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SÃO PAULO
2020
RENATA PEREIRA PINTO
SÃO PAULO
2020
RENATA PEREIRA PINTO
Aprovada em:
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________
Profª. Drª. Lourdes Regina Jorgeti
Universidade Presbiteriana Mackenzie
___________________________________________________
Msª Erica Escolano
Universidade Presbiteriana Mackenzie
___________________________________________________
Professor:
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Dedico este trabalho primeiramente a Deus, pois
Ele é antes de todas as coisas...
Aos meus pais e irmã, que com muita paciência e
compreensão tornaram a caminhada menos árdua.
AGRADECIMENTOS
Inicialmente, agradeço a Deus por me permitir viver momentos tão singulares ao longo destes
cincos anos. De todos os presentes da vida, o Mackenzie, certamente, foi um deles.
Aos meus pais que, com todo amor, sonharam e caminharam ao meu lado nesta jornada, que
não me deixaram desistir um minuto sequer, mesmo diante do cansaço e das noites mal
dormidas, que compreenderam as ausências e que me inspiram a buscar mais, a ser mais. À
minha irmã, Simone, que dia após dia, me lembra do quão capaz sou em tudo que faço que
incansavelmente me escuta e torna o dia-a-dia leve com mais cor e risos. A vocês, toda minha
honra.
Aos meus amigos: Avany, Bruna, Guilherme, Gustavo, Izabelle e Luis Felipe, por tornarem
toda a trajetória mais leve, por me apoiarem em tantos momentos e por se fazerem presente.
Ao Lucas, que com muita compreensão e incentivo tem se colocado de maneira tão disponível
a aprender juntamente comigo. A vocês todo meu carinho e gratidão.
À minha orientadora, Regina Jorgeti, por todos os ensinamentos, por todo zelo e
compreensão. Por me orientar de maneira tão singular e de forma tão inspiradora. A você todo
meu respeito e admiração.
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo demonstrar o posicionamento da doutrina e das decisões
do Superior Tribunal de Justiça acerca da interposição do recurso adesivo cruzado nos
Tribunais Superiores. O recurso adesivo excepcional cruzado trata-se de uma derivação de
interposição de recurso adesivo. Abre-se esta possibilidade de interposição adesiva cruzada,
quando em situação fática, uma das partes sucumbentes fica impossibilitada de interpor seu
recurso adesivamente, pois seu interesse recursal não é cabível de acordo com a
fundamentação vinculada dos recursos direcionados aos Tribunais Superiores. Desta forma,
interpõe-se o recurso adesivo cruzado entre os Tribunais Excepcionais. Assim, o trabalho,
inicialmente discorrerá acerca dos recursos que envolvem o tema: recurso extraordinário,
recurso especial e recurso adesivo; logo após, explanaremos sobre o recurso adesivo cruzado
nos tribunais superiores, pontuando o posicionamento da doutrina e qual a fundamentação
utilizada pelo Superior Tribunal de Justiça. E, por fim, serão demonstradas as razões para
admissibilidade desta modalidade recursal.
The present monography proposes to explain the positioning of the doctrine and decisions of
the Superior Court of Justice about the interposition of the cross adhesive appeal in the
Superior Courts. The exceptional cross adhesive appeal is a derivative of the interposition of
the adhesive petition. This possibility of cross-adhesive interposition opens up when in a
factual situation, one of the succumbing parties is unable to interpose their appeal adhesively,
since their appeal is not applicable according to the related reasoning of the appeals directed
to the Superior Courts. So, the cross-adhesive appeal between the Exceptional Courts is filed.
Consequently, the work will initially discuss the petition that involves the theme:
extraordinary appeal, special appeal, and adhesive petition; soon after, we will explain about
the cross adhesive appeals in the higher courts, punctuating the positioning of the doctrine and
what reasoning is used by the Superior Court of Justice. Finally, the reasons for the
admissibility of this appeal will be demonstrated.
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10
CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 62
INTRODUÇÃO
temática proposta, bem como periódicos disponibilizados por meio digital e a legislação
vigente.
12
1. LINEAMENTOS HISTÓRICOS
De um lado, nos Estados Unidos, no ano de 1789, editava-se pelo Congresso dos
Estados Unidos a primeira lei orgânica do Judiciário, denominada “Judiciary Act”. Constava
no documento a regulamentação da competência recursal à Suprema Corte; disciplinado o
“writ of error”, ou seja, na tradução literal, de recurso devido a erro, definia-se que mediante
o recurso, era papel da Suprema Corte rever decisões finais em casos específicos, que mais
tarde fora substituída pelo “writ of certionari”. 3
Por outro lado, em 1970, partindo da Revolução Francesa, instituía-se a Corte de
Cassação. Conclui Del Vecchio que o “homem advindo do liberalismo” deixa este cenário do
ideal jus naturalismo, passando a fincar suas bases no jus positivismo. 4
Naquele cenário, a Corte de Cassação (instituída na Europa) constituía-se em um
órgão, fora da estruturação do Poder Judiciário, nele a “pureza” da lei era mantida, afastando
qualquer interpretação equivoca da lei, o objetivo maior configurava a manutenção de um
1
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores: precedentes no direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 288 p.
2
SILVA, José Afonso da. Do recurso extraordinário no direito processual civil brasileiro. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1963. 5 p.
3 ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores: precedentes no direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 296 p.
4 VECCHIO, Giorgio del; DANTAS, Pedro. Filosofia del Derecho. Barcelona: Bosch, 1980. 171 p.
13
sistema com segurança jurídica. Pretendia-se com isto, estruturação econômica para servir
como diretriz à Revolução.5
Atualmente, no sistema judiciário brasileiro, não se trata de Corte de Cassação; as
competências desenvolvidas pelo Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal
tratam de dirimir as ilegalidades e inconstitucionalidades. 6
Sob influência, mas de modo diverso, o federalismo brasileiro, deu-se de maneira
contraria a norte-americana, isto porque, o sistema utilizado nos Estados Unidos, e neste
ponto pontuamos que os Estados Unidos possuíam um sistema de Confederação por
agregação e somente mais tarde com Hamilton, Madison e Jay, que criou-se uma organização
em Federação.
5
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores: precedentes no direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 298 p.
6
Ibid, 392 p.
7
ANDRADE, Júnio Mendonça de; SANTOS, Karlos Kleiton dos; JESUS, Gustavo Santana de. Formação do
Federalismo Norte-Americano e do Federalismo Brasileiro. Interfaces Científicas - Direito, [s.l.], v. 5, n. 2, p.
29, 02 fev. 2017. Universidade Tiradentes. Disponível em:
https://periodicos.set.edu.br/index.php/direito/article/viewFile/3594/2137. Acesso em: 04 abr. 2020.
8
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores: precedentes no direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 300 p.
14
Suplicação do Brasil – criação do príncipe regente, que à época, com competências menos
amplificadas – que mais tarde este papel foi assumido pelo Superior Tribunal de Justiça.9
Desde 1934, a concentração de poderes em um único ente era perceptível. Com a
tentativa de zelar pelo Supremo Tribunal Federal e seguir o modelo norte-americano,
denominou-se o STF de “Corte Suprema”, porém, ampliando novamente a competência desta
Corte. 10 Neste cenário, o Brasil encontrava-se sob o governo de Getúlio Vargas, que no ano
de 1937, com o fechamento do Congresso e a instalação do Estado Novo, outorga-se a
Constituição de 1937.
Após a Constituição de 1937, que não trouxe em seu bojo mudanças acerca de uma
Suprema Corte, sua única mudança, deu-se em relação à denominação, voltando a utilizar-se
“Supremo Tribunal”. Todavia, no ano de 1946, após a saída de Vargas do poder, uma nova
Constituição permitiu aos Estados autonomia. Preceitua José Afonso da Silva:
Para que ocorresse a separação de competências nos Tribunais Superiores como trouxe
a Constituição de 1988, tivemos a chamada “Crise do Judiciário”. Podemos dividi-la em dois
9
O Supremo Tribunal Federal. 1976. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/publicacaoPublicacaoInstitucionalCuriosidade/anexo/Plaqueta__O_Supremo_
Tribunal_Federal__1976.pdf. Acesso em: 22 abr. 2020.
10
O Supremo Tribunal Federal. 1976. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/publicacaoPublicacaoInstitucionalCuriosidade/anexo/Plaqueta__O_Supremo_
Tribunal_Federal__1976.pdf. Acesso em: 22 abr. 2020
11
SILVA, José Afonso da. Do recurso extraordinário no direito processual civil brasileiro. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1963. 9 p.
12
ANDRADE, Júnio Mendonça de; SANTOS, Karlos Kleiton dos; JESUS, Gustavo Santana de. Formação do
Federalismo Norte-Americano e do Federalismo Brasileiro. Interfaces Científicas - Direito, [s.l.], v. 5, n. 2, p.
