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ANÁLISE DE SENSIBILIDADE PARAMÉTRICA DA PROTEÇÃO DIFERENCIAL DE LINHAS

BASEADA EM ONDAS VIAJANTES

Felipe V. Lopes(*) Kleber Melo e Silva Eduardo J. S. Leite Jr. Ananda E. Oliveira
UNIVERSIDADE DE UNIVERSIDADE DE UNIVERSIDADE DE UNIVERSIDADE DE
BRASÍLIA BRASÍLIA BRASÍLIA BRASÍLIA

RESUMO

As funções de proteção aplicadas no domínio do tempo têm despertado cada vez mais o interesse de
concessionárias de energia elétrica. Neste contexto, merece destaque a função TW87, a qual consiste em uma
proteção diferencial de linhas de transmissão baseada na teoria das ondas viajantes, que se encontra disponível em
um relé numérico lançado recentemente no mercado. Para viabilizar um melhor entendimento do comportamento
desta nova função, apresenta-se neste trabalho uma análise de sensibilidade paramétrica da TW87, sendo esta
avaliada frente a diversas condições de curto-circuito e operacionais do sistema monitorado.

PALAVRAS-CHAVE

Domínio do tempo, linhas de transmissão, ondas viajantes, proteção diferencial, TW87.

1.0 - INTRODUÇÃO

Devido à crescente demanda por energia elétrica, algumas estratégias para aumentar as margens de estabilidade
dos sistemas de transmissão têm sido avaliadas pelas concessionárias, a fim de garantir uma maior segurança da
rede elétrica durante curtos-circuitos severos [1]. De fato, para uma maior potência transferida nas linhas de
transmissão (LTs), menores são as margens de estabilidade do sistema, o que faz do tempo de atuação da
proteção uma variável crítica durante a determinação do montante de energia a ser transferida [2].

Nos sistemas elétricos de potência atuais, predominam as proteções baseadas na análise de fasores fundamentais
[1],[2], exceto de algumas funções baseadas em valores instantâneos dos sinais monitorados. Ainda assim, na
maioria das vezes, essas funções baseadas em valores instantâneos são apenas auxiliares, de forma que a
tomada de decisão final das proteções depende da análise de grandezas fasoriais. Neste cenário, o processo de
estimação de fasores é crucial, embora resulte tipicamente em atrasos na atuação da proteção da ordem de 1 a 1,5
ciclos fundamentais [1]. Por isso, para garantir a estabilidade do sistema, os referidos atrasos da proteção
tradicional devem ser considerados no momento da definição do ponto de operação rede elétrica, o que limita a
potência elétrica máxima transferida nas LTs, mesmo quando estas estão operando abaixo de sua capacidade [2].

Dentre as estrátégias comumente utilizadas para viabilizar uma maior transferência de potência em LTs, a
compensação série capacitiva é uma das mais conhecidas. Embora existam tecnologias consolidadas para a
operação de sistemas compensados, a inclusão de bancos de capacitores série em LTs pode implicar em
dificuldades operacionais para os sistemas de proteção [2]. Outra alternativa seria a construção de novas LTs, o
que, na maioria das vezes, não é atrativo do ponto de vista financeiro. Por fim, destaca-se o aumento da velocidade
dos esquemas de proteção, solução esta pouco considerada até alguns anos atrás devido a limitações tecnológicas
dos dispositivos de proteção [1]. Com o advento da tecnologia digital, essa estratégia se tornou viável, motivando
fabricantes de relés numéricos a desenvolver técnicas capazes de identificar faltas com segurança por meio de
funções que não dependem da estimação fasorial de tensões e correntes. Neste contexto, destaca-se a TW87,
função esta que se baseia na teoria das ondas viajantes (OVs) e que está disponível no relé T400L [1],[3].
Conforme reportado em [3], a TW87 é capaz de identificar curtos-circuitos internos em LTs em tempos da ordem de
1 ms, mantendo a segurança para curtos-circuitos externos. Assim, atrasos que até então eram da ordem de 1 a
1,5 ciclos fundamentais, passam a ser de alguns milisegundos, o que é atrativo para LTs críticas do sistema que
operam próximas aos seus limites de estabilidade [1].
(*) Campus Universitário Darcy Ribeiro, Bloco SG-11, Laboratório LAPSE – CEP 70.910-900 Brasília-DF, Brasil,
Tel: (+55 61) 3107-1039 – Email: felipevlopes@unb.br
2

Tratando-se de uma solução que difere dos esquemas de proteção diferencial tradicionais, a compreensão dos
limites de sensibilidade da função TW87 é de grande interesse para as concessionárias, especialmente para
melhor entender as potencialidades e possíveis limitações desse tipo de proteção. Por isso, realiza-se neste
trabalho uma análise do desempenho da TW87, com foco na identificação de seus limites de sensibilidade quando
utilizados diferentes ajustes. Para tanto, utiliza-se o Alternative Transients Program (ATP) para simular curtos-
circuitos em um sistema de 500 kV, considerando diferentes condições de falta e de operação da LT monitorada.

