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PSICOMOTRICIDADE

NO TEA
atividades
práticas

LUCIANA BRITES
Psicomotricidade no TEA: atividades práticas

A Psicomotricidade é, sem dúvidas,


uma grande aliada para a estimula-
ção e o desenvolvimento do TEA.
Neste material nós veremos alguns
pontos e aspectos psicomotores
que podem ser estimulados dentro
do contexto do espectro autista,
além de algumas atividades práti-
cas que podem ser implementadas
no cotidiano das pessoas que
possuem TEA.
ENTENDENDO A
PSICOMOTRICIDADE
ENTENDENDO A PSICOMOTRICIDADE

A Psicomotricidade é a Ciência que o esquema corporal é mais do que o


nasceu na França durante a Segun- da próprio corpo em si, mas também estava
Guerra Mundial, tendo como premissa a impresso no cérebro humano. Foi essa
união da Saúde e da Educação e que se observação que fez com que o Dr.
originou com o objetivo de visualizar o ser Ajuriaguerra desse origem à Tese do
humano da forma mais completa possível. membro fantasma.

Entre os precursores e primeiros pesqui- Além disso, Giselle Soubiran foi uma
sadores sobre a Psicomotricidade, pode- psiquiatra que fundou o primeiro serviço
mos citar o Dr. Ajuriaguerra, um psiquia- de educação psicomotora em 1947.
tra francês que tratava amputados ou mu- Também podemos mencionar Piqc e
tilados vítimas da Vayer, Jean le Boulch, entre outros
Guerra que assolou importantes estudiosos que alavancaram
o país. Nesse cená- e passaram a disseminar os conhecimen-
rio, passou a cha- tos em torno da Psicomotricidade.
mar atenção o nú-
mero de pessoas
que, mesmo tendo
perdido membros,
ainda sentiam
como se o tivessem.
Dr. Julian Ajuriaguerra Isso demonstra que

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ENTENDENDO A PSICOMOTRICIDADE

Ajuriaguerra define a Psicomotricidade como “a Ciência da Saúde e da Educação, pois


indiferente das diversas escolas, ela visa a representação e a expressão motora através da
utilização psíquica e mental do indivíduo”. Ou seja, é uma ciência que tenta entender a
expressão motora, correlacionando com o cérebro para dar significação aos movimentos.

PSI + CO + MOTRIC + IDADE

Emocional Movimento
Cognitivo Idade
humano

As emoções estão Cognição é o pro- O movimento hu- As etapas da vida do


intrincadas no nos- cessamento de in- mano é diferenciado ser humano: bebê,
so corpo, seja qual formações no cére- por ter inteligibilida- infância, adolescên-
for a situação que bro, sejam elas aten- de, ou seja, possuir cia, adulto e geronito.
vivemos. cionais, mnemôni- intenção / motivo
cas, de sequência, implícito ou explícito,
de organização, além de ser aprendi-
entre outras. do e lapidado con-
forme a estimulação
do meio.

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AS ÁREAS
PSICOMOTORAS
ENTENDENDO A PSICOMOTRICIDADE

Portanto, a Psicomotricidade enquanto entre cérebro e corpo. É claro que hoje


ciência tem o intuito de organizar os isso não é nenhuma novidade, mas ainda
aspectos emocionais, cognitivos e assim é algo sobre o que precisamos estar
motores nas diversas etapas do desen- muito atentos. Durante suas observações
volvimento humano. Por isso é muito clínicas, ambos notaram que pessoas com
importante que, ao realizar uma aborda- distúrbios mentais, também possuíam
gem psicomotora, se tenha entendimento alterações motoras.
sobre as fases de desenvolvimento, visto
que cada uma dessas etapas possui as 1925: Wallon começou a perceber que as
suas peculiaridades, tipos de estimulação funções mentais se formam a partir das
e níveis de maturidade do ser humano. funções motoras e que o movimento é a
primeira expressão do psiquismo e a
1920: Dupré e Charcot evidenciaram a primeira estrutura de relação com o meio.
“Síndrome da Debilidade Motora”. Eles a-
firmavam que existia uma estreita relação Por exemplo, quando um bebê acaba de
nascer, a primeira coisa que se verifica são
justamente os reflexos do recém nascido,
pois é através do corpo que todos os
estímulos serão organizados no início da
vida. Já a partir de certo ponto e com o
desenvolvimento da maturidade, o
processo se inverte e é o cérebro que
envia comandos para a execução de uma
determinada ação motora.

