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REVISÃO NUTRIÇÃO E SAÚDE COLETIVA

1. Histórico das Políticas Públicas de Alimentação e Nutrição:


A alimentação e nutrição estão presentes na legislação recente do Estado Brasileiro, com destaque para a Lei
8.080, de 19/09/1990, que entende a alimentação como um fator condicionante e determinante da saúde e que
as ações de alimentação e nutrição devem ser desempenhadas de forma transversal às ações de saúde, em
caráter complementar e com formulação, execução e avaliação dentro das atividades e responsabilidades do
sistema de saúde.

• O marco que iniciou uma política de alimentação e nutrição foi a criação do SAPS – Serviço de
Alimentação da Previdência Social – em 1940, extinto em 1967. A ação tinha os trabalhadores como o
principal grupo populacional a ser beneficiado, otimizando o acesso à alimentação. Suas principais
atividades contemplavam o fornecimento de refeições, venda de alimentos a preços de custo, educação
alimentar, apoio a pesquisa e formação de pessoal técnico especializado.
Ainda na década de 40, foram criadas outras instituições executoras de políticas de alimentação no Brasil com
o intuito de estudar hábitos alimentares e a situação nutricional do país:
• Serviço Técnico de Alimentação Nacional – STAN (1942-1945);
• Instituto de Tecnologia Alimentar – ITA (1944);
• Comissão Nacional de Alimentação – CNA (1945-1972).
Este último, teve como principal pauta a desnutrição e auxiliou na elaboração da Política Nacional de Alimentação
junto ao governo. Foi no CNA que surgiu o Programa Nacional de Merenda Escolar (1954), vigente nos dias
atuais, aprimorado para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) foi aprovada em junho de 1999 e é uma declaração do
compromisso do Ministério da Saúde com a erradicação dos males relacionados à falta de alimentos e à pobreza,
principalmente a desnutrição infantil e materna, e também o sobre- peso e a obesidade na população adulta.
Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN):
• Aprovado em junho 1999 e atualizada pela Portaria n°2715, de 17 de novembro de 2011;
• Propósito: Melhoria das condições de alimentação, nutrição e saúde da população brasileira;

2. Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN)


O principal objetivo desse sistema do governo é monitoramento do estado nutricional (classificação a partir de
dados de peso e estatura) e alimentar (consumo alimentar).
A partir dessa coleta de informações, o governo obtém uma base sólida, que possibilita a criação e o
planejamento de programas, relacionados às políticas de melhoria para alimentação.
Tais dados acabam sendo usados também para a pesagem do Bolsa Família, com objetivo de checar se há
casos de desnutrição, conferindo, assim, a saúde de mulheres e crianças inscritas no programa.
Para que serve:
a) Manter o diagnóstico atualizado da situação de saúde do município, Estados e País, diagnosticando os
problemas referentes à situação alimentar e nutricional que possuam relevância em termos de saúde pública
num determinado território;
b) Identificar territórios e grupos populacionais sob risco, avaliando as tendências temporais de evolução e
problemas detectados;
c) Reunir e organizar dados que possibilitem identificar e ponderar os fatores mais relevantes na origem desses
problemas;
d) Oferecer ferramentas para o planejamento e a execução de medidas para melhoria da situação alimentar e
nutricional da população brasileira;
e) Monitorar as ações realizadas na Rede Amamenta Brasil e na Estratégia Nacional para Alimentação
Complementar Saudável;
f) Monitorar o estado nutricional e consumo alimentar de escolares acompanhados pela unidade de saúde de
referência e/ou equipe de saúde de referência, no âmbito do Programa Saúde na Escola (PSE).
No contexto do setor saúde, o SISVAN contempla quatro eixos interligados:
• SISTEMA: Padronização de atividades, isto é, tarefas organizadas de receber, tratar, analisarem dados
e informações para devolvê-los à rede do Sistema Único de Saúde (SUS) e à sociedade, retro
alimentando os setores responsáveis pelo planejamento, gestão e controle social dos programas e
políticas públicas.
• VIGILÂNCIA: Engloba quaisquer atividades rotineiras e contínua de coleta, processando, análise e
interpretação dos dados: recomendação de medidas de controle apropriadas: promoções das ações de
controle indicadas; ava0liação da eficácia e efetividade das medidas adotadas; e divulgação de
informações pertinentes.
• ALIMENTAR: Envolve os aspectos relativos à promoção de práticas alimentares saudáveis e à
prevenção e ao controle dos distúrbios alimentares e de doenças associadas à alimentação.
• NUTRICIONAL: Considera o estado nutricional de coletividades como resultante do equilíbrio entre o
consumo alimentar e a utilização biológico e sua estreita relação com o estado de saúde.
(CECAN/ENSP/FIOCRUZ 2002).