2.0 - PROTEÇÃO TW87 (TRAVELING WAVE DIFFERENTIAL ELEMENT)

2.1 Fundamentos da Proteção TW87

A proteção TW87 tem como principal fundamento a propagação de OVs em LTs. Devido aos parâmetros
distribuídos das LTs, sabe-se que, após a ocorrência de qualquer evento que promova uma mudança abrupta da
topologia do sistema ou após descargas atmosféricas, transitórios eletromagnéticos se propagam na forma OVs ao
longo da rede elétrica, incidindo sobre os terminais monitorados, onde parte destas ondas prossegue seu percusso
de propagação e parte é refletida [4]. Neste contexto, sabe-se que o formato dos transitórios de alta frequência
verificados nos pontos de medição não é aleatório, mas sim, possui uma explicação física, a qual está relacionada
à incidência de OVs nas barras monitoradas.

Em uma LT, nota-se que as OVs levam um determinado tempo para se propagar de um terminal para o outro, de
modo que as variações de alta frequência verificadas nos sinais de tensão e corrente em uma extremidade não são
instantaneamente percebidas no lado oposto [3]. De fato, se ocorre, por exemplo, uma manobra de chaveamento
no terminal local de uma LT, OVs se propagarão ao longo de todo o comprimento da linha, atingindo o terminal
remoto apenas após um determinado tempo, quando só então os transitórios serão percebidos nesta extremidade.
Esse tempo de propagação ao longo do comprimento da LT é representado neste trabalho por τ e depende do
comprimento L da LT e da velocidade de propagação vp das OVs, sendo calculado por τ = L/vp [3],[4].

Diante do exposto, conclui-se que é possível distinguir faltas internas de externas em LTs por meio da análise das
OVs que entram e saem em cada terminal. De fato, para qualquer distúrbio externo à LT, a diferença de tempo
entre a incidência das primeiras OVs nos terminais local e remoto será igual a τ. Caso contrário, para curtos-
circuitos internos, os trechos ao longo dos quais as OVs se propagam são menores que o comprimento L, de modo
que o período entre os instantes de incidência das primeiras OVs detectadas nos terminais da LT será menor que o
tempo de propagação τ da LT. Na Figura 1, ilustram-se as OVs medidas em ambos os terminais de uma LT para
dois casos: falta externa no lado do terminal local da LT; e falta interna na primeira metade da LT próxima ao
terminal local (Barra L). Para cada caso, apresenta-se a variável P, a qual equivale ao período entre as detecções
das primeiras OVs nos terminais da linha.
Barra L Barra R Barra L Barra R
OVs de OVs de
corrente corrente
vp
vp

Barra L
Barra R
vp
vp P

τ
P τ

Barra L
Barra R

Tempo (ms)

(a) (b)
FIGURA 1 – OVs medidas nas barras local e remota: (a) Curto-circuito externo; (b) Curto-circuito interno.
3

Analisando a Figura 1, nota-se que, para o curto-circuito externo, P ≈ τ. Por outro lado, conforme esperado, para o
caso de curto-circuito interno, observa-se que P < τ. Embora a análise de P pareça suficiente para a implementação
da proteção da LT, por questões de segurança, a TW87 realiza a análise das amplitudes das OVs de corrente, as
quais respeitam as leis fundamentais dos circuitos elétricos [4]. Deve-se perceber que, devido à polaridade dos
transformadores de corrente (TCs), OVs de corrente entrando na LT possuem polaridade positiva, enquanto que as
OVs que saem da LT possuem polaridade negativa. Assim, similarmente à proteção diferencial de LTs, são
definidas correntes de restrição (iRST) e diferencial (iDIF), as quais são calculadas usando as componentes de alta
frequência das correntes de fase do sistema por meio de:
i RST = i R (t ) − i L (t − τ ) , (1)
i DIF = i R ( t ) + i L (t − P ) , (2)
onde iL e iR representam as amplitudes das ondas viajantes medidas nos terminais local e remoto, respectivamente.