29, 02 fev. 2017. Universidade Tiradentes. http://dx.doi.org/10.17564/2316-381x.2017v5n2p29-36. Disponível
em: https://periodicos.set.edu.br/index.php/direito/article/viewFile/3594/2137. Acesso em: 21 abr. 2020.
15
13
AVELAR, Lúcia; CINTRA, Antônio Octávio (org.). Sistema Político Brasileiro: uma introdução. 3. ed. São
Paulo: Unesp, 2015. 38 p.
14
Ibid., 40 p.
15
Ibid., 43 p.
16
ANDRADE, Júnio Mendonça de; SANTOS, Karlos Kleiton dos; JESUS, Gustavo Santana de. Formação do
Federalismo Norte-Americano e do Federalismo Brasileiro. Interfaces Científicas - Direito, [s.l.], v. 5, n. 2, p.
36, 02 fev. 2017. Universidade Tiradentes. http://dx.doi.org/10.17564/2316-381x.2017v5n2p29-36. Disponível
em: https://periodicos.set.edu.br/index.php/direito/article/viewFile/3594/2137. Acesso em: 21 abr. 2020.
16
Merece destaque, desde já, o registro de que até o ano de 1988, quando foi
editada a nossa vigente Constituição, o STF era responsável pela manutenção da
inteireza de todo o direito federal: constitucional e infraconstitucional. Com a
promulgação da vigente Constituição, e a criação do STJ, essa competência foi
fracionada, transferindo-se, ao recém-criado tribunal, a função de zelar pelo
direito federal infraconstitucional, restando, ao STF, a missão de velar pela
Constituição.17
17
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores: precedentes no direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 299 p.
18
Ibid., 305 p.
19
Ibid., 305 p.
20
OLIVEIRA, Pedro Miranda. Recurso Excepcional Adesivo Cruzado. Santa Catarina: Revista da Esmesc, v.
13, n. 19, 2006. 265 p.
17
Por outro lado, há também as hipóteses em que ambos os recursos devem ser
interpostos simultaneamente (item 23.2) sob pena de um deixar de ser conhecido se
o outro não o for: são casos da aplicação das Súmulas 283/STF e 126/STJ. São
hipóteses em que a decisão impugnada se assenta em dois fundamentos, que são, per
se, suficientes para mantê-la em pé. Ou ambos são atacados ou falta à parte interesse
em recorrer, já que o pronunciamento de um só dos recursos não terá o condão de
trazer-lhe vantagem. 24
21
OLIVEIRA, Pedro Miranda. Recurso Excepcional Adesivo Cruzado. Santa Catarina: Revista da Esmesc, v.
13, n. 19, 2006. 265 p.
22
Súmula 283 do STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de
um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles. BRASIL. Súmula do STF nº 283, de 1963.
Brasília, DF, Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=283.NUME.%20NAO%20S.FLSV.&base
=baseSumulas. Acesso em: 23 abr. 2020.
23 Súmula 126 do STJ: É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido assenta em fundamentos
constitucional e infraconstitucional, qualquer deles sufi ciente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não
manifesta recurso extraordinário. BRASIL. Súmula do STJ nº 126, de 1995. Brasília, DF, Disponível em:
https://scon.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=@num=%27126%27 Acesso em: 23 abr. 2020.
24
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores: precedentes no direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 304-
305 p.
25
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil. 5. ed. São Paulo: Saraiva,
2014. 173 p.
26
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 8. ed. Salvador: Juspodivm,
2016. 2614 p.
18
Os recursos ordinários, por sua vez, são tidos como a regra, ou seja, todos os recursos
com previsão legal no ordenamento jurídico, que não sejam os excepcionais, são recursos
ordinários. 27
27
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 8. ed. Salvador: Juspodivm, 2016.
2614 p.
19
2. RECURSO EXTRAORDINÁRIO
A primeira observação que se há de fazer para que bem se compreenda o que são os
recursos extraordinários em sentido amplo, recursos excepcionais ou anormais, é
que não se trata de um terceiro grau de jurisdição. Não se está diante de recursos que
propiciem um mero reexame de matéria já decidida, sob os aspectos fático e
jurídico, tal como a apelação faz em relação à sentença ou o agravo em relação à
decisão interlocutória. Por isso são chamados extraordinários em sentido amplo –
28
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense Ltda,
2015. 1397-1398 p.
29
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.2. Acesso em: 11
nov. 2019.
20
Dito isto, exprimimos que o recurso extraordinário possui por finalidade um equilíbrio
na preleção de decisões do direito em âmbito nacional, ou seja, busca-se com a interposição
deste recurso que as regras constitucionais possuam maior efetividade em sua aplicação e uma
uniformidade em sua interpretação das leis constitucionais.
O artigo 102, ll, a, trata de decisão que contraria dispositivo da Constituição Federal.
Esta alínea trata de uma questão que embora trate de um exame de mérito, suscita o exame de
admissibilidade do recurso32. O órgão “a quo” ao realizar o exame de admissibilidade, não
entra no mérito do recurso, porém os recursos interpostos com base nesta alínea sofrem uma
30
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 16. ed. São Paulo:
Revistas dos Tribunais, 2016. 601 p.
31
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense Ltda,
2015. 1399 p.
32
DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: meios de
impugnações às decisões judiciais e processo nos tribunais. 17. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. 445 p.
21
A Constituição foi alterada nesse ponto para estabelecer que caiba recurso
extraordinário – e não especial – contra acórdão que julgar válida lei local
contestada em face de lei federal. É que, nesse caso, a controvérsia que se põe não
concerne meramente à legislação infraconstitucional. Em verdade, a disputa diz
respeito à distribuição constitucional de competência para legislar: se a lei local está
sendo contestada em face da lei federal, é porque se sustenta que ela tratou de
matéria que, por determinação constitucional, haveria de ser disciplinada pelo
legislador federal. 36
O texto constitucional ainda traz três parágrafos. O primeiro versa sobre a interposição
de recurso excepcional extraordinário, como nos casos de “arguição de descumprimento de
33
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.2. Acesso em: 11
nov. 2019.
34
DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: meios de
impugnações às decisões judiciais e processo nos tribunais. 17. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. 449 p.
35
Ibid, 451 p.
36
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.2. Acesso em: 13
nov. 2019.
22
Depreendemos neste parágrafo que as decisões tomadas pelo STF geram efeito erga
omnes, vinculando instâncias inferiores em qualquer das esferas.
Quanto aos pressupostos de admissibilidade do recurso extraordinário, o julgamento
da causa, em última ou única instância, que engloba tanto decisões finais de mérito, como
questões dirimidas em decisão interlocutória, ficando exclusos da possibilidade de cabimento
os acórdãos que deferem a tutela provisória, pois em sua essência envolve matéria fática, não
compatível com o objeto do recurso que consta da Súmula nº73538, do STF.39
Outro pressuposto de admissibilidade consiste na existência de questão federal
constitucional. Somente poderá ser admissível pela via do recurso extraordinário questões de
direito, em outras palavras, a direta aplicação e interpretação da lei. Caso o debate discuta os
fatos do caso, bem como a veracidade em que se o mesmo ocorreu, torna-se uma questão de
fato, restando o recurso prejudicado. 40
No que toca a observância dos prazos legais, observa-se que o prazo para a
interposição de recurso extraordinário será de 15 dias úteis, contados a partir da intimação do
julgamento impugnado, de acordo com o artigo 1.00341 do Código de Processo Civil. 42
37
Artigo 102, § 1º: A argüição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta Constituição, será
apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei. (Transformado em § 1º pela Emenda
Constitucional nº 3, de 17/03/93). BRASIL, Constituição Federal, Artigo 102, § 1º. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 15 jun 2020.
38
Súmula 735: Não cabe recurso extraordinário contra acórdão que defere medida liminar. BRASIL. Súmula do
STF nº 735, de 2003. Brasília, DF, Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2177. Acesso em: 15 jun. 2020.
39
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual civil,
processo de conhecimento e procedimento comum, vol. iii. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. 1092 p.
40
Ibid, 1092 p.
41
Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados, a sociedade de
advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão. § 5º
Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para responder-lhes é de 15 (quinze)
dias. BRASIL. Código de Processo Civil nº Artigo 1.003, de 2015. . Brasília, DF, Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 15 jun. 2020.
42
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual
civil, processo de conhecimento e procedimento comum, vol. iii. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. 1092 p.
23
Este dispositivo prevê que cabe ao recorrente – aquele que interpõe o recurso –
demonstrar a repercussão geral para admissibilidade do recurso. Embora pareça um dos
requisitos de admissibilidade, em consonância com o artigo 1.035 do Código de Processo
Civil, é um requisito cumulativo, devendo estar presente para admissão do recurso uma das
alíneas do artigo 102 da Constituição Federal, cumulativamente com a efetiva demonstração
da repercussão geral.
