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A poesia, é em si, necessária para a literatura?

Não afirmando uma origem ou dando um um ponto de partida fixo para esta arte, mas sim,
relembrando os fatos de um povo, os gregos, aqueles apaixonados pela arte e saber, fixados em
histórias e cantigas, onde pelas rimas e toque da lira, cairiam na falácia do além, criando enredos
que hoje chamamos como poesia. Baseando-se então em um gênero oral, onde a necessidade de
fixação rítmica era mais apelativa para a aprovação pública,a poesia veio se adaptando até que
chegasse ao papel, sem abandonar essa peculiaridade do cantado, talvez se adaptando aos seus
seguintes períodos de tempo, mas carregando ainda assim essas particularidades do que se chama
de lírico.
Abordando de primeira uma visão mais técnica e estrutural da poesia, tem-se uma noção básica
de sua forma diferenciada, construída por versos e estrofes, ela não obedece a norma da prosa,
procura conexões rítmicas e sua leitura pode ser mais demorada por uma necessidade de ‘explorar’
o texto dado. Citando o poeta Jolibert (1994) que considera o poema um texto com forma de rede,
que “exige uma leitura plural, tabular, em vez de uma leitura linear, simplesmente informativa”.
Em outras palavras: Todos os termos do poema se entrelaçam(GOLDSTEIN, Norma, 2011). Logo,
tira-se que essa formação da poesia escrita por versos e estrofes, se forma como um quebra cabeça,
uma cantiga que permite não só essa ‘batida’ na leitura como quando externa-se ele também volta
como uma canção, afinal “A seleção e combinação de palavras são pautadas não apenas pelo
critério da significação, mas também por outros critérios, como o rítmico, o sintático, o sonoro, o
decorrente de paralelismos e jogos formais”(GOLDSTEIN, Norma, 2011).
Quando lemos “Soneto” de Gregório de Matos, a chegada dessa leitura começando por
“Ofendi-vos, meu Deus, é bem verdade/É verdade, Senhor, que hei delinquido/Delinquido vos
tenho, e ofendido/Ofendido vos tem minha maldade.” temos a impressão de uma reza, de um
desespero em um apelo singelo a divindade, a sensação em si criada pela repetição dos ‘vos’ como
uma preze escrita e repetida, contudo, esse sentimento de humanidade, esse toque de pessoal do eu
vem junto do “É bem verdade/É verdade, senhor”, não é um parágrafo que nos indica o homem
apelando ou uma nota que especifique essa característica, mas o próprio poema que entrega, por
meio de sua estrutura peculiar que age como a fala do povo, aquela oralidade escrita específica do
gênero que nos aproxima com o texto, que vem quase como uma conversa acalorada.
E é utilizando desse apelo de proximidade, que a poesia entra como um grito de guerra, como
uma ferramenta usada por muitos artistas e escritores para alcançar a comunidade com suas lutas,
criticar classes e suas barbáries, pode se então citar “A poesia habitou entre os homens para seu
encantamento e consolo, dando o abrigo da memória, os tons e as modulações do afeto, o jogo da
imitação e o estímulo para refletir.” (BOSI, 2013). É dessa subjetividade que percebemos o traço
de autenticidade que o gênero lírico atribui a suas obras, que por sua conjunção de peculiaridades
que conseguimos como comunidade brasileira citar aos ventos “Minha terra tem palmeiras onde
canta o sabiá!”, ou como conhecemos e utilizamos o poema “Bicho” de Manuel Bandeira para
atacar nosso próprio meio de convívio e suas maldades. A poesia, por si, devolveu corpo e alma ao
que a máquina social já dera por perdido, aos poucos se acomodando aos tempos e suas
diversidades.
Diferente da prosa, a poesia é o que traz a literatura essa proximidade, se encontra em
importância para o avanço do gênero pois é ela que toca o nosso interior. Compreende-se os
poemas como organismos vivos, elementos que carregam consigo as chaves para sua
compreensão, desenvolvendo ao longo dessa ‘caminhada’ apelos sensoriais(GOLDSTEIN, Norma,
2011), que por meio deles, nos familiariza e comove como em uma dança onde não temos o
controle. A lírica vem então se esforçando na singularização do mundo, principalmente em um
contexto contemporâneo onde nós automatizamos, e aos poucos, paramos de ver o mundo e
arredores com um olhar humano, perdendo a paixão e empatia que nos deveria existir, e pelos
poetas, reconhecemos novamente essas emoções como pertencentes nossas.

REFERÊNCIAS:

GOLDSTEIN, Norma. Versos, Sons, Ritmos, 2011


BOSI, Alfredo. Entre a literatura e a historia, 2013

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