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Resumo

Para obter o coeficiente de dilatação volumétrica do álcool, 25 mL deste líquido foram


submetidos a cinco diferentes temperaturas, registrando para cada uma a alteração na altura do
líquido contido no pescoço do balão volumétrico. Com estes dados e utilizando o Método dos
Mínimos Quadrados, foi obtida a equação da reta que caracteriza o experimento y = 0,016x +
0,0352, apresentando gráfico com resíduo R2 = 0,9746. Com o coeficiente angular desta reta e
os dados de volume inicial e diâmetro do pescoço do balão, foi calculado coeficiente
volumétrico do álcool (4,07 ± 1,09) .10-4 °C-1. Comparando-o com o valor teórico de 0,75.10-3
°C-1, conclui-se que a divergência no resultado experimental possivelmente foi devido a erros
de leitura durante as medições e demora para realizá-las, dada as dimensões do balão
volumétrico e precisão visual para utilizar o paquímetro. Também, contaminantes na amostra
de álcool podem ter causado a diminuição de seu coeficiente.

Palavras-chave: Dilatação térmica; método dos mínimos quadrados; coeficiente de dilatação


volumétrica do álcool.

Introdução
Ao se aquecer um material, aumenta-se o grau de agitação das moléculas que o
compõem, fazendo com que elas se distanciem umas das outras, aumentando assim as
dimensões do corpo. Esse efeito é chamado de dilatação térmica. De maneira análoga, ocorre a
redução das dimensões de um corpo ao resfriá-lo, pois o estado de agitação das moléculas irá
diminuir e elas irão se aproximar, causando o efeito de contração térmica.

A dilatação térmica é proporcional à variação de temperatura, no entanto,


materiais diferentes irão dilatar (ou contrair) de maneira diferente quando expostos à mesma
variação de temperatura, pois cada material possui um coeficiente de dilatação característico.

Por este motivo, é de grande importância prática conhecer o coeficiente de dilatação


dos materiais para poder prever seu comportamento quando submetido a mudanças de
temperatura em sua aplicação. Na construção civil, como em pontes e passarelas, é possível
ver as medidas tomadas para prevenir que a dilatação térmica afete as estruturas: são deixados
espaçamentos entre os blocos de concreto para que o material possa dilatar sem causar danos
ao todo.

Outro exemplo prático é o termômetro comum. O líquido contido em seu


interior
(normalmente álcool ou mercúrio, devido à fácil dilatação que sofrem) altera seu volume com
a mudança de temperatura, e, através da escala graduada, é possível determinar a temperatura
em determinado local.

Objetivos

Obter o coeficiente de dilatação volumétrica do álcool e analisar suas variações de volume em


relação a diferentes temperaturas, baseando-se na literatura, onde mostra que o corpo
se expande com o aumento da sua temperatura e contrai com a diminuição dela.

Referencial Teórico

Dilatação Térmica

A dilatação térmica consiste na expansão de um material após ele sofrer algum tipo de
aquecimento. Este fenômeno pode ser explicado a nível molecular, pois ao se aquecer
o material, suas moléculas recebem energia e aumentam sua agitação, o que faz com
que a distância entre elas aumente, provocando a expansão do material.
Relacionando-se a movimentação das moléculas com os estados físicos da matéria, pode-se
dizer que a dilatação nos gases é maior que nos líquidos, que por sua vez é maior que nos
sólidos, dependendo então de quão unidos estão os átomos na estrutura.

A dilatação pode ocorrer no comprimento, área ou volume do material, dependendo de


uma variação de temperatura e do coeficiente de dilatação térmica específico de cada material,
sendo que este varia de acordo com a dimensão que está sendo expandida. Sendo assim, as
dilatações e coeficientes de dilatação são divididos em:

Dilatação Linear

Quando a expansão ocorre no comprimento de um material, como em barras metálicas,


hastes, fios, etc. Sua fórmula é:

∆L = Li. α. ∆T (1.1)

Em que:
∆L = variação do comprimento;
Li = comprimento inicial;
α = coeficiente de dilatação linear;
∆T = variação de temperatura.

Dilatação Superficial
Ocorre a variação da área do material dilatado. Por exemplo, a expansão da largura e
comprimento de uma placa metálica ou demais superfícies. É dada pela equação:
∆S = Si. β. ∆T (1.2)

Em que:
∆S = variação da área;
Si = área inicial;
β = coeficiente de dilatação superficial.

