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RELATÓRIO DE PRECEDENTE JUDICIAL

BEATRIZ DA NÓBREGA BEZERRA


RA: 21801714
Assunto: Investigação de Precedente Judicial envolvendo a Responsabilização
Civil ou Criminal do Advogado
ADI 7227/2023

1. Introdução

Este relatório tem como objetivo investigar a Ação Direta de


Inconstitucionalidade 7.227, extremamente recente, julgada em 18 de março de
2023, e teve como conteúdo o pedido de inconstitucionalidade da lei
14.365/2022, na parte em que incluiu os §§ 3º e 4º ao art. 28 da Lei 8.906/1994
(Estatuto da OAB):
Art. 28. A advocacia é incompatível, mesmo em causa
própria, com as seguintes atividades:
(...)
V - ocupantes de cargos ou funções vinculados direta ou
indiretamente a atividade policial de qualquer natureza;
VI - militares de qualquer natureza, na ativa;
(...)
§ 3º As causas de incompatibilidade previstas nas
hipóteses dos incisos V e VI do caput deste artigo não se aplicam
ao exercício da advocacia em causa própria, estritamente para
fins de defesa e tutela de direitos pessoais, desde que mediante
inscrição especial na OAB, vedada a participação em sociedade
de advogados.
§ 4º A inscrição especial a que se refere o § 3º deste artigo
deverá constar do documento profissional de registro na OAB e
não isenta o profissional do pagamento da contribuição anual, de
multas e de preços de serviços devidos à OAB, na forma por ela
estabelecida, vedada cobrança em valor superior ao exigido para
os demais membros inscritos

O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – CFOAB


entendeu que tais disposições, incluídas pela Lei nº 14.365, de 2022, eram
incosntitucionais, visto que feriam as disposições do caput do art. 5º e caput do
art. 37 da Constituição da República Federativa Brasileira. Além disso, pediu a
conversão da apreciação da medida cautelar em julgamento de mérito a fim de
julgar procedente a ação direta, declarando a sua inconstitucionalidade. No
curso do processo, a Federação Nacional dos Policiais Federais - Fenapef foi
incluída na ação direta de inconstitucionalidade como amicus curiae.

2. Construção do Argumento Jurídico na Decisão Judicial

Foi alegado que a lei modificadora do Estatuto da OAB ofenderia a


Constituição, em especial os artigos 5º e 37, a saber
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes(...)
(...)
Art. 37. A administração pública direta e indireta de
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência e, também, ao seguinte (...)

O autor da ação, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil


– CFOAB, alegou que a prática da advocacia, quando exercida por servidores
ocupantes de determinados cargos e funções, poderia representar um risco
para o adequado funcionamento das instituições às quais pertencem,
principalmente para aqueles que atuam no Poder Judiciário e estão envolvidos
na segurança pública.
No curso do julgamento, a conclusão a qual os ministros chegaram foi
de que tal situação devido à sua estreita proximidade com os julgadores,
acusadores, serventuários e outros participantes do processo, o que lhes
confere informações e prerrogativas informais privilegiadas.
Tal intimidade com o sistema judiciário e as atividades relacionadas à
segurança pública cria um ambiente propenso a potenciais conflitos de
interesse, tráfico de influência e práticas que podem comprometer a
imparcialidade e a lisura dos procedimentos jurídicos. A presença desses
servidores no exercício da advocacia pode afetar a confiança nas instituições,
prejudicar a igualdade de oportunidades entre os atores jurídicos e até mesmo
desequilibrar a relação processual.
Portanto, a restrição ao exercício da advocacia por esses servidores
seria uma medida necessária para preservar o bom funcionamento das
instituições, evitar privilégios indevidos e salvaguardar os princípios de
imparcialidade, igualdade e transparência no sistema jurídico.
Em razão da matéria a ser julgada, foi constatado no caso o fumus boni
iuris e o periculum in mora de medida cautelar requerida pelo autor.
“(...) o fumus boni iuris foi caracterizado no bojo
dessa peça, uma vez que resta claro que a inserção dos §§
3º e 4º, do art. 28, da Lei 8.906/1994 é inconstitucional,
pois a vedação ao exercício da advocacia pelos servidores
membros das forças de segurança, em especial os policiais
militares e militares na inativa, decorre da própria
autorização constitucional de regulamentação do exercício
profissional, além de dar eficácia a outros princípios
constitucionais que devem preponderar em atenção ao
interesse público, notadamente a moralidade administrativa
(…).
Por sua vez, o periculum in mora revela a urgência
do deslinde da presente ação, com a necessidade de
imediata concessão da medida liminar. E a toda evidência,
é urgente e salutar a suspensão imediata dos referidos
dispositivos, tendo em vista que, ao autorizar que militares
e policiais possam exercer a advocacia em causa própria, a
norma também instituiu a criação de uma inscrição especial
nos quadros da classe advocatícia, o que exigirá que o
Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, ora
requerente nessa ADI, regulamente os termos e regras
para essa o uso

3. Conclusão

O Tribunal, de forma unânime, converteu a apreciação da medida


cautelar em julgamento de mérito e julgou procedente a ação direta,
declarando a inconstitucionalidade dos §§ 3º e 4º do art. 28 da Lei n. 8.906,
incluídos pela Lei n. 14.365/2022, nos termos do voto proferido pela Relatora,
Ministra Carmen Lúcia.
A Ministra ressaltou que os regimes jurídicos dos policiais e militares não
são compatíveis com o exercício simultâneo da advocacia devido às suas
funções relacionadas à segurança pública e às tarefas que desempenham, as
quais os colocam, de alguma forma, em proximidade com litígios jurídicos.
Segundo a Magistrada, as normas em questão podem resultar em influência
indevida e privilégios de acesso a inquéritos e processos, desequilibrando a
relação processual. Ela destacou que permitir a advocacia simultânea, mesmo
em causa própria, por parte desses profissionais, coloca em risco a adequada
administração da justiça, favorecendo-os em detrimento dos demais
advogados.

A incompatibilidade entre o exercício da advocacia e a função policial ou


militar tem como objetivo prevenir abusos, tráfico de influência e práticas que
comprometam a independência e a liberdade da advocacia.

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