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PRÉ-ADOLESCÊNCIA

1. No aspecto psicológico

1.1. A adolescência supõe uma mudança rotunda na sua pessoa

1.2. Grande instabilidade, com antinomias como: alegria-tristeza, responsabilidade-inconsciência, timidez-


audácia, solidão-afecto, passando de umas a outras com grande facilidade.

1.3. Por isso manifesta em algumas ocasiões reacções imprevisíveis.

1.4. Precisa de conselho, mas foge dele. "Quase todos os adolescentes se revoltam contra as proibições
da família, mostram-se ansiosos e indecisos, perturbados e com falta de confiança neles próprios,
procuram a segurança que lhes dá o grupo de indivíduos da mesma idade , tendem ao snobismo e a
excluir os que não são membros do grupo. Anseiam pela aprovação daqueles que são mais velhos do que
eles".

1.5. A sua conduta mostra-se por vezes agressiva.

1.6. É pouco efusiva com a família, mas sofre, no entanto, uma intensificação da sua capacidade afectiva,
parecendo que o seu coração se esponja.

1.7. É altruísta e pode comprometer-se em mil objectivos diferentes.

1.8. Possui um grande afã de independência, que conduz à separação do adolescente daqueles que
exerceram algum domínio sobre ele.

1.9. Brusquidão e rebeldia perante toda a limitação e travagem.

1.10. Tendência a destacar a sua personalidade perante os outros, não pelo cultivo de qualidades mas
pela imitação de personagens famosas, companheiros ou professores que possuem as qualidades que ela
gostaria de ter.

1.11. Adopta atitudes extravagantes, é excêntrica no vestir; tudo isto são modos de chamar a atenção,
juntamente com formas anti-sociais de conduta.

1.12. Manifesta falta de inclinação pelo trabalho.

1.13. Deseja o convívio com os adultos com antagonismo em relação à família, amigos e sociedade em
geral.

1.14. Sentimentos de auto-importância; enfrenta-se em igualdade física relativamente aos mais velhos,
esperando que lhe concedam os privilégios e direitos que eles têm.

1.15. Tem uma confusa desordem de impressões, imagens e novos sentimentos, pois recebe cada dia
múltiplas impressões e tem que aprender um maior numero de coisas pela sua própria conta, o que lhe é
difícil.

1.16. Esconde os complexos de inferioridade, ignorância e insegurança que às vezes tem com reacções
de desembaraço, altivez ou timidez, com o que pretende sobrevalorizar-se perante os seus semelhantes e
atrair a sua atenção.

1.17. É a fase do nascimento da intimidade.

1.18. Na amizade há uma grande variabilidade; são pouco duradouros os laços amistosos, apesar de
precisar das amizades.

2. Atitude das pessoas implicadas na sua educação

2.1. O adolescente precisa especialmente de compreensão e carinho à sua volta, aceitação da idade
crítica em que se encontra e ajuda para se aceitar e se compreender a si próprio.

2.2. Precisa de motivação: convém procurar as mínimas ocasiões para lhe estimular o desenvolvimento
espiritual, intelectual e emocional.

2.3. Convém fazê-lo sentir-se responsável, ainda que para o ser cometa erros e enganos. É a melhor
idade para adquirir o sentido da responsabilidade.
2.4. Precisa de orientação ou direcção: temos de lhe proporcionar meios adequados para satisfazer
rectamente as necessidades iniludíveis.

2.5. À luz da maturidade, perecem-nos claros e às vezes absurdos os seus problemas, porque os
sabemos considerar objectivamente, coisa que o adolescente não consegue fazer. Daí a importância de
nos pormos no seu lugar e de não julgarmos ou não compararmos os seus problemas aos nossos, sob o
nosso ponto de vista, porque ao fazê-lo simplificamo-los e não os consideramos como os grandes
problemas que são para ele.

2.6. Temos de o ajudar a formar a sua personalidade, a ser livre, num clima de compreensão, amor,
sacrifício, comunidade de bens e solução das necessidades dentro da família. Esta tem uma grande força
para o conseguir.

