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Um Bebe Por Encomenda - Livro Un - Aline Damasceno
Um Bebe Por Encomenda - Livro Un - Aline Damasceno
Capa e Diagramação
Jéssica Macedo
1ª edição
Livro digital
Damasceno, Aline
Selo segredo
Sinopse: 7
Prólogo 9
Capítulo um 18
Capítulo dois 24
Capítulo três 29
Capítulo quatro 38
Capítulo cinco 44
Capítulo seis 50
Capítulo sete 55
Capítulo oito 61
Capítulo nove 69
Capítulo dez 77
Capítulo onze 85
Capítulo doze 92
Capítulo treze 99
Capítulo quatorze 106
Capítulo quinze 112
Capítulo dezesseis 123
Capítulo dezessete 134
Capítulo dezoito 139
Capítulo dezenove 148
Capítulo vinte 157
Capítulo vinte e um 165
Capítulo vinte e dois 175
Capítulo vinte e três 186
Capítulo vinte e quatro 197
Capítulo vinte e cinco 207
Capítulo vinte e seis 213
Capítulo vinte e sete 221
Capítulo vinte e oito 228
Capítulo vinte e nove 233
Capítulo trinta 241
Capítulo trinta e um 246
Capítulo trinta e dois 258
Capítulo trinta e três 268
Capítulo trinta e quatro 276
Capítulo trinta e cinco 281
Capítulo trinta e seis 288
Capítulo trinta e sete 298
Capítulo trinta e oito 304
Capítulo trinta e nove 311
Capítulo quarenta 316
Capítulo quarenta e um 322
Capítulo quarenta e dois 327
Capítulo quarenta e três 332
Epílogo 337
Agradecimentos 341
Sobre a autora: 342
Conheça outros livros da autora: 343
Sinopse:
Embora tivesse mais de oitenta anos, meu avô era uma figura
imponente em seu terno impecável e seu olhar aguçado, que indicava sua
lucidez. O que não conseguia entender era por que ele abriu mão da
presidência para colocar o imprestável do meu pai em seu lugar, que só
pensava em farra e mulheres desde que minha mãe faleceu quando eu era
ainda bem pequeninho. Um grande tolo que se deixava levar pelo desejo e
por impulsos, não pela racionalidade exigida de alguém que queria obter
sucesso.
— Substituí-lo?
— Além de você, ele é o meu único herdeiro, Jeff, e você tem seu
próprio império para gerenciar. — Fez uma pausa. — Quando criei a
Richelme, queria mantê-la sob o controle da família, queria que fosse
passada de geração a geração.
— E se depender de Ronaldo, ela não passará da segunda —
comentei, amargo.
— É, irei.
— Mas voltando ao nosso assunto…
Meu avô tinha uma expressão serena no rosto, contudo o brilho que
ardia em seus olhos me dizia que ele estava tramando algo. Sabia que o que
eu queria viria com um alto preço a se pagar, pois Estebán nunca saía
perdendo em suas negociações e não me entregaria de mão beijada o que eu
queria. Ele não tinha saído da pobreza para se tornar um dos homens mais
ricos e poderosos da indústria alimentícia mineira sendo complacente. Ele
enredava as pessoas na sua teia pela astúcia.
Tive que me controlar para não cuspir o longo gole de whisky que
tinha bebido, e senti o esôfago queimar e meus olhos lacrimejarem ao tragar
o líquido. Comecei a tossir freneticamente, não podendo acreditar naquilo
que acabei de escutar. O homem arqueou a sobrancelha branca enquanto
assistia o meu breve momento de descontrole.
— Quando foi a última vez que saiu com alguém, Jefferson? — Sua
voz soou grave e eu engoli em seco, passando as mãos no meu cabelo curto.
— E é também por ela que eu desejo que você constitua sua própria
família e me dê um herdeiro. Sempre desejamos a sua felicidade, Jefferson.
Ilda me esfolaria vivo se soubesse que eu permiti você se afogar no trabalho
e deixar tudo o que mais importa de lado.
Bufei.
Subitamente mais cansada, fiquei fitando minhas mãos até que ouvi
o barulho da porta da frente batendo com força, recordando-me que tinha
que ter pedido a ele para deixar a chave. Melhor, como amanhã era o meu
dia de folga, chamaria um chaveiro para mudar todas as fechaduras, não
correria o risco de ele entrar no meu apartamento novamente. Eu que tinha
pagado cada uma das prestações até agora, bem como os móveis, então ele
não tinha direito a nada. Levantei-me, sentindo minhas pernas trêmulas, o
acontecido sendo absorvido pela minha mente, e fui até a sala para trancar a
porta, sentindo meu rosto úmido pelas lágrimas que nem sabia que eu havia
derramado.
Limpando meu rosto com o dorso da mão, fui para a minha suíte e
comecei a me despir no corredor sem me importar com nada. Tudo o que eu
precisava nessa noite era de um banho quente demorado, um moletom e
uma boa pizza, acompanhada de uma comédia romântica com final feliz e
minhas barras de chocolate que guardava na geladeira de sobremesa. Era
um jeito estupendo de afogar as mágoas e digerir o fim do meu
relacionamento. Amanhã, bem cedinho, procuraria o consolo na voz da
minha doce mamãe. Embora tivesse a certeza de que ela diria que nunca
tinha gostado desse homem, Rosimeire teria várias palavras para me
consolar e animar.
Capítulo dois
— Sinto muito por isso, querida. Mas fazia tempo que você estava
se queixando de que seu relacionamento estava indo de mal a pior. — Fez
uma breve pausa. — Nunca gostei muito dele, para ser sincera. Algo nele
me cheirava mal.
— Sei que você não ia muito com a cara do João. — Mordi meus
lábios enquanto apoiava meu telefone no ombro. — Pensei que daríamos
certo, embora fôssemos muito diferentes um do outro. Eu tinha algum
carinho por ele, mesmo não estando mais totalmente apaixonada e com os
problemas que tínhamos… — confessei.
— Que canalha, minha filha. Não acredito que ele usou isso como
desculpa — esbravejou. — Agora que não gosto mesmo dele. Onde já se
viu? Isso é jogar muito baixo.
— Pois é, mãe. Mas acho que fui burra, a verdade estava na minha
cara esse tempo todo. Tudo bem que sou nova e ainda nem éramos noivos,
mas já vivíamos juntos e achava que poderíamos começar a planejar um
futuro. Agora penso se não o pressionei demais…
— Ele não era o homem certo para você, filha. Nunca foi.
— Tem razão, mamãe. Por mais difícil que seja reconhecer isso
menos de um dia depois do término. — Funguei.
Sorri. Sabia que minha mãe iria querer me tirar de casa e ver com os
próprios olhos que eu estava bem, mesmo que morássemos em cidades
diferentes. Talvez sair um pouco fosse uma boa ideia, fazia algumas
semanas que não saia com a minha mãe. Conversaríamos muito e, com
certeza, riríamos muito juntas.
— Beijos, filha. Te amo.
— Doido para voltar para casa, não aguento mais ficar preso a essa
cama — resmungou.
— Acredito que amanhã o senhor terá alta — disse suavemente,
ignorando o tom ríspido com que falou. Nós do quadro de saúde, tanto
enfermeiros, técnicos e até mesmo médicos, éramos considerados por parte
da população como ignorantes e arrogantes, e não podia negar que alguns
profissionais abriam margem para esse tipo de comentário, mas alguns
pacientes também eram terrivelmente difíceis, mesmo eu sendo gentil com
eles. Mas eram os ossos do ofício, e eu queria dar o meu melhor sem me
importar com nada além de fazer o meu trabalho.
— Faz logo isso. Esse velho só enche o saco — a mulher dele, que
até então estava calada, respondeu por ele e um bate-boca entre os dois
começou, os decibéis das suas vozes aumentando exponencialmente.
— Obrigada.
— Nada.
— Nem me fale, estou doida para fazer vários nadas. Mas combinei
de levar meu filho no Parque Municipal para andar no brinquedo do
Wallygator. — Fez uma careta, mas depois sorriu. Ela era apaixonada pelo
pequeno de apenas quatro anos e faria tudo por ele.
— Pare com isso já, Sofia. — Apertou meu ombro com força. —
Você é uma mulher linda, gentil e amorosa. Será uma excelente mãe quando
tiver seus filhos, e a prova viva disso é o modo como você se doa quando
interage com as crianças que passam por aqui e no seu trabalho voluntário.
— Fez uma pausa. — João que é um bocó.
— Um pouco.
— Vou lá.
Assenti e observei ela deixar a cozinha pequena, fechando a porta
atrás de si. Soltando um suspiro profundo, peguei a caneca, a lavei, e em
seguida fui para o banheiro.
Júlia estava certa, tinha muitos pacientes para atender ainda, muitos
cortes e ferimentos para limpar e costurar. Deixaria para ruminar o fato de
que João seria pai para quando estivesse em casa, embora soubesse que isso
me assombraria e machucaria por um bom tempo, mesmo não estando mais
apaixonada por ele. Afinal, traição era traição, e pelo jeito ele me traía há
meses.
Capítulo quatro
Tentando não pensar muito mais sobre isso, ajeitei a minha gravata,
que parecia subitamente apertada, e adentrei a sala de reuniões. Embora
estivesse adiantado, todos me esperavam com um semblante severo no rosto
e um silêncio sepulcral tomava o ambiente. Nesse momento tive a certeza
de que, independentemente do que Ronaldo pudesse ter feito, nada se
compararia ao que escutaria hoje. E o que ressaltava ainda mais isso era a
ausência do meu pai. Sem dizer nada, sentei-me no lugar a mim reservado e
os fitei.
— Merda!
— Nada.
— Vovô...
Merda!
— Para te ver feliz? Não, Jefferson. Faz mais de dois meses que
tivemos nossa primeira conversa sobre isso e seu estilo de vida continua o
mesmo. Quanto tempo faz que não tira um dia para si mesmo?
— Sua avó e seu pai, apesar da dor de cabeça que ele me dá, foram
as melhores coisas que aconteceram na minha vida — sorriu. — A mulher
certa, que na minha opinião pode estar mais próxima do que você imagina,
fará você mudar também.
A pequena menina, que mais parecia uma boneca viva com seus
olhos castanhos claros, se tornou uma mulher extremamente sedutora,
mesmo que não tivesse consciência disso. Por mais que eu quisesse ser um
cavalheiro, pelos velhos tempos, toda vez que a encontrava, não conseguia
conter o meu olhar que a percorria da cabeça aos pés, devorando cada
pedaço do seu corpo bem-feito, embora pequeno e frágil. Um fogo varria
toda a minha extensão, coisa que não deveria sentir por ela, me fazendo
sentir culpa por comê-la com os olhos, afinal ela era a doce Sofia, criança
pela qual meu avô e minha falecida avó nutriam carinho como se fosse uma
neta. Sentir-me atraído por aquela mulher me soava como algo
completamente proibido, mas, mesmo assim, só de ouvir sua voz, sentir seu
cheiro e fitá-la, uma sensação estranha me dominava. Mas eu a sufocava.