Tal dispositivo traz um ônus ao recorrente para a demonstração da repercussão geral
das questões constitucionais discutidas no caso, para que o tribunal examine a admissão do
recurso e somente possa negá-lo com a manifestação de dois terços de seus membros. Deste
modo, se interposto recurso extraordinário e nele conter item que se possa afirmar repercussão
geral, passa-se a ter uma presunção de repercussão geral, que somente será refutada por 2/3 do
dos membros para deixar de conhecer do recurso tendo em vista a falta de repercussão geral. 43
O conceito de repercussão geral é aberto, ficando a cargo de leis infraconstitucionais
44
delimitarem as questões que poderão ser consideradas como repercussão geral. O parágrafo
1º do artigo 1.035 do CPC dispõe que “será considerada a existência ou não de questões
relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassarem os
interesses subjetivos do processo”. Destacam Fredie Didier e Leonardo Carneiro:
43
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 454 p.
44
MARIRONI, Luis Guilherme, e ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de conhecimento. 4 ed. São
Paulo: RT, 2005, p. 558.
45 DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 13. ed.
Salvador: Juspodivm, 2016. 339 p.
24
De outro giro, Talamini e Wambier, em seu livro propõem uma sistematização quanto
à repercussão geral. Primeiramente, necessário verificar a aferição de repercussão geral,
verificando se ao caso concreto encontram-se questões relevantes de caráter econômico,
político, social ou jurídico. Logo após, somente poderá ser inadmitido o recurso, caso dois
terços dos ministros do Supremo Tribunal Federal concluírem pela inexistência de
repercussão geral ao caso concreto. 46
A averiguação de existência quanto à repercussão geral, é competência exclusiva do
Supremo Tribunal Federal (artigo 1.035, parágrafo 2º). Cabe ressaltar que caso o STF decidir
pelo não reconhecimento de repercussão geral, os processos que versarem sobre matéria
idênticas, serão de pleitos inadmitidos pelo juízo de admissibilidade do juízo “a quo”, sem
que haja o remetimento análise do recurso. Porém, em caso de reconhecimento de repercussão
geral, será determinada a suspensão do processamento dos recursos, individuais ou coletivos,
em todo o território nacional, que versem sobre a matéria em discussão, devendo ser julgado
pela corte no prazo máximo de um ano (artigo 1.035, parágrafo 9º).
Ademais, A Súmula 283 do Supremo Tribunal Federal 47 pontua que não será admitido
recurso pautado em mais de uma fundamentação e uma desta não aceita como repercussão
geral. Preceitua Fredie Diddier Junior, que se um os fundamentos da decisão não oferece o
requisito de repercussão geral, não será admitido o recurso especial. 48
Ainda no que tange a repercussão geral, temos a figura da presunção absoluta de
repercussão geral, ou seja, que os indícios derivados da situação fática, que levam à
repercussão geral.
De acordo com o §º3 do art. 1.035, haverá repercussão geral no recurso extraordinário
nas hipóteses em que o acórdão contrariar súmula ou jurisprudência dominante do Superior
Tribunal de Justiça, ou quando houver reconhecimento de inconstitucionalidade de tratado ou
lei federal (art. 1.035, §3º, ll, CPC). Embora revogado o inciso ll, do referido parágrafo do
artigo 1.035, o §1º, do art. 987 do CPC, versa sobre a presunção absoluta de repercussão geral
46
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 16. ed. São Paulo:
Revistas dos Tribunais, 2016. 607-608 p.
47
Súmula 283 do STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de
um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles. BRASIL. Súmula do STF nº 283, de 1963.
Brasília, DF, Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=283.NUME.%20NAO%20S.FLSV.&base
=baseSumulas. Acesso em: 23 abr. 2020.
48
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 13. ed.
Salvador: Juspodivm, 2016. 428 p.
25
2.3 Pré-questionamento
49
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 459 p.
50
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 16. ed. São Paulo:
Revistas dos Tribunais, 2016. 610 p.
51
Súmula 282 do STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a
questão federal suscitada. BRASIL. Súmula do STF nº 282, de 1963. Brasília, DF, Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2496. Acesso em: 15 jun. 2020.
52
Súmula 356 do STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de
um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles. BRASIL. Súmula do STF nº 356, de 1963.
Brasília, DF, Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2648. Acesso em: 15 jun. 2020.
53
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. AgRE nº 1073395. Relator: Relator Ministro Luiz Fux. Diário Oficial
da União. Brasília, DF. Julgado em: 07 dez. 2018. DJe disponível em: 17 dez. 2018. Disponível em:
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur397053/false. Acesso em: 23 mar. 2020.
26
Com efeito, Fredie Didier Junior e Leonardo Carneiro, versam que o pré-
questionamento consiste no enfrentamento pelo tribunal recorrido do acórdão impugnado. O
pré-questionamento é um dos requisitos de admissibilidade do recurso extraordinário. Seu
propósito é que o Tribunal Superior, quando realizar o julgamento de um recurso excepcional,
somente o deve fazê-lo caso o objeto do recurso tenha sido enfrentado pelo órgão julgador do
qual se está recorrendo. 55
54
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. AgReg. em RE nº 1070340. Relator: Relator Ministro Alexandre de
Moraes. Diário Oficial da União. Brasília. Brasília, DF. Julgado em: 04 de abril de 2018. DJe disponível em: 17
abr. 2018. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur383608/false. Acesso em: 23 mar.
2020.
55
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 459 p.
56
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB- 29.5. Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.5. Acesso em: 11
nov. 2019.
57
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 389 p.
27
embargante suscitou e foram estes incluídos no acórdão, ainda que mediante a inadmissão ou
rejeição dos embargos declaratórios.58
No mais, para que haja a figura do pré-questionamento, a mera indicação ou menção
ao dispositivo legal, mas faz-se necessária manifestação, debate ou discussão sobre a matéria
levantada. 59
Importante destacar, desde logo, que o simples reexame de provas não comporta a
interposição do recurso extraordinário. A competência do STF delimita-se a julgar a causa
aplicando o direito à espécie; sua analise permeia apenas e tão somente a correta aplicação do
direito, não cabendo um reexame dos fatos, que toca no conteúdo probatório da ação.
O conceito de reexame de prova deve ser atrelado ao de convicção, pois o que não se
deseja permitir, quando se fala em impossibilidade de reexame de prova, é a
formação de nova convicção sobre os fatos. Não se quer, em outras palavras, que os
recursos extraordinário e especial viabilizem um juízo que resulte da análise dos
fatos a partir das provas (...) a qualificação jurídica do fato é posterior ao exame da
relação entre a prova e o fato e, assim, parte da premissa de que o fato está
provado 60
2.5 Procedimento
58
Ibid., 391 p.
59
Ibid., 390 p.
60
MARINONI, Luiz Guilherme. Rexame de Prova Diante dos Recursos Especial e Extraordinário. Curitiba:
Revista Genesis, v. 35, 1996. 128-145 p.
61
Súmula 279 do STF: Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário. BRASIL. Súmula do
STF nº 279, de 1963. . Brasília, DF, Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=279.NUME.%20NAO%20S.FLSV.&base
=baseSumulas. Acesso em: 15 jun. 2020.
62
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 384 p.
28
2.6 Efeitos
É comum na doutrina a afirmação de que os recursos de estrito direito não têm efeito
devolutivo em sua dimensão vertical (profundidade). Essa assertiva aplica-se ao
juízo de cassação, isso é, ao primeiro momento lógico do julgamento de provimento
recursal, em que a decisão é anulada: o tribunal superior se adstringirá à questão
constitucional ou federal infraconstitucional posta na decisão, a fim de verificar se a
solução dada a ela foi à correta. Mas tal limitação de profundidade não se aplica à
63
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.8 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.8. Acesso em: 13
nov. 2019.
64
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.8 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.8. Acesso em: 13
nov. 2019.
65
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual
civil, processo de conhecimento e procedimento comum, vol. iii. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. 1415 p.
30
Por fim, os efeitos recursais servem de modo geral, para “definir” o que acontecerá
no mundo jurídico mediante a decisão proferida.
2.7 Preparo
O preparo recursal deve ser recolhido pela parte recorrente previamente perante o
tribunal a quo. Regulado pela Lei nº11. 636/2007, que versa sobre o recolhimento de custas
tanto no recurso extraordinário, quanto nos recursos especiais, o preparo compreende
custas gerais do processo, além do porte de remessa e retorno, devendo ser recolhido no
prazo de sua interposição e comprovado contemporaneamente também a sua interposição. 67
A ferramenta utilizada para gerar a GRU (Guia Recursal da União), encontra-se
disponível no site do Supremo Tribunal Federal, que preenchidos os dados e gerada guia,
deve ser paga e comprovada juntamente com o recurso interposto.
