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MUNDO REAL
Geraldo Rocha Dr. Edmund O. Schweitzer, III (*) Bogdan Kasztenny Mangapathirao (Venkat) Mynam
SEL SEL SEL SEL
RESUMO
A proteção de linhas de ultra-alta velocidade está se tornando uma realidade, fornecendo às concessionárias
formas de atuar para faltas na linha em poucos milissegundos. O relé descrito neste artigo incorpora elementos
baseados na grandeza incremental (TD32 e TD21) e em ondas viajantes (TW32 e TW87). Este artigo introduz
elementos de proteção de linha no domínio do tempo, compartilha detalhes de sua implantação em hardware e
ilustra sua operação usando faltas do mundo real e simulações digitais. Por fim compara o desempenho dos
elementos de proteção de linha no domínio do tempo com os elementos tradicionais dos relés em operação.
PALAVRAS-CHAVE
Proteção de linhas, ultra-alta velocidade, Ondas viajantes, domínio do tempo, Grandeza incremental
1.0 - INTRODUÇÃO
Desde o início da utilização de energia elétrica, engenheiros têm continuamente melhorado a proteção, conforme
indicado pelos níveis de velocidade, sensibilidade, confiabilidade, segurança e seletividade. Hoje, os relés no
domínio do tempo já são viáveis para a proteção de linha de ultra-alta velocidade. Esses relés usam princípios de
ondas viajantes (TW: “Traveling Wave”), bem como princípios da grandeza incremental já comprovados (“tried-and-
true”) para fornecer uma proteção segura de alta velocidade. As elevadas taxas de amostragem, armazenamento
de dados, potência de processamento e os recursos de comunicação das novas plataformas de hardware dos relés
permitem melhorar os tempos de operação da proteção de linha [1] e a localização de faltas [2] [3] [4].
A Seção 2 deste artigo analisa brevemente a teoria e implementação de elementos de proteção de linha no
domínio do tempo. A Seção 3 demonstra o desempenho dos elementos de proteção de linha baseados na
grandeza incremental usando diversos eventos reais. Estes eventos incluem faltas internas em diversas linhas de
transmissão variando-se níveis de tensão, comprimentos, relações de impedância da fonte para a linha (SIR:
”source-to-impedance ratios”), compensações série, transformadores de potencial com capacitor de acoplamento
(CCVTs: “Coupling-Capacitor Voltage Transformers”), e outros fatores.A Seção 4 ilustra o desempenho dos
elementos de proteção de linha TW87, usando simulações digitais. Fez-se o uso também de um caso de campo
capturado pelo localizador de falta por TW para mostrar o desempenho do elemento TW87. Na Seção 5 é
comparado o desempenho dos elementos de proteção baseados na grandeza incremental (TD21 e TD32) com dois
relés de linha que usam princípios baseados em fasor.
(*) Avenida Pierre Simon de Laplace, 633. Condomínio Techno Park, Campinas/SP - CEP: 13069-320 – Brasil Tel.:
(+55 19) 3515.2000 – Fax: (+55 19) 3515.2011– Email: suporte@selinc.com
2
As Referências [1], [2] e [5] explicam os fundamentos do uso das TWs de tensão e corrente para discriminação da
direção da falta. Teoricamente, é necessário um transformador de potencial com ampla largura de banda (alta
fidelidade) para medir as TWs de tensão. Contudo, na maioria dos casos pode-se medir a primeira TW de tensão
mesmo com um CCVT (devido à capacitância entre enrolamentos através do transformador abaixador e à
capacitância entre espiras através do reator de sintonização do CCVT). Esta medição da TW de tensão não é exata
em termos da magnitude da TW de tensão, mas é exata em termos do tempo de chegada e polaridade. Esta
exatidão da polaridade e sincronização dos tempos é suficiente para o elemento TW32.
As TWs da corrente e tensão de fase são usadas conforme mostrado na figura 4. Calculou-se o torque de TW
como um produto da corrente pela tensão de TW com sinal invertido (logo, o torque é positivo para eventos na
direção à frente). Foi integrado o torque ao longo do tempo e liberou-se o integrador somente se ambas as TWs de
tensão e corrente estiverem acima dos níveis mínimos. Ativa-se a saída de TW32 quando EFWD ultrapassa uma
margem de segurança.