2.7. Ajudá-lo a integrar-se na vida e no ambiente social que o rodeia. Chegar a educá-lo integralmente.

2.8. Convém que o adolescente possa pôr as suas dúvidas, de qualquer género, a alguém que não se
escandalize sem motivo suficiente, que admita que as coisas acontecem por inadvertência ou falta de
experiência, sem porém permitir que volte a repetir-se aquilo que não está de acordo com as leis morais
ou da sociedade.

2.9. Temos de facilitar o clima propício para a sua auto-estima, autonomia, integração e transcendência,
através da sua própria experiência; assim, ajudaremos o adolescente a dar sentido à sua vida e a
conquistar a sua própria maturidade.
Na adolescência
 
1. No aspecto psicológico

1.1. O adolescente nesta etapa vive no seu mundo interior. Para conhecer a própria personalidade, as
suas ideias e ideais, compara-se com o mundo dos outros.

1.2. Dá impressão de apatia devido a preocupação repousada e reflexiva pelos próprios estados anímicos.

1.3. Esta interiorização abarca também as esferas intelectuais, filosóficas e estéticas, enchendo a sua vida
com estas teorias.

1.4. As características mais próprias deste período, são:

a) Crescente consciência e conhecimento do "eu".

b) Nascimento da independência.

c) Adaptação progressiva aos núcleos sociais da família, escola e comunidade em geral.

1.5. O espirito de independência cresce rapidamente, mas é imaturo ainda e manifesta-se com brusquidão
e agressividade.

1.6. Independência e liberdade são a sua constante exigência.

1.7. Opõe-se, portanto, a que o tenham sujeito ou lhe perguntem sobre os seus assuntos, projectos,
amigos com quem anda, ou a que se imiscuam na sua vida privada.

1.8. É capaz de albergar sentimentos de rancor, vingança e violência, embora de modo esporádico e
sejam pouco duradoiros.

1.9. Manifesta uma grande preocupação por pormenores e gestos que observa na pessoa a quem imita e
idealiza.

1.10. Interessa-lhe e procura conhecer a própria personalidade, mas é mais observador em relação à dos
outros, tanto dentro como fora do núcleo familiar.

1.11. Aos 16 anos, o adolescente é já um pré-adulto, possui uma mente mais segura, porque está melhor
ordenada e controlada.

1.12. Manifesta uma maior confiança em si mesmo e uma autonomia mais arraigada.

1.13. Em geral, domina perfeitamente as próprias emoções, possuindo um maior equilíbrio.

1.14. Valoriza mais os motivos pessoais dos outros, sejam colegas ou adultos, e pensa mais neles, pois
apercebe-se de que o segredo da sua própria felicidade se encontra relacionada com a vida dos outros.

1.15. Sente-se mais livre e independente do que aos 15 anos, por isso já não o preocupa tanto esta
exigência.

2. Conduta social em relação com a vida escolar

2.1. Aos 15 anos, em geral, manifestam uma atitude hostil para com a escola, vão contra as exigências e
normas rígidas.

2.2. Revoltam-se às vezes contra a autoridade, em geral, não individualmente mas em grupo.

2.3. Entre os 15 e os 16 anos, começam-se a interessar novamente pelo estudo sempre que for
interessante e vital para a sua experiência o conteúdo instrutivo, como por exemplo a Religião, as Ciências
Sociais, etc.

2.4. Integram-se na comunidade escolar, participando nas actividades que a escola oferece.

2.5. Às vezes a vida escolar converte-se em válvula de escape, em meio para afrouxar as ataduras
familiares.

2.6. No âmbito escolar, põem-se de manifesto certas diferenças individuais, académicas e sociais,
relacionadas com a capacidade de liderança, o talento e as atitudes intelectuais.

3. Atitudes das pessoas implicadas na sua educação

3.1. É necessária uma atitude de abertura e de conhecimento das fases desta idade, para evitar atitudes
inadequadas para com os filhos, o endurecimento da autoridade e o não reconhecer ao adolescente
qualquer tipo do direito. Isto, unido à conduta do próprio adolescente, provoca choques violentos.

