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Epístola de Daemon

Bom aqui estamos nós, depois de dois anos de confrontos nas fronteiras orientais, ainda
sem entender o porquê dos orientais terem começado essa guerra por território do nada.

Depois de quase ter morrido em Castella nas mãos do Dr. Archbald, eu achei que teria um
descanso, mas logo Aslam recebeu a triste notícia de que a guerra exigia que ele voltasse
imediatamente para Greenwood a fim de comandar os exércitos.

Eu poderia ignorar isso e simplesmente ir pra longe, afinal, a guerra não é da minha conta;
se fosse antigamente quando eu era mais despreocupado e inconsequente era o que eu
teria feito, mas não podia deixar Aslam na mão, não depois de todas as vezes que ele
salvou minha vida, e de todos os conselhos que me deu, ainda mais depois de perceber,
quando ele me salvou do Dr. Archbald, que ele me considera um filho. Isso me pegou de
surpresa, mas depois de analisar, cheguei a conclusão de que eu também considero que
ele, Alícia e até a Agnes são o mais próximo que eu tenho de uma família desde que perdi
Meredith.

Pelo menos não foi só sofrimento em Marcella, já que lá eu conheci Angélica que se tornou
minha amada companheira. Apesar de ser filha do rei, ela passou por muito sofrimento
graças a Archbald que a mantinha sob seu controle, mas isso já passou e agora eu e
Angélica estamos morando juntos em Greenwood. E os experimentos as quais ela foi
submetida a deixaram muito forte, ela é quase tão forte quanto a Agnes, e agora eu sei o
porquê: descobrimos que Agnes também foi cobaia do Dr. Archbald quando era criança, ela
e todos de sua vila natal, isso é muito triste, espero que ela esteja lidando bem com isso.

Eu sirvo de conselheiro de guerra para o Aslam, ajudo nas decisões a serem tomadas e nas
estratégias empregadas nos conflitos com o exército oriental, também descubro
informações úteis através da minha bola de cristal e outras formas de espionagem e
investigação. Resumindo: eu não necessariamente estou lutando na linha de frente dessa
guerra, geralmente o mais próximo que eu chego das batalhas é quando fico no
acampamento de comando com Aslam e os outros, mas às vezes sou chamado para
missões especiais de campo.

Apesar de não me envolver nas batalhas propriamente ditas, isso não significa que eu não
tenha tido que lutar intensamente algumas vezes durante esses dois anos. Duas dessas
batalhas me renderam itens bem úteis:

Uma noite enquanto eu estava alojado em um acampamento de comando, um tiefling ninja


assassino do exército oriental invadiu sorrateiramente o acampamento com a intenção de
matar os comandantes; por sorte um guarda encontrou o corpo de um dos líderes e nos
alertou. Eu e um esquadrão começamos a procurar por ele por toda a parte, mas era quase
impossível achá-lo; eu acabei topando com ele e então entendi o porquê era tão difícil
pegá-lo, quando o encurralamos ele tocou no seu elmo e desapareceu, de alguma maneira
o elmo dava a habilidade dele se teleportar.

Um esquadrão então mandou um sinal dizendo que o encontraram em outro ponto do


acampamento ao lado de outro comandante morto, então eu mandei o meu esquadrão para
o mesmo lugar para encurralar ele novamente, mas eu não fui junto, ao invés disso, eu corri
o mais rápido que pude para o lugar em que Aslam estava dormindo, eu entrei correndo em
seu quarto empunhando minha espada e ele acordou, a primeira coisa que ele viu foi eu
correndo em sua direção pronto pra desferir um golpe, acho que ele pensou que eu
estivesse ali para atacá-lo, mas bem quando eu estava dando uma estocada com a minha
espada na direção de Aslam meu plano deu certo: perto dali os soldados encurralaram o
ninja novamente e ele se teleportou para dentro da tenda de Aslam, bem no lugar onde ele
estava dormindo, mas minha espada estava no mesmo lugar.

Ele demorou alguns segundos para entender o que aconteceu, estava com uma espada
atravessada em seu corpo saindo pelo seu peito, ele então largou o punhal que já estava
erguido para matar Aslam e caiu sem vida no chão. Aslam ficou agradecido e aliviado, e eu
fiquei com o elmo de teleporte.

Na outra ocasião estávamos monitorando um acampamento inimigo que era movido de


lugar com uma velocidade impressionante, nossas tentativas de ataque eram frustradas
pois sempre que nos aproximávamos todos se abrigavam em uma torre fortificada que era
muito difícil de destruir mesmo com magia, de lá eles nos atacavam sem medo pois
estavam bem protegidos, não valia a pena mobilizarmos um grande exército para manter
um cerco em apenas um acampamento, então sempre desistíamos e recuávamos.

Não sabíamos como eles conseguiam mover aquela torre com eles com tanta velocidade,
mas eu consegui prever pra onde eles iam se mover em seguida e decidimos armar uma
emboscada no meio do caminho; eu estava perto o suficiente para ver um soldado inimigo
tirando uma torre em miniatura do bolso, dizendo uma palavra e jogando ela no chão,
fazendo com que a torre ficasse gigante instantaneamente. Tendo ouvido a palavra que
ativou a fortaleza e abria sua entrada eu pude invadir a torre com alguns homens permitindo
que tomássemos a fortaleza; e foi assim que eu ganhei uma fortaleza instantânea.

Claro que nem tudo foram flores nesses dois anos de guerra, vira e mexe encontrávamos
dungeons nas fronteiras e algumas vezes íamos explorar elas para depois fechá-las ou usar
de alguma forma contra nossos inimigos. Em duas ocasiões eu quase morri nessas
explorações. As Dungeons são muito imprevisíveis.

Encontramos uma que tinha um labirinto que mudava de tempos em tempos no seu interior
assim como aquela dungeon de Marcella. Foi muito complicado, eu mal escapei quando
todos os homens foram separados e um deles acabou ativando uma armadilha que nos
soterrou; por sorte fomos resgatados por outro grupo.

Na outra ocasião eu encontrei um item intrigante no centro de uma Dungeon, era um tecido
negro e elegante, macio como seda, ele estava dobrado mas ele se abria em uma folha
circular de 1,8 metros de diâmetro.

Quando o estendi no chão, percebi que ele era como um véu da realidade, uma abertura
entre o tempo e o espaço, eu olhei dentro dele e enxerguei um abismo, um abismo infinito e
imensurável que ao mesmo tempo que era preenchido por um vazio sem fim, também era
preenchido por todas as coisas, quando eu digo todas, eram todas mesmo, toda a matéria,
todas as partículas, todas as células, todas as pessoas, todos os reinos, todos os mundos,
todas as estrelas, todas as galáxias, todos os universos, todos os sentimentos, todos os
pensamentos e todos os tempos estavam lá.

Ao ver tudo isso eu fiquei extasiado e acho até que sofri de um dano psíquico, pois
desmaiei e caí dentro daquele vórtice que o véu revelava, antes de cair inconsciente me
lembro da Dungeon desmoronando por alguma razão, e depois, o vazio, e ao mesmo
tempo, tudo, ao mesmo tempo, tudo ao mesmo tempo, eu estava em todo lugar e em lugar
nenhum, mergulhando e voando pelo infinito, eu senti que poderia ir pra qualquer lugar, mas
eu só queria voltar pra casa, pra minha nova família e pra minha amada, foi então que
acordei estendido a alguns quilômetros da Dungeon que eu tinha ido explorar.

Foi então que um pelotão do nosso exército me encontrou e perguntou como eu havia ido
parar ali já que acabara de me encontrar com eles e dito que ia explorar a dungeon com
alguns homens, eu imediatamente fiquei perplexo e disse que eu estava lá, mas a Dungeon
desabou, eles ficaram sem entender porque dali onde estávamos conseguíamos ver a
entrada da Dungeon por ser o topo de uma pequena colina, e a Dungeon parecia intacta,
mas no momento que olhamos, ela começou a desabar, todos ficaram sem entender. O que
foi tudo aquilo? Aquele véu me deslocou para outro lugar? Eu havia me deslocado não só
no espaço, mas também no tempo? Afinal o que era aquilo? Quando e onde vou ver um de
novo?

Enfim, muita coisa aconteceu, a vida em uma guerra se trata disso mesmo, muitos
acontecimentos dramáticos em um curto período de tempo; vivemos tendo surpresas e
passando por perigo, é bem pior do que uma aventura, porque a guerra nos destrói de
muitas formas, muitos homens perdem a esperança, perdem a humanidade e a compaixão,
perdem sua família, perdem seus amigos e perdem sua vida por causa das escolhas de
outras pessoas… certo, alguns alegam que eles escolhem lutar pelas suas pátrias, pelos
seus reinos… mas sei lá, ainda é estranho pra mim, eu nunca fui leal a um lugar, mas eu
sou leal as pessoas e por isso continuo lutando, mas minha visão sobre a guerra é bem
diferente do que a da maioria, eu não ligo pra pátrias, para honra e etc. Eu entregaria o que
fosse preciso pra encerrar essa guerra imediatamente e salvar as pessoas, pra que elas
pudessem voltar para suas vidas, pudessem perseguir seus sonhos e seus propósitos
pessoais.

Mas não sou eu quem dita as regras… as coisas são como são, e muitas vezes não dá pra
fazer nada a respeito. Eu fico divagando sobre Merlin e as histórias de seus "milagres" por
aí, será que ele tem o poder de simplesmente mudar as coisas? Mudar a realidade? O que
ele é? Porque ele faz o que faz? Qual o papel dele nisso tudo? Ainda são questões que me
dão nos nervos, eu estou cansado de passar tantos anos no escuro, claramente há uma
trama maior por trás de tudo isso pelo que passamos: deuses sendo presos ou mortos,
cada vez mais dungeons surgindo… entidades e criaturas poderosas tramando coisas
nefastas para atingir objetivos muitas vezes incompreensíveis, como o Dr. Archbald e
aquele tal de Morgan que eu ainda não sei nada sobre. A única coisa que sei é que tudo se
liga ao oriente, Archbald disse que pelo que sabe Morgan foi para o oriente, a trilha de
lendas sobre Merlin leva ao oriente, e agora o oriente se voltou contra nós do nada, com
certeza estamos perto de descobrir algo.
Me resta continuar sem desistir, contribuindo o máximo que eu puder para fazer algum bem
e para forçar o mundo a fazer algum sentido. Quem diria que um pirralho charlatão como eu
um dia iria estar aqui aconselhando um exército numa grande guerra e tentando desvendar
uma trama que pode estar ameaçando o Multiverso…

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