Cada TW proveniente da direção da linha será integrada para cima, e cada TW vinda de trás do relé será integrada
para baixo. A primeira TW é maior em magnitude do que as reflexões subsequentes. Como resultado, tem-se
certeza que o valor integrado é uma indicação confiável da direção da falta, mesmo quando múltiplas TWs
refletidas forem integradas ao longo do período de tempo T1.
iTW
∫
EFWD
× + TW32
−vTW RUN
¯
abs + Margem de
Segurança
Nível
Mínimo ¯
abs +
Nível
Mínimo ¯
Intervalo de
pesquisa para
as TWs de ¯
corrente
locais
IR +
NLEXIT
... K ¯
Tempo
TL
NLFIRST -∆TL +∆TL
IDIF
Corrente da TW Remota
P ¯
+
TW87
NREXIT
... IRST S Outras
¯
Tempo Condições de
Segurança
NRFIRST
m87 +
Intervalo de 0
¯
pesquisa para as
TWs de corrente
1 +
remotas
FIGURA 6 ─ Lógica simplificada de TW87 (P–pickup mínimo, S–slope, K–fator mínimo de TW).
Os três elementos TW87 são acionados, um para cada fase. Qualquer tipo de falta vai excitar pelo menos dois
condutores com TWs de corrente. Por segurança, exige-se que todos os elementos de fase com correntes de
operação, local e remota, maiores do que o correspondente nível de pickup declarem uma condição de falta interna
antes de permitir que o TW87 ative sua saída.
Qualquer mudança súbita na tensão em um ponto sobre a linha protegida gera TWs [7]. Tais variações incluem o
chaveamento de reatores e capacitores série na linha ou uma descarga elétrica na blindagem dos cabos. Portanto,
a lógica de TW87 requer condições de supervisão adicionais para segurança.
2.4 Elemento Direcional por Grandeza Incremental (TD32)
A referência [1] deriva a teoria do elemento TD32. Baseou-se o elemento em um torque, ou seja, um produto da
tensão incremental instantânea pela corrente réplica incremental instantânea. Restrições adaptativas foram
aplicadas para o torque de operação usando o conceito bem conhecido das impedâncias limite (“threshold
impedances”) [1] [8]. Como mostrado na Figura 7, calculou-se o torque de operação usando uma tensão com sinal
invertido para que o torque de operação, TOP, seja positivo para eventos à frente. Cálculos idênticos foram
executados para todos os seis loops.
Os cálculos do lado direito da Figura 7 fornecem um impulso inicial no torque de operação e em um dos torques de
restrição. Este impulso vem das tensões (∆vΦ) e correntes (∆iΦ) incrementais do loop. Por um período muito curto
de tempo (submillissegundo) a tensão e a corrente incrementais são de polaridades opostas para um evento à
frente e de mesma polaridade para um evento reverso [1]. O torque (–∆vΦ ⋅ ∆iΦ) é aplicado por um curto período de
tempo, T2, após a detecção da perturbação (uma fração de um milissegundo).
1
Margem de
Permissão por T2 (ms) Segurança
TFWD
+
+
¯
Σ
∫
× ZF MIN(x,0) TFWD + EFWD
Σ ¯
TD32FWD
TOP
+
∆iZ(HF) + + ∆iΦ
× Σ × Supervisão de
∫
TOP EOP Sobrecorrente
−∆v(HF) −∆vΦ
TREV
¯ Σ ¯ ¯ TD32REV
× ZR MAX(x,0)
∫
TREV
Σ +
+ EREV
¯
FIGURA 7 ─ Cálculos do torque de TD32. Margem de
Segurança
A referência [1] deriva a teoria do elemento TD21 com base nos fundamentos [9]. O princípio compara a variação
da tensão calculada no ponto do alcance pretendido (tensão de operação, V21OP) com a tensão de pré-falta no
ponto de alcance (tensão de restrição, V21RST). Se a variação for maior (V21OP > V21RST), a falta tem de estar entre o
relé e o ponto de alcance, e o elemento é ativado.
A tensão de operação de TD21 é calculada usando o espectro de menor frequência dos sinais incrementais:
V21OP = ∆𝑣(LF) − m0 ∙ |Z1 | ∙ ∆𝑖Z(LF) (1)
Usando o conceito de uma restrição “point-on-wave” (“ponto na onda”), foi calculada a tensão instantânea no ponto
de alcance. Utilizou-se os sinais filtrados na frequência mais baixa para coincidir com a filtragem para a tensão de
operação:
V21R = 𝑣(LF) − m0 ∙ |Z1 | ∙ 𝑖𝑍(LF) (2)
A Figura 9a apresenta a implementação. Multiplicou-se o valor absoluto da tensão de restrição (6) pelo fator k e
armazenou-se este valor. O fator k é ligeiramente acima de 1 para efeito de segurança. Foram extraídos dados de
um período e dois conjuntos extras de dados: um à frente e um além dos dados de um período exato. O valor
máximo entre o nível mínimo de restrição e os três valores torna-se a restrição de TD21 final, V21RST. O nível de
restrição mínimo foi utilizado para impor a restrição mínima de TD21 para “points-on-wave” próximos de
cruzamentos pelo zero (ou seja, para intervalos de tempo quando o sinal de restrição é muito pequeno ou zero).