3.2. Deve-se aceitar a emancipação progressiva dos filhos, e incluso favorecê-la, para os ajudar a serem
livres e a manifestarem-se como tais.

3.3. A existência da crise tem a sua origem num problema afectivo, por isso temos de favorecer no
adolescente a criação de vínculos familiares, ambientais, ... (amor a Deus, à Pátria ...).

3.4. Devem sentir-se realizados numa actividade ou numa coisa, aspirando sempre a algo, isto é, devem
ter um ideal, fé. Também é importante o relacionarem-se com a família, o grupo, etc...

3.5. Convém saber que estas crises passam com o tempo e que tudo volta a normalizar-se, o que não
significa que se deixe de actuar e não se procure orientar positivamente o desenvolvimento dessas crises
de modo a que não deixem conflitos na personalidade do jovem.

3.6. É muito inseguro, procura a orientação e o conselho de pessoas alheias à sua vida familiar; assim, os
educadores encontram um campo propício para uma acção de formação mais profunda.

3.7. Precisam de uma mão compreensiva para os ajudar no esforço de esclarecer e definir os seus
pensamentos e estados anímicos, coisa que é difícil para ele e o faz cair em estados depressivos.

3.8. Às vezes convém tratá-lo com a mesma frieza ou indiferença com que se comporta, para que repare
na sua própria atitude.

3.9. As formas mais extremas de desafio exigem um guia habilidoso, bem como prudência nas medidas de
controle mais estritas que se pretendam utilizar.

3.10. Temos de passar a ser "observadores participantes" na vida dos adolescentes.

3.11. Devemos ajudá-los a encontrar a forma de se expressarem nas diversas actividades, e procurar que
o ensino seja estimulante e interessante, senão podem cair no desleixo e na apatia perante o estudo.

3.12. Recordando as tensões e inquietações da nossa própria adolescência, estaremos em condições de


ajudar os jovens e de sermos mais compreensivos para com eles.

3.13. Devemos inculcar-lhes o respeito pelos pontos de vista alheios e o sentido da realidade.
Características dos 13 aos 16 anos
 
 
   Instabilidade
   Causas da instabilidade
   Efeitos na conduta
   Causas da infelicidade

 Introdução

Apesar das diferenças individuais da idade, de maturidade, é possível assimilar grandes etapas que nos
sirvam de orientação geral, embora não correspondam nunca a um adolescente particular.

Pré-adolescência - período anterior aos 10-12 anos


Adolescência (período central) - 13-16 anos
Adolescência (período final) - 17-21 anos

Como os rapazes amadurecem um pouco mais tarde que as raparigas, podemos considerar que para elas
as etapas serão aproximadamente as seguintes:

Pré-adolescência - 10 a 11 anos
Adolescência (período central) - 12 a 16 anos
Adolescência (período final) - 17 a 20 anos

Tal como nos anos de infância, o desenvolvimento que ocorre na adolescência produz-se de forma
ordenada. Como em todos os adolescentes se dá um desenvolvimento muito similar, é possível observar
neles certas formas características da conduta. Na sua descrição do adolescente típico dos nossos dias,
Frank (1949) notou que quase todos os adolescentes se rebelam perante as exigências e proibições da
família, se mostram ansiosos e indecisos, perturbados e com falta de segurança em si; procuram a
segurança que lhes proporciona o grupo de indivíduos da mesma idade, mostram tendência para o
"snobismo" e excluem os que não são membros da sua "camarilha". Todos os adolescentes aspiram a
merecer a aprovação dos que são um pouco mais velhos; perturba-os e preocupa-os tudo o que se refere
ao desempenho do seu papel masculino ou feminino, acerca do que fazer e não fazer, do dizer e não
dizer, para se mostrarem "masculinos' ou "femininas"; sentem temor perante o sexo e possuem um
sentimento de forte lealdade e devoção para com o grupo (Frank, (1949). As mudanças que têm lugar na
pré-adolescência e no período inicial da adolescência são maiores do que aquelas que ocorrem mais tarde
e acompanham as rápidas modificações físicas que acontecem no referido período.