66
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.9 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.9. Acesso em: 20
abril. 2020.
67
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual
civil, processo de conhecimento e procedimento comum, vol. iii. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. 1418 p.
31
3. RECURSO ESPECIAL
68
BRASIL. Constituição (1988). Constituição Federal. Artigo 105, de 1988. Brasília, DF, Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 15 jun. 2020.
69
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense Ltda,
2015. 1425 p.
70
MOREIRA, Jose Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 17. ed. Rio de Janeiro:
Forense Ltda, 2012, 583 p.
33
Costuma-se dizer que, por meio do recurso especial, o STJ exerce sua função
principal, que é a de assegurar a inteireza do sistema jurídico federal
infraconstitucional, garantindo que está sendo aplicado em todo o Brasil e na
mesma interpretação. A relevância política dessa função é evidente, uma vez que,
por sua atuação, devem-se garantir isonomia, segurança e previsibilidade, sendo o
recurso especial uma exigência de síntese do Estado Federal. É recurso de estrito
direito, cuja vocação é fazer valer o ordenamento jurídico, embora, já que se trata
de recurso, venha também a beneficiar o recorrente. Por isso se diz que o
interesse da parte é um veículo do interesse geral. 71
Deste modo, o STJ é uma ruptura do Supremo Tribunal Federal, tido como um
Tribunal de uniformização do entendimento dado às leis infraconstitucionais.
71
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso especial, recurso extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores. 5. ed. - São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018. Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/112806871/v5/document/155604670/anchor/
a-155604670. Acesso em: 20 abr. 2020.
72
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense Ltda,
2015. 1425 p.
73
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso especial, recurso extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores. 5. ed. - São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018. Disponível em:.
34
O art. 105, III, a, prevê o cabimento do recurso especial contra tais decisões
quando elas tiverem contrariado ou negado vigência a tratado ou lei federal.
“Negar vigência” consiste em totalmente desconsiderar, não aplicar, uma norma
jurídica. “Contrariar” significa aplicar mal, equivocadamente. A rigor, bastaria o
emprego desse segundo termo para abranger as duas hipóteses, como se fez
relativamente ao recurso extraordinário. No mais, essa hipótese de cabimento
incide na mesma confusão entre os juízos de admissibilidade e mérito, a que se
aludiu acima, relativamente à hipótese do art. 102, III, a.76
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/112806871/v5/document/155604670/anchor/
a-155604670 Acesso em: 20 abr. 2020.
74
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 432 p.
75
Ibid, 433, p.
76
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.3 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.3. Acesso em: 25
abril. 2020.
35
complementar federal; lei ordinária; lei delegada federal; decreto-lei federal; medida
provisória federal e decretos federais. 77
Seguindo para a alínea b do artigo 105, lll, da Constituição Federal, observamos que
também caberá recurso especial contra acórdão que julga válido ato do governo contestado
em face de lei federal, ou seja, em caso de o governo local realizar ato e o acórdão validar
o ato administrativo, logo, restará o acórdão também em contrariedade a lei federal, por
esta razão, também se torna possível à interposição de recurso especial nestes casos.
O cabimento de recurso especial com base na alínea c, do artigo 105 da
Constituição Federal, está pautado na divergência entre uma decisão proferida e a
contrariedade à lei federal, ou seja, quando a interpretação contida no acórdão, contrária lei
federal.
Ao tocarmos na fundamentação com base neste artigo, importante a observação de
que como preceitua Wambier e Talamini, a admissão deste depende efetivamente da
demonstração da diferença entre as duas decisões – aquela recorrida e a decisão de algum
outro tribunal – que a isto dar-se o nome de “dissídio jurisprudencial”. Para o provimento
do recurso especial, é mister que a parte deverá demonstrar que a interpretação da decisão
a qual recorre-se não está em conformidade com a interpretação adotada como a decisão
constante em outro acórdão, que deverá ser citado como função de paradigma 78
No que toca a figura do paradigma, faz-se necessário que o julgado pela parte
trazida aos autos contenha caso análogo àquele que será enfrentado frente à decisão
recorrida. Isto porque, uma das funções do recurso especial é fazer com que haja
simetria/similitude da interpretação das normas federais. De acordo com a Súmula 13 do
STJ79, não poderá ser trazido aos autos acórdão com dissídio jurisprudencial do mesmo
tribunal, mas poderá ser invocado acórdão do próprio Superior Tribunal de Justiça. 80
77
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 434 p.
78
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.3 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.3. Acesso em: 25
abril. 2020.
79
Sumula 13 do STJ: A divergência entre julgados do mesmo Tribunal não enseja recurso especial. BRASIL.
Súmula nº 13, de 1990. Brasília, DF, Disponível em:
https://scon.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=@num=%2713%27. Acesso em: 15 jun. 2020.
80
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.3 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.3. Acesso em: 25
abril. 2020.
36
3.2 Pré-questionamento
81
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.3 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.3. Acesso em: 25
abril. 2020.
37
declaração para que sejam supridas omissões, estes devem ser necessariamente
julgados, sob pena de se estar também aqui diante de outra ilegalidade. 82
82
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso especial, recurso extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores. 5. ed. - São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018. Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/112806871/v5/document/155604666/anchor/
a-155604666Acesso em: 21 abr. 2020.
83
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso especial, recurso extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores. 5. ed. - São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018. Disponível em:.
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/112806871/v5/document/155604666/anchor/
a-155604666. Acesso em: 20 abr. 2020.
84
Art. 1.025 do CPC. Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins de
pré-questionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o tribunal
superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade. BRASIL. Código de Processo Civil nº
Artigo 1.025, de 2015. Brasília, DF, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 15 jun. 2020.
85
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 391 p.
38
Por fim, o voto vencido apenas será considerado parte integrante do acórdão quando
(isto para o fim de pré-questionamento), se nele estiver contido fundamento suficiente para
solucionar a lide. Preceitua Didier: “As alegações contidas no voto vencido, feitas à
margem da discussão travada no caso, sem que tenham sido submetidas ao contraditório ou
que não sirvam para fundamentar a solução da controvérsia posta a julgamento por serem
os obter dicta do voto vencido, são irrelevantes para a configuração do pré-
questionamento”. 87
Parece-nos, porém, que o legislador não está insensível a essa circunstância, pois a
segunda etapa da Reforma do Judiciário, que ainda tramita na Câmara dos
Deputados como Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 358 89, de 2005, prevê o
acréscimo de outros três parágrafos ao art. 105 da Constituição, sendo o terceiro o
que nos interessa: "A lei estabelecerá os casos de inadmissibilidade do recurso
especial". 90
86
SAMPAIO, Marcelo Pacheco. Novo CPC, art. 1.025 e STJ: prequestionamento ficto, pero no mucho.
Prequestionamento ficto, pero no mucho. 2017. Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-
analise/artigos/novo-cpc-art-1-025-e-stj-15052017. Acesso em: 07 maio 2020.
87
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 392 p.
88
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores: precedentes no direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 305 p.
89
Em verdade, trata-se da PEC 209/2012 que aguarda apreciação pelo Senado Federal, como consta no sitio
eletrônico: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=553947. Acesso em: 10
abr. 2020.
90
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores: precedentes no direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 305 p.
39
Senado Federal, aguarda-se e espera-se pela aprovação da emenda que inclui no artigo 105
da Constituição Federal o requisito de admissibilidade de repercussão também ao recurso
especial.
91
Súmula 07 do STJ: A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial. BRASIL. Súmula
do STJ nº 07, de 1990. . Brasília, DF, Disponível em:
https://scon.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=@num=%277%27. Acesso em: 04 jun. 2020.
92
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 383 p.
93
MARINONI, Luiz Guilherme, ARENHART, Sérgio Cruz. Comentários ao Código de Processo Civil. 2 ed.
São Paulo, RT, 2005, t. 1, p. 338.
94
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agrg no Resp nº 1159867. Relator: Relator Ministro Paulo de Tarso
Sanseverino. Diário Oficial da União. Brasília, DF. Julgado em: 21 de março de 2012. DJe disponível em: 23
mar. 2020. Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/dj/documento/mediado/?tipo_documento=documento&componente=MON&sequ
encial=20792006&num_registro=200902044790&data=20120323. Acesso em: 10 jun. 2020.
95
MARINONI, Luiz Guilherme, ARENHART, Sérgio Cruz. Comentários ao Código de Processo Civil. 2 ed.
São Paulo, RT, 2005, t. 1, p. 320.
40
3.5 Procedimento
3.6 Efeitos
98
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.8 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.8. Acesso em: 28
abril. 2020.