A Figura 9b ilustra o cálculo da tensão de restrição de TD21. O objetivo é criar um sinal que envolva a tensão no
ponto de alcance real enquanto são assumidas várias fontes de erros, ainda que seja tão pequeno quanto possível
para melhorar a velocidade e a sensibilidade.
Após calcular os sinais de operação e restrição, comparou-se os mesmos, conforme mostrado na Figura 10. Foi
determinado se o sinal de operação está acima do sinal de restrição integrando a diferença entre os dois sinais.
Permitiu-se a integração de TD21 somente se a tensão tiver entrado em colapso. Confirma-se o colapso verificando
a polaridade relativa da tensão de restrição, V21R, antes da falta contra a tensão de operação, V21OP. A tensão
incremental na falta deve ser negativa para uma tensão de restrição positiva e vice-versa. Esta verificação fornece
segurança extra contra eventos de chaveamento. Executando esta verificação, o elemento TD21 responde
efetivamente à tensão de restrição registrada, e não ao valor absoluto da mesma.
O integrador de TD21 inicia a partir do instante em que o valor absoluto do sinal de operação está acima do sinal
de restrição. O elemento TD21 é ativado (TD21PKP) se a diferença integrada for superior à margem de segurança e
se a corrente réplica incremental do loop estiver acima de um limite (supervisão de sobrecorrente).
1
(a)
1 período
V21R
abs k BUFFER
V21RST
MAX
Nível mínimo V21OP
de restrição
(b)
abs
∫
Sinal de E21
restrição Σ +
final TD21PKP
Nível mínimo ¯ RUN
de restrição V21RST ¯
Tensão
Margem de Supervisão de
Segurança Sobrecorrente
Tempo
Tensão no
Loop envolvido
ponto de Tensão no na falta
alcance ponto de
calculada alcance real Colapso de tensão
no ponto de alcance
Bandas de
Segurança | V21OP | > V21RST
F3
F1 F2
L R
O algoritmo de TW87 verifica a localização da falta corretamente (0.798–0.811 pu calculada por m87 em tempo real
vs. 0.81 pu pelo localizador de falta de TW) e opera de forma confiável para esta falta, porque o sinal de operação
na fase B é consideravelmente maior do que o sinal de restrição (1.03 A vs. 0.13 A).
A Figura 13 apresenta a função de distribuição da diferença dos tempos de operação entre TD21 e Relé A para
faltas até o ponto médio da linha. Em todos os casos, o TD21 é mais rápido: em média por cerca de 7 ms, algumas
vezes até 11 ms, e outas vezes por apenas 2 ms.
6.0 - CONCLUSÕES
Foi explicado os princípios de operação dos elementos de proteção de linha no domínio do tempo: distância e
direcional baseados na grandeza incremental e também direcional e diferencial de linha baseados em TW.
Compartilhou-se também alguns detalhes de implementação essenciais para melhor compreensão e verificação
independente dos elementos de proteção. Estes elementos são implementados usando amostragem de alta
velocidade e operações simples, incluindo filtragem, integração, comparação, temporizadores e portas lógicas.
Dessa forma, os novos princípios são fáceis de entender e simples de aplicar.
Diversas faltas em linhas do mundo real foram utilizadas para ilustrar a operação dos elementos de proteção de
linha no domínio do tempo e mostrar a diferença no desempenho em comparação com a tradicional proteção
baseada em fasor. Os casos reais de campo demonstram melhorias na velocidade e confiabilidade. Eles também
demonstram a segurança dos elementos no domínio do tempo. Cada falta na extremidade remota da linha é um
teste de segurança para o elemento de subalcance, e cada falta na direção à frente é um teste de segurança para
o elemento direcional olhando na direção reversa. Os elementos testados operaram para todas as faltas na linha
dentro do respectivo alcance esperado, com tempos de operação mais rápidos de 6 a 20 ms quando comparados
com os relés em operação baseados em fasor.
Foram avaliados os elementos no domínio do tempo em relação a diversos fatores que afetam o desempenho da
proteção de linha—incluindo a localização da falta, suportabilidade do sistema e “point-on-wave”—usando dois
diferentes relés baseados em fasor para comparação. Os testes mostram que os tempos de operação para os
elementos de proteção de linha no domínio do tempo são da ordem de 2 ms para o TD32, 1 ms para o TW32, 4 ms
para o TD21, e menos de 1 ms mais o tempo do canal para o TW87.