As mudanças implicam a necessidade de se adaptar a elas, e quanto mais rapidamente se produzem


tanto mais difícil será a adaptação. Durante os últimos anos da infância a vida desenrola-se a um ritmo
relativamente calmo. As primeiras adaptações ao ambiente físico e social encontram uma solução
bastante satisfatória na época em que a criança chega à idade escolar. A partir de então, e até à
adolescência, as novas adaptações vão-se realizando de forma gradual, com tempo suficiente e com a
ajuda de pais e mestres, o que forma a adaptação relativamente fácil.

O início da puberdade provoca modificações rápidas no tamanho e estruturas corporais. Estas mudanças
físicas são acompanhadas de modificações interiores. O indivíduo torna-se desajeitado, torpe e com falta
de segurança nos seus movimentos. Já não lhe interessam os seus colegas de jogo nem os seus
entretimentos infantis. Possui um novo interesse pelo sexo oposto, pelo cinema, por actividades sociais e
até por leituras que anteriormente desdenhava.

Além disso, surgem muitos mais problemas dos que jamais tinha tido que resolver num período tão breve.
Dá conta gradualmente de que por força do seu aspecto físico, se espera dele um comportamento como o
de um indivíduo adulto e não como o duma criança indefesa. O adolescente em cuja meninice houve uma
preparação gradual para esta mudança, tem menos dificuldade em adaptar-se a ela que o adolescente
cuja vida anterior se caracterizou pela dependência do adulto.

1. A instabilidade da adolescência

Como todas as transições, a adolescência caracteriza-se por um ir e vir do comportamento anterior ao


actual e pela tomada de atitudes velhas e novas. A instabilidade e a contradição são índices de
imaturidade; demonstram que o indivíduo não tem confiança em si, e que procura adaptar-se à nova
situação que deve assumir no grupo social.
2. Causas da instabilidade

A instabilidade na adolescência deve-se não a uma, mas a muitas causas. As mais importantes são as
seguintes:

Desenvolvimento rápido e irregular. Depois do período de crescimento relativamente lento na meninice,


produz-se uma súbita aceleração, acompanhada de um desenvolvimento físico e mental muito rápido e
irregular. À medida que o adolescente cresce, a despreocupada segurança da meninice abandona-o; a
sua crescente maturidade mental prepara-o para encarar a realidade. Como carece dum fundo de
experiência que lhe dê perspectiva e que modere os seus juízos, sente-se desprovido de equilíbrio. Então
alterna entre o temor e a esperança, tendendo a exagerar os problemas e a não se sentir seguro.
Falta de conhecimento e experiência. A sociedade impõe muitas exigências ao adolescente, mas não lhe
faculta um plano cuidadosamente traçado que o ajude a satisfazer essas exigências. Devido ao seu
desejo de independência, o adolescente afrouxou os vínculos que o unem aos seus pais, e por
conseguinte não pode recorrer a eles em busca de ajuda, nem contar com eles como o fazia quando era
criança dependente da sua família.

Os pais, às vezes, aumentam a confusão do adolescente com reprovações, críticas e exigências; em vez
de lhe darem explicações e o ajudarem a discernir (Frank, (1949).O adolescente sabe que se espera dele,
adesão a certas normas. Ele próprio deseja isso para melhorar a sua situação social.

Exigências contraditórias. O adolescente dos nossos dias encontra-se confrontado por exigências
contraditórias dos seus pais, professores, contemporâneos e da comunidade em geral. Em certo momento
exige-se-lhe uma coisa, a seguir exige-se outra diferente. Pertuba-se e exaspera-se, quando lhe dizem:
"Já és crescido para saber fazer as coisas melhor"; e pouco depois, quase de seguida, dizem: "Ainda não
tens idade para fazer isto e aquilo". Diz-se-lhe que deve assumir responsabilidades, ter juízo e decidir por
si. A seguir tratam-no como uma criança e espera-se que obedeça submissamente aos seus pais e
professores.