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AS ÁREAS PSICOMOTORAS

As áreas psicomotoras estão estruturadas enquanto a lateralização é a dominância


hierarquicamente e acompanham o lateral e nomeação de direita e esquerda.
desenvolvimento do ser humano nos No topo da pirâmide, a praxia é a organiza-
primeiros sete anos de vida. ........................ ção de um ato com determinado fim. Para
realizar uma ação, existe uma sequência
O tônus, a base da pirâmide, é o mecanis- de ações menores e movimentos organi-
mo de contração e extensão muscular; é o zados. A praxia global é feita com o corpo
estado em que o músculo deve estar para inteiro e a praxia fina é feita com a mão.
realizar movimentos. Estruturação
espácio-temporal é a noção e a estrutura-
ção de espaços visuais e auditivos,

Praxia fina

Praxia Global

Lateralização

Noção de corpo

Estruturação espácio-temporal

Tônus e Equilibração

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AS ÁREAS PSICOMOTORAS

Cada etapa da vida da criança requer nosticadas com TEA que não tiveram
diferentes estímulos. O Tônus deve ser atrasos para andar, enquanto outras
estimulado por volta de 1-2 anos; a latera- tiveram atrasos gravíssimos e terão,
lização, noção de corpo e estruturação provavelmente, alterações mais graves.
espácio-temporal entre 3 e 5 anos; a
praxia global e fina, em torno de 6-7 anos. Um outro exemplo é o fato de que existem
É claro que as habilidades psicomotoras muitos autistas com exímia habilidade
podem ser estimuladas mesmo depois para desenho, enquanto a maioria delas
dos 7 anos, mas nesse momento o cérebro tem muita dificuldade de coordenação
passa a entender esses estímulos com um motora fina, como escrever ou mesmo
pouco menos de velocidade, enquanto pegar o lápis.
durante os 7 primeiros anos o cérebro se
encontra mais moldável ou neuroplástico
e mais sensível à estimulação. Por isso é
tão importante o diagnóstico precoce de
qualquer transtorno de desenvolvimento.

As alterações psicomotoras no autismo

Assim como o autismo se apresenta em


diferentes graus, também notamos
diferentes níveis de alterações psicomoto-
ras. Por exemplo, existem pessoas diag-

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AS ÁREAS PSICOMOTORAS

As comorbidades no TEA e os efeitos


motores (Pier & Dick, 2004)

- Transtornos do Desenvolvimento da
Coordenação (TDC): transtornos específi-
cos de alteração na coordenação motora,
não somente para a escrita, como tam-
bém para a organização de correr e todas
as outras que exijam algum nível de
planejamento motor.

- TDAH: alterações no cerebelo, que é


considerado o maestro do movimento, já
que organiza e dá melodia para o movi-
mento.

- Distúrbios senso-perceptivos típicos


do TEA: sabemos que os autistas proces-
sam os estímulos ambientais de uma
forma mais intensa e por isso é tão impor-
tante que saibamos como trabalhar essa
estimulação.

- Síndromes Genéticas.

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TEORIAS QUE PODEM
EMBASAR AS DIFICULDADES
TEORIAS QUE PODEM EMBASAR AS DIFICULDADES

Teoria da Coerência Central Teoria das Funções Executivas


(Frith, 1989; Frith e Happé, 2003) (Telmo, 2008)

Baseia-se na capacidade que as Consiste no estudo da capacidade


pessoas têm de juntar os pormeno- que as pessoas têm de organizar a
res para compreender uma situação sua vida, adaptar-se a novas situa-
de uma forma global, para generali- ções e descobrir outras estratégias
zar e extrair conceitos, de modo a para resolver problemas.
constituir um significado de nível
superior tendo em conta o contexto. Quando falamos em funções executi-
vas, estamos pensando em planeja-
Ou seja, é a capacidade de juntar as mento: ter noção do meio e organizar
partes, ver o todo e tirar conclusões. ações, de modo planejado, para
No autismo, essa é uma das maiores tomar uma atitude.
dificuldades. O nosso corpo, por
exemplo, é uma junção de partes. As pessoas com TEA apresentam
Então, o entendimento do esquema dificuldades de planejar ações.
corporal é uma outra grande dificul- Quando ocorre algum imprevisto,
dade das pessoas com autismo. costumam agir e realizar ações
motoras desorganizadas.

