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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

RENATA PEREIRA PINTO

RECURSO ADESIVO CRUZADO: UMA ANÁLISE DO CABIMENTO NO


ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

SÃO PAULO
2020
RENATA PEREIRA PINTO

RECURSO ADESIVO CRUZADO: UMA ANÁLISE DO CABIMENTO NO


ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Trabalho de Graduação Interdisciplinar


apresentado como requisito para obtenção do
título de Bacharel no Curso de Direito da
Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Orientadora: Profª. Drª. Lourdes Regina Jorgeti

SÃO PAULO
2020
RENATA PEREIRA PINTO

RECURSO ADESIVO CRUZADO: UMA ANÁLISE DO CABIMENTO NO


ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Trabalho de Graduação Interdisciplinar


apresentado como requisito para obtenção do
título de Bacharel no Curso de Direito da
Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Aprovada em:

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________
Profª. Drª. Lourdes Regina Jorgeti
Universidade Presbiteriana Mackenzie

___________________________________________________
Msª Erica Escolano
Universidade Presbiteriana Mackenzie

___________________________________________________
Professor:
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Dedico este trabalho primeiramente a Deus, pois
Ele é antes de todas as coisas...
Aos meus pais e irmã, que com muita paciência e
compreensão tornaram a caminhada menos árdua.
AGRADECIMENTOS

Inicialmente, agradeço a Deus por me permitir viver momentos tão singulares ao longo destes
cincos anos. De todos os presentes da vida, o Mackenzie, certamente, foi um deles.
Aos meus pais que, com todo amor, sonharam e caminharam ao meu lado nesta jornada, que
não me deixaram desistir um minuto sequer, mesmo diante do cansaço e das noites mal
dormidas, que compreenderam as ausências e que me inspiram a buscar mais, a ser mais. À
minha irmã, Simone, que dia após dia, me lembra do quão capaz sou em tudo que faço que
incansavelmente me escuta e torna o dia-a-dia leve com mais cor e risos. A vocês, toda minha
honra.
Aos meus amigos: Avany, Bruna, Guilherme, Gustavo, Izabelle e Luis Felipe, por tornarem
toda a trajetória mais leve, por me apoiarem em tantos momentos e por se fazerem presente.
Ao Lucas, que com muita compreensão e incentivo tem se colocado de maneira tão disponível
a aprender juntamente comigo. A vocês todo meu carinho e gratidão.
À minha orientadora, Regina Jorgeti, por todos os ensinamentos, por todo zelo e
compreensão. Por me orientar de maneira tão singular e de forma tão inspiradora. A você todo
meu respeito e admiração.
RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo demonstrar o posicionamento da doutrina e das decisões
do Superior Tribunal de Justiça acerca da interposição do recurso adesivo cruzado nos
Tribunais Superiores. O recurso adesivo excepcional cruzado trata-se de uma derivação de
interposição de recurso adesivo. Abre-se esta possibilidade de interposição adesiva cruzada,
quando em situação fática, uma das partes sucumbentes fica impossibilitada de interpor seu
recurso adesivamente, pois seu interesse recursal não é cabível de acordo com a
fundamentação vinculada dos recursos direcionados aos Tribunais Superiores. Desta forma,
interpõe-se o recurso adesivo cruzado entre os Tribunais Excepcionais. Assim, o trabalho,
inicialmente discorrerá acerca dos recursos que envolvem o tema: recurso extraordinário,
recurso especial e recurso adesivo; logo após, explanaremos sobre o recurso adesivo cruzado
nos tribunais superiores, pontuando o posicionamento da doutrina e qual a fundamentação
utilizada pelo Superior Tribunal de Justiça. E, por fim, serão demonstradas as razões para
admissibilidade desta modalidade recursal.

PALAVRAS-CHAVE: Recurso extraordinário. Recurso especial. Recurso adesivo. Recurso


adesivo excepcional cruzado.
ABSTRACT

The present monography proposes to explain the positioning of the doctrine and decisions of
the Superior Court of Justice about the interposition of the cross adhesive appeal in the
Superior Courts. The exceptional cross adhesive appeal is a derivative of the interposition of
the adhesive petition. This possibility of cross-adhesive interposition opens up when in a
factual situation, one of the succumbing parties is unable to interpose their appeal adhesively,
since their appeal is not applicable according to the related reasoning of the appeals directed
to the Superior Courts. So, the cross-adhesive appeal between the Exceptional Courts is filed.
Consequently, the work will initially discuss the petition that involves the theme:
extraordinary appeal, special appeal, and adhesive petition; soon after, we will explain about
the cross adhesive appeals in the higher courts, punctuating the positioning of the doctrine and
what reasoning is used by the Superior Court of Justice. Finally, the reasons for the
admissibility of this appeal will be demonstrated.

KEYWORDS: Extraordinary appeal. Special petition. Adhesive appeal. Appeal exceptional


cross-adhesive.
LISTA DE ABREVIAÇÕES

STJ – Superior Tribunal de Justiça


STF – Supremo Tribunal Federal
CPC – Código de Processo Civil
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10

1. LINEAMENTOS HISTÓRICOS ...................................................................................... 12

1.1 Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça ................................................. 16

2. RECURSO EXTRAORDINÁRIO .................................................................................... 19

2.1 Cabimento e pressupostos de admissibilidade.................................................................... 20

2.2 Repercussão geral ............................................................................................................... 23

2.3 Pré-questionamento ............................................................................................................ 25

2.4 Reexame de provas ............................................................................................................. 27

2.5 Procedimento ...................................................................................................................... 27

2.6 Efeitos ................................................................................................................................ 29

2.7 Preparo ............................................................................................................................... 30

3. RECURSO ESPECIAL ..................................................................................................... 31

3.1 Cabimento e pressupostos de admissibilidade ................................................................. 33

3.2 Pré-questionamento ........................................................................................................... 36

3.3 Repercussão geral no recurso especial ............................................................................. 38

3.4 Reexame de provas no recurso especial ............................................................................. 39

3.5 Procedimento ...................................................................................................................... 40

3.6 Efeitos ................................................................................................................................. 41

3.7 Preparo ................................................................................................................................ 43

3.8 Conversão dos recursos excepcionais................................................................................. 44

4. RECURSO ADESIVO E RECURSO ADESIVO EXCEPCIONAL ADESIVO


CRUZADO .............................................................................................................................. 47

4.1 Procedimento e admissibilidade do recurso adesivo .......................................................... 47

4.2 Cabimento da interposição adesiva de outro recurso adesivo ............................................ 50

4.3 Desistência do recurso principal ......................................................................................... 51

4.4 Antecipação do recurso adesivo antes do recurso principal ............................................... 52


4.5 Recurso adesivo cruzado nos tribunais superiores ............................................................. 54

4.6 Decisões do Superior Tribunal de Justiça........................................................................... 56

4.7 Razões para admissibilidade do recurso ............................................................................. 58

CONCLUSÃO ......................................................................................................................... 62

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 64


10

INTRODUÇÃO

A sistemática atual do ordenamento jurídico brasileiro permite que sejam utilizadas


técnicas processuais, com o propósito de que os litigantes pleiteiem em juízo sua pretensão.
Uma destas sistemáticas que usualmente são utilizadas são os recursos.
Uma das funções de interposição de um recurso para um tribunal hierarquicamente
superior possui como finalidade a manutenção de uma decisão proferida por uma instância
inferior, visando, desta maneira, um possível reexame e que a decisão seja modificada através
de reforma, invalidade, esclarecimento e integralidade mediante a prolação de nova decisão.
Neste momento, nosso enfoque será dirigido aos chamados recursos excepcionais, que
são compreendidos em recurso especial e o recurso extraordinário e, juntamente com a
modalidade de interposição de recurso adesivo, porém um recurso adesivo cruzado. Em outras
palavras, veremos aqui a possibilidade da interposição de um recurso adesivo, porém em sua
modalidade cruzada, pois o recurso subordinado, não será esta da mesma espécie que o
recurso principal, mas sim do mesmo gênero recursal.
Este trabalho tem como principal intuito uma análise acerca da divergência e dos
desdobramentos acerca da possibilidade da interposição de um recurso adesivo cruzado entre
os tribunais superiores – Superior Tribunal de Justiça e Superior Tribunal Federal – no atual
ordenamento jurídico brasileiro.
Explanaremos o cabimento desta modalidade de recurso cruzado excepcional e
examinaremos seu pressuposto jurídico, condições de interposição e sua fundamentação. De
igual modo, buscar-se-á demonstrar qual o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, ante
a rejeição desta modalidade de interposição recursal em contraposição ao posicionamento da
doutrina, que se demonstra favorável a interposição, visando garantir a efetivação de
princípios processuais e a uniformização das decisões nos Tribunais Superiores, bem como
garantir a cautela da parte sucumbente, junto à interposição desta modalidade recursal.
Preliminarmente, o estudo mostrará lineamentos históricos quanto à criação do
Superior Tribunal de Justiça em detrimento da separação entre STJ e STF. Após,
discorreremos os três recursos que envolvem o tema: recurso extraordinário, recurso especial,
e recurso adesivo e, por fim, será analisada qual a argumentação utilizada para rejeição do
recurso e os motivos para conhecer e tornar cabível o recurso adesivo excepcional cruzado.
A análise deste estudo possui por base obras doutrinárias, jurisprudenciais do Superior
Tribunal de Justiça, exemplares das Revistas dos Tribunais, artigos publicados acerca da
11

temática proposta, bem como periódicos disponibilizados por meio digital e a legislação
vigente.
12

1. LINEAMENTOS HISTÓRICOS

O modelo vigente de federalismo com a Constituição dos Estados Unidos da América


foi, além de uma influência para outros países, um paradigma, pois em essência, contrapunha-
se ao atual modelo vigente à época, onde a centralização do poder era uma regra e, em
conjunto aos ideais de Revolução Francesa. 1
Em nosso modelo de Estado, seguimos, desde a proclamação da República, uma
mudança de um modelo unitário para um modelo federalista. José Afonso da Silva, acerca do
histórico no Brasil preceitua:

Partimos do unitarismo para a forma federativa, num processo inverso ao das


federações americanas e suíça; estas formaram-se da união de Estados soberanos, os
quais conferiram, à União, parte de sua competência. No caso do Brasil, o contrário
se deu, isto é, o Poder central, único, foi que transferiu, às comunidades regionais, a
parcela de poder que, depois, vieram a possuir, constituindo-se em Estados
autônomos.2

De um lado, nos Estados Unidos, no ano de 1789, editava-se pelo Congresso dos
Estados Unidos a primeira lei orgânica do Judiciário, denominada “Judiciary Act”. Constava
no documento a regulamentação da competência recursal à Suprema Corte; disciplinado o
“writ of error”, ou seja, na tradução literal, de recurso devido a erro, definia-se que mediante
o recurso, era papel da Suprema Corte rever decisões finais em casos específicos, que mais
tarde fora substituída pelo “writ of certionari”. 3
Por outro lado, em 1970, partindo da Revolução Francesa, instituía-se a Corte de
Cassação. Conclui Del Vecchio que o “homem advindo do liberalismo” deixa este cenário do
ideal jus naturalismo, passando a fincar suas bases no jus positivismo. 4
Naquele cenário, a Corte de Cassação (instituída na Europa) constituía-se em um
órgão, fora da estruturação do Poder Judiciário, nele a “pureza” da lei era mantida, afastando
qualquer interpretação equivoca da lei, o objetivo maior configurava a manutenção de um

1
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores: precedentes no direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 288 p.
2
SILVA, José Afonso da. Do recurso extraordinário no direito processual civil brasileiro. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1963. 5 p.
3 ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores: precedentes no direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 296 p.
4 VECCHIO, Giorgio del; DANTAS, Pedro. Filosofia del Derecho. Barcelona: Bosch, 1980. 171 p.
13

sistema com segurança jurídica. Pretendia-se com isto, estruturação econômica para servir
como diretriz à Revolução.5
Atualmente, no sistema judiciário brasileiro, não se trata de Corte de Cassação; as
competências desenvolvidas pelo Superior Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal
tratam de dirimir as ilegalidades e inconstitucionalidades. 6
Sob influência, mas de modo diverso, o federalismo brasileiro, deu-se de maneira
contraria a norte-americana, isto porque, o sistema utilizado nos Estados Unidos, e neste
ponto pontuamos que os Estados Unidos possuíam um sistema de Confederação por
agregação e somente mais tarde com Hamilton, Madison e Jay, que criou-se uma organização
em Federação.