Quebras na formação e no ensino. Na maioria das culturas, a situação da criança difere da do adulto; na
nossa cultura forçamos um pouco a nota para destacar essa diferença. Por exemplo, a criança deve ser
protegida dos factos desagradáveis da vida, enquanto que o adulto deve exigir obediência. São poucos os
casos em que não há quebras na formação da criança; esta é conduzida a não ser responsável, mas
espera-se que assuma as suas responsabilidades quando for adulto. A transição do estado de submissão
ao de independente não é nada fácil, porque se ensinou a criança a comportar-se de maneira submissa, e
de repente pretende-se que se comporte de maneira independente.

É natural que haja instabilidade no período inicial da adolescência, o que demonstra que o adolescente se
está a desenvolver; se ela não aparecesse, haveria motivos para crer que ele estaria aferrado à
dependência infantil e a formas de conduta infantis. Não é desejável que a instabilidade se prolongue por
um longo período, porque constituiria sinal de deficiente adaptação e que o adolescente estaria a enfrentar
dificuldades para se desprender dos hábitos infantis e substitui-los por outros mais maduros. As mulheres
têm mais dificuldade que os homens para ultrapassarem este período de transição. Ainda antes da
puberdade, as raparigas apresentam maior número de sintomas neuróticos que os rapazes. Depois da
puberdade, a instabilidade aumenta nas raparigas ao passo que diminui nos rapazes. Isto pode explicar-se
pelas diferentes pressões exercidas sobre os dois sexos: elas encontram-se colocadas em maior número
de situações de conflito do que os rapazes, assim como em situações nas quais os seus papéis não estão
definidos com tanta claridade. Ao chegar a idade universitária, a diferença entre os dois sexos, quanto a
frustrações e insegurança, ainda é mais pronunciada do que era na época da puberdade.

3. Efeitos sobre a conduta

Um período de transição deixa as suas marcas sobre a conduta do indivíduo. Como sente falta de
segurança em si mesmo e na posição que ocupa, o adolescente tem tendência para a agressividade, a ser
retraído e incómodo (Rose 1944). Torna-se extremamente sensível e reservado, especialmente quando
está na companhia de gente que ele teme que não o entenda ou ponha a ridículo. A reserva pode tomar a
forma de distanciamento e indiferença ou de indelicada e depreciativa altivez. Sente intensamente, vê-se
afectado por estados emocionais, é dado a fantasias e é propenso a súbitas explosões temperamentais. É
extremista, porque se sente incapaz de demonstrar que é competente. Alguns adolescentes exageram na
sua dedicação às tarefas escolares, outros lançam-se febrilmente nos desportos, enquanto que outros
dedicam o seu tempo quase exclusivamente a actividades sociais (Zachry, 1944).

Josselym (1951), que nos proporcionou apreciar um quadro vivo da instabilidade do adolescente, assinala
que esta é sempre uma contradição. Na sua luta pela independência, o adolescente protesta
veementemente contra as decisões protectoras dos adultos; mas quando é incapaz de administrar a sua
independência, tão bem como quando era mais novo, solicita protecção em termos que não se lhe ouviam
desde a infância. Mesmo que poucas vezes seja tão "santo" como pretende, também raramente chega
aos extremos de conduta anti-social que ele afirma desejar adoptar. Em dado momento, segue com
rigidez uma forma de conduta idealizada, mas subitamente viola, ou diz transgredir qualquer norma aceite.
As suas relações com os outros são desconcertantes: em dado momento odeia, no seguinte ama. É
tipicamente renitente a seu respeito e aos seus sentimentos, mas rapidamente põe a nu a sua alma.
Rejeita os seus pais como se fossem "leprosos" numa comunidade de sãos, mas de repente idealiza-os
(Josselyn, 1951)

Frequentemente, o adolescente não é feliz, embora tenha os seus momentos de felicidade e, não poucas
vezes, de grande alegria. Com muita frequência estes são eclipsados pelas frustrações, os desencantos e
as angústias que acompanham a saída da infância na nossa cultura actual.