99
Art. 995 do CPC: Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial
em sentido diverso. BRASIL. Código de Processo Civil nº Artigo 995, de 2015. . Brasília, DF, Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 15 jun. 2020.
42
Embora não seja a regra que os recursos excepcionais possuam o efeito suspensivo,
lhe será atribuído nas seguintes condições:
Todavia, o efeito suspensivo pode ser atribuído ao recurso por meio de tutela
provisória, concedida mediante requerimento formulado pela parte. Aplica-se a
regra geral do parágrafo único do art. 995. Cabe conferir o efeito suspensivo à
decisão impugnada sempre que sua imediata eficácia (consequência da
inexistência desse tipo de efeito, no recurso especial e no recurso extraordinário)
puder causar dano ao resultado útil do recurso, e desde que o direito alegado pela
parte seja plausível. 100
100
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.8 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.8. Acesso em: 28
abril. 2020.
101
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.8 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.8. Acesso em: 28
abril. 2020.
102
LIMA, Alcides de Mendonça. Introdução aos recursos cíveis. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1976. 286
p.
43
Nelson Nery Junior, por sua vez, preceitua que o efeito devolutivo é a manifestação
do principio dispositivo, pois na teoria geral dos recursos, o juiz é vedado de conhecer
matéria a qual não foi enfrentada pelo recorrente.103
Do efeito devolutivo, portanto, deve-se depreender que este significa a condição de
interposição do recurso transfere ao órgão responsável o julgamento do recurso. Este efeito
encontra-se presente em todos os recursos.104
Como mencionado no capítulo de recurso extraordinário sobre os efeitos, Teresa
Arruda Alvim, descreve outros efeitos intrínsecos aos recursos excepcionais como o efeito
translativo que “incide exclusivamente sobre matéria de ordem pública, em relação qual o
juiz tem o dever de apreciação ex officio”.105 E ainda mencionada o efeito obstativo:
E, por fim, tem-se o efeito substantivo que ocorre quando da decisão de novo tribunal
julgador que ao proferir sua decisão, substitui decisão proferida pelo tribunal anterior. 107
3.7 Preparo
103
NERY JUNIOR, Nelson. Teoria Geral dos Recursos. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. 401 p.
104
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.8 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.8. Acesso em: 28
abril. 2020.
105
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a nova função
dos Tribunais Superiores: precedentes no direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
386 p.
106
Ibid, 385 p.
107
Ibid, 471 p.
44
tais valores deverão ser recolhidos no Tribunal de origem, junto à secretaria do órgão, no
prazo da interposição.
O Superior Tribunal de Justiça reafirmou ao julgar o REsp nº 1.523.971108, com o voto
da Ministra Nanci Andrighi que a falta de recolhimento de custas, caracteriza um vício
formal, gerando a inadmissibilidade recursal, frente à deserção processual.
Ademais, os preparos dos recursos excepcionais encontram-se disciplinados no artigo
1.007, do Código de Processo Civil. Cumpre destacar que a insuficiência do preparo recursal,
gera de forma automática a deserção recursal. De início, intimado o advogado acerca da
insuficiência de custas, deverá no prazo de cinco dias, suprir a falta adequada de preparo.
(artigo 1.007, §2º, CPC).
108
RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE TERCEIRO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
AUSÊNCIA. ARREMATAÇÃO DE IMÓVEL. PENHORA EM EXECUÇÃO HIPOTECÁRIA. EMBARGOS
DE TERCEIRO OFERECIDOS PELOS ARREMATANTES. APELAÇÃO DO EXEQUENTE. PREPARO
INSUFICIENTE. JULGAMENTO DO RECURSO. ACÓRDÃO ANULADO. PRAZO PARA
COMPLEMENTAÇÃO SOB PENA DE DESERÇÃO. JULGAMENTO: CPC/73. 1. Embargos de terceiro
ajuizados em 19/01/2010, de que foi extraído o presente recurso especial, interposto em 10/12/2014 e atribuído
ao gabinete em 25/08/2016. 2. O propósito recursal consiste em decidir sobre: a) a negativa de prestação
jurisdicional; b) a deserção do recurso de apelação interposto pelo recorrido; c) a inépcia do recurso de apelação
interposto pelo recorrido; d) o cabimento dos embargos de terceiro; e) a distribuição da sucumbência. 3.
Devidamente analisadas e discutidas as questões de mérito, estando suficientemente fundamentado o acórdão
recorrido, de modo a esgotar a prestação jurisdicional, não se vislumbra a alegada violação do art. 1.022, I e II,
do CPC/15. 4. O recolhimento do preparo é requisito de admissibilidade do recurso de apelação, cabendo ao
recorrente comprová-lo no ato de sua interposição (art. 511 do CPC/73), exceto se demonstrar justo impedimento
para fazê-lo ou se for beneficiário da justiça gratuita. Se o valor recolhido for insuficiente, como na hipótese, a
lei prevê que ao recorrente deve ser oportunizada a complementação, no prazo de 5 dias, sob pena de deserção (§
2º do art. 511 do CPC/73). 5. A deserção é a sanção aplicada à parte que negligencia o recolhimento do preparo –
seja quanto ao valor, seja quanto ao prazo – e tem como consequência o não conhecimento do recurso interposto.
É, pois, vício formal que, na espécie, não pode ser suprido pelo julgamento do recurso, como o fez o Tribunal de
origem, maculando de nulidade o acórdão de apelação. 6. Hipótese em que não se pode admitir que a apelação
seja julgada para só então se exigir do recorrente o complemento do respectivo preparo. 7. Recurso especial
conhecido e provido. (STJ, 3ªTurma, REsp. nº1.523.971/RS, rel. Min. Nanci Andrighi, j. em 05.02.2019,
publicado no DJe em 08.02.2019).
109
Artigo 1.032, do CPC Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o recurso especial versa
sobre questão constitucional, deverá conceder prazo de 15 (quinze) dias para que o recorrente demonstre a
45
Segundo nos preceituam Wambier e Talamini, além dos requisitos temporais, para que
exista a possibilidade da aplicação do princípio da fungibilidade, necessário que a dúvida
quanto ao recurso deve ser objetiva, ou seja, não derivar de insegurança do interpoente do
recurso ou desespero do recorrente. 111
De outro giro, é possível a interposição simultânea de ambos os recursos excepcionais,
quando nos deparamos com uma decisão com mais de uma fundamentação e, nestes casos, o
interpoente do recurso deve impugnar todas as fundamentações sob pena do não
conhecimento do recurso, pois a questão quando decidida e não impugnada, torna-se preclusa
naquela que não foi impugnada. 112
113
A súmula 283 do Supremo Tribunal Federal e 126 do Superior Tribunal de
Justiça114 convergem no sentido de que, se autônomos os fundamentos da decisão, devem ser
interpostos concomitantemente recurso especial e recurso extraordinário. Ou seja, a
fundamentação para que seja considerada autônoma, não deve simplesmente ser citada na
decisão recorrida, mas se a fundamentação possui sustentação autônoma, deverão ser
enfrentadas todas as fundamentações.115
existência de repercussão geral e se manifeste sobre a questão constitucional. Parágrafo único. Cumprida a
diligência de que trata o caput, o relator remeterá o recurso ao Supremo Tribunal Federal, que, em juízo de
admissibilidade, poderá devolvê-lo ao Superior Tribunal de Justiça. Artigo 1.033, CPC Art. 1.033. Se o Supremo
Tribunal Federal considerar como reflexa a ofensa à Constituição afirmada no recurso extraordinário, por
pressupor a revisão da interpretação de lei federal ou de tratado, remetê-lo-á ao Superior Tribunal de Justiça para
julgamento como recurso especial. BRASIL. Código de Processo Civil nº Artigo 1.032 e 1.033, de 2015.
Brasília, DF, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso
em: 15 jun. 2020.
110
Artigo 121- E, IX, Regimento Interno do STJ: lX - remeter o processo ao Supremo Tribunal Federal após
juízo positivo de admissibilidade quando entender versar o recurso especial sobre matéria constitucional, dando
vista ao recorrente pelo prazo de quinze dias para que demonstre a existência de repercussão geral e manifeste-se
sobre a questão constitucional, bem como vista à parte adversa para, por igual prazo, apresentar contrarrazões.
Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/publicacaoinstitucional/index.php/Regimento/article/view/3115/3839.
Acesso em: 08 mai. 2020.
111
Luiz Rodrigues e TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil, vol. 2. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 16ª edição. 475 p.
112
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 421 p.
113
Súmula 283 do STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de
um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles. BRASIL. Súmula do STF nº 283, de 1963.
Brasília, DF, Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=283.NUME.%20NAO%20S.FLSV.&base
=baseSumulas. Acesso em: 15 jun. 2020.