A federação norte-americana surgiu a partir de um consenso entre entidades políticas


plenamente construídas, de modo que seus quadros, tanto políticos quanto jurídicos,
foram desenvolvidos de forma autônoma. Entretanto, no Brasil ocorreu o inverso,
tendo em vista que o ente central já possuía o seu sistema de governo, porém,
precisou adaptar esse sistema para que fosse possível conferir independência
politica-administrativa para os seus estados-membros. Tal consequência explica o
fato do federalismo norte-americano ter se desenvolvido sem afetar a estrutura
jurídica de cada Estado, conservando assim as mais importantes características de
organização de cada um deles. Nesse sentido, se faz bem a análise da diversidade
observada na adoção de certos posicionamentos, como por exemplo, a
institucionalização da pena de morte, que ocorre apenas em parte dos Estados norte-
americanos, não sendo norma de aplicabilidade geral para todos os estados que
integram a federação norte-americana 7

No Brasil, possuíamos um Estado totalmente unitário e, somente no ano de 1891, com


a transformação em República Federativa, falamos no federalismo, e aqui, o federalismo
pontuava-se por desagregação; a centralização é encontrada de maneira maior no Estado.
Visto que nos Estados Unidos, o federalismo foi constituído através de províncias que
possuem independência em relação ao poder central; no Brasil, a construção do Federalismo
deu-se do poder central para os demais estados. 8
A criação do Supremo Tribunal Federal ocorreu em 1891, com a promulgação da
Constituição vigente à época. Com composição inicial de 15 membros, sua competência era a
cúpula do Poder Judiciário. O Supremo Tribunal Federal sofreu substituição pela Casa de

5
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores: precedentes no direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 298 p.
6
Ibid, 392 p.
7
ANDRADE, Júnio Mendonça de; SANTOS, Karlos Kleiton dos; JESUS, Gustavo Santana de. Formação do
Federalismo Norte-Americano e do Federalismo Brasileiro. Interfaces Científicas - Direito, [s.l.], v. 5, n. 2, p.
29, 02 fev. 2017. Universidade Tiradentes. Disponível em:
https://periodicos.set.edu.br/index.php/direito/article/viewFile/3594/2137. Acesso em: 04 abr. 2020.
8
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores: precedentes no direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 300 p.
14

Suplicação do Brasil – criação do príncipe regente, que à época, com competências menos
amplificadas – que mais tarde este papel foi assumido pelo Superior Tribunal de Justiça.9
Desde 1934, a concentração de poderes em um único ente era perceptível. Com a
tentativa de zelar pelo Supremo Tribunal Federal e seguir o modelo norte-americano,
denominou-se o STF de “Corte Suprema”, porém, ampliando novamente a competência desta
Corte. 10 Neste cenário, o Brasil encontrava-se sob o governo de Getúlio Vargas, que no ano
de 1937, com o fechamento do Congresso e a instalação do Estado Novo, outorga-se a
Constituição de 1937.
Após a Constituição de 1937, que não trouxe em seu bojo mudanças acerca de uma
Suprema Corte, sua única mudança, deu-se em relação à denominação, voltando a utilizar-se
“Supremo Tribunal”. Todavia, no ano de 1946, após a saída de Vargas do poder, uma nova
Constituição permitiu aos Estados autonomia. Preceitua José Afonso da Silva:

O que existe é uma descentralização judiciária. As chamadas Justiças estaduais


não são propriamente estaduais, senão órgãos da Justiça nacional
descentralizados. Descentralização de tipo especial, mas essencialmente
descentralização. Aos Estados cabe tão somente o direito (melhor diria o ônus) da
organização judiciária; mesmo assim segundo os princípios que lhes traça a
Constituição Federal, e ainda o direito de dividir, como bem entender, o seu
território em circunscrição judiciária. E é somente nesse sentido que se pode falar
em Justiças estaduais; locais pela organização, pela manutenção. No mais, não
diferem em nada das Justiças federais, assim chamadas as Justiças especiais,
organizadas e mantidas pela União, como a do Trabalho e a Eleitoral, que, por
sinal, são também descentralizadas. 11

Instituído o regime militar em 1964 e, com a outorga da Constituição de 1967, fora


mantido um federalismo apenas nominal, visto que a nação estava sob a égide de um governo
ditatorial, que desta forma, a União concentrava todo e qualquer dos poderes. 12

Para que ocorresse a separação de competências nos Tribunais Superiores como trouxe
a Constituição de 1988, tivemos a chamada “Crise do Judiciário”. Podemos dividi-la em dois

9
O Supremo Tribunal Federal. 1976. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/publicacaoPublicacaoInstitucionalCuriosidade/anexo/Plaqueta__O_Supremo_
Tribunal_Federal__1976.pdf. Acesso em: 22 abr. 2020.
10
O Supremo Tribunal Federal. 1976. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/publicacaoPublicacaoInstitucionalCuriosidade/anexo/Plaqueta__O_Supremo_
Tribunal_Federal__1976.pdf. Acesso em: 22 abr. 2020
11
SILVA, José Afonso da. Do recurso extraordinário no direito processual civil brasileiro. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1963. 9 p.
12
ANDRADE, Júnio Mendonça de; SANTOS, Karlos Kleiton dos; JESUS, Gustavo Santana de. Formação do
Federalismo Norte-Americano e do Federalismo Brasileiro. Interfaces Científicas - Direito, [s.l.], v. 5, n. 2, p.
29, 02 fev. 2017. Universidade Tiradentes. http://dx.doi.org/10.17564/2316-381x.2017v5n2p29-36. Disponível
em: https://periodicos.set.edu.br/index.php/direito/article/viewFile/3594/2137. Acesso em: 21 abr. 2020.
15

cenários: o primeiro cenário na esfera do controle constitucional e o segundo cenário na esfera


política. Ambos os cenários foram objetos de discussões durante toda a tramitação do projeto
de reforma do judiciário frente ao Congresso Nacional, fazendo com que fossem mobilizados
diversos protagonistas políticos, tanto no meio forense como em sociedade civil. 13
Adentrando na dimensão política da crise do judiciário, esta se deu em razão da
concentração das competências do controle constitucional exercido sobre as leis no próprio
Supremo Tribunal Federal. Assim, com a oposição minoritária liderada pelo Partido dos
Trabalhadores, defendia-se uma mudança constitucional de concentração e revisão
constitucional.14
A reforma do judiciário aclarou no ano de 2004 com uma proposta de concentração
do controle constitucional pelo STF, com a aprovação do efeito vinculante dos enunciados das
súmulas. A súmula vinculante possui papel reforçador do protagonismo constitucional do
Supremo Tribunal Federal. Primeiramente, a súmula funciona como instrumento de
racionalização do sistema judicial, depois de reiterados julgamentos, assumindo um papel ex
post. Em segundo lugar, o Supremo Tribunal Federal pode utilizar a súmula para a resolução
de controvérsias acerca de normas e as demandas repetitivas, fazendo com que se reduzisse
desta forma, a insegurança jurídica e freando a proliferação de processos judiciais. Na
hipótese da súmula como instrumento de racionalização, estabelece-se que a função do
sistema judicial sedimenta sua própria jurisprudência.15
Com a “Crise do Judiciário” e com a promulgação da Constituição de 1988, resgatou-
se a ideia federalista, permitindo a partir desse ideal, a repartição de competências,
positivando garantias e autonomia aos Estados-membros, adotando como clausula pétrea em
seu artigo 60º, §4, o sistema federativo.

É significante destacar que a federação brasileira é denominada de federação


centrífuga, também chamada de federação por segregação ou federação às avessas.
Esse tipo de federação se deu por um movimento centrífugo, tendo origem em um
Estado Unitário que se fragmentou num movimento de dentro para fora. A regra nas
federações é um federalismo de primeiro grau, em que a federação declina da União
para os Estados-Membros. Já a federação brasileira é considerada uma federação de
segundo grau, isto porque além da União e dos Estados-Membros, temos o distrito
federal e os municípios. 16

13
AVELAR, Lúcia; CINTRA, Antônio Octávio (org.). Sistema Político Brasileiro: uma introdução. 3. ed. São
Paulo: Unesp, 2015. 38 p.
14
Ibid., 40 p.
15
Ibid., 43 p.
16
ANDRADE, Júnio Mendonça de; SANTOS, Karlos Kleiton dos; JESUS, Gustavo Santana de. Formação do
Federalismo Norte-Americano e do Federalismo Brasileiro. Interfaces Científicas - Direito, [s.l.], v. 5, n. 2, p.
36, 02 fev. 2017. Universidade Tiradentes. http://dx.doi.org/10.17564/2316-381x.2017v5n2p29-36. Disponível
em: https://periodicos.set.edu.br/index.php/direito/article/viewFile/3594/2137. Acesso em: 21 abr. 2020.
16

Com a Constituição de 1988, o Supremo Tribunal Federal, divide competência com o


Superior Tribunal de Justiça, pois anteriormente, competiam a ele questões constitucionais e
infraconstitucionais.

1.1 Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça

O artigo 105 da Constituição Federal de 1988 trouxe a criação do Superior Tribunal de


Justiça, com o intuito de uma maior uniformização das decisões à descentralização do
Supremo Tribunal Federal. Nesta linha, Teresa Arruda menciona:

Merece destaque, desde já, o registro de que até o ano de 1988, quando foi
editada a nossa vigente Constituição, o STF era responsável pela manutenção da
inteireza de todo o direito federal: constitucional e infraconstitucional. Com a
promulgação da vigente Constituição, e a criação do STJ, essa competência foi
fracionada, transferindo-se, ao recém-criado tribunal, a função de zelar pelo
direito federal infraconstitucional, restando, ao STF, a missão de velar pela
Constituição.17

Com a missão de uniformização de jurisprudência, no que toca a lei


infraconstitucional, o Superior Tribunal de Justiça com composição de 33 membros, não
conseguiu eliminar a crise que o recurso extraordinário sofrerá. A separação entre os
Tribunais não fora dotada de todos os mecanismos plenamente eficazes.18

Isso porque a criação do STJ, em 1988, não foi acompanhada de instrumentos


eficazes de controle do número de recursos a ele dirigidos, tornando-o, na prática,
uma corte de terceira instância, à qual qualquer pessoa pode submeter seu caso. A
votação da EC 45/2004, como bem observa Arruda Alvim, desperdiçou a chance de
estender ao recurso especial, o requisito de admissibilidade da repercussão geral. 19

Cabe, ainda, ao Superior Tribunal de Justiça, a interpretação de leis federais


infraconstitucionais. É por meio da interposição de recurso especial, que o Superior Tribunal
de Justiça corrige decisões com violação a lei federal infraconstitucional. 20

17
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores: precedentes no direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 299 p.
18
Ibid., 305 p.
19
Ibid., 305 p.
20
OLIVEIRA, Pedro Miranda. Recurso Excepcional Adesivo Cruzado. Santa Catarina: Revista da Esmesc, v.
13, n. 19, 2006. 265 p.
17

Ao Supremo Tribunal Federal, incumbiu “ser o fiel guardião da Constituição Federal”.