A felicidade na adolescência depende de muitos mais factores que na infância. Graças à ajuda familiar,
pode resolver satisfatoriamente as dificuldades da infância; mas quando chega a adolescência, a
sociedade impõe-lhe maiores exigências e dispõe de menor ajuda para as satisfazer. Ao aumento das
exigências do grupo social, soma-se a própria consciência da necessidade de aceitar responsabilidades e
os próprios níveis de aspirações que em geral são alcançados. Estes novos factores vão contra a
prossecução desse estado feliz que ele conhecia enquanto foi menino protegido e relativamente
despreocupado.

4. Causas da infelicidade

São muitas as causas de infelicidade na adolescência. As mais comuns são as seguintes:

Pressões sociais. Como assinalou Enghlis (1947), a adolescência em vez de ser um dos períodos mais
felizes e construtivos da vida, vê-se com demasiada frequência afectada pelos adultos, tanto pais como
professores, que enchem esse período de conflitos mais do que seria desejável.
Os adultos temem que o adolescente não chegue a ser um indivíduo trabalhador, que não seja
suficientemente obediente, agradecido ou que se extravie na sua vida sexual. Consequentemente, os
adultos, especialmente os pais, refilam, admoestam, censuram ou castigam e, frequentemente, actuam
como freio dos esforços dos adolescentes para conseguirem ser adultos maduros e independentes.
(Enghlis, 1948)

Problemas de adaptação. Em qualquer idade, a adaptação vai acompanhada de ansiedade mais ou


menos intensa. E a maior ansiedade apresenta-se na área do desenvolvimento. No caso dos
adolescentes, a principal fonte de conflitos de adaptação situa-se no desenvolvimento físico-sexual, com o
seu concomitante desejo de expressão (Plaut, 1944). O grau de felicidade que o adolescente consiga,
encontrar-se-á determinado pela forma como reagir face a estes problemas de adaptação.

Falta de segurança. Como a maturidade sexual tem tanta importância para as crianças, estas esperam
que a atitude da sua família em relação a si mesmas se modifique quando atingirem a maturidade sexual;
e, se aquela não ocorrer, ficam naturalmente desiludidas. Além disso, o adolescente já não se vê livre de
responsabilidades, como quando era criança, e ainda não possui os direitos e privilégios dos adultos. A
incomodidade desta posição torna-o fatalmente infeliz.

Deseja ser reconhecido, compreendido e amado, mas, ao mesmo tempo, receia aproximar-se demasiado
dos outros. Daí resulta uma sensação de solidão.

Por um lado, reclama liberdade e independência, por outro, tem medo de enfrentar a realidade.

Idealismo. Qualquer adolescente possui elevados ideais a respeito de si mesmo, da sua família, dos
amigos, da comunidade e da Pátria; mas poucas vezes alcançam os níveis por si idealizados. Um estudo
realizado com adultos acerca dos resultados e experiências desagradáveis da adolescência, revelou que
as mais comuns estavam relacionadas com os insucessos escolares, a morte de amigos e familiares, a
perda de amigos, as discussões com os pais, a ruptura de amizades com pessoas do sexo oposto, os
sentimentos de inferioridade e a falta de popularidade.

Frustrações nas relações heterossexuais. Os namoricos podem ser experiências felizes para os
adolescentes, mas de facto, poucas o chegam a ser. Essas experiências são acompanhadas de tal
intensidade emocional que estão quase sempre condenadas ao fracasso desde o principio e, quando são
interrompidas, ou se frustram ou acabam por resultar em experiências muito dolorosas.

Como para a maior parte a adolescência é a "idade do romance", poucos adolescentes encontram nas
suas experiências românticas a felicidade que tanto sonharam nos tempos dos contos de fadas em que
todos os romances terminaram em idílio e os enamorados "viviam eternamente felizes."

Biologicamente, o adolescente alcançou a maturidade sexual, mas ainda não aprendeu a controlar os
seus novos apetites sexuais. Isto origina conflitos interiores e problemas de moralidade cuja solução deve
encontrar ele mesmo. Já não pode continuar a aceitar simplesmente as opiniões dos outros.

Sentimentos de insuficiência. Como os adolescentes têm, em geral, conceitos ilusórios acerca das suas
atitudes e alimentam níveis de aspiração acima das suas possibilidades, sentem-se uns incapazes quando
não alcançam os objectivos que se propuseram. A competição com os outros no estudo, no desporto, nos
assuntos sociais e em todos os sectores da sua actividade, torna-se cada vez mais intensa à medida que
passam os anos.

Efeitos sobre a conduta. A infelicidade da adolescência manifesta-se de muitas formas, sendo fácil
conhecer as causas de algumas. Aumenta a conduta temerária, a falta de consideração pelos outros, a
grosseria e aspereza no falar, o uso tosco do idioma, como demonstra o aumento do uso dos insultos e do
palavreado grosseiro. Reserva no que respeita aos assuntos pessoais, estados de tristeza e melancolia,
intolerância perante os outros e maiores exigências de dinheiro para os seus gastos pessoais. O
adolescente resiste às indicações e faz frequentemente o contrário do que se aconselhou; é menos
efusivo com os membros da família, desdenha qualquer tipo de sentimentos e encanta-o vestir-se de
maneira excêntrica, indo até aos extremos de usar roupa andrajosa e suja, ou de adornar-se de forma
excessiva.

Uma das maneiras mais comuns de resolver a situação que lhes provoca infelicidade é fugir dela. Muitos
adolescentes fogem de casa, abandonam os estudos e começam a trabalhar para poderem ser
independentes. Entre os adolescentes insatisfeitos consigo mesmos e com o papel que desempenham na
vida, é vulgar o desejo de serem outra pessoa; assim, escolhem normalmente como ideal alguém famoso
que represente uma posição de prestigio na sociedade.

Nesta idade são normais todas as expressões de insatisfação e infelicidade já enumeradas. Isto
demonstra que a adolescência está atravessar um período de adaptação, do mesmo modo que as birras
de um menino de 2 ou 4 anos demonstram que está a procurar tornar-se independente da dominação
paterna. No entanto, a maioria dos adultos não reconhece a causa desta conduta difícil dos adolescentes,
piorando esta situação ao mostrarem-se feridos nos seus sentimentos ou ao queixarem-se de que o
adolescente é um ingrato, um egoísta sem consideração por ninguém.

Muitos adolescentes sentem-se de tal modo infelizes que se produzem perturbações na sua
personalidade.

Por outro lado, dessa época de desejos egocêntricos de poder, êxito e valor físico - características do
período médio da adolescência - o adolescente sai com grande capacidade de amor desinteressado, de
generosidade, de espírito de sacrifício, de humildade e dedicação a pessoas e a causas. Sente profunda
necessidade de amigos da mesma idade e principalmente do mesmo sexo. Encontrar-se com outros que
passam pelas mesmas experiências proporciona-lhe um verdadeiro apoio afectivo.

O adolescente sente necessidade de compreender o seu comportamento, as suas causas e como


conseguir a independência afectiva. Isto supõe conhecimento de si mesmo, o qual implica capacidade de
domínio de si próprio. Tem grande necessidade de apoio e simpatia na luta por estabilizar a sua oscilante
personalidade e para a adequar a realidade externa e interna. Precisa e deseja segurança em Deus.

Por fim, a terapêutica que aconselhamos aos pais e professores é que mantenham sempre - apesar da
dificuldade que isso representa - um ambiente de calma e segurança. Que considerem que a adolescência
passará, e todos os conselhos individuais devem reger-se pela serenidade, sinceridade e verdadeiro
interesse.

E tu... quem és?


 

Pode parecer-nos uma pergunta despropositada e sem sentido. Curiosamente, a resposta não
se satisfaz com um simples: "Chamo-me José Martins Botelho, barbeiro de profissão, e para os
amigos Zé Navalhas", e acrescentar o tradicional "às suas ordens e às de Deus". A pergunta é
muito mais profunda e também não basta a saída rápida e "filosófica": "Eu sou eu (e as minhas
circunstâncias)".

"E tu, quem és?" é uma pergunta de muita importância e transcendência. Supõe um atento
exame sobre si mesmo, sobre as próprias aptidões e deficiências.

Para qualquer evento que se queira levar a cabo seriamente na vida (isto é, para as coisas que
valem e que te interessam) é preciso perguntar-se a si próprio acerca dos meios de que se
dispõem para conseguir o fim. Em primeiro lugar, logicamente, é preciso saber em que situação
te encontras. Conhecer-te do "A" ao "Z": as tuas reacções, os teus gostos, as tuas tendências,
as tuas inclinações, o teu modo de pensar.
"Conhece-te a ti mesmo" era para os gregos da Antiguidade a máxima sabedoria, a pedra
angular para a construção do homem íntegro. Verdadeiramente, quem quer que seja o autor
desta máxima, escrita no templo de Delfos, acertou em cheio.

Seguindo com estes gregos de outras eras, apresento-te resumidamente o testemunho de um


dos seus personagens favoritos no "cinema" do seu tempo, que era o teatro. Trata-se de Edipo.

Edipo é rei de Tebas. É quem mata a esfinge e também o homem desgraçado que mata o seu
pai, partilha o leito com a sua mãe sem o saber e faz cair sobre si a sua própria maldição. O
herói trágico por excelência.

No início da obra mais célebre de Sófocles, Edipo é-nos apresentado como rei e, ao mesmo
tempo, pai preocupado pela peste que açoita o seu povo. Partilha a sua dor, mas não se
conforma com derramar um pranto estéril. Procura os meios para encontrar a solução para os
males de Tebas. Edipo é um homem coerente que consegue realizações efectivas e não se
deixa apanhar na selva dos "quereria", "gostaria de", "preocupa-me". O seu cunhado Creonte
regressa do oráculo de Delfos com a solução: desterrar o assassino de Layo (antigo rei de
Tebas e esposo de Yocasta). Mas quem era tal homem?

Depois de interrogar o adivinho Tiresias e um mensageiro de Corinto, Edipo descobre com a


maior das angústias que ele é o assassino de Layo, seu pai, e que vive em trato incestuoso com
a sua mãe. Quis saber a sua origem a todo o custo e pagou caro, mas chegou a conhecer-se tal
como era.

Não é de estranhar que o fim de Edipo fosse trágico. Desesperado, depois de encontrar a sua
esposa e mãe enforcada, priva-se voluntariamente dos olhos, cravando neles dois broches da
sua veste. E semelhante desenlace leva-nos a perguntar o que é que teria sido melhor para
Edipo: se ignorância feliz, ou sabedoria desgraçada. Nos nossos dias são poucos os homens
que arriscam a comodidade da vida que levam para descobrirem a verdade acerca de si
próprios.

A história de Edipo é um caso limite. É uma tragédia, portanto uma ficção. Mas a lição é clara: é
importante conhecer-se a si mesmo. É mais perigosa uma vida de sonhos que, ao fim e ao
cabo, não é mais que um engano que pode conduzir-nos a uma vida que não passa de uma
existência que é uma farsa. Ele, ao conhecer-se, entrou em desespero. Mas andando o mesmo
caminho até à verdade, porque não concluir com um belo final? Podemos realizar grandes
coisas ao longo da nossa vida, porque saberemos quem somos, como funcionamos, quanto
podemos dar. Conhecermo-nos a fundo, é o prelúdio para toda a vida que deseje viver-se em
plenitude.

( Vicente D. Yanes - Jóvenes: 16 de Junho de 2003) - tradução, para a Aldeia, de Eduardo


Rocha

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