Dilatação Volumétrica

É a variação que ocorre no volume de um material, ou seja, nas três dimensões


(comprimento, altura e largura). Esta forma é particularmente importante pois é a que ocorre
na prática para os sólidos e a única que ocorre em fluidos. Sua equação é:

∆V = Vi. γ. ∆T (1.3)

Em que:
∆V = variação de volume;
Vi = volume inicial;
γ = coeficiente de dilatação volumétrica.

Observa-se que há um coeficiente para cada tipo de dilatação. No entanto, eles estão
relacionados entre sim por um fator de multiplicação:
β = 2α γ = 3α

Portanto, a partir de um dos coeficientes, pode-se obter os outros dois.

Método dos Mínimos Quadrados


Considerando as medições realizadas e as equações para a dilatação térmica, espera-se
que os dados estejam relacionados linearmente.
Usa-se o Método dos Mínimos Quadrados para obter os coeficientes linear e angular para
formar a reta e calcular suas devidas incertezas. É utilizado este método pois as incertezas em y
são iguais, ou seja, é a incerteza do instrumento de medição utilizado (paquímetro).
A equação da reta e sua incerteza são:
y = ax + b (2.1)

1
σy = √ + ∑(yi + a + b. xi )² (2.2)
n−2

Para o coeficiente angular (a) e linear (b), seus valores e incertezas são calculados por:
𝑛 ∑𝑖. 𝑖 − ∑𝑖∑𝑖
= (2.3)
𝑛∑𝑖2 − (∑𝑖)2

𝑛
σ = σ𝑦√ (2.4)
𝑛∑𝑖2 − (∑𝑖)2

∑𝑖2∑𝑖 − ∑𝑖∑𝑖. 𝑖
= (2.5)
𝑛∑𝑖2 − (∑𝑖)2

∑𝑖 2
σ = σ𝑦√ (2.6)
𝑛∑𝑖
2 − (∑𝑖)2

Para melhor análise dos dados experimentais, é interessante também calcular o fator R2
que representa a qualidade do ajuste realizado. Sua equação é:

2
∑( 𝑖 − − 𝑖 ) 2
𝑅 = 1−
∑ 𝑖2 − 1( 𝑖)2
(2.7)
𝑛

Cálculo do coeficiente volumétrico


Para obter o coeficiente volumétrico do álcool é necessário ter o coeficiente angular da
reta, dado pela equação (2.3). A partir desta, da equação (1.3) e da equação para o volume de
um cilindro, realiza-se manipulações algébricas, obtendo a equação (3.1).
𝜋𝑑2
γ= (3.1)
𝑉𝑜

Em que Vo é o volume inicial, tomado como a capacidade do balão volumétrico


utilizado
(25 mL) e d é o diâmetro do balão (d = 0,9 cm).

Para calcular sua incerteza, usa-se a equação de propagação de erros (3.2).


2 2 2
𝜕𝛾 𝜕𝛾 𝜕𝛾
σγ = √( 𝜎𝑑) + ( 𝜎) +( 𝜎 ) (3.2)
𝜕𝑑 𝜕 𝜕𝑉𝑜 𝑉𝑜

Em que σd é a incerteza do diâmetro (σd = 0,005 cm) e σVo é a incerteza do


balão volumétrico (σVo = ± 0,5 mL).

Com o intuito de comparar as variações de volume com as variações de temperatura,


faz-se necessário também propagar as incertezas associadas a variação de volume, sendo usada
a equação (3.3).
2 2 2
𝜕∆𝑉 𝜕∆𝑉 𝜕∆𝑉
σ∆V = √( 𝜎𝑉𝑜 ) + ( 𝜎 𝛾) +( σ ) (3.3)
𝜕𝑉𝑜 𝜕𝛾 𝜕∆ ∆T

Materiais e Métodos

Materiais:

Manta Térmica;
Balão Volumétrico de (25 ± 0, 05) mL
Termômetro Digital (± 0, 1 °C);
Béquer;
Gelo;
Água;
Paquímetro (± 0, 005 cm);
Álcool etílico.

METODO EXPERIMENTAL

Em um balão volumétrico de 25mL foi adicionado álcool etílico, e em seguida ele foi
inserido em um béquer contendo gelo e água. Com o termômetro digital, determinou-se a
temperatura mínima do álcool antes que este entrasse em equilíbrio térmico com a água. Em
seguida com o auxílio do paquímetro mediu-se a diferença de altura entre o menisco do balão
e o menisco do novo volume provocado pela dilatação do álcool.
Em um segundo béquer contendo água à temperatura ambiente introduziu-se o balão
volumétrico com álcool e depois de esperar algum tempo para ocorrer o equilíbrio térmico,
mediu-se novamente a temperatura do álcool. Com o auxílio do paquímetro mediu-se também
a altura entre o menisco do volume e o menisco do novo volume.
O mesmo béquer foi levado à manta térmica, variando sua temperatura do seu nível 1
até seu nível 10. Esperou-se a água esquentar além da temperatura ambiente e inseriu-se o
balão com álcool, aguardou-se um tempo e novamente anotou-se a temperatura com o
termômetro e a variação de altura com o paquímetro.