Ele é o órgão de instância máxima e sua competência vem descrita no artigo 102 da
Constituição Federal.21
Embora Tribunais distintos, haverá casos em que o manejo do recurso especial –
dirigido ao STJ – e o manejo do recurso extraordinário – dirigido ao STF – serão interpostos
simultaneamente. A lei traz em seu bojo hipóteses de simultaneidade de recurso. As súmulas
283 do STF22 e 126 do STJ23 expressam a inadmissibilidade dos recursos excepcionais em
caso de não interposição simultânea em razão da matéria.

Por outro lado, há também as hipóteses em que ambos os recursos devem ser
interpostos simultaneamente (item 23.2) sob pena de um deixar de ser conhecido se
o outro não o for: são casos da aplicação das Súmulas 283/STF e 126/STJ. São
hipóteses em que a decisão impugnada se assenta em dois fundamentos, que são, per
se, suficientes para mantê-la em pé. Ou ambos são atacados ou falta à parte interesse
em recorrer, já que o pronunciamento de um só dos recursos não terá o condão de
trazer-lhe vantagem. 24

Outrossim, uma das classificações do recurso é a divisão entre recursos ordinários e


extraordinários ou excepcionais. Os recursos extraordinários ou excepcionais são os recursos
dirigidos ao STF ou STJ, de acordo com sua competência e cabimento disciplinado pela lei. 25
Visam os recursos excepcionais uma melhor aplicação e uniformização da lei federal e
constitucional. O objetivo destes recursos não possui por base um direito subjetivo, mas sim a
proteção do direito objetivo.26

21
OLIVEIRA, Pedro Miranda. Recurso Excepcional Adesivo Cruzado. Santa Catarina: Revista da Esmesc, v.
13, n. 19, 2006. 265 p.
22
Súmula 283 do STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de
um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles. BRASIL. Súmula do STF nº 283, de 1963.
Brasília, DF, Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=283.NUME.%20NAO%20S.FLSV.&base
=baseSumulas. Acesso em: 23 abr. 2020.
23 Súmula 126 do STJ: É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido assenta em fundamentos
constitucional e infraconstitucional, qualquer deles sufi ciente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não
manifesta recurso extraordinário. BRASIL. Súmula do STJ nº 126, de 1995. Brasília, DF, Disponível em:
https://scon.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=@num=%27126%27 Acesso em: 23 abr. 2020.
24
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores: precedentes no direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 304-
305 p.
25
BUENO, Cassio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil. 5. ed. São Paulo: Saraiva,
2014. 173 p.
26
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 8. ed. Salvador: Juspodivm,
2016. 2614 p.
18

Os recursos ordinários, por sua vez, são tidos como a regra, ou seja, todos os recursos
com previsão legal no ordenamento jurídico, que não sejam os excepcionais, são recursos
ordinários. 27

27
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 8. ed. Salvador: Juspodivm, 2016.
2614 p.
19

2. RECURSO EXTRAORDINÁRIO

No ordenamento jurídico brasileiro, em linhas gerais, temos: a primeira instância, que


dela gera uma decisão com carga extintiva do processo, da qual podemos recorrer para a
segunda instância, resultando um acórdão ou decisão monocrática, se conhecido e provido o
recurso. Desta instância, há a possibilidade de recorrer para os Tribunais Superiores e neles
interpor os chamados “recursos excepcionais”, que apenas poderão ser interpostos de acordo
com o cabimento exposto na Constituição Federal.
O “recurso excepcional” interposto nos Tribunais Superiores trata-se de um gênero,
abrindo-se duas vias: a via ao recurso extraordinário, interposto perante o Supremo Tribunal
Federal ou recurso especial, que poderá ser interposto perante o Supremo Tribunal de Justiça.
De acordo com o pensamento de Humberto Theodoro Junior, o recurso extraordinário
apresenta-se como uma criação do Direito Constitucional brasileiro, isto porque inspirado no
Judiciary Act do direito norte-americano. A finalidade específica do recurso é manter, a
unidade do sistema federal e a descentralização do Judiciário e a unidade da Constituição.28
Cumpre ressaltar que, para a interposição dos recursos de exceção não se faz
necessário que decisões prolatadas, as quais serão impugnadas possuam carga de extinção do
processo. Temos como exemplo o agravo de instrumento, que é competência originária dos
Tribunais de Segunda Instância e, desta decisão cabe à interposição de recurso especial ou
extraordinário. Deste modo, podem ser interpostos os recursos de exceção para impugnação
de decisões de última ou única instância, ou seja, só é possível sua interposição, desde que
esgotada a via ordinária dos recursos ou que dela seja competência originária. 29
Luiz Rodrigues Wambier e Eduardo Talamini expõem observações acerca deste
recurso. Primeiramente, não se trata de um recurso amplamente abrangente como os recursos
interpostos perante o primeiro ou segundo grau de jurisdição

A primeira observação que se há de fazer para que bem se compreenda o que são os
recursos extraordinários em sentido amplo, recursos excepcionais ou anormais, é
que não se trata de um terceiro grau de jurisdição. Não se está diante de recursos que
propiciem um mero reexame de matéria já decidida, sob os aspectos fático e
jurídico, tal como a apelação faz em relação à sentença ou o agravo em relação à
decisão interlocutória. Por isso são chamados extraordinários em sentido amplo –

28
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense Ltda,
2015. 1397-1398 p.
29
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.2. Acesso em: 11
nov. 2019.
20

diferenciando-se dos demais, ditos ordinários em sentido amplo, que garantem o


reexame integral da matéria decidida. 30

Dito isto, exprimimos que o recurso extraordinário possui por finalidade um equilíbrio
na preleção de decisões do direito em âmbito nacional, ou seja, busca-se com a interposição
deste recurso que as regras constitucionais possuam maior efetividade em sua aplicação e uma
uniformidade em sua interpretação das leis constitucionais.

2.1 Cabimento e pressupostos de admissibilidade

O cabimento do recurso extraordinário tem lugar quando das decisões de última ou


única instância, ainda que seja uma decisão proferida por magistrado em primeiro grau e que,
dela não haja cabimento de recurso ordinário, com esgotamento da via.
O atual Código de Processo Civil não traz em seu bojo especificamente as hipóteses de
cabimento do recurso em questão, isto porque a Constituição Federal vigente traz em seu
artigo 102, inciso ll, um rol taxativo - que somente poderá ser interposto e admitido segundo
as restritas hipóteses trazidas pelo texto constitucional – de cabimento do presente recurso.
Deste modo, a Constituição Federal de 1988, traz um rol da competência do Supremo
Tribunal Federal, que dentre elas é de sua atribuição julgar, mediante interposição de recurso
extraordinário, as hipóteses a seguir.

Trata-se de um recurso excepcional, admissível apenas em hipóteses restritivas,


previstas na Constituição com o fito específico de tutelar a autoridade e aplicação da
Carta Magna. Dessas características é que adveio a denominação de “recurso
extraordinário” adotada inicialmente no Regimento Interno do Supremo Tribunal
Federal, e, posteriormente, consagrado pelas diversas Constituições da República, a
partir de 1934.31

O artigo 102, ll, a, trata de decisão que contraria dispositivo da Constituição Federal.
Esta alínea trata de uma questão que embora trate de um exame de mérito, suscita o exame de
admissibilidade do recurso32. O órgão “a quo” ao realizar o exame de admissibilidade, não
entra no mérito do recurso, porém os recursos interpostos com base nesta alínea sofrem uma

30
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 16. ed. São Paulo:
Revistas dos Tribunais, 2016. 601 p.
31
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense Ltda,
2015. 1399 p.
32
DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: meios de
impugnações às decisões judiciais e processo nos tribunais. 17. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. 445 p.
21

inversão quando da realização do juízo de admissibilidade e o juízo de mérito, pois estes se


confundem por tratar-se essencialmente de uma questão merital.33
A alínea b, do referido artigo e inciso, permite o cabimento do recurso extraordinário
quando houver declaração de inconstitucionalidade de tratado ou lei federal. A simples
preleção de inconstitucionalidade permite que o recurso seja processado e admitido, deixando
para uma analise de mérito se a inconstitucionalidade encontra ou não guarida passível de
provimento do recurso.34
O artigo 102, ll, alínea c, diz que caberá recurso quando da decisão que julga válida lei
ou ato de governo local contestado em face da Constituição. Neste caso, a decisão que fora
recorrida privilegiou lei ou o ato do governo local em detrimento da própria Constituição
Federal. Assim como na alínea anterior há uma clara distinção entre o exame de mérito e
admissibilidade; bastando a declaração de validade de lei ou ato governamental para que haja
admissibilidade do recurso.35
A alínea d, por sua vez, foi instituída pela emenda constitucional nº45/2004. Nestes
casos caberá o recurso extraordinário, pois se trata de uma competência legislativa feita pela
própria constituição.

A Constituição foi alterada nesse ponto para estabelecer que caiba recurso
extraordinário – e não especial – contra acórdão que julgar válida lei local
contestada em face de lei federal. É que, nesse caso, a controvérsia que se põe não
concerne meramente à legislação infraconstitucional. Em verdade, a disputa diz
respeito à distribuição constitucional de competência para legislar: se a lei local está
sendo contestada em face da lei federal, é porque se sustenta que ela tratou de
matéria que, por determinação constitucional, haveria de ser disciplinada pelo
legislador federal. 36

O texto constitucional ainda traz três parágrafos. O primeiro versa sobre a interposição
de recurso excepcional extraordinário, como nos casos de “arguição de descumprimento de

33
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.2. Acesso em: 11
nov. 2019.
34
DIDIER JUNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil: meios de
impugnações às decisões judiciais e processo nos tribunais. 17. ed. Salvador: Juspodivm, 2020. 449 p.
35
Ibid, 451 p.
36
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.2. Acesso em: 13
nov. 2019.
22

preceito fundamental, decorrente da Constituição”, que ocorre no caso de transgredir os


direitos fundamentais. (art. 102, §1º, CF/88) 37
O segundo parágrafo do artigo 102 diz:

§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal,


nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de
constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante,
relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública
direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Depreendemos neste parágrafo que as decisões tomadas pelo STF geram efeito erga
omnes, vinculando instâncias inferiores em qualquer das esferas.
Quanto aos pressupostos de admissibilidade do recurso extraordinário, o julgamento
da causa, em última ou única instância, que engloba tanto decisões finais de mérito, como
questões dirimidas em decisão interlocutória, ficando exclusos da possibilidade de cabimento
os acórdãos que deferem a tutela provisória, pois em sua essência envolve matéria fática, não
compatível com o objeto do recurso que consta da Súmula nº73538, do STF.39
Outro pressuposto de admissibilidade consiste na existência de questão federal
constitucional. Somente poderá ser admissível pela via do recurso extraordinário questões de
direito, em outras palavras, a direta aplicação e interpretação da lei. Caso o debate discuta os
fatos do caso, bem como a veracidade em que se o mesmo ocorreu, torna-se uma questão de
fato, restando o recurso prejudicado. 40
No que toca a observância dos prazos legais, observa-se que o prazo para a
interposição de recurso extraordinário será de 15 dias úteis, contados a partir da intimação do
julgamento impugnado, de acordo com o artigo 1.00341 do Código de Processo Civil. 42

37
Artigo 102, § 1º: A argüição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta Constituição, será
apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei. (Transformado em § 1º pela Emenda
Constitucional nº 3, de 17/03/93). BRASIL, Constituição Federal, Artigo 102, § 1º. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 15 jun 2020.
38
Súmula 735: Não cabe recurso extraordinário contra acórdão que defere medida liminar. BRASIL. Súmula do
STF nº 735, de 2003. Brasília, DF, Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2177. Acesso em: 15 jun. 2020.
39
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual civil,
processo de conhecimento e procedimento comum, vol. iii. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. 1092 p.
40
Ibid, 1092 p.
41
Art. 1.003. O prazo para interposição de recurso conta-se da data em que os advogados, a sociedade de
advogados, a Advocacia Pública, a Defensoria Pública ou o Ministério Público são intimados da decisão. § 5º
Excetuados os embargos de declaração, o prazo para interpor os recursos e para responder-lhes é de 15 (quinze)
dias. BRASIL. Código de Processo Civil nº Artigo 1.003, de 2015. . Brasília, DF, Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 15 jun. 2020.
42
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual
civil, processo de conhecimento e procedimento comum, vol. iii. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. 1092 p.
23