— Sabe, mãe, sei que ainda estou muito ferida com aquilo que João
fez. Ainda não consigo acreditar que ele será pai com outra mulher.
A Chaveirinho queria ser mãe? Saber isso fez com que algo
revirasse no meu estômago. Senti meu coração se acelerar ao passo que
minha mente fervilhava. Uma luz no fim do túnel estava surgindo para
mim.
— Nunca tinha pensado na possibilidade de ser uma mãe solo, mas
muitas mulheres solteiras têm optado pelo método, pois não precisaria de
um homem para participar no processo de criação.
— Eu te amo, mamãe.
— E eu ainda mais. Sabe, Sofia, se for isso mesmo o que você quer,
eu te apoiarei incondicionalmente. Não será mãe sozinha como eu fui, pois
sempre terá a mim, e farei o que puder para te ajudar a realizar seus sonhos.
Sempre!
— Não sabe o quanto ter você ao meu lado vai ser importante para
mim. — Uma felicidade sem igual transpareceu na voz dela. — Mas em
todo caso, não será agora. Não agirei no calor do momento, magoada pelo
fato do meu ex ser pai com outra. Tenho muitas coisas para ajeitar primeiro
antes que eu possa me tornar mãe. Primeiro, preciso encontrar uma maneira
para conciliar tudo, por mais que minha vontade seja chutar o balde e ter
logo meu bebê. Eu amo tanto crianças!
— É o preço alto que tenho que pagar, como você bem sabe.
— Bonequinha!
— Bobalhão!
Envolvido pelo som e pelos ofegos que ela emitia, sua palma quente
apoiando-se nos meus ombros com medo de cair, por um momento me
pareceu que só existiam apenas nós dois no mundo, o que era algo
completamente absurdo, mesmo assim, não parei, apreciando a
proximidade. Eu não deveria estar tocando aquela mulher assim, ainda mais
que ela encarava tudo como uma brincadeira inocente enquanto eu me
sentia queimar lentamente. Quando foi a última vez que me senti tão vivo?
Ignorei a pergunta e continuei fazendo-a se dobrar, com lágrimas de tanto
rir escapando pelos seus olhos.
— Meu avô vem me dizendo a mesma coisa. — Não sei por que
confessei isso para ela, mas acabei soltando.
— Entendo. — Ela não disse mais nada, apenas bebericou seu café.
Merda! Não quis soar tão arrogante, mas acabei sendo mais rude do
que gostaria com a Chaveirinho, que me olhou com receio enquanto se
encolhia contra o sofá, e eu me odiei por isso. Uma pontada fincou no meu
peito.
Percorri-a com o olhar mesmo que não devesse. Não tinha sido
minha intenção fazer esse último comentário, já que eu não tinha outros
objetivos para com ela, além de ser o pai do filho que Sofia carregaria,
entretanto meu inconsciente e minha boca deram vazão aos anseios do meu
corpo, que mesmo eu me contendo, pareciam eclodir dentro de mim. O
arfar suave que ela emitiu com o meu comentário fez com que um novo
estremecimento me tomasse.
Ao ouvir a conversa com a mãe dela, eu sabia que ela tinha sido
vítima de uma traição, mas não era isso que a minha mente lasciva queria
saber. Algo me dizia que, como eu, Sofia não se entregava pela metade na
cama. Não que me dissesse respeito, mas mesmo assim me peguei
novamente imaginando como seria. Porra, estava começando a me
arrepender de ter achado que conversar hoje com Sofia seria uma boa ideia.
Eu estava mais fodido que imaginava. Mas para minha decepção, ela não
respondeu aquilo que eu desejava.
Ignorei tudo, até mesmo o suor frio que cobriu a minha pele ao
saber que quando ela dissesse sim, parte da minha vida mudaria, mesmo
que eu não quisesse.
— O problema para ele era eu e meu desejo de ser mãe, não o fato
de que ele me traía. — Soltou um bufo nada elegante, colocando alguns fios
de cabelo para trás, exasperada. — E magicamente, duas semanas depois,
descobri que ele vai ser pai.
— Não o sinta, Jeff. — Sua voz ficou um pouco mais suave. — João
apenas me fez ver que eu não preciso dele.
Chegou a hora!
Relaxada por conversar com uma pessoa que não iria me olhar com
pena ou que tomaria minhas dores para si, como, de certa forma, minha mãe
e Júlia faziam, comecei a me abrir com Jeff, me sentindo extremamente
confortável em fazê-lo, até a afirmação arrogante dele ser absorvida
lentamente pela minha mente, fazendo-me arregalar os olhos, incrédula.
Meus ouvidos deveriam estar me pregando uma peça ou eu escutei errado.
Aquele homem poderoso, que mal tinha tempo para si mesmo, não me
proporia uma coisa dessas, não mesmo. Por mais que eu achasse um pouco
triste ele não querer ouvir o avô nesse aspecto e preferir uma vida solitária,
o respeitava. Mesmo que não fôssemos mais tão próximos um do outro, eu
conhecia a sua obstinação e sabia que ele se dedicaria ao extremo para
alcançar aquilo que deseja. E eu admirava isso nele. Sabia que ele iria
alcançar o patamar que queria para a Comer Bem, custe o que custar, mas
ser pai não parecia entrar na equação dele.
Pensar que ele estava brincando com isso, com a minha ânsia, fez
com que, mesmo que não devesse, eu revivesse a zombaria de João, a raiva
sendo substituída pela tristeza. Foi com muito custo que contive as lágrimas
que se assomaram nos meus olhos. Nunca pensei que o homem que sempre
admirei desde pequena pudesse ser tão cruel.
— Eu… — Não sabia o que dizer, minha mente era pura confusão.
— Serei o pai da criança que você irá ter. — Afirmou com tanta
certeza que eu dei um pulinho no sofá, assustada.
— Sim, seria muito gostoso, Sofia — falou com a voz tão carregada
de desejo que não contive minha ânsia, e girando em sua direção, vi que ele
estava de pé, sorrindo de um jeito que faria qualquer uma correr para os
seus braços. Até mesmo eu. Mas não o faria.
— Hm? — Soltei um gemido, mordendo meus lábios logo em
seguida, apenas para provocá-lo, não gostando em nada das sensações
absurdas que me tomavam. Dois poderiam jogar aquele jogo.
Inebriada pelo sabor dele acrescido ao gosto de café que ele tinha
tomado, fechei os olhos, aproveitando cada sensação despertada pelo seu
tato, calor e cheiro, pelo seu corpo poderoso, rígido, excitado, contra o meu.
Nunca imaginei que pudesse ter tanto poder sobre aquele homem
fascinante, gentil e completamente poderoso.
Prova disso foi quando ele passou o braço sobre o meu corpo, me
abraçando, dando em seguida um beijinho no topo da minha cabeça. O
argentino foi a única figura masculina que tive enquanto crescia e eu o
amava, bem como a sua falecida esposa. E seria eternamente grata aos dois
pelo carinho e pela ajuda que me deram para estudar. Os amava como os
avós que nunca tive.
— Sempre venho aqui quando a saudade dela aperta o meu peito,
quando a dor parece insuportável demais para aguentar. — Seu tom saiu
baixinho, sussurrado, revelando toda a sua tristeza pela perda da mulher
amada e o quanto ele sentia a falta dela. — Tudo aqui me lembra Ilda. A
fragrância que emana das rosas me recorda o perfume da sua pele, os botões
desabrochando, seus lábios doces sempre convidativos aos meus, e as
pétalas, a suavidade do toque dela. — Soltou um suspiro. — Apenas nesse
lugar me sinto mais próximo a ela, como se ainda estivesse aqui comigo.
— O fato de João, meu ex, ser pai me afetou mais do que eu poderia
imaginar — confessei.
Tinha ido até a estufa de dona Ilda para pensar e ordenar meus
sentimentos, principalmente a respeito da maternidade, mas a cada passo
que eu dava em direção a casa, mais incerta eu me sentia.
Capítulo onze
— Acabei encontrando essa boneca por lá e fiz ela ouvir meu papo
de gente velha. — Estebán estalou a língua, em um gesto brincalhão,
fazendo-nos rir. — Nem eu suporto as minhas senilidades, às vezes.
— Ele está certo, menina — Estebán disse com uma voz fraca,
cansada, não escondendo o quanto se sentia falho. Se mostrava vulnerável,
seus ombros curvados para baixo. — Eu errei e continuo errando com
Ronaldo, minha filha. Uma insanidade.
Ele se virou e fitou o neto, que, em seu terno meticulosamente
arrumado mesmo depois de um dia inteiro, exalava poder, dinheiro e uma
sensualidade que fazia com que minhas pernas ficassem levemente bambas.
O que estava acontecendo comigo? Controle-se, Sofia, você é uma mulher
madura e conseguiria lidar muito bem com um beijo que nada deveria
significar.
— Não irá jantar conosco, pequena? Gosto de ter vocês dois aqui
comigo. Não vai me dar essa honra?
— Claro, vovô.
Olhei para Jeff. Ele tinha as mãos dentro da calça social, e percebi
que me fitava com intensidade, parecendo satisfeito consigo mesmo, como
se tivesse ganhado uma partida, que nem sabia que estávamos jogando. Ele
sempre foi competitivo e eu não podia negar que, para acompanhá-lo, eu
também o era, mas dessa vez não entraria no seu jogo, pois claramente eu
iria sair perdendo. Cada parte do meu ser iria me trair.
Lançando-me um último olhar de vitória e o percorrendo por todo o
meu corpo, deu as costas e caminhou em direção ao corredor que levava a
sala. Enquanto Estebán me dava o braço e começava a tagarelar o quanto
adorava empanadas recheadas de carne moída e batatas, foi inevitável
pensar o quão difícil iria ser sobreviver a esse jantar, e pior ainda, a viagem
de carro tendo apenas Jefferson Richelme e a iluminação da estrada como
companhia.
Capítulo doze
Ainda!
Fiz que não com a cabeça. Não conseguiria proferir uma mentira
verbalmente a ela, mas poderia dizer uma meia-verdade: — Estou apenas
melancólica com tudo, mamãe.
— Sim.
Fiquei por um bom tempo olhando para ela até não mais poder vê-la
de onde estava e soltei um suspiro. A hora que mais temia, a que estava
querendo evitar, havia chegado: ficar a sós com Jefferson.
— Por quê?
— Pensei que os esportivos importados eram mais a sua cara.
Apesar de vistoso, achava que homens como você teriam aqueles
exclusivos, que poucos podem ter.
