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SUMÁRIO

Direito Constitucional......................................................................6
Controle de Constitucionalidade............................................................6
Direito Constitucional......................................................................9
Organização do Estado........................................................................9
Direito Constitucional.................................................................... 17
Controle de Constitucionalidade.......................................................... 17
Direito Constitucional.................................................................... 23
Tributos........................................................................................... 23
Direito Constitucional.................................................................... 25
Funções Essenciais á Justiça.............................................................. 25
Direito Constitucional.................................................................... 27
Poder Judiciário................................................................................ 27
Direito Administrativo................................................................... 29
Servidores Públicos........................................................................... 29
Direito Constitucional.................................................................... 31
Controle de Constitucionalidade.......................................................... 31
Direito Processual do Trabalho...................................................... 36
Recursos......................................................................................... 36
Direito Processual Civil.................................................................. 39
Processos nos Tribunais e Meios de Impugnação de Decisões Judiciais..... 39
Direito Processual Civil ................................................................. 44
Ação Rescisória................................................................................ 44
Direito Constitucional.................................................................... 46
Concurso Público.............................................................................. 46
Direito Tributário........................................................................... 48
Contribuições................................................................................... 48
Direito Constitucional.................................................................... 56
Conflito Federativo............................................................................ 56
Direito Tributário........................................................................... 59
Contribuições................................................................................... 59
Direito Tributário........................................................................... 61
Tributos........................................................................................... 61
Apresentação Gran Juris Informativos do stf 

Olá, queridos alunos do Gran!

Sabemos que cada vez mais os concursos exigem do candidato o conhecimen-


to dos informativos de jurisprudência dos tribunais superiores. Independentemen-
te da banca, a cobrança é sempre certa!

Assim, saber como estudar informativos jurídicos é muito importante para


aqueles que estão prestando concursos públicos.

Com a ajuda do Gran Cursos Online, vamos demonstrar que não tem mistério
para estudar informativos! Vejamos algumas dicas rápidas.

1) Que informativos estudar?

Os concursos exigem o conhecimento tanto da jurisprudência do STF, quan-


to do STJ.

2) Como estudar os informativos?

Quanto aos informativos do STF, primeiramente verifique se não houve pe-


dido de vista de algum Ministro – esses julgados não foram concluídos e, por-
tanto, não serão usados pelos examinadores do concurso.

Diferentemente, os informativos divulgados pelo STJ já estão concluídos e a


conclusão do julgado vem em uma frase em negrito, logo no início do extrato.
Esses trechos em destaque são bastante utilizados em provas objetivas
e destacados nas nossas compilações de julgados. Nas provas subjetivas e
orais faz-se necessário entender também o raciocínio que levou o tribunal àquela
conclusão, pois esse aprofundamento é necessário para melhor fundamentar suas
respostas.

3) Crie hábito de revisão

Nós sabemos que o volume de matéria é bastante significativo e, por esse mo-
tivo, fazer revisões frequentes é imprescindível para a aprovação.

Com isso, tenha o hábito de revisar os estudos dos informativos para que você
tenha uma clara compreensão acerca do posicionamento dos tribunais superiores.
Aproveite o Gran Informativos para auxiliá-lo na revisão!

Com essas dicas, é certo que você terá um proveitoso estudo.

Boa leitura!

Professor Renato Borelli

RENATO BORELLI
Juiz Federal Substituto do TRF1. Foi Juiz Federal Substituto do
TRF5. Exerceu a advocacia privada e pública. Foi servidor público
e assessorou Desembargador Federal (TRF1) e Ministro (STJ).
Atuou no CARF/Ministério da Fazenda como Conselheiro (antigo
Conselho de Contribuintes). É formado em Direito e Economia,
com especialização em Direito Público, Direito Tributário e
Sociologia Jurídica.
GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Setembro de 2020

*Informativos: 989, 990, 991, 992

*Informativo: 989

*Data de divulgação: 11 de setembro de 2020

DIREITO CONSTITUCIONAL

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Controle concentrado de constitucionalidade: suspeição e impedimento

Não há impedimento, nem suspeição de ministro, nos julgamentos


de ações de controle concentrado, exceto se o próprio ministro fir-
mar, por razões de foro íntimo, a sua não participação.

Essa foi a orientação fixada pela maioria do Plenário, ao resolver questão


de ordem suscitada pelo presidente, em ação direta de inconstitucionalidade,
acerca da não aplicabilidade da regra, após o ministro Marco Aurélio arguir a
impossibilidade de sua participação no julgamento, considerado o Código de
Processo Civil (CPC) [art. 144, III, VIII e § 3º (1)].

O colegiado ratificou o posicionamento firmado em questão de or-


dem quando da apreciação da ADI 2.238, para que seja aplicado em
todas as hipóteses de controle concentrado, nas quais se discute a
validade de normas ou de atos, como na ADPF, que dizem respeito ao
controle em abstrato na via concentrada. De igual modo, assegurou
a possibilidade de ministro, por motivo de foro íntimo, não participar
de julgamento.
O Tribunal observou que os institutos do impedimento e da suspei-
ção se restringem ao plano dos processos subjetivos, em cujo âmbito
discutem-se situações individuais e interesses concretos, não se es-

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Mês de Setembro de 2020

tendendo, nem se aplicando, ordinariamente, no processo de fiscali-


zação concreta de constitucionalidade, que se define como típico pro-
cesso de caráter objetivo destinado a viabilizar o exame não de uma
situação concreta, mas da constitucionalidade, ou não, in abstracto, de
determinado ato normativo editado pelo Poder Público.

A questão foi apresentada para fins, inclusive, de coordenação dos traba-


lhos. A forma de composição do Supremo Tribunal Federal (STF) está escrita
na Constituição Federal (CF). Levados em conta os dispositivos do CPC, que
ampliaram casos de impedimento e suspeição, poder-se-ia chegar à situação
da inexistência de quórum necessário para o pregão de processo do controle
concentrado e objetivo, bem assim para a modulações de efeitos, por exem-
plo.
Por oportuno, o ministro Marco Aurélio externou compreensão no sentido
da impossibilidade de haver, pelo CPC, o afastamento de integrante do STF
dos processos objetivos.
Vencido o ministro Edson Fachin, que não acolheu a proposição. Relem-
brou ter sido questionada a constitucionalidade do art. 144, VIII, do Código
de Processo Civil, na ADI 5.953, cujo julgamento não foi concluído. Avaliou
não ser possível que os magistrados do STF se coloquem à parte do disposi-
tivo legal, diante da presunção de constitucionalidade da regra.
(1) CPC: “Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer
suas funções no processo: (...) III – quando nele estiver postulando, como
defensor público, advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou
companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou
colateral, até o terceiro grau, inclusive; (...) VIII – em que figure como parte
cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente,
consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclu-
sive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório; (...) § 3º O
impedimento previsto no inciso III também se verifica no caso de mandato
conferido a membro de escritório de advocacia que tenha em seus quadros

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Mês de Setembro de 2020

advogado que individualmente ostente a condição nele prevista, mesmo que


não intervenha diretamente no processo.”
ADI 6362/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 2.9.2020.
(ADI-6362)

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DIREITO CONSTITUCIONAL
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
Covid-19: requisições administrativas

de bens e serviços e federalismo cooperativo

No mérito, o Plenário julgou improcedente o pedido formulado na


ação direta de inconstitucionalidade contra o art. 3º, caput, VII, e §
7º, III, da Lei 13.979/2020 (1), que dispõe sobre as medidas para
enfrentamento da emergência de saúde pública de importância inter-
nacional decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019
(Covid-19).

A Confederação requerente pleiteava que fosse conferida interpretação


conforme à CF aos dispositivos impugnados. Pretendia, em síntese, que o
Ministério da Saúde coordenasse as medidas de requisições administrativas,
que não poderiam ser levadas a efeito pelos entes subnacionais antes de es-
tudos e do consentimento do órgão federal. Requeria a consignação pelo STF
de que, para ter-se a constitucionalidade do preceito, seria preciso a prévia
audiência do atingido pela requisição, sempre acompanhada de motivação,
tendo em conta o princípio da proporcionalidade e a inexistência de outra al-
ternativa menos gravosa.

A Corte registrou que o federalismo fortalece a democracia, pois


promove a desconcentração do poder e facilita a aproximação do povo
com os governantes. Ele gravita em torno do princípio da autonomia
e da participação política. É natural que os municípios e os estados-
-membros sejam os primeiros a serem instados a reagir numa emer-
gência de saúde, sobretudo quando se trata de pandemia.

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Ademais, frisou que o Estado federal repousa sobre dois valores


importantes. O primeiro refere-se à inexistência de hierarquia entre
os seus integrantes, de modo a não permitir que se cogite da pre-
valência da União sobre os estados-membros ou, destes, sobre os
municípios, consideradas as competências que lhe são próprias. Já o
segundo, consubstanciado no princípio da subsidiariedade, significa,
em palavras simples, o seguinte: tudo aquilo que o ente menor puder
fazer de forma mais célere, econômica e eficaz não deve ser empre-
endido pelo ente maior.

Dentro dos quadros do “federalismo cooperativo” ou “federalismo de inte-


gração”, compete concorrentemente à União, aos estados-membros e ao Dis-
trito Federal legislar sobre a “proteção e defesa da saúde” [CF, art. 24, XII, §
1º (2)]. Constitui competência comum a todos eles, inclusive aos municípios,
“cuidar da saúde e assistência pública” [CF, art. 23, II (3)].
Vale lembrar que a Constituição prevê, ao lado do direito subjetivo públi-
co à saúde, o dever estatal de dar-lhe efetiva concreção, mediante “políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua pro-
moção, proteção e recuperação” [art. 196 (4)]. Trata-se da dimensão objetiva
ou institucional do direito fundamental à saúde.

O colegiado assinalou, portanto, que a defesa da saúde compete a


qualquer das unidades federadas, sem que dependam da autorização
de outros níveis governamentais para levá-las a efeito, cumprindo-
-lhes, apenas, consultar o interesse público que têm o dever de preser-
var. A competência comum de cuidar da saúde compreende a adoção
de quaisquer medidas que se mostrem necessárias para salvar vidas e
restabelecer a saúde das pessoas acometidas pelo novo coronavírus,
incluindo-se nelas o manejo da requisição administrativa.

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Recordou que, ao analisar a ADI 6.341 MC-Ref, ficou assentado


que os entes federados possuem competência concorrente para ado-
tar as providências normativas e administrativas necessárias ao com-
bate da pandemia em curso, dentre as quais se inclui a requisição
administrativa de bens e serviços constante do art. 3º, VII, da Lei
13.979/2020. Ficou registrado que o pior erro na formulação das po-
líticas públicas é a omissão, sobretudo para as ações essenciais exi-
gidas pelo art. 23 da CF. Igualmente, externou que a diretriz consti-
tucional da hierarquização, constante do caput do art. 198 (5), não
significou hierarquização entre os entes federados, mas comando
único, dentro de cada um deles. Ademais, o exercício da competência
específica da União para legislar sobre vigilância epidemiológica, que
ensejou a elaboração da Lei 13.979/2020, não restringiu a compe-
tência própria dos demais entes da Federação para a implementação
de ações no campo da saúde. O Plenário observou que o citado diplo-
ma normativo incluiu, expressamente, aquelas unidades federativas.
Na hipótese de qualquer uma delas lançar mão da referida requisição,
será garantido o pagamento posterior de indenização justa.
Salientou que o ordenamento jurídico brasileiro já era pródigo
em prever a possibilidade de acionamento da requisição administra-
tiva antes mesmo do advento da legislação contestada. O instituto
possui fundamento nos arts. 5º, XXIII e XXV, e 170, III, da CF (6).
Mais especificamente, “no caso de iminente perigo público, a autori-
dade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada
ao proprietário indenização ulterior, se houver dano” (art. 5º, XXV).
Com base no art. 23, II, da CF, a medida pode ser desencadeada por
qualquer dos entes.

