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Autores:
Otávio Alexandre M. de O. Filho (acadêmico do curso de Direito da UNIFACS –
Universidade Salvador);
Thiago Vianna Berenguer (acadêmico do curso de Direito da UNIFACS –
Universidade Salvador).
1 INTRODUÇÃO
O Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 3º, §2º traz a definição de serviço e
nesta definição se inclui a atividade securitária. Assim, serviço é “qualquer atividade
fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza
bancária, financeira, de crédito e securitária” (BRASIL, 1990, p. 919).
Nas ações judiciais em que esteja discutindo cláusulas contratuais, a maiorias dos
litígios envolvem as cláusulas que limitem o direito dos segurados/consumidores ou
cláusulas limitativas.
As cláusulas limitativas são partes inerentes aos contratos de seguro, que por sua
natureza implica em delimitação dos riscos a serem assumidos pelo segurador.
Não é demais acrescentar que, pelo princípio da liberdade de contratar, não há nada
de abusivo em o segurador recusar a segurar determinado bem ou assumir riscos
que não lhe seja conveniente. Temos que lembrar que um dos princípios basilares
do seguro e o mutualismo. Se o segurador passar a assumir todos os tipos de riscos
sem analisar sua capacidade técnica ou viabilidade do negócio, estará pondo em
risco o grupo de segurados como um todo.
Igualmente, Huber e Dettmer (2004 apud MORETI e SILVA, 2003), afirmam que:
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Ementa
CIVIL. CONTRATO DE SEGURO. COBRANÇA DO VALOR SEGURADO.
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ART. 27. PRESCRIÇÃO DE
5(CINCO) ANOS. INAPLICABILIDADE. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE
DANOS POR FATO DE SERVIÇO. DESSEMELHANÇA COM A
RESPONSABILIDADE CIVIL DECORRENTE DO INADIMPLEMENTO
CONTRATUAL. PRESCRIÇÃO ÂNUA. CÓDIGO CIVIL, ART. 178, § 6º, II.
LEI DE INTRODUÇÃO. ART. 2º, § 2º. RECURSO ACOLHIDO.
EXTINÇÃO DO PROCESSO.
I - A ação de indenização do segurado contra a seguradora,
decorrente do contrato de seguro, prescreve em um ano, não tendo
aplicação o art. 27 do Código de Defesa do Consumidor, dispondo essa
norma a propósito da prescrição em cinco(5) anos nas ações de reparação
de danos por fato de serviço, que não guarda relação com a
responsabilidade civil decorrente do inadimplemento contratual.
II - Na linha do § 2º do art. 2º da Lei de Introdução, a lei nova,
no caso o Código de Defesa do Consumidor, ao estabelecer disciplina
especial quanto à ação de reparação de danos por fato de serviço, aí
incluindo os decorrentes das relações de consumo entre segurado e
seguradora, não revogou o art. 178, § 6º, II do Código Civil, sendo esse
dispositivo mais amplo, a englobar as demais ações entre segurado e
seguradora.
Acórdão
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta
Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das
notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-
lhe provimento. Votaram com o Relator os Ministros Barros Monteiro, Cesar
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Resumo Estruturado
OCORRENCIA, PRESCRIÇÃO ANUA, AÇÃO JUDICIAL,
RESPONSABILIDADE. CIVIL, DECORRENCIA, INADIMPLEMENTO,
CONTRATO DE SEGURO, APLICAÇÃO, NORMA, CODIGO CIVIL,
INAPLICABILIDADE, PRESCRIÇÃO, CINCO ANOS, PREVISÃO, CDC,
NÃO CARACTERIZAÇÃO, AÇÃO JUDICIAL, REPARAÇÃO DE DANOS,
DECORRENCIA, FATO, SERVIÇO.
Processo REsp 232483 / RJ ; RECURSO ESPECIAL
1999/0087212-6, Processo, REsp 232483 / RJ; RECURSO ESPECIAL
1999/0087212-6, Relator(a) Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA
(1088), Órgão Julgador:T4 - QUARTA TURMA, Data do Julgamento
15/02/2000, Data da Publicação/Fonte DJ 27.03.2000 p. 113 (BRASIL,
2000).
Atente-se para o fato de que mesmo que o acórdão tenha sido proferido em 2000 e
atualmente o Novo Código Civil esteja em vigor, à nova lei contém a mesma
disposição quanto à prescrição relativa ao contrato de seguro:
Por fim, não podemos deixar de comentar o disposto no art. 47 do CDC. O aludido
artigo determina que “as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais
favorável ao consumidor” (BRASIL, 2005, p. 922).
Uma questão que não pode deixar de ser tratada é a relação jurídica entre o corretor
de seguros e o segurado. De início, cumpre chamar atenção que o corretor de
seguros, ao contrário do que muitos pensam, não é funcionário do segurador, e sim,
representante do segurado perante as companhias de seguros.
Art. 722. Pelo contrato de corretagem, uma pessoa, não ligada a outra em
virtude de mandato, de prestação de serviços ou por relação de
dependência, obriga-se a obter para a segunda um ou mais negócios,
conforme as instruções recebidas (BRASIL, 2005, p. 216)
Quando uma pessoa decide contratar um seguro, caso queira fazer da forma
correta, necessariamente precisará do auxílio de um corretor de seguros para
promover seus interesses perante a companhia seguradora.
Note-se que, para exercer sua função, o corretor de seguros recebe uma
remuneração por parte do cliente que contrata os seus serviços. Mas, importante
frisar, segundo determina o artigo 124 do Decreto Lei 73/66, que “as comissões de
corretagem só poderão ser pagas a corretor de seguros devidamente habilitado”
(BRASIL, 1966).