Resultados e Discussão

As variações de altura, considerando o menisco do balão volumétrico de 25 mL como


zero, em relação as variações de temperatura são apresentadas na tabela 1.

Tabela 1 – Valores de Variação da Temperatura e Variação de Altura


∆T (± 0,1°C) ∆h (± 0,005 cm)
4,2 0
25,5 0,4
29,9 0,6
52,3 1,34
58,6 1,39

75,3 1,61

X Y
T (ºC) Altura (cm) s (t) Y °Bo s(h)
4,2 0 0,1 -4 0,05
25,5 0,4 0,1 102,5 0,05
29,9 0,6 0,1 124,5 0,05
52,3 1,34 0,1 236,5 0,05
58,6 1,39 0,1 268,0 0,05
75,3 1,61 0,1 351,5 0,05

Para obter a equação que representa linearmente estes dados, utilizou-se o Método dos
Mínimos Quadrados. A tabela 2 abaixo indica os valores utilizados nesse procedimento.
Tabela 2 – Valores utilizados para o MMQ

Com estes valores calculou-se o fator(coeficiente angular da reta) e a sua incerteza a partir das
equações:
a = 39,35751 σa = 0,069218

E o fator b (coeficiente linear) foi calculado pela equação (2.5) e sua incerteza
associada por (2.6).

b = 5,938481 σb = 0,073903

Assim obtendo a equação da reta e sua incerteza associada dado por (2.1) e (2.2).

y = 0,016x + 0,0352 σy = 0,08878

Para melhor análise deste ajuste, foi calculado também a qualidade dele, através
da equação (2.7), obtendo R² = 0,9746. O que indica que os dados não propiciaram
um ajuste satisfatório. Isto é mais facilmente visualizado no gráfico 1, onde os dados
se apresentam dispersos em relação a linha de tendência, indicando que o experimento
não seguiu o comportamento esperado.

Gráfico 1 - Variação da Altura em Função da Variação da Temperatura


Temperatura (ºC) x Altura(cm)
100

R² = 0,9746
80

60

40

20

0
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8
-20

O coeficiente de dilatação volumétrica do álcool e sua incerteza foram calculados pelas


equações (3.1) e (3.2).

γ = (4,07 ± 1,09) .10-4 °C-1

Pelo ajuste da reta, era esperado que esse valor não se aproximaria do valor teórico para o
álcool (0,75.10-3 °C-1), pois o experimento apresentou erros de leitura no paquímetro, precisão
visual com o balão volumétrico, fator dificultado por suas dimensões, além da demora para
realizar a leitura, o que já variava a altura do líquido no pescoço do balão. Também,
contaminantes na amostra de álcool podem ter causado a diminuição de seu coeficiente.

A dilatação do balão volumétrico não foi considerada, pois é insignificante para


as variações de temperatura aplicadas. Portanto, não influencia nos cálculos da dilatação do
álcool e não pode ser considerado um dos motivos para o valor experimental ter divergido do
teórico.

O cálculo de variação de volume foi feito pela equação (1.3) e suas incertezas
associadas por (3.3), com os dados obtidos anteriormente, conforme mostra a tabela 3.
Conclusão

O resultado obtido experimentalmente para o coeficiente de dilatação volumétrica do


álcool não se aproximou do valor teórico, sendo inferior a ele. Diversos fatores podem
ter causado essa divergência, sendo erros de leitura e demora para conseguir precisar as
medições as razões mais influentes. No entanto, é um método factível para se obter
coeficientes de dilatação aproximados dos mais diversos materiais, desde que seja
tomado os cuidados necessários, tendo em vista que para cada variação de temperatura
resultou em uma variação de volume concordante.

Referências

HALLIDAY, D.; RESNICK, R., WALKER, J. Fundamentos de Física: Gravitação, Ondas e


Termodinâmica. Vol. 2. 9 ed. Editora LTC, 2012.

SERWAY, R. A; JEWEET, J. W. Física para cientistas e engenheiros: Oscilações, ondas e


termodinâmica. Vol 2, 8ª ed. Cengage Learning.

VUOLO, J. Fundamentos da Teoria de Erros. Vol. 1. 2 ed. Editora Blucher, 19

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