Isso significa que a requisição, embora constitua ato discricionário, é tam-


bém, de certa maneira, vinculada, pois o administrador não pode dela lançar
mão se ausente o pressuposto do perigo público iminente. Ela foi concebida

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para arrostar situações urgentes e inadiáveis. Distingue-se claramente da


desapropriação, em que a indenização, como regra, é prévia. Dessa forma,
a própria indenização, acaso devida, será sempre posterior. Conforme atesta
a doutrina, a medida também abrange bens e serviços médico-hospitalares.
Por isso, o ato de requisição não dispensa sua apropriada motivação. A
comprovação do atendimento do interesse coletivo, consubstanciado na ne-
cessidade inadiável do uso do bem ou do serviço do particular em decorrência
de perigo público iminente, será contemporânea à execução do ato, possibili-
tando, assim, o seu posterior questionamento na justiça, se for o caso.
Quanto ao papel da União no combate à pandemia, o art. 21, XVIII, da CF
defere-lhe a atribuição de “planejar e promover a defesa contra as calamida-
des públicas, especialmente as secas e inundações”. Lido em conjunto com o
art. 198 da CF — o qual dispõe que o Sistema Único de Saúde (SUS) é orga-
nizado de maneira hierarquizada —, percebe-se que a ela compete assumir
coordenação das atividades desse setor.
Consideradas as consequências práticas da aplicação literal da Lei Orgânica
da Saúde (Lei 8.080/1990), não há evidências de que o Ministério da Saúde,
embora competente para coordenar, em âmbito nacional, as ações de vigilância
epidemiológica e sanitária, tenha a capacidade de analisar e solucionar tem-
pestivamente as multifacetadas situações emergenciais que eclodem em cada
uma das regiões ou localidades do País [Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro (LINDB), art. 20 (7)]. Avalizar todas as requisições administrativas
de bens e serviços de saúde privados, levadas a efeito por gestores estaduais
e municipais, retiraria dos governos locais o poder de gestão autônoma que
lhes é inerente e acarretaria a absoluta ineficiência das medidas emergenciais
previstas pela Lei 13.979/2020, indispensáveis ao pronto atendimento da so-
ciedade. A atuação da União é na linha de prover, amparar e auxiliar os demais
entes sem substituí-los em suas competências derivadas da CF.
Nessa esteira, as requisições levadas a efeito pelos entes subnacionais não
podem ser limitadas ou frustradas pela falta de consentimento do Ministério

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da Saúde, sob pena de indevida invasão de competências que são comuns à


União e aos entes federados, bem como diante do risco de se revelarem ine-
ficazes ou extemporâneas.

Dado esse contexto, o Tribunal reputou ser incabível a exigência


de autorização do Ministério da Saúde no concernente às requisições
administrativas decretadas pelos estados-membros, Distrito Federal
e municípios no exercício das respectivas competências constitucio-
nais. Nesse sentido, a deliberação da Corte na ADI 6.343 MC-Ref.
O colegiado registrou que a exigência de fundamentação adequa-
da se encontra prevista no art. 3º, § 1º, da Lei 13.979/2020 (8), cuja
apreciação é atribuição exclusiva de cada uma das autoridades públi-
cas integrantes dos três níveis político-administrativos da Federação
brasileira. Isso, tendo em conta as situações concretas com as quais
são defrontadas, sempre com a observância dos princípios da razoa-
bilidade e proporcionalidade. Ademais, como todas as ações estatais,
além de serem balizadas pelos critérios da razoabilidade e da propor-
cionalidade, as requisições somente podem ser levadas a cabo após
a constatação de que inexistem outras alternativas menos gravosas.

Consoante informações recebidas do Senado Federal, a Corte ressaltou


que o Ministério da Saúde, autor da legislação, intencionalmente preferiu não
condicionar as requisições a seu crivo prévio, tendo em vista a autonomia
administrativa dos entes da Federação para promover requisições e a dinâ-
mica de cada um deles, em função da realidade e de suas particularidades.
Essa escolha que foi referendada pela Presidência da República, ao enviar
o projeto de lei para debate, e pelo Congresso Nacional, ao aprová-lo. Dito
isso, a Corte compreendeu que vulneraria frontalmente o princípio da sepa-
ração dos Poderes a incursão do Judiciário em seara de atuação privativa do
Legislativo e do Executivo, substituindo-os na tomada de decisões de cunho
eminentemente normativo e político-administrativo. Portanto, não cabe ao

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STF suprir ou complementar a vontade conjugada dos demais Poderes, que


deu origem aos dispositivos legais contestados — claramente unívocos, por-
quanto despidos de qualquer ambiguidade —, de maneira a criar, por meio
da técnica de interpretação conforme à Constituição, obrigação não cogitada
por seus legítimos criadores.
Após mencionar projetos de lei que estão em trâmite no Congresso Na-
cional, o Tribunal sublinhou que a pretensão da requerente está sendo de-
batida na seara adequada para contemplar aquilo que ela pretende nesta
ação. Por mais esse motivo, cumpre ao STF aguardar a solução da questão
pelos representantes da soberania popular e exercer a autocontenção que
lhe convém nessas situações.

De resto, considerou que, agasalhar o pleito da requerente, tor-


naria “inexequível a estratégia de combate ao vírus, inviabilizando
qualquer solução de logística adotada pelas autoridades de saúde
em qualquer âmbito de atuação”. Logo, a criação de novos requisitos
para a implementação do instituto, por meio da técnica de interpreta-
ção conforme, não se coaduna com sua natureza expedita, para cujo
acionamento o texto constitucional exige apenas a configuração de
iminente perigo público.
Em reforço, o Plenário salientou que a CF, ao tratar da Ordem
Econômica, albergou o postulado da função social da propriedade,
significando que esta, por vezes, pode revelar um interesse não coin-
cidente com o do próprio titular do direito, ensejando o seu uso pela
coletividade, independentemente da vontade deste.
Ante o quadro da reconhecida pandemia, entendeu demonstra-
do que, no conflito entre os princípios da proporcionalidade, do li-
vre exercício de atividade privada e da transparência com o direito
universal à saúde, este deve prevalecer na medida exata para evitar
mortes.

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Por fim, assinalou que, em matéria de cunho semelhante, foi sufragada,


por unanimidade, conclusão idêntica a aqui revelada (ADPF 671 AgR). Impro-
cedente a pretensão, mostra-se inexequível o pedido de suspensão imediata
de todas as requisições administrativas realizadas.

O ministro Roberto Barroso adotou, como fundamento, que as re-


quisições administrativas realizadas por estados, municípios e Dis-
trito Federal, no contexto da pandemia causada pelo Covid-19, inde-
pendem da oitiva do atingido ou de prévia autorização do Ministério
da Saúde, mas pressupõem, nos termos da lei, evidências científicas
e motivação, observado o princípio da proporcionalidade.
Por sua vez, o ministro Gilmar Mendes declarou que seu voto, além
de estar fundamentado no princípio da proporcionalidade, observa a
inexistência da primazia ou hierarquia de poder de requisição entre
os entes federativos. Enfatizou que parte dos problemas detectados
têm a ver com a conduta de desvio na execução do modelo SUS como
preconiza o texto constitucional.

(1) Lei 13.979/2020: “Art. 3º Para enfrentamento da emergência de saú-


de pública de importância internacional decorrente do coronavírus, as auto-
ridades poderão adotar, no âmbito de suas competências, dentre outras, as
seguintes medidas: (...) VII – requisição de bens e serviços de pessoas na-
turais e jurídicas, hipótese em que será garantido o pagamento posterior de
indenização justa; e (...) § 7º As medidas previstas neste artigo poderão ser
adotadas: (...) III – pelos gestores locais de saúde, nas hipóteses dos incisos
III, IV e VII do caput deste artigo.”
(2) CF: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legis-
lar concorrentemente sobre: (...) XII – previdência social, proteção e defesa
da saúde; (...) § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da
União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.”

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(3) CF: “Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios: (...) II – cuidar da saúde e assistência pública, da
proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;”
(4) CF: “Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de do-
ença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e servi-
ços para sua promoção, proteção e recuperação.”
(5) CF: “Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma
rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organiza-
do de acordo com as seguintes diretrizes:”
(6) CF: “Art. 5º (...) XXIII – a propriedade atenderá a sua função social;
(...) XXV – no caso de iminente perigo público, a autoridade competente po-
derá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização
ulterior, se houver dano; (...) Art. 170. A ordem econômica, fundada na va-
lorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os
seguintes princípios: (...) III – função social da propriedade;”
(7) LINDB: “Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial,
não se decidirá com base em valores jurídicos abstratos sem que sejam con-
sideradas as consequências práticas da decisão. Parágrafo único. A motivação
demonstrará a necessidade e a adequação da medida imposta ou da invalida-
ção de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive em
face das possíveis alternativas.”
(8) Lei 13.979/2020: “Art. 3º (...) § 1º As medidas previstas neste artigo
somente poderão ser determinadas com base em evidências científicas e em
análises sobre as informações estratégicas em saúde e deverão ser limitadas
no tempo e no espaço ao mínimo indispensável à promoção e à preservação
da saúde pública.”
ADI 6362/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 2.9.2020.
(ADI-6362)

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DIREITO CONSTITUCIONAL
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
Regime Jurídico Único: Emenda à

Constituição e quórum para aprovação

O Plenário iniciou julgamento de ação direta de inconstituciona-


lidade ajuizada em face da Emenda Constitucional (EC) 19/1998, na
parte em que alterou a redação do caput e dos incisos X e XIII do art.
37 (1); do caput e dos §§ 1º e 7º do art. 39 (2); do § 2º do art. 41 (3);
do art. 135 (4); do § 7º do art. 169 (5); e do inciso V do art. 206 (6)
da Constituição Federal (CF). Também foi impugnado o art. 26 (7) da
referida EC.
A ministra Cármen Lúcia (relatora), confirmando a cautelar an-
teriormente deferida, julgou parcialmente procedente o pedido for-
mulado para declarar a inconstitucionalidade formal do caput do art.
39 da CF, bem como prejudicado o pleito quanto ao art. 26 da EC
19/1998.
A relatora afirmou que a jurisprudência do Supremo Tribunal Fe-
deral (STF) se consolidou no sentido da possibilidade de invalidação
de emendas constitucionais nas hipóteses de ultraje aos limites ins-
culpidos no art. 60 da CF.