Atente-se que para o art. 722, transcrito no início deste tema, o contrato é de
corretagem quando ”[...] uma pessoa, não ligada a outra em virtude de mandato, de
prestação de serviços ou por qualquer dependência, obriga-se a obter para a
segunda um ou mais negócios, conforme as instruções recebidas”, ou seja, corretor
é aquele que só tem relação de dependência com o seu mandatário (no caso o
segurado).
No caso dos corretores de seguros, estes, além de serem impedidos por lei de ter
qualquer vínculo com a sociedade seguradora (art. 125, Decreto-Lei 73/66), caso
tivesse alguma relação laboral com as companhias de seguros, estriamos diante de
uma descaterização do contrato de corretagem.
O Decreto lei nº 73/66 é bem claro ao afirmar que os corretores de seguro não
poderão exercer ou aceitar cargos que configurem relação de emprego com as
sociedades seguradoras, vejamos:
Imperioso ressaltar, que, na maioria das vezes, o corretor de seguros é uma pessoa
jurídica. Mas existem, também, pessoas contratadas pelas seguradoras para
atenderem seus clientes e comercializarem seus produtos. No primeiro caso, o
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Não obstante o art.775, terá que ser analisado pelo Magistrado, quando estiver
diante de um litígio, cada caso de forma individualizada, para saber ou não se o
corretor atuou de forma negligente, com imperícia, omissão, causando prejuízo ao
segurado, bem como analisar quem realmente casou a lesão ao demandante da
ação
É importante esclarecer que o Decreto Lei 73/66 prevê punições aos corretores que
venham a causar danos a seus clientes/consumidores, conforme previsão contida
nos artigos 126,127 e 128 do decreto supracitado:
Mas o que vem sendo notado é uma certa tendência dos julgados em determinar
que em todos os casos o corretor é em preposto da seguradora, talvez por força do
artigo 775 do Código Civil, conforme julgado abaixo:
Art. 710. Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não
eventual e sem vínculos de dependência, a obrigação de promover, à conta
de outra, mediante retribuição, a realização de certos negócios, em zona
determinada, caracterizando-se a distribuição quando o agente tiver à sua
disposição a coisa a ser negociada.
Parágrafo único. O proponente pode conferir poderes ao agente para que
este o represente na conclusão dos contratos.
Porém, se o segurado decidir realizar o seu contrato de seguro por meio de uma
pessoa que trabalha nas dependências da companhia de seguros, estaremos diante
de um funcionário (desde que devidamente identificado) ou de um agente que
trabalha para a seguradora. Nestes casos, a responsabilidade será direta em
relação à seguradora (MARTINS, 2006).
Por fim, cabe ainda um questionamento: o segurado, que foi assistido por um
corretor de seguros, em caso de uma demanda judicial, será considerado
hipossuficiente?
4 CONCLUSÃO
Sob a ótica da lei de proteção aos consumidores, a atividade securitária é tida como
um serviço, conforme o art. 3, § 2º. O Código de Defesa do Consumidor não acabou
com as características essências do contrato de seguro. Este negócio permanece
particularizado e a legislação consumerista contribui para a efetividade de suas
regras.
O CDC, como o próprio nome já diz, tem como função principal proteger os
consumidores, tentando compensar juridicamente a desigualdade entre o
consumidor e fornecedor. Acontece que, atualmente, o CDC tem sido mal
interpretado sendo conferido uma força maior as consumidores de forma a
ultrapassar a isonomia que a lei busca, ficando o consumidor “hipersuficiente” diante
do fornecedor.
Não raras vezes, em ações judiciais que estejam discutindo cláusulas contratuais, o
CDC é interpretado como se as normas contidas nos artigos 757 a 802 tivessem
sido revogadas pela lei consumerista. A grande prova da interpretação incorreta do
CDC estar no entendimento de alguns magistrados sobre as cláusulas limitativas
contidas nos contratos de seguro. Muitas vezes, cláusulas que delimitem as
coberturas contratadas, abrangência do contrato e, até mesmo, cláusulas que
excluem certas enfermidades, são tidas como abusivas. Observe que o próprio
CDC, em seu art. 54,§ 4º, permite que existam cláusulas limitativas do direitos dos
consumidores, desde que estejam redigidas em destaque e que seja de fácil
intelecção.
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sociedades seguradoras, tendo em vista que estas não possuem nenhum contrato
de trabalho com os corretores, não paga nenhum tipo de remuneração a estes
profissionais e o corretor é quem assina a proposta em nome do segurado.
Cumpre destacar por fim, que existe uma diferença entre contratos de corretagem
(art. 722 do CC) e de agenciamento (art. 710 do CC). Nos casos de contratos de
corretagem, o corretor obriga-se representar os interesses do contratante dos seus
serviços (segurado) perante a sociedade seguradora, sem ter qualquer vínculo (quer
seja de prestação de serviços ou qualquer outra dependência) com o segurador.
Diferente do que ocorre com os agentes, que são pessoas que à conta de outra
(seguradora), mediante retribuição desta promovem a realização de negócios.
Normalmente os agentes trabalham nas dependências da seguradora, recebendo
uma remuneração desta. Desta maneira, ocorrendo algum problema na prestação
do serviço ou na venda do produto pelos agentes, a responsabilidade será da
seguradora. Pó outro lado, nos casos em que os corretores agirem com
imprudência, omissão e negligência a responsabilidade será somente destes sem
configurar nenhum tipo de culpa para a seguradora, que apenas responderá pelos
fatos do seu serviço.
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REFERÊNCIAS
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: atualizada de acordo com o Código Civil
de 2002. 4ª ed. São Paulo: Jurídico Atlas, 2004.