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Resumo — Este trabalho apresenta um panorama do metodologias de trabalho pela equipe. O Instituto de Medi-
ambiente hospitalar relativo a segurança do paciente e os cina dos Estados Unidos (IOM, Institute of Medicine) definiu
diversos riscos associados desde admissão até sua alta segurança como ausência de lesão acidental [1], sendo que o
hospitalar. São elencados os riscos nos diversos ambien- erro pode ser identificado como falha de planejamento e/ou
tes onde o paciente tem acesso, e são apresentadas as pre- execução. Os eventos adversos já eram definidos como le-
ocupações com a segurança do paciente. Esse aspecto de sões decorrentes do tratamento que prolongaram a hospitali-
riscos e segurança do paciente tem tomado cada vez mais zação, causaram incapacitação persistente até a alta ou ambos
importância devido as ações na justiça contra profissio- [2].
nais da saúde e contra instituições de saúde. Outra preo- Apesar do paciente ser um coadjuvante em seu tratamento,
cupação da instituição de saúde é o custo associado ao pa- devendo sempre fazer parte das decisões sobre sua condição,
ciente. Se todas as etapas do tratamento forem seu conhecimento sobre a doença, prescrição/administração
executadas corretamente, isso representa a alta do ambi- de medicações e decisões clínicas muitas vezes é limitado e
ente hospitalar (mesmo que sob cuidados paliativos). não entra nos limites “de ajustes finos”, como por exemplo
Com a liberação do paciente antes são dispensados menos escolha de uma melhor medicação conforme uma publicação
recursos, liberação de leito para outro paciente, disponi- científica, formas alternativas de controle e de cuidados ge-
bilidade da equipe de saúde para novos casos, entre ou- rais com sensores ou alternância de antibióticos. Pensando
tros aspectos. Esta preocupação com a segurança do pa- ainda nos pacientes mantidos sob condições de rebaixamento
ciente é um movimento mundial, liderado pela OMS e de nível de consciência (ambiente de UTI), os quais não po-
recomendado para os países signatários. Existe o aspecto dem emitir desejos e parecer sob seu estado atual, os riscos
econômico, mas principalmente o correto tratamento e são ainda maiores.
medicação para o paciente, para que este tenha um O trabalho com equipamentos de alta complexidade torna
pronto restabelecimento o mais rapidamente possível. do risco um elemento que podem ultrapassar a capacidade
técnica do profissional da saúde e até mesmo uma medicação
Palavras-chave — segurança do paciente, risco hospitalar, pro- de diferente complexidade de aplicação pode representar um
cedimentos seguros, hospital. alto risco. De forma simples (e muitas vezes inadequada), as
falhas em equipamentos e sistemas complexos são resultado
de uma sequência de múltiplas falhas menores deflagradas
I. INTRODUÇÃO sequencialmente e que compromete o resultado final; de
forma mais complexa, a engenharia de sistemas cognitivos
A segurança e seu devido risco relacionado ao paciente
[3] apresenta que múltiplos fatores contribuem em paralelo
tem grande importância desde o diagnóstico da doença até
para desencadear a causa raiz do problema – fato historica-
sua alta hospitalar. Com o início de investigação e tratamento
mente não atentado em medicina e engenharia.
da doença por parte da equipe de saúde, várias ações são to-
madas e que podem influenciar positiva ou negativamente até
o completo reestabelecimento da saúde do paciente. Uma es- II. O PACIENTE NO AMBIENTE HOSPITALAR
colha inadequada de equipamentos médicos e procedimentos
imprecisos podem influenciar no tempo de internamento, em Desde admissão até sua alta, o paciente passa por uma lo-
custos desnecessários, ações iatrogênicas e processos judici- gística singular e que requer atenção constante. O conceito de
ais. Em países desenvolvidos, apesar dos riscos inatos e sem- qualidade no modelo japonês é fundamentado na responsabi-
pre existentes, sua incidência é menor muitas vezes pelo es- lidade de todos, onde todos trabalham, fazem o seu trabalho,
tabelecimento já consolidado de prontuário eletrônico e e reportam qualquer coisa irregular no processo. De um certo
Quando observado o ambiente de uso do equipamento sem calibração acreditada por uma instituição reguladora,
médico, vários fatores entram em cena. Conhecemos bem a pode permitir cuidados inadequados ao paciente e passagem
interface entre o paciente e o dispositivo, porém devemos le- de informação inadequada à equipe que solicita avaliação
var em conta outros elementos da interface. Na presença de (por exemplo, avaliação de oximetria de pulso, pressão arte-
um evento adverso é importante identificar o principal ou os rial ou temperatura do paciente).