Meu último comentário fez com que ele franzisse o cenho e seus
lábios se torcessem em uma careta de desagrado. Dei de ombros e puxei a
maçaneta, deslizando pelo estofado de couro ao entrar no automóvel. O
cheiro amadeirado do perfume de Jefferson que tanto queria evitar
adentraram as minhas narinas, impregnando meus sentidos. Droga!
— Não sabia que você fazia tão mal juízo de mim, Chaveirinho.
Estou decepcionado — disse com voz aveludada ao se aproximar do lado
onde estava e, antes que eu pudesse reagir, fechou a porta com suavidade
em um gesto cavalheiresco.
— É loucura, Jefferson.
— E ainda o é.
— Era meio idiota na época para confessá-lo a você, para não dizer
coisa pior. Algo completamente ridículo.
— Que bom que admite, senhor machão. — Não resisti em provocá-
lo e acabei caindo na gargalhada, fazendo-o rir também. — Torço para que
tenha revisto seus conceitos.
Sei que estava sendo tola, mas torci para que ele tivesse mudado de
ideia sobre tentar me convencer a ser o pai do meu bebê. Depois do
pensamento que tive durante a conversa com Estebán, e também de tudo o
que aconteceu, não sabia se, por impulso, conseguiria dizer não outra vez
para Jefferson.
Tinha prometido a mim mesmo que minha intenção não era tocá-la,
que eu queria apenas convencê-la de que eu era uma melhor opção do que
um doador anônimo, mas tudo saiu do meu controle desde a minha
provocação, e o gemido que ela soltou à minha proposta feita de qualquer
jeito me prendeu na minha própria teia de sedução. E movido pela confusão
e pela recusa dela, a beijei! O meu maior erro, pois nem mesmo o gosto da
comida pareceu mascarar a lembrança do sabor dela. A suavidade da sua
língua enroscada na minha e a fragrância suave dos seus cabelos pareciam,
mesmo depois de algumas horas terem se passado, impregnado em mim.
Porém era a recordação do corpo pequeno e delicado, moldando-se ao meu
enquanto a prensava contra a porta, que me deixava completamente fodido.
Não iria discutir com ela. Sabia o quanto Sofia tendia a ser cabeça
dura sobre alguns assuntos, ainda mais aqueles sobre pessoas que se
encontravam em situação vulnerável. Ela era extremamente generosa,
empática e defensora dos próximos, o que fazia eu admirar ainda mais a
mulher que ela tinha se tornado, pois eu era completamente o seu oposto.
Podia fazer doações regulares, mas, diferente da Chaveirinho, que fazia
trabalho voluntário nos finais de semana, eu não me envolvia diretamente.
Porra, não era aquela despedida muxoxa e fria que eu gostaria de ter.
Então, antes que ela abrisse a porta e saísse correndo, desafivelei meu cinto
e segurei seu braço nu, sentindo os pelinhos dela se arrepiando ao meu
toque. Ótimo. Ela estava fugindo novamente por não ser imune a mim, mas
o contrário era recíproco. Sentia meu corpo todo reagindo a ela, com meu
pênis ficando excitado e minha mente perdendo a capacidade de raciocínio.
Trilhando os meus dedos pela sua pele, fui caminhando até a sua
nuca e a segurei com firmeza, sem me importar com alguns fios que
ficaram presos no meu agarre, puxando-a mais para mim. Aprofundando o
contato, invadi sua boca quando ela emitiu um suspiro, encontrando a sua
língua convidativa, matando a minha fome pelo seu sabor. E, porra, aquela
mulher era completamente deliciosa, o gosto dela não conseguia ser
mascarado pelo café, e era viciante. Quanto mais a provava, mais eu queria.
Como eu poderia ter achado em algum momento que beijá-la seria pecado,
já que parecia estar num paraíso? Nunca uma boca pareceu ter o encaixe
perfeito para a minha. Crime é não ter feito isso antes, tomando-a para mim.
— Hhmph. — Resmunguei.
Porra, a última coisa que queria agora era conversar com esse
merda. Não conseguia esquecer que era por culpa dele e pelas bostas que
fazia que eu estava naquele beco sem saída, a urgência que sentia em dar o
maldito herdeiro à Estebán para removê-lo do cargo. Ele ter me ligado foi o
maior erro. Nunca o perdoaria por não ter pensado nos nossos
colaboradores ao tentar vender a Richelme Alimentos. Meu avô poderia
ignorar o fato, mas eu não era tão bonzinho.
— Não foi por isso que você me ligou a essa hora, não é mesmo?
Diga logo o que quer. — Estava pouco me importando por ter soado grosso
e arrogante, um grande foda-se para ele.
— Ah, não? Você acha que não sei que você está sondando
propostas para a venda da Richelme? E ainda por cima, por preço de
banana? Você me enoja, Ronaldo. — Ri com desdém. Ouvi um estrondo e
as mulheres darem um gritinho ao fundo. Provavelmente ele tinha socado
alguma coisa, ou jogado algo na parede. Ridículo.
— Claro que importa. Só pode ter sido o jurídico. Vão me pagar por
isso.
— Não fará nada. Nenhum funcionário tem nada a ver com isso —
menti, sentindo a raiva latejando nas minhas veias, mas adotei uma postura
fria. — Essas informações correm rápido no mundo corporativo. Você não
imagina a minha surpresa quando me contaram sobre a venda.
— Bastardo!
— Não, meu caro. — Tive que me conter para não despejar toda a
minha fúria nele, não ia dar esse gostinho a ele de saber que estava me
levando ao meu limite com tudo aquilo. De mim ele só teria minha frieza.
— Não permitirei que você deixe Estebán e a Richelme na merda.
— Não há nada que você possa fazer. — Riu, como se tivesse saído
vitorioso de tudo.
— Veremos.
Não contaria a ele sobre a proposta do meu avô, não daria arma para
o inimigo. Além disso, nesse momento, tudo era incerto. Junto com a dor
pulsante, veio a ânsia de resolver meu problema o mais rápido possível.
Algo dentro de mim me dizia que o meu tempo estava se esgotando.
Contrariando meus pensamentos de mais cedo, decidi que eu tinha que
apelar para o lado romântico e maternal de Sofia para alcançar meus
objetivos. E logo.
— Você pode me dar água, por favor? — A voz dele soou rouca e
eu, por sentir compaixão devido seu estado, peguei uma garrafinha de água
que tinha trazido para ele. Provavelmente estava quente, mas não tive
tempo de trocá-la no bebedouro.
— Será que está bem o suficiente para ficar em pé por uns instantes
para te colocar em uma cadeira de rodas? — As lesões eram superficiais.
Graças a Deus, não tinha sido em nenhum órgão, mas uma perfuração
passou próxima ao baço. Acreditava que, embora sentisse dor, ele
sobreviveria a um banho. — Que tal se lavar um pouco?
— Faz meses que meu corpo não vê água. Seria ótimo.
— Certo. Obrigado.
***
— Ainda nem acredito que você deu banho nele — a mulher loira e
alta fez uma careta de desdém —, eu tinha asco só de ficar perto dele, com
aquele cheiro horrível e o cabelo nojento de tão embolado.
Fazia alguns minutos que eu tinha ajudado o paciente. Fui auxiliada
por um técnico de enfermagem, que era mais humano que a maioria dos
meus colegas, e tinha em seguida ido direto para a cozinha pequena para
tomar meu precioso café. Mas tudo que eu não queria era encontrar uma das
funcionárias mais cruéis, ignorantes e preconceituosas que já vi na vida.
Trinquei os dentes furiosa, controlando a minha vontade de soltar uma série
de impropérios.
— Hmph. Não sou bem paga para limpar bunda desses tipinhos —
comentou e gargalhou.
Embora a fome que você despertou em mim torce para que seja o
tradicional. Estou louco para ouvir seus gemidos em outras circunstâncias
que não sejam apenas em meio ao beijo. Isso me atormenta.
Estava tão imersa no cheiro e nas rosas, que nem percebi a porta se
abrindo, sendo tirada do meu torpor quando a voz de Júlia ecoou no
cômodo.
— Uau! Que flores mais lindas, Sofia. Acho que nunca recebi umas
tão belas. — Soltou um suspiro romântico. — E pelo rosado das suas
bochechas, algo que nunca tinha visto antes, não são do seu ex. — Fez uma
pausa. — E pelo sorriso bobo no rosto também.
— Hm… — Continuei sorrindo e ouvi o barulho da sapatilha dela
contra o piso. — Não, não são. Felizmente.
— São de Jefferson…
— Sei…
Deu um sorriso malicioso para mim, mesmo que eu não tivesse dito
nada a ela sobre o beijo. Ainda não tive coragem de contar para minha mãe,
ela não tinha me pressionado para saber o que houve, então não o faria
primeiro para Júlia. A deixaria com as suas insinuações.
— E muito menos que fez o meu dia melhor, ainda mais depois de
passar raiva — continuei.
— Como você sabia que eu estaria aqui e que meu turno terminaria
agora? — Suprimi a onda de prazer que senti ao pensar que a ânsia dele por
mim era tamanha ao ponto de ele cruzar Belo Horizonte inteira só para isso.
Uma risada brotou da minha garganta quando percebi que ele tinha
razão ao fazer tal comentário. Éramos uma atração e tanto para quem estava
na recepção sem ter o que fazer: o homem impecavelmente vestido em um
terno luxuoso e uma mulher chorona com um buquê amassado.
Não precisava dizer nada, pois sabia que era verdade. Me lembrava
bem de que quando era menor e caia em lágrimas na frente dele, Jefferson
costumava entrar em desespero, correndo para minha mãe em busca de
ajuda. De fato, ele odiava me ver chorando.
Com ele me direcionando, pois não fazia sentido negar uma carona
já que ele estava ali, demos a volta, e começamos a caminhar em direção ao
estacionamento que ficava atrás do prédio, não demorando muito para que
chegássemos na sua picape. Era pouco mais de oito da noite, e a lua
brilhava alta no céu. Já que algumas lâmpadas dos postes estavam
queimadas, era possível vê-la melhor. Mas a brisa fresca que trazia o
perfume dele para mim, junto às rosas, era um bálsamo muito melhor.
— Diziam que com o tempo ficaria mais fácil, mas para mim nunca
vai ser — minha voz saiu mais rouca e trêmula do que deveria —, ela era
tão jovem, tinha tanta vida pela frente. E um doente tirou isso dela.
Jeff não disse nada, apenas levou minha mão aos lábios, plantando
um beijo no dorso quando paramos em um sinal. Ele sabia que nunca
apreciei palavras vazias, como que isso aconteceu porque foi traçado, ou
qualquer outra coisa do tipo. Tinha gente que encontrava consolo nelas, mas
não eu.
— Posso te entender.