2.2 Repercussão geral

Diz o §3º do artigo 102 da Constituição Federal trata da Emenda Constitucional


45/2004.
§ 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral
das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o
Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela
manifestação de dois terços de seus membros. (Incluída pela Emenda Constitucional
nº 45, de 2004)

Este dispositivo prevê que cabe ao recorrente – aquele que interpõe o recurso –
demonstrar a repercussão geral para admissibilidade do recurso. Embora pareça um dos
requisitos de admissibilidade, em consonância com o artigo 1.035 do Código de Processo
Civil, é um requisito cumulativo, devendo estar presente para admissão do recurso uma das
alíneas do artigo 102 da Constituição Federal, cumulativamente com a efetiva demonstração
da repercussão geral.
Tal dispositivo traz um ônus ao recorrente para a demonstração da repercussão geral
das questões constitucionais discutidas no caso, para que o tribunal examine a admissão do
recurso e somente possa negá-lo com a manifestação de dois terços de seus membros. Deste
modo, se interposto recurso extraordinário e nele conter item que se possa afirmar repercussão
geral, passa-se a ter uma presunção de repercussão geral, que somente será refutada por 2/3 do
dos membros para deixar de conhecer do recurso tendo em vista a falta de repercussão geral. 43
O conceito de repercussão geral é aberto, ficando a cargo de leis infraconstitucionais
44
delimitarem as questões que poderão ser consideradas como repercussão geral. O parágrafo
1º do artigo 1.035 do CPC dispõe que “será considerada a existência ou não de questões
relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico que ultrapassarem os
interesses subjetivos do processo”. Destacam Fredie Didier e Leonardo Carneiro:

Como se trata de conceitos jurídicos indeterminados, o preenchimento da hipótese


de incidência não prescinde do exame das peculiaridades da situação concreta.
Como bem afirmam Marinoni e Arenhart, não é possível estabelecer uma noção a
priori, abstrata, do que seja questão de repercussão geral, pois essa clausula depende,
sempre, das circunstâncias do caso concreto. 45

43
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 454 p.
44
MARIRONI, Luis Guilherme, e ARENHART, Sérgio Cruz. Manual do processo de conhecimento. 4 ed. São
Paulo: RT, 2005, p. 558.
45 DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 13. ed.
Salvador: Juspodivm, 2016. 339 p.
24

De outro giro, Talamini e Wambier, em seu livro propõem uma sistematização quanto
à repercussão geral. Primeiramente, necessário verificar a aferição de repercussão geral,
verificando se ao caso concreto encontram-se questões relevantes de caráter econômico,
político, social ou jurídico. Logo após, somente poderá ser inadmitido o recurso, caso dois
terços dos ministros do Supremo Tribunal Federal concluírem pela inexistência de
repercussão geral ao caso concreto. 46
A averiguação de existência quanto à repercussão geral, é competência exclusiva do
Supremo Tribunal Federal (artigo 1.035, parágrafo 2º). Cabe ressaltar que caso o STF decidir
pelo não reconhecimento de repercussão geral, os processos que versarem sobre matéria
idênticas, serão de pleitos inadmitidos pelo juízo de admissibilidade do juízo “a quo”, sem
que haja o remetimento análise do recurso. Porém, em caso de reconhecimento de repercussão
geral, será determinada a suspensão do processamento dos recursos, individuais ou coletivos,
em todo o território nacional, que versem sobre a matéria em discussão, devendo ser julgado
pela corte no prazo máximo de um ano (artigo 1.035, parágrafo 9º).
Ademais, A Súmula 283 do Supremo Tribunal Federal 47 pontua que não será admitido
recurso pautado em mais de uma fundamentação e uma desta não aceita como repercussão
geral. Preceitua Fredie Diddier Junior, que se um os fundamentos da decisão não oferece o
requisito de repercussão geral, não será admitido o recurso especial. 48
Ainda no que tange a repercussão geral, temos a figura da presunção absoluta de
repercussão geral, ou seja, que os indícios derivados da situação fática, que levam à
repercussão geral.
De acordo com o §º3 do art. 1.035, haverá repercussão geral no recurso extraordinário
nas hipóteses em que o acórdão contrariar súmula ou jurisprudência dominante do Superior
Tribunal de Justiça, ou quando houver reconhecimento de inconstitucionalidade de tratado ou
lei federal (art. 1.035, §3º, ll, CPC). Embora revogado o inciso ll, do referido parágrafo do
artigo 1.035, o §1º, do art. 987 do CPC, versa sobre a presunção absoluta de repercussão geral

46
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 16. ed. São Paulo:
Revistas dos Tribunais, 2016. 607-608 p.
47
Súmula 283 do STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de
um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles. BRASIL. Súmula do STF nº 283, de 1963.
Brasília, DF, Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=283.NUME.%20NAO%20S.FLSV.&base
=baseSumulas. Acesso em: 23 abr. 2020.
48
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 13. ed.
Salvador: Juspodivm, 2016. 428 p.
25

do recurso extraordinário interposto contra acórdão de incidente de resolução de demandas


repetitivas.49

2.3 Pré-questionamento

Para admissão dos recursos excepcionais é necessário que haja um pré-


questionamento. Esse pré-questionamento consiste em anteriormente a interposição do
recurso, ter posto o ponto da matéria passível de impugnação por esta via em discussão. Isto
quer dizer que “além de ter sido posta a questão no processo, ela foi enfrentada pela decisão
de que se pretende recorrer”.50
Em entendimento sumulado pelo Supremo Tribunal Federal - Súmula 28251 e Súmula
35652 - reafirma-se a necessidade do pré-questionamento quanto ao recurso extraordinário.
Desta forma, as orientações jurisprudenciais seguem esta linha.

Com efeito, consoante afirmado na decisão agravada, esta Corte já firmou


entendimento no sentido de que a interposição do recurso extraordinário impõe que
o dispositivo constitucional tido por violado, como meio de se aferir a admissão da
impugnação, tenha sido debatido no acórdão recorrido, sob pena de padecer o
recurso da imposição jurisprudencial do prequestionamento (...) Oportuno asseverar
que a exigência do prequestionamento não é mero rigorismo formal que pode ser
afastado pelo julgador a qualquer pretexto. Ele consubstancia a necessidade de
obediência aos limites impostos ao julgamento das questões submetidas a este
Supremo Tribunal Federal, cuja competência fora outorgada pela Constituição
Federal, em seu artigo 102. Nesse dispositivo não há previsão de apreciação
originária por este Pretório Excelso de questões como as que ora se apresentam. A
competência para a apreciação originária de pleitos no STF está exaustivamente
arrolada no antes citado dispositivo constitucional, não podendo sofrer ampliação na
via do recurso extraordinário.53
O Juízo de origem não analisou a questão constitucional veiculada, não tendo sido
esgotados todos os mecanismos ordinários de discussão, INEXISTINDO, portanto, o
NECESSÁRIO PREQUESTIONAMENTO EXPLÍCITO, que pressupõe o debate e
a decisão prévios sobre o tema jurígeno constitucional versado no recurso.
Incidência das Súmulas 282 e 356 do Supremo Tribunal Federal. 5. Tendo o acórdão
recorrido solucionado as questões a si postas com base em preceitos de ordem

49
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 459 p.
50
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 16. ed. São Paulo:
Revistas dos Tribunais, 2016. 610 p.
51
Súmula 282 do STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando não ventilada, na decisão recorrida, a
questão federal suscitada. BRASIL. Súmula do STF nº 282, de 1963. Brasília, DF, Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2496. Acesso em: 15 jun. 2020.
52
Súmula 356 do STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de
um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles. BRASIL. Súmula do STF nº 356, de 1963.
Brasília, DF, Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=2648. Acesso em: 15 jun. 2020.
53
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. AgRE nº 1073395. Relator: Relator Ministro Luiz Fux. Diário Oficial
da União. Brasília, DF. Julgado em: 07 dez. 2018. DJe disponível em: 17 dez. 2018. Disponível em:
https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur397053/false. Acesso em: 23 mar. 2020.
26

infraconstitucional, não há espaço para a admissão do recurso extraordinário, que


supõe matéria constitucional prequestionada explicitamente. 6. A solução da
controvérsia depende da análise da legislação local, o que é incabível em sede de
recurso extraordinário, conforme consubstanciado na Súmula 280 (Por ofensa a
direito local não cabe recurso extraordinário).54

Com efeito, Fredie Didier Junior e Leonardo Carneiro, versam que o pré-
questionamento consiste no enfrentamento pelo tribunal recorrido do acórdão impugnado. O
pré-questionamento é um dos requisitos de admissibilidade do recurso extraordinário. Seu
propósito é que o Tribunal Superior, quando realizar o julgamento de um recurso excepcional,
somente o deve fazê-lo caso o objeto do recurso tenha sido enfrentado pelo órgão julgador do
qual se está recorrendo. 55

No caso do recurso extraordinário, é necessário que a questão de índole


constitucional tenha sido enfrentada pelo acórdão. Também nesse caso dispensa-se a
identificação numérica da disposição constitucional. Basta que esteja claro, no
acórdão, que houve ali a consideração de determinada questão constitucional. Por
exemplo, haverá prequestionamento na medida em que o acórdão afirme que houve
violação ao princípio da anterioridade tributária e por isso a lei impositiva do tributo
não pode ser aplicada ao caso concreto etc., sem ser preciso fazer-se expressa
menção ao art. 150, III, b, da CF/1988.56

O pré-questionamento poderá ser expresso – quando há uma menção expressa do


dispositivo, onde a interpretação é objeto do recurso – ou implícito, que ocorre quando a
decisão recorrida possui o entendimento de que se considera motivada uma decisão que se
vale de uma paráfrase normativa.57
Quanto à omissão das decisões seja por acatar a alegação da parte ou pelo não
acolhimento dos embargos de declaração e, superada a divergência entre STJ e STF acerca do
tema, temos atualmente que, é admitido o pré-questionamento ficto. Ou seja, de acordo com o
artigo 1.025, do CPC, considera para fins de pré- questionamento, todos os elementos que a

54
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. AgReg. em RE nº 1070340. Relator: Relator Ministro Alexandre de
Moraes. Diário Oficial da União. Brasília. Brasília, DF. Julgado em: 04 de abril de 2018. DJe disponível em: 17
abr. 2018. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search/sjur383608/false. Acesso em: 23 mar.
2020.
55
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 459 p.
56
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB- 29.5. Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.5. Acesso em: 11
nov. 2019.
57
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 389 p.
27

embargante suscitou e foram estes incluídos no acórdão, ainda que mediante a inadmissão ou
rejeição dos embargos declaratórios.58
No mais, para que haja a figura do pré-questionamento, a mera indicação ou menção
ao dispositivo legal, mas faz-se necessária manifestação, debate ou discussão sobre a matéria
levantada. 59

2.4 Reexame de provas

Importante destacar, desde logo, que o simples reexame de provas não comporta a
interposição do recurso extraordinário. A competência do STF delimita-se a julgar a causa
aplicando o direito à espécie; sua analise permeia apenas e tão somente a correta aplicação do
direito, não cabendo um reexame dos fatos, que toca no conteúdo probatório da ação.