114
Súmula 126 do STJ: É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido assenta em fundamento
constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não
manifesta recurso extraordinário. BRASIL. Súmula do STJ nº 126, de 2010. Brasília, DF, Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-2010_9_capSumula126.pdf. Acesso
em: 15 jun. 2020.
115
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 422-423 p.
46
Prejudicialidade haverá, por exemplo, se no especial se alegar que a lei foi mal
interpretada (deu-se a ela interpretação diferente da adotada pelo STJ) e, no
extraordinário, se arguir que a mesma lei é inconstitucional. Ora, inexiste
necessidade de saber se a tal lei foi mal ou bem aplicada, se a mesma lei é
inconstitucional. 117
116
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 422 p.
117
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a nova função
dos Tribunais Superiores: precedentes no direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
497 p.
47
118
O Código de 1973, trazia em seu bojo a seguinte redação: Art. 500. Cada parte interporá o recurso,
independentemente, no prazo e observadas as exigências legais. Sendo, porém, vencidos autor e réu, ao recurso
interposto por qualquer deles poderá aderir a outra parte. O recurso adesivo fica subordinado ao recurso principal
e se rege pelas disposições seguintes: (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973) I - será interposto perante
a autoridade competente para admitir o recurso principal, no prazo de que a parte dispõe para
responder; (Redação dada pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994) II - será admissível na apelação, nos embargos
infringentes, no recurso extraordinário e no recurso especial; (Redação dada pela Lei nº 8.038, de 25.5.1990) III -
não será conhecido, se houver desistência do recurso principal, ou se for ele declarado inadmissível ou
deserto. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973) Parágrafo único. Ao recurso adesivo se aplicam as
mesmas regras do recurso independente, quanto às condições de admissibilidade, preparo e julgamento no
tribunal superior. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973). Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5869impressao.htm). Acesso em: 20 abr. 2020.
119
O atual Código traz a seguinte redação: Art. 997. Cada parte interporá o recurso independentemente, no prazo
e com observância das exigências legais. § 1º Sendo vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer
deles poderá aderir o outro. § 2º O recurso adesivo fica subordinado ao recurso independente, sendo-lhe
aplicáveis as mesmas regras deste quanto aos requisitos de admissibilidade e julgamento no tribunal, salvo
disposição legal diversa, observado, ainda, o seguinte: I - será dirigido ao órgão perante o qual o recurso
independente fora interposto, no prazo de que a parte dispõe para responder; II - será admissível na apelação, no
recurso extraordinário e no recurso especial; III - não será conhecido, se houver desistência do recurso principal
ou se for ele considerado inadmissível. BRASIL. Código de Processo Civil nº Artigo 997, de 2015. . Brasília,
DF, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 10
jun. 2020.
120
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual
civil, processo de conhecimento e procedimento comum, vol. iii. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. 1263 p.
121
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 194 p.
48
O recurso adesivo, embora não se trate de um recurso autônomo e nem mesmo trata-se
de uma espécie recursal, mas sim de uma forma de interposição de recurso, possui de
requisitos formais para sua interposição. 122
Primeiramente, para a interposição de um recurso adesivo, é necessário que ambas as
partes sejam sucumbentes frente à decisão a qual se recorre. Caso apenas uma das partes seja
sucumbente, não poderá esta oferecer recurso adesivo (art. 997, § 1, CPC).
Quanto ao interesse recursal além da parte sucumbente que não interpôs o recursal
principal, que já compõe a relação processual, poderá ainda terceiro que poderia ter composto
a relação processual como litisconsorcial e o Ministério Público, quando parte.123
O prazo para oferecimento do recurso adesivo é o mesmo prazo o qual se deve
apresentar contrarrazões ao recurso (art. 997, parágrafo 2, l). Porém, salientamos que no
oferecimento de contrarrazões, a parte pleiteia razões recursais a seu favor, não se limitando a
responder/ refutar, argumentação da parte que ofereceu o recurso principal. 124
122
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 194 p.
123
Ibid, 196-197 p.
124
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 31.1 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-31.1. Acesso em: 20
mai. 2020.
125
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 31.1 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-31.1. Acesso em: 20
mai. 2020.
49
especial para o Superior Tribunal de Justiça e recurso extraordinário para o Supremo Tribunal
Federal.
Muito embora o Código de Processo Civil deixe expresso que o cabimento de recurso
adesivo encontra guarida nas três hipóteses acima citadas, há também o cabimento deste
modo de interposição de recurso subsidiariamente ao recurso ordinário constitucional –
processos em que os ocupantes de um dos pólos forem Estado estrangeiro ou órgão
internacional, bem como no outro pólo ocupe o Município ou pessoa residente ou domiciliada
no País. No mais, também é cabível o recurso adesivo em agravo de instrumento que fora
interposto contra decisão interlocutória que dentro do processo que “negue a possibilidade de
julgar parte do mérito da causa ou que resolva parte do mérito da causa”. 126
Por tratar-se de um recurso adesivo, subordinado, caso o recurso principal não seja
conhecido, também não será conhecido o recurso adesivo. Todavia, conhecido o recurso
principal mediante os requisitos de admissibilidade, poderá o recurso adesivo não ser
conhecido mediante falta de admissibilidade recursal, e havendo desistência ou
inadmissibilidade do recurso principal, será o recurso adesivo inadmitido (artigo 997,
parágrafo 2, lll, CPC).
Quanto à possibilidade de interposição de recurso adesivo nos Juizados Especiais, não
há admissibilidade juntamente ao recurso inominado127, porem torna-se cabível o recurso
extraordinário nos Juizados Especiais. Fredie Didier e Fernando Carneiro não tratam estas
hipóteses como correta, pois existente uma falsa premissa de que o recurso adesivo fere o
principio da duração razoável do processo, quando, em verdade, o recurso adesivo é
convergente a este principio. 128
Quanto ao preparo, caso o recurso principal exija tal pressuposto, o recurso adesivo
segue também o principal neste aspecto. Em caso de o autor do recurso principal, por
circunstancias pessoais, seja beneficiária da gratuidade da justiça, esta circunstancia não se
comunicará ao interpoente do recurso adesivo. 129
126
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 31.2 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-31.2
Acesso em: 20 mai. 2020.
127
ENUNCIADO 88 – Não cabe recurso adesivo em sede de Juizado Especial, por falta de expressa previsão
legal (XV Encontro – Florianópolis/SC). Disponível em: https://www.amb.com.br/fonaje/?p=32. Acesso em: 20
jun. 2020.
128
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 195 p.
129
Ibid., 195 p.
50
De um modo geral, pode-se alegar que tal feito, poderia de alguma forma gerar uma
preclusão recursal. Isto porque, não há como a parte valer-se de outra adesividade para
complementação de um recurso anterior e admissão de um novo recurso adesivo de um
recurso já adesivo, causaria uma sucessão de recursos, prejudicando diretamente o principio
da duração razoável do processo. 131
Embora a alegação de preclusão, importante ressaltar que o próprio recurso adesivo
em si trata-se de uma exceção à preclusão recursal, pois o autor deixou de recorrer
autonomamente para que o fizesse no prazo de contrarrazões, configurando, deste modo, uma
nova oportunidade processual.
De fato, o recurso adesivo a outro recurso adesivo implica uma exceção à preclusão
consumativa advinda do primeiro exercício recursal. Mas não há nada de censurável
nisso. Afinal, o primeiro recurso adesivo também constitui uma exceção à preclusão
temporal decorrente da não interposição do recurso, em caráter principal, no
momento oportuno. Ao consagrar o recurso adesivo, o ordenamento
intencionalmente atenua as normas sobre preclusão. E não já porque o admitir como
legitima exceção à preclusão temporal e não o admitir, igualmente, como exceção à
preclusão consumativa. 132
130
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 31.5 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-31.5Acesso em: 23
mai. 2020.
131
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 31.5 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-31.5Acesso em: 23
mai. 2020.
132
Ibid., Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-31.5Acesso em: 23
mai. 2020.
51
Como regra o inciso lll, §2°, do artigo 997 do CPC 134, não será conhecido o recurso,
caso haja desistência do recurso principal ou caso ele seja considerado inadmissível.
Continua o artigo 998135, que o recorrente a qualquer tempo poderá sem anuência do
recorrido ou do litisconsorte, desistir do recurso. Todavia, a desistência do recurso não
impede a análise da questão que contenha repercussão geral reconhecida com objeto de
julgamento de recurso especial, extraordinário e recurso repetitivo.
A desistência recursal, em que quando da apresentação da desistência do recurso
principal ou inadmissível, o recurso subordinado segue a sorte do principal, acentua Zulmar
Duarte de Oliveira Jr:
133
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 200 p.
134
Artigo 997, §2º, III do CPC: Não será conhecido, se houver desistência do recurso principal ou se for ele
considerado inadmissível. BRASIL. Código de Processo Civil nº Artigo 997, § 2º. lll, de 2015. Brasília, DF,
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 15 jun.