Do exposto, nota-se que, para curtos-circuitos externos, iL(t - τ) ≈ -iR(t) e P ≈ τ, de modo que iRST apresenta valores
mais elevados, enquanto que iDIF apresenta valores idealmente nulos. Por outro lado, para curtos-circuitos internos,
iL(t - P) ≈ iR(t) e P < τ, fazendo iRST assumir baixos valores, porém resultando em valores elevados de iDIF.

2.2 Implementação Numérica da Proteção TW87

Durante a propagação ao longo de sistemas de transmissão, as OVs sofrem atenuações e desvios de fase, os
quais são decorrentes da constante de propagação das LTs [4]. Por isso, embora o fundamento da função TW87
seja simples, a sua implementação requer alguns cuidados para evitar atuações indevidas. O fato é que, além da
necessidade de técnicas para extrair corretamente as OVs dos sinais monitorados, é importante incluir condições
de segurança no momento da análise das componentes de alta frequência, garantindo operações rápidas,
confiáveis e seguras.

2.2.1. Aquisição e Processamento dos Sinais

Assim como todas as aplicações baseadas na teoria das OVs, a função TW87 requer o uso de altas taxas de
amostragem para fins de representar corretamente as altas frequências dos sinais monitorados [2]. Conforme
reportado em [3], o relé T400L utiliza uma frequência de amostragem de 1 MHz para a função TW87 e extrai as
OVs das correntes medidas por meio de um filtro denominado Differentiator-Smoother (DS), o qual é ajustado para
manter ganho unitário das OVs medidas, uma vez que a proteção TW87 requer a análise da amplitude dos
transitórios. Na Figura 2, apresenta-se um exemplo da aplicação do filtro DS em um sinal de corrente com
transitórios resultantes de uma falta. Na figura, demonstra-se que a amplitude dos transitórios originados da
incidência de OVs no referido ponto de medição é corretamente representada no sinal filtrado, o qual é utilizado
como sinal de entrada da função TW87. Neste trabalho, os sinais filtrados provenientes do terminal local e remoto
são chamados de iOVL e iOVR, respectivamente.
i (A)
Bm Cm Corrente
medida
Am

OVs
Am Cm medidas
Bm
Tempo
FIGURA 2 – Extração das OVs por meio do filtro DS.

2.2.2. Cálculo da Amplitude das OVs de Interesse

Conforme explicado anteriormente, para a identificação de curtos-circuitos externos, a função TW87 se baseia no
fato de que uma OV que entra em um dado terminal sairá na extremidade oposta da LT após um período τ. Assim,
para calcular as correntes descritas em (1) e (2), identificam-se inicialmente os instantes de incidência das
primeiras OVs nos terminais local e remoto da LT, os quais são representados neste trabalho por tL1 e tR1. Em
seguida, conhecendo os instantes tL1 e tR1, verifica-se a existência de OVs após um período τ em regiões, no
tempo, onde estariam localizadas as OVs que sairiam da LT monitorada em casos de curtos-circuitos externos.
Essas regiões, denominadas de intervalos de busca das OVs de saída, possuem largura de 2∆τ (neste trabalho,
considera-se ∆τ = 6 µs) e estão centradas nos instantes tLsai = tR1 + τ e tRsai = tL1 + τ, conforme ilustrado na Figura 3.
4

tL1 tLsai
τ -∆ τ ∆τ

iOVL
Intervalo de busca
da OV que sai da LT
na Barra L

tRsai
τ
iOVR

-∆ τ ∆τ
Intervalo de busca
da OV que sai da LT
na Barra R
Tempo
tR1

FIGURA 3 – OVs de entrada e saída da LT monitorada.

Os instantes tL1, tR1, tLsai e tRsai estão associados aos índices das respectivas amostras nas quais foram
identificadas as OVs de entrada e saída da LT [3]. Neste trabalho, os índices relacionados aos instantes tL1, tR1, tLsai
e tRsai são representados por NL1, NR1, NLsai e NRsai. Dessa forma, em posse desses índices, calculam-se valores
característicos das correntes nos terminais local e remoto, denominadas de IL e IR, respectivamente, das correntes
iRST e iDIF explicadas anteriormente, bem como uma estimativa do local da falta m87, a qual é obtida por meio do
equacionamento clássico de localização de faltas baseada em dados de dois terminais [3]. A seguir, apresentam-se
as expressões utilizadas no cálculo numérico de IL, IR, iDIF, iRST e m87. Adicionalmente, na Figura 4, ilustra-se o
diagrama lógico da função TW87:
k =M
IL = C ∑i
k = −M
OVL ( N L1 − k ) , (3) IL
-
k =M CONDIÇÃO 1
IR = C ∑i
k = −M
OVR (N R1 − k ) , (4)
IR +
k =M KOV -
i DIF = C ∑ [i
k = −M
OVL ( N L1 − k ) + iOVR ( N R 1 − k ) ] , (5) ipickup
-
Se NL1 < NR1: iDIF +
k =M

