhor nosso trabalho aqui, assunto central dessa
obra, a elaboração de documentos psicológicos:

"A Avaliação Psicológica refere-se a um conjun-


to de procedimentos confiáveis que permitem
ao psicólogo julgar vários aspectos do indivíduo
através da observação de seu comportamento
em situações padronizadas e pré-definidas"6 (gri-
fo meu).

Fiz questão de trazer esse conceito de Pasquali e Tróccoli


para chamar sua atenção para algo extremamente importante
e muitas vezes negligenciado, não só nos documentos técni-
cos em psicologia, mas nas prestações de serviços psicológi-
cos de maneira geral: os procedimentos. Para que possamos
planejar a metodologia trabalho que estamos prestes a desen-
volver, os procedimentos precisam ser escolhidos e siste-
matizados, tendo como norte a demanda e a finalidade do
trabalho a ser desenvolvido.
Pós demanda da prestação de serviço psicológico, a etapa
inicial, antes mesmo de "ir pra campo", para um bom processo
de avaliação psicológica é o planejamento: nessa etapa pre-
ciso fazer escolhas de método, técnicas e instrumentos que
melhor atendem à demanda e finalidade do pedido, além de
levar em consideração também o solicitante e/ou destinatá-

107
CAPÍTULO 6

rio, quem tem dúvida ou que um olhar técnico, sobre um pro-


cesso, condição ou fenômeno psicológicos. Super vale a pena
uma revisão sobre esses conceitos, vamos lá:

MÉTODO
É o conjunto sistematizado de procedimentos escolhi-
dos pela profissional de psicologia, tendo como norte a
finalidade e a demanda motivadoras da prestação de ser-
viços, utilizados na investigação, intervenção e compreen-
são de um fenômeno psicológico determinado a partir de
uma ancoragem teórica específica.
São diversos os métodos existentes para que nos aproxime-
mos, conheçamos e compreendamos sobre um fenômeno psi-
cológico. Cada um dos métodos tem um conjunto de técnicas
pertinentes à coleta e interpretação de dados alinhados ao seu
estilo de compreensão sobre o sujeito, grupos e/ou organiza-
ções. Te trarei alguns exemplos objetivando ilustrar à você o
que estamos falando:

-/ Introspecção
• Observação controlada
✓ Experimental
V Clínico
V Psicodinâmico
✓ Comparativo
✓ Etológico
✓ Estatístico
✓ Etc

Veja a variedade de métodos! E a escolha por um deles pre-


cisa estar ancorada e clara para você, inclusive expressa em
seu instrumento de comunicação por escrito, no item Pro-
cedimento (mas fique tranquila, quando estivermos falando
de Laudo Psicológico, lá no capítulo 8, aprofundaremos nessa

108
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

questão). Nosso objetivo em um livro de Como Fazer Documen-


tos Psicológicos não é estudarmos cada um dos métodos ou
suas características, finalidade, para o planejamento de uma
Avaliação Psicológica, mas sugiro fortemente sua atenção a
isso já que é a partir dele que podemos iniciar a seleção das
técnicas e Instrumentos de coleta e análise de dados.

TÉCNICAS E INSTRUMENTOS
E já que falamos de método, cabe agora conversarmos
um pouco sobre técnicas e instrumentos psicológicos, que,
como disse, devem estar em total sintonia com o método de
trabalho escolhido pela profissional. Por isso, é muito impor-
tante que você tenha clareza de qual método escolherá para
desenvolver uma atividade para, e só a partir de então, esco-
lher as técnicas e instrumentos compatíveis com a finalidade
e a demanda da prestação de serviço. Por técnicas se entende
que:
São procedimentos selecionados, coerentes com •o mé-
todo de trabalho escolhido, que tem como objetivo um re-
sultado específico - finalidade da prestação de serviço. São
os processos práticos usados em cada método alinhados
pelo objetivo do trabalho.
As técnicas precisam ser selecionadas de maneira conscien-
te, reflexiva, criativa e individualizada para cada prestação
de serviço — Avaliação Psicológica, levando em consideração
diferentes dimensões do fenômeno psicológico a ser estudado,
condições de execução e/ou aplicação, tempo, recursos e etc.
Assim como fizemos em relação aos métodos, trago aqui
alguns exemplos de técnicas para ilustrar sobre o que estamos
falando:
v Observação: sistemática e assistemática);
'7 Inquirição — questionários (inventários, escalas, levanta-
mento de opinião);

109
CAPÍTULO 6

v Entrevistas - estruturada ou dirigida, semiestruturada, se-


midirigida ou mista e não dirigida ou aberta;
v Testes - Psicométricos, Projetivos e Impressionistas.

Aproveitemos esse tempo em que falamos de testes para


lembrar os tipos:

Escalas

Inventários
Testes
Psicológicos
Questionários

Métodos Projetivos e/ou Expressivos

Uffaa!! Passeio de um conteúdo longo, complexo e multi-


facetado em curtíssimo espaço, hum? Meu objetivo aqui foi
meio que "drrumar" de forma sistemática os principais conte-
údos por, aprendi na- prática, que quando planejo minha ava-
liação, ancoro escolha, justifico procedimentos, fica muito mais
fácil explicitar esse caminho percorrido através da prestação
de serviços em um Laudo Psicológico (o Atestado Psicológico,
que também é condicionado à Avaliação Psicológica só poderá
ser emitido pós Laudo, última etapa da Avaliação). Então, ano-
ta aí minha sugestão: conheça a sua forma de planejar uma
avaliação psicológica, crie os seus processos de maneira
didática, precisa, ancorada na teoria psicológica.
Primeiros passos para iniciar o desenho da metodologia da
Avaliação Psicológica:

1. Identificação do contexto do pedido da Avaliação Psico-


lógica;
2. Clarificação da demanda e finalidade do pedido de Ava-
liação Psicológica ou do documento técnico condiciona-
do a esse processo;

110
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

3. Determinação dos constructos, processos e/ou fenô-


menos psicológicos pertinentes à demanda;
4. Alinhamento dos instrumentos, técnicas e métodos
com o avaliando;
5. Avaliação das condições técnicas, metodológicas e
aplicabilidade do instrumento de avaliação.

Vamos ver isso esses passos aproximando da prática? Me-


lhor caminho para arrumarmos sistematicamente isso é indo
para o PLANEJAMENTO!

3. PLANEJAMENTO

Diante da demanda investigativa de algum fenômeno ou


constructo psicológico é chegado o tempo de planejar o pro-
cesso de Avaliação Psicológica: a estratégia de investiga-
ção é uma escolha nossa - alinhada à demanda e a finalidade
do que foi pedido. Vamos pensar, por exemplo, que estamos
diante de um pedido de avaliação da capacidade de um sujei-
to assumir atividades laborativas com risco de morte. Alguns
constructos psicológicos devem ser avaliados para que essa
resposta técnica possa ocorrer e a metodologia de avaliação
é a que você acredita ser a mais eficaz (de maneira fundamen-
tada) à responder demanda e finalidade do caso, levando em
consideração o contexto em que o pedido foi realizado e as
condições técnicas, metodológicas e operacionais dos ins-
trumentos de avaliação, percebe a tecelaria? Aproveitando o
exemplo, qual seria o documento mais adequado para respon-
der à demanda e finalidade do caso, hein? Anote sua resposta
na linha abaixo que ao final desse capítulo te apresentarei a
resposta com a justificativa. O documento é
Sigamos!

111
CAPÍTULO 6

Criei uma ferramenta para te apoiar nesse planejamento e


se bem utilizada vai melhorar não só essa etapa inicial de esco-
lha de rota para construir o caminho de uma Avaliação Psicoló-
gica, mas também já antecipa alguns conteúdos importantes
que devem constar do Laudo Psicológico — na elaboração, sua
atenção estará mais voltada a estrutura textual que à técnica
psicológica (olha que maravilha!). Mas, antes que eu te apre-
sente, vamos à alguns pontos importantes:

OBJETIVOS
Para que possamos identificar a necessidade de realizar (ou
não!) uma avaliação psicológica, Cunha', apresenta para a gen-
te objetivos do processo de avaliação:

a. Classificação simples;
b. Descrição;
c. Classificação nosológica;
d. Diagnóstico diferencial;
e. Avaliação compreensiva;
f. Entendimento dinâmico;
g. Prevenção;
h. Prognóstico;
i. Perícia forense.

COLETA DE DADOS
Outro ponto fundamental para revisarmos em relação à
Avaliação Psicológica é sobre coleta de dados. É importan-
te falarmos sobre isso pois, para que tracemos a nossa meto-
dologia de trabalho, é necessário decidir métodos, técnicas e
instrumentos de coleta de dados e as fontes para essa coleta
para, posteriormente, analisá-los e chegar a uma resposta, a
conclusão de nossa Avaliação.

112
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Sobre as fontes, há uma categorização entre elas. Vamos re-


lembrar (CFP 09/2018):

"I - Fontes fundamentais: a) Testes psicológicos apro-


vados pelo CFP para uso profissional da psicóloga e do
psicólogo e/ou; b) Entrevistas psicológicas, anamnese e/
ou; c) Protocolos ou registros de observação de compor-
tamentos obtidos individualmente ou por meio de pro-
cesso grupai e/ou técnicas de grupo.
II - Fontes complementares: a) Técnicas e instrumentos
não psicológicos que _possuam respaldo da literatura
científica da área e que respeitem o Código de Ética e
as garantias da legislação da profissão; b) Documentos
técnicos, tais como protocolos ou relatórios de equipes
multiprofissionais"8.

Aqui cabe um destaque para o § 5.°, art. 5°, da nossa resolu-


ção de referência (CFP 06/2019):

Na realização da Avaliação Psicológica, ao produzir do-


cumentos escritos, a(o) psicóloga(o) deve se basear no
que dispõe o artigo 2.° da Resolução CFP n.° 09/2018,
fundamentando sua decisão, obrigatoriamente, em mé-
todos, técnicas e instrumentos psicológicos reconhe-
cidos cientificamente para uso na prática profissional
da(o) psicóloga(o) (fontes fundamentais de informação),
podendo, a depender do contexto, recorrer a procedi-
mentos e recursos auxiliares (fontes complementares de
informação).

Quando estiver traçando sua metodologia de trabalho e es-


colhendo os testes que irá utilizar (se achar pertinente) para
cumprir o objetivo da Avaliação Psicológica, alguns pontos
precisam ser avaliados. Vamos à eles:

113
CAPÍTULO 6

a. A fundamentação teórica em que o teste foi construído


será a mesma que você ancorará a análise dos dados co-
letados?
b. Os objetivos descritos no teste estão em harmonia aos de
sua avaliação? São compatíveis para chegar à díade de-
manda-finalidade da solicitação?
c. O público-alvo é compatível com o sujeito ou grupo que
irá avaliar?
d. O tempo disponível é compatível com o planejamento de
coleta, análise de dados e elaboração documental?

Bom, depois dessa revisão de conceitos já sabidos, vamos


às etapas do processo de Avaliação Psicológica. Fiz questão de
nomear de uma forma que fique mais fácil de você pensar essa
jornada que, dentro do que estamos estudando, inicia com um
pedido de documento técnico (Atestado ou Laudo psicológi-
co) e finaliza com a entrega:

1. Clarificação
a. Contexto
b. Finalidade
c. Demanda
2. Construção de hipóteses para serem avaliadas;
3. Estratégia de coleta de dados;
a. Métodos;
b. Técnicas;
c. Instrumentos.
4. Cruzamento e filtragem de dados e ancoragem teórica,
respondendo à demanda original;
5. Elaboração do Laudo Psicológico* e técnicas devolutivas.
Agora é chegada a hora de te apresentar a ferramenta que
citei no início dessa sessão de Planejamento.

* É importante lembrar que o Laudo Psicológico, além de ser um documento técnico,


é a última etapa do processo de Avaliação Psicológica - mesmo que não seja o docu-
mento pertinente à demanda.

114
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

FERRAMENTA DE PLANEJAMENTO 1
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Solicitante:
Avaliando:
Idade:
Grau de Instrução:
Data da Solicitação:
Prazo:

1. Sobre o pedido:

Demanda Finalidade Destinatário

Questão

2. Objetivo(s) da Avaliação Psicológica:

115
CAPÍTULO 6

Hipóteses:

4. Método:
a. Escolha:

b. Justificativa:

5. Coleta de Dados:
a. Técnicas:
1.
2.
3.
4.
5.

b. Fontes Fundamentais:

c. Justificativa:

116
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

d. Fontes Complementares (se couber):

Observações:

Perceba como fica muito mais fácil ir para campo depois de


todas essas informações e decisões estarem claras para você?
Esse passo é o anterior à coleta, viu? Pensemos o Pós coleta:

1. Análise dos dados coletados. Revise suas hipóteses - ava-


liar se, com os dados e a análise, elas foram ratificadas ou
corrigidas;
2. Resposta à questão central da avaliação;
3. Recomendações e/ou orientações que couberem.

Colega, se você criar o hábito de sempre estruturar seu


pré e pós avaliação, mapeando e seguindo esse passo a pas-
so logo identificará o quão mais leve será elaborar qualquer
documento (mesmo os que não são frutos de avaliação
psicológica - seu olhar estará treinado à explicitar seu raciocí-
nio técnico), percebe?

117
CAPÍTULO 6

Deixa eu te contar uma coisa: preparei um presente para


você! O arquivo dessa ferramenta para que você possa impri-
mir e utilizá-la sempre que necessário. Olha que maravilha!!