O conceito de reexame de prova deve ser atrelado ao de convicção, pois o que não se
deseja permitir, quando se fala em impossibilidade de reexame de prova, é a
formação de nova convicção sobre os fatos. Não se quer, em outras palavras, que os
recursos extraordinário e especial viabilizem um juízo que resulte da análise dos
fatos a partir das provas (...) a qualificação jurídica do fato é posterior ao exame da
relação entre a prova e o fato e, assim, parte da premissa de que o fato está
provado 60

Em outras palavras, os recursos excepcionais não se prestam a interpretação e análise


de um direito subjetivo, cabendo apenas aos recursos ordinários o exame do conteúdo fático
probatório.
O enunciado da súmula 279 do Supremo Tribunal Federal 61 orienta no sentido da
impossibilidade de reexame de provas no recurso extraordinário. Isto porque como preceitua
Fredie Didier Junior, tal vedação decorre da interpretação de que não é possível a interposição
de recurso extraordinário para revisão de matéria de fato. Portanto, não cabe ao recurso
extraordinário o reexame da prova, apenas cabe ao TSTF os recursos de direito estritos. 62

2.5 Procedimento

58
Ibid., 391 p.
59
Ibid., 390 p.
60
MARINONI, Luiz Guilherme. Rexame de Prova Diante dos Recursos Especial e Extraordinário. Curitiba:
Revista Genesis, v. 35, 1996. 128-145 p.
61
Súmula 279 do STF: Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário. BRASIL. Súmula do
STF nº 279, de 1963. . Brasília, DF, Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=279.NUME.%20NAO%20S.FLSV.&base
=baseSumulas. Acesso em: 15 jun. 2020.
62
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 384 p.
28

O procedimento do recurso extraordinário vem disciplinado no Código de Processo


Civil de maneira conjunta ao recurso especial - artigos 1.029 a 1.041 do Código de Processo
Civil.
A petição deverá ser dirigida diretamente ao Tribunal “a quo”, sendo distribuído
conforme regimento interno, fazendo constar a hipótese constitucional do cabimento do
recurso, conjuntamente com o enquadramento a repercussão geral do caso concreto. O CPC
elenca o conteúdo devendo constar a exposição do fato e do direito; a demonstração do
cabimento do recurso interposto; as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão
recorrida (artigo 1.029, do CPC).
O prazo para interposição do recurso é de 15 dias. Recebidos pela Câmara de
Processamento dos Recursos a parte contrária será intimada a oferecer contrarrazões.
Independentemente do oferecimento de contrarrazões, o recurso terá um juízo de
admissibilidade provisório, com decisão fundamentada.
Ao realizar o juízo de admissibilidade o tribunal a quo deverá (artigo 1.030, do CPC):

i) negar seguimento a recurso extraordinário sobre matérias que o Supremo


Tribunal Federal já tenha decidido pela inexistência de repercussão geral (artigo
1.030, I, a);
ii) negar seguimento a recurso extraordinário que tenha sido interposto contra
acórdão que se encontra em acordo ao entendimento do STF pelo regime de
repercussão geral.
(iii) negar seguimento ao recurso extraordinário que esteja em conformidade com
o entendimento do STF em face de recurso repetitivo (artigo 1.030, I, b);
(iv) encaminhar o processo ao órgão prolator da decisão, para que seja exercido o
juízo de retratação, quando a decisão estiver em desacordo com decisão do STF
(artigo 1.030, II);
(v) suspender o recurso extraordinário que versar sobre questão que já é objeto de
procedimento de recursos repetitivos ainda não decidido pela suprema corte
(artigo 1.030, III); e
vi) realizar o exame de admissibilidade do recurso especial e/ou do recurso
extraordinário, nos termos no inciso V do artigo 1.030 do CPC/15, remetendo o
recurso ao Supremo Tribunal Federal em caso de admissibilidade positiva.

O § único do artigo 1.034 do Código de Processo Civil, caso haja a admissão do


recurso por apenas um dos fundamentados ali pautados, o Supremo poderá conhecer dos
fundamentos que foram rejeitados pelo tribunal a quo no limite do capítulo impugnado.
Nos casos em que haja inadmissão, ou seja, que nega seguimento ao recurso
extraordinário caberá agravo de interno no prazo de 15 dias, para o respectivo órgão
colegiado disposto no regimento interno de cada tribunal.
29

2.6 Efeitos

Como regra apenas o recurso de apelação possui duplo efeito – suspensivo e


devolutivo – isto quer dizer que, caso o juízo de admissibilidade seja positivo o recurso
extraordinário será recebido apenas no efeito devolutivo.
Isto não quer dizer que a requerimento da parte, o efeito suspensivo não possa ser
atribuído por via de tutela provisória, aplicando-se a regra geral do artigo 995, parágrafo
único do CPC.63

Além disso, excepcionalmente o recurso especial e o recurso extraordinário são


revestidos de automático efeito suspensivo. É o que se tem na hipótese do art.
987, § 1º, do CPC/2015: os recursos especial e extraordinário contra a decisão
que resolve o incidente de resolução de demandas repetitivas têm eficácia
suspensiva.64

O pedido deverá ser dirigido ao Superior Tribunal Federal, se sua formulação


ocorrer entre a decisão que admite o recurso e sua distribuição; ao relator, caso já tenha
ocorrido à distribuição ou ao presidente/ vice- presidente do tribunal de origem quando do
período da decisão que admite o recurso ou que tenha sido suspenso.
O recurso extraordinário é um recurso de fundamentação vinculada, suas interposições
bem como seu processamento possuem natureza de efeito devolutivo, que sofrem a
delimitação à questão constitucional.65
De outro giro, Wambier e Talamini preceituam que há uma parte da doutrina que não
possuem o efeito devolutivo na dimensão vertical, pois se remete ao juízo da cassação.
Explica:

É comum na doutrina a afirmação de que os recursos de estrito direito não têm efeito
devolutivo em sua dimensão vertical (profundidade). Essa assertiva aplica-se ao
juízo de cassação, isso é, ao primeiro momento lógico do julgamento de provimento
recursal, em que a decisão é anulada: o tribunal superior se adstringirá à questão
constitucional ou federal infraconstitucional posta na decisão, a fim de verificar se a
solução dada a ela foi à correta. Mas tal limitação de profundidade não se aplica à

63
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.8 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.8. Acesso em: 13
nov. 2019.
64
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.8 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.8. Acesso em: 13
nov. 2019.
65
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual
civil, processo de conhecimento e procedimento comum, vol. iii. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. 1415 p.
30

etapa de rejulgamento. Melhor explicando: quando há a reforma de uma decisão,


desconstitui-se a decisão recorrida e coloca-se outra em seu lugar. No processo civil
brasileiro, essa etapa está presente também nos recursos extraordinários em sentido
amplo. Quando forem providos, por conta da constatação de um erro de julgamento,
haverá rejulgamento. E nesse rejulgamento o tribunal superior conhecerá, com
profundidade, de todas as questões suscitadas e daquelas que podem ser conhecidas
de ofício, sempre nos limites do capítulo impugnado.66

Por fim, os efeitos recursais servem de modo geral, para “definir” o que acontecerá
no mundo jurídico mediante a decisão proferida.

2.7 Preparo

O preparo recursal deve ser recolhido pela parte recorrente previamente perante o
tribunal a quo. Regulado pela Lei nº11. 636/2007, que versa sobre o recolhimento de custas
tanto no recurso extraordinário, quanto nos recursos especiais, o preparo compreende
custas gerais do processo, além do porte de remessa e retorno, devendo ser recolhido no
prazo de sua interposição e comprovado contemporaneamente também a sua interposição. 67
A ferramenta utilizada para gerar a GRU (Guia Recursal da União), encontra-se
disponível no site do Supremo Tribunal Federal, que preenchidos os dados e gerada guia,
deve ser paga e comprovada juntamente com o recurso interposto.

66
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.9 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.9. Acesso em: 20
abril. 2020.
67
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual
civil, processo de conhecimento e procedimento comum, vol. iii. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. 1418 p.
31

3. RECURSO ESPECIAL

O artigo 105 da Constituição Federal elenca uma série de competências do Superior


Tribunal de Justiça (STJ), seja por tratar-se de uma competência originária do STJ, seja por
via de recurso ordinário. Aduz o referido artigo:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


I - processar e julgar, originariamente:
a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e,
nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça
dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos
Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais
Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de
Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante
tribunais;
b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado
ou do próprio Tribunal;
c) os habeas corpus, quando o coator ou o paciente for quaisquer das pessoas
mencionadas na alínea a, ou quando o coator for Ministro de Estado, ressalvada a
competência da Justiça Eleitoral;
d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto
no art. 102, I, o, bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre
juízes vinculados a tribunais diversos;
e) as revisões criminais e as ações rescisórias de seus julgados;
f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade
de suas decisões;
g) os conflitos de atribuições entre autoridades administrativas e judiciárias da
União, ou entre autoridades judiciárias de um Estado e administrativas de outro
ou do Distrito Federal, ou entre as deste e da União;
h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for
atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou
indireta, excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos
órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça
Federal;
II - julgar, em recurso ordinário:
a) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos Tribunais
Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e
Territórios, quando a decisão for denegatória;
b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais
Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e
Territórios, quando denegatória a decisão;
c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional,
de um lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País;
III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última
instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do
Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:
a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;
b) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face de lei federal;
c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro
tribunal.
32

Parágrafo único. Funcionará junto ao Superior Tribunal de Justiça o Conselho da


Justiça Federal, cabendo-lhe, na forma da lei, exercer a supervisão administrativa
e orçamentária da Justiça Federal de primeiro e segundo graus. 68

Para a interposição de recurso especial, não basta o mero inconformismo da decisão


para que seja interposto recurso perante o Supremo Tribunal de Justiça, pois o fundamento
do recurso precisa estar pautado, aqui especificamente, nas alíneas que constam nos termos
do artigo 105, da Constituição Federal, acima citados. Neste estudo, em se tratando da área
do conhecimento de Processo Civil, nos atentaremos mais ao inciso ll, do artigo referido e
suas alíneas, quais sejam: (a) contrair tratado ou lei federal, ou negar-lhe vigência; (b)
julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face de lei federal e (c) dar a lei
federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.
A principal função do recurso especial era anteriormente desempenhada pelo
recurso extraordinário, que em regra, tangenciava a “manutenção da autoridade e unidade
da lei federal”. Isto por que na Federação, há uma multiplicidade de órgãos do judiciário,
que se encarregam de aplicar o direito posto pela União. 69

A bipartição do antigo recurso extraordinário, perfeitamente explicável luz da


reestruturação da cúpula do Poder Judiciário, não deixou de causar problemas de
ordem prática. Temos agora dois recursos em vez de um só , interponíveis ambos,
em larga medida, contra as mesmas decisões. Daí a necessidade de articulá-los; e
o sistema resultante teria de ficar, como na verdade ficou, bastante complicado
em mais de um ponto. inegável que o novo regime acarreta, muitas vezes,
aumento considerável na duração do processo.70

De igual modo ao recurso extraordinário, o recurso especial não propícia um novo


reexame de causa, mas trata-se de um rompimento entre matérias constitucionais, que
através da Constituição de 1988, fez com que partes das funções que eram exercidas pelo
recurso extraordinário, sejam exercidas através do recurso especial para o Superior
Tribunal de Justiça, versando exclusivamente acerca de matéria constitucional.
Segundo o pensamento de Teresa Arruda Alvim Wambier, o Superior Tribunal de
Justiça, exerce sua principal função quando do julgamento de um recurso especial.

68
BRASIL. Constituição (1988). Constituição Federal. Artigo 105, de 1988. Brasília, DF, Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 15 jun. 2020.
69
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense Ltda,
2015. 1425 p.
70
MOREIRA, Jose Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 17. ed. Rio de Janeiro:
Forense Ltda, 2012, 583 p.
33

Costuma-se dizer que, por meio do recurso especial, o STJ exerce sua função
principal, que é a de assegurar a inteireza do sistema jurídico federal
infraconstitucional, garantindo que está sendo aplicado em todo o Brasil e na
mesma interpretação. A relevância política dessa função é evidente, uma vez que,
por sua atuação, devem-se garantir isonomia, segurança e previsibilidade, sendo o
recurso especial uma exigência de síntese do Estado Federal. É recurso de estrito
direito, cuja vocação é fazer valer o ordenamento jurídico, embora, já que se trata
de recurso, venha também a beneficiar o recorrente. Por isso se diz que o
interesse da parte é um veículo do interesse geral. 71

Deste modo, o STJ é uma ruptura do Supremo Tribunal Federal, tido como um
Tribunal de uniformização do entendimento dado às leis infraconstitucionais.