De forma intencional, os elementos no domínio do tempo foram baseados principalmente nas questões de
velocidade e segurança ao invés de perfeita confiabilidade. Portanto, eles exigem elementos de proteção
confiáveis, tipicamente baseados em fasor, operando em paralelo, seja como parte do mesmo relé, ou como um
relé separado. Contudo, esses elementos rápidos operam para uma grande porcentagem de faltas na linha. Como
resultado, a retaguarda confiável, porém mais lenta, é solicitada raramente, resultando em excelente média dos
tempos de operação da aplicação completa.
7.0 - REFERÊNCIAS
(1) E. O. Schweitzer, III, B. Kasztenny, A. Guzmán, V. Skendzic, and M. V. Mynam, “Speed of Line Protection –
Can We Break Free of Phasor Limitations?” proceedings of the 41st Annual Western Protective Relay
Conference, Spokane, WA, October 2014.
(2) E. O. Schweitzer, III, A. Guzmán, M. V. Mynam, V. Skendzic, B. Kasztenny, and S. Marx, “Locating Faults by
the Traveling Waves They Launch,” proceedings of the 40th Annual Western Protective Relay Conference,
Spokane, WA, October 2013.
(3) M. Ando, E. O. Schweitzer, III, and R. A. Baker, “Development and Field-Data Evaluation of Single-End Fault
Locator for Two-Terminal HVDC Transmission Lines, Part I: Data Collection System and Field Data,” IEEE
2
Dr. Edmund O. Schweitzer, III, é reconhecido como pioneiro da proteção digital e detém o título de Fellow do
IEEE, um título concedido para menos de 1% dos membros do IEEE. Em 2002, foi eleito membro da National
Academy of Engineering. Dr. Schweitzer recebeu o prêmio Medal in Power Engineering de 2012, a mais alta
distinção fornecida pelo IEEE, por sua liderança na transformação radical do desempenho dos sistemas elétricos
de potência através de equipamentos de controle e proteção baseados em computadores. Dr. Schweitzer recebeu
o prêmio Regents’ Distinguished Alumnus Award e Graduate Alumni Achievement Award da Washington State
University e o Purdue University Outstanding Electrical and Computer Engineer Award. Ele também recebeu o título
de doutor honoris causa de ambas a Universidad Autónoma de Nuevo León, em Monterrey, México, e Universidad
Autónoma de San Luis Potosí, em San Luis Potosí, México, por suas contribuições ao desenvolvimento de
sistemas de potência em todo o mundo. Escreveu dezenas de artigos técnicos nas áreas de confiabilidade e
projeto de relés digitais, e detém quase 200 patentes em todo o mundo relativas à proteção, medição,
monitoramento e controle de sistemas de potência. Dr. Schweitzer recebeu seus diplomas de Bacharel e Máster
em engenharia elétrica da Purdue University, e seu doutorado da Washington State University. Ele trabalhou nas
faculdades de engenharia elétrica da Ohio University e Washington State University, e em 1982, fundou a
Schweitzer Engineering Laboratories, Inc. para desenvolver e fabricar relés de proteção digitais e produtos e
serviços relacionados.
Bogdan Kasztenny é o diretor de P&D de tecnologia de proteção na Schweitzer Engineering Laboratories, Inc. Ele
tem mais de 25 anos de experiência em proteção e controle de sistemas de potência, incluindo 10 anos de carreira
acadêmica e 15 anos de experiência na área industrial, desenvolvendo, promovendo e fornecendo suporte para
diversos produtos de proteção e controle. Bogdan é um IEEE Fellow, Senior Fulbright Fellow, representante
canadense do CIGRE Study Committee B5, engenheiro profissional registrado na província de Ontário, e professor
adjunto na University of Western Ontario. Desde 2011, Bogdan tem participado do Western Protective Relay
Conference Program Committee. Bogdan é autor de cerca de 200 artigos técnicos e detém 30 patentes.
Mangapathirao (Venkat) Mynam recebeu seu MSEE da University of Idaho em 2003 e seu BE em engenharia
elétrica e eletrônica da Andhra University College of Engineering, Índia, em 2000. Ingressou na Schweitzer
Engineering Laboratories, Inc. (SEL) em 2003 como engenheiro de proteção associado na divisão de serviços de
engenharia. Atualmente, trabalha como engenheiro de pesquisas sênior em pesquisas e desenvolvimento da SEL.
Ele foi selecionado para participar do U.S. National Academy of Engineering (NAE) 15th Annual U.S. Frontiers of
Engineering Symposium. É membro sênior do IEEE e atualmente tem sete patentes nas áreas de proteção,
controle e localização de falta de sistemas de potência.