Observou que, no caso, quando da tramitação de Substitutivo da Proposta


da Emenda Constitucional 173/1995, o bloco de oposição apresentou pedido
para votação em separado das alterações apresentadas para as normas que
extinguiam a previsão constitucional originária do regime jurídico único, ins-
tituindo o contrato de emprego público. O pedido objetivava, expressamente,
“manter a regra atual do regime jurídico único, alcançando todos os servidores

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da Administração Pública direta, autárquica e fundacional, bem assim preser-


var a permissão de contratação temporária por excepcional interesse público”.
Ao ser submetido à votação pelo Plenário da Câmara dos Deputados, o
Substitutivo foi aprovado, ressalvados os destaques, com 309 votos favorá-
veis, 147 votos contrários e 18 abstenções. Os dispositivos destacados, ob-
jeto do DVS 9 (que extinguiam o regime jurídico único), não obtiveram três
quintos dos votos pela aprovação (308 votos), contando com 298 votos favo-
ráveis, 142 votos contrários e 8 abstenções. Rejeitadas, conforme proclama-
do pelo então Presidente da Câmara dos Deputados, as alterações propostas
para o inciso IX do art. 37, para o caput do art. 39 e para o § 3º do art. 114
da CF. As normas objeto do DVS 9 foram rejeitadas e suprimidas do texto da
Proposta de Emenda Constitucional, pelo que não poderiam ter sido submeti-
das à votação em 2º turno.
Assim, o não atingimento do quórum de votação para promover as altera-
ções propostas no Substitutivo aos arts. 37, inciso IX; 39, caput, e 114, § 3º,
da CF, configurou inequívoca manifestação do Plenário da Câmara dos Depu-
tados, no sentido da rejeição da proposta de extinção do regime jurídico único
da Administração Pública direta, das autarquias e das fundações públicas que
até então vigia por determinação da norma original do art. 39 da CF.
No entanto, após a votação em 1º turno, o relator do projeto na Comissão
Especial, alterou a redação final do Substitutivo transferindo o conteúdo da
proposta contida no § 2º para o caput do art. 39 da CF.
Dessa forma, submeteu-se a um segundo turno de votação matéria rejei-
tada no primeiro, burlando-se, com isso, o requisito constitucional de aprova-
ção das emendas constitucionais por três quintos dos votos dos membros de
cada Casa, em dois turnos de votação.

A supressão da norma originária do caput do art. 39 da CF afron-


tou inequívoca manifestação do Plenário da Câmara dos Deputados
que, em 1º turno de votação, rejeitara a mudança pretendida, des-

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respeitando, assim, o procedimento formal de reforma constitucio-


nal, contrariamente à sua supremacia e rigidez. A manobra parla-
mentar, levada a efeito em segundo turno de votação, descumpriu o
§ 2º do art. 60 da CF, que exige dupla aprovação por três quintos dos
membros da Câmara dos Deputados de proposta de emenda consti-
tucional.
A ministra ressaltou, ainda, a vedação do § 5º do art. 60, segundo
o qual “a matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou ha-
vida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma
sessão legislativa”.

Nesses termos, caracterizada a inconstitucionalidade formal do caput do


art. 39 da CF, na forma da EC 19/98, é de se declarar a nulidade da norma,
restabelecendo-se a anterior, na forma que concluiu o Plenário no julgamento
do pleito de cautelar.
Por outro lado, a relatora rejeitou as alegações de existência de inconstitu-
cionalidades formais na (a) alteração da expressão “qualidade do serviço pres-
tado” pela palavra “eficiência”, no caput do art. 37; (b) substituição da expres-
são “política remuneratória” por “sistema remuneratório”, no § 1º do art. 39;
(c) substituição da expressão “disciplinará a aplicação dos recursos orçamen-
tários” pela expressão “disciplinará a aplicação de recursos orçamentários”, no
§ 7º do art. 39; (d) alteração da expressão “os critérios a serem obedecidos na
efetivação da demissão do servidor” por “as normas gerais a serem obedecidas
na demissão do servidor”, no § 7º do art. 169; e (e) alteração do singular para
o plural da locução “plano de carreira” no inciso V do art. 206. Ponderou que a
análise dos textos submetidos à votação na Câmara e no Senado não conduz
à conclusão de ter havido alterações substanciais dos conteúdos normativos
das referidas normas, tendo sido modificadas por emendas tipicamente reda-
cionais, não havendo de se cogitar, por conseguinte, de inconstitucionalidade
formal, conforme verificado no julgamento da medida cautelar.

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No que tange às demais alegações, alterações promovidas nos art. 37,


incisos X e XIII; art. 39, § 1º; art. 41, § 2º, e art. 135 da CF, esclareceu que
a isonomia de vencimentos revela critério a ser observado pelo legislador
na edição de leis nas quais se cuide de remuneração dos cargos públicos.
A previsão da norma originária do art. 39, § 1º, da CF nunca garantiu aos
servidores públicos direito à isonomia automática de vencimentos de cargos
de atribuições iguais ou assemelhadas aos por eles ocupados. E o art. 37,
inciso XIII, veda a vinculação ou equiparação de espécies remuneratórias
para efeito de remuneração de pessoal do serviço público. A supressão nos
arts. 37, inciso XIII, e 135 da CF, da remissão originariamente feita ao art.
39, § 1º, da CF é consequência da alteração promovida nessa norma pela
EC 19/1998, não importando também infringência ao princípio da isonomia.
Ademais, a jurisprudência do STF é pacífica quanto à inexistência de direito
adquirido a regime jurídico.

A alteração do § 2º do art. 41 do Substitutivo, pela qual se incluiu


a condicionante “se estável” para a recondução ao cargo de origem,
não promoveu mudança no sentido da proposição jurídica. A men-
cionada condicionante não contraria direitos e/ou garantias indivi-
duais (art. 60, § 4º, IV, da CF). Ao contrário, ela está harmonizada
com a estabilidade no serviço público. Tem-se, portanto, a um só
tempo, o fortalecimento do instituto da estabilidade e a confirma-
ção, na relação estatutária (não contratual) entre servidor e Admi-
nistração Pública.

Por fim, a ministra Cármen Lúcia reafirmou a prejudicialidade do capítulo


relativo ao art. 26 da EC 19/1998, já pronunciado no julgamento da cautelar.
Em seguida, o julgamento foi suspenso.
(1) CF: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá
aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efici-

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ência e, também, ao seguinte: (...) X – a remuneração dos servidores públi-


cos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados
ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso,
assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de ín-
dices; (...) XIII – é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies
remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público;”
(2) CF: “Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
instituirão conselho de política de administração e remuneração de pessoal,
integrado por servidores designados pelos respectivos Poderes. § 1º A fixação
dos padrões de vencimento e dos demais componentes do sistema remunera-
tório observará: I – a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade
dos cargos componentes de cada carreira; II – os requisitos para a investi-
dura; III – as peculiaridades dos cargos. (...) § 7º Lei da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios disciplinará a aplicação de recursos orça-
mentários provenientes da economia com despesas correntes em cada órgão,
autarquia e fundação, para aplicação no desenvolvimento de programas de
qualidade e produtividade, treinamento e desenvolvimento, modernização,
reaparelhamento e racionalização do serviço público, inclusive sob a forma de
adicional ou prêmio de produtividade.”
(3) CF: “Art. 41 (...) § 2º Invalidada por sentença judicial a demissão do
servidor estável, será ele reintegrado, e o eventual ocupante da vaga, se
estável, reconduzido ao cargo de origem, sem direito a indenização, aprovei-
tado em outro cargo ou posto em disponibilidade com remuneração propor-
cional ao tempo de serviço.”
(4) CF: “Art. 135. Os servidores integrantes das carreiras disciplinadas nas
Seções II e III deste Capítulo serão remunerados na forma do art. 39, § 4º.”
(5) CF: “Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites
estabelecidos em lei complementar. (...) § 7º Lei federal disporá sobre as nor-
mas gerais a serem obedecidas na efetivação do disposto no § 4º.”

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(6) CF: “Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princí-
pios. (...) V – valorização dos profissionais do ensino, garantidos, na forma da
lei, planos de carreira para o magistério público, com piso salarial profissional
e ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos;”
(7) EC 19/1998: “Art. 26. No prazo de dois anos da promulgação desta
Emenda, as entidades da administração indireta terão seus estatutos revistos
quanto à respectiva natureza jurídica, tendo em conta a finalidade e as com-
petências efetivamente executadas.”
ADI 2135/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 3.9.2020. (ADI-2135)

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DIREITO CONSTITUCIONAL
TRIBUTOS
COFINS: ampliação da base de cálculo e majoração de alíquota

É constitucional a previsão em lei ordinária que introduz a siste-


mática da não cumulatividade a COFINS dado que observa os prin-
cípios da legalidade, isonomia, capacidade contributiva global e não
confisco.

Essa foi a tese de repercussão geral fixada pelo Plenário (Tema 34), ao
negar provimento, por maioria, a recurso extraordinário em que discutida a
constitucionalidade da ampliação da base de cálculo e da majoração de alí-
quota da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS),
instituída pela Lei 10.833/2003, resultante da conversão da Medida Provisória
135/2003 (Informativo 844).

Quanto ao alegado vício formal, o colegiado, nos termos do voto


do ministro Edson Fachin, considerou a jurisprudência da Corte no
sentido de não vislumbrar ofensa ao art. 246 da Constituição Federal
na hipótese de mera majoração de alíquotas de contribuições sociais.
Pela mesma razão, reputou que o presente caso não atrai a aplicação
da reserva de lei complementar, haja vista não se tratar de novo tri-
buto.
No que se refere à vedação ao efeito confiscatório, concluiu ser ju-
ridicamente insustentável buscar guarida nesse princípio em sede de
jurisdição constitucional, tendo em conta a orientação segundo a qual
a caracterização desse efeito pressupõe a análise de dados concretos e
de peculiaridades de cada operação ou situação, tomando-se em conta
custos, carga tributária global, margens de lucro e condições pontuais
do mercado e de conjuntura econômica.

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Por fim, adotou o entendimento do Tribunal de que eventuais dife-


renças entre os regimes de lucro real ou de lucro presumido, inclusive
a respeito do direito ao creditamento, não representam ofensa à iso-
nomia ou à capacidade contributiva, porquanto a sujeição ao regime
do lucro presumido é uma escolha feita pelo contribuinte, considera-
do o seu planejamento tributário.

Vencido o ministro Marco Aurélio (relator) que conheceu em parte do re-


curso, e, na parte conhecida, deu-lhe provimento para declarar a inconstitu-
cionalidade da norma. Votou, também, de forma contrária à tese fixada.
RE 570122/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fa-
chin, julgamento em 2.9.2020. (RE-570122)

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DIREITO CONSTITUCIONAL
FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA
Ação de improbidade administrativa e atuação de procurador do estado

A Primeira Turma, por maioria e em conclusão de julgamento, deu


provimento a agravo interno e, em voto médio, deu parcial provi-
mento ao recurso extraordinário, a fim de declarar incompatível com
a Constituição Federal (CF) o entendimento de que o governador do
estado deve autorizar a propositura de ação de improbidade pela pro-
curadoria. Determinou, ainda, o retorno dos autos ao juízo de origem,
para que prossiga o julgamento como entender de direito.