O modo com que ele disse aquela pergunta fez com que um desejo
se formasse no meu baixo-ventre, que foi difícil de ignorar, ainda mais
quando ele pousou a mão na minha coxa e a apertou. Eu deveria detê-lo,
mas tudo o que fiz foi sentir a boca seca e conter um gemido que brotou em
meus lábios. Quando seus dedos começaram a brincar com a região, se
aproximando cada vez mais da minha feminilidade, eu perdi a noção de
espaço e tempo, imersa no toque sutil dele. Nem mesmo me dei conta de
quando o carro parou, sendo apenas tirada do transe que me encontrava
quando Jeff se dirigiu a mim, com a voz rouca e repleta de excitação.
— Chegamos, Sofia…
— O desejo que sentimos um pelo outro não trará nada de bom para
nós. Se acabarmos na cama, o que tínhamos se perderá.
— Não menti quando disse que queria apenas zelar por você essa
noite — falava com a voz entrecortada. — Eu te quero muito, Chaveirinho
— pegou a minha mão, pousando-a sobre a sua ereção, que me revelava o
quanto Jeff me desejava, e um fogo me consumiu ao saber que eu era a
causadora da sua excitação, uma espécie de poder que nem sabia que
poderia exercer em alguém como ele.
— Hm…
— Mas quero que tenha certeza que me quer, do mesmo modo que
eu, porque não tenho nenhuma dúvida do quanto quero devorar você e levá-
la ao ápice — tocou os meus lábios com a outra mão, massageando-os,
enquanto a direita mantinha a minha presa em cima do seu pênis excitado
—, sem arrependimentos…
— Eu…
Me soltou abruptamente e eu gemi em protesto. A sensação de perda
parecia maior que o meu bom-senso e autocontrole. Tinha que admirá-lo e
muito por ter forças para me afastar, poupando-me de fazer algo que
pudesse estragar a nossa convivência.
A decoração era o que esperava pelo que conhecia dela. Tinha cores
vibrantes por toda a parte, como vermelho, amarelo e laranja, em meio ao
creme das paredes e de alguns móveis. Tão instigante quanto a bela loira.
Por um momento, imaginei o que ela acharia da minha casa
monocromática, e um sorriso brincou em meus lábios ao pensar nos pitacos
de design que ela daria. Mal sabia Sofia que a única coisa que gostaria de
ter contrastando em minha vida eram seus cabelos loiros, sua pele delicada
e seus lábios rosados, úmidos pelos meus beijos, contra os lençóis preto e
branco que cobriam a minha cama. A imagem foi o suficiente para
despertar novamente a ereção, que com muito custo contive depois da
Chaveirinho tomar a iniciativa no beijo.
Merda!
— Perfeito!
Quando ela fez uma careta e colocou as mãos nos quadris, em uma
pose que fazia quando era contrariada quando menina, joguei a minha
cabeça para trás e comecei a rir alto, tão descontrolado que senti lágrimas
surgirem em meus olhos e fincadas na barriga. Era melhor gargalhar do que,
dando vazão à minha ânsia, levantar-me e beijar aqueles lábios que faziam
um biquinho extremamente charmoso.
Me virou em seus braços apenas para me fitar, e sua voz era repleta
de tristeza.
— Sim?
— Não sei se é uma boa ideia, Jeff. — Torci minhas mãos, nervosa.
— Eu nunca entrei nesse mundo e não sei se saberia me comportar como é
exigido.
— Que bom que você sabe disso e que tem consciência do seu
péssimo gosto para moda. Nem imaginaria o desastre que seria você me
comprando um traje. — Ri.
— Com certeza seria fácil de tirar. Mas a verdade é que prefiro você
nua!
— Hmph.
Como uma pessoa que voltou há poucos dias a fazer parte da minha
vida, embora uma parte de mim reconhecia que ele sempre estivera ali,
mesmo distante, tinha conseguido se infiltrar tanto em mim, ao ponto de me
questionar por que estava relutando tanto em aceitar o que ele oferecia:
prazer e o bebê que tanto sonhei?
Como hoje era meu dia de folga, já que consegui trocar com uma
colega meu plantão para poder ir a festa com Jefferson mais tarde, tinha
convidado a minha mãe para fazermos unhas em um salão que há muito
tempo frequentávamos juntas. Ela adorava esse momento mãe e filha e não
podia negar que eu também, ainda mais quando Rosimeire pirava ao
escolher o novo tom de vermelho com que iria pintar as unhas. Me divertia
à beça. Mas não hoje, quando não tive coragem de contar a ela os giros da
minha vida.
— Jura?
— Sim, vou sair com ele amanhã. Vamos almoçar juntos e passear
no shopping depois.
— Bem…
— Hm…
— Você já parou para refletir que está fazendo mal juízo dele? —
Me fitou com seriedade e eu engoli em seco. — Acha mesmo que Jefferson
seria igual ao pai dele? Ronaldo deu mais atenção para as mulheres do que
para o próprio filho. Ao fazer essa proposta, filha, duvido que ele estivesse
sendo desajuizado igual ao pai. Conhecendo aquele menino como conheço,
ele não o fez levianamente.
— Nem sei bem o que falar, Sofia. Você bem sabe que nunca fui
parâmetro em relação aos homens e acho que nunca serei. Poderia dizer
aquele clichê de que ele é um homem rico e que vai quebrar o seu coração,
que só quer te usar e jogar fora, mas isso nada tem a ver com bolso, mas
com caráter. Sou a prova viva disso.
— É a mais pura verdade, Sofia. Mesmo que ele passe mais tempo
fora e em orgias, nunca conheci homem mais arrogante, grosseiro e
preconceituoso na vida. Por ele, Jefferson e você nunca teriam tido tanto
contato na infância. Ele via com maus olhos.
Ela estava certa, eu não tinha poder para prever o que aconteceria e
qual seria o rumo dos meus sentimentos, então o melhor que eu poderia
fazer por mim mesma era pegar aquilo que ele estava me oferecendo.
Realmente, conversar com a minha mãe provou ser a melhor coisa que eu
podia fazer. Além de não sentir mais os meus ombros pesados por esconder
algo dela, Rosi me fez ver muitas coisas sobre outra perspectiva. Mas o que
de fato fez com que eu tomasse minha decisão definitiva, a de me entregar
ao desejo avassalador que eu sentia por Jeff, era ele ter jogado limpo
comigo sobre tudo.
— Então quer dizer que você pretende “ficar” com esse tal de Joel,
dona safadinha? — perguntei, e comi mais um pedaço da broa.
Mas você estaria ligado a ela para sempre pelo bebê, sussurrou o
meu lado perverso. Que tal manter aquela gostosa na sua cama por toda
vida? Você gosta dela, não é mesmo? Junte o útil ao agradável.
Queria muito deslizar minha boca pela extensão do seu pescoço alvo
até chegar ao colo, deixando uma trilha de beijos e mordidas, degustando
do sabor da sua pele, mas minha barba acabaria arranhando-a, e não podia
levá-la ao evento cheia de marcas avermelhadas. Ela me mataria primeiro.
Droga, definitivamente não queria ter que comparecer àquele
compromisso.
— Jeff…
— Ainda não.
— Linda, boneca, mas você nem precisava deles para ser deliciosa.
— Sussurrei essa última palavra em seu ouvido, e pude perceber os
pelinhos dela se arrepiarem. — Serei o homem mais invejado, com certeza.
Era estranho pensar que apenas sua voz baixinha era capaz de
despertar tamanho desejo em mim, deixando-me completamente à sua
mercê. Mas não podia negar que a ânsia se potencializava pelo olhar de
fome que ele me lançava e os pequenos toques que dava em mim. Mas
tentei me concentrar na sua pergunta.
— Bom, mal chegamos e já estamos na pista de dança. Você nem
falou com ninguém direito — acariciei seus ombros com uma mão,
enquanto nos movíamos lentamente e tentava segurar a bolsa com a outra
—, precisa de mais foco nos negócios.
— Não vejo o porquê disso. Sabe que não consigo deixar de tocá-la.
— A voz rouca era pura sensualidade.
— As pessoas…
— Tenho certeza que vai dar tudo certo — tentei passar confiança
—, você faz um trabalho sério na Comer Bem e todos sabem disso. Eu
estou com você.
— Obrigada, Sofia. — Falou com a voz aveludada e assim que
paramos em frente aos nossos lugares, ele virou-se para os dois, com um
gesto educado.
Estava tão absorta, que nem mesmo notei que outro casal tinha se
juntado a nós à mesa até o homem se alardear, e descobrisse que era alguém
bastante conhecido.
— Oh! Vejo que trouxe a filhinha da empregada com você — ele era
puro desdém.
— Ah, Jeff, ela pode ser gostosinha, mas nunca foi do nosso calibre.
— Deu de ombros. — Você deveria parar de ficar de casinho com essa ralé.
— Destilou seu veneno, fazendo a outra rir ainda mais.
— Nunca vi com bons olhos você ficar andando para cima e para
baixo com essa fedelha. É vergonhoso para todos nós Richelmes.
— Vá, Ronaldo, mas saiba que não deixarei barato você falar assim
da Sofia — Jefferson disse entre dentes, mesmo que eu tivesse falado que
não me importava.
— Mas, eu…
— Me leve para sua cama, para o seu sofá, para onde você quiser,
Jeff — murmurei em um tom de voz ainda mais rouco —, por favor. Aqui é
público demais até para beijos.
— Nunca senti isso com tanta intensidade, com tanta força. Deus,
Chaveirinho, você é a minha perdição — completou.
— Jeff…
Assim que entrei na casa dele, mal tive tempo de processar o que eu
via, pois Jefferson, depois de trancar a porta, virou-me e me prensou contra
ela, beijando-me com uma intensidade, fome e desejo que roubou o meu ar.
Arfando, mole e entregue, ele aproveitou o entreabrir dos meus lábios e
adentrou com a língua na minha cavidade, provando cada recanto,
degustando-me, aumentando e diminuindo o ritmo que me tomava. Suas
mãos deslizaram pela lateral dos meus seios até encontrar minha cintura, e
seu sexo excitado pressionando contra o meu me deixava completamente
sedenta. Não conseguia me recordar se já tinha experimentado tamanha
pegada. Provavelmente não.
— Ah, Sofia, você é muito gostosa — disse com rouquidão, tocando
a minha bochecha com os lábios — Suave, cheirosa, responsiva e minha. E
eu me entrego completamente a você, amor.
Sem me dar tempo de reagir, levou uma mão à minha cintura e outra
às minhas costas, e pegou-me no colo. Eu aproveitei para alisar seus
ombros, sentindo todos seus músculos reagindo ao meu contato. Tudo nele
era tensão e eu sorri contra ele, me sentindo vitoriosa. Era eu a razão da sua
excitação.
— Hm…
— Abra os olhos.