Outra coisa!!!!
Lembra que te apresentei, no início desse capítulo, uma si-
tuação hipotética de avaliação da capacidade de um sujeito
assumir atividades laborativas de risco de morte e te perguntei
qual seria o documento técnico mais adequado para respon-
der essa questão? Bom, vamos à resposta e a justificativa: o do-
cumento que alcança a demanda e finalidade situacional é o
Atestado Psicológico. E ai, você acertou?

4. DÚVIDAS COMUNS

1. Para realização de uma Avaliação Psicológica eu sou


obrigada a utilizar testes psicológicos?
Essa é uma pergunta muito comum, assim como a recor-
rência (equivocada) da Avaliação Psicológica com a Testagem
Psicológica, mas calma, estamos aqui para eliminar de uma vez
por todas essa dúvida. Pessoal, o processo de Avaliação Psicoló-
gica pode ou não ter, na etapa de coleta de dados, a aplicação
de testes psicológicos. Como vimos ao longo desse capítulo,
a profissional da psicológica tem autonomia para escolher as
estratégias para conduzir a Avaliação, desde a etapa de plane-
jamento, coleta de dados, análise até a conclusão. Não é com-

118
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

pulsória o uso de testes - mas aqui vale uma dica: dependendo


do que você for avaliar, se há um instrumento específico para
o medir o que você estuda, o argumento de não usá-lo precisa
estar claro para você. Exemplo: você está realizando uma Ava-
liação Psicológica sobre a aptidão de uma pessoa para uma de-
terminada atividade e uma das competências descritas para a
função é atenção. Existem alguns instrumentos que mensuram
esse processo psicológico - não usar nenhum deles pode fazer
de seu documento um instrumento de comunicação questio-
nável, percebe? Ratifico sobre a sua autonomia técnica, mas os
critérios de escolha estratégica para condução de um proces-
so de Avaliação Psicológica precisam ser para a otimização da
prestação de serviços.

2 Profissionais de psicologia podem emitir diagnóstico?


Siiiiiiim!!!! Como falamos lá no início desse capítulo, o res-
paldo produção diagnóstica por profissionais da psicologia é
legal: Lei 4119/1962, corre lá! Lembre ainda que você pode ou
não se pautar em classificações padronizadas para descrever o
diagnóstico psicológico. Nada mais de se esquivar, hum?

3. Posso usar um instrumento que está com parecer des-


favorável no SATEPSI?
De forma nenhuma!! Para que eu possa aplicar um teste
preciso sempre observar se ele está com parecer favorável no
Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos - SATEPSI, indican-
do que o teste possui, pelo menos, um conjunto mínimo de
estudos que atesta a sua qualidade (sugiro que faça sempre
uma pesquisa pois o sistema é constantemente atualizado).
Lembrando a aprovação do teste não te dá liberdade de uso
indiscriminado - finalidade e demanda da avaliação são norte
para escolha procedimental, beleza?

119
CAPÍTULO 6

4. Em uma avaliação, posso ter como finalidade estudar


mais de um fenômeno psicológico?
É possível avaliar mais de um constructo principalmente
se eles compõem a díade demanda-finalidade do pedido de
avaliação. Mas cuidado, hum, quando temos finalidades dife-
rentes é difícil estrutura um processo único de avaliação. Cuide
para prestar o melhor serviço que puder!

5. Posso utilizar apenas testes psicológicos em um pro-


cesso de Avaliação Psicológica?
Testes, isolados, não são válidos para produzir avaliação
de condições e/ou fenômenos psicológicos. A conjugação de
método e técnicas são fundamentais para alcançar a finalida-
de avaliativa. São múltiplas as técnicas psicológicas, faça uma
combinação que mire na demanda-finalidade!

6. A Avaliação Psicológica tem validade?


Claro que sim!!! Esse é um ponto super importante e pouco
discutido: Validade Documental. Em quanto tempo determi-
nado sujeito ou sistema deve ser avaliado novamente? Muitas
coisas devem ser levadas em consideração:
a) Normas Vigentes; b) Natureza dinâmica do trabalho; c)
Objetivos da prestação de serviços e/ou documento; d) aspec-
tos subjetivos dinâmicos; e e) conclusões obtidas. Excetuan-
do-se os casos previstos em Lei, cade ao profissional indicar,
sempre no ultimo paragrafo do documento, por quanto tempo
vale aquela comunicação escrita. Importante lembrar que in-
dicação de validade documental é obrigatória nos relatórios,
atestados e laudos psicológicos.

7. Testagem Psicológica e Avaliação Psicológica é a mes-


ma coisa?
Não! Os testes, ferramenta de coleta de dados, podem ser
uma etapa dentro de um processo de Avaliação Psicológica.
Inclusive, marquemos que uma Avaliação psicológica pode ser

120
AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

realizada nem o uso de testes psicológicos. Teste é ferramenta,


avaliação é processo.

8. Como posso saber se um teste é um bom instrumento


para usar em minha Avaliação Psicológica?
O primeiro passo é verificar se o instrumento que preten-
de usar está com parecer favorável no Sistema de Avaliação de
Testes Psicológicos - SATEPSI. Existem alguns parâmetros de
qualidade que são levados em consideração na avaliação da
ferramenta:
a. Validade: Verifica se teste mede o que pretende medir;
b. Fidedignidade: Indica a confiabilidade e precisão do teste;
c. Precisão: Considera resultados obtidos pelo mesmo indi-
víduo quando reaplicado mesmo teste;
d. Padronização: Uniformidade de procedimentos utilizados
na aplicação;
e. Normatização: Uniformidade na interpretação dos resul-
tados a partir de parâmetros dos escores brutos.

Segundo passo é identificar a ancoragem teórica em que o


teste foi construído e avaliar se é compatível com a sua estra-
tégia ava I iativa.

121
CAPÍTULO 6

REFERÊNCIAS

1. Cunha, Jurema. Psicodiagnóstico V. Porto Alegre: Artmed, 2007.


2. Hutz, C. S., Bandeira, D. R., &Trentini, C. M. (Eds.). (2015). Psicome-
tria. Porto Alegre: Artmed.
3. Brasil. Presidência da República. (1962). Lei n°4119, de 27 de
agosto de 1962.
4. Conselho Federal De Psicologia. Resolução CFP N.° 09/2018. Bra-
sília: CFP; 2019.
5. Alchieri, João Carlos & Cruz, Roberto Moraes, Avaliação psicológi-
ca: conceito,_métodos e instrumentos. São Paulo: Casa do Psicó-
logo, (Coleção temas em avaliação psicológica) 2004.
6. Pasquali, L &Tróccoli, B., LabPAM — UNB.
7. Cunha, Jurema. Psicodiagnóstico V. Porto Alegre: Artmed, 2007.
8. Conselho Federal De Psicologia. Resolução CFP N.° 09/2018. Bra-
sília: CFP; 2019.

122
CAPÍTULO?'
ATESTADO PSICOLÓGICO

O que você irá ver nesse capítulo:

o Atestado Psicológico
o Exercícios
Estrutura
Dúvidas comuns
Respostas do exercícios

Entraremos agora no campo do temido Atestado Psicoló-


gico, primeiro dos documentos descritos em nossa resolução
de referência que é produto de Avaliação Psicológica. Como
falamos lá no inicio do nosso livro, quero iniciar chamando sua
atenção que aqui temos a adjetivação "psicológica" depois do
nome do documento, já que a emissão é privativa do pro-
fissional da psicologia e exige, deste, métodos, técnicas e
procedimentos específicos para a sua produção - precisare-
mos ter a fundamentação em um diagnóstico psicológico para
a elaboração.
Primeiramente, vamos à definição da palavra atestar: se-
gundo o dicionário, significa "afirmar ou provar oficialmente".
Perceba que muito mais que só "anunciar" ou "dizer que", aqui
estamos diante de algo de maior rigor técnico. A emissão de
Atestado pela psicologia é um assunto delicado dentro da ca-
tegoria profissional e que, muitas vezes traz insegurança aos
colegas, mas estamos aqui para acabar com isso!

123
CAPÍTULO 7

Quero começar diluindo aquela ideia de que todo atesta-


do psicológico tem a finalidade de solicitar o afastamento do
cliente de atividades laborais ou acadêmicas: não! A solicitação
de afastamento é apenas um fim que o documento em ques-
tão pode ter, mas nem de longe, o único - posso emitir um
atestado psicológico, por exemplo, de caráter justificativo, com
objetivo específico, a partir de condição subjetiva e/ou estado
emocional (que tenha nexo de causalidade com o que justifico
no documento) de quem eu assisto em minha prestação de
serviços, sem a necessidade de afastá-lo ou justificar ausência.
Atestar, aqyi, terá sempre a função de afirmar condições efou
estados psicológicos com objetivos específicos e eles estão
descritos em nossa resolução2.Vamos lá no art. 10, §1°, reler as
funções de um Parecer Psicológico:

I. Justificar faltas e impedimentos.


II. Justificar estar apto ou não para atividades especí-
ficas (manusear arma de fogo, dirigir veículo moto-
rizado no trânsito, assumir cargo público ou priva-
do, entre outros), após realização de um processo
de avaliação psicológica, dentro do rigor técnico e
ético que subscrevem a Resolução CFP n° 09/2018
e a presente, ou outras que venham a alterá-las ou
substituí-las.
II!. Solicitar afastamento e/ou dispensa, subsidiada na
afirmação atestada do fato.

Um ponto que sempre gera dúvida é em relação ao "diag-


nóstico psicológico". Profissional de psicologia pode diag-
nosticar? Pode!!! E onde está isso? Está na lei, colega!!! A Lei
4.119/19622, que dispõe sobre os cursos de formação em psi-
cologia e regulamenta a profissão de psicólogo, diz, no art.
13, § 1°, onde tem descritos os objetivos para a utilização de
métodos e técnicas privativas da psicologia: a) diagnóstico
psicológico como um dos objetivos. Pronto, agora você está
oficialmente, ou melhor, legalmente autorizado! rs
124
ATESTADO PSICOLÓGICO

Bom, brincadeiras à parte, é importante marcar que não es-


tamos falando aqui de uma norma emitida por conselhos de
categoria profissional (que estão hierarquicamente abaixo de
leis), estamos diante de uma lei! Logo, o profissional de psi-
cologia é competente para emitir diagnóstico psicológico.
Continuemos: quando lemos, logo no inicio do art. 10, de nos-
sa resolução de referência, que o atestado psicológico deve
ser fundamentado em diagnóstico psicológico, o caos se
forma! Gente, diagnóstico psicológico não é análogo às psico-
patologias descritas em classificações internacionais como CID
ou DSM (são os de maior reconhecimento e relevância científi-
ca) e que são produzidos por um ramo da medicina que estu-
da e classifica as diferentes doenças (nosologia). Há um campo
de intercessão entre esses diagnósticos, veja no esquema que
montei com a "teoria dos conjuntos"

Diagnóstico
Médico

Intersecção

Fonte: Própria autora.

Construir um diagnóstico psicológico é compreender


a condição subjetiva e/ou estado psicológico do sujeito
e avaliar possíveis prejuízos às funções do cotidiano em
um processo de Avaliação Psicológica (que tem finalidade
específica). A intersecção, como demonstra a figura acima, é
um espaço possível de se ocupar, mas não o único, percebe?

125
CAPÍTULO 7

Utilizar critérios nosológicos é uma alternativa para fundamen-


tar o diagnóstico psicológico após um processo de avaliação
psicológica, mas não é a única e a escolha é sua!
Outro ponto importante de levantarmos é a confusão que
alguns profissionais e usuários dos serviços de psicologia fa-
zem por comparação ao atestado médico - nem de longe esta-
mos diante de uma produção análoga, mesmo que o resultado
possa vir a ser o mesmo em alguns casos: a solicitação de afas-
tamento de atividades para tratamento de saúde. Como bem
descrita em nossa Resolução 06/2019, art. 10, caput, o Atesta-
do Psicológico:

"Consiste em um documento que certifica, com funda-


mento em um diagnóstico psicológico, uma determi-
nada situação, estado ou funcionamento psicológico,
com a finalidade de afirmar as condições psicológicas
de quem, por requerimento, o solicita"3.

Para que o Atestado seja emitido, mesmo que o documen-


to em si seja simples (logo mais veremos a estrutura do do-
cumento), há um processo importante que fundamenta sua
emissão: a avaliação psicoló_gica, que vimos mais profunda-
mente no capítulo passado (caso não tenha estudado ele,"vol-
te uma casa"). É importante seguir e documentar o processo
de Avaliação Psicológica que embasa a emissão do Atestado
Psicológico pois, como nos recomenda a resolução, art. 10, 5
40, é possível que, em um intervalo de até 05 (cinco) anos, os
Conselhos Regionais te solicitem apresentação da fundamen-
tação técnico-científica para a emissão do atestado emitido.
Vale marcar que na Resolução CFP 01/2009, que dispõe sobre
a obrigatoriedade do registro documentaF decorrente da pres-
tação de serviços psicológicos, somos orientados no art. 4°, §
10, que cinco anos é o período mínimo e que casos previstos
em lei, esse tempo pode, inclusive, ser ampliado. Então, vale a
atenção sobre o tempo de guarda, viu?

126
ATESTADO PSICOLÓGICO

Bom, feitos esclarecimentos iniciais ao entendimento e a


desmistificação do documento Atestado Psicológico, escolhi
trazer algumas situações hipotéticas para potencializar seu en-
tendimento. Vamos lá!

v Situação 1: Supondo que você acompanhe um cliente


com autismo, por exemplo. O responsável pelo seu cliente
solicita um documento para informar à escola a condição
diagnóstica e dar inicio a um pedido de avaliações cur-
riculares personalizadas compatíveis com o desenvolvi-
mento da criança. Ele ie informa ainda que, em outra fase
do processo, deverá levar um relatório multiprofissional.

Perceba que, nessa fase do processo, o que ele quer é ape-


nas justificar à escola o pedido de acompanhamento persona-
lizado à criança a partir do diagnóstico, pelo fato de a criança
não estar apta à inserção de atividades generalistas. Não posso
fazer uma declaração, já que a finalidade, na situação hipotéti-
ca apresentada, é justificar o pedido com a condição diagnós-
tica da criança, mas também, nesse momento, não faz sentido
a entrega de um laudo, já que ainda não é necessário expor
métodos e técnicas que levaram à conclusão diagnóstica,
entende? O Atestado Psicológico atende bem à solicitação do
responsável de seu cliente* e serve para justificar, a partir de
diagnóstico psicológico, à demanda.

v Situação 2: Suponha que sua cliente está apresentando


sinais e sintomas de transtorno de ansiedade e, no traba-
lho, está prestes a assumir um projeto novo, que deman-
dará dela muita atenção, cautela, além de envolver riscos.

*Agora, atenção: caso tenha recebido a criança já com o diagnóstico e não feito a ava-
liação psicológica, você não deve emitir o atestado psicológico já que o documento
é condicionado ao processo de avaliação. Lá no § 20, a gente é orientado, por motivos
óbvios, a só atestar o que foi verificado no processo de avaliação e que esteja dentro
do âmbito de nossa competência profissional.

127
CAPÍTULO 7

Assumir esse trabalho, neste momento, poderá potencia-


lizar ainda mais o estado psicológico de sua cliente e você
conclui que ela não está apta para a atividade. Ela pedirá
ao seu superior imediato para não entrar nesse projeto
novo. Para justificar o pedido, ela te pede um documento
que ateste a condição dela.

Veja bem, ela não quer ser afastada de todas as ativida-


des laborativas, apenas não quer assumir o novo projeto. A
sua cliente fará o pedido diretamente à sua chefia e quer um
documento que "prove" o que ela justificará como razão para
não embarcar no projeto novo. Neste caso, não se faz necessá-
rio um documento completo, que demonstre procedimento,
técnicas, instrumentos, e que analise tecnicamente a metodo-
logia utilizada e os referencie teoricamente, mas apenas que
informe a condição subjetiva da cliente e a inaptidão para a
atividade. Logo, um atestado psicológico atende à finalidade
da sua cliente.

v Situação 3: Você recebe um cliente de um colega, em tra-


tamento de depressão, para a continuidade do processo
terapêutico; a psicóloga anterior mudou-se de cidade e
encaminhou ele para você, passando todas as informações
para continuidade do trabalho psicológico, incluindo o en-
caminhamento de um Laudo Psicológico. Seu cliente faltou
ao trabalho e solicita a você um documento que justifique
sua falta alegando os sintomas da depressão.

Imagino que você esteja se perguntando o que fazer, mas


repare, se não houve Avaliação Psicológica feita por você, não
há o que você atestar. Essa condição é inegociável. Logo, o do-
cumento mais cabível para essa situação não é o atestado psi-
cológico! Você poderá emitir um outro documento, inclusive
baseado no laudo anterior (fazendo a devida referência), mas

128
ATESTADO PSICOLÓGICO

atestar algo requererá conclusões a partir de análise de dados


feita por você, já que assinará o documento, entende?
Nas duas primeiras situações apresentadas, a finalidade era
o de comunicar, com uma "prova", uma condição diagnóstica
dos assistidos, mas não se fazia necessário apresentar informa-
ções técnicas e científicas dos fenômenos psicológicos, por-
tanto, o atestado psicológico atende bem nas duas situações
(com a guarda de todo material que embase o Atestado Psi-
cológico). Mas veja bem: nosso documento aqui é produto de
Avaliação Psicológica - não dá para fundamentar um diagnós-
tico psicológico sem o processo de avaliação - então, só posso
emitir caso eu tenha realizado a Avaliação Psicológica. Na
terceira, como não houve a Avaliação Psicológica, a emissão de
um Atestado não é possível antes da sua avaliação.
Um ponto importante à destacarmos: se quem te demanda
um documento tem o objetivo de informar, de comunicar so-
bre a condição mental (diagnóstico) para alguém, com a finali-
dade (olha nossa palavra bússola aí, minha gente) de justificar
faltas e impedimentos, atestar estar apto ou não para ativida-
des específicas ou ainda solicitar afastamento e/ou dispensa,
subsidiada na afirmação atestada da condição mental, faremos
isso através de um atestado psicológico, pós realização da ava-
liação psicológica, já que não podemos fazer nenhum registro
de condição subjetiva do sujeito numa declaração, beleza? Fi-
cou claro para você?
Como já falamos (mas não custa nadinha falar de novo! rs),
o atestado psicológico só pode ser emitido após o processo
de avaliação psicológica e, obviamente, é nossa responsabi-
lidade "atestar somente o que foi verificado no processo de
avaliação e que esteja dentro do âmbito de sua competência
profissional" (CFP 06/2019, art. 10, 5 2°). Apesar de ser produto
de avaliação psicológica, o atestado propriamente dito deve
restringir-se à demanda (informação solicitada), contendo ex-
pressamente o fato constatado, delimitado pela finalidade da
produção documental.

129
CAPÍTULO 7

Outro ponto importante trazido pela nossa resolução é a


lembrança de nossos deveres de registros diante de um pro-
cesso de avaliação psicológica (em verdade, de qualquer ser-
viço prestado em psicologia), normatizados na Resolução CFP
n°01/2009 (ou aquelas que venham a alterá-la ou substituí-ia),
que dispõe sobre a obrigatoriedade do registro documental
decorrente da prestação de serviços psicológicos - falamos
disso lá no capitulo de Avaliação Psicológica. É obrigatória a
guarda dos registros provenientes da avaliação psicoló-
gica que resultaram na emissão do atestado psicológico
pelo prazo mínimo de cinco anos, tempo em que o Conselho
Federal de Psicologia poderá solicitar as fundamentações que
embasaram a emissão do atestado.
Como estamos diante de um documento técnico, inclusive
com poderes de justificar ausências e atestar necessidade de
afastamentos, precisamos ter bastante cuidado com a sua pro-
dução. As informações deverão estar registradas em texto cor-
rido, separadas apenas pela pontuação, sem parágrafos,
eVitando, com isso, riscos de adulteração. Caso seja necessária
a construção de mais de um parágrafo, preencha os espaços
vazios com traços, garantindo que nenhuma informação seja
adicionada em seu documento, assim:

Tomando esses cuidados, a probabilidade de ter "proble-


mas" após a entrega do atestado psicológico produzido por
você cai consideravelmente, já que não há espaços para adul-
terações. Ufaa!

130
ATESTADO PSICOLÓGICO

2. EXERCÍCIOS

Bom, para não perdermos aquele hábito da repetição como


estratégia de fixação, vem cá comigo 'relembrar, escrever e fixar
pontos importantes sobre Atestado Psicológico. As respostas
estão no final desse capítulo, mas só vai lá depois de respon-
der, por escrito, aqui, combinado?

1. O que o Atestado Psicológico certifica (ou, atesta! rs)?


Qual o caminho que o profissional deve percorrer para
chegar a atestar algo sobre um usuário de seus serviços
profissionais?

2. Complete o esquema:
A. Finalidade do Atestado Psicológico.
I, II e III: Situações que justifiquem a finalidade.

li III

131
CAPÍTULO 7

3 Qual o intervalo de tempo que os Conselhos Regionais


de Psicologia podem solicitar a fundamentação técnico-
-cientifica que fundamentou a emissão de um Atestado
Psicológico?

4. No inicio do capítulo, construí algumas situações hipotéti-


cas, lembra? Na situação 3, já que não cabe o documento
Atestado Psicológico, mas, sempre que solicitados, preci-
samos emitir documento proveniente da nossa prestação
de serviços, qual documento emitiria? Justifique sua es-
colha.

3. ESTRUTURA

Bom, vamos agora à estrutura de um Atestado Psicológico.


Lembrando que cada item deve estar detalhado em seu do-
cumento, para que não gerem dúvidas em relação às informa-
ções declaradas e/ou atestadas. Aqui, vou apresentar como
está em nossa Resolução:

1. Título: «Atestado Psicológico».


II. Nome da pessoa ou instituição atendida: identificação
do nome ou nome social completo e, quando necessá-
rio, outras informações sociodemográficas.

132
ATESTADO PSICOLÓGICO

III.Nome do solicitante: identificação de quem solicitou o


documento, especificando se a solicitação foi realizada
pelo Poder Judiciário, por empresas, instituições públi-
cas ou privadas, pelo próprio usuário do processo de
trabalho prestado ou por outros interessados.
IV. Finalidade: descrição da razão ou motivo do pedido.
V. Descrição das condições psicológicas do beneficiário
do serviço psicológico advindas do raciocínio psico-
lógico ou processo de avaliação psicológica realizado,
respondendo a finalidade deste. Quando justificada-
mente necessário, fica facultado à(ao) psicóloga(o) o
uso da Classificação Internacional de Doenças (CID) ou
outras Classificações de diagnóstico, científica e social-
mente reconhecidas, como fonte para enquadramen-
to de diagnóstico.
VI. O documento deve ser encerrado com indicação do
local, data de emissão, carimbo, em que conste nome
completo ou nome social completo da(do) psicólo-
ga(o), acrescido de sua inscrição profissional, com to-
das as laudas numeradas, rubricadas da primeira até a
penúltima lauda, e a assinatura da(o) psicóloga(o) na
última página.

133
CAPÍTULO 7

3.1. MODELOS

3.7.7. TIPO 01:

ATESTADO PSICOLÓGICO

Por solicitação de , atesto, com a finalidade de


(1)
,que é usuária do Serviço Psi-
(2) (3) (4)
cológico estando em condição de
(5)

(6) (7)

(8)

Itens:
1. Nome do solicitante.
2. Aqui deve constar qual o fim, o "para que" o atestado está
-sendo emitido, inclusive, quando couber, constar a proi-
bição de o documento ser utilizado com a finalidade dife-
rente da informada no documento.
3. Nome da pessoa ou instituição atendida.
4. Informações sociodemográficas.
5. Descrição das condições psicológicas do beneficiário do
serviço psicológico advindas do raciocínio psicológico ou
processo de avaliação psicológica realizado (com ou sem
CID), tendo relação com o item (1) -finalidade, o"para que".
6. Cidade.
7. Data de emissão.
8. Nome do profissional completo ou social com carimbo e
inscrição profissional.

* Mais uma vez, ratifico que esse modelo não é "a" verdade, apenas uma forma de pro-
dução com o objetivo te orientar na produção de um atestado psicológico, mas, que
fique claro, não é a única forma de fazê-lo. Como já disse, é mais importante que você
encontre a sua própria forma de produzir, dentro das especificações do CFP, combinado?

134
ATESTADO PSICOLÓGICO

3.1.2. TIPO 02:

ATESTADO PSICOLÓGICO

Usuária: XXX
Matricula: XXX
Solicitante: XXX
Finalidade: XXX
Descrição das condições psicológicas (com ou sem CID): XXX

(6) (7)

(8)

Itens:
(6) Cidade.
(7) Data de emissão.
(8) Nome do profissional completo ou social com carimbo e
inscrição profissional.

3.2. CHECK LIST

ATESTADO PSICOLÓGICO
V Nome completo ou nome social da pessoa ou institui-
ção atendida;
v Outras informações (que nossa resolução chama de
informações sociodemográficas) para identificação
do usuário, quando necessário (isso tem relação dire-
ta com a finalidade documental): número de matricu-
la, RG e/ou CPF;

135
CAPÍTULO 7

• Solicitante do atestado expresso;


✓ Finalidade do Atestado Psicológico;
v Descrição das condições psicológicas.

Destaques facultativos*:
✓ Avalie a possibilidade de informar que o documento
não poderá ser utilizado com finalidade diferente da
descrita na identificação;
✓ Caráter sigiloso das informações;
✓ Documento extrajudicial (já que um atestado, tecni-
camente, não será emitido para um processo judicial
- não seria a finalidade da emissão).

No Encerramento, você:
✓ Fez em texto corrido, separadas apenas pela pontua-
ção, sem parágrafos?
/ Caso tenha produzido mais de um parágrafo ou tenha
ficado-espaço até a lateral da folha, preencheu os es-
paços vazios com tracinhos?
-1Numerou e rubricou" as laudas?
/ Colocou a data e local de emissão?
✓ Carimbou (constando seu CRP)?
v Assinou a ultima página (com seu nome completo ou
nome social)?

* Aqui nessa sessão estão informações que você poderá escolher se quer ou não fazer
constar no Atestado Psicológico produzido por você.
**As rubricas são até a penúltima página, considerando que a ultima estará assinada
por você.

136
ATESTADO PSICOLÓGICO

4. DÚVIDAS COMUNS

1. Em que situações podemos emitir um Atestado Psico-


lógico?
O Atestado Psicológico tem por objetivo comunicar uma con-
dição psicológica com objetivos específicos: a) justificar ausên-
cias e impossibilidades (amplifique seu repertorio de impossi-
bilidades: não é só de presença, mas de assumir atividades ou
cumprir prazos, por exemplo); b) justificar aptidões ou inapti-
dões para atividades específicas baseadas em diagnóstico psi-
cológico (precisa ter um nexo causal entre a condição psicoló-
gica do sujeito e sua aptidão ou não à determinada atividade);
e c) solicitar afastamento ou dispensa (aqui também precisa
existir nexo causal entre o diagnóstico psicológico e a solici-
tação). Se fugir disso, talvez o Atestado Psicológico não seja o
documento mais adequado à situação.