eventos causais. Nem sempre o ambiente de uso é uma Muitos dos países desenvolvidos já trabalham com alter-
grande cidade, com auxílio para manutenção ou disponibili- nativas e tecnologias promissoras que atendam pacientes por-
dade de conexão remota (por exemplo, meio rural). tadores de doenças sem necessidade de internamento de
Em um ambiente domiciliar, a presença de elementos emergência, portadores de doenças crônicas ou idosos. A
com grande capacidade de emissão eletromagnética é grande adaptação de gadgets (sejam eles hardware ou software) tam-
(televisores, forno microondas, telefones, etc.); presença de bém não certificados, criam uma falsa expectativa de soluci-
ruídos, mascarando o mal funcionamento; limpeza local (am- onar um problema de saúde. Como consequência podem aca-
biente estéril), presença de animais de estimação, humidade, bar negligenciando uma investigação aprofundada sobre uma
temperatura, condições de armazenamento, uso de acessórios condição clínica ou um acompanhamento ambulatorial efe-
não padronizados (off-label), grau de educação do usuário e tivo. Soma-se a isto também – mais uma vez – a dificuldade
cuidados com o equipamento no dia a dia além de capacidade de calibração destes dispositivos por entidades certificadas
física do usuário sobre o equipamento. com certificação confiável.
Formas suplementares para o modelo hospitalar, como
por exemplo o atendimento domiciliar de acordo com a dis-
ponibilidade do paciente em sua casa e ampliação da Tele-
medicina para humanizar o tratamento e desonerar o sistema
hospitalar carecem ainda de uma regulamentação mais ativa.
Apesar da grande facilidade de inserção de uma nova forma
de trabalho (com objetivo sempre de facilitar o diagnóstico
de uma doença) a investigação e identificação de potenciais
riscos associada à esta nova metodologia de trabalho reper-
cute indiretamente à saúde do paciente.
O fórum mundial de 2006 foi o evento chave para a criação principalmente os estudantes de pós-graduação e pesquisado-
do documento de referência para o Programa Nacional de Se- res tenham disponível o acesso aos fundamentos para o co-
gurança do Paciente [9]. nhecimento científico na realização de pesquisas e no desen-
volvimento tecnológico.
Tabela 1 Avaliação de Eventos Adversos em Hospitais Brasileiros Nas últimas duas décadas, a iniciativa da OMS em segu-
rança de pacientes divulgou para os diversos países signatá-
rios o desenvolvimento e engajamento em uma abordagem
Proporção de Dias a de cuidados e riscos, com o intuito de disseminar a metodo-
Tipo de Dano Evento Adverso mais de
logia de boas práticas voltadas para a segurança do paciente.
evitável (%) internação
As melhores metodologias da qualidade do processo estão
Infecção associada ao cuidado 24,62 226
dominadas pela indústria, e observam-se que estas práticas e
Complicações cirúrgicas / anestésicas 20 79
ferramentas são incorporadas e adaptadas para as necessida-
Dano por atraso, falha no diagnóstico ou
tratamento
18,46 59 des e condições de ambientes hospitalares – desde checklists,
Úlcera por pressão 18,46 9
até avançados sistemas de controle de logística e de recursos.