Mas foi somente quando ele mordiscou meu clitóris várias vezes,
puxando-o entre seus lábios, me fitando ao mesmo tempo, que me deixei
levar pela onda do orgasmo, gemendo o nome dele com a minha voz
trêmula e rouca enquanto ele continuava a me estimular, incansável. Deu-se
por satisfeito quando meu corpo parou de convulsionar e se ergueu,
parecendo completamente exultante. Com um sorriso nos lábios, que era
pura lascívia e luxúria, removeu a calça e a cueca, ficando completamente
nu. Lânguida, devorei-o com os olhos fazendo seu sorriso ficar ainda maior,
principalmente quando eu mordi meus lábios, o desejo se apoderando de
mim. Uma vontade imensa de tomá-lo em meus lábios me corria por dentro.
— Agora não, Chaveirinho — sabendo que era observado, envolveu
seu pênis rígido com a mão e deslizou os dedos para cima e para baixo,
masturbando-se —, não aguentarei por muito tempo.
— Hm…
— Hmmm…
Cravei minhas unhas curtas nele quando senti ele enterrar-se mais
fundo em mim. Meus seios roçando contra seu peitoral era muito, mas
muito bom, e eu me deixei levar pela sensação deliciosa de ficar assim com
ele, em um abraço íntimo. Jefferson parecia preencher várias coisas em
mim.
O ritmo com que ele me estocava era cada vez mais rápido, em
compasso com sua respiração acelerada e gemidos cada vez mais altos que
me denunciavam que ele estava próximo do orgasmo, o que aumentou o
meu próprio prazer. Movimentando-nos em uníssono, fundindo-nos cada
vez mais em um só, beijei novamente seus lábios, querendo tudo que ele
poderia me dar. Ele me amava com o corpo, com a boca, com o tato, com os
olhos, e saber disso fez com que algo explodisse dentro de mim, ao mesmo
tempo que com uma última penetração, Jeff se deixou levar pelo seu
próprio prazer. Abraçou-me com força, enquanto sentia seu líquido sendo
jorrado para dentro de mim.
E, mais ainda, pela chance de ser mãe que ele estava me dando.
Capítulo vinte e três
Estebán estava certo. Por mais que eu não quisesse dar o braço a
torcer, nossas prioridades e perspectivas quando encontrávamos alguém a
quem amar realmente mudavam. A risada, o som da voz, os toques, os
beijos, o calor de pele contra pele e principalmente ficar assim, abraçados
em um silêncio confortável, íntimo, cúmplice, era muito bom, mais do que
poderia imaginar. E eu queria mais.
Poderia ter me sentido ultrajado com o seu pedido, magoado por ela
pensar que eu seria como Ronaldo, um homem frio e distante. Mas eu
conhecia na pele a dor de sentir-me rejeitado pelo pai, sabia da tristeza dela
por não conhecer seu progenitor, e a mágoa que Chaveirinho tinha do
homem que dizia amá-la, mas que apenas a traiu, zombando do seu sonho e
acabando engravidando outra. E também não era ingênuo; tinha ciência
que muitos falavam que queriam um filho, e, na hora h, os abandonavam,
pagavam uma mixuruca de pensão e, principalmente, tornavam-se ausentes.
Então, não tinha por que tomar sua insegurança como um ataque pessoal.
Como para selar minha promessa, apertei-a ainda mais nos meus
braços e a beijei com todo o sentimento que eu tinha para dar. Numa
entrega, nossas bocas moviam-se ansiosas, mas não era carnal. Era
simplesmente completude.
— Preciso me limpar, Jeff — pareceu envergonhada depois de
interrompermos o beijo e se levantou do meu colo, mesmo que tivesse
tentado fazê-la ficar por mais um tempo —, e fazer xixi também. Onde fica
o banheiro?
— Não sabia que você tinha uma predileção por marrom, Grandão
— comentou ao parar na minha frente e envolver o meu pescoço, seu corpo
pequeno e nu uma visão muito mais gloriosa do que a paisagem. Tinha
removido o brinco de diamantes, mas ela não precisava dele para ser a
mulher mais bela que tinha visto. Minha mulher. — Eu gosto muito, para
ser sincera.
— Hm… Vou ter que usar todo o meu arsenal para tentar convencê-
la a passar sua folga aqui. Ou, que você me convide para a sua.
Soltei o aperto dos fios quando ela respondeu com volúpia e, como
uma gata selvagem, aferrou-se ainda mais a mim, suas unhas curtas
cravando-se em meus ombros e minhas costas, me arranhando por onde
passava, até encontrar a minha lombar, trazendo-me ainda mais contra o seu
corpo. Joguei todo o meu peso em cima dela, pedindo que nos fundíssemos
mais uma vez. Esse seu lado primitivo, devasso, ao mesmo tempo que tudo
nela me parecia angelical, despertou o mesmo em mim, e seu olhar fixo nos
meus me dava o seu consentimento.
Mas quando suguei sua língua e ela me arranhou, joguei no lixo toda
minha determinação de proporcionar algum prazer para Sofia antes.
Precisava tê-la. Tentaria recompensá-la em meio a penetração ou depois,
mesmo que a expressão dela de enlevo me dissesse que ela estava bastante
receptiva a mim. Passei meu braço entre seu corpo e o colchão, trouxe-a
ainda mais para mim, e parecendo compreender o que eu queria, segurou-se
em meus ombros e abriu as pernas, envolvendo minha cintura em um
convite silencioso para que a tomasse. Isso foi minha completa ruína.
— Hm…
Ela não disse mais nada e se aconchegou mais a mim, usando o meu
braço como seu travesseiro. Exausta, não demorou muito tempo para que
ela caísse no sono e começasse a ressonar. Induzido pelo calor, pelo
conforto que ela me proporcionava, e pela visão completamente relaxada
dela, poucos minutos depois também me rendi ao sono. Tinha, sem dúvidas,
encontrado o meu lugar.
Capítulo vinte e quatro
Era para falar sobre esse assunto que a equipe responsável pelo
gerenciamento da produção tinha agendado comigo uma reunião antes do
almoço, mas não tinha cem por cento da minha atenção. Sofia vez ou outra
roubava meus pensamentos, e a vontade de mandar uma mensagem
perguntando como ela estava me corroía. Mas sabia que, àquela hora, ela
deveria estar dormindo após doze horas trabalhadas e pelo fato de ter
dormido muito pouco no dia anterior.
Assenti em concordância.
Com meus dedos trêmulos, peguei meu telefone e vi que era ele
mesmo. A dorzinha se intensificando em meu peito fez com que eu não
hesitasse em atender.
— Vovô?
— Ah, menino, que bom que me atendeu — a voz dele do outro
lado parecia bastante animada e eu franzi o cenho apenas para suspirar
aliviado. Não parecia haver nada de errado com a sua voz. — Estava
ansioso para falar com você.
Poderia ter perdido a minha paciência com Estebán por aquilo, mas
ele tinha suas manias, como todo mundo, e saber que vovô estava bem era o
que me interessava.
— Estou bem, filho. — Fez uma pausa. — Mas está na hora de você
se preocupar com outra coisa que não seja esse velho, como em construir
uma família com uma mulher doce e gentil — falou em um tom quase que
conspiratório, mas havia um fundinho de ordem, o que me fez sorrir.
— E você não poderia ter escolhido uma mulher melhor, meu filho.
Senti um arrepio percorrer meu corpo quando ele disse aquilo. Não
tinha dito nada sobre mulher alguma para ele, muito menos tive tempo de
falar que eu e Sofia…
— Ronaldo esteve aqui hoje falando que você a levou em uma festa,
o que para ele foi uma grande surpresa, já que não costuma ir acompanhado
de ninguém — repreendeu-me suavemente.
Bufei quando ele falou o nome do meu progenitor e senti a raiva
queimar nas minhas veias ao recordar-me do insulto proferido por Ronaldo
a Sofia. Não pude fazer nada além de vê-lo dando seu showzinho ao dizer
que não se mistura com gente que não tem tanto dinheiro como a gente, de
que eu estava vergonhando o nome Richelme, sendo que era ele que vivia
na esbórnia e envolvido em tantos escândalos, que não conseguia contar. O
pior de tudo foi imaginá-lo contando isso ao meu avô como se tivesse sido
um encontro casual e amistoso, omitindo a sua falta de caráter. Ele era uma
cobra cínica filho da mãe, e ainda me pagaria por aquilo.
Merda!
— Deveria ter agido com mais discrição, meu filho. Sei que o fogo a
gente não controla e você costuma ser um ermitão, mas quase fazer sexo
com ela em local público? — repreendeu-me.
— O quê?
Estava ultrajado e não era pelo fato do meu avô, de mais de oitenta
anos, estar comentando sobre sexo comigo. Tudo bem que não era o melhor
assunto do mundo para se conversar com ele, mas de vez em quando
falávamos algo do tipo. O que realmente me irritava era terem distorcido
um mero beijo e transformado em algo que beirava ao atentado ao pudor.
— Entendo…
— Sim?
— O quê?
— Nunca machuque Sofia, ou deixe que a mídia o faça. Confio em
você para isso, meu filho.
— Não o farei.
— Filha, que bom que atendeu! Tive que me segurar a tarde inteira
para não te ligar. — O tom agitado de Rosimeire soou do outro lado da
linha e eu abri os olhos, sentando-me no colchão, em alerta, o sono
evaporando-se instantaneamente.
— Merda!
Soltei um suspiro em resignação. Tinha participado ativamente do
beijo, até mesmo ido um pouco adiante disso, e não tinha sentido eximir-me
da culpa. Além de que, foi algo que eu queria muito e não conseguia me
arrepender de o ter feito. A única coisa que eu poderia acusar os tabloides
era de terem aumentado e muito a situação, mas era o trabalho deles vender
notícias e fofocas. Lidaria com as consequências dos meus atos.
— Nem me fale. Mas não deixei que ele estragasse o resto da minha
noite, que se provou maravilhosa. Jefferson foi tão carinhoso, intenso, e me
passou uma segurança que nunca senti nos braços de outro homem. — Fiz
uma pausa.
— Huuuum…
— Sinto calor só de pensar! — comentei, a fazendo rir,
compartilhando minha felicidade com ela. — Estou louca para repetir a
dose, de sentir tudo outra vez. A conexão que temos um com outro, as
conversas, o olhar, tornou tudo mais fantástico. Sinto que foi muito além de
sexo, de uma coisa mecânica que envolve apenas satisfação.
Pude imaginar ela fazendo uma careta. Minha mãe não era o tipo de
mulher que apreciava ficar no escuro das coisas, tinha sido magoada demais
na vida para tal.
— Tentarei, minha filha, mas sabe que não é fácil. — Fez uma
pausa. — Ai meu Deus, meu bolo no forno!
