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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA

DO RIO GRANDE DO NORTE

DISCENTES: Larissa da Costa, Maria Tainara e Maria dos Prazeres.

Análise do poema José - Carlos Drummond de Andrade

Para compreender o poema é preciso buscar informações sobre o autor e período no


qual viveu e escreveu. O poema foi publicado em 1942, em plena Segunda Guerra
Mundial, ano de atuação do Estado Novo no Brasil. O clima era de medo, repressão
política e incerteza perante o futuro. O espírito da época transparece, conferindo
preocupações políticas ao poema e expressando as inquietações cotidianas do povo
brasileiro. Também as condições de trabalho precárias, a modernização das indústrias e
a necessidade de migrar para as metrópoles tornavam a vida do brasileiro comum numa
luta constante. A poética do autor revela fortes questionamentos existenciais, o lugar do
homem no mundo o que esta intimamente presente no poema analisado. José é um
poema de desencontros, marcado por um profundo ceticismo, ilustrando o sentimento
de solidão e abandono do indivíduo na cidade grande, a sua falta de esperança e a
sensação de que está perdido na vida, sem saber que caminho tomar. Seus versos são
livres, ausentes de um padrão métrico nos versos, uso da linguagem popular e com
grandes influências modernistas.

O poema começa colocando questões que se repetem ao longo de todo o poema, se


tornando uma espécie de refrão e assumindo cada vez mais força: "E agora, José?".
Agora, que os bons momentos terminaram, que "a festa acabou", "a luz apagou", "o
povo sumiu", o que resta? O que fazer? Ele está sozinho na escuridão e frio, presente
não só no ambiente físico, mas também na alma. José, um nome muito comum na
língua portuguesa, pode ser entendido como um sujeito coletivo expressando que
existem vários “José’’ por aí que passam pela mesma situação. O trecho "Você que é
sem nome" traz uma ideia de que ele não é ninguém, que essa solidão não tem
importância.
Nos trechos "faz versos", "ama, protesta”, evidencia um questionamento muito em voga
na época: para que serve a poesia ou a palavra escrita num tempo de guerra, miséria e
destruição?

Na 2 estrofe, a ideia de vazio e carência de tudo se fortalece, está sem "mulher", " sem
discurso" e "sem carinho". Refere-se também "beber", "fumar" e "cuspir", como se seus
instintos e comportamentos estivessem sendo vigiados e presos, para fazer aquilo que
tem vontade.  “O dia não veio", a vinda de um novo dia significa novas oportunidades,
mas para José ele não veio. O bonde e o riso não vieram; nem mesmo de mentiras ou de
ilusões ele pode viver. O autor passa um sentimento de quem perdeu a hora certa de
agir, de lutar "tudo mofou" "acabou", "fugiu", não há esperança de recuperação, apenas
um vazio de tudo.  Tudo é rotina e monotonia.

No 3 estrofe, lista aquilo que é imaterial, próprio do sujeito "sua doce palavra", "seu
instante de febre", "sua gula e jejum", "sua incoerência", "seu ódio" e, em oposição
aquilo que é material e palpável "sua biblioteca", "sua lavra de ouro", "seu terno de
vidro". Nada permaneceu, nada restou.
No 4 estrofe, o sujeito sente-se impossibilitado de agir. Tudo lhe parece inútil e
desprovido de significado., não encontra solução face ao desencantamento com a vida,
como se torna visível nos versos "Com a chave na mão / quer abrir a porta, / não existe
porta". José não tem propósito, saída, lugar no mundo. Não existe nem mesmo a
possibilidade da morte como último recurso - "quer morrer no mar, / mas o mar secou”,
mas nem isso lhe é permitido porque não existe mar no qual possa morrer, José é
obrigado a viver. Com os versos "quer ir para Minas, / Minas não há mais", já não é
possível voltar ao local de origem, Minas da sua infância já não é igual, não existe mais.
Nem o passado era um refúgio.

No 5 estrofe, a uma repetição se. O jeito seria a morte, mas nem isso ele fez

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