3.1 Cabimento e pressupostos de admissibilidade

O cabimento do recurso especial possui seu respaldo


nas alíneas do inciso ll, do artigo 105, da Constituição Federal. De igual modo ao
recurso extraordinário, o recurso especial deve ser interposto em face de decisão que fora
preferida em última ou única instância, ou seja, faz-se necessário o esgotamento das vias
ordinárias – isto é, que não haja mais a possibilidade de interposição de recursos ordinários
- para interposição recursal. 72
Segundo Teresa Arruda Alvim Wambier, o recurso especial trata-se de recurso de
fundamentação vinculada. Os recursos de fundamentação vinculada são aqueles em que o
recorrente somente poderá basear-se nos fundamentos o texto positivado elencou como
hipóteses possíveis de sustentar impugnação de decisão.

Da recorribilidade e da adequação do recurso à decisão decorre o seu


cabimento. O recurso especial só cabe de acórdãos, diferentemente do que
ocorre com o recurso extraordinário. E cabe de acórdãos que contenham uma
questão infraconstitucional, ou seja, uma questão de direito, ligada a norma
infraconstitucional. Essa ideia se liga de perto ao cabimento, dado que este se
verifica quando há recorribilidade e relação de adequação entre a decisão e o
recurso interposto, estando presente, na decisão, o defeito que autoriza a
interposição do recurso, se se tratar de recurso de fundamentação vinculada. O
art. 105, III, da CF deixa claro que as decisões que ensejam o cabimento de
recurso especial são acórdãos dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais
Estaduais, do Distrito Federal e Territórios. 73

71
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso especial, recurso extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores. 5. ed. - São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018. Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/112806871/v5/document/155604670/anchor/
a-155604670. Acesso em: 20 abr. 2020.
72
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense Ltda,
2015. 1425 p.
73
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso especial, recurso extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores. 5. ed. - São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018. Disponível em:.
34

Passando a uma análise mais aprofundada das hipóteses de cabimento,


iniciaremos pelo inciso ll, do artigo 105, da Constituição Federal, alínea a. Caberá
recurso especial contra acórdão que “contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhe
vigência”. Para Fredie Didier Junior, o termo ‘contrariar’ utilizado pelo legislador
conota uma maior gravidade, frente ao termo ‘negar vigência’, também utilizado pelo
legislador. Isto porque, contrariar não permite que sequer uma interpretação razoável da
norma, enquanto negar-lhe vigência compreende uma razoável interpretação da norma.74

O enunciado 400 da súmula do STF assim estabelecida: “Decisão que deu


razoável interpretação à lei, ainda que não seja a melhor, não autoriza recurso
extraordinário pela letra “a” do artigo 101, ll, da Constituição Federal...O
enunciado 400 da súmula do STF aplicava-se, apenas, à parte do recurso
extraordinário que tratava de norma infraconstitucional, pois o inconformismo,
somente cabia, na espécie, quando lhe fosse negada vigência. Em se tratando
de norma constitucional, não incidia o enunciado sumular, pois, nesse caso,
deveria a decisão recorrida tê-la contrariado, e não simplesmente lhe negado
vigência. Daí por que a Constituição Federal revogado conferia sustentação ao
enunciado 400 da súmula do STF. 75

Não há mais sustentação desta súmula, pois é permitida a interposição de recurso


especial quando o acórdão recorrido contiver contrariedade ou negar vigência aos
dispositivos de lei federal ou tratados do ordenamento.

O art. 105, III, a, prevê o cabimento do recurso especial contra tais decisões
quando elas tiverem contrariado ou negado vigência a tratado ou lei federal.
“Negar vigência” consiste em totalmente desconsiderar, não aplicar, uma norma
jurídica. “Contrariar” significa aplicar mal, equivocadamente. A rigor, bastaria o
emprego desse segundo termo para abranger as duas hipóteses, como se fez
relativamente ao recurso extraordinário. No mais, essa hipótese de cabimento
incide na mesma confusão entre os juízos de admissibilidade e mérito, a que se
aludiu acima, relativamente à hipótese do art. 102, III, a.76

Desta forma, importante salientar de que a violação ao dispositivo legal de tratado


ou lei federal, não engloba os regimentos internos dos Tribunais, mas sim lei

https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/112806871/v5/document/155604670/anchor/
a-155604670 Acesso em: 20 abr. 2020.
74
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 432 p.
75
Ibid, 433, p.
76
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.3 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.3. Acesso em: 25
abril. 2020.
35

complementar federal; lei ordinária; lei delegada federal; decreto-lei federal; medida
provisória federal e decretos federais. 77
Seguindo para a alínea b do artigo 105, lll, da Constituição Federal, observamos que
também caberá recurso especial contra acórdão que julga válido ato do governo contestado
em face de lei federal, ou seja, em caso de o governo local realizar ato e o acórdão validar
o ato administrativo, logo, restará o acórdão também em contrariedade a lei federal, por
esta razão, também se torna possível à interposição de recurso especial nestes casos.
O cabimento de recurso especial com base na alínea c, do artigo 105 da
Constituição Federal, está pautado na divergência entre uma decisão proferida e a
contrariedade à lei federal, ou seja, quando a interpretação contida no acórdão, contrária lei
federal.
Ao tocarmos na fundamentação com base neste artigo, importante a observação de
que como preceitua Wambier e Talamini, a admissão deste depende efetivamente da
demonstração da diferença entre as duas decisões – aquela recorrida e a decisão de algum
outro tribunal – que a isto dar-se o nome de “dissídio jurisprudencial”. Para o provimento
do recurso especial, é mister que a parte deverá demonstrar que a interpretação da decisão
a qual recorre-se não está em conformidade com a interpretação adotada como a decisão
constante em outro acórdão, que deverá ser citado como função de paradigma 78
No que toca a figura do paradigma, faz-se necessário que o julgado pela parte
trazida aos autos contenha caso análogo àquele que será enfrentado frente à decisão
recorrida. Isto porque, uma das funções do recurso especial é fazer com que haja
simetria/similitude da interpretação das normas federais. De acordo com a Súmula 13 do
STJ79, não poderá ser trazido aos autos acórdão com dissídio jurisprudencial do mesmo
tribunal, mas poderá ser invocado acórdão do próprio Superior Tribunal de Justiça. 80

77
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 434 p.
78
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.3 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.3. Acesso em: 25
abril. 2020.
79
Sumula 13 do STJ: A divergência entre julgados do mesmo Tribunal não enseja recurso especial. BRASIL.
Súmula nº 13, de 1990. Brasília, DF, Disponível em:
https://scon.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=@num=%2713%27. Acesso em: 15 jun. 2020.
80
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.3 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.3. Acesso em: 25
abril. 2020.
36

Conforme o art. 1.029, § 1.º, a comprovação do dissídio será feita pelo


recorrente mediante: (1) certidão do acórdão com orientação divergente da
adotada pelo acórdão recorrido; ou (2) cópia desse acórdão; ou (3) indicação
da fonte bibliográfica em que ele seja encontrável (que precisará ser
“repositório de jurisprudência” reconhecido oficialmente pelo STJ); ou (4)
reprodução do seu teor disponível na Internet, com indicação da respectiva
fonte. Não bastará citar o local em que pode ser encontrado o acórdão
divergente, juntar uma cópia dele ou apenas transcrever a ementa. É necessário
que seja demonstrada a efetiva divergência entre o entendimento dele
constante e o do acórdão recorrido, mediante o confronto entre os casos (STF,
Súmula 291). Ademais, o dissídio tem de ser “atual”. Vale dizer, não pode ser
invocado entendimento que já ficou superado na jurisprudência (Súmulas 286
do STF e 83 do STJ). 81

Por fim, encerramos os aspectos de possibilidade de interposição, do recurso


especial, mas ainda sobre a admissibilidade do recurso especial, adentraremos neste
próximo tópico acerca do pré-questionamento neste recurso.

3.2 Pré-questionamento

Quando falamos em admissibilidade do recurso especial, assim como no recurso


extraordinário, para que o recurso venha a ser conhecido, necessário o requisito de
anteriormente haja o requisito de pré-questionamento. O pré-questionamento é
enfrentamento do objeto do recurso especial, pelo tribunal recorrido.
De acordo com Teresa Arruda Alvim, a expressão do termo pré-
questionamento, significa que a questão federal ou constitucional precisa estar
presente relacionado ao objeto constitucional ou federal, isto porque quando realizada
a leitura do acórdão recorrido precisa trazer a tona uma ofensa ao dispositivo da lei.

A expressão prequestionamento hoje em dia significa que a questão federal ou


que a questão constitucional deve estar presente no acórdão recorrido. Isso
significa que a leitura do acórdão, única e exclusivamente, deve revelar a
ofensa à lei ou à Constituição Federal, qualificada, neste último caso, pela
circunstância de ter ou apresentar repercussão geral. Por isso a
expressão prequestionamento, que originariamente dizia respeito à atividade
das partes, pois, rigorosamente, são as partes que “questionam”, 128 passou a
significar a exigência de que da decisão conste essa discussão que ocorreu
entre as partes sobre a questão federal. 129 Na verdade, então,
o prequestionamento da decisão seria muito frequentemente o reflexo da
atividade das partes ao longo do processo. Caso esse prequestionamento (das
partes) não se refletisse na decisão, teria havido omissão do Judiciário,
suprível pela via dos embargos de declaração. Assim, passou a prevalecer o
entendimento, no STJ, de que, defeituoso o acórdão e interpostos embargos de

81
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.3 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.3. Acesso em: 25
abril. 2020.
37

declaração para que sejam supridas omissões, estes devem ser necessariamente
julgados, sob pena de se estar também aqui diante de outra ilegalidade. 82

De outro giro, preceitua-se que o pré-questionamento consiste na derivação e


conjunção do princípio dispositivo e do efeito devolutivo, pois resulta de um requisito
específico de admissibilidade. Considera-se adequado o entendimento do autor no sentido
de trata-se tão somente de “um dos meios para chegar-se ao requisito de admissibilidade
dos recursos excepcionais (extraordinário e especial), que é o do cabimento do recurso” 83
Durante algum tempo, houve certa divergência entre o Superior Tribunal de Justiça
e o Supremo Tribunal Federal acerca da interpretação quanto ao pré-questionamento dos
recursos. Tal divergência dava-se em torno da oposição de embargos de declaração quanto
à matéria omissa no acórdão proferido e os embargos, por sua vez, não são acolhidos,
fazendo com que a omissão perdure.
O Supremo Tribunal Federal possuía o entendimento de que por não ser acolhido,
há evidente omissão, o que poderia prejudicar a parte, entendendo ainda, que a simples
oposição dos embargos de declaração já preenchia o requisito de pré-questionamento para a
admissibilidade do recurso excepcional. Por outro lado, diferente do STF, o Superior
Tribunal de Justiça possuía o entendimento de que justamente por conta da contínua
omissão e do não acolhimento dos embargos de declaração, não havia pressupostos
mínimos para a admissibilidade do recurso excepcional.
Com a vigência do Código de Processo Civil de 2015, consagrou-se o entendimento
do Superior Tribunal Federal pelo artigo 1.025 do CPC84, ou seja, ainda que rejeitados os
embargos de declaração, considerar-se-á pré-questionado, todos os elementos incluídos nos
embargos de declaração. Deste modo, podemos observar que o CPC adotou o pré-
questionamento ficto.85