Segurando meus fios com mais força, fez com que eu inclinasse um
pouco a cabeça, procurando o melhor encaixe, mordiscando meus lábios e
aprofundando o contato, lenta e deliciosamente. Sua língua hábil envolta
em uma dança vagarosa e sensual com a minha arrancavam gemidos da
minha garganta. Jefferson era puro fogo, seu corpo estava completamente
rígido de tensão misturada a excitação. Desejava transformá-la somente em
luxúria. Estava embriagada por aquele homem, mas então recordei-me que
estava completamente atrasada.
Com a outra mão, para revidar nesse nosso jogo delicioso, deu um
tapa na minha nádega antes de apertá-la, mas sem me machucar, e eu
rebolei contra sua palma.
— É.
Embora meu nome ainda não tenha sido descoberto e nem quem eu
era, minha mãe e Júlia faziam questão de me deixar a par disso. Ao que
parecia, mais fotos minhas com Jefferson, como no dia em que passeamos
na Lagoa, foram divulgadas, e as pessoas me paravam para perguntar.
Faziam perguntas até mesmo indiscretas, sondando nossa vida pessoal: se
estávamos juntos ou era apenas um caso; como era fazer sexo com um
homem tão rico; se me dava presentes caros; e como era ser mais uma na
vida dele, as quais respondia com evasivas, sem deixar de ser educada, não
dando muita margem para prosseguirem me interrogando. As pessoas
tinham curiosidade, e tratá-las mal por quererem saber mais seria ridículo e
grosseiro, por mais que o teor das perguntas não fosse dos melhores. Tinha
falado para Jeff que saberia lidar com a situação e o "assédio", então estava
fazendo o meu melhor.
— Eu…
***
— Não que seja da sua conta isso, Patrícia, embora com certeza
tenha dedo seu. — Não caí na sua provocação, não desceria ao nível baixo
dela. — O que você ganha com isso, não tenho ideia.
Sob o olhar raivoso da loira pela minha audácia, passei por ela,
peguei o elevador e fui encarar a suposta confusão que Patrícia tinha dito
que estava lá embaixo, encontrando nada além de um colunista e o diretor
do hospital com cara de poucos amigos, para quem expliquei a situação sem
levar bronca, porque não havia razão para tal.
Ouvi ele gemer baixinho e sua respiração ficar pesada do outro lado
da linha, o que fez com que meu feitiço se voltasse completamente contra
mim.
— Meu Deus, Chaveirinho! — A voz dele saiu tremida, mas não era
por medo, mas sim de emoção, e escutei o barulho dele se levantando e se
movimentando pela sala, a respiração dele completamente descompassada,
como se ele estivesse perdido no que fazer.
— Sei que você disse que ia ter algumas reuniões importantes hoje,
mas não consigo esperar para confirmar se estou grávida de fato. —
Comecei a me justificar, sentindo certo mal-estar por saber que o
atrapalharia e desviaria o foco dele dos negócios. — Sei o quão egoísta é
pedir para você adiar esses compromissos, mas preciso tanto saber, eu…
— Cancele tudo que tenho para hoje e amanhã, Marcos — escutei
ele falar com o secretário.
— Mas, senhor...
— Remarque-as para outro dia — foi firme, para depois voltar sua
atenção para mim, a voz doce, gentil e empolgada: — Pai amado, Sofia,
elas não me importam nenhum pouco perante a chance de você estar
grávida. E estou tremendo de ansiedade por sabê-lo. Vou pegar um táxi, e
já, já estou aí. — Fez silêncio por alguns segundos, apenas para exclamar
alto, sem se preocupar por estar gritando: — Porra, eu amo a ideia de me
tornar pai!
Não havia nada que eu desejasse mais do que ser pai juntamente
com aquela mulher incrível e fazer planos com ela, que incluía, certamente,
morarmos juntos como um casal enquanto pensávamos cada detalhe do
quarto do bebê e do enxoval. Eu não conseguia mais me ver sem ter a
minha melhor amiga, a minha confidente, amante e namorada ao meu lado.
A saudade que sentia dela todas as vezes que deixava o trabalho e não ia
direto para os seus braços era indicativo do quanto eu precisava dela. Então
não conseguia pensar em nada melhor do que morarmos juntos.
Compraríamos uma casa ou apartamento que ficasse próximo ao trabalho
dela e… Não, não faria planos sozinho, isso era completamente egoísta, e
Chaveirinho não gostaria nada que eu me impusesse à ela. Fitando-a
novamente, vi que ficava mais tensa à medida que o tempo passava, então
voltei para ela, sentando ao seu lado. Peguei sua mão suada e entrelacei
nossos dedos, levando-a depois aos lábios.
— Teria soado mais lógico, porque meu ciclo está atrasado, mas eu
tinha que complicar. — Pareceu envergonhada. — Ambos os testes são
eficazes, o de sangue um pouco mais.
— Não tem problema, querida. — Apertei sua mão com mais força.
Comecei a chorar feito uma criança ao mesmo tempo que ria alto, e
completamente alheio onde estava, envolvi Chaveirinho pela cintura e a
ergui no alto, rodopiando-a, fazendo-a soltar o papel e o envelope para
envolver meu pescoço. Fui contagiado pelo sorriso de felicidade que se
abriu em suas feições. Seus olhos claros cintilavam e resplandeciam, e pude
jurar que nunca a vi tão bela.
— Vou ser mãe, Jeff. — Riu baixinho, jogando a cabeça para trás.
— Parece um sonho do qual não quero acordar!
Nada tinha mais importância do que ele e Sofia, e constatar isso fez
com que mais lágrimas escorressem pelo meu rosto em meio ao beijo, e,
lentamente, a deslizei contra o meu corpo para que ela pudesse ficar em pé.
Findando o contato das nossas bocas, segurei seu rosto com uma mão e
acariciei sua bochecha com a outra. O sorriso dela em meio ao choro e a
felicidade estampada nas suas feições faziam com que meu coração batesse
acelerad. Quando ela olhou para baixo, meus olhos seguiram o seu olhar e
vi ela tocando a barriga lisa de um jeito protetor, então pousei as minhas
mãos sobre as suas em uma promessa silenciosa de que daria a minha vida
pelo fruto do nosso amor. Ficamos ali, chorando que nem manteiga
derretida, sorrindo e fitando nossas mãos, como se não houvesse nada além
da nossa bolha de felicidade recém-descoberta, até que, em um rompante,
sem deixar de tocá-la, me ajoelhei na frente dela, ergui um pouco da sua
camiseta e plantei um beijo em seu ventre liso, sem me importar se eu a
estava molhando.
— Como não tenho que trabalhar amanhã e ouvi você dizer ao seu
secretário que também não, que tal darmos um pulinho em Lagoa Santa e
surpreender minha mãe e seu avô? — disse alguns minutos depois de
ficarmos nos encarando, sorrindo. — Gostaria de contar isso pessoalmente
e comemorar com eles. Eles ficarão tão felizes!
Meu bebê!
Sempre tinha sonhado com esse dia, mas não podia imaginar que eu
seria tragada por essa avalanche de mais puro amor. Era um sentimento tão
forte, tão puro, tão lindo, tão intenso, tão grandioso que fez com que eu
soubesse que, por maior que pudessem ser meus medos e inseguranças,
aquela criança teria tudo de mim. E de Jefferson.
— Sofia...
— Pare, Jeff.
Fiz que não com a cabeça e ele apenas sorriu, massageando meus
lábios com o polegar. Ficamos nos encarando em silêncio por um bom
tempo, sorrindo um para o outro, até que recolocou seu cinto e, inclinando a
cabeça, indicou para que eu fizesse o mesmo. Assim que o fiz, seguiu a
caminho da mansão de Estebán, dirigindo em uma velocidade moderada
pela MG-10.
— Será que ela já foi embora? Queria que mamãe fosse a primeira a
saber. Na verdade, que soubesse junto com Estebán.
— Talvez os dois já estejam juntos — disse, animado. — Acho que
meu avô me disse que a essa hora costumava tomar chá em sua sala
particular.
— Tomara.
Foi a vez dele sair me arrastando pelos cômodos, como se fosse uma
criança travessa, completamente empolgado, me fazendo rir.
Definitivamente, éramos dois bobos, mas hoje, tínhamos um motivo para
isso. E eu contava os segundos para compartilhar a novidade. Quando
estávamos nos aproximando do local que eu sabia ser quase que um refúgio
de Estebán, onde ele costumava receber visitas, muitas vezes eu mesma
tinha estado lá conversando com ele, ouvi a gargalhada alta da minha mãe e
sorri ainda mais. Ao entrar, vi minha mãe sentada de costas e de frente para
Estebán, que levava uma xícara aos lábios.
— Jefferson, não sabia que o veria hoje, ainda mais junto com Sofia
— comentou, pousando o recipiente em cima do pires, o olhar
resplandecendo de curiosidade e astúcia.
— Filha!
Suas lágrimas ficaram mais grossas e, sem esperar uma resposta,
abraçou-me com mais força. Eu me deixei envolver, chorando no ombro
dela, enquanto minha mãe sussurrava no meu ouvido de que iria ser vovó,
beijando diversas vezes minha testa e minhas bochechas. Nunca tinha visto
minha mãe tão emocionada.
— Estou tão feliz por você, minha filha. — Pousou a mão na minha
barriga. — Por você estar realizando seu sonho em se tornar mãe. Nunca
tinha visto você tão resplandecente. Está brilhando.
— Estebán, eu…
Senti meu corpo arrepiar com suas palavras, que me soaram quase
que proféticas, mas ignorei o sentimento. Meu coração transbordava de
esperança para me ater a algo que não fosse um futuro junto a Jefferson e ao
meu bebê. Um muito feliz.
— Hum…
Não disse mais nada, me fitando com seus olhos negros, repletos de
mistérios, se afastando de mim quando Jefferson se aproximou, envolvendo
minha cintura com o braço ao dar-me um beijo na boca na frente de todos.
Logo depois, sorriu de orelha a orelha e me trouxe mais contra o seu corpo,
alisando meu braço nu.
— Dona Ilda me disse que ele era o terror — minha mãe comentou
com um tom que parecia que estava contando um segredo —, até me
mostrou os recortes de jornal das vezes que eles figuraram uns escândalos.
— Água para mim e para Sofia, por favor — Jeff pediu ao levar a
mão à minha barriga, algo que parecia ter feito inconscientemente.
Notei que ele parecia sussurrar uma prece baixinho para si mesmo,
que era apenas um mover de lábios. Era uma bobagem, mas meu peito se
aqueceu ao ver o quanto ele amava essa criança ao ponto de pedir aos céus
pelo seu bem-estar e saúde. Estávamos tão envolvidos na nossa pequena
comemoração, que não ouvimos a aproximação de uma outra pessoa.
— Parabéns, Jefferson.
