A Importância da Oferta da Educação Financeira às Crianças e aos Adolescentes
“Irmão desconhece irmão/E aí dinheiro na mão é vendaval/Dinheiro na mão é solução
e solidão”. Na canção de Paulinho da Viola, a ascensão econômica é retratada, negativamente, como símbolo da avareza e da individualidade, o que reflete as disparidades enraizadas na sociedade brasileira. Nessa perspectiva, a população mostra-se pessimista diante de uma baixa possibilidade de progressão de sua situação econômica e perpetua frases tais quais aquelas do trecho musical como uma maneira de lidar com a ausência de planejamento de suas finanças. Tal mal manejo do dinheiro é comum às classes sociais inferiores e isso ressalta a importância da oferta – a qual inicia-se pelos jovens, como forma de obter maior eficácia – de educação financeira a essa porção populacional majoritária. Esse entrave provém do índice pequeno de brasileiros interessados nessa área e da infraestrutura escolar escassa, provida pelo Estado. Em primeiro plano, a formação social do Brasil contribuiu para a desorganização econômica dos indivíduos. Durante a Ditadura Militar – no século XX –, estabeleceu-se a política de censura a qualquer manifestação contrária ao regime, o que facilitou uma corrupção desenfreada e culminou na concentração intensa de renda. A partir desse contexto, ocorreu a menor participação política por parte das massas, as quais se encontravam desamparadas pela falta de direitos, e isso as desestimulou de entender sobre sua condição financeira e como a poderiam alterar. Tal ausência de interesse é observada no século XXI, no qual – segundo material veiculado em notícias do UOL –, em agosto de 2021, cerca de 73% dos adultos estavam endividados, efeito do sistema ditatorial, responsável por potencializar as desigualdades socioeconômicas no país e por impossibilitar a perspectiva de melhoria à comunidade mais vulnerável. Além disso, esse cenário é desencadeado pelo baixo interesse de motivar as gerações mais novas, pertencentes à parcela humilde da população, a organizarem bem suas finanças. Desse modo, há uma problemática em torno da herança histórica do país, a qual propicia o menor empenho dos adultos a se planejarem. Em segundo plano, os precários investimentos estatais às instituições de ensino agravam a acessibilidade dos alunos aos conteúdos financeiros. A instrução de crianças e adolescentes – sobretudo de regiões mais carentes – torna-se essencial à elaboração de perspectivas socioeconômicas que as façam se portar mais conscientemente em relação ao dinheiro que possuem. Entretanto, o Governo regride nesse âmbito, pois inviabiliza o amparo às escolas, as quais, sem condições de sustento, não dispõem de professores especializados na área e nem sequer dos materiais devidos, o que sensibiliza a didática do curso. Tal despreparo é corroborado quando, em abril de 2021, a Associação de Educação Financeira do Brasil foi desmantelada, uma vez que estava a seu cargo promover a aprendizagem de gestão econômica no país e, em sua ausência, o ensino – que já vinha sofrendo com o sucateamento – perde sua importância. Logo, a causa do problema, que consiste na quase extinção do curso de manejo do dinheiro, é a negligência do Estado. Portanto, a importância da oferta da educação financeira a crianças e adolescentes é notória, porém o acesso a ela é impossibilitado. Com o objetivo de resolver isso, o Governo Federal deve oferecer amparo às famílias mais vulneráveis, por meio de programas de auxílio, a fim de assegurar que a sociedade possa planejar-se mais cuidadosamente e, assim, estimular os jovens a se interessarem por essa organização de suas economias. Ainda, cabe ao MEC aplicar capital nas escolas públicas, por intermédio de investimentos semestrais, para que as crianças e os adolescentes sejam melhores gestores financeiros, de modo a mitigar as disparidades socioeconômicas. Somente assim, os brasileiros terão uma melhor relação com o dinheiro e deixarão de reproduzir as afirmações presentes na música “Pecado Capital”.