∑ [i ( N L1 − k ) − i OVR ( N Rsai − k ) ] ,
(6a) CONDIÇÃO 2
i RST = C OVL + TW87
k = −M
iRST SLP - Outras
condições
Caso contrário: de segurança
m87 +
k =M (6b)
i RST = C ∑ [iOVR ( N R 1 − k ) − iOVL ( N Lsai
k = −M
− k )] , 0 -

1 +
 N − N R1  , CONDIÇÃO 3
m87 = 0,5 1 + L1 -
τ amostras 
(7)

onde C é um fator de escala para manter um ganho Legenda:
unitário nas correntes calculadas, M é o número de KOV = Limiar mínimo para de detecção das OVs;
amostras usado no cálculo dos valores característicos SLP = Slope da proteção TW87;
de interesse, sendo neste trabalho igual ao número de ipickup = Corrente de pickup.
amostras no período ∆τ, e τamostras é o número de
amostras equivalente ao tempo de propagação da LT. FIGURA 4 – Diagrama lógico da função TW87 [3].

De acordo com a Figura 4, a lógica de operação da função TW87 contém três condições principais, as quais são
referenciadas neste trabalho como Condições 1, 2 e 3. Na Condição 1, considera-se a análise de IL, IR e iDIF,
evitando operações duvidosas quando os transitórios detectados estiverem muito atenuados. Na Condição 2,
verifica-se se iDIF > SLP x iRST, o que é verdadeiro apenas para curtos-circuitos internos. Por fim, na Condição 3,
analisa-se a localização estimada m87 (em p.u.), a qual, para curtos-circuitos internos, assume valores entre 0 e 1.
Além das condições 1, 2 e 3, ainda são usadas condições de segurança adicionais para evitar operações indevidas
durante manobras de chaveamento na LT, bem como em casos de descargas atmosféricas. Neste trabalho, uma
vez que apenas curtos-circuitos são simulados, essas condições de segurança não foram implementadas. Além
disso, para viabilizar uma análise realística da TW87, modelou-se um sistema de aquisição de sinais de acordo
com as diretrizes apresentadas em [3].
5

3.0 - SISTEMA TESTE, SIMULAÇÕES E AJUSTES

3.1 Sistema Teste

Para as análises propostas, considerou-se o sistema teste simplificado de 500 kV/60 Hz ilustrado na Figura 5. O
sistema consiste em uma LT com 200 km de extensão que conecta dois circuitos equivalentes de Thévenin, os
quais representam as redes elétricas conectadas a montante e jusante da linha. Uma vez que o objetivo deste
trabalho é a análise dos limites de sensibilidade da função TW87, foram consideradas apenas faltas AT internas à
LT, variando-se a distância da falta ‘d’ em relação à Barra L, o ângulo de incidência ‘θ’ (neste trabalho, calculado
tomando como referência a tensão da fase A do terminal local), a resistência de falta ‘Rf’ e o Source Impedance
Ratio (SIR) do terminal remoto (Barra R) nas sequências zero e positiva. Além dessas variáveis, as fontes dos
equivalentes de Thévenin foram ajustadas para simular um ângulo de carregamento ‘δ’, mantendo nas Barra L e R
o
tensões de 1/0 p.u. e 1/δ p.u., respectivamente.

Na Tabela 1, apresentam-se os valores considerados para cada uma das referidas variáveis. Para viabilizar uma
análise mais detalhada da atuação da função TW87, avaliou-se o efeito cruzado de θ, δ, Rf e SIR com o da
distância do curto-circuito d, resultando em 2337 casos de falta. Cabe ressaltar que, por se tratar de uma análise de
sensibilidade paramétrica, algumas variáveis foram extrapoladas até valores pouco usuais, a exemplo de Rf e δ.
Barra R Parâmetros da LT:
o
1/0 p.u. 1/δ p.u.
200 km ZL0 = 0,4930 + j1,3390 Ω/km
YL0 = j2,890 µm ho/km
SIRL0=1 Ponto SIRR0 ZL1 = 0,0186 + j0,2670 Ω/km
SIRL1 =1 de Falta SIRR1 YL1 = j6,124 µmho/km
TW87 TW87
Canal de Comunicação
FIGURA 5 – Sistema Teste.

Tabela 1 – Variáveis de simulação consideradas.