— Não se preocupe, querido, está tudo bem. Você não tem culpa
nenhuma disso, sei que você deve ter feito o melhor que podia. — Tentei
tranquilizá-lo ao levantar-me e limpar o gosto ruim que ficou na boca. —
Tenho certeza que também errarei no meu percurso.
— Assim eu espero.
— Minha Ilda teve sorte, acho que só sentiu uma única vez.
— Sei que novamente irei falar a mesma coisa, mas não me importo
com o seu pai, não quando estou feliz demais para isso.
— Uma pequena crise de enjoo, mas estou bem. Vai ser algo que
pode ser recorrente na nossa vida. — Sorri.
Só muito mais tarde que pude testar o meu pequeno poder sobre o
autocontrole de Jefferson, que parecia fascinado com meu comando, e
desfrutei de cada momento em tê-lo debaixo de mim.
Capítulo trinta e dois
Não podia negar que sempre que chegava o final do dia, ainda mais
quando sabia que ela não estava de plantão, eu ficava completamente
ansioso para vê-la, abraçá-la e beijá-la, e adorava a recepção calorosa que
ela sempre me dava. Hoje, mais do que nunca. A tarde tinha passado
lentamente e eu não conseguia parar de olhar para as sacolas, me
questionando se ela gostaria de tudo o que comprei. Estava receoso
também, pois não sabia se ela queria ser a primeira a comprar uma peça
para o nosso bebê, ou até mesmo estar junto comigo quando o fizesse. Não
tinha certeza se esse seria um momento importante para ela.
— E a nossa princesa?
— Você nem sabe se será uma menina ainda, Jeff. — Deu uns
tapinhas na minha mão, gargalhando. — Pode ser que seja um menininho.
— Hm, não tenho tanta certeza disso. — Passou os dedos por entre
meus fios. — Se for, já tenho que ir preparando você desde já para quando
ela crescer. Ainda mais quando deixar de ser o homem da vida dela.
Quando ela disse isso, bufei e fiz uma careta; Sofia riu da minha
cara. A única parte ruim de tornar-me pai de uma menininha seria lidar com
os cuecas dando em cima dela quando crescesse, ainda mais se for tão bela
quanto a mãe. Só de pensar eu já começava a me morder de ciúmes.
— Vou usar uma espingarda de sal para afastar todos eles. Não vou
deixar nenhum ciscar no meu terreno — falei com convicção. Não deixaria
que ninguém magoasse a minha menininha.
— Besta.
— Além dos meus beijos? — Fiz uma pequena pausa. — Se não for
uma menina, deixarei que você coloque o nome dele de Pedro como bem
quer. Se eu acertar, ela se chamará Malu.
— Não pode ser depois? — A voz sexy e seus dedos abrindo alguns
botões da minha camisa social quase me fizeram mudar de ideia, mas a
ânsia de saber o que ela acharia daquilo que comprei me dominou.
— Não sei se você vai gostar muito — falei com a voz levemente
tensa. Dando a volta na king, sentei-me ao lado dela quando ela se ajeitou
na cama. — Talvez eu tenha me precipitado.
— Agora, olhando para você, sinto que deveríamos ter feito isso
juntos.
Arqueou a sobrancelha bem-feita e não disse nada quando pousei a
sacola em cima do seu colo com a principal peça que tinha comprado.
Quando a vi lentamente abrir o embrulho, senti um calafrio percorrer a base
da minha coluna e minhas mãos suaram frio, com a ansiedade me corroendo
por dentro. Delicadamente removeu a peça do embrulho e vi os olhos dela
se encherem de lágrimas ao pegar o pequeno macacãozinho de lã marrom e
uma touquinha com orelhinha de ursinho, e eu senti meu coração se
apertando em angústia.
— Não sabia que a mulher que eu amo era tão interesseira. Não sei
se gosto muito disso.
— Parece que está tudo certinho com seus exames e com sua saúde,
mãe — disse depois de medir a minha pressão, constatando que estava tudo
bem. — Vamos então ao momento mais aguardado?
— Entendo.
— É indescritível — comentei.
Durante todo o caminho até Lagoa Santa, Jeff não parava de falar e
fazer planos, e principalmente do quanto que estava ansioso pelo próximo
exame.
Capítulo trinta e quatro
— Não gosto muito desses nossos desencontros por conta dos meus
plantões.
— Infelizmente sim, mesmo que você tenha feito de tudo para fazer
nossa vida encaixar uma na outra. Já agradeci por se sacrificar tanto, Jeff?
— Não é nenhum sacrifício para mim fazer a mulher que amo feliz.
— Eu não me cansava de dizer o quanto a amava e em expressar meus
sentimentos, por mais piegas e pedante que parecesse.
— Também amo você, Jefferson.
— Não conseguiria fazer isso sem você, Jeff. Ainda mais que
combinamos de descobrirmos tudo juntos.
— Obrigado — dei um selinho nela. — Isso é muito importante para
mim.
— Hey, você fala isso porque não vai doer em você — disse em tom
brincalhão, me empurrando.
Hoje via com clareza que o poder e dinheiro poderia ser, sim,
importante, mas não mais do que se doar a outro alguém e ser recebido com
tanta ternura. E amar. Era curioso como esse sentimento parecia crescer
cada dia mais em meu interior, ao ponto das palavras não serem mais o
suficiente para expressar como eu me sentia.
Mas Ronaldo tinha que estourar a minha bolha e foder com tudo.
— Sim, vovô. E diante desse fato, quero que você cumpra a sua
parte do acordo. Não podemos continuar assim. Eu te dei uma herdeira,
agora é sua vez de rebaixar Ronaldo — suavizei meu tom de voz ao ver
meu avô tomado pela tristeza, o que me fez sentir ainda mais raiva do meu
progenitor.
— Por mais que me doa, pedirei que ele me encontre amanhã para
comunicá-lo disso. Não fugirei da minha promessa, filho. — Suspirou com
pesar.
Ele não disse nada e o encarei, vendendo-o pegar com suas mãos
trêmulas a xícara, levando-a torpemente aos lábios. Engoli em seco ao dar-
me conta da aparência frágil dele, algo que pareceu transcorrer do momento
que entrei e dos minutos que estava ali. Foi inevitável não sentir uma
pontinha de culpa, pois eu que o estava pressionando, de certo modo
tomando uma decisão difícil em prol da empresa dele. Me senti mesquinho,
pois por mais que Ronaldo fosse uma pessoa desonesta, era filho dele.
Deveria ter deixado para lá, afinal tinha minha própria riqueza, mas algo
dentro de mim se revoltava em ficar de braços cruzados e ver todo o
trabalho do meu avô jogado no lixo. Sim, poderia ter mudado bastante
depois que comecei a me relacionar com Sofia, mas talvez ainda
continuasse sendo um homem ganancioso. O que me fez sentir ainda pior.
— Desculpe, vovô, por forçá-lo a isso — murmurei, sentindo uma
pontada de dor no peito por ver o grande Estebán desmoronando.
— Não entendo o que você quer dizer com isso, vovô — disse em
um fio de voz.
— Você não foi o único a quem prometi algo, meu filho. Espero que
me perdoe por isso. — Vi uma lágrima escorrer pela face marcada pelas
rugas e pela tristeza.
— Jurei a Ilda que faria de tudo em prol da sua felicidade e que não
deixaria você seguir os mesmos passos que eu. Sua avó me salvou com o
seu amor, Jefferson.
— Vovô…
— Obrigada, vovô.
Abraçado ao meu avô, senti sua tristeza por causa de Ronaldo, e tive
nesse instante a certeza de que, independentemente do que acontecesse com
a Richelme, o destino da empresa já não tinha mais tanta importância. Saber
que Estebán e Ilda teriam aberto mão de tudo por mim, isso sim tinha valor.
O amor que tinha pelos meus avós, por Sofia e minha pequena Malu
era muito mais significativo do que qualquer outra coisa, e, a partir de hoje,
me dedicaria somente em demonstrar o quanto os amava.
Capítulo trinta e seis
Malu.
Sofia…
Levando as mãos aos meus cabelos, entranhou seus dedos pelos fios
e me puxou mais contra si, e me deixei levar de muito bom grado, ao
mesmo tempo que adentrava o seu robe e tocava a pele macia dos seus
ombros. Os pelinhos dela se arrepiaram e o som rouco que escapou da sua
garganta alimentaram a minha ânsia. Calma, Jeff, você terá o resto da noite
para tê-la rendida e completamente entregue. Mordiscando o meu lábio
superior, pediu passagem para a minha boca, a língua atrevida encontrando
a minha em uma dança sensual que arrancou de mim uma série de gemidos.
O gosto dela era tão bom, que acabava me perdendo no sabor e nas
sensações que somente ela me proporcionava.
— Uhum.
Mas ela sabia jogar o mesmo jogo, e emiti um som rouco quando ela
deu uma mordida no meu ombro ao mesmo tempo que a mão ávida
adentrava a minha calça e cueca e me tocava, mesmo que seus movimentos
fossem limitados. E eu a ajudei, abrindo-a para ela, meu pênis ganhando
ainda mais vida quando seus dedos tocaram a minha glande e ela fez
movimentos circulares, espalhando o líquido do meu pré-gozo, arrancando
ainda mais gemidos de mim. O controle que tinha sobre ela anteriormente
se dissolveu enquanto ela me massageava, me dominava, me deixando cada
vez mais teso pela antecipação. Mas no último momento, recobrando um
pouco meu senso, segurei-a pelo pulso, impedindo-a de continuar.
— Ou desse jeito?
Não esperei resposta e, movimentando os quadris dela, deixando-a
numa posição confortável e com seu sexo exposto para mim, circulei o meu
pênis e adentrei levemente na sua fenda, avançando centímetro a centímetro
com vagarosidade, até o fim. O calor úmido me apertando exigiu um
esforço sobre-humano para que eu não desse vazão ao meu desejo de
estocá-la com rapidez. Deixando uma trilha suave de beijinhos e lambidas
pela sua pele, sentindo o gosto dela misturado ao suor, alternei minhas
carícias e toques entre os mamilos e a barriga, e comecei a me mexer,
entrando e saindo de dentro dela. Aumentei o ritmo à medida que Sofia me
auxiliava, colando-se a mim, dando leves reboladas sobre o meu pênis,
deslizando-me para o seu interior. Controlando os movimentos que suas
paredes faziam em mim, não contive mais a minha ânsia pela minha própria
liberação e, segurando os quadris dela, tomando cuidado para não a
machucar, eu a penetrava com cada vez mais intensidade.
Fiz uma carranca, fingindo estar bravo, mas logo comecei a sorrir,
principalmente quando minha princesa pareceu responder a mamãe com um
chute.