Os profissionais da saúde, médicos, enfermeiros, farma-
Complicações por punção venosa 7,69 0
cêuticos, fisioterapeutas, são capacitados para desenvolve-
Dano por queda 6,15 0
rem os seus trabalhos e habilidades profissionais sem preju-
Dano por medicamento 4,62 0
dicarem os pacientes, mas erros acontecem, tanto que Wu [9]
Total 100 373 denomina esses profissionais de “segundas vítimas” quando
ocorre algum erro prejudicando um paciente. São profissio-
nais competentes, capacitados, trabalhando num sistema sob
pressão, nem sempre com condições, equipamentos e recur-
III. CONCLUSÕES sos adequados, num sistema caótico, onde a segurança do pa-
ciente não é a prioridade. Na indústria existe o recall, tão co-
mum entre as automotivas. Na saúde é um erro onde todos os
A medicina sempre procura utilizar as melhores técnicas, envolvidos são vítimas
estudar caminhos alternativos e incorporar novas abordagens
em seus procedimentos. A adaptação de modelos complexos
e sistemas interativos de alta resposta passou de visão futu- CONFLITO DE INTERESSES
rista a equipamento de necessidade em ambiente hospitalar
(tão importante quanto a introdução de um eletrocauter em
uma época de bisturi e lâminas “frias”). Os autores do manuscrito apresentado não possuem con-
Com o passar do tempo, evoluiu o conceito de medicina flito de interesse.
baseada em evidências, e cada tornando-se cada vez mais atu-
alizado e adaptado às condições de cada local. Seja no Brasil
REFERÊNCIAS
como um modelo em desenvolvimento ou Estados Unidos
como uma plataforma de divulgação de novas tecnologias e
metodologias, o emprego de qualquer nova abordagem passa 1. Kohn LT, Corrigan J, Donaldson MS, To Err Is Human:
pela inspeção dos cuidados e investigação das relações com Building a Safer Health System. Washington, DC, National Aca-
o paciente. demy Press, 1999;
2. Brennan TA, Leape L, Laird NM, et al: Incidence of adverse
O desenvolvimento de trabalhos de pesquisa e a sua divul- events and negligence in hospitalized patients. N Engl J Med
gação ajudam as comunidades e organismos de apoio a gera- 324:370-376, 1991;
rem evidências científicas fidedignas e certificadas, auxiliado 3. Bisantz AM, Burns CM, Fairbanks RJ, Cognitive Systems Engi-
pelo constante avanço de tecnologia de comunicação, publi- neering in Health Care CRC Press, 1st ed, 2014;
4. Centers for Disease Control and Prevention. Available at
cações, da internet e no Brasil, do projeto da comunidade ci- http://www. cdc.gov/nchs/data/nhsr/nhsr011.pdf;
entífica através de programas COMUT (programa de comu- 5. Reason J: Human Error. Cambrige, England, Cambrige Univer-
tação bibliográfica – www.ibict.br). Além destes, o portal sity Press, 1990;
Periódico Capes (periodicos.capes.gov.br), que assina os 6. Mendes W , Travassos C, et al . Revisão dos estudos de avaliação
da ocorrência de eventos adversos em hospitais. Rev. bras. epi-
principais periódicos de todas as áreas de conhecimento, per- demiol., São Paulo , v. 8, n. 4, p. 393-406, 2005
mite que as instituições de ensino e pesquisa públicas / priva- 7. Mendes W, Martins M, et al, The assessment of adverse events in
das do Brasil tenham acesso a bases de conhecimento e in- hospitals in Brazil, Int J Qual Health Care. 21(4):279-84, 2009;
formações, garantindo que estudantes de graduação e
8. Brasil, ANVISA, Série Segurança do Paciente e Qualidade em 10. Wu, AW Medical error: the second victism, West J Med,
Serviços de Saúde, Livro 5 - Investigação de Eventos Adversos 172:358-359, 2000;
em Serviços de Saúde, 70 páginas, 1a. edição, 2013
9. Documento de referência para o Programa Nacional de Segurança
do Paciente, Ministério da Saúde / ANVISA, Brasília, 2014;