No acordão impugnado, o tribunal de origem compreendeu que procura-


dor do estado de Sergipe não pode ajuizar ação civil pública sem anuência do
procurador-geral e autorização do governador daquela unidade da Federação
(Informativo 952).
Na Turma, prevaleceu o voto médio do ministro Roberto Barroso, que foi
acompanhado pela ministra Rosa Weber.

Em maior extensão, os ministros Alexandre de Moraes e Luiz Fux


deram provimento integral ao agravo e ao recurso extraordinário. En-
tenderam que a restrição imposta pelo tribunal a quo não encontra
respaldo na lei orgânica da procuradoria-geral — Lei Complementar
sergipana 27/1996 — e ofende o art. 132 da CF (1). Logo, não pode-
ria ser exigida a autorização do governador, tampouco a anuência do
procurador-geral nas ações de improbidade.
Já o ministro Marco Aurélio (relator) negou provimento ao agravo
regimental e ao recurso extraordinário. A seu ver, os autos versam
matéria estritamente legal. O relator sublinhou que o pronunciamen-

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to atacado mediante recurso extraordinário envolveu a interpretação


de legislação local.

(1) CF: “Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, or-
ganizados em carreira, na qual o ingresso dependerá de concurso público de
provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em
todas as suas fases, exercerão a representação judicial e a consultoria jurí-
dica das respectivas unidades federadas. parágrafo único. Aos procuradores
referidos neste artigo é assegurada estabilidade após três anos de efetivo
exercício, mediante avaliação de desempenho perante os órgãos próprios,
após relatório circunstanciado das corregedorias.”
ARE 1165456 AgR/SE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Ro-
berto Barroso, julgamento em 1º.9.2020. (ARE-1165456)

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DIREITO CONSTITUCIONAL
PODER JUDICIÁRIO
Justiça competente: arquivamento de inquérito e crime eleitoral

A Segunda Turma, ante o empate na votação, deu provimento a


agravo regimental para determinar a devolução dos autos à Justiça
Eleitoral.

No caso, a investigação em curso foi inicialmente instaurada no âmbito


do Supremo Tribunal Federal (STF), com o propósito de, a partir de dados
revelados em acordo de colaboração premiada, apurar possível realização de
pagamentos indevidos a partidos políticos, objetivando propiciar maior tempo
de propaganda televisiva na campanha eleitoral de 2014 (Inq 4.432).
Na sequência, em razão de superveniente perda da prerrogativa de foro
do investigado e de decisão proferida no âmbito da PET 7.569, determinou-se
a remessa dos autos do inquérito à Justiça Eleitoral, por associarem-se os
fatos com suposta prática de delito eleitoral. Em seguida, ao acolher manifes-
tação do Ministério Público Eleitoral (MPE), a autoridade reclamada ordenou o
arquivamento do inquérito instaurado em relação à suposta prática de crime
eleitoral previsto no art. 350 do Código Eleitoral (CE), por ausência de justa
causa, e declinou da competência em favor da Justiça Federal, para processa-
mento e julgamento dos crimes comuns remanescentes.
Contra essa decisão, foi ajuizada a presente reclamação.

O ministro Edson Fachin (relator), ao negar seguimento à recla-


mação, por meio de decisão monocrática, afirmou, em suma, que o
superveniente arquivamento da investigação referente à infração
afeta aos interesses eleitorais, promovido a pedido do MPE e objeto
da devida chancela pelo juízo competente, acarreta legítima modifi-

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cação processual apta, em tese, a repercutir na definição de compe-


tência, sem que tal proceder, por si, constitua afronta à autoridade
da decisão reclamada. A decisão foi objeto de impugnação por agravo
regimental.

Prevaleceu o voto do ministro Gilmar Mendes que, acompanhado do mi-


nistro Ricardo Lewandowski, deu provimento ao agravo regimental.

Para o ministro, houve violação à autoridade da decisão do STF


proferida nos autos do Inquérito 4.432, uma vez que as instâncias
inferiores não observaram as diretrizes que resultaram na definição
da competência da Justiça Eleitoral para apuração e processamento
dos fatos.

Ressaltou, ademais, que o MPE promoveu o arquivamento dos delitos pre-


vistos no art. 350 do CE imediatamente após o recebimento dos autos, não
tendo sequer empreendido qualquer diligência investigativa para apurar os
indícios de tais crimes.
Além disso, o Juízo Eleitoral arquivou o inquérito e remeteu os autos à
Justiça Federal, mesmo diante da expressa decisão dessa Corte que fixou sua
competência para supervisão dos fatos. As instâncias inferiores, portanto,
ignoraram os termos da decisão reclamada, que assentou a competência da
Justiça Eleitoral para o processamento e a apuração dos fatos em questão.
Os ministros Edson Fachin e Cármen Lúcia negaram provimento ao agravo
regimental.
Rcl 34805 AgR/DF, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Men-
des, julgamento em 1º.9.2020. (Rcl-34805)

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*Informativo: 990

*Data de divulgação: 17 de setembro de 2020

DIREITO ADMINISTRATIVO
SERVIDORES PÚBLICOS
Fixação de subsídios e teto remuneratório

O Plenário retomou julgamento de ação direta de inconstituciona-


lidade ajuizada em face dos artigos 11 e 35, bem como da expressão
“a que se refere o art. 47-A desta Lei”, contida nos artigos 13, 14, 15
e 19 da Lei Complementar (LC) 111/2006 do estado do Rio de Janei-
ro, a qual alterou diversos dispositivos da LC 15/1980, que trata da
organização da Procuradoria-Geral do estado (Informativo 919).

As normas impugnadas estabelecem, para os integrantes da classe final


da carreira da Procuradoria, subsídio fixado em valor não inferior ao limite
indicado no inciso XI do art. 37 da Constituição Federal (CF), ou seja, 90 in-
teiros e 25 centésimos por cento do subsídio pago aos ministros do Supremo
Tribunal Federal.

Em voto-vista, o ministro Alexandre de Moraes divergiu do minis-


tro Marco Aurélio (relator) e julgou parcialmente procedente o pedido
formulado para, ao conferir interpretação conforme a Constituição ao
dispositivo impugnado, definir que a retribuição estipendial da classe
final da carreira de Procurador do Estado do Rio de Janeiro fixada no
art. 47-A da LC 15/1980 corresponde ao valor fixado pela Lei federal
11.143/2005, em vigor no momento em que editada a LC 111/2006.

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Afirmou que não há vinculação automática e, desde a aplicação da


norma impugnada até hoje, toda vez que o teto foi aumentado, houve
a necessidade da edição de novas leis para concretizar os aumentos
dos procuradores.
Pontuou que a interpretação conforme à Constituição garante que
a lei não poderá ser utilizada para dar um aumento automático.

Os ministros Edson Fachin, Rosa Weber e Gilmar Mendes acompanharam


a divergência.
Já os ministros Luiz Fux, Cármen Lúcia e Ricardo Lewandowski votaram
com o relator pela procedência do pedido.

O ministro Luiz Fux acrescentou que a norma em comento afronta o


pacto federativo, porque a fixação de remuneração de servidor públi-
co estadual por norma jurídica federal contraria o princípio constitu-
cional de iniciativa reservada ao chefe do Poder Executivo. Equiparar
à legislação federal retira automaticamente a competência constitu-
cional do Poder Executivo local. Além disso, o emprego da técnica da
interpretação conforme não é cabível no caso sub examine, sob pena
de, usurpando a função legislativa, reescrever o que está previsto na
lei. Interpretação conforme somente é possível quando o texto dá
margem a várias interpretações, o que não ocorre na espécie.

Em seguida, o julgamento foi suspenso em virtude do pedido de vista do


ministro Dias Toffoli.
ADI 3697/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 9.9.2020. (ADI-3697)

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DIREITO CONSTITUCIONAL
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
ICMS: substituição tributária e mercado livre de energia elétrica

O Plenário retomou julgamento de ação direta de inconstitucio-


nalidade ajuizada contra a alínea “b” do inciso I e os §§ 2º e 3º do
art. 425 do Decreto 45.490/2000 — Regulamento do Imposto sobre
Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestação
de Serviços de Transporte do Estado de São Paulo (RICMS) —, com
a redação dada pelo Decreto 54.177/2009, ambos do estado de São
Paulo (Informativos 634 e 871). A norma impugnada atribui às dis-
tribuidoras de energia elétrica o dever instrumental de recolhimen-
to do imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias
e prestações de serviços (ICMS) incidente sobre o fornecimento de
energia elétrica contratada no ambiente de mercado livre.
O ministro Alexandre de Moraes, em voto-vista, divergiu do voto
da relatora para julgar improcedente o pedido formulado por não vis-
lumbrar as inconstitucionalidades apontadas. Segundo o ministro, o
mecanismo criado pelo decreto viabiliza uma maior fiscalização, sem
alterar o montante de tributos, com o fim de evitar a sonegação fiscal.

O ministro afastou, inicialmente, a tese de invasão da competência priva-


tiva da União para legislar sobre exploração de energia elétrica. Para ele, o
decreto não adentra essa competência, porque não altera a questão material
sobre exploração de energia elétrica. Ele altera, sim, o que os estados-mem-
bros podem fixar, ou seja, a forma de responsabilizar o devedor tributário
para o recolhimento do ICMS, ainda que as operações e as prestações se
iniciem no exterior.

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Considerou que o art. 155, II, da Constituição Federal (CF) (1) confere
competência aos estados e ao DF para instituição de ICMS. Por sua vez, com
fundamento no art. 155, XII, “b”, da CF (2), a Lei Complementar federal (LC)
87/1996, no § 1º do seu art. 6º (3), estabelece ser faculdade da legislação
estadual atribuir, a contribuinte do imposto ou depositário a qualquer título, a
responsabilidade pelo pagamento do tributo, hipótese essa em que assumirá
a condição de substituto tributário para uma ou mais operações ou presta-
ções, sejam elas antecedentes, concomitantes ou subsequentes. Ou seja, há
uma delegação ao próprio estado-membro. A LC 87/1996 ainda dispõe, no
seu art. 9º, §1º, II (4), que a responsabilidade a que se refere o aludido art.
6º poderá ser atribuída às empresas geradoras ou distribuidoras de energia
elétrica. Dessa forma, o responsável indireto assume a condição de contri-
buinte ou substituto tributário.
No caso, o estado de São Paulo, com base nesses comandos constitucio-
nais e legais, editou a Lei 6.374/1989, cujo art. 8º, VI (5), prevê a empre-
sa distribuidora como substituto tributário nas operações ou prestações com
mercadorias e serviços. O § 10, 2, do mesmo dispositivo legal (6) impõe que
a sujeição passiva dependerá de disciplina por normas complementares a
serem fixadas em regulamento, que é exatamente o decreto ora impugnado.

Na visão do ministro Alexandre de Moraes, o regime de substitui-


ção tributária estabelecido no referido impugnado está em total con-
formidade com o princípio da legalidade tributária estrita.
Registrou que a atribuição da responsabilidade tributária ao subs-
tituto tributário somente é opção juridicamente aceitável quando
atendidas as condições previstas no art. 146 da CF. O art. 121, pará-
grafo único, II, do Código Tributário Nacional (CTN) estabelece que
é responsável tributário aquele que, sem ser o contribuinte direto da
obrigação tributária, assume a condição de sujeito passivo, mas como
decorrência de disposição expressa em lei, como há no presente caso.
O art. 128 do CTN, igualmente autoriza à lei atribuir responsabilidade

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pelo crédito tributário responsabilidade pelo crédito tributário a ter-


ceira pessoa, bastando que ela esteja vinculada ao fato gerador da
obrigação. No ponto, rejeitou a alegação de ausência de vínculo com
o fato gerador. Isso porque, no caso em questão, o vínculo da distri-
buidora com as demais fases de uma operação física do próprio ci-
clo econômico relativo à energia elétrica é objetivamente inafastável,
seja no mercado de comercialização regulada, seja no mercado de
comercialização livre. A distribuidora de energia elétrica integra fisi-
camente o ciclo e o processo de produção, comercialização e trans-
missão de energia elétrica, podendo ser tomada como integrante da
relação jurídica tributária decorrente. Não é possível, ao conceito de
disponibilização ou comercialização de energia elétrica, a ausência
do suporte físico da distribuição, das linhas de transmissão, sob pena
de ser inviável quantificar o que foi distribuído, transmitido, e, dessa
forma, o que pode ser a base de cálculo do tributo.

O ministro Alexandre de Moraes afastou, também, a argumentação de que


as normas atacadas violariam o princípio da livre concorrência, uma vez que
estabeleceriam franca vantagem às distribuidoras substitutas tributárias que
tenham comercializadoras integradas por controle ao mesmo grupo econômi-
co. Isso porque, para o momento de apuração dos valores de consumo, que
é exatamente a base de cálculo para definição do montante a ser recolhido,
concorre uma declaração instrumental, denominada “declaração do valor de
aquisição de energia elétrica em ambiente de contratação livre”. Essa decla-
ração instrumental deve ser preenchida e apresentada em sistema informa-
tizado por intermédio do que se registram os valores de aquisição de energia
elétrica contratadas, exatamente para se evitar burla na livre concorrência e,
também, a sonegação. Dessa forma, com esse procedimento, a informação
prestada por cada consumidor fica resguardada pelo fisco e, a partir dela, é
possível a apuração do preço médio, e, em seguida, do imposto devido. Por-
tanto, o decreto impugnado não trata de alteração das normas tributárias,

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mas sim de regulamentação de um modelo de apuração fiscal que observa os


critérios de praticabilidade fiscal, da razoabilidade e da eficiência com objetivo
de evitar a sonegação fiscal. Portanto, ao invés de ferir a livre concorrência,
a regulamentação impugnada a reforça, na medida em que busca reprimir
quadro de potencial evasão ou abusividade elisiva.
Após os votos dos ministros Edson Fachin e Roberto Barroso, que acompanha-
ram o voto da relatora, o ministro Ricardo Lewandowski pediu vista dos autos.
(1) CF: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir im-
postos sobre: (...) II – operações relativas à circulação de mercadorias e so-
bre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de
comunicação, ainda que as operações e as prestações se iniciem no exterior;”
(2) CF: “Art. 155. (...) XII – cabe à lei complementar: (...) b) dispor sobre
substituição tributária;”
(3) LC 87/1996: “Art. 6º Lei estadual poderá atribuir a contribuinte do
imposto ou a depositário a qualquer título a responsabilidade pelo seu paga-
mento, hipótese em que assumirá a condição de substituto tributário.”
(4) LC 87/1996: “Art. 9º. A adoção do regime de substituição tributária
em operações interestaduais dependerá de acordo específico celebrado pe-
los Estados interessados. § 1º. A responsabilidade a que se refere o artigo
6º poderá ser atribuída: (...) II – às empresas geradoras ou distribuidoras
de energia elétrica, nas operações internas e interestaduais, na condição de
contribuinte ou de substituto tributário, pelo pagamento do imposto, desde
a produção ou importação até a última operação, sendo seu cálculo efetuado
sobre o preço praticado na operação final, assegurado seu recolhimento ao
Estado onde deva ocorrer essa operação.”
(5) Lei 6.374/1989: “Artigo 8º – São sujeitos passivos por substituição,
no que se refere ao imposto devido pelas operações ou prestações com mer-
cadorias e serviços adiante nominados: (...) VI – quanto a energia elétrica: a
empresa geradora, a distribuidora ou qualquer outra que comercializar ener-
gia elétrica, relativamente ao imposto devido nas operações antecedentes,
concomitantes ou subsequentes;”

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(6) Lei 6.374/1989: “Artigo 8º (...) § 10 – A sujeição passiva por substi-


tuição em relação às operações anteriores previstas neste artigo: (...) 2 – em
relação a cada situação, mercadoria ou serviço depende de normas comple-
mentares a sua execução, fixadas em regulamento.”
ADI 4281/SP, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 9.9.2020. (ADI-4281)

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DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

RECURSOS

CLT, art. 896-A:

Recurso de revista, ausência detranscendência e repercussão geral

A Primeira Turma, por maioria, deu provimento a agravos regi-


mentais para cassar as decisões reclamadas e afastar a responsabi-
lidade subsidiária da União.

As reclamações foram ajuizadas contra decisões do Tribunal Superior do


Trabalho (TST) que negaram seguimento a Agravo de Instrumento em Re-
curso de Revista (AIRR) por “ausência de transcendência” da controvérsia,
motivo pelo qual determinaram a baixa imediata dos autos.
A reclamante alegava afronta ao que decidido pelo STF na ADC 16 e no RE
760.931 (Tema 246 da repercussão geral). Em suma, sustentava que o TST
não poderia negar a transcendência a processo cuja matéria de fundo tenha
sido objeto de ação direta de constitucionalidade, de recurso extraordinário
com repercussão geral reconhecida ou de enunciado da Súmula Vinculante.
Aduzia que empecer os recursos de revista, por reputar inexistente o mencio-
nado instituto, caracterizaria usurpação de competência do STF.

Nas decisões, ora agravadas, a ministra Rosa Weber (relatora) ne-


gou seguimento às reclamações, uma vez que o Tribunal de origem
assentara a responsabilidade subsidiária do ente público por culpa in
vigilando. Sublinhou que afastar tal conclusão exigiria a reabertura
do debate fático-probatório, procedimento inviável em sede de recla-
mação.
Prevaleceu o voto do ministro Alexandre de Moraes. O ministro
observou que os autos versam sobre a questão da responsabilidade

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solidária do ente público, matéria cuja repercussão geral foi reconhe-


cida e decidida pelo STF. Assinalou que o TST tem negado a transcen-
dência da questão com base no art. 896-A da Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT) (1), e, ao mesmo tempo, tem determinado o ime-
diato trânsito em julgado. Isso impede que a controvérsia chegue ao
STF e possa vir à discussão.
A seu ver, a análise da transcendência se faz no campo jurídico
e o TST não está a analisar questões fáticas do Tribunal Regional do
Trabalho. Ao examinar a matéria e barrar a transcendência, aquele
Tribunal está a impedir que o STF aprecie a mesma questão jurídica,
já analisada anteriormente, sobre a qual foi editada uma tese da ne-
cessidade de exame detalhado de haver ou não culpa.
Por seu turno, o ministro Roberto Barroso recordou o contexto em
que se deram o julgamento da ADC 16 e do RE 760.931. Ponderou
existir resistência da Justiça do Trabalho relativamente à interpreta-
ção dada pelo STF, pois automaticamente se considera que haja culpa
in vigilando. Ademais, ao negar a transcendência e a subida do feito,
no fundo, o que se faz é impedir que a posição pacificada do STF pre-
valeça nos casos.

Em arremate, acentuou ser medida de economia processual julgar o mé-


rito pela aplicação da tese firmada no STF.
Vencida a ministra Rosa Weber (relatora), que negou provimento aos
agravos, haja vista o tribunal de origem ter assentado a responsabilidade
subsidiária do ente público por culpa in vigilando. Para a relatora, a afirmação
de culpa in vigilando não implica descumprimento do que decidido pelo STF.
Ademais, a decisão reclamada se limita a examinar o pressuposto extrínseco
de admissibilidade recursal, que é a existência ou não de transcendência.
(1) CLT: “Art. 896-A – O Tribunal Superior do Trabalho, no recurso de re-
vista, examinará previamente se a causa oferece transcendência com relação

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Mês de Setembro de 2020

aos reflexos gerais de natureza econômica, política, social ou jurídica. § 1º


São indicadores de transcendência, entre outros: I – econômica, o elevado
valor da causa; II – política, o desrespeito da instância recorrida à jurispru-
dência sumulada do Tribunal Superior do Trabalho ou do Supremo Tribunal
Federal; III – social, a postulação, por reclamante-recorrente, de direito so-
cial constitucionalmente assegurado; IV – jurídica, a existência de questão
nova em torno da interpretação da legislação trabalhista. § 2º Poderá o re-
lator, monocraticamente, denegar seguimento ao recurso de revista que não
demonstrar transcendência, cabendo agravo desta decisão para o colegiado.
§ 3º Em relação ao recurso que o relator considerou não ter transcendência, o
recorrente poderá realizar sustentação oral sobre a questão da transcendên-
cia, durante cinco minutos em sessão. § 4º Mantido o voto do relator quanto
à não transcendência do recurso, será lavrado acórdão com fundamentação
sucinta, que constituirá decisão irrecorrível no âmbito do tribunal. § 5º É irre-
corrível a decisão monocrática do relator que, em agravo de instrumento em
recurso de revista, considerar ausente a transcendência da matéria. § 6º O
juízo de admissibilidade do recurso de revista exercido pela Presidência dos
Tribunais Regionais do Trabalho limita-se à análise dos pressupostos intrínse-
cos e extrínsecos do apelo, não abrangendo o critério da transcendência das
questões nele veiculadas.”
Rcl 36958 AgR/SP, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Alexandre
de Moraes, julgamento em 8.9.2020. (Rcl-36958)
Rcl 40652 AgR/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Alexandre
de Moraes, julgamento em 8.9.2020. (Rcl-40652)

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL


PROCESSOS NOS TRIBUNAIS E MEIOS DE IMPUGNAÇÃO
DE DECISÕES JUDICIAIS
Ação rescisória e suspensão nacional

A Primeira Turma retomou julgamento de agravos regimentais in-


terpostos de decisão monocrática, na qual julgado procedente pedi-
do formulado em reclamação para cassar decisão proferida em sede
de ação rescisória, que teria desrespeitado a suspensão nacional do
processamento de todos os processos pendentes sobre a mesma ma-
téria, decretada no RE 960.429 (Tema 992 da repercussão geral).

No caso, candidatos aprovados em cadastro de reserva em processo sele-


tivo público da Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobrás) ingressaram em juízo com
reclamação trabalhista para ver reconhecido o direito à nomeação em virtude
de suposta ilicitude da terceirização da atividade. O juízo da vara do traba-
lho reconheceu sua incompetência absoluta para julgar o feito. No Tribunal
Regional do Trabalho (TRT), foi afastada a incompetência da Justiça laboral
e julgado procedente o pedido com a determinação de contratação de todos
os aprovados. O respectivo acórdão transitou em julgado e foi objeto de ação
rescisória no TRT. Inicialmente, o relator da rescisória concedeu pedido de
liminar, ordenando a suspensão dos efeitos do acórdão rescindendo. Depois,
exerceu juízo de retratação e revogou a tutela no pronunciamento que ense-
jou esta reclamação constitucional (Informativo 948).
Em voto-vista, a ministra Rosa Weber abriu divergência para dar provi-
mento aos agravos e julgar improcedente a reclamação, no que foi acompa-
nhada pelo ministro Marco Aurélio.

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A ministra entendeu incabível a reclamação constitucional, ao fun-


damento de que a suspensão nacional determinada em repercussão
geral não alcança a ação rescisória.
Lembrou que o Supremo Tribunal Federal (STF), ao apreciar o RE
837.311 sob a sistemática da repercussão geral (Tema 784), reco-
nheceu o direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado em
concurso público na hipótese em que a aprovação ocorrer dentro do
número de vagas na forma do edital, bem como nos casos de prete-
rição de nomeação por não observância da ordem de classificação e
de preterição de candidatos de forma arbitrária e imotivada por parte
da Administração quando surgirem novas vagas ou for aberto novo
concurso durante a validade do certame anterior.

Além disso, ponderou que o procedimento administrativo do concurso pú-


blico, objeto de análise por esta Corte no RE 960.429 (Tema 992), representa
fase pré-contratual preliminar, que atinge a sua finalidade com a homologação
pela divulgação dos candidatos aprovados e a respectiva classificação no diário
oficial, pelo que não se expande à fase seguinte, relativa ao contrato preliminar.
Por força do art. 173, § 1º, II, da Constituição Federal (CF) (1), inicia-se,
então, a fase pré-contratual relativa ao “contrato preliminar” ou “pré-contra-
to”, emergindo o vínculo jurídico obrigacional essencialmente trabalhista en-
tre o promitente-empregador e o promitente-empregado, fundada sua causa
na troca entre remuneração e prestação dos serviços.

A seu ver, precisamente aí se insere a controvérsia atinente ao


direito subjetivo de nomeação de candidatos já aprovados, promiten-
te-empregados, fundado na alegação de preterição pela Administra-
ção Pública indireta, promitente-empregadora. Nesse caso, esgotada
a fase preliminar do concurso público com a seleção dos candidatos
classificados, inicia-se o vínculo obrigacional essencialmente traba-

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Setembro de 2020

lhista no contrato preliminar, a atrair a competência da Justiça do


Trabalho [CF, art. 114, I (2)].

Reportou-se à jurisprudência do STF segundo a qual a determinação de


sobrestamento dos processos pelo relator ao exame de repercussão geral, na
forma do art. 1.035, § 5º, do Código de Processo Civil (CPC) (3), não alcança
a ação rescisória. Sopesou que entendimento contrário significaria menos-
cabo à segurança jurídica da decisão transitada em julgado e burla ao prazo
decadencial, notadamente na hipótese em que, à época em que prolatada,
amparada a decisão reclamada, no sentido da competência da Justiça do Tra-
balho, por vários precedentes do STF.
A ministra Rosa Weber aduziu que, na situação dos autos, a decisão recla-
mada reconsiderou liminar de suspensão dos efeitos do acórdão rescindendo
por não evidenciado o fumus boni iuris. O referido ato rejeitou a tese de su-
posta violação, pelo acórdão rescindendo, do art. 114, I, e do art. 5º, LIII, da
CF (4), bem assim a de concretização da hipótese rescisória prevista no art.
966, II, do CPC (5). Isso, porque a decisão rescindenda afirmou a competên-
cia material da Justiça do Trabalho para o julgamento da causa lastreado em
consagrada jurisprudência do STF e do Tribunal Superior do Trabalho.
Ao final, registrou que os precedentes citados pelo ministro Alexandre de
Moraes (relator), na decisão agravada, não examinaram reclamação consti-
tucional ajuizada em face de decisão proferida em sede de ação rescisória.

Por sua vez, o ministro Marco Aurélio ressaltou que, no pronuncia-


mento apontado como paradigma, foi definida a competência da Jus-
tiça comum para apreciar controvérsias alusivas à fase de concurso
público.
Em sua dicção, não cabe simplesmente dizer que a ação rescisó-
ria deve ser julgada pela Justiça comum. A definição da competência
da rescisória se dá pelo órgão prolator. Sob outro ângulo, também se
mostra imprópria a reclamação constitucional, porquanto voltada con-

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Mês de Setembro de 2020

tra o trânsito da rescisória na Justiça do Trabalho. O instituto pressu-


põe processo de conhecimento em andamento.

Ademais, a reclamação não se presta a isso. Ela pressupõe usurpação de


competência do STF ou desrespeito a decisão que tenha proferido.
Nesta assentada, o ministro Alexandre de Moraes confirmou seu voto e
negou provimento ao agravo. Ato contínuo, foi acompanhado pelo ministro Luiz
Fux.

O relator sublinhou que a decisão rescindenda foi dada em des-


respeito à suspensão nacional determinada no Tema 992, que fora
decretada três meses antes. Complementou que a suspensão deve al-
cançar ações rescisórias em curso, na medida em que se discute exa-
tamente a questão da incompetência absoluta da Justiça do Trabalho.
Por qualquer desses motivos, a procedência da reclamação constitu-
cional é corroborada pela própria lógica do sistema.

Na sequência, em razão do empate verificado, o julgamento foi suspenso.


(1) CF: “Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a ex-
ploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando
necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse
coletivo, conforme definidos em lei. § 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico
da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias
que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens
ou de prestação de serviços, dispondo sobre: (...) II – a sujeição ao regime
jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obri-
gações civis, comerciais, trabalhistas e tributários;”
(2) CF: “Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I – as
ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público
externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios;”

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Mês de Setembro de 2020

(3) CPC: “Art. 1.035. O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível,


não conhecerá do recurso extraordinário quando a questão constitucional nele
versada não tiver repercussão geral, nos termos deste artigo. (...) § 5º Reco-
nhecida a repercussão geral, o relator no Supremo Tribunal Federal determina-
rá a suspensão do processamento de todos os processos pendentes, individu-
ais ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território nacional.”
(4) CF: “Art. 5º (...) LIII – ninguém será processado nem sentenciado
senão pela autoridade competente;”
(5) CPC: “Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser
rescindida quando: (...) II – for proferida por juiz impedido ou por juízo
absolutamente incompetente;”
Rcl 33147 AgR e AgR-segundo/GO, rel. Min. Alexandre de Moraes, julga-
mento em 8.9.2020. (Rcl-33147)

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*Informativo: 991

*Data de divulgação: 23 de setembro de 2020

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


AÇÃO RESCISÓRIA
Omissão no julgado e ação rescisória

A ação rescisória não é sucedânea de embargos de declaração. Com


base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou improceden-
te pedido formulado em ação rescisória ajuizada contra decisão mono-
crática, que deu parcial provimento a recurso extraordinário do contri-
buinte para afastar a aplicação do conceito de faturamento definido no
art. 3º, § 1º, da Lei n. 9.718/1998.

No caso, alegava-se suposto erro de fato na decisão de mérito proferida no


julgamento de recurso extraordinário, por considerar inexistente fato efetiva-
mente ocorrido, consistente na petição do recorrente, com expressa renúncia
ao direito em que se fundava a ação e a eventuais recursos. Sustentava-se,
também, literal violação do art. 269, V, do Código de Processo Civil (CPC) de
1973, que prevê a extinção do feito quando o autor renunciar ao direito sobre
o qual se funda a ação, e do art. 501 do mesmo diploma legal, que dispõe
sobre a possibilidade de o recorrente desistir do recurso, a qualquer tempo,
sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes.

O Tribunal rechaçou a alegada violação à literal disposição de lei,


e, por maioria, a existência de erro de fato.
Quanto ao erro de fato, o colegiado entendeu haver omissão, que
deixou de ser sanada ante a ausência de oposição de embargos de

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declaração. Afirmou não ser possível, na hipótese em que verificada


a ocorrência de omissão, que a parte deixe de embargar para, após
o trânsito em julgado, pleitear por meio de ação rescisória. Admitir o
contrário poderia constituir precedente no sentido de que toda omis-
são poderia ser caracterizada como erro de fato.

Verificou-se, ademais, não haver nos autos procuração com poderes es-
pecíficos para a desistência do recurso ou a renúncia ao direito em que se
funda a ação.
Vencidos, parcialmente, os ministros Gilmar Mendes (relator) e Ricardo
Lewandowski (revisor) que, ao reconhecerem a existência de erro de fato,
julgaram procedente, em parte, o pedido para rescindir a decisão proferida
no recurso extraordinário e, assim, homologaram a petição de renúncia ao
direito em que se fundava a ação e julgaram a demanda originária extinta
com resolução de mérito.
AR 2107/SP, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgamento em 16.9.2020. (AR-2107)

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DIREITO CONSTITUCIONAL
CONCURSO PÚBLICO
Concurso público: prazo de validade esgotado e direito à nomeação

O Plenário, ao apreciar o Tema 683 da repercussão geral, deu provi-


mento a recurso extraordinário, com julgamento iniciado em ambiente
virtual, para restabelecer sentença que julgou improcedente pedido
de nomeação da recorrida para o cargo de professora da rede pública
para o qual aprovada em concurso público, cujo prazo de validade ex-
pirara antes do ajuizamento da ação.

Na espécie, a recorrida ficou em 10º lugar na classificação final do concur-


so. No período de validade do certame, foi nomeado um professor e outros
sete foram contratados a título precário. Após o encerramento do prazo de
validade, mais 24 profissionais foram contratados em regime temporário. O
acórdão recorrido reformou a sentença por concluir, tendo em vista a nomea-
ção e as contratações temporárias, haver 32 vagas disponíveis para o cargo,
alcançada a colocação da recorrida e configurada preterição, presente o prin-
cípio da razoabilidade. Aduziu que as contratações precárias implementadas
depois de esgotado o prazo de validade do concurso revelaram a necessidade
de prorrogação, sendo irrelevante o surgimento da 10ª vaga após decorridos
os 2 anos de vigência previstos no edital.
Prevaleceu o voto do ministro Marco Aurélio (relator).

Considerou que a ação foi ajuizada quando já cessada a relação


jurídica decorrente do concurso e da inscrição efetivada. Segundo o
ministro, a nomeação deve ser buscada, judicialmente, no prazo de
validade do concurso público. Ademais, ainda que se pudesse despre-
zar a decadência do direito de insurgir-se contra ato praticado pelo

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Estado, presente o fato de haver expirado a validade do certame, não


ocorreu, no período no qual este último estava em vigor, preterição.
Esclareceu que, embora substancial o número de vagas ofertadas,
o ente federado nomeou um único professor para a área de ensino
fundamental, observando a ordem de classificação. Registrou que o
fenômeno bem revelou a crise existente no Estado e que necessidade
imperiosa conduziu à nomeação temporária, após o fim da validade
do concurso, de sete professores para o município, tendo sido a pró-
pria recorrida uma das contratadas mediante ajuste balizado no tem-
po, com prazo determinado. Frisou que o reconhecimento do direito
da recorrida à nomeação, determinada pelo juízo a quo, implicaria
desrespeito à ordem de classificação. Isso porque, antes da recorri-
da, havia outros oito candidatos em situação preferencial.

Em seguida, o Tribunal deliberou fixar a tese em assentada posterior.


RE 766304/RS, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 17.9.2020.
(RE-766304)

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DIREITO TRIBUTÁRIO
CONTRIBUIÇÕES
EC 33/2001: contribuição destinada ao Sebrae,

à Apex e à ABDI e folha de salários

O Plenário iniciou julgamento de recurso extraordinário (Tema


325 da repercussão geral) em que se discute a constitucionalidade
das contribuições destinadas ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro
e Pequenas Empresas (Sebrae), à Agência Brasileira de Promoção de
Exportações e Investimento (Apex) e à Agência Brasileira de Desen-
volvimento Industrial (ABDI), incidentes sobre a folha de salários,
após a Emenda Constitucional (EC) 33/2001.

Na espécie, o tribunal a quo deu parcial provimento a apelação, apenas


para reduzir o valor dos honorários advocatícios fixados na sentença de im-
procedência da ação. Entendeu, em suma, que a EC 33/2001, ao incluir o in-
ciso III no § 2º do art. 149 da Constituição Federal (CF) (1), explicitou bases
de cálculo para as contribuições de intervenção no domínio econômico sem o
fazê-lo de forma taxativa, mantido o fundamento de validade das contribui-
ções ao Sebrae, à Apex e à ABDI, que, para a consecução de desígnios cons-
titucionais estabelecidos no art. 170 da CF (2), utiliza como base econômica
a folha de pagamento das empresas.

A ministra Rosa Weber (relatora) deu provimento ao recurso ex-


traordinário para julgar procedente a ação. Assentou a inexigibili-
dade das contribuições para o Sebrae, a Apex e a ABDI, a partir de
12.12.2001, data do início da vigência da EC 33/2001, e reputou in-
devidos os recolhimentos assim efetivados pela autora, observada a
prescrição quinquenal, bem como a inversão dos ônus sucumbenciais.

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De início, enfatizou tratar-se da recepção ou não das contribuições pela EC


33/2001, sob o prisma da base de cálculo aplicada. O cerne da discussão está
no caráter taxativo ou não do rol da base de cálculos previsto no art. 149, §
2º, III, a, da CF.
Esclareceu que, ao inserir o § 2º, III, a, no art. 149 da CF, a EC 33/2001
emprestou estatura constitucional às bases de cálculo das Contribuições de
Intervenção no Domínio Econômico (CIDEs), quais sejam, “o faturamento, a
receita bruta ou o valor da operação e, no caso de importação, o valor adua-
neiro”. Com o advento da EC 33/2001, o texto constitucional passou a prever
bases materiais para a incidências dessas contribuições.
Em sua redação original, o preceito tão somente preconizava a competên-
cia da União para instituir CIDEs, com observância a outros dispositivos cons-
titucionais, remetendo ao legislador infraconstitucional das normas gerais,
em matéria de legislação tributária, eventual maior detalhamento. A respeito
das contribuições ao Sebrae, à Apex e à ABDI, a legislação infraconstitucional
de regência determina a aplicação das alíquotas — ad valorem — sobre a fo-
lha de salários das empresas.

A relatora considerou incontroversos os seguintes pontos: (i) o


tema objeto da presente repercussão geral — precisamente à luz da
base de cálculo das contribuições ao Sebrae, à Apex e à ABDI —, ainda
não foi examinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF); (ii) as contri-
buições em apreço têm matriz no art. 149 da CF; (iii) elas dispensam
lei complementar para a instituição; e (iv) a EC 33/2001 não prevê
como base de incidência das CIDEs a folha de salários.
A seu ver, a questão não foi objeto de exame quando do julgamen-
to do RE 396.266. Na oportunidade, o STF firmou a constitucionalida-
de da contribuição ao Sebrae sob o prisma da sua qualificação como
interventiva, a se submeter ao comando do art. 149, caput, da CF, na
redação original. Isso, porque o processo foi ajuizado e sentenciado

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Mês de Setembro de 2020

antes da edição da EC 33/2001, inovação constitucional sequer ven-


tilada nas razões de apelação e do recurso extraordinário. Tampouco
foi enfrentada ao serem apreciadas as ADIs 2.556 e 2.568, relativas
a contribuições destinadas a financiar o pagamento dos expurgos do
FGTS. As contribuições, instituídas anteriormente à promulgação da
EC 33/2001, foram submetidas a controle pelo prisma do texto origi-
nal da CF. Além disso, ao examinar o RE 635.682, paradigma do Tema
227 da Repercussão Geral (RG), esta Corte declarou a desnecessida-
de da instituição por lei complementar da contribuição ao Sebrae.

Quanto ao RE 630.898 (Tema 495 RG), a ministra compreendeu ser reco-


mendável a apreciação conjunta com o caso em debate. Realçou que a con-
trovérsia versada naqueles autos se refere às consequências jurídicas advin-
das da edição da EC 33/2001, pertinentes à contribuição ao Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária, espécie tributária cuja incidência também
se opera sobre a folha de salários.
Depois de expor o escorço histórico da EC 33/2001, a relatora dispôs ser
possível inferir não ter sido intenção do relator da matéria na Câmara dos
Deputados limitar as possíveis bases de cálculo das contribuições sociais e
interventivas gerais, senão permitir que estas e o ICMS monofásico sobre
combustíveis fossem cobrados com suporte em alíquotas específicas e que o
referido imposto pudesse gravar o preço usualmente praticado pelo mercado,
e não apenas o preço de venda.

Ato contínuo, firmou entendimento de que o elenco da alínea a do


inciso III do § 2º do art. 149 da CF não é meramente exemplificati-
vo (numerus apertus), mas, sim, taxativo (numerus clausus), efetiva
delimitação de estatura constitucional das bases materiais de inci-
dência das contribuições interventivas e sociais gerais. Nessa linha,
mencionou doutrina segundo a qual a EC 33/2001 apontou “tanto as
bases de cálculo possíveis como as alíquotas possíveis, restringindo

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a liberdade de ação do legislador federal (que, nesse campo, era am-


pla), e expulsando, do sistema normativo, as leis que dispunham de
forma contrária”.

Sem descurar da natureza jurídica diversa da contribuição para o PIS/


Cofins-importação, dentre outras particularidades presentes no RE 559.937
(Tema 1 RG), a ministra Rosa Weber rememorou que o STF, à unanimidade,
reconhecera a inconstitucionalidade de dispositivo de legislação infraconsti-
tucional, precisamente na parte em que extrapolada a base de cálculo pre-
conizada pelo art. 149, § 2º, III, a, da CF. Avaliou que a “relação de comple-
mentaridade” entre os comandos dos arts. 149 e 195 da CF (3), destacada na
ocasião, não justifica compreender como exemplificativo o elenco das bases
de cálculo das alíquotas das CIDEs (EC 33/2001). Ademais, verificou que, na
oportunidade, esta Corte apontou o caráter taxativo do rol constante da men-
cionada alínea a, estando o legislador ordinário adstrito a observá-lo quando
da instituição das espécies tributárias ali previstas.

A relatora asseverou que o regramento introduzido pela EC


33/2001, à luz da sua redação, apresenta-se dotado de generalidade
e abstração, a desvincular a norma jurídico-constitucional para fins de
interpretação e aplicação, da intenção suposta do legislador. Tal fenô-
meno, consabido, se opera tout court no exato momento em que pro-
mulgada a emenda constitucional, nos mesmos moldes do que ocorre
com todas as leis. Ainda que se possa perscrutar os propósitos do
legislador na tarefa de produção das leis — em certas hipóteses ope-
ração indispensável à apreensão do significado da norma jurídica —,
os eventuais e possíveis motivos — intenção do legislador — não são
condutores da solução hermenêutica que se venha a emprestar ao
caso. A mens legislatoris, a despeito de importante, não tem o valor de
interpretação autêntica.

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Mês de Setembro de 2020

Avaliou ser inviável extrair interpretação no sentido de que o texto


constitucional não alcança e emoldura os limites da atuação discricio-
nária do legislador ordinário, no que tange às bases de incidência de
todas as espécies tributárias ali previstas, mesmo que, em tese, se
pudesse resgatar tal ou qual mens legis, observada a estrita dicção
do art. 149, § 2º, III, a, da CF.

Em matéria de direito tributário — precisamente exação —, entendeu de


bom alvitre o respeito primeiro ao texto da lei, acompanhado de certo come-
dimento interpretativo do Estado-Juiz. A CF reverencia o princípio da estrita
legalidade na imposição de penas e tributos, um dos alicerces da formação e
manutenção da sociedade e do Estado. Exigência de longa data arraigada na
cultura jurídica ocidental, consoante demonstram passagens da Magna Carta
de 1215 e do Bill of Rights.
Acrescentou que, no ordenamento jurídico brasileiro, o Código Tributário
Nacional bem revela o cuidado para impedir o ingresso indevido do Estado na
propriedade dos cidadãos, ao trazer em seu bojo tópico dedicado a explicitar
a forma com que a legislação tributária deve ser interpretada e, se o caso,
integrada (Capítulo IV).
Em sua percepção, descabe emprestar interpretação extensiva à espécie,
chancelando base de cálculo em desacordo com o comando constitucional e,
em última análise, a cobrança de tributo ao arrepio do ordenamento jurídico,
uma vez delimitadas as bases materiais de incidência das CIDEs, pelo poder
constituinte derivado.
A ministra sublinhou que a questão acerca das consequências jurídicas,
sob o prisma temporal, não ostenta maior complexidade. A Lei fundamental,
a um só tempo, inaugura e fundamenta toda a ordem jurídica que dela retira
suporte. É vértice do ordenamento e seu arcabouço normativo e principio-
lógico espraia-se de imediata pela ordem infraconstitucional. Ao advento da
emenda constitucional se erige, de plano, “nova” ordem quanto à matéria
objeto da alteração, que recepciona e, de imediato, toma por sua a legislação

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Mês de Setembro de 2020

anterior ou, se com ela incompatível, aponta o indelével o vício da inconstitu-


cionalidade, traduzido em não recepção.

Visualizada a matéria por esse prisma, rejeitou a tese de que a re-


dação do inciso III do art. 149 da CF, ao lançar mão do tempo futuro
do verbo poder (poderão), não teria trazido consequência jurídicas
para as contribuições instituídas antes da EC 33/2001. Para a rela-
tora, essa compreensão consagraria, de forma jurídica inadequada,
a convivência de espécies tributárias idênticas (CIDEs) sob regimes
tributários diversos, embora todas perante a égide de um só coman-
do constitucional. A técnica redacional que se utiliza do futuro verbal,
além de ser própria ao texto constitucional, não se traduz em permis-
são para que sejam mantidas normas infraconstitucionais anteriores
e incompatíveis com a CF.

Presente o ponto de vista teleológico, anotou que o art. 149, § 2º, III, a,
da CF se insere na tendência evolutiva do sistema tributário nacional de subs-
tituir a tributação da folha de salários por aquela incidente sobre a receita ou
o faturamento. Logo, contribui para o combate ao desemprego e ao sistemá-
tico descumprimento das obrigações laborais e tributárias das empresas.
A ministra Rosa Weber explicitou que a exegese sistemática do referido
preceito, à luz dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil
[CF, art. 3º (4)], também orienta interpretação excludente da possibilidade
de se fazer incidir contribuições interventivas sobre a folha de salários, após
o advento da EC 33/2001.