Continuei conversando com ela, até que pareceu dar uma acalmada,
e fechei meus olhos. Estava quase pegando no sono, quando a porta do
quarto foi aberta. Como deveria ser Jefferson, não me dignei a abrir os
olhos, apenas esperei que ele se juntasse a mim na cama, me abraçando de
conchinha, como sempre fazia. Talvez ele tivesse desistido de ver a partida
com o avô. Remexi-me inquieta na cama quando os minutos se passaram e
nada dele se juntar a mim. Completamente em alerta, ergui-me na cama de
um salto ao me surpreender por dar de cara com Ronaldo me fitando com
uma expressão sombria, segurando algo em suas mãos.
— Não seria o que você fez, meu filho? — riu e voltou a gravação.
Ouvi-la novamente fez meu coração doer ainda mais e eu fiquei em posição
fetal na cama, não querendo ficar apenas com a minha dor.
— Diz que é mentira, Jeff, diz que você nunca me usou dessa forma,
que é apenas uma conversa fora de contexto e boatos. Por favor — implorei
enquanto chorava.
— Não sei se consigo acreditar nisso — falei tão baixinho que não
sei se ele chegou a ouvir.
— Tudo bem. — A voz dele era sofrida, mas presa na minha própria
ferida, que ele tinha aberto, não consegui discernir nada.
Não demorou muito e ele fez o que eu pedi, mas não sem antes
soltar um suspiro profundo e tentar me tocar, me deixando sozinha em
companhia do sofrimento e do choro convulsivo. O amargo na minha boca
da descoberta tornava tudo o que vivi com ele em ácido puro.
Me doía saber que fiz a mulher que amava sofrer, e pior, deixá-la
acreditar que tudo que vivemos juntos tinha sido uma grande mentira. Isso
era algo que nunca poderia me perdoar.
Não sei por quanto tempo fiquei ali no chão, tentando pensar em
uma solução, até que a voz do meu avô tirou-me do transe.
— Não contei sobre o nosso acordo, vovô, e agora ela acha que eu
apenas a usei.
— Entendo.
— Continue.
— Quanto?
— Não tenho essa resposta, Jeff, pode ser semanas, dias, horas —
disse ao se levantar, caminhando em direção ao seu quarto. Fez uma pausa e
virou-se para mim: — Apenas lute pelo seu amor e pela sua bebê, filho.
Continue fazendo de tudo por elas.
Não sei quanto tempo fiquei ali, pensativo, até que ouvi um gemido
baixo que deixou o meu corpo inteiro em alerta e levantei num pulo.
Quando novamente outro som ecoou, fiquei completamente gelado.
Sofia!
— Amor?
Na teoria era Sofia que tinha mais experiência com essas coisas,
mas como se tratava da nossa Malu, não me surpreendia que ela estivesse
em desespero. Eu também estava. Malu queria chegar muito cedo ao
mundo, e eu temia pela minha bebê.
A mulher assentiu.
— Certo.
Assumi a direção o mais rápido que pude e dirigi feito um louco até
chegar na melhor maternidade de Lagoa Santa. Ao mesmo tempo que me
culpava pelo ocorrido, eu não parava de rezar em silêncio para que a mulher
que amava e minha bebê ficassem bem.
Capítulo trinta e nove
Forcei ainda mais e senti o Jefferson beijar o topo dos meus cabelos
molhados, incentivando-me a continuar.
— Vamos, mãe!
E eu continuei, não sei por quantos minutos mais, até que um som
baixinho de choro, que se tornava mais forte enquanto o ar preenchia seus
pulmões, ecoou pela sala de parto e eu sorri em meio ao cansaço por conta
do esforço.
Não tinha colocado muita esperança quando Jefferson tinha dito que
eu iria ficar com a Malu no berçário o tempo que quisesse, algo que nas
maternidades e hospitais públicos não eram permitidos. Por falta de espaço,
as mães eram levadas até lá apenas para amamentar, mas em se tratando de
uma instituição privada e contando com o dinheiro que Jefferson tinha,
provavelmente esses fatores haviam facilitado e muito os trâmites, e pude
ficar com a minha menininha. Eu era muito grata a ele pelos recursos que
tinha e também por estar sempre ali comigo nos horários que eram
permitido visitas. Minha mãe e Estebán também vinham visitar a pequena
Malu. As cenas de tanto Rosimeire quanto o avô de Jefferson segurando a
Lulu no colo, sorrindo, tocando os dedinhos pequenos, tinham sido
emocionantes e contava os minutos para que eles pudessem ficar com ela
mais tempo.
Até mesmo Júlia, minha amiga que tinha feito no meu antigo
trabalho, veio visitar minha doce menininha, e aproveitou para contar
fofocas suculentas do hospital. Finalmente Patrícia teve o que merecia, pior,
ela, juntamente com os parentes dela que atuavam na administração do
hospital, estavam sendo processados por desvio de dinheiro. Ela também
respondia a um outro por preconceito racial, o que acabou resultando em
sua detenção. Quem sabe assim a mulher parasse de tratar as pessoas como
inferiores pela sua classe e pele, mas eu duvidava fortemente disso.
Fitei-a por alguns minutos e, para minha surpresa, ouvi uma voz
bastante conhecida que sempre fazia meu coração bater mais acelerado:
— Porque será que a mamãe está sorrindo tanto, hein, Lulu? — Deu
um beijinho na mão dela que estava fechada em punho.
— Por que ela ama vocês dois — pisquei para ele e mandei um
beijo no ar.
— Sofia…
— Mil vezes sim, meu amor, sim — fiquei nas pontas dos pés e dei
um beijo na sua bochecha, que estava molhada pelo próprio choro, e falei
ainda mais baixo: — quantas vezes você quiser, Jeff. Eu te amo, Jefferson
Richelme. — Beijei o canto dos seus lábios que começou a se abrir em um
sorriso. — Não preciso de palavras e pedidos bonitos, suas ações para
comigo são muito mais do que eu poderia querer. Você me demonstra,
apenas com gestos e olhares, algo que nem a mais bela poesia conseguiria
transmitir: amor.
— Porque eu nasci para te amar, Sofia Gouveia.
Mesmo sem jeito, selamos o nosso amor com um beijo lento, calmo,
repleto dos mais puros sentimentos. Nosso amor não tinha pressa, pois ele
seria eterno. Interrompendo o contato, ficamos nos olhando por um bom
tempo até que ele falou:
— É lindo.
— Era eu que deveria colocar no seu dedo, mas você pode me dar
uma mãozinha?
— Acho que sou bom nisso. — Tive que conter o riso para não
acordar Malu, que começou a se mexer em meio ao sono.
— Certo.
Fazia pouco mais de uma hora que tínhamos ido deitar, depois dela
ter amamentado Malu, então não a culpava. Embora ter um bebê em casa
fosse muito gostoso, e eu estava adorando cada momento, também era
difícil pelas noites mal dormidas nesses últimos dois meses, já que ela
mamava muito pouco e com bastante frequência e chorava bastante quando
a fralda ficava suja, mesmo que minimamente. Não tínhamos sido
agraciados com uma bebê que conseguia dormir a noite toda, ou por, pelo
menos, três horas seguidas, mas estávamos mais do que contentes por vê-la
crescer, ganhar peso e estar saudável.
— Certo.
— Está tudo bem, meu amor, papai vai verificar sua fralda e acabar
com seu sofrimento — trouxe-a mais contra o meu peito nu enquanto
caminhava até o trocador —, não, não, não precisa chorar tanto.
— Acho que ela quer mamar mais um pouco, não era nem xixi nem
cocô. — Me aproximei do lado onde ela estava, sentindo Malu ficar ainda
mais agitada, abrindo o berreiro. Abaixando a alça do baby-doll e expondo
o seio, ergueu os braços em um pedido silencioso de que eu passasse Malu
para ela e pudesse a acomodar contra o peito, e nossa pequena com a
mãozinha pequena fechada em punhos começou a bater em Sofia.
Segurando o seio, Chaveirinho colocou o bico próximo a boquinha da
Malu, a qual chorando, rejeitou, o que fez com que o papai dela ficasse
literalmente em pânico e tivesse que se conter para não andar de um lado
para o outro. Quando ela tentou dar o peito novamente sem sucesso, eu
soltei um gemido incongruente.
— Tenho certeza que é, Jeff. Fique mais calmo, pois é algo muito
comum em bebês, e como ela é tão pequena, a única forma de consolo que
ela encontra é chorando. Creio que possa ter acontecido por ela ter sugado
um pouco de ar. Agora comece a massagear suavemente as costinhas dela,
se não passar, vou fazer uma compressa de água morna que ajudará a
aliviar. Calor na região fará bem a ela.
— Tudo bem…
Respirei fundo, tentando ficar mais tranquilo, e comecei a
massagear suavemente enquanto ela ainda chorava. Comecei a conversar
com Malu, dizendo que ficaria tudo bem. Com o canto do olho, vi Sofia
completamente acordada se levantar para ir em direção a cozinha. Não tinha
experiência, mas meu instinto, fez com que levantasse um pouco ela,
deixando-a em pé no meu ombro, colocando sua barriguinha contra meu
peito, tentando transmitir meu calor ao mesmo tempo que mexia na sua
perninha, fazendo pequenos movimentos para comprimir seu
abdomenzinho, o que pareceu acalmá-la.
Com Malu chorando baixinho, não sei quanto tempo fiquei ali,
acariciando as costas dela em movimentos circulares, e tendo seu corpinho
minúsculo contra o meu, só sei que o cansaço estava pesando sobre minhas
pálpebras e quando vi, tanto Sofia quanto Malu tinham pegado no sono.
Levantando com muito cuidado para não acordar nenhuma das duas,
caminhei lentamente para o quartinho dela e a coloquei no bercinho, a qual
ela se moveu um pouco, mas não acordou.
Malu era um presente não só para a vida dele e de Sofia, que sempre
quis ser mãe, um elo, mas também uma dádiva na minha vida e na de
Rosimeire.
— Como será que ele nos achou? — perguntei para a pequena, que
ficou agitada no meu colo, como se pressentisse a presença do pai.
— Hey — fechou a cara —, não venha com esse papo você também.
Já basta Sofia.
— Terá que aprender a controlar o ciúmes, Jefferson.
— Prefiro pensar nisso quando ela tiver mais velha, com trinta,
quarenta, ou talvez…
Dei de ombros.
— Vamos.
— Sofia? — Ele tocou o meu rosto. O seu olhar era repleto de amor,
mas também mostrava toda ansiedade, medo e confusão por não saber o que
estava acontecendo comigo.
Fim
Agradecimentos
Aos meus cachorros, Ruffus, Mabel e minha doce Lulu, que não se
encontra mais comigo. Pai, onde quer que você estiver, sei que você está
feliz pelo meu quarto livro e o leria se tivesse oportunidade.
Sinopse:
Sinopse:
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Sinopse: