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MAINGUENEAU, Dominique. 2005. Gênese dos Discursos.

Tradução de Sírio
Possenti. Curitiba: Criar Edições. 189 p. ISBN 85–8814–131-0.

Fichamento (anotações)

 Neste capítulo, Maingueneau analisa o lugar do espaço institucional na


constituição de um discurso. O funcionamento institucional também obedece ao
sistema de restrições semânticas da formação discursiva.

 O discurso, ao ser enunciado, instaura o quadro institucional ao qual está


vinculado, ao mesmo tempo em que é autorizado por esse quadro. A imbricação
de um discurso e de uma instituição não é uma ideia nova, conforme lembra o
próprio Maingueneau, citando outros autores que compartilham o mesmo
princípio. Seu modo de fazer, nós o dizemos, é, no entanto, bastante original:
articula discurso e instituição por meio de um sistema de coerções semânticas:
“[...] as instituições estão submetidas ao mesmo processo de estruturação do
discurso propriamente dito” (p. 122).

 O autor traz o exemplo dos humanistas devotos, trazendo as suas características


que se mostram através de suas práticas: eles se vinculam a ordens religiosas
regulares, trazendo o exemplo dos jesuítas, os quais foram importantes na
difusão dos discursos humanistas.

As organizações devem sempre ser vistas segundo os princípios da semântica


global, isto é, associadas ao modo de enunciação que regula as relações no
interior das “Ordens” religiosas e na prática de comunicação textual. Assim, os
semas /Plasticidade/ /Moderação/ /Ritmo/ /Flexão/ manifestam-se no
funcionamento dos colégios jesuítas: os professores devem ser bem-humorados,
flexíveis, doces.

 Tais organizações, as chamadas comunidades discursivas, não devem ser


entendidas de forma excessivamente restritiva: elas não remetem unicamente aos
grupos (instituições e relações entre agentes), mas também a tudo que esses
grupos implicam no plano da organização material e modos de vida. A
comunidade discursiva é pensada como grupos que produzem e gerenciam um
certo tipo de discurso, portanto as instituições produtoras de um discurso não são
mediadoras transparentes.

 A posição do enunciador frente às fontes de informação resulta de “um processo


de ‘interpelação’ pelo discurso, isto é, o discurso ‘filtra’ a aparição, no campo da
palavra, de um grupo enunciativo distinto” (p. 130). Há, portanto, condições, por
parte de uma formação discursiva, para que um sujeito nela se inscreva ou seja
chamado a nela se inscrever. Trata-se, nas palavras de Maingueneau, de uma
vocação enunciativa que se caracteriza por um ajustamento “espontâneo” dos
sujeitos às condições exigidas.

 Recorrendo à metáfora do curso de um rio, dotado de nascente e foz,


Maingueneau mostra que a maneira pela qual um texto é produzido e a maneira
pela qual é consumido estão intimamente ligadas. Tendo falado sobre o “rio
abaixo”, isto é, sobre as vocações enunciativas, agora é preciso falar sobre o “rio
acima”, a saber, os ritos genéticos (suas condições de emprego), entendidos
como o “conjunto de atos (não só documentos escritos, mas certos
comportamentos como viagens, meditações etc. realizados por um sujeito em
vias de produzir um enunciado” (p. 132). Os ritos “impostos” pelas coerções
semânticas, que delimitam um pertencimento institucional e discursivo, não são
incompatíveis com os ritos pessoais (maneira única de fabricar um texto).

“Com efeito, para o autor, discurso (ou prática discursiva) é uma noção que se refere a
uma dupla produção que tem lugar simultaneamente: a produção de textos e a produção
de uma comunidade discursiva. Dito em outras palavras, a constituição de uma dada
comunidade discursiva e a produção textual são as duas faces de uma mesma moeda,
não havendo qualquer possibilidade de se estabelecer uma relação de causalidade linear
entre ambas. Como se percebe, o que está em questão, portanto, é a natureza da relação
entre os textos e as assim chamadas “condições de produção” desses textos: “os modos
de organização dos homens e de seus discursos são indissociáveis, as doutrinas são
inseparáveis das instituições que as fazem emergir e que as mantêm.”
(CHARAUDEAU; MAINGUENEAU, 2004, p. 105 APUD ROCHA, Décio.
Representar e intervir: linguagem, prática discursiva e performatividade. Linguagem em
(Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 14, n. 3, p. 619-632, set./dez. 2014, p.)
“Como já definida anteriormente, a prática discursiva traduz a indissociabilidade
constitutiva que se verifica entre uma dada produção de textos e a constituição de
grupos que, por um lado, produzem esses textos e, por outro, são a seu turno também
por eles produzidos.” (ROCHA, 2014, p. 10)

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