82
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso especial, recurso extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores. 5. ed. - São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018. Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/112806871/v5/document/155604666/anchor/
a-155604666Acesso em: 21 abr. 2020.
83
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso especial, recurso extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores. 5. ed. - São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018. Disponível em:.
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/112806871/v5/document/155604666/anchor/
a-155604666. Acesso em: 20 abr. 2020.
84
Art. 1.025 do CPC. Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para fins de
pré-questionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o tribunal
superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade. BRASIL. Código de Processo Civil nº
Artigo 1.025, de 2015. Brasília, DF, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 15 jun. 2020.
85
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 391 p.
38

Há um precedente no STJ no sentido de que a regra do artigo 1.025, CPC, que


consagra o pré-questionamento ficto, somente pode ser aplicada se o recorrente
invocar, no seu recurso extraordinário, também violação ao art. 1.022 do CPC.
Ou seja: não basta ao recorrente invocar a questão de direito sobre a qual o
tribunal recorrido se omitiu; para que seu recurso seja conhecido, é preciso que
ele alegue, ainda, a violação do art. 1.022, do CPC86

Por fim, o voto vencido apenas será considerado parte integrante do acórdão quando
(isto para o fim de pré-questionamento), se nele estiver contido fundamento suficiente para
solucionar a lide. Preceitua Didier: “As alegações contidas no voto vencido, feitas à
margem da discussão travada no caso, sem que tenham sido submetidas ao contraditório ou
que não sirvam para fundamentar a solução da controvérsia posta a julgamento por serem
os obter dicta do voto vencido, são irrelevantes para a configuração do pré-
questionamento”. 87

3.3 Repercussão geral no recurso especial

Ao contrário do recurso extraordinário, o recurso especial não é dotado do requisito


de repercussão geral. Isto porque quando da ruptura entre o Supremo Tribunal Federal e o
Superior Tribunal de Justiça, não se estabeleceu mecanismos para tanto, bem como tais
mecanismos não foram acrescentados à Emenda Constitucional 45/04. 88

Parece-nos, porém, que o legislador não está insensível a essa circunstância, pois a
segunda etapa da Reforma do Judiciário, que ainda tramita na Câmara dos
Deputados como Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 358 89, de 2005, prevê o
acréscimo de outros três parágrafos ao art. 105 da Constituição, sendo o terceiro o
que nos interessa: "A lei estabelecerá os casos de inadmissibilidade do recurso
especial". 90

Portanto, o requisto de admissibilidade imposto ao recurso extraordinário, não é


aplicável ao recurso especial. Com a PEC 209/2012, que se encontra em tramitação no

86
SAMPAIO, Marcelo Pacheco. Novo CPC, art. 1.025 e STJ: prequestionamento ficto, pero no mucho.
Prequestionamento ficto, pero no mucho. 2017. Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-
analise/artigos/novo-cpc-art-1-025-e-stj-15052017. Acesso em: 07 maio 2020.
87
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 392 p.
88
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores: precedentes no direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 305 p.
89
Em verdade, trata-se da PEC 209/2012 que aguarda apreciação pelo Senado Federal, como consta no sitio
eletrônico: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=553947. Acesso em: 10
abr. 2020.
90
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a nova função dos
Tribunais Superiores: precedentes no direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 305 p.
39

Senado Federal, aguarda-se e espera-se pela aprovação da emenda que inclui no artigo 105
da Constituição Federal o requisito de admissibilidade de repercussão também ao recurso
especial.

3.4 Reexame de provas no recurso especial

De inicio, cumpre mencionar que o enunciado da súmula 07 do Superior Tribunal de


91
Justiça não admite a interposição de recurso especial para o simples reexame de prova.
Porém, há a possibilidade da valoração da prova, em recurso especial, devido à
violação às normas do direito probatório que tratam diretamente da valoração e
admissibilidade da prova.92
Luiz Guilherme Marinoni nos ensina que “A questão da valorização da prova, no
entanto, exsurge como questão de direito, capaz de proporcionar a admissão do apelo
extremo”93
A súmula 07 do STJ, embora preveja expressamente a não possibilidade de exame
fático probatório, por medida de direito, será possível a “revaloração do ato probatório,
quando devidamente delineados os fatos e provas no acórdão recorrido”. 94
Há hipóteses em que se é possível à aplicação da revaloração do conteúdo probatório,
quais sejam: “i) licitude da prova; ii) da qualidade da prova necessária para a validade do ato
jurídico; iii) para uso de certo procedimento; iv) do objeto da convicção; v) da convicção
suficiente diante da lei processual e; vi) do direito material; vii) do ônus da prova; viii) da
idoneidade das regras de experiência e das presunções; ix) além de outras questões que
antecedem a imediata relação entre o conjunto das provas e os fatos, por dizerem respeito ao
valor abstrato de cada uma das provas e dos critérios que guiaram os raciocínios presuntivo,
probatório e decisório”. 95

91
Súmula 07 do STJ: A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial. BRASIL. Súmula
do STJ nº 07, de 1990. . Brasília, DF, Disponível em:
https://scon.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=@num=%277%27. Acesso em: 04 jun. 2020.
92
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 383 p.
93
MARINONI, Luiz Guilherme, ARENHART, Sérgio Cruz. Comentários ao Código de Processo Civil. 2 ed.
São Paulo, RT, 2005, t. 1, p. 338.
94
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agrg no Resp nº 1159867. Relator: Relator Ministro Paulo de Tarso
Sanseverino. Diário Oficial da União. Brasília, DF. Julgado em: 21 de março de 2012. DJe disponível em: 23
mar. 2020. Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/dj/documento/mediado/?tipo_documento=documento&componente=MON&sequ
encial=20792006&num_registro=200902044790&data=20120323. Acesso em: 10 jun. 2020.
95
MARINONI, Luiz Guilherme, ARENHART, Sérgio Cruz. Comentários ao Código de Processo Civil. 2 ed.
São Paulo, RT, 2005, t. 1, p. 320.
40

3.5 Procedimento

Esgotadas as vias de interposição de recurso ordinário, o recurso especial será


interposto perante o Presidente ou Vice- Presidente do Tribunal de origem, de acordo com o
artigo 1.02996, CPC.
Após a interposição, perante a secretaria da presidência, abre-se prazo para a o
oferecimento de contrarrazões pelo prazo de quinze dias úteis, conforme artigo 1.030, CPC.
Com o término do prazo do oferecimento de contrarrazões, cabe ao Presidente ou Vice-
Presidente do tribunal local realizar o juízo de admissibilidade do recurso, de acordo com o
disposto no artigo 1.030, V, CPC.
O que se têm neste primeiro momento é um juízo de admissibilidade provisório, pois
somente nos tribunais superiores é que se fará o juízo definitivo de admissibilidade. Desta
forma, os recursos excepcionais, passarão por uma dupla admissibilidade.97
Na primeira etapa de admissibilidade, o Presidente ou Vice-Presidente, poderá,
conforme disposto no artigo 1.030, l, CPC: “I – negar seguimento: a) a recurso extraordinário
que discuta questão constitucional à qual o Supremo Tribunal Federal não tenha reconhecido
a existência de repercussão geral ou a recurso extraordinário interposto contra acórdão que
esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal exarado no regime
de repercussão geral; b) a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra
acórdão que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do
Superior Tribunal de Justiça, respectivamente, exarado no regime de julgamento de recursos
repetitivos”. (artigo 1.030, l, do CPC)
O Presidente ou o Vice-Presidente ainda poderá, conforme artigo 1.030, II, CPC: “ll -
encaminhar o processo ao órgão julgador para realização do juízo de retratação, se o acórdão
recorrido divergir do entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de
Justiça exarado, conforme o caso, nos regimes de repercussão geral ou de recursos repetitivos;
III – sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não decidido
pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se trate de
matéria constitucional ou infraconstitucional; IV – selecionar o recurso como representativo
96
Art. 1.029, do CPC - O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos na Constituição
Federal , serão interpostos perante o presidente ou o vice-presidente do tribunal recorrido, em petições distintas
que conterão: I - a exposição do fato e do direito; II - a demonstração do cabimento do recurso interposto; III - as
razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão recorrida. BRASIL. Código de Processo Civil nº
Artigo 1.029, de 2015. Brasília, DF, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 15 jun. 2020.
97
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 397 p.
41

de controvérsia constitucional ou infraconstitucional, nos termos do § 6º do art. 1.036; V –


realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao Supremo Tribunal Federal
ou ao Superior Tribunal de Justiça, desde que: a) o recurso ainda não tenha sido submetido ao
regime de repercussão geral ou de julgamento de recursos repetitivos; b) o recurso tenha sido
selecionado como representativo da controvérsia; ou c) o tribunal recorrido tenha refutado o
juízo de retratação.”
Destacamos neste ponto que, caso o recurso especial não seja admitido com base no
inciso V, do artigo 1.030, CPC, caberá agravo disposto no artigo 1.042, CPC. Por outro lado,
se a decisão de inadmissão fundamentar-se sob os incisos l e lll do artigo 1.030, caberá agravo
interno, nos termos do artigo 1.021, CPC. (artigo 1.030, parágrafo 1º e 2º).
Por fim, a possibilidade se interposição de recurso especial e recurso extraordinário de
modo simultâneo. Neste caso, o recurso especial será julgado primeiro. Como descreve
Wambier e Talamini, quando da interposição simultânea de recurso especial e recurso
extraordinário, apenas será julgado o recurso extraordinário, se caso o recurso especial não
estiver prejudicado por seu julgamento, conforme artigo 1.031, caput e parágrafo 1º. Isto
ocorre, pois o provimento do recurso especial torna desnecessário o recurso extraordinário,
porém continua os autores: “se o relator do recurso especial entender que, por peculiaridades
do caso, o recurso extraordinário é prejudicial ao recurso especial, deverá sobrestar o
julgamento desse e remeter os autos ao STF (art. 1.031, § 2.º). Mas se o relator do recurso
extraordinário não o considerar prejudicial, em decisão irrecorrível, devolverá os autos ao STJ
(art. 1.031, § 3.º).”98.

3.6 Efeitos

Em regra, o recurso especial não possui efeito suspensivo, pois preenchidos os


requisitos de admissibilidade e processado o recurso, este será recebido apenas no efeito
devolutivo. Ou seja, permite-se a execução provisória da decisão nos termos do artigo 995,
caput, CPC. 99

98
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.8 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.8. Acesso em: 28
abril. 2020.
99
Art. 995 do CPC: Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial
em sentido diverso. BRASIL. Código de Processo Civil nº Artigo 995, de 2015. . Brasília, DF, Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 15 jun. 2020.
42

Embora não seja a regra que os recursos excepcionais possuam o efeito suspensivo,
lhe será atribuído nas seguintes condições:

Todavia, o efeito suspensivo pode ser atribuído ao recurso por meio de tutela
provisória, concedida mediante requerimento formulado pela parte. Aplica-se a
regra geral do parágrafo único do art. 995. Cabe conferir o efeito suspensivo à
decisão impugnada sempre que sua imediata eficácia (consequência da
inexistência desse tipo de efeito, no recurso especial e no recurso extraordinário)
puder causar dano ao resultado útil do recurso, e desde que o direito alegado pela
parte seja plausível. 100

De acordo o artigo art. 1.029, § 5.º do CPC, o pedido da concessão de efeito


suspensivo aos recursos excepcionais, poderá ser requerido ao: “i) ao tribunal superior
respectivo, no período compreendido entre a publicação da decisão de admissão do recurso
e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-lo; ii)
ao relator, se já distribuído o recurso; iii) III – ao presidente ou ao vice-presidente do
tribunal recorrido, no período compreendido entre a interposição do recurso e a publicação
da decisão de admissão do recurso, assim como no caso de o recurso ter sido sobrestado,
nos termos do artigo 1.037.”
Ademais, caberá agravo interno da decisão que defere ou indefere a concessão de
efeito suspensivo, sendo cabível o agravo interno previsto no artigo 1.021, CPC. No mais,
os recursos especiais e extraordinários apenas poderão revestir-se de efeito suspensivo
automático quando versarem sobre demandas repetitivas, de acordo com o § 1º do artigo
987, CPC.101
No que toca o tema do efeito devolutivo, Alcides de Mendonça Lima, quando
falamos neste efeito tratamos de um resquício histórico102, isso porque a sistemática
histórica, consiste na entrega/devolução da causa àquele que possui poderes de decisão
sobre a causa.