Variável Análise de θ Análise de Rf Análise de δ Análise do SIR (Barra R)
d (p.u.) 0,05, 0,10,..., 0,90 e 0,95 0,05, 0,10,..., 0,90 e 0,95 0,05, 0,10,..., 0,90 e 0,95 0,05, 0,10,..., 0,90 e 0,95
θ (o) 0, 10, 20,..., 340 e 350 90 90 90
Rf (Ω) ≈0 0, 20, 40,..., 980 e 1000 Ω ≈0 ≈0
δ (o) -15 -15 -60, -55, ..., 55 e 60 -15
SIRR0,R1 1,0 1,0 1,0 0,1, 0,2, ..., 0,8, 0,9, 1,0 e 2,0

3.2 Ajustes Avaliados

Neste trabalho, avaliaram-se três ajustes da TW87. Por limitações de espaço, apenas o valor de ipickup foi variado, o
qual é um dos mais decisivos durante a operação da TW87. No Ajuste 1, considerou-se SLP = 0,3, KOV = 0,1 e
ipickup = 0,1 A. Da Figura 4, conclui-se que, neste ajuste, o baixo valor de ipickup faz com que a Condição 1 seja
sempre satisfeita, tornando a TW87 muito sensível, visto que não restringe a operação da proteção em situações
de transitórios atenuados. No Ajuste 2, considerou-se SLP = 0,3, KOV = 0,1 e ipickup = 0,02 x ibase A, sendo ibase a
corrente base calculada por meio da tensão nominal do sistema e da potência natural da LT (Surge Impedance
Loading – SIL). Para a LT modelada, ibase = 1,382 kA, de modo que a Condição 1 da lógica de operação é satisfeita
apenas quando iDIF > 27,65 A, IL > 2,76 A e IR > 2,76 A. Na prática, para o Ajuste 2, a TW87 se torna mais segura,
evitando operações baseadas em transitórios muito atenuados que, em sistemas reais, podem não ser
provenientes de faltas. Por fim, no Ajuste 3, considerou-se SLP = 0,3, KOV = 0,1 e ipickup = 0,05 x ibase A, de modo
que a Condição 1 é satisfeita apenas quando iDIF > 69,13 A, IL > 6,91 A e IR > 6,91 A. Para este ajuste, a TW87
opera de forma mais segura do que para o Ajuste 1, porém de forma menos sensível do que para o Ajuste 2.

4.0 - RESULTADOS E ANÁLISES

Para cada conjunto de simulações, criaram-se superfícies que ilustram o comportamento das grandezas utilizadas
nas condições 1, 2 e 3 da lógica de operação apresentada na Figura 4, (ou seja, IL, IR, iDIF, SLP x iRST e m87)
facilitando o entendimento do desempenho da TW87 para os ajustes avaliados. Nas Figuras de 6 a 9, apresentam-
se as superfícies dos valores primários de IL, IR, iDIF e SLP x iRST, bem como dos valores em p.u. de m87.

Em todos os casos, nota-se que as condições 2 e 3 da lógica da TW87 (iDIF > SLP x iRST e 0< m87 <1,
respectivamente) seriam satisfeitas, o que não é verificado para a Condição 1. Da Figura 7, nota-se que a variação
de δ não resulta em oscilações significativas de IL, IR, iDIF, cujas superfícies permanecem relativamente planas.
o o
Entretanto, das Figuras 6, 8 e 9, nota-se que, para θ ≈ 0 e 180 , e para valores elevados de Rf e SIR, ocorrem
reduções nos valores de IL, IR, iDIF, o que, a depender do ajuste utilizado, pode restringir a TW87 pela Condição 1.
6

SLP x iRST (A)


400 50

iDI F (A)
200

0 0
1 1
0,75 360 0,75 360
0,5
0,25 90 180 270 0,5
0,25 90 180 270
0 0 0
d (p.u.) o
θ () d (p.u.) o
θ ( )

200 200 1

(p.u.)
IR (A)
I (A)

100 100 0.5

87
L

m
0 0 0
1 1 1
0,75 360 0,75 360 0,75 360
0,5
0,25 90 180 270 0,5
0,25 90 180 270 0,5
0,25 90 180 270
0 0 0 0 0 0
d (p.u.) o
θ ( ) d (p.u.) o d (p.u.) o
θ () θ ()
o
FIGURA 6 – Cenário 1: Variação do ângulo de incidência θ (Rf ≈ 0, δ = -15 , SIR = 1).

SLP x iRST (A)


400 50
iDI F (A)

200

0 0
1 1
0,75 30 60 0,75 30 60
0,5 0 0,5 0
0,25 -30 0,25 -30
0 0 -60
d (p.u.) o
δ() d (p.u.) o
δ( )

200 200 1

(p.u.)
IR (A)
I (A)

150 100 0,5

87
L

m
100 0 0
1 1 1
0,75 30 60 0,75 30 60 0,75 60
0,5 0 0,5 0 0,5 0 30
0,25 -30 0,25 -30 0,25 -30
0 -60 0 -60 0 -60
d (p.u.) o
δ( ) d (p.u.) o
δ() d (p.u.) o
δ( )
o
FIGURA 7 – Cenário 1: Variação do ângulo de carregamento δ (Rf ≈ 0, θ = 90 , SIR = 1).
SLP x iRST (A)

400 50
iDI F (A)

200

0 0
1 1
0,75 0,75
0,5 750 1000 0,5 750 1000
0,25
0 250 500 0,25
0 0 250 500
d (p.u.) Rf (Ω) d (p.u.) Rf (Ω)

200 200 1
(p.u.)
IR (A)
I ( A)

100 100 0.5


87
L

0 0 0
1 1 1
0,75 0,75 0,75
0,5 750 1000 0,5 750 1000 0,5 750 1000
0,25
0 0 250 500 0,25
0 0 250 500 0,25
0 0 250 500
d (p.u.) Rf (Ω ) d (p.u.) Rf (Ω) d (p.u.) Rf (Ω)
o o
FIGURA 8 – Cenário 1: Variação da resistência de falta Rf (θ = 90 , δ = -15 , SIR = 1).
( A)

400 100
iDI F (A)

RST

200 50
SLP x i

0 0
1 1
0,75 1,5 2 0,75 1,5 2
0,5 0,5
0,25
0 0,5 1 0,25
0 0 0,5 1
d (p.u.) SIR d (p.u.) SIR

200 200 1
(p.u.)
IR (A)
I (A)

180 100 0,5


87
L

160 0 0
1 1 1
0,75 1,5 2 0,75 1,5 2 0,75 1,5 2
0,5 0,5 0,5
0,25
0 0 0,5 1 0,25
0 0 0,5 1 0,25
0 0 0,5 1
d (p.u.) SIR d (p.u.) SIR d (p.u.) SIR
o o
FIGURA 9 – Cenário 1: Variação do SIR no terminal remoto (Rf ≈ 0, θ = 90 , δ = -15 ).
7

Nas Figuras 10, 11 e 12 são apresentadas as superfícies dos tempos de atuação da TW87 quando considerados
os ajustes 1, 2 e 3, respectivamente. Os espaços em vazio nas superfícies representam situações nas quais não
houve atuação da TW87. É importante frisar que os tempos de atuação apresentados não contabilizam o atraso do
canal de comunicação utilizado para intercâmbio de informações entre as barras L e R. Os resultados são
ilustrados dessa maneira pelo fato de diferentes tipos de canais de comunicação resultarem em diferentes atrasos.
Ainda assim, cabe informar que, para um canal composto por fibras ópticas e com comprimento similar ao da LT
em estudo (ou seja, 200 km), incluindo o tempo de processamento dos dispositivos de proteção, um atraso
adicional da ordem de 2 ms seria coerente para o sistema modelado [5].

1,3 1,3 1,3 1,3


Tempo Atuação (ms)

Tempo Atuação (ms)

Tempo Atuação (ms)

Tempo Atuação (ms)


1,2 1,2 1,2 1,2
1,1 1,1 1,1 1,1
1 1 1 1
0,9 0,9 0,9 0,9
0,8 0,8 0,8 0,8
0,7 0,7 0,7 0,7

1 1 1 1
0,75 360 0,75 60 0,75 1000 0,75 2
0,5 270 0,5 30 0,5 750 0,5 1,5
180 0 500 1
0,25 90 0,25 -30 0,25 250 0,25 0,5
d (p.u.) 0 0 o d (p.u.) 0 -60 o d (p.u.) 0 0 R (Ω ) d (p.u.) 0 SIR
θ () δ( ) f
FIGURA 10 – Cenário 1 (condição 1 da lógica de operação inibida): ipickup = 0,1 A, KOV = 0,1, SLP = 0,3.

1,3 1,3 1,3 1,3


Tempo Atuação (ms)

Tempo Atuação (ms)

Tempo Atuação (ms)

Tempo Atuação (ms)


1,2 1,2 1,2 1,2
1,1 1,1 1,1 1,1
1 1 1 1
0,9 0,9 0,9 0,9
0,8 0,8 0,8 0,8
0,7 0,7 0,7 0,7

1 1 1 1
0,75 360 0,75 60 0,75 1000 0,75 2
0,5 270 0,5 30 0,5 750 0,5 1,5
180 0 500 1
0,25 90 0,25 -30 0,25 250 0,25 0,5
d (p.u.) 0 o d (p.u.) 0 -60 o d (p.u.) 0 0 R (Ω ) d (p.u.) 0 0 SIR
θ () δ( ) f
FIGURA 11 – Cenário 2 (todas as condições da lógica de operação ativas): ipickup=0,02.ibase, KOV=0,1, SLP=0,3).