2. Em caso de afastamento, por quanto tempo devo soli-


citar no documento o abono das faltas?
A resposta aqui, eu sei, vai trazer angústia. Pois, ao mesmo
tempo em que entendo que não é possível mensurar o tempo
necessário para o cuidado e assistência à pessoa em sofrimen-
to psíquico, não podemos perder de vista que, dependendo
da finalidade do documento (principalmente para afastamen-
to completo de atividades laborativas), temos uma legislação
trabalhista que prevê até 15 (quinze) dias de afastamento por
motivo de tratamento de saúde pagos pela empregadora.
Após esse tempo, o trabalhador será encaminhando para ava-
liação do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS e passará
por pericia para comprovação ou não da necessidade de auxi-
lio doença pela Previdência Social para tratamento de saúde.
Aqui, vale marcar que a avaliação pericial pelo INSS pauta-se
na verificação da incapacidade do periciado para as atividades
laborativas. Em outras palavras, a pergunta que a pericia deve
responder é: "esse sujeito está incapaz de realizar suas ativida-

137
CAPÍTULO 7

des no trabalho?". Quando entendemos pelo afastamento de


um cliente, não é pela incapacidade, mas pela necessidade de
cuidado à saúde mental - não necessariamente ele estará inca-
pacitado, percebe? São olhares diferentes e precisamos levar
isso em consideração.

3. Se a empresa não aceitar o Atestado Psicológico e des-


contar no salário do funcionário os dias não trabalha-
dos, o que devo fazer?
Colega, veja bem, essa não é uma questão que compete ao pro-
fissional da psicologia. A função do Atestado Psicológico é jus-
tificar a ausência ou solicitar o afastamento a partir do Atestado
Psicológico, embasado num processo de avaliação Psicológica.
À empregadora cabe o abono (ou não!) dos dias não trabalha-
dos. É possível, inclusive que as empresas estipulem regras espe-
cíficas para abonos. O que cabe a nós, profissionais, é a emissão
de um documento com fundamentação técnico-científica. É
aquele ditado.: "cada um no seu quadrado". Rimou! rs

4. Caso meu cliente peça um Atestado Psicológico para


afastar-se do trabalho, mas eu não tenha encontrado
o que justifique o afastamento, posso negar fornecer
o documento?
Veja bem: o seu cliente tem direito de pedir um documento
proveniente da relação de prestação de serviços. Para quem
não lembra, está em nosso Código de Ética, em Deveres Fun-
damentais, art. 1°, letra h:"... fornecer, sempre que solicitado, os
documentos pertinentes ao bom termo do trabalho". Não po-
demos negar emitir um documento, mas o tipo de documento
e o conteúdo são de nossa responsabilidade técnica. Entregar
um documento não significa dizer o que o cliente pediu.

138
ATESTADO PSICOLÓGICO

5. Sou obrigada a colocar um CID no Atestado Psicoló-


gico?
Antes de falarmos sobre a necessidade de conter um CID no
documento, há um ponto anterior que causa bastante dis-
senso na categoria, que é a competência ou não da psicolo-
gia poder concluir sobre diagnóstico. E aqui, como já vimos
no capítulo e para acabar com qualquer dúvida em relação
a isso, trarei a parte da Lei 4.119/1962, que dispõe sobre os
cursos de formação em psicologia e regulamenta a profissão
de psicólogo, no art. 13, § 1°, onde têm descritos os objetivos
para a utilização de métodos e técnicas privativas da psico-
logia: a) diagnóstico psicológico4. Não estamos falando de
uma norma de categoria profissional, mas de uma lei, como
qualquer outra! Logo, precisamos separar escolher não diag-
nosticar, que é uma possibilidade do profissional, seja por se
sentir incompetente, por não abarcar sua abordagem teórica,
por não querer... Enfim, são muitas as justificativas. Ok, é esco-
lha! Mas não nos confundamos: ao profissional da psicologia
é dada a prerrogativa legal de emitir diagnóstico psicológico
(você usa se quiser!). Pronto, esclarecida essa primeira parte,
sigamos à questão sobre conter ou não um CID ou ainda um
DSM no Atestado que eu emito - a escolha! Para quem quer
prova, está lá no art. 10, § 6°, alínea V: "...fica facultado à(ao)
psicóloga(o) o uso da Classificação Internacional de Doenças
(CID) ou outras Classificações de diagnóstico, científica e so-
cialmente reconhecidas, como fonte para enquadramento de
diagnóstico". Logo, usar códigos de classificação diagnósticas
é escolha nossa.

6. Já acompanho o cliente há um tempo em psicotera-


pia. Caso ele peça, posso emitir um Atestado Psicoló-
gico ou antes tenho que fazer a Avaliação Psicológica?
Já recebi essa pergunta diversas vezes e a minha resposta é
sempre a mesma: você avaliou o seu cliente? Gente, ter dados
aleatórios é diferente de ter realizado um processo de avalia-

139
CAPÍTULO 7

ção psicológica que, como vimos no capitulo anterior, requer


finalidade para a escolha de métodos e técnicas de coleta e
análise de dados. Logo, se você tem fundamentação técnico-
-cientifica dos dados de seu cliente que justifique o afastamen-
to, não faz sentido fazer outra avaliação! Mas se não avaliou
(ou fez uma avaliação com finalidade diferente da demanda
de agora), precisará realizar a avaliação psicológica que funda-
mente o afastamento.

5. RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS

1 Um atestado Psicológico certifica uma determinada situ-


ação, estado ou funcionamento psicológico. Para emissão
do documento, é necessário percorrer o caminho da ava-
liação psicológica para fundamentação em um diagnós-
tico psicológico as informações expressas no documento
(art. 10, tEapute § 2°).
2. A finalidade do Atestado Psicológico é a de afirmar as
condições psicológicas de quem, por requerimento, o so-
licita (art. 10, caput).
A) Documentar a comunicação do diagnóstico de condi-
ções mentais do cliente.
I. Justificar faltas e impedimentos em atividades laborais
e/ou acadêmicas para tratamento de saúde.
II. Justificar estar apto ou não para exercício de atividades
específicas.
III. Solicitar afastamento e/ou dispensa, tendo nexo de
causa e efeito com o diagnóstico ou estado psicológico.

140
ATESTADO PSICOLÓGICO

3. Conforme o art. 10, § 4°, de nossa resolução, "os Conse-


lhos Regionais podem, no prazo de até cinco anos, solici-
tar à(ao) psicóloga(o) a apresentação da fundamentação
técnico-científica do atestado".
4. O único documento possível na situação exposta é o Re-
latório Psicológico — ele pode conter dados de estado psi-
cológico sem estar condicionado ao processo de Avalia-
ção Psicológica.

141
CAPÍTULO 7

REFERÊNCIAS

1. Ferreira ABH. Dicionário da língua portuguesa. 5. ed. Curitiba: Po-


sitivo; 2010.
2. Conselho Federal De Psicologia. Resolução CFP N.° 06/2019. Bra-
sília: CFP; 2019.
3. Brasil. Lei 4119 de 27 de agosto de 1962. Diário Oficial da União.
Brasília: Poder Executivo; 05 de setembro de 1962.
4. Conselho Federal De Psicologia. Resolução CFP N.° 010/2005.
Brasília: CFP; 2005.

-
142
CAPÍTUL08
LAUDO PSICOLÓGICO

O que você irá ver nesse capítulo:

o Procedimentos de Coleto de Dados


A Avaliação Psicológica
Meu Método de Elaboração
Dúvidas comuns

Ag0000ra sim, chegamos ao Laudo Psicológico!!! Além do


Atestado Psicológico, documento estudado no capítulo passa-
do, aqui também estamos diante de um instrumento de co-
municação técnica que é produto de Avaliação Psicológica
- aliás, para ser mais exata, última etapa desse processo! Para
quem já era íntimo de documentos psicológicos, já produzia
instrumentos técnicos de comunicação escrita na vigência do
Manual de Elaboração de Documentos de 2003, pode "trazer
pra cá" seus conhecimentos sobre produção de "Relatório e/ou
Laudo Psicológico", vão ajudar muito!! Mas, veja bem, não é o
relatório que estudamos aqui no Capítulo 4 deste livro e sim o
de referência do nosso antigo manual, CFP 007/2003. Mas, se
não é seu caso, sem problemas! Estamos aqui, de propósito,
para aprender o como fazer. Vuumbora!
• Parte de mim quer te dizer que este capítulo é uma conti-
nuação do 6, quando revisamos pontos fundamentais de um
processo de Avaliação Psicológica. E tem uma explicação ób-
via, eu diria: se um Laudo Psicológico é a última etapa de um
processo de Avaliação Psicológica logo, as etapas que antece-
dem a elaboração documental são fundamentais para a cons-
143
CAPÍTULO 8

trução da escrita. Mas, e porque só uma "parte" minha quer di-


zer isso, você pode se perguntar... E a resposta é o formato: se
dividi esse nosso papo em capítulos, cada um deles precisa ter
início, meio e fim, não é verdade?
Muitas colegas, quando chegamos na parte de Laudo Psi-
cológico, estão ávidas por aprender algo extra-ordinário, o
"pulo do gato" para construir esse documento e, desde logo,
se for também seu caso, sinto te desapontar: a construção do-
cumental é simples e não exigirá habilidades diferenciadas em
relação às que você já tem:

O grande segredo de um bom Laudo Psicológi-


co está no planejamento prévio do processo de
Avaliação Psicológica e sua boa execução.

Lembra daquelas nossas perguntas "guia" para qualquer


produção documental? Pois bem, a gente vai precisar produzir
um Laudo Psicológico quando quem demanda o documento
para a gente precisa tomar uma decisão, fazer uma escolha
a partir de nosso posicionamento técnico, ou seja:

A finalidade do laudo psicológico é ancorar uma


decisão relacionada à demanda (uma de nossas
perguntas guia), apresentando informações téc-
nicas e científicas do fenômeno psicológico consi-
derando os condicionantes históricos e sociais da
pessoa, grupo ou instituição atendida'.

Eu nem preciso lembrar que o Laudo Psicológico é um do-


cumento técnico-científico, acredito que isso já esteja "gri-
tante" quando a gente sabe que ele é produto da Avaliação
Psicológica (mas, melhor pecar pelo excesso, não é mesmo? Na
repetição, garanto a retenção da informação). O Laudo Psicoló-
gico deve ser construído com uma:

144
LAUDO PSICOLÓGICO

Narrativa detalhada e didática, com precisão e


harmonia, tornando-se acessível e compreensível
ao destinatário, em conformidade com os precei-
tos do Código de Ética Profissional do Psicólogo,
exatamente da mesma forma que vimos em rela-
ção à produção dos relatórios psicológicos2.

Aqui, já antecipo que a qualidade narrativa não é dos dados


colhidos no processo de Avaliação Psicológica a partir de mé-
todos e técnicas: espera-se que a construção do documento
seja a narrativa do processo em si de Avaliação Psicológica;
informações "não tratadas" a partir de uma ancoragem teórica
não tem valor nenhum, ao não se quando apresentadas justi-
ficadamente, beleza?
Bom, para que eu possa produzir a comunicação sobre a
Avaliação Psidológica realizada em um documento - o Laudo
Psicológico, algumas definições e decisões iá foram tomadas
anteriormente, que nortearam o processo de investigação so-
bre condição, processo e/ou fenômeno psicológico. Vamos à
eles:

1. Questão: pergunta norteadora que será investigada no


processo de Avaliação Psicológica (o que se quer saber);
2. Finalidade: qual o objetivo de se investigar a questão
(para que se quer saber)?
3. Destinatário: quem receberá a resposta técnica da ques-
tão para tomar uma decisão (para quem é a resposta)?
4. Objetivos: o que se pretende com o processo de avalia-
ção psicológica? Aqui cabe ainda dividir por objetivo ge-
ral e específicos;
5. Hipóteses: quais hipóteses, levando em consideração
demanda, finalidade e destinatário, você levantou e que
o processo de avaliação psicológica, retificou ou ratificou
(essa parte é na análise documental)
145
CAPÍTULO 8

6. Escolha Procedimental: métodos e técnicas escolhidas


justificadas pela díade demanda -finalidade e ancoradas
no seu "filtro" teórico para análise dos dados coletados. A
clareza do raciocínio técnico que fundamentou essa es-
colha é fundamental, já que ela precisa aparecer em seu
documento.

Veja bem, para que falemos da etapa de produção docu-


mental propriamente dita, esses pontos supracitados precisam
estar claros e definidos, além de dados coletados. O Laudo Psi-
cológico concretizará o tratamento dos dados coletados a par-
tir da escolha procedimental, justificada pela questão central
que motivou a solicitação de avaliação ou documento técnico.
Vou compartilhar aqui o que Preto (2016) fala a esse respeito:

"Desta forma, as escolhas das técnicas devem


apresentar compatibilidade com a direção episte-
mológica adotada pelo profissional, visando ob-
viamente domínio dessas, mas também coerência
entre técnica e interpretação de dados3".

146
LAUDO PSICOLÓGICO

Façamos um esquema para ampliar sua percepção e enten-


dimento sobre o Laudo Psicológico:

• Considerar finalidade e destinatário;


Demanda
• Formular questão a ser respondida

• Levantamento de Hipóteses;
Definição • Escolha procedimental: método e
Metodológica técnicas reconhecidos pela científica
psicológica.

k oleta de dados]

Interpretação e Fundamentado em teoria e técnica


análise de dados compatível com procedimento

• Resposta à pergunta;
Conclusões e Øir
• Informações técnico científicas do
recomendações.
fenômeno psicológico.

Construção
documental

ENTREVISTA DEVOLUTIVA
(entrega do documento)

A definição da metodologia do trabalho, alinhada à deman-


da e finalidade da Avaliação, é fundamental para o alcance do
objetivo da prestação de serviços. Então, quero chamar a sua
atenção para clareza na exposição procedimental. Vamos lá!

147
CAPÍTULO 8

1. PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

a. Quantos encontros? Qual o tempo de cada encontro?


b. Quais as técnicas, verbais e não verbais, utilizadas (en-
trevistas, observações, intervenções)?
c. Utilizou Instrumentos (testes psicométricos, projetivos ou
impressionistas, questionários, escalas e etc.)?
d. Qual foi critério de escolha do(s) instrumento(s)?
e. Qual o referencial teórico do(s) instrumento(s) escolhi-
do(s)?
f. Existiu escuta de terceiros?
g. Houve visita em espaços externos?
h. Documentos emitidos por terceiros compuseram como
base de dados?

É importante que tenhamos clareza que quanto mais


complexo é o fenômeno que iremos investigar, mais* recursos
procedimentais devem ser escolhidos de maneira a acompa-
nhar a necessidade de coleta de dados.

2. A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Vamos dar um passinho para trás aqui: lembra que lá no


Capítulo 6, quando revisamos pontos fundamentais sobre
Avaliação Psicológica, te apresentei (e presenteei!) com uma
ferramenta de planejamento para a elaboração do processo de
Avaliação Psicológica (se não sabe do que eu estou falando,
volta lá)? Pois bem, se você analisar, o seu planejamento estru-
tura o seu raciocínio psicológico, um dos pilares fundamen-
tais que sustentam um bom Laudo Psicológico. Vou te dizer
com muita tranquilidade - você começa a elaborar o laudo no
momento do planejamento do processo de Avaliação! Então,
* É importante dizer que o"mais"aqui não faz referência a quantidade, mas a pertinên-
cia proporcional à demanda-finalidade documental.

148
LAUDO PSICOLÓGICO

planeje de propósito e, no momento da escrita, vai ser muito,


muito mais fácil.
Para a produção do laudo psicológico temos um acréscimo
de normalização norteadora, eu diria, já que além da constru-
ção dever ter como base os registros documentais" elaborados
por nós, em conformidade com a Resolução CFP n° 01/2009
(ou outras que venham a alterá-la ou substituí-la), a interpre-
tação e análise dos dados obtidos por meio de métodos, téc-
nicas e procedimentos reconhecidos cientificamente para uso
na prática profissional, devem estar ancorados conforme Reso-
lução CFP n°09/2018 (ou outras que venham também alterá-la
ou substituí-la). Para que não tenha trabalho, deixarei aqui em,
ao final do nosso módulo, essas duas resoluções, combinado?
Nosso documento deverá apresentar os procedimentos e
as conclusões resultantes do raciocínio técnico-científico na
avaliação psicológica, fundamentados teórico e tecnicamente,
considerando a demanda da avaliação (a demanda vai nortear
o que forneceremos de informação, nosso limite ético). Outro
ponto importante são as recomendações (para o demandante
ou o avaliando) do que você e eu entendemos importantes,
caso existam.
As informações necessárias e relacionadas à demanda são
(grifei de propósito, se ligue! Seu documento não tem que ter
todas essas informações, apenas de tiver relação com a de-
manda e couber, certo?):

1. Encaminhamento;
2. Intervenções;
3. Diagnóstico;
4. Prognóstico;
5. HipóteSe diagnóstica;
6. Evolução do caso;
7. Orientação e/ou sugestão de projeto terapêutico.
* Isso para qualquer documento e a gente já viu isso, não só para a produção de lau-
dos psicológicos.

149
CAPÍTULO 8

Particularmente penso que não deveríamos, a cada docu-


mento precisar marcar sobre o sigilo, já que o entendo como
Princípio Fundamental na elaboração de qualquer documen-
to. Seja produzindo documento sozinho ou compondo equipe
multiprofissional, a gente precisa sempre ter clareza de quais
são as informações realmente importantes para demanda e fi-
nalidade documental. Não é a toa que digo que o porquê e o
para que são nossas perguntas"guia"(se quiser incluir aio para
quem, fique a vontade, só ajuda!).
Já que falei de equipe multiprofissional, caso você faça par-
te de uma, e havendo solicitação de um documento decorren-
te da avaliação, o laudo psicológico ou informações decorren-
tes da avaliação psicológica poderão compor um documento
único. Nesse caso, cabe você registrar as informações necessá-
rias ao cumprimento dos objetivos da atuação multiprofissio-
nal, resguardando o caráter do documento como registro e a
forma de avaliação em equipe.
Bom, ditas todas essas coisas, vamos à estrutura de nosso
dOcumento. As informações devem ser apresentadas de for-
ma detalhada e, no caso do laudo psicológico, nossa resolução
orienta que seja em forma de itens, se ligue! O Laudo Psicoló-
gico então é composto de 6 (seis) itens:

1. Identificação;
a. Título:"Laudo Psicológico";
b. Nome da pessoa ou instituição atendida: identifica-
ção do nome completo ou nome social completo e,
quando necessário, outras informações sócio-demo-
gráficas;
c. Nome do solicitante: identificação de quem solicitou
o documento, especificando se a solicitação foi rea-
lizada pelo Poder Judiciário, por empresas, institui-
ções públicas ou privadas, pelo próprio usuário do
processo de trabalho prestado ou por outros interes-
sados;

150
LAUDO PSICOLÓGICO

d. Finalidade: descrição da razão ou motivo do pedido;


e. Nome da(o) autora(or): identificação do nome com-
pleto ou nome social completo da(do) psicóloga(o)
responsável pela construção do documento, com a
respectiva inscrição no Conselho Regional de Psico-
logia.

2. Descrição da demanda - descrição das informações


sobre o que motivou a busca pelo processo de trabalho
prestado, indicando quem forneceu as informações e as
demandas que levaram à solicitação do documento;
a. A descrição da demanda constitui requisito indis-
pensável e deverá apresentar o raciocínio técnico-
-científico que justificará procedimentos utilizados.

3. Procedimento - Apresentação do raciocínio técnico-


-científico que justifica o processo de trabalho realizado
pela(o) psicóloga(o) e os recursos técnico-científicos utili-
zados no processo de avaliação psicológica, especifican-
do o referencial teórico metodológico que fundamentou
suas análises, interpretações e conclusões. Citar:
a. As pessoas ouvidas no processo;
b. As informações objetivas,
c. O número de encontros e
d. O tempo de duração do processo realizado.

4. Análise - exposição descritiva, metódica, objetiva e coe-


rente com os dados colhidos e situações relacionadas à
demanda em sua complexidade considerando a natureza
dinâmica, não definitiva e não cristalizada do seu objeto
de estudo.

* Os procedimentos adotados devem ser pertinentes à complexidade do que está


sendo demandado e a(o) psicóloga(o) deve atender à Resolução CFP n°09/2018, ou
outras que venham a alterá-la ou substituka.

151
CAPÍTULO 8

a. Respeito à fundamentação teórica que sustenta o


instrumental técnico utilizado, bem como os princí-
pios éticos e as questões relativas ao sigilo das infor-
mações. Somente deve ser relatado o que for neces-
sário para responder a demanda, tal qual disposto
no Código de Ética Profissional do Psicólogo.
b. As afirmações devem ter sustentação em fatos ou te-
orias, devendo ter linguagem objetiva e precisa, es-
pecialmente quando se referir a dados de natureza
subjetiva.

5. Conclusão - Descrição de conclusões a partir do que foi


relatado na análise, considerando a natureza dinâmica e
não cristalizada do seu objeto de estudo;
a. Indicação dos encaminhamentos e intervenções,
diagnóstico, prognóstico e hipótese diagnóstica,
evolução do caso, orientação ou sugestão de projeto
terapêutico (em harmonia com a demanda).
Ia. Indicação do local de realização;
c. Data de emissão;
d. Carimbo, em que conste nome completo ou nome
social completo da(o) psicóloga(o), acrescido de sua
inscrição profissional;
e. Todas as laudas numeradas, rubricadas da primeira
até a penúltima lauda, e a assinatura da(o) psicólo-
ga(o) na última página.
f. (Opcional) É facultado à(ao) psicóloga(o) destacar,
ao final do laudo, que este não poderá ser utilizado
para fins diferentes do apontado no item de identi-
ficação, que possui caráter sigiloso, que se trata de
documento extrajudicial e que não se responsabiliza
pelo uso dado ao laudo por parte da pessoa, grupo
ou instituição, após a sua entrega em entrevista de-
volutiva.

152
LAUDO PSICOLÓGICO

6. Referências - Na elaboração de laudos, é obrigatória a


informação das fontes científicas ou referências bibliográ-
ficas utilizadas, em nota de rodapé, preferencialmente.

3. MEU MÉTODO DE ELABORAÇÃO

Bom, depois de passearmos pelos pontos fundamentais na


elaboração de um Laudo Psicológico, vou compartilhar com
você a minha forma de produzir que, como costumo dizer, é
contraintuitiva: a melhor forma que encontrei, até aqui, foi
construir o documento do fim para o início, na sequência in-
dicada pela nossa resolução: isso faz com que eu crie margens
para os dados que deverei tratar em minha comunicação es-
crita, fazendo do meu trabalho mais objetivo e com limites do
sigilo delineados.
A gente não pode perder de vista que em um processo de
Avaliação psicológica teremos muito mais informações sobre o
sujeito e/ou grupos do que o demandado pelo documento ou
posicionamento técnico. Saber o que e até onde dizer é fun-
damental para uma prática ética com a manutenção do sigilo
profissional:

"O conteúdo psicológico do laudo está associado


aos resultados colhidos no decorrer do processo:
resultados (dos testes, entrevista, observação e
demais estratégias), histórico (histórico pessoal,
familiar, do sofrimento mental etc.), análise, inter-
pretação, correlações etc., além de que, faz parte
do conteúdo psicológico do laudo a teoria psico-
lógica que sustenta a avaliação4"

153
CAPÍTULO 8

Perceba que a referência para a produção documental é


sempre ao nosso trabalho técnico - um documento é apenas
a comunicação de esse fazer e é isso que estamos aprendendo
aqui: a aprimorar nossa comunicação. Bom, partimos para pla-
nejar a Avaliação a partir de uma demanda para um fim: que
questão é essa que devo responder? (resgate a Ferramenta
de Planejamento do capítulo 6). Depois de findadas as etapas
de Coleta e Análise de dados (da Avaliação psicológica), você
vai responder à questão (o que corresponde a um rascunho
da conclusão de seu Laudo Psicológico). Posteriormente, você
deve apresentar argumentos que sustentam a sua resposta,
o seu posicionamento técnico (o que não tem relação com
a resposta, não deve aparecer, combinado?). Após isso, apre-
sente a forma que colheu esses dados, essas informações que
sustentam seus argumentos; os critérios que elegeu para es-
colher os procedimentos; o nexo de causalidade deles com a
demanda (construção do raciocínio psicológico), percebe? Va-
mos à um es-quema explicativo para "arrumar" melhor o que
acabei de dizer:

Item
Documental

1° Passo Clareza da questão a ser respondida Demanda

Resposta da pergunta +
1. Encaminhamento;
2. Intervenções;
3. Diagnóstico;
2° Passo 4. Prognóstico; Conclusão
5. Hipótese diagnóstica;
6. Evolução do caso;
7. Orientação e/ou sugestão de projeto
terapêutico.

Quais argumentos sustentam sua


3° Passo Análise
resposta?

154
LAUDO PSICOLÓGICO

Item
Documental

Como você teve acesso a esses dados?


Demonstração de nexo causal entre a
4° Passo Procedimento
forma de coleta de dados e a demanda
(pergunta)

5° Passo Identificação Identificação

6° Passo Referências Referências

4. DÚVIDAS COMUNS

1 Eu já fiz uma Avaliação Psicológica antes da solicita-


ção do documento. Posso usá-la para produção do
Laudo Psicológico solicitado?
Veja bem,.a Avaliação Psicológica realizada anteriormente
era com a mesma demanda e para a mesma finalidade do pe-
dido atual? Se sim, há ou-tro ponto importante para pensarmos:
validade. Qual o intervalo de tempo você entende que deve
haver uma reavaliação? Se demanda-finalidade é a mesma e
está em um tempo que você entende válido, não há por que
fazer outra avaliação. Mas se não for o caso, um novo processo
de Avaliação Psicológica deverá ser realizado e executado.

2. Sou obrigada a utilizar testes psicológicos para pro-


duzir um Laudo Psicológico?
Gente, primeira coisa que precisamos ter em mente: um
Laudo Psicológico é um instrumento de comunicação do tra-
balho profissional e não uma técnica psicológica. Não vamos
usar nenhuma técnica ou instrumento para produzir um lau-
do e sim, para executar a Avaliação Psicológica, previamente
planejada, se houver nexo causal com a demanda-finalidade
que originou a avaliação. Testes Psicológicos são um tipo de

155
CAPÍTULO 8

instrumento de coleta de dados, mas não são os únicos. Para


que você realize uma Avaliação Psicológica você pode ou não
fazer uso de testes psicológicos para coletar informações de
pessoas, grupos e/ou organizações.

3. Tenho sempre que apresentar diagnóstico no Laudo


Psicológico?
O que norteará a nossa comunicação é sempre o que foi
perguntado para nós, profissionais de psicologia. Para a de-
manda-finalidade originaria da Avaliação Psicológica é (ou foi)
preciso produção diagnóstica? Se sim, você deverá apresentar
em seu documento, caso contrário, não. Outra dúvida bastante
comum quando se fala em diagnóstico é se ele deve ser apre-
sentado em formato classificatório (CID ou DSM). Essa é uma
opção. O diagnóstico (ou a hipótese diagnóstica) dever estar
ancorado técnico-cientificamente, mas a nosologia não é a
única forma de fazer'. Escolha seu caminho!

4. Devo fazer constar que escutei outras pessoas no pro-


cesso de Avaliação Psicológica?
Todos os procedimentos utilizados para coletar dados em
um processo de Avaliação Psicológica devem ser relatados no
documento técnico e devem ter um nexo de causalidade com
a demanda-finalidade documental. Se como recurso de coleta
de dados, você ouviu outras pessoas, fez visitações, colheu do-
cumentos diversos, tudo deve constar em seu documento, na
parte de apresentação dos Procedimentos.

* Lembre-se que quando diante de processos judiciais e/ou Justiça do Trabalho, é im-
prescindível apresentação de CID.

156
LAUDO PSICOLÓGICO

5. Devo colocar o resultado de todos os testes aplicados


no Laudo Psicológico?
A escolha dos procedimentos de coleta de dados, feita na
etapa de planejamento do processo de Avaliação Psicológica,
deve ter relação direta com a demanda-finalidade documen-
tal, logo, todos os instrumentos utilizados devem se justificar
como meio para fechar ao fim de posicionar-se tecnicamente.
Não faz sentido a utilização de algum instrumento que não
agregue diretamente informações sobre o fenômeno ou pro-
cesso psicológico investigado.

6. Posso apresentar o documento em texto corrido?


Não. Especificamente no caso do Laudo Psicológico, a orien-
tação é para que a apresentação documental ocorra por itens,
se-pa-ra-da-men-te. Vale lembrar de cada um deles:
1. Identificação;
II. Descrição da Demanda;
111. Procedimentos;
IV. Análise;
V. Conclusão;
VI. Referências.

7. Preciso, na conclusão do meu Laudo Psicológico, fa-


zer todas as indicações solicitadas na Resolução CFP
06/2019?
A conclusão precisa ser a resposta, o posicionamento téc-
nico a uma questão, ancorada por dados colhidos por proce-
dimento selecionado para esse fim. Normalmente essa respos-
ta apoiará uma decisão que tem relação direta com o que foi
questionado à você. Quando, ao final do documento, além de
respondermos o que nos foi questionamento, complementa-
mos a informação, dando movimento àquele tempo de avalia-
ção com a gente, fazemos em respeito ao sujeito avaliado. As
possibilidades:

157
CAPÍTULO 8

a. Encaminhamento;
b. Intervenções;
c. Diagnóstico;
d. Prognóstico;
e. Hipótese diagnostica;
f. Evolução do caso;
g. Orientação e/ou sugestão de projeto terapêutico.

REFERÊNCIAS

1. Conselho Federal De Psicologia. Resolução CFP N.° 06/2019. Bra-


sília: CFP, 2019.
2. Conselho Federal De Psicologia. Resolução CFP N.° 06/2019. Bra-
sília: CFP, 2019.
3. Preto, Ca'ssia. Laudo Psicológico. Curitiba: Juruá, 2016.
4. Lourenço, Arlindo; Ortiz, Marta; Shine, Sidney. Produção de do-
cumentos em Psicologia: prática e reflexões teórico-criticas. São
Paulo: Vetor Editora, 2018.

158
CAPÍTUL09
EXTRAPOLANDO

O que você irá ver nesse capítulo:

o Registros Documentais
Objetivos da Prestação de Serviços
G Psicoterapias

Ahhhh, que maravilha!! Se você chegou aqui, suponho que


tenha aceitado os meus "Vuuuumbora" ao longo desse livro,
passeado e aprofundado pelos diferentes tipos de documen-
tos escritos, como instrumentos de comunicação de nosso fa-
zer profissional. E fico muito feliz e honrada de ter te feito par
nessa Jornada. Mas assim oh, esse caminho que fizemos são
apenas dois dos três pilares básicos de uma boa escrita: Técni-
ca e Método; mas tem um terceiro pilar que por mais "sabidos"
que sejamos, sem, nossa comunicação escrita não se susten-
ta: a Prática! E assim, por mais que tenha entendido tudo que
compartilhei com você ao longo desse material, é a prática que
vai te fazer"afiar o machado". Então: escreva, escreva e escreva,
combinado?

159
CAPÍTULO 9

Método

K r\ Comunicação Escrita
Segura e Funcional

Técnica Prática

Fonte: Autoria própria.

Bom, feito esse combinado, escolhi, nesse capitulo (quase!)


final, fazer algumas considerações que, para mim, são super
importantes e. valiosas: são pontos que extrapolam (entendeu
o título de nosso capítulo?) os "documentos técnicos" escritos
por profissionais de psicologia descritos na Resolução CFP
06/2019 mas que devem ser também documentados por
nós em nossas práticas profissionais, independente de área
de atuação ou vinculação institucional. Escolhi três pontos
para conversarmos:

1. Registros Documentais;
2. Objetivos da Prestação de Serviços;
3. Psicoterapias.

Alguns desses pontos que trataremos aqui são de produção


obrigatória em nossa prática, outro são deveres, mas não ne-
cessariamente precisam estar documentados. Há também os
que são de estilo profissional, você faz ou não, você escolhe!
Mas calma, conversaremos, já que cabe um mundo em extra-

160
EXTRAPOLANDO

polações e, em algum momento, a gente precisa encerrar esse


nosso papo aqui neste livro, não é verdade? Então, vuumbora!

1. REGISTROS DOCUMENTAIS

Esse é ponto super importante e muitas vezes negligen-


ciado - Registros Documentais e Prontuários Psicológicos de-
correntes de nossas prestações de serviços. Aqui ainda entram
dúvidas e confusões sobre transcrição de sessões e anotações
pessoais da profissional de psicologia para hipóteses diagnós:
ticas e estruturação do raciocínio psicológico, por exemplo.
Esse nosso dever de registrar e produzir esses documentos
está expresso na Resolução CFP 01/2009, que dispões sobre a
obrigatoriedade de registro em documentos da prestação
de serviço prestado por profissionais de psicologia e tem
por objetivo:

"Contemplar de forma sucinta o trabalho presta-


do, a descrição e a evolução da atividade e os pro-
cedimentos técnico-científicos adotados".

Veja bem, não é uma escolha profissional, mas um dever! E


digo mais: se você aprende a "fazer direito" seus registros pro-
venientes_c
ja_prestação de organizado
e atualizado, fica muito, muito mais fácil de elaborar qualquer
documento escrito para a comunicação de prestação de servi-
ço estudado ao longo desse livro, quando solicitado.
Seu Prontuário e/ou Registro Documental da prestação de
serviço devem, no mínimo, conter:
I. identificação do usuário/instituição;
II. avaliação de demanda e definição de objetivos do traba-
lho;

161
CAPÍTULO 9

III. registro da evolução do trabalho, de modo a permitir o


conhecimento do mesmo e seu acompanhamento, bem
como os procedimentos técnico-científicos adotados;
IV. registro de Encaminhamento ou Encerramento;
V. documentos resultantes da aplicação de instrumentos de
avaliação psicológica deverão ser arquivados em pasta de
acesso exclusivo do psicólogo;
VI. cópias de outros documentos produzidos pelo psicólogo
para o usuário/instituição do serviço de psicologia pres-
tado, deverão ser arquivadas, além do registro da data de
emissão, finalidade e destinatário2.

Desenvolver seu próprio estilo de construção de registro


documental, definindo forma, método e conteúdo podem ser
boa base para produção de diferentes documentos discutidos
aqui, lembrando que há . Então, vamos prosear um pouco so-
bre esse tema formato pergunta e resposta.

a. Não entendi: temos a Resolução CFP 06/2019 falando


dos documentos técnicos escritos, que são cinco (con-
siderando Relatório Psicológico e Multiprofissional
um só) e temos outra resolução também falando de
documentos obrigatórios?

Veja bem: os documentos que estudamos ao longo desse


livro (Declaração, Atestado, Relatórios, Laudo e Parecer Psi-
cológicos) são instrumentos de comunicação de nosso fazer
- são destinados à outras pessoas interessadas por demanda
e finalidade especificas e produzidos a partir de solicitação. O
Registro Documental e Prontuário Psicológico são anotações
provenientes de nossa prestação de serviço - uma evolução da
atividade. A finalidade é o registro histórico da atividade psi-
cológica.

162
EXT RAPO LAN DO

✓ Declaração;
Produzidos a partir
v Atestado Psicológico;
de solicitação com
✓ Relatórios;
demanda e finalidade
Y Laudo PsióDlógico;
especificas
✓ Parecer Psicológico.

Obrigatória produção a
✓ Registro Documental;
partir da Prestação de
✓ Prontuário Psicológico.
Serviços Psicológicos

✓ Anotações Pessoais;
• Transcrição de Atendimento;
✓ Objetivos da Prestação de
Serviços (art.10 do Código de Decisão da profissional
Ética Profissional, "f" - Infor-
mar é dever; fazer por escrito,
escolha);

b. Sou obrigada a fazer Registro Documental sempre?

Sempre que você prestar serviços psicológicos, indepen-


dente da área de atuação ou vinculação institucional, é seu de-
ver produzir os registros de sua prestação de serviço! Vamos lá
para o art. 1° da Resolução CFP 01/2009:

Art. 1°. Tornar obrigatório o registro documental


sobre a prestação de serviços psicológicos que
não puder ser mantido prioritariamente sob a
forma de prontuário psicológico, por razões que
envolvam a restrição do compartilhamento de
informações com o usuário e/ou beneficiário do
serviço prestado'.

Aqui está expressa nossa obrigatoriedade de documentar


nossa prestação de serviços, independente de área de atua-
ção profissional (aqui não estamos falando dos documentos

163
CAPÍTULO 9

previstos pela Resolução CFP 06/2019, que são produzidos a


partir de solicitação e que estudamos aqui ao longo desse li-
vro). Veja, inclusive aqui nesse artigo que apresentei já há uma
marca sobre a diferença de Registro Documental e Prontuário
Psicológico e a margem dessa diferenciação é a possibilidade
de compartilhamento de informações. O que muitos colegas
não sabem ou esquecem é que, como profissionais de saúde,
precisamos observar regulamentações para além de nossa ca-
tegoria profissional (apesar de que elas normalmente são leva-
das em consideração na edição de normativas profissionais) e
aqui quero já te indicar fortemente estudar uma re_gulamenta-
ção do Ministério da Saúde - Portaria 1.820 de 13 de agosto de
2009, que dispõe sobre os direitos e deveres dos usuários da
saúde. Sim, também somos profissionais de saúde e precisa-
mos garantir aos usuários de nossos serviços os direitos previs-
tos na legislação. Como é uma regulamentação que abrange
obrigação para todos os profissionais de saúde, existem pedi-
dos de registrto não compatíveis com a natureza da prestação
de serviço psicológico e, claro, cabe a nós fazer essa "peneira".
O que é mais importante: conhecer e garantir os direitos das
pessoas atendidas por você. Então, caso ainda não aconteça:
vamos garantir o registro documental sempre, combinado?

c. Registro Documental e Prontuário Psicológico é a


mesma coisa ou preciso fazer os dois?

Não, estamos falando de documentos diferentes! E a dife-


rença básica está no direito de acesso de cada um dos produ-
tos da prestação de serviços. Enquanto os Registros Documen-
tais são sigilosos e estão disponíveis apenas para o Sistema
Conselhos (Federal e Regionais) - para orientação e fiscaliza-
ção, o Prontuário Psicológico é direito do usuário do serviço e/
ou responsáveis. E aqui cabe te fazer uma pergunta: tudo que
você registra a partir da prestação de serviço - hipóteses diag-
nósticas, processos psicológicos, raciocínio psicológico, técni-

164
EXTRAPOLANDO

cas, intervenções, escolha e justificativa procedimental, cabem


compartilhamento com seu cliente em caso de solicitação ou
mesmo com outros membros da equipe, caso existam? Marco
dessa forma para que perceba que sim, esses dois documen-
tos, Registro e Prontuário, precisaram ser produzidos, organi-
zado e atualizado, independente de solicitação, sendo que o
Prontuário pode ser acessado pelo usuário do Serviço Psico-
lógico e o Registro Documental não. Agora, se você entender
que tudo que consta em seu Registro Documental poderá ser
compartilhado com o seu cliente ou responsável (e para quem
ele escolha compartilhar) e equipe multidisciplinar (caso faça ,
parte), que não há nenhum "ruído" com o sigilo profissional
(que é sua responsabilidade), neste caso você pode fazer um
apenas.

d. Caso seja solicitada, devo entregar minhas anotações


pessoais sobre a prestação de serviço?

Para considerar responder sim ou não a essa pergunta,


estaríamos diante de um terceiro tipo de registro decorrente
da prestação de serviços psicológicos: "anotações pessoais".
Alguns colegas ainda falam de "transcrição das sessões ou de
atendimentos", o que poderia ser entendido como um quarto
documento. Colega, veja bem: nenhum desses dois documen-
tos, anotações pessoais e/ou transcrições de atendimento, são
previstos em legislação profissional. Significa que você não
pode fazer? Não! Significa que ninguém poderá cobrá-la por
eles, entende? Nossa obrigação profissional é produzir, organi-
zar e atualizar sempre os Registros da Prestação de Serviços
e o Prontuário Psicológico, beleza?