100
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.8 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.8. Acesso em: 28
abril. 2020.
101
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.8 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.8. Acesso em: 28
abril. 2020.
102
LIMA, Alcides de Mendonça. Introdução aos recursos cíveis. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1976. 286
p.
43

Nelson Nery Junior, por sua vez, preceitua que o efeito devolutivo é a manifestação
do principio dispositivo, pois na teoria geral dos recursos, o juiz é vedado de conhecer
matéria a qual não foi enfrentada pelo recorrente.103
Do efeito devolutivo, portanto, deve-se depreender que este significa a condição de
interposição do recurso transfere ao órgão responsável o julgamento do recurso. Este efeito
encontra-se presente em todos os recursos.104
Como mencionado no capítulo de recurso extraordinário sobre os efeitos, Teresa
Arruda Alvim, descreve outros efeitos intrínsecos aos recursos excepcionais como o efeito
translativo que “incide exclusivamente sobre matéria de ordem pública, em relação qual o
juiz tem o dever de apreciação ex officio”.105 E ainda mencionada o efeito obstativo:

Ao recorrer, e independentemente do resultado dos variados pronunciamentos


judiciais sobre o recurso interposto – juízo de admissibilidade pelo órgão inferior ou
pelo superior, provimento ou desprovimento do recurso, provimento para reformar
ou para anular a decisão recorrida –, a parte evita que o ato judicial recorrido adquira
desde logo firmeza e imunidade a questionamentos futuros. (...) Esse efeito está
presente em todo e qualquer recurso e chega a ponto de integrar o conceito desse
remédio recursal106

E, por fim, tem-se o efeito substantivo que ocorre quando da decisão de novo tribunal
julgador que ao proferir sua decisão, substitui decisão proferida pelo tribunal anterior. 107

3.7 Preparo

O preparo recursal compreende todos os atos processuais realizados dentro do


processo, incluindo-se atos como baixa processual, sejam os autos físicos ou eletrônicos, bem
como o porte de remessa e retorno, quando físico. No ato de interposição do recurso, o
preparo diz respeito a um dos requisitos de admissibilidade para seu processamento.
A lei 11.363 de 2007 dispõe sobre custas judiciais no Superior Tribunal de Justiça. O
artigo 10º versa que se tratando de processo físico, concernente à custa de remessa e retorno,

103
NERY JUNIOR, Nelson. Teoria Geral dos Recursos. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. 401 p.
104
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 29.8 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-29.8. Acesso em: 28
abril. 2020.
105
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a nova função
dos Tribunais Superiores: precedentes no direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
386 p.
106
Ibid, 385 p.
107
Ibid, 471 p.
44

tais valores deverão ser recolhidos no Tribunal de origem, junto à secretaria do órgão, no
prazo da interposição.
O Superior Tribunal de Justiça reafirmou ao julgar o REsp nº 1.523.971108, com o voto
da Ministra Nanci Andrighi que a falta de recolhimento de custas, caracteriza um vício
formal, gerando a inadmissibilidade recursal, frente à deserção processual.
Ademais, os preparos dos recursos excepcionais encontram-se disciplinados no artigo
1.007, do Código de Processo Civil. Cumpre destacar que a insuficiência do preparo recursal,
gera de forma automática a deserção recursal. De início, intimado o advogado acerca da
insuficiência de custas, deverá no prazo de cinco dias, suprir a falta adequada de preparo.
(artigo 1.007, §2º, CPC).

3.8 Conversão dos recursos excepcionais

A possibilidade de conversão dos recursos excepcionais pauta-se no princípio da


fungibilidade recursal. Este princípio rege que, ainda que interposto um recurso que não seja
revestido de erro grosseiro, poderá ser revertido no recurso adequado.
O artigo 1.032 e 1.033 do Código de Processo Civil 109, bem como o adotado no
Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça110, versam sobre a fungibilidade recursal
no âmbito dos recursos excepcionais.

108
RECURSO ESPECIAL. EMBARGOS DE TERCEIRO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
AUSÊNCIA. ARREMATAÇÃO DE IMÓVEL. PENHORA EM EXECUÇÃO HIPOTECÁRIA. EMBARGOS
DE TERCEIRO OFERECIDOS PELOS ARREMATANTES. APELAÇÃO DO EXEQUENTE. PREPARO
INSUFICIENTE. JULGAMENTO DO RECURSO. ACÓRDÃO ANULADO. PRAZO PARA
COMPLEMENTAÇÃO SOB PENA DE DESERÇÃO. JULGAMENTO: CPC/73. 1. Embargos de terceiro
ajuizados em 19/01/2010, de que foi extraído o presente recurso especial, interposto em 10/12/2014 e atribuído
ao gabinete em 25/08/2016. 2. O propósito recursal consiste em decidir sobre: a) a negativa de prestação
jurisdicional; b) a deserção do recurso de apelação interposto pelo recorrido; c) a inépcia do recurso de apelação
interposto pelo recorrido; d) o cabimento dos embargos de terceiro; e) a distribuição da sucumbência. 3.
Devidamente analisadas e discutidas as questões de mérito, estando suficientemente fundamentado o acórdão
recorrido, de modo a esgotar a prestação jurisdicional, não se vislumbra a alegada violação do art. 1.022, I e II,
do CPC/15. 4. O recolhimento do preparo é requisito de admissibilidade do recurso de apelação, cabendo ao
recorrente comprová-lo no ato de sua interposição (art. 511 do CPC/73), exceto se demonstrar justo impedimento
para fazê-lo ou se for beneficiário da justiça gratuita. Se o valor recolhido for insuficiente, como na hipótese, a
lei prevê que ao recorrente deve ser oportunizada a complementação, no prazo de 5 dias, sob pena de deserção (§
2º do art. 511 do CPC/73). 5. A deserção é a sanção aplicada à parte que negligencia o recolhimento do preparo –
seja quanto ao valor, seja quanto ao prazo – e tem como consequência o não conhecimento do recurso interposto.
É, pois, vício formal que, na espécie, não pode ser suprido pelo julgamento do recurso, como o fez o Tribunal de
origem, maculando de nulidade o acórdão de apelação. 6. Hipótese em que não se pode admitir que a apelação
seja julgada para só então se exigir do recorrente o complemento do respectivo preparo. 7. Recurso especial
conhecido e provido. (STJ, 3ªTurma, REsp. nº1.523.971/RS, rel. Min. Nanci Andrighi, j. em 05.02.2019,
publicado no DJe em 08.02.2019).

109
Artigo 1.032, do CPC Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o recurso especial versa
sobre questão constitucional, deverá conceder prazo de 15 (quinze) dias para que o recorrente demonstre a
45

Segundo nos preceituam Wambier e Talamini, além dos requisitos temporais, para que
exista a possibilidade da aplicação do princípio da fungibilidade, necessário que a dúvida
quanto ao recurso deve ser objetiva, ou seja, não derivar de insegurança do interpoente do
recurso ou desespero do recorrente. 111
De outro giro, é possível a interposição simultânea de ambos os recursos excepcionais,
quando nos deparamos com uma decisão com mais de uma fundamentação e, nestes casos, o
interpoente do recurso deve impugnar todas as fundamentações sob pena do não
conhecimento do recurso, pois a questão quando decidida e não impugnada, torna-se preclusa
naquela que não foi impugnada. 112
113
A súmula 283 do Supremo Tribunal Federal e 126 do Superior Tribunal de
Justiça114 convergem no sentido de que, se autônomos os fundamentos da decisão, devem ser
interpostos concomitantemente recurso especial e recurso extraordinário. Ou seja, a
fundamentação para que seja considerada autônoma, não deve simplesmente ser citada na
decisão recorrida, mas se a fundamentação possui sustentação autônoma, deverão ser
enfrentadas todas as fundamentações.115

existência de repercussão geral e se manifeste sobre a questão constitucional. Parágrafo único. Cumprida a
diligência de que trata o caput, o relator remeterá o recurso ao Supremo Tribunal Federal, que, em juízo de
admissibilidade, poderá devolvê-lo ao Superior Tribunal de Justiça. Artigo 1.033, CPC Art. 1.033. Se o Supremo
Tribunal Federal considerar como reflexa a ofensa à Constituição afirmada no recurso extraordinário, por
pressupor a revisão da interpretação de lei federal ou de tratado, remetê-lo-á ao Superior Tribunal de Justiça para
julgamento como recurso especial. BRASIL. Código de Processo Civil nº Artigo 1.032 e 1.033, de 2015.
Brasília, DF, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso
em: 15 jun. 2020.

110
Artigo 121- E, IX, Regimento Interno do STJ: lX - remeter o processo ao Supremo Tribunal Federal após
juízo positivo de admissibilidade quando entender versar o recurso especial sobre matéria constitucional, dando
vista ao recorrente pelo prazo de quinze dias para que demonstre a existência de repercussão geral e manifeste-se
sobre a questão constitucional, bem como vista à parte adversa para, por igual prazo, apresentar contrarrazões.
Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/publicacaoinstitucional/index.php/Regimento/article/view/3115/3839.
Acesso em: 08 mai. 2020.
111
Luiz Rodrigues e TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil, vol. 2. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 16ª edição. 475 p.
112
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 421 p.
113
Súmula 283 do STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando a decisão recorrida assenta em mais de
um fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles. BRASIL. Súmula do STF nº 283, de 1963.
Brasília, DF, Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=283.NUME.%20NAO%20S.FLSV.&base
=baseSumulas. Acesso em: 15 jun. 2020.
114
Súmula 126 do STJ: É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido assenta em fundamento
constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não
manifesta recurso extraordinário. BRASIL. Súmula do STJ nº 126, de 2010. Brasília, DF, Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-2010_9_capSumula126.pdf. Acesso
em: 15 jun. 2020.
115
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 422-423 p.
46

A autonomia dos fundamentos, para fim de aplicação dos enunciados sumulares, é


importantíssima. Se um dos fundamentos, depende logicamente do outro (em uma
relação de prejudicialidade ou preliminaridade), a impugnação do fundamento
subordinante (preliminar ou judicial) é o bastante para o recurso ser conhecido. Isso
porque, afastado o fundamento subordinante, o outro fundamento é por
consequência derrubada. “O recurso que ataca um fundamento cuja retirada pode
tornar supérfluo o exame do fundamento, cumpre, em verdade, o requisito de
impugnar ambos os fundamentos. 116

Em caso de interposição simultânea dos recursos excepcionais e prejudicialidade de


um deles, isto é, quando o fundamento de um recurso especial, por exemplo, resta prejudicado
em função do julgamento do recurso extraordinário. Teresa Arruda Alvim exemplifica tal
situação do seguinte modo:

Prejudicialidade haverá, por exemplo, se no especial se alegar que a lei foi mal
interpretada (deu-se a ela interpretação diferente da adotada pelo STJ) e, no
extraordinário, se arguir que a mesma lei é inconstitucional. Ora, inexiste
necessidade de saber se a tal lei foi mal ou bem aplicada, se a mesma lei é
inconstitucional. 117

Interpostos ambos os recursos, haverá suspensão do recurso extraordinário até


julgamento do recurso especial pelo STJ, salvo se houver prejudicialidade do recurso como
exposto acima.
Em suma, em regra o recurso especial será julgado primeiro e após julgamento deste, o
julgamento do recurso extraordinário, tendo em vista que a resolução da controversa
infraconstitucional, no caso de provimento do recurso, torna sem função o julgamento do
recurso extraordinário. (artigo 1.031, §1º). Porém, entendendo haver prejudicialidade