1,3 1,3 1,3 1,3


Tempo Atuação (ms)

Tempo Atuação (ms)

Tempo Atuação (ms)

Tempo Atuação (ms)

1,2 1,2 1,2 1,2


1,1 1,1 1,1 1,1
1 1 1 1
0,9 0,9 0,9 0,9
0,8 0,8 0,8 0,8
0,7 0,7 0,7 0,7

1 1 1 1
0,75 360 0,75 60 0,75 1000 0,75 2
0,5 270 0,5 30 0,5 750 0,5 1,5
180 0 500 1
0,25 90 0,25 -30 0,25 250 0,25 0,5
d (p.u.) 0 o d (p.u.) 0 -60 o d (p.u.) 0 0 R (Ω ) d (p.u.) 0 0 SIR
θ () δ( ) f
FIGURA 12 – Cenário 3 (todas as condições da lógica de operação ativas): ipickup=0,05.ibase, KOV=0,1, SLP=0,3).

Em todos os casos para os quais se verificou a operação da TW87, foram constatados tempos de atuação da
ordem de 1 ms. Para curtos-circuitos próximos aos terminais da LT, os tempos de atuação são da ordem de 2τ,
valor este que para a LT modelada é de aproximadamente 1,3 ms. Por outro lado, para faltas próximas ao centro
da LT, os tempos de atuação são menores, podendo ser da ordem de frações de milissegundos. Tal característica
é comprovada analisando as Figuras 10, 11 e 12, visto que os tempos de atuação foram da ordem de 0,7 ms e 1,3
ms para faltas próximas ao centro e às extremidades da LT, respectivamente. Na Tabela 2, apresentam-se os
limites de sensibilidade da TW87 identificados por meio da análise das superfícies.
8

Tabela 2 – Limites de sensibilidade idenficados para a TW87.


Ajuste Variação de θ Variação de δ Variação de Rf SIR (Barra R)
Atuou em todos os Atuou em todos os
1 Atuou em todos os casos Atuou em todos os casos
casos casos
Atuou para
Atuou para todos os casos,
10o < θ < 160o e Atuou em todos os Atuou em todos os
2 exceto para SIR > 1
200o < θ < 350o para qualquer casos casos
quando d > 85%
valor de d
Atuou para 20o ≤ θ ≤ 160o e Atuou para Rf < 700 Atuou para SIR ≤ 1 quando
200o ≤ θ ≤ 340o quando d ≤ 30%, Atuou em todos os Ω quando d ≤ 85% e d ≥ 70%, para SIR ≤ 0,9
3
e para 20o ≤ θ ≤ 170o e 200o ≤ θ casos para Rf < 680 Ω quando 60% < d > 70% e para
≤ 350o quando d > 30% quando d > 85% SIR ≤ 2 quando d ≤ 60%

Do exposto, nota-se que o valor de ipickup é, de fato, decisivo para o desempenho da TW87. Entretanto, com o
ajuste adequado, a TW87 pode apresentar uma boa margem de sensibilidade, sem comprometer a segurança de
suas atuações. Mesmo para o Ajuste 3, a TW87 resultou em atuações rápidas, com boa sensibilidade diante dos
cenários avaliados. Constata-se ainda que, dentre as variáveis consideradas, conforme esperado, a resistência de
falta, o ângulo de incidência e o SIR têm uma maior influência sobre o desempenho da TW87, visto que influenciam
diretamente na amplitude dos transitórios de falta. Por outro lado, a localização da falta e o carregamento do
sistema não demonstraram ser decisivos para a confiabilidade da TW87, exceto da possibilidade de ocasionarem
atrasos adicionais nos tempos de atuação. Além disso, cabe ressaltar que os casos de não-atuação da proteção
estiveram relacionados a curtos-circuitos com características pouco verificadas no contexto de sistemas de
o o
transmissão, para os quais Rf assume valores tipicamente baixos e θ valores próximos a 90 ou 270 [2]. Além
disso, para LTs longas, o SIR também assume valores relativamente baixos [6], o que evidencia ainda mais a
TW87 como uma função promissora no âmbito da proteção de LTs.

5.0 - CONCLUSÕES

Neste trabalho, apresentou-se uma análise de sensibilidade paramétrica da função TW87, a qual consiste na
proteção diferencial de LTs baseada na teoria das ondas viajantes. A referida função de proteção foi inicialmente
descrita e posteriormente avaliada por meio de 2337 simulações no ATP de curtos-circuitos monofásicos, com
diferentes ângulos de incidência, localizações e resistências de falta. Além disso, nas avaliações, o carregamento
do sistema e o SIR do terminal remoto também foram variados, viabilizando a análise da influência de
características da rede elétrica sobre a TW87.

Para realizar as análises propostas, foram empregados três conjuntos de ajustes da TW87. Dos resultados,
conclui-se que, assim como para as demais funções de proteção existentes, os ajustes da TW87 exercem
influência direta nos seus limites de sensibilidade. Para os ajustes que resultam na TW87 mais sensível, a proteção
atuou em todos os casos, mesmo em situações adversas de resistências de falta, carregamento e SIR. Por outro
lado, para os ajustes que resultam na TW87 mais segura, verificou-se uma pequena redução de seus limites de
sensibilidade. Ainda assim, é importante ressaltar que essa redução de sensibilidade não compromete o
desempenho da TW87, a qual, para valores típicos de resistência de falta, SIR, ângulos de incidência e
carregamento, foi capaz de atuar de forma confiável em tempos da ordem de 0,7 ms e 1,3 ms para faltas próximas
ao centro e às extremidades da LT, respectivamente.

6.0 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] SCHWEITZER, E. O.; KASZTENNY, B.; GUZMÁN, A.; SKENDZIC, V.; MYNAM, M., “Speed of line protection -
th
can we break free of phasor limitations?,” 69 Annual Georgia Tech Protective Relaying Conf., Georgia-USA, 2015.
[2] ANDERSON, P. Power System Protection. Piscataway, NJ - USA: IEEE Press Series on Power Engineering,
Wiley Interscience, 1999.
[3] SCHWEITZER, E. O.; KASZTENNY, B.; MYNAM, M. “Performance of Time-Domain Line Protection Elements on
th
Real-World Faults,” 70 Annual Georgia Tech Protective Relaying Conference, Georgia-USA, apr. 2016.
nd
[4] GREENWOOD, A. Electrical Transients in Power Systems. 2 edition, John Wiley & Sons Inc, 1991.
[5] FERRER, H.; SCHWEITZER, E., Modern Solutions for Protection, Control, and Monitoring of Electric Power
Systems. Schweitzer Engineering Laboratories, Inc., 2010.
[6] TOMPSON, M. J.; SOMANI, A., “A Tutorial on Calculating Source Impedance Ratios for Determining Line
Length”, 68th Annual Conference for Protective Relay Engineers, Texas-USA, march/april 2015.
9

7.0 - DADOS BIOGRÁFICOS

Felipe V. Lopes nasceu em Campina Grande-PB, 1985. Recebeu os títulos de B.Sc., M.Sc.
e D.Sc. no domínio da Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG) em 2009, 2011 e 2014, respectivamente. Atualmente é Professor Adjunto no
Departamento de Engenharia Elétrica da Universidade de Brasília (UnB). Tem maior
interesse em transitórios eletromagnéticos, proteção de sistemas elétricos, localização de
faltas e simulações em tempo real.

Kleber M. Silva nasceu em João Pessoa-PB, 1980. Recebeu os títulos de B.Sc., M.Sc. e
D.Sc. no domínio da Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG) em 2004, 2005 e 2009, respectivamente. Em 2007, foi professor Visitante da
Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). De 2008 a 2009 foi professor efetivo do Instituto
Federal da Paraíba (IFPB). Em 2009, esteve em cooperação técnica com o Instituto Federal
de Brasília (IFB). Atualmente é Professor Adjunto no Departamento de Engenharia Elétrica
da Universidade de Brasília (UnB). Tem atuado nas áreas de proteção de sistemas elétricos
de potência e transitórios eletromagnéticos.

Eduardo J. S. Leite Jr. nasceu em Maceió-AL, 1993. . Recebeu o título de B.Sc. de


graduação em engenharia da energia na Universidade de Brasília (UnB) em 2015.
Atualmente, é aluno de mestrado em engenharia elétrica na UnB. Tem interesse em temas
relacionados à proteção de sistemas elétricos e geração de energia elétrica.

Ananda E. Oliveira nasceu em Brasília-DF, 1993, e é aluna de graduação em engenharia


elétrica na Universidade de Brasília (UnB). Atualmente, é aluna de iniciação científica e
participa de pesquisas na área de proteção de sistemas elétricos. Tem interesse em temas
relacionados à proteção de sistemas elétricos e qualidade de energia.

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