165
CAPÍTULO 9

e. O que devo fazer constar no Prontuário Psicológico?

Para responder essa, só recorrermos à nossa Resolução CFP


01/2009, lá está descrito direitinho sobre o que é necessário
constar em um Prontuário Psicológico - similar ao Registro Do-
cumental. A descrição sobre Prontuário está no artigo 5°, mas
inicia referenciando o artigo 2°. Vamos a ele:

Art. 2'. Os documentos agrupados nos registros


do trabalho realizado devem contemplar:
I - identificação do usuário/instituição;
II - avaliação de demanda e definição de objetivos
do trabalho;
III - registro da evolução do trabalho, de modo a
permitir o conhecimento do mesmo e seu acom-
panhamento, bem como os procedimentos técni-
co-científicos adotados;
IV - registro de Encaminhamento ou Encerramento;
V - documentos resultantes da aplicação de ins-
trumentos de avaliação psicológica deverão ser
arquivados em pasta de acesso exclusivo do psi-
cólogo.
VI - cópias de outros documentos produzidos pelo
psicólogo para o usuário/instituição do serviço de
psicologia prestado, deverão ser arquivadas, além
do registro da data de emissão, finalidade e desti-
natário'.

Ainda no artigo 5°, há considerações sobre Prontuário na


prestação de serviços para grupos. Setor seu caso, recomendo
que faça a leitura diretamente na Resolução. Lembre que o Pron-
tuário, de direito do usuário e/ou responsável de serviços de
saúde (para além da Psicologia), é compartilhado pela equipe
multidisciplinar - deve ser um registro objetivo e sucinto, con-
tendo informações essenciais para qualificação do trabalho.
166
EXTRAPOLANDO

2. OBJETIVOS DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

Esse é um ponto que quero te convidar a pensar: os objeti-


vos da sua prestação de serviços. E sei que essa conversa gera
preocupações, então vamos conversar! Bom, primeiro ponto
em relação a isso é lembrar que comunicar nosso"alvo"a partir
do desenvolvimento de nossas atividades é nosso dever. Re-
-lembremos aqui nosso Código de Ética Profissional, quando
descritas as responsabilidades da profissional de Psicologia,
art.1°, sobre nossos deveres:

f) Fornecer, a quem de direito, na prestação de


serviços psicológicos, informações concernentes
ao trabalho a ser realizado e ao seu objetivo pro-
fissional2;

Aqui é que vem a minha pergunta: como você faz isso?Veja


bem, é nosso dever fornecer, independente de solicitação - ter-
mos de trabalho e objetivos (além, é claro, de fazer constar no
Prontuário Psicológico). Não há obrigatoriedade de que essa
cessão seja feita por escrito, mas eu defendo que sim - você
documenta o que planeja enquanto "destino" da prestação de
serviço, alinhando expectativa, percebe? Vou te fazer duas per-
guntas e torço que, para cada pessoa, grupo ou organização
que te procure ou que você proponha um trabalho, você res-
ponda nas negociações da prestação de serviços:

1) O que você entrega (ou pretende entregar)


pelo preço que você cobra?
2) E de que maneira será essa entrega?

Deixa isso bem claro, bem amarradinho é nosso dever! E


minha sugestão para você é que entregue essas informações
por escrito. Primeiro, por que você garante que a pessoa tenha
em mãos o que você escreveu não aquilo que ela entende (e

167
CAPÍTULO 9

que pode chegar alterado ou distorcido pela circunstancia e


contexto da procura); segundo, pela possibilidade de quem te
procura ter clareza do que pode (e do que não pode!) esperar
ao longo da prestação de serviços e; terceiro, para que você te-
nham possibilidade de re-avaliar periodicamente os objetivos
e conquistas do processo de trabalho. E se quiser ainda, um
argumento "plus": com uma proposta de trabalho por escrito,
a pessoa que planeja contratar uma profissional de psicologia,
terá mais que localização e preço para fazer a escolha do pro-
fissional na hora de decidir. Penso ser uma ótima apresentação
- inclusive um diferencial. Vai dar trabalho? Certamente! Mas
se fosse fácil, todo mundo faria... Bom, vamos bater um papo,
perguntas que já chegaram à mim sobre esse ponto 2:

a. Como eu vou prever o que meu cliente vai alcançar?

Veja bem: não é sobre onde ele vai chegar, mas para onde
você, prestadora de serviço, irá orientar o trabalho! E é bem
importante falarmos sobre isso pois, quando estou trilando
um caminho, não significa necessariamente que chegarei ao
destino ou, em chegando, que vai ser o que eu esperava ou
precisava, entende? Logo, faz parte de um bom trabalho a re-
-avaliação dos objetivos do trabalho desenvolvidos, inclusive
para que, se entenderem necessário, alteração de rota no per-
curso do desenvolvimento do trabalho, beleza?
Bom, ditas essas coisas, o que você pretende com sua pres-
tação de serviços? Penso que parte de nossa dificuldade em
responder essa pergunta é que pensamos mais nas aborda-
gens e/ou escolas psicológicas que nas demandas cotidianas
dos beneficiários de nosso trabalho - o estabelecimento do
valor de nossa prestação de serviços é vinculado aos benefí-
cios que pessoas, grupos e/ou organizações podem alcançar a
partir de nosso trabalho.

168
EXT RAPO LAN DO

O que você entrega ou pretende entregar


Valor
na Prestação de Serviço

O quanto você cobra para fazer a entrega


Preço
de Valor

b. Eu sempre soube que fazer previsão de resultado da


atividade psicológica é antiético. Estou confusa com
essa sua indicação!

Muitos colegas se angustiam na hora de traçar objetivos da


prestação de serviços por acreditarem que a prática é antiética.
E isso acontece, acredito, par falta de leitura. O que está escri-
to em nosso Código de Ética Profissional e que faz gerar esse
"ruído":

Art. 20.— O psicólogo, ao promover publicamente


seus serviços, por quaisquer meios, individual ou
coletiva mente:
e) Não fará previsão taxativa de resultados2;

Destaco duas expressões importantes aqui:


1. "Promover publicamente": perceba que o "caput" o art.
20 fala sobre divulgação da prestação de serviço. Ou seja,
nem de longe é sobre a execução do trabalho, mas a pro-
moção publica.
2. "Taxativa": Há uma diferença entre eu traçar um destino
no GPS, antes de começar a viagem, e garantir "taxativa-
mente" que chegaremos lá: no caminho podem aconte-
cer novos olhares, mudança de rota. Mas, nada do que
ocorra nega que começamos a caminhar a partir de uma
escolha, entende? Faço essa metáfora para te mostrar
que mesmo quando delineamos um objetivo com a nos-
sa prestação de serviço, nada impede que revisemos. Por

169
CAPÍTULO 9

isso o "taxativa" cabe bem (apesar de que nem é sobre


isso que o adjetivo se refere).

Para colocar mais ainda temperinho nessa conversa, rati-


ficando a necessidade de fornecimento de informações para
quem contrata seus serviços: Resolução CFP 01/2000, que es-
pecifica e qualifica a Psicoterapia como prática de profissionais
de Psicologia, art.2°:

Art. 2°- Para efeito da realização da psicoterapia, o


psicólogo deverá observar os seguintes princípios
e procedimentos que qualificam a sua prática:
III - esclarecer à pessoa atendida o método e as
técnicas utilizadas, mantendo-a informada sobre
as condições do atendimento, assim como seus
limites e suas possibilidades3;

Mais uma.normativa, além do próprio Código de Ética Pro-


fissional, que marca a necessidade de fornecimento de infor-
mações sobre a prestação de serviços, incluindo os objetivos
do trabalho. Minha defesa é para que faça isso documentando,
isso certamente te diferenciará, fazendo com que preço ou lo-
calização não sejam, muitas vezes, únicos critérios de escolha,
vai por mim!

3. PSICOTERAPIAS

Vamos falar de Psicoterapias, já que essa é a prática mais


comum na prestação de serviços psicológicos! Fiz questão de
colocar no plural (você percebeu?) justamente por que, dentro
das ciências psicológicas há uma diversidade nas possibilida-
des, manejos e condutas. Mas, independente de ancoragem,
Processos psicoterapêuticos devem ser estruturados numa
perspectiva tridimensional:

170
E XT RA PO LAN DO

"Que se realiza através da


Compreensão
aplicação sistematizada e con-
trolada de métodos e técnicas
psicológicas reconhecidos pela
ciência, pela prática e pela ética
profissional, promovendo a
Análise Intervenção
saúde mental e propiciando con-
dições para o enfrentamento de
conflitos e/ou transtornos psíqui-
cos de indivíduos ou grupos".

Mesmo não sendo uma extrapolação direta de documentos


técnicos, não poderia não trazer esse ponto aqui: a Resolução
CFP 01/2000, que especifica e qualifica a Psicoterapia como
prática de profissionais de Psicologia, art. 20:

Para efeito da realização da psicoterapia, o psi-


cólogo deverá observar os seguintes princípios e
procedimentos que qualificam a sua prática:
II - pautar-se em avaliação diagnóstica fundamen-
tada, devendo, ainda, manter registro referente ao
atendimento realizado: indicando o meio utiliza-
do para diagnóstico, ou motivo inicial, atualiza-
ção, registro de interrupção e alta3;

Mas qual o motivo de escolher trazer esse ponto aqui: para


iniciar um processo psicoterápico, precisamos realizar psico-
diagnóstico e, claro, fazer constar o processo em nossos Regis-
tros Profissionais. E aí, me conte: está correndo tudo bem por
ai com isso?

171
CAPÍTULO 9

Nessa resolução inclusive, há referências à documentos, ve-


jamos ainda o artigo 2°:

III - esclarecer à pessoa atendida o método e as


técnicas utilizadas, mantendo-a informada sobre
as condições do atendimento, assim como seus
limites e suas possibilidades;
IV - fornecer, sempre que solicitado pela pessoa
atendida ou seu responsável, informações sobre o
desenvolvimento da psicoterapia, conforme o Có-
digo de Ética Profissional do Psicólogo3; _

Algumas considerações: o item III refere-se ao que tratamos


no ponto 2 deste capítulo. Fiz questão de trazer aqui para re-
forçar o que falamos lá; o IV: é nosso dever informar, sempre
que solicitado. Agora, a pergunta: como você faz isso? Nesta
reta final, acredito que não há dúvida: esclarecendo a finalida-
de da solicitação, a melhor forma é via Relatório Psicológico. E
aqui, uma marca: a fonte de dados desse documento técnico
são os Registros Documentais, que vimos no ponto 1 deste ca-
pítulo. Percebe que se fizermos nosso trabalho direitinho, tudo
se encaixa?

Agora é mão na massa!!

172
EXTRAPOLANDO

REFERÊNCIAS

1. Conselho Federal De Psicologia. Resolução CFP N.° 01/2009. Bra-


sília: CFP, 2009.
2. Conselho Federal De Psicologia. Resolução CFP N.° 010/2005.
Brasília: CFP, 2005.
3. Conselho Federal De Psicologia. Resolução CFP N.° 001/2000.
Brasília: CFP, 2000.

173
CAPÍTUL01 O
CONSULTA RÁPIDA

"Digo: o real não está


na saída nem na chegada:
ele se dispõe para agente é no
meio da travessia"

Guimarães Rosa

Percebeu que está difícil acabar, não é? Até porque meu


objetivo com esses escritos, nem de longe, foi encerrar, mas
abrir conversa, aprofundar, multiplicar possibilidades. Foi um
processo difícil, eu diria, que até virou tema em minha psico-
terapia - a cada coisa escrita aqui, sempre abre espaço para
dúvida se há algo por dizer... E sempre há - no conteúdo, na
forma. E tudo bem. Quando falamos da prática profissional em
psicologia, ainda mais sobre comunicação escrita de nossas
atividades, acredito profundamente e por experiência:

É um e-terno formar-se, crescer, voltar duas


casas, corrigir, seguir.

Bom, mas essas letras aqui tem que ter fim, pelo menos por
hora. E escolhi terminar da melhor forma que acredito: fazendo
com que você retorne sempre.

175
CAPÍTULO 10

Fiz uns esquemas - algumas pessoas chamariam de Flu-


xograma, outras de Mapas Mentais, baseados na nossa Reso-
lução de referência CFP 06/2019. Chame como preferir! Faça
deles fonte de consulta e retorne sempre que precisar ou de-
sejar lembretes rápidos, como gatilhos para comunicar-se por
escrito. Deixa te antecipar os esquemas que você encontrará
por aqui:

1. Documentos Técnicos;
2. Demanda Documental;
3. Finalidade Documental;
4. Fonte de Dados;
5. Declaração;
6. Atestado Psicológico;
7. Relatórios - Psicológico e Multiprofissional;
8. Laudo Psicológico;
9. Parecer Psicológico;
10. Considèrações Importantes;
11. Registro Documental da Prestação de Serviços Psicológicos;
12. Prontuários Psicológicos.

No mais, te desejo força, coragem, disciplina e sonho. De


propósito. Foi um prazer fazer esse caminho com você!

176
CONSULTA RÁPIDA

1. DOCUMENTOS TÉCNICOS

Instrumentos de Comunicação Escrita a


partir da Prestação de Serviços Psicológicos
(pessoa, grupos e/ou organizações)

Sistematização da conduta
profissional a partir da
prestação de serviço

Princípios Fundamentais de Elaboração:


DOCUMENTOS A. Princípios de Linguagem Técnica;
TÉCNICOS B. Princípios Técnico Científicos;
C. Princípios Éticos.

