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8º ano BNCC (EF08HI24) Reconhecer os principais produtos, utilizados pelos europeus,


procedentes do continente africano durante o imperialismo e analisar os impactos sobre as
comunidades locais na forma de organização e exploração econômica.

IMPERIALISMO DIRETO: COLÔNIAS DE POVOAMENTO

O colonialismo demográfico é,
em essência, a eliminação total ou
parcial da população de um dado
território - normalmente de clima
semelhante ao da metrópole e com
população reduzida - para a sua
substituição por colonos. Essa era uma
prática antiga, tanto que o Império
Romano tinha as suas colônias de
cidadãos romanos nas províncias, os
russos se instalaram progressivamente
na Sibéria e os ingleses começaram a
colonizar a América do Norte já no
século XVII. Foi nos séculos XIX e XX,
contudo, que essa prática se tornou
mais comum e se converteu em um marco fundamental do novo
imperialismo.

A exploração econômica e o colonialismo demográfico sempre


foram, na verdade, duas facetas da expansão imperial e os
processos muitas vezes se confundem. Na Argélia, por exemplo, os
colonos franceses exploravam a mão de obra e os recursos locais,
ao mesmo tempo que iam comprando e expropriando terras para a
criação do que deveria ser, no futuro, um novo departamento
francês. Os nazistas também combinaram, na Europa Oriental, uma
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perspectiva de exploração sistemática dos povos locais e sua


eliminação para a colonização germânica, que levaria as fronteiras
da nação alemã centenas de quilômetros para o leste.

O colonialismo demográfico também era, em muitas casos,


uma forma de liberar mão de obra para os projetos de exploração
econômica. Várias tribos e nações africanas derrotadas pelos
ingleses e pelos bôeres na África do Sul perderam as suas
melhores terras durante a conquista colonial: 92% delas foram
confiscadas [...] e entregues a colonizadores brancos. Um milhão de
africanos foram expulsos de suas terras e passaram então a
trabalhar nas minas, sempre em posição subordinada. Igualmente,
não era incomum que, mesmo nas pequenas propriedades,
trabalhadores locais fossem utilizados para atender às
necessidades dos europeus e tornar a colonização mais lucrativa.

Essa ambiguidade e as conexões entre a conquista de


territórios para exploração e para colonização são tão evidentes
que, em vários idiomas, essa situação se reflete no próprio uso dos
termos. Nas línguas latinas, por exemplo, o termo colônia significa
tanto um grupo de imigrantes instalados em terra estrangeira como
territórios sob domínio de um outro país. Mesmo assim, é possível
identificar diferenças entre territórios cuja conquista visava
essencialmente à exploração dos recursos naturais através da mão
de obra local e outros, nos quais o grande atrativo era a terra para o
estabelecimento de pequenas propriedades agrícolas.

O primeiro impulso para a colonização demográfica, na


realidade, teve um objetivo mais prático e imediato: dispor de
lugares para onde os indesejáveis na Europa pudessem ser
deportados, aliviando as prisões, economizando os recursos do
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Estado e facilitando o controle social em momentos de crescimento


demográfico e mudanças sociais. Ao invés de serem um custo,
passariam a ser um ativo, criando e povoando colônias em outras
partes do mundo. Desde o século XVI, Portugal deportava os
indesejáveis para a África ou para o Brasil e os franceses
replicaram a iniciativa, até tempos bem recentes, na Nova
Caledônia e na Guiana.

O caso mais importante, contudo, foi o da Austrália, para onde


162 mil condenados britânicos - a maioria por crimes leves - foram
enviados entre 1778 e 1868. Os britânicos, aliás, já tinham enviado
números expressivos de condenados para suas colônias na
América do Norte antes da independência dos Estados Unidos e
não é coincidência que os primeira embarques para a Austrália
tenham acontecido dois anos depois, em 1778. Os condenados
ofereceram inicialmente mão de obra para a colonização,
preparando o terreno para futuras ondas de imigrantes.

A escolha preferencial de um território para a colonização


demográfica levava em conta um clima favorável, o mais parecido
possível com o da metrópole, de forma que os colonos pudessem
produzir lá o que já conheciam na Europa, como trigo, uvas, carne
bovina e suína etc. Produtos locais, como milho, também podiam
ser adaptados para o plantio. Regiões com uma população
originária relativamente pequena também eram atraentes, pois
facilitavam a conquista da terra pelos recém-chegados. Além disso,
o fato de essas regiões não serem capazes de produzir artigos
tropicais para o mercado global nem terem uma ampla população
originária para ser explorada as tornavam menos interessantes para
a exploração direta.
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[...]

Não espanta, assim, que a maioria das chamadas "colônias


brancas", ou seja, de povoamento europeu, tenham sido instaladas
em regiões temperadas: o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia
foram as principais, mas também houve esforços para criar colônias
de assentamento europeu em áreas consideradas climaticamente
adequadas na Namíbia, na Argélia, na Eritreia, na Etiópia, na Líbia
e na Rodésia, por exemplo.

[...]

A colonização demográfica atendia ainda aos interesses de


atores privados, normalmente famílias de agricultores que
desejavam terra para cultivar ou emigrantes que buscavam uma
vida melhor fora da Europa. Em muitos momentos, a iniciativa de
colonização partiu justamente desses indivíduos e suas famílias,
assim como de empresas de colonização, públicas ou privadas, que
loteavam a terra e organizavam a emigração e o assentamento dos
colonos. Além disso, como os colonos eram considerados cidadãos
de seus países de origem, sua independência para agir era,
obviamente, maior do que a de povos conquistados. Dessa forma,
não espanta que, em inúmeras ocasiões, tivessem sido os colonos
que lideraram a expansão territorial, muitas vezes forçando a
intervenção da metrópole em suas lutas (decorrentes dessa
ambição) ou tendo se colocado contra ela quando viram seus
interesses ameaçados ou atingidos. [...]
BERTONHA, Fábio João. Imperalismo. São Paulo: Contexto, 2023. p.55-57.

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