2020.
135
Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir
do recurso. Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já
tenha sido reconhecida e daquele objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos.
BRASIL. Código de Processo Civil nº Artigo 998, de 2015. Brasília, DF, Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 15 jun. 2020.
52
136
GAJARDONI, Fernando da Fonseca et al. Execução e recursos: comentários ao cpc 2015. 2. ed. São Paulo:
Método, 2018. 778 p.
137
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO EM DECORRÊNCIA DE ACIDENTE DE
TRÂNSITO. PEDIDO JULGADO PROCEDENTE APENAS QUANTO AOS DANOS MORAIS. 1.
INTERPOSIÇÃO DE APELAÇÃO PELO RÉU E RECURSO ADESIVO DA VÍTIMA. CONCESSÃO DE
ANTECIPAÇÃO DA TUTELA RECURSAL DETERMINANDO O PAGAMENTO DE PENSÃO MENSAL À
AUTORA. FORMULAÇÃO DE PEDIDO DE DESISTÊNCIA DO RECURSO PRINCIPAL PELO RÉU.
INDEFERIMENTO PELO RELATOR NO TRIBUNAL DE ORIGEM. APLICAÇÃO DOS ARTS. 500, III, E
501 DO CPC. MITIGAÇÃO. RECURSO DESPROVIDO. 1. Como regra, o recurso adesivo fica subordinado à
sorte do principal e não será conhecido se houver desistência quanto ao primeiro ou se for ele declarado
inadmissível ou deserto (CPC, art. 500, III), dispondo ainda a lei processual que "o recorrente poderá, a qualquer
tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso" (CPC, art. 501). A justificativa
para a desistência do recurso como direito subjetivo individual da parte, o qual pode ser exercido a partir da data
de sua interposição, até o momento imediatamente anterior ao seu julgamento, decorre do fato de que, sendo ato
de disposição de direito processual, em nada afeta o direito material posto em juízo. Ocorre que, na hipótese, a
apresentação da petição de desistência logo após a concessão dos efeitos da tutela recursal, reconhecendo à
autora o direito de receber 2/3 de um salário mínimo a título de pensão mensal, teve a nítida intenção de esvaziar
o cumprimento da determinação judicial, no momento em que o réu anteviu que o julgamento final da apelação
lhe seria desfavorável, sendo a pretensão, portanto, incompatível com o princípio da boa-fé processual e com a
própria regra que lhe faculta não prosseguir com o recurso, a qual não deve ser utilizada como forma de
obstaculizar a efetiva proteção ao direito lesionado. Embora, tecnicamente, não se possa afirmar que a concessão
da antecipação da tutela tenha representado o início do julgamento da apelação, é iniludível que a decisão
proferida pelo relator, ao satisfazer o direito material reclamado, destinado a prover os meios de subsistência da
autora, passou a produzir efeitos de imediato na esfera jurídica das partes, evidenciada a presença dos seus
requisitos (prova inequívoca e verosimilhança da alegação), a qual veio a ser confirmada no julgamento final do
recurso pelo Tribunal estadual. Releva considerar que os arts. 500, III, e 501 do CPC, que permitem a desistência
do recurso sem a anuência da parte contrária, foram inseridos no Código de 1973, razão pela qual, em caso como
o dos autos, a sua interpretação não pode prescindir de uma análise conjunta com o referido art. 273, que
introduziu a antecipação da tutela no ordenamento jurídico pátrio por meio da Lei n. 8.952, apenas no ano de
1994, como forma de propiciar uma prestação jurisdicional mais célere e justa, bem como com o princípio da
boa-fé processual, que deve nortear o comportamento das partes em juízo, de que são exemplos, entre outros, os
arts. 14, II, e 600 do CPC, introduzidos, respectivamente, pelas Leis n. 10.358/2001 e 11.382/2006. 2. Recurso
especial a que se nega provimento. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp nº 1285405. Relator: Relator
Ministro Marco Aurélio Bellizze. Diário Oficial da União Brasília, DF. Julgado em: 16 de dezembro de
2014.DJe disponível em:19 dez. 2020 . Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201102340790&dt_publicacao=19/12/2014.
Acesso em: 23 abr. 2020.
53
Conclui Carlos Eduardo, portanto, que é uma pratica que pode ser utilizada no sistema
brasileiro, desde que sua interposição seja realizada no prazo da interposição do recurso
principal. 140
O REsp 1105923/DF141, em julgamento realizado pelo Ministro Massami Uyeda,
proferida decisão – que também encontra-se no bojo do estudo realizado – o direito brasileiro
não admite e não comporta a interposição de recurso adesivo que antecede o principal.
138
Disponível no sitio eletrônico da biblioteca digital do senado federal em:
https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/boletins-legislativos/boletim-no-
11-de-2013-recurso-adesivo-interposto-antes-do-principal. Acesso em: 20 mai. 2020.
139
ARAGÃO, Paulo César. Recurso Adesivo. São Paulo: Saraiva, 1974, 373-374 p.
140
Boletim Legislativo. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-
estudos/boletins-legislativos/boletim-no-11-de-2013-recurso-adesivo-interposto-antes-do-principal. Acesso em:
20 mai. 2020.
141
RECURSO ESPECIAL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – RECEBIMENTO DE
RECURSO ADESIVO COMO PRINCIPAL – IMPOSSIBILIDADE – APRESENTAÇÃO ANTECIPADA DO
APELO ADESIVO, ANTES DA INTERPOSIÇÃO DO RECURSO PRINCIPAL – INADMISSIBILIDADE –
COBRANÇA PERSISTENTE DE DÍVIDA INDEVIDA, MESMO APÓS RECLAMAÇÕES POR TELEFONE
E POR MEIO DO PROCON – FIXAÇÃO DO QUANTUM DA INDENIZAÇÃO EM CONSONÂNCIA COM
AS PECULIARIDADES DO CASO – NECESSIDADE – RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE
54
Salientamos que restaria controversa a vontade da parte que, no prazo legal para
oferecimento de um recurso autônomo, oferece recurso adesivo antes mesmo do prazo legal
para oferecimento de contrarrazões, para demonstrar descontentamento frente a uma decisão
que lhe causou sucumbência recíproca.
De outro giro, José Carlos Barbosa Moreira, ao tratar deste tema, define esta
interposição cruzada como uma interposição por cautela e o recurso adesivo será julgado
apenas nos casos em que o Tribunal “ad quem” julgar que o recurso independente principal
procedente.145’
O recurso adesivo cruzado, ainda, segundo a lição de Fredie Didier Junior e Leonardo
Carneiro, é um meio de se evitar a preclusão de uma das partes, sendo que tal recurso,
somente sob a condição de acolhimento do recurso principal poderá ser analisado.146
143
Publicado na Revista da Escola Superior da Magistratura do Estado de Santa Catarina, no volume 13, número
18, no ano de 2006.
144
OLIVEIRA, Pedro Miranda. Recurso Excepcional Adesivo Cruzado. Santa Catarina: Revista da Esmesc, v.
13, n. 19, 2006. 270 p.
145
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 17. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2013. 328 p.
146
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 200-201 p.
56
O que se resume ao atual cenário no que tange ao tema deste trabalho é que a doutrina,
embora não haja uma exaustiva discussão acerca do tema, se mostra favorável, pois tal
modalidade converge ao princípio da razoável duração do processo, permite à segurança
jurídica das decisões nos Tribunais Superiores e segurança jurídica a parte que por cautela,
interpõe o recurso adesivo cruzado para evitar que se torne preclusa a matéria da qual se possa
recorrer.
A doutrina procura de maneira muito pontual estabelecer uma diferença entre a
preclusão temporal e a preclusão consumativa que pode ocorrer em virtude dos
desdobramentos da temática do recurso adesivo cruzado. A preclusão em si é a perca de
oportunidade da parte de agir processualmente, seja pelo tempo seja por ato processual.
Não se pretende com o recurso adesivo cruzado que a parte venha a sanar eventual
lapso recursal ante o recurso principal, nem mesmo usar do recurso adesivo como forma de
complementação ao principal, porém a não admissão do recurso adesivo cruzado causaria
uma preclusão lógica. Ocorreria tal preclusão, pois, por exemplo, a parte sucumbente não
possui interesse recursal. A parte sucumbente B interpõe recurso especial. A parte A que até
então, não possuía interesse algum em recorrer, diante da interposição de B, surge interesse
recursal, porém de matéria constitucional. Já decorrido o prazo principal de interposição de
recurso autônomo, qual outro mecanismo poderia o sucumbente utilizar senão de recurso
adesivo cruzado?
Deste modo, a doutrina entende que é cabível e necessário a admissão do recurso
adesivo cruzado nos tribunais superiores, a fim de evitar preclusão, garantir segurança jurídica
a parte tanto no tocante à uniformização das decisões de Tribunais Superiores, quanto à
segurança de não poder mais usufruir do seu direito de recorrer de uma decisão prolatada.
147
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL
ADESIVO CRUZADO - INADMISSIBILIDADE. 1. Trata-se de Recurso Especial em que o insurgente pleiteia
a sua exclusão do polo passivo da demanda. Contudo, fora inadmitido, haja vista, ter sido interposto
adesivamente ao Recurso Extraordinário da parte adversa, sem que esta interpusesse o correlato Recurso
Especial. 2. O Recurso Especial Adesivo, por sua natureza, segue a sorte do principal. Inexistindo recurso
principal, não prospera o adesivo. 3. Necessidade de o recurso adesivo ser da mesma espécie do apelo principal,
refutando-se a tese do recurso adesivo cruzado. (AgRg no Ag 822.052/RJ, 2ª Turma, Rel. Min. Humberto
Martins, DJe de 17/6/2008). 4. Recurso Especial não conhecido.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp nº 1645625. Relator: Relator Ministro Herman Benjamin. Diário
Oficial. Brasília, DF. Julgado em: 07 de março de 2017. DJe disponível em: 20 abr. 2017. Disponível
em:https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201601224948&dt_publicacao=20/04/2017
. Acesso em: 15 jun. 2020.
148
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL ADESIVO CRUZADO.
NÃO INTERPOSIÇÃO DO APELO PRINCIPAL. PRETENSÃO DE ADERÊNCIA AO EXTRAORDINÁRIO.
IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO DE INSTRUMENTO NÃO PROVIDO. BRASIL. Superior Tribunal de
Justiça. Agravo de Instrumento nº 1293122. Relator: Relator Ministro Benedito Gonçalves. Diário Oficial da
União Brasília, DF. Julgado em: 27 de setembro de 2010. DJe disponível em: 15 out. 2010. Disponível
em:https://scon.stj.jus.br/SCON/decisoes/toc.jsp?livre=%281293122+%29+E+%28%22BENEDITO+GON%C7
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jun. 2020..
149
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150
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1421515. Relator: Relator Ministro Felix Fischer.
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58
Disponível em:
https://scon.stj.jus.br/SCON/decisoes/toc.jsp?livre=%28%22FELIX+FISCHER%22%29.MIN.&processo=14215
15.NUM.&b=DTXT&thesaurus=JURIDICO&p=true. Acesso em: 15 jun. 2020.
151
TRIBUTÁRIO - RECURSO ESPECIAL DO MUNICÍPIO INADMITIDO NA ORIGEM - JUÍZO
NEGATIVO DE ADMISSIBILIDADE MANTIDO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO NO STJ - RECURSO
ESPECIAL ADESIVO DO PARTICULAR - INADMISSIBILIDADE. 1. Segundo Nelson Nery Junior 'o
recurso adesivo fica subordinado à sorte da admissibilidade do recurso principal. Para que o adesivo possa ser
julgado pelo mérito, é preciso que: a) o recurso principal seja conhecido; b) o adesivo preencha os requisitos de
admissibilidade. Não sendo conhecido o principal, seja qual for a causa da inadmissibilidade, fica prejudicado o
adesivo'. (in, Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante, 7ª ed. rev. amp., Revista dos
Tribunais, SP, 2003, p. 863). 2. Assim, o recurso principal, interposto pelo Município, não foi admitido na
origem e, em face do primeiro juízo negativo de admissibilidade, interpôs o Município agravo de instrumento,
que também não foi provido. 3. Desse modo, como o recurso adesivo segue a sorte do principal, também não
poderá ser conhecido, conforme o art. 500, III do Código de Processo Civil. Precedentes. Agravo regimental
improvido”. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agrg no Agravo de Instrumento nº 822.052. Relator: Relator
Ministro Humberto Martins. Diário Oficial da União Brasília, DF. Julgado em: 03 de junho de 2008.DJe
disponível em: 17 jun. 2008. Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=200602204453&dt_publicacao=17/06/2008.
Acesso em: 15 jun. 2020.
59
Parece-nos que nesse caso, ao contrário do que dispõe o art. 543 do CPC
(correspondência ao art. 1.031, §1°), primeiramente os autos deverão ser remetidos
ao STF para que seja realizado o juízo de admissibilidade do recurso extraordinário
(principal). Ao Supremo não lhe incumbe nessa oportunidade se o recurso
extraordinário é fundado ou infundado, senão proceder ao controle da respectiva
admissibilidade, indeferindo-o se lhe faltar algum requisito. Se inadmitido,
extinguem-se ambos os recursos. Se admitido, os autos deverão ser enviados ao STJ
para que proceda ao julgamento do recurso especial adesivo. Em seguida, então, os
autos deverão ser novamente remetidos ao Supremo para que, daí sim, se julgue o
mérito do recurso extraordinário. 154
152
SANTOS, Isabelle Alves dos. Direito Processual Civil. 2014. Disponível em:
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-processual-civil/direito-processual-civil/. Acesso em: 04 abr.
2020.
153
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 56. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2015. 94 p.
154
OLIVEIRA, Pedro Miranda. Recurso Excepcional Adesivo Cruzado. Santa Catarina: Revista da Esmesc, v.
13, n. 19, 2006. 274 p.
60
vinculada como nos recursos excepcionais, seu objeto e o momento de sua interposição – se
independente ou adesivo.
Segundo Wambier e Talamini, bem como a classificação de Araken de Assis, os
recursos são ordinários ou extraordinários. São ordinários, pois em sentido amplo, não tem
uma função especial senão a defesa do interesse da parte. Por outro lado, são extraordinários,
pois “justificam-se funcional e estruturalmente como meio de consolidação e harmonização
da aplicação do ordenamento federal. Incluem-se nessa classe o recurso extraordinário (em
sentido estrito) e o recurso especial.”155
Depreendemos que os recursos excepcionais é um gênero, do qual o recurso especial e
o recurso extraordinário são espécie. Pelo artigo 997, §2°, onde o recurso adesivo fica
subordinado ao principal, sendo aplicáveis as mesmas regras quanto ao requisito de
admissibilidade.
Os recursos excepcionais possuindo as mesmas regras e requisitos de admissibilidade
são de mesmo gênero, portanto, plenamente cabível a interposição de um recurso adesivo
cruzado entre eles, pois obedecidos os requisitos formais estão aptos a serem julgados no
mérito, respeitando o procedimento de cada Tribunal para seus respectivos julgamento.
Ademais, o atual ordenamento jurídico não traz em seu bojo uma vedação a esta
modalidade cruzada de interposição do recurso adesivo, nem mesmo a Constituição Federal
que traz a figura do recurso especial e do recurso extraordinário vedam esta possibilidade.
Uma questão atinente aos recursos excepcionais que pode ser levanta a correlação
existente entre eles e sobre esta correlação explica Pedro de Miranda:
155
ASSIS, Araken de. Manual dos Recursos. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 32 p.
156
OLIVEIRA, Pedro Miranda. Recurso Excepcional Adesivo Cruzado. Santa Catarina: Revista da Esmesc, v.
13, n. 19, 2006. 266 p.
61
Até a Constituição de 1988, não haveria cabimento desta possibilidade, isto porque até
o bifurcamento de competência entre os Tribunais Superiores não havia dois recursos
distintos.157
Outrossim, o Código de Processo Civil não impõe a interposição adesiva de recurso de
mesma espécie. O artigo 997, §2°, ll, apenas versa que: “será admissível na apelação, no
recurso extraordinário e no recurso especial”.
Deste modo, a interposição do recurso adesivo excepcional cruzado torna-se cabível,
pois não se tratar de uma interposição com o intuito finalístico de reparar lapso processual da
parte, de sanar erro do aspecto processual ou até mesmo de reaproveitamento de um recurso
adesivo para suscitar elementos que anteriormente não haviam sido apontados em recurso
independente, mas trata-se do surgimento de interesse processual que, “por cautela”, que
surge de uma das partes sucumbentes em razão do recurso interposto pela parte adversa.
Por fim, os recursos adesivos excepcionais cruzados, em que pese às decisões do
Superior Tribunal de Justiça, mostram-se cabíveis do ponto de vista processual e material,
pois em nada haveria mudança ou transgressões a legislação vigente, nem mesmo haveria de
se adotar diferentes métodos e requisitos de admissibilidade nesta modalidade de interposição.
Além disto, garante maior segurança jurídica a parte e garante o direito de recorribilidade.
157
OLIVEIRA, Pedro Miranda. Recurso Excepcional Adesivo Cruzado. Santa Catarina: Revista da Esmesc, v.
13, n. 19, 2006. 269 p.
62
CONCLUSÃO
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