Produzidos Quem pode solicitar:


mediante 1. Usuário do serviço de Psicologia;
solicitação 2. Seus responsáveis legais;
3. Um profissional específico;
4. Equipes multidisciplinares;
5. Autoridades;
6. Resultado de um processo de
avaliação psicológica.

177
CAPÍTULO 10

2. DEMANDA DOCUMENTAL

Há necessidade de fazer constar informações técnicas da pessoa, grupo

1
ou organização atendida?

Sim Não

As informações necessárias
As informações necessárias
para embasar a construção do
versam sobre a rotina da
documento já constam em seus
prestação de serviços?
registros documentais?

'
Não, precisarei Sim Sim
realizar Avaliação
Psicológica

Relatório Declaração
ri Psicológico

Levando em consideração
Apresentação de análise técnica
a finalidade e demanda
sem informações de um sujeito,
documental, faz-se necessário
grupo ou organizações?
expor o raciocínio psicológico?

Sim Não Sim Não

Laudo Atestado Parecer Volte para o


Psicológico Psicológico Psicológico início, algo
você deixou
passar!

178
CONSULTA RÁPIDA

3. FINALIDADE DOCUMENTAL

1. Registro de informações sobre a rotina


da prestação de serviço (em andamento ou Declaração
finalizado);

2. Informar sobre condições psicológicas;


3. Justificar faltas e impedimentos;
4. Justificar estar apto ou não para atividades Atestado
específicas; Psicológico
5. Solicitar afastamento e/ou dispensa,
subsidiada na afirmação atestada do fato;

6. Posicionamento técnico sobre a prestação


de serviços psicológicos (em andamento ou
finalizado);
Relatórios
a. Informar;
(Psicológico ou
b. orientar; Multiprofissional)
c. recomendar;
d. Encaminhar;
e. Intervir.

7. Apoiar decisões relacionadas ao contexto


em que surgiu a demanda a partir de Laudo
posicionamento técnico indicativo ou Psicológico
conclusivo;

8. Apresentação de uma análise técnica; Parecer


9. Análise de um documentos psicológico. Psicológico

179
CAPÍTULO 10

4. FONTES DE DADOS PARA ELABORAÇÃO DE


DOCUMENTO TÉCNICO PSICOLÓGICO

Declaração "Agenda"

Atestado Psicológico Laudo Psicológico

Relatórios Psicológico e Registros Documentais


Multiprofissional (CFP 01/2009)

Registros Documentais
Laudo Psicológico da Avaliação Psicológica
(CFP 09/2018)

Parecer Psicológico Revisão Bibliográfica

180
CONSULTA RÁPIDA

5. DECLARAÇÃO

Proibido conter qualquer informa-


Declaração ção técnica (sintomas, situações
ou estados psicológicos)

Informação sobre a rotina da Estrutura:


prestação de serviço (finalizado
ou em andamento) 1. Título: "declaração".

II. Em texto corrido ou por item:


a) Nome da pessoa atendida:
L. identificação do nome comple-
a. Comparecimento da pessoa to ou nome social completo;
atendida e seu acompanhante; b) Finalidade: descrição da ra-
zão ou motivo do documento;
b. Acompanhamento psicológico c) Informações sobre local,
realizado ou em realização; dias, horários e duração do
acompanhamento psicológico.
c. Informações sobre tempo
de acompanhamento, dias e III. Encerramento: indicação
horários. do local, data de emissão,
carimbo com nome completo
ou nome social completo da(o)
psicóloga(o), acrescido de sua
inscrição profissional além de
assinatura.

181
CAPÍTULO 10

6. ATESTADO PSICOLÓGICO

A. Informa sobre condições Fundamentado em Diagnóstico


psicológicas; Psicológico

B. Justifica faltas e impedimentos;


A condição para emissão é a
C. Justifica estar apto ou não para Avaliação Psicológica
atividades específicas;

D. Solicita afastamento e/ou dis-


Os procedimentos utilizados no
pensa, subsidiada na afirmação
processo de Avaliação Psicológica
atestada do fato;
devem ter um nexo causal com a
demanda e finalidade do Atesta-
do Psicológico.

Atestado Certifica somente o que foi verifi-


Psicológico cado no processo de avaliação

Documento construído em texto


corrido contendo o estritamente
Estrutura: necessário para cumprimento da
finalidade documental.
A. Título: "Atestado Psicoló-
gico";
B. Identificação da pessoa ou
Quando justificadamente ne-
instituição atendida;
cessário, fica facultado à(ao) psi-
C. Nome do solicitante;
cóloga(o) o uso da Classificação
D. Finalidade: descrição da
Internacional de Doenças (CID)
razão ou motivo do pedido;
ou outras Classificações de diag-
E. Descrição das condições
nóstico, científica e socialmente
psicológicas que justifiquem a
reconhecidas, como fonte para
finalidade documental;
enquadramento de diagnóstico.
F. Encerramento: indicação do
local, data de emissão, carimbo
com nome e inscrição profis-
sional, com todas as laudas Indicar no último parágrafo
numeradas, rubricadas da pri- validade documental.
meira até a penúltima lauda, e
a assinatura da(o) psicóloga(o)
na última página.
Obs: ao final do(s) parágrafo(s)
use traços para evitar adultera-
ções no documento.

182
CONSULTA RÁPIDA

7. RELATÓRIOS PSICOLÓGICO E
MULTIPROFISSIONAL

r-
Não tem como fim produzir Diag-
Relatórios Psicológico e nóstico Psicológico (condicionado
Multiprofissional à Avaliação Psicológica)

Comunicação da atuação Estrutura (iSode ser por item ou


profissional com diferentes em texto corrido):
objetivos (Finalidade): • Identificação.
• Informar. • Descrição da Demanda.
• Orientar. • Procedimento.
• Recomendar. • Análise (raciocínio técnico-
• Encaminhar. •científico).
• Intervir. • Conclusão (recomendações?).

Narrativa detalhada, didática, pre- Avaliar pertinência de fazer cons-


cisa e harmônica, com linguagem tar no documento:
compatível ao destinatário. • Impossibilidade de seu
uso diferente ao descrito na
deman da.
• Caráter Sigiloso.
• Documento extrajudicial.
Fonte de informações: Registros • Isenção de responsabilidade
documentais do profissional da em relação ao uso do docu-
Psicologia (CFP 01/2009) mento após sua entrega.

lor Indicar no último parágrafo


validade documental.

183
CAPÍTULO 10

8. LAUDO PSICOLÓGICO

Apóia decisões relacionadas


ao contexto em que surgiu a Características do documento:
demanda Narrativa detalhada e didática,
com precisão e harmonia com
linguagem compatível com o
destinatário

Laudo Última etapa do processo de


Psicológico Avaliação Psicológica

Procedimentos da Avaliação
Estrutura: psicológica se justificam pela fi-
nalidade e demanda documental
I Identifica0o; e/ou da prestação de serviço
II. Descrição da demanda;
III. Procedimento;
IV. Análise;
V. Conclusão; Nas conclusões, fazer recomenda-
VI. Referências. ções pertinentes:

a. Encaminhamentos;
b. Intervenções;
c. Diagnóstico;
d. Prognóstico;
e. Hipótese diagnostica;
f. Evolução do caso;
g. Orientação e/ou sugestão
de projeto terapêutico.

Indicar no último parágrafo


validade documental.

184
CONSULTA RÁPIDA

9. PARECER PSICOLÓGICO

Indicativa ou conclusiva Documento Campo


Técnico Psicológico

Análise técnica norteada por


Resposta a uma consulta
questão-problema

Exposição aprofundada da
Parecer questão central produto da díade
Psicológico demanda-finalidade.
Obs: Não contem informações
subjetivas pois não é fruto de
Intervenção e/ou Avaliação
Psicológica
Estrutura:

I Identificação;
II. Descrição da demanda;
III. Análise;
IV. Conclusão;
V. Referências.

• Documento deve ser constru-


ído por itens;
• Referências como note de
rodapé preferencialmente.

185
CAPÍTULO 10

10. CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES

Formato Físico Resolução


Guarda Documental
ou Digital CFP n°01/2009

Prazo mínimo de Prazo ampliado:


5 (cinco) anos
• Previsão legal;
• Determinação judicial;
• Casos específicos circunstanciados.

l Responsabilidade sobre a guarda:


profissional de psicologia com- Interrupção das atividades: seguir
1 partilhada com instituição onde recomendações do Art. 15 do Código
de Ética Profissional do Psicólogo
I ocorre a prestação de serviço

Entrega direta: beneficiário da pres-


tação do serviço psicológico, ao seu
responsável legal e/ou ao solicitante,
em entrevista devolutiva.

Destino Documental

Manter protocolo de entrega de


documentos contendo assinatura do
solicitante, comprovando recebi-
mento e responsabilidade pelo uso e
sigilo das informações recebidas.

186
CONSULTA RÁPIDA

O tempo de validade é uma decisão do


profissional que prestou serviço e deve ser
indicada no último paragrafo do documento

Levar em consideração para


determinação temporal de validade docu-
mental:

1. Normatizações específicas vigente;


2. Natureza dinâmica do trabalho
realizado;
3. Necessidade de atualização contínua
Validade Documental das informações.

Critérios avaliativos para decisão sobre


validade documental:

a. Objetivos da prestação do serviço;


b. Procedimentos utilizados;
c. Aspectos subjetivos e dinâmicos
analisados;
d. Circunstâncias e contexto;
e. Conclusões obtidas.

Obrigatório para Laudos Psicológicos e


Entrevista Devolutiva Relatórios (Psicológico e Multiprofissional)

Demais Na impossibilidade,
documentos, registrar
recomenda-se. explicações

187
CAPÍTULO 10

VI. REGISTRO DOCUMENTAL

Obrigatório em qualquer
prestação de serviços
psicológicos organizado e
atualizado

Formatos: Guarda:

a. Eletrônico (plataformas); 1. Responsabilidade do profissional


b. Digitalizado; que presta o serviço em conjunto com
c. Físico. a instituição onde acontece;
2. Período mínimo de 05 (cinco) anos

Obrigatório sigilo À disposição dos


profissional Registro Documental
Conselhos de
Psicologia para
orientação e
fiscalização

Fazer constar:

I - identificação do usuário/instituição; Contempla de forma su-


II - avaliação de demanda e definição de objeti- cinta o trabalho prestado,
vos do trabalho; a descrição e a evolução
III - registro da evolução do trabalho, de modo da atividade e os proce-
a permitir o conhecimento do mesmos seu dimentos técnico-científi-
acompanhamento, bem como os procedimen- cos adotados
tos técnico-científicos adotados;
IV - registro de Encaminhamento ou Encerra-
mento;
V - documentos resultantes da aplicação de
instrumentos de avaliação psicológica deverão
ser arquivados em pasta de acesso exclusivo do
psicólogo.
VI - cópias de outros documentos produzidos
pelo psicólogo para o usuário/instituição do
serviço de psicologia prestado, deverão ser
arquivadas, além do registro da data de emissão,
finalidade e destinatário.

188
CONSULTA RÁPIDA

12. PRONTUÁRIO PSICOLÓGICO

Em equipe multidisciplinar, pro-


duzir prontuário único - apenas
com o registro de informações
necessárias ao cumprimento dos Formatos:
objetivos do trabalho. a. Eletrônico (plataformas);
b. Digita lizado;
c. Físico.

Direito de acesso integral


Prontuário Psicológico da pessoa atendida ou
responsável legal

Guarda:

1. Responsabilidade do pro-
fissional que presta o serviço
em conjunto com a instituição
onde acontece;
2. Período mínimo de 05
(cinco) anos

Fazer constar:

I - identificação do usuário/instituição;
II - avaliação de demanda e definição de objetivos do trabalho;
III - registro da evolução do trabalho, de modo a permitir o conhecimento do
mesmo e seu acompanhamento, bem como os procedimentos técnico-científi-
cos adotados;
IV - registro de Encaminhamento ou Encerramento;
V - documentos resultantes da aplicação de instrumentos de avaliação psicológi-
ca deverão ser arquivados em pasta de acesso exclusivo do psicólogo.
VI - cópias de outros documentos produzidos pelo psicólogo para o usuário/
instituição do serviço de psicologia prestado, deverão ser arquivadas, além do
registro da data de emissão, finalidade e destinatário.

189
ANOTAÇÕES


ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
COMO
SE FAZ?
DOCUMENTOS
PSICOLÓGICOS

Declaração, Atestados, Relatórios, Pareceres, Laudos. Diferentes docu-


mentos, com finalidades próprias, peculiaridades. Possibilidades. Mais que
saber elaborar documentos psicológicos, estamos diante da possibilidade de
dominar sobre a comunicação escrita de nossos fazeres "psi": e, vamos com-
binar, saber falar sobre o que fez, como fez, porque fez, os caminhos dEsse
fazer e tão importante quanto o fazer em si.
Este livro e um tanto diferente: ele não se propõe ser um livro! Sei que
pode parecer confuso, mas explico: meu objetivo em uma proposta de Como
Fazer documentos psicológicos foi pegar em sua mão. Construí cada capítulo
como conversas numa caminhada e torço que assim chegue para você. Nem
de longe tenho a intenção de encerrar assuntos, ao contrário: quero mesmo é
abrir possibilidades! Mais que me ocupar sobre o que eu não disse, fiz ques-
tão de focar no que precisava dizer. Será uma caminhada, enquanto você e
eu atuarmos profissionalmente. Minha intenção com esse livro e te fazer par
num trecho de sua Jornada, por vezes tão solitária, inclusive para que se per-
ceba impar, enquanto também vou fazendo, de ca, a minha própria caminha-
da E estar junto e muito bom! Vuuumbora!!!

# sanar
www.sanarsaude.com

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