No tocante à modulação dos efeitos da decisão postulada, ressaltou


que as decisões judiciais declaratórias produzem, como regra geral,
efeitos ex tunc. Consignou que a modulação dos efeitos da decisão,
na jurisdição constitucional, deve satisfazer algumas condições. Após
explicitá-las, concluiu não ser hipótese de modulação dos efeitos.

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Em arremate, a relatora externou convicção de que o argumento


consequencialista não constitui fundamento válido para a modulação
dos efeitos da decisão judicial. A adoção da medida deve estar calcada
na deontologia extraída da própria Constituição e por ela legitimada.
Longe de ostentar caráter discricionário ou traduzir arbítrio do STF, a
atribuição de efeitos prospectivos resulta, quando verificadas as con-
dições que a exigem, do dever, inerente à jurisdição, de assegurar a
melhor harmonização possível entre o império do Direito, de um lado, e
os princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança legítima,
da boa-fé objetiva, da proporcionalidade e da razoabilidade, de outro.

Em seguida, o julgamento foi suspenso.


(1) CF: “Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições
sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias
profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respecti-
vas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem pre-
juízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude
o dispositivo. (...) § 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio
econômico de que trata o caput deste artigo: (...) III – poderão ter alíquotas:
a) ad valorem, tendo por base o faturamento, a receita bruta ou o valor da
operação e, no caso de importação, o valor aduaneiro; b) específica, tendo
por base a unidade de medida adotada.”
(2) CF: “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna,
conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
I – soberania nacional; II – propriedade privada; III – função social da pro-
priedade; IV – livre concorrência; V – defesa do consumidor; VI – defesa do
meio ambiente; VI – defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamen-
to diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de
seus processos de elaboração e prestação; VII – redução das desigualdades
regionais e sociais; VIII – busca do pleno emprego; IX – tratamento favore-

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cido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e


que tenham sua sede e administração no País.”
(3) CF: “Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade,
de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes
dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e
das seguintes contribuições sociais: I – do empregador, da empresa e da enti-
dade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salários
e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à
pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b) a
receita ou o faturamento; c) o lucro;”
(4) CF: “Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federati-
va do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; II – garantir
o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e
reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – promover o bem de todos,
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas
de discriminação.”
RE 603624/SC, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 17.9.2020. (RE-603624)

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*Informativo: 992

*Data de divulgação: 30 de setembro de 2020

DIREITO CONSTITUCIONAL
CONFLITO FEDERATIVO
Uso da Força Nacional de Segurança Pública por requerimento de

Ministro de Estado e autonomia estadual

É plausível a alegação de que a norma inscrita no art. 4º do Decre-


to 5.289/2004 (1), naquilo em que dispensa a anuência do governa-
dor de estado no emprego da Força Nacional de Segurança Pública,
viole o princípio da autonomia estadual.

Trata-se de referendo de decisão que concedeu medida cautelar em ação cí-


vel originária para ordenar à União que retire dos municípios de Prado e Mucuri
o contingente da Força Nacional de Segurança Pública mobilizado pela Portaria
493/2020. A citada Portaria, expedida pelo Ministro de Estado da Justiça e Se-
gurança Pública, autorizou o emprego da Força Nacional naquelas localidades,
em apoio ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, sem que hou-
vesse formal e expressa solicitação do governador do estado da Bahia.

Há plausibilidade jurídica do direito evocado, porque pesam le-


gítimas dúvidas sobre a constitucionalidade do art. 4º do Decreto
5.289/2004, que, alterado pelo Decreto 7.957/2013, estendeu o con-
teúdo semântico da norma e criou uma regra adicional ampliadora do
rol dos legitimados a requerer o emprego da Força Nacional. A auto-
rização unilateral do emprego da Força Nacional, parece, em juízo de
delibação, contrariar as normas de escalão superior das quais deveria

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retirar sua validade. Nesse sentido, o art. 241 da Constituição Federal


(CF) se refere expressamente à celebração de convênios de coopera-
ção ou consórcios públicos entre os entes federados para assegurar
a continuidade de serviços públicos. Além disso, com exceção das
hipóteses de intervenção federal, previstas no art. 34 da CF, não se
identificam dispositivos hábeis a contornar a autonomia dos estados,
em sua integridade administrativa e territorial, sem que se obedeça
à exigência de exteriorização de vontade apta a ser elemento de su-
porte de fato jurídico. Em análise típica de controle de legalidade, a
validade do art. 4º do Decreto 5.289/2004 deve ser contrastada com
a Lei 11.473/2007, que dispõe sobre cooperação federativa no âmbi-
to da segurança pública.
Presente, também, o requisito do perigo da demora. Em primei-
ro lugar, em razão da gravidade do objeto em litígio, uma vez que o
pacto federativo é essencial para o correto funcionamento das insti-
tuições republicanas. A jurisprudência da Corte confere significativo
peso argumentativo à autonomia dos Estados-membros. Dessa forma,
a mobilização de força de segurança pública em território estadual,
ressalvado ulterior juízo de mérito, implica grave ameaça ao equilí-
brio da Federação. Em segundo lugar, a citada gravidade é exacerba-
da por se tratar, justamente, de tópico referente à segurança pública.
O horizonte possível de emprego do uso da força apresenta risco que
é da essência da própria atividade. Existe fundado temor de que, ao
final do curso natural do processo, o uso da violência monopolística
do Estado se revele, a um só tempo, ilegítimo e irreversível. Havendo
vidas envolvidas, tanto da população local quanto dos membros das
forças de segurança, é razoável assumir que existe um risco elevado
na demora do julgado. Por fim, o objeto da demanda não ocorre em
um vácuo histórico, mas durante a mais severa crise sanitária dos
últimos cem anos (decorrente da pandemia do Covid-19). Em razão

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disso, a mobilização do contingente exógeno de forças de segurança


inegavelmente apresenta riscos de contaminação para a população
local.

O Plenário, por maioria, referendou a decisão concessiva da cautelar. Ven-


cido o ministro Roberto Barroso.
(1) Decreto 5.289/2004: “Art. 4º A Força Nacional de Segurança Pública
poderá ser empregada em qualquer parte do território nacional, mediante
solicitação expressa do respectivo Governador de Estado, do Distrito Federal
ou de Ministro de Estado.”
ACO 3427 Ref-MC/BA, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 24.9.2020.
(ACO-3427)

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DIREITO TRIBUTÁRIO
CONTRIBUIÇÕES
EC 33/2001: contribuição destinada ao Sebrae,

à Apex e à ABDI e folha de salários

As contribuições devidas ao Sebrae, à Apex e à ABDI com funda-


mento na Lei 8.029/1990 foram recepcionadas pela Emenda Constitu-
cional (EC) 33/2001.

No recurso extraordinário (Tema 325 da repercussão geral) discutia-se,


em suma, sobre a constitucionalidade das contribuições destinadas ao Ser-
viço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), à Agência
Brasileira de Promoção de Exportações e Investimento (Apex) e à Agência
Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), incidentes sobre a folha de
salários, após a EC 33/2001 (Informativo 991).

Entendeu-se que a alteração promovida pela EC 33/2001, no art.


149, § 2º, III (1) da Constituição Federal (CF) não estabeleceu deli-
mitação exaustiva das bases econômicas passíveis de tributação por
toda e qualquer contribuição social e de intervenção do domínio eco-
nômico (CIDE). A taxatividade pretendida por uma interpretação me-
ramente literal aplica-se tão somente, nos termos da EC 33/2001 e
em conjunto com o art. 177, § 4º, da CF, em relação às contribuições
incidentes sobre a indústria do petróleo e seus derivados. Porém, para
as CIDEs e as contribuições em geral, entre as quais as contribuições
ao Sebrae, Apex e ABDI, a EC 33/2001 manteve a mera exemplifica-
ção, não esgotando todas as possibilidades legislativas.
Portanto, a materialidade econômica para a incidência dessas con-
tribuições não se esgota na previsão de faturamento, receita bruta,

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valor da operação e valor aduaneiro (no caso de importação), poden-


do comportar, também, a incidência sobre folha de salários. Por essa
razão, o art. 149, § 2º, III, da CF utiliza a expressão “poderão ter alí-
quotas”. Assim, garante a ideia de facultatividade a abranger tanto as
alíquotas quanto as bases de cálculo das contribuições sociais e das
CIDEs. Ademais, a exposição de motivos da EC 33/2001 demonstra
que as alterações implementadas pretenderam apenas possibilitar a
cobrança da CIDE-combustíveis quando da importação de derivados
do petróleo e do gás natural, retirando obstáculos à tributação de in-
sumos vindos do exterior.

Com base nesse entendimento, o Tribunal, por maioria, negou provimento


ao recurso extraordinário.
(1) CF: “Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições
sociais, de intervenção no domínio econômico e de interesse das categorias
profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respecti-
vas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem pre-
juízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude
o dispositivo. (...) § 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio
econômico de que trata o caput deste artigo: (...) III – poderão ter alíquotas:
a) ad valorem, tendo por base o faturamento, a receita bruta ou o valor da
operação e, no caso de importação, o valor aduaneiro; b) específica, tendo
por base a unidade de medida adotada.”
RE 603624/SC, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgamento em 23.09.2020. (RE-603324)

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DIREITO TRIBUTÁRIO

TRIBUTOS

Substituição tributária e requerimento administrativo

Inviabiliza o recurso extraordinário a necessidade de análise de


normas infraconstitucionais para chegar-se à conclusão contrária à
adotada pelo tribunal de origem, segundo a qual o contribuinte subs-
tituído deve apresentar requerimento administrativo ao Fisco, nos
termos da legislação estadual, e observar o procedimento por ele
adotado para obter o aproveitamento do Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS) recolhido a mais, em razão da venda
de mercadoria por preço inferior ao presumido, ou seja, no regime de
substituição tributária para frente.

Trata-se, na espécie, de recurso extraordinário interposto por pessoa ju-


rídica — atuante na revenda de combustíveis —, no qual alegava, em suma,
ofensa ao art. 150, § 7º, da Constituição Federal (CF) (1). Antes da remessa
dos autos ao Supremo Tribunal Federal (STF), a presidência da corte de ori-
gem devolveu o processo ao órgão prolator do acórdão impugnado para juízo
de adequação, tendo em conta o julgamento do RE 593.849 (Tema 201 da
Repercussão Geral). O referido órgão manteve o posicionamento, afirmando
que a inobservância da norma infralegal impede a concessão da tutela juris-
dicional (Informativo 975).
Para dissentir do acórdão recorrido e verificar a procedência dos argumen-
tos consignados no recurso extraordinário, necessária a reanálise da interpre-
tação dada pelo Juízo a quo às normas infraconstitucionais locais aplicáveis
ao caso. Portanto, há o óbice do Enunciado 280 do STF (2).

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A Segunda Turma, por maioria, negou provimento ao agravo regimental e


manteve a decisão que negou seguimento ao recurso extraordinário com agravo.
(1) CF: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao con-
tribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
(...) § 7º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a con-
dição de responsável pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato
gerador deva ocorrer posteriormente, assegurada a imediata e preferencial
restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido.”
(2) Enunciado 280/STF: “Por ofensa a direito local não cabe recurso ex-
traordinário.”
ARE 1184956 AgR/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em
22.9.2020. (ARE-1184956)

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