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PROBLEMAS DE
COORDENAÇÃO
MOTORA NOS TEA
(Rourke, 1993; Schatz, 2001; Rinehart e Cols, 2002; Leboreiro, 2009)
PROBLEMAS DE COORDENAÇÃO MOTORA NOS TEA
(Rourke, 1993; Schatz, 2001; Rinehart e Cols, 2002; Leboreiro, 2009)

Distúrbio de
Posicionamento
Espacial

Inabilidade de
Dist. de Coesão
integração visuo-
Central
motora

Alterações Alteração de
memória
psicobiológicas operacional
no TEA sequencial

Dist. de Funções Desorganização e


Executivas baixo planejamento

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PROBLEMAS DE COORDENAÇÃO MOTORA NOS TEA
(Rourke, 1993; Schatz, 2001; Rinehart e Cols, 2002; Leboreiro, 2009)

Trabalharemos uma das habilidades mínimo toque toque na pele pode parecer
consideradas mais importantes dentro enorme para quem possui o transtorno. É
das áreas psicomotoras: a noção de corpo. importante entender que tipo de sensa-
Antes de conseguir ter controle sobre ção está sendo causada, perceber o que
qualquer ação corporal, é imprescindível desperta, o que agrada, o que alivia...
conhecer o corpo.
Um aspecto que frequentemente vemos
A noção corporal costuma se desenvolver melhorar nas crianças com autismo com
dos 3 aos 4 anos. O primeiro passo para esse tipo de abordagem é a questão da
desenvolver é a sensação – é ela que vai água, do horário do banho. Para melhorar
integrar as partes do corpo e transformar a noção corporal da criança, é interessan-
simples sensação em percepção. É a te molhar partes do corpo perguntando,
movimentação e experimentação com o por exemplo, “cadê o olhinho?”, ou nome-
mundo exterior que vai formar o esquema ando cada uma delas. É importante
corporal. lembrar que a estimulação corporal deve
ser feita sempre da cabeça para os pés, já
O autista possui enorme dificuldade em que o nosso desenvolvimento cerebral é
perceber o esquema corporal, já que é a céfalo-caudal.
partir desse esquema que passa a integra-
ção sensorial. Portanto, quando se traba-
lha esquema corporal com um autista, é
importante que se tenha muito cuidado
com o tipo de estímulo que se dá, pois um

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PROBLEMAS DE COORDENAÇÃO MOTORA NOS TEA
(Rourke, 1993; Schatz, 2001; Rinehart e Cols, 2002; Leboreiro, 2009)

Diferentemente do que algumas pessoas


pensam, a estimulação corporal é muito
mais do que apenas citar as partes do
corpo. É necessário fazer com que a
criança sinta cada uma dessas partes e
entenda que todas elas formam uma coisa
só.

A tomada da consciência corporal é


indispensável para a realização dos
movimentos globais e finos. Como
mencionado anteriormente, nós só
conseguimos controlar aquilo que conhe-
cemos. Só é possível caminhar, correr,
parar, quando temos a percepção de que
as pernas fazem parte do corpo e que, por
isso, conseguimos controlar o movimento.

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ATIVIDADES PRÁTICAS
ATIVIDADES PRÁTICAS

Discriminação: nomeação, olhos aber- Além disso, existem várias músicas que
tos, fechados, sentir as partes, desenhar, trabalham o esquema corporal, assim
tocar em si, nos outros, desenhar no chão, como quebra-cabeças que fazem referên-
na parede, fazer bonecos, músicas, enfim, cia à organização das partes do corpo.
tudo o que faça referência a organização Claro que é importante começar com
corporal. quebra-cabeças de poucas peças.

Caso a criança não queira fazer as discri- Essas atividades podem ser trabalhadas
minação em si própria, é possível traba- até mesmo nas mínimas tarefas do
lhar com bonecos, ou em um desenho ou cotidiano. Por exemplo, ao vestir a criança,
então em fotos de revistas. Mesmo assim, já se pode realizar a estimulação, nomean-
é importante mostrar as partes no corpo do as respectivas partes do corpo, sempre
da criança, de uma forma concreta e não com muito afeto e carinho.
abstrata, e explicando para que serve cada
uma delas.

Em geral, as crianças gostam muito


quando começam a perceber o seu corpo.
A ideia de colar um papel na parede e
desenhar bonecos indicando as partes
corporais é muito interessante e divertida,
pois desenhando a criança passa a se dar
conta até mesmo do seu próprio tamanho

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ATIVIDADES PRÁTICAS

Quando ela desenha as partes do corpo Tudo isso contribui para o desenvolvimen-
separadas, isso demonstra que ainda não to do corpo, além da consciência, o esque-
tem a noção do todo e das partes juntas. ma e a imagem corporal.

Lembre-se que o importante não é a A imagem corporal representa como a


qualidade ou a beleza do desenho, mas pessoa vê o seu corpo. Quando a criança
sim observarmos como está evoluindo a faz um desenho e não coloca o nariz, é
percepção da criança com relação ao seu porque ainda não tem a percepção do
próprio corpo. nariz.

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PSICOMOTRICIDADE NO TEA: atividades práticas

Para outras dicas, acesse:

Muito obrigada! :)

LUCIANA BRITES

Esse material faz parte da palestra "Psicomotricidade no TEA: atividades práticas", sendo
proibida sua distribuição separadamente por infringir as Leis de Direitos Autorais.

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