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Universidade do estado do Rio de Janeiro

Faculdade de Direito

Elisamar Matos da Silva- 202020531111

Luana Victória Gomes- 202020536311

Julia Lima Monteiro dos Santos- 202020530011

Trabalho de Introdução ao Direito Comparado

Rio de Janeiro

2021
Em agosto de 2021 a mídia divulgou imagens que correram o mundo inteiro, tratava-
se de milhares de pessoas que tentavam fugir do regime Talibã, que após 20 anos retomou o
poder de Cabul a capital do Afeganistão. As imagens impactantes chamaram atenção a nível
internacional e levantaram diversas duvidas e questionamentos: afinal, o que é o Talibã e por
que ele esteve fora do poder por 20 anos? E por que a sua retomada levantou temores na
comunidade internacional a respeito dos direitos humanos? [1]

À priori, é de suma importância que expliquemos o que é o Talibã. O Talibã é um


movimento islâmico nacionalista que atua no Afeganistão e no Paquistão, formado por ex-
guerrilheiros, chamados de mujahidin, os quais já haviam participado do confronto com
forças soviéticas no país. O objetivo desse grupo extremista desde o princípio sempre foi
impor as leis islâmicas da forma que eles interpretam. [2]

Esse movimento entrou em vigor pioneiramente em 1996, apesar de ter sido criado em
1994, trazendo consigo uma série de mudança nos hábitos do Afegãos, sobretudo, uma série
de torturas a população, com ênfase nas mulheres, as quais perderam todas as liberdades de
um ser humano, sendo vistas como procriadoras sem dignidade.

O talibã esteve no poder até 2001, quando houve a invasão norte-americana. Durante
esse tempo o Talibã açoitava mulheres e as proibiam de ter vida pública, elas só tinham
permissão de sair de casa se estivessem na companhia de um homem. Elas eram proibidas
ainda, de estudar, e deveriam se vestir com burca. Era tudo censurado: vestimentas femininas,
livros, filmes e até artefatos vistos como blasfêmia à crença islâmica. Se um afegão fosse
visto usando ou possuindo algo que fosse proibido, era executado. Com o seu fim, a
população voltou a ter mais liberdade. No entanto, em 2021 o grupo terrorista tomou
novamente o poder, trazendo a tona toda tortura e desespero a população afegã. [3]

A retomada do poder Talibã foi fortificada com a retirada das tropas do EUA do país,
mas antes de sua completa retirada os rebeldes já haviam invadido a capital do Afeganistão.
Apesar de pacifica, essa retomada extremista nos faz questionar: não há um sistema jurídico
no país que atesta a garantia dos direitos humanos?

Precisamos entender que cada sistema jurídico é composto de elementos que lhe trazem
validade, essa validade é denominada validade jurídica, que pode ser composta de validade
formal, social, ética, entre outras. O componente determinante para a validade jurídica no
Afeganistão é a validade religiosa, que se alicerça no Alcorão.
O sistema jurídico desenvolvidos pelos muçulmanos é chamado de Sharia. Na Sharia
consta um conjunto de normas derivadas das orientações do Corão, provenientes das falas e
condutas do profeta Maomé e da jurisprudência das fatwas – que são um pronunciamento ou
decisão legal emitido por um especialista em lei islâmica quando existem dúvidas de como
proceder em determinada situação.

Existem múltiplas versões e aplicações da Sharia no mundo islâmico com enormes


variações entre elas. Essas variações podem ser apresentadas na base do sistema jurídico em
países islâmicos onde o Estado não é laico, com o Alcorão tendo valor quase correspondente
ao de uma Constituição, ou servindo ainda como um meio de obter orientação sobre assuntos
particulares de mulçumanos residentes em países de Estado laico.

Assim como na idade médio, em que catolicismo impunha uma prática religiosa
vingativa e em nada moderadora, conciliativa ou pacificadora, os países que seguem a Sharia
de forma mais radical, sem adaptá-las aos tempos modernos, acabam por praticar e produzir
leis que são contrárias a muitos dos direitos tidos como pilares democráticos. Um exemplo
disso é do direito da mulher, que voltou a ser cerne de discussões com a volta do Talibã ao
poder do Afeganistão.

Como escreve Sami Abu-Sahlieh em seu texto: “Para os muçulmanos, a primeira fonte
de direito é o Corão, um livro que, segundo eles, terá sido revelado por Deus a Maomé (570-
632). Para os muçulmanos é um livro extraordinário.” (Sahlieh, 1998, p. 541). Dessa maneira,
no Afeganistão, como em outros países islâmicos, a religião não se apresenta apenas no
âmbito social como abrange o direito positivado, que se mescla e confunde em muitos
momentos com o que é pregado no Corão.

A história Afegã passou e passa por grandes momentos de conturbação política, que se
refletem na esfera jurídica. Ao todo o Afeganistão passou ao longo de 81 anos por foram nove
Constituições, sendo oito delas entre a década de vinte e noventa, com a última Constituição
sendo promulgada em 2004, após a ocupação estadunidense. Essa última constituição foi
aprovada pela ONU, e leva em consideração a dinâmica social, política e religiosa do
Afeganistão, além de englobar em si tratados e convenções internacionais, bem como a
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
A Constituição da República Islâmica do Afeganistão de 2004 possui 162 artigos, e
reconhece o Islã como religião nacional. Soma-se isso ao fato da Constituição suscitar
imediata identificação do seu teor teológico na medida em que o preâmbulo é antecedido por
oração que remete o texto legal à fundamentação divina. (GODOY, 2020). Dessa forma,
Godoy relata que nenhuma lei pode ser contraria às crenças e provisões da sagrada religião do
Islã em terras afegãs.

Em uma visão internacional, pode parecer ignorância um país com tanta submissão
religiosa, mas devemos refletir o quanto a religião construiu e constrói a história do
Afeganistão. De certo há uma linha tênue entre o extremismo religioso e a religião como
questão cultural e estrutural. Apesar da recente declaração do Talibã garantindo a aceitação
dos direitos das mulheres previstos na Constituição Islâmica [7], a população que já vivenciou
esse regime tão cruel, não deixa de temer o pior. E para nós que estamos de fora, só basta
observar e torcer para que um dia não tenhamos nossos direitos ameaçados por nenhuma
forma de governo, porque mesmo residentes de outros países com ideais democráticos não
estamos isentos de governos que se erguem de maneira democrática para destruir pilares da
democracia.
BIBLIOGRAFIA:

[1] LINK https://vestibular.brasilescola.uol.com.br/atualidades/a-volta-do-taliba-ao-poder-no-


afeganistao.htm

[2] LINK https://guiadoestudante.abril.com.br/atualidades/o-que-e-o-taliba-e-como-o-grupo-


tomou-o-poder-no-afeganistao/

[3] LINK https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/08/15/o-que-e-o-taliba.ghtml

[4] Grazziotin, Maria Angélica Gaag Duarte. Breve histórico das Constituições da República
Islâmica do Afeganistão. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/87654/breve-historico-das-
constituicoes-da-republica-islamica-do-afeganistao

[5] Texto derivado da leitura Cabul no Inverno: Vidas sem Paz no Afeganistão – Cabul nas
Prisões, de Ann Jones. Disponível em: *9779-30238-1-PB.pdf

[6] Abu-Sahlieh, Sami. Conflitos entre direito religioso e direito estadual em relação aos
muçulmanos residentes em países muçulmanos e em países europeus. Pagina 539 a 56

[7] https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/08/17/taliba-entrevista-coletiva.ghtml

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