3. Conceito e Histórico de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN)


Conceito: “Garantir a todos condições de acesso a alimentos de qualidade em quantidade suficiente, de modo
permanente e sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, com base em práticas
alimentares saudáveis, contribuindo assim uma existência digna”
Segundo a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional – LOSAN (Lei nº 11.346, de 15 de setembro de
2006), por Segurança Alimentar e Nutricional – SAN entende-se a realização do direito de todos ao acesso
regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras
necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a
diversidade cultural e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis.
Uma política de SAN avança em relação às ações e programas desenvolvidos por esses diferentes segmentos
ao promover os seguintes princípios:
• Abrangência – SAN como objetivo estratégico de governo; inserção do componente de SAN em todos
os setores; universalização das políticas.
• Intersetorialidade – Articulação das ações entre os diferentes setores de um mesmo nível de governo
- municipal, estadual e federal - e entre esses diferentes níveis de governo; articulação das ações da
sociedade civil; projetos integradores das ações setoriais.
• Equidade – Garantia de acesso; ações de inclusão social; informação e monitoramento.
• Participação e controle social – Participação da sociedade civil na formulação e implementação das
políticas; representatividade das organizações; equidade de representação no processo decisório;
acesso à informação sobre os programas.
Eixos da SAN:
• Ampliar acesso à alimentação, garantindo:
Acesso à terra e condições para nela produzir; apoio à agricultura familiar; garantia de renda mínima.
• Assegurar a qualidade biológica, sanitária, nutricional e tecnológica dos alimentos e seu aproveitamento,
estimulando práticas alimentares e estilos de vida saudáveis.
• Assegurar saúde, nutrição e alimentação a grupos específicos.

4. Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN)


Trata-se de um sistema de gestão intersetorial, participativa e de articulação entre os três níveis de governo para
a implementação e execução das Políticas de Segurança Alimentar e Nutricional, para promover o
acompanhamento, o monitoramento e avaliação da segurança alimentar e nutricional do país.
A execução da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN) envolve a integração dos
esforços entre governo e sociedade civil e ações e programas estratégicos como:
➢ Acesso a Água (Cisternas);
➢ Fomento Rural às atividades produtivas da agricultura familiar;
➢ Programa de Aquisição de Alimentos (PAA);
➢ Apoio à Agricultura Urbana e Periurbana;
➢ Distribuição de Alimentos;
➢ Inclusão Produtiva Rural de Povos e Comunidades Tradicionais e/ou Grupos e populações tradicionais e
específicos;
➢ Apoio a estruturação de Equipamentos Públicos de Alimentação e Nutrição, como Rede de Bancos de
Alimentos, Restaurantes Populares e Cozinhas Comunitárias;
➢ Ações de apoio a Educação Alimentar e Nutricional, etc.
São ações que vão desde o campo do fomento à produção, até a comercialização, distribuição e consumo de
alimentos saudáveis como forma de garantia do Direito Humano a Alimentação Adequada e o combate a todas
as formas de má nutrição.
Quais objetivos?
O sistema público visa promover e garantir o acesso à alimentação adequada e a segurança alimentar e
nutricional como direito fundamental do ser humano, de modo a:
➢ Formular, articular e implementar, de maneira intersetorial e com a participação da sociedade civil organizada
políticas, planos, programas e ações de segurança alimentar e nutricional em âmbitos nacional, estadual e
municipal, com vistas em assegurar o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA);
➢ Monitorar e avaliar as mudanças que ocorreram na área de alimentação e nutrição e;
➢ Verificar o impacto dos programas e ações de segurança alimentar e nutricional sobre a população a qual se
destinava a política.

Como é feita a adesão?


A adesão ao SISAN é voluntária e foi regulamentada pelo Decreto nº 7.272, de 25 de agosto de 2010, artigo 11,
§ 2º, que estabelece os seguintes requisitos mínimos para a adesão:
1) Instituição do Conselho estadual, distrital ou municipal de segurança alimentar e nutricional (CONSEA),
composto por dois terços de representantes da sociedade civil e um terço de representantes
governamentais. O CONSEA deve ser presidido por um representante da sociedade civil local;
2) Instituição da Câmara ou instância governamental de gestão intersetorial de segurança alimentar e
nutricional (CAISAN);
3) Compromisso de elaboração do plano estadual, distrital ou municipal de segurança alimentar e nutricional,
no prazo de um ano, a partir da assinatura do termo de adesão, observado o disposto no art. 20 do Decreto Nº
7.272/2010.

5. Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN)


(Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006). Trata-se de um dos marcos legais para a segurança alimentar e
nutricional no país.
A lei “estabelece definições, princípios, diretrizes, objetivos e composição do Sistema Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional (Sisan)”. Por meio do Sisan, “o poder público, com a participação da sociedade civil
organizada, formula e implementa políticas, planos, programas e ações com vistas em assegurar o direito
humano à alimentação adequada”.
De acordo com a Losan, “a alimentação adequada é direito fundamental do ser humano, inerente à dignidade
da pessoa humana e indispensável à realização dos direitos consagrados na Constituição Federal, devendo o
poder público adotar as políticas e ações que se façam necessárias para promover e garantir a segurança
alimentar e nutricional da população”. A lei também definiu um conceito para a segurança alimentar e nutricional.
Segundo a lei, o Sisan deve ser regido pelos seguintes princípios: universalidade e equidade no acesso à
alimentação adequada, sem qualquer espécie de discriminação; preservação da autonomia e respeito à
dignidade das pessoas; participação social na formulação, execução, acompanhamento, monitoramento e
controle das políticas e dos planos de segurança alimentar e nutricional em todas as esferas de governo; e
transparência dos programas, das ações e dos recursos públicos e privados e dos critérios para sua concessão.
Também estabelece as diretrizes a serem observadas: promoção da intersetorialidade das políticas, programas
e ações governamentais e não-governamentais; descentralização das ações e articulação, em regime de
colaboração, entre as esferas de governo; monitoramento da situação alimentar e nutricional, visando a subsidiar
o ciclo de gestão das políticas para a área nas diferentes esferas de governo; conjugação de medidas diretas e
imediatas de garantia de acesso à alimentação adequada, com ações que ampliem a capacidade de subsistência
autônoma da população; articulação entre orçamento e gestão; e estímulo ao desenvolvimento de pesquisas e
à capacitação de recursos humanos.
6. Direito Humano à Alimentação Adequada e Saudável (DHAA)
O que é o direito humano à alimentação adequada?
É o direito de cada pessoa ter o acesso físico e econômico, ininterruptamente, à alimentação adequada ou aos
meios para obter estes alimentos, sem comprometer os recursos para obter outros direitos fundamentais, como
saúde e educação.
Este direito humano, fundamental e social está previsto nos artigos 6º e 227º da Constituição Federal, definido
pela Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional, bem como no artigo 11 do Pacto Internacional de
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e outros instrumentos jurídicos internacionais. Deste modo, é uma
norma jurídica autoaplicável, isto é, de aplicação imediata, de forma progressiva e contínua. A inserção do DHAA
no artigo 6º da Constituição Federal reforça as condições para a sua exigibilidade
Objetivo Fundamental da Campanha: é fortalecer a mobilização para que o direito humano à alimentação
adequada seja realidade para toda a população brasileira e, em especial, para as populações em situação de
vulnerabilidade social, dentre elas as populações negras e povos e comunidades tradicionais e indígenas.
Como o Estado deve garantir o direito humano à alimentação adequada?
O Estado tem a obrigação de respeitar, proteger e realizar este direito. Respeitar significa que o Estado, em
hipótese alguma, pode tomar quaisquer medidas que possam bloquear o acesso livre e permanente à
alimentação adequada. A obrigação de proteger requer que o Estado seja ativo no sentido de tomar todas as
medidas possíveis para evitar que terceiros (empresas ou indivíduos) privem as pessoas de seu direito à
alimentação. E realizar se expressa em duas dimensões: (1) a obrigação de o Estado prover a alimentação das
pessoas que por algum motivo alheio à sua vontade e determinação, não conseguem garantir de maneira
autônoma sua alimentação por viverem na pobreza ou por serem vítimas de catástrofes e calamidades; (2) a
obrigação de promover políticas públicas que garantam a realização do direito à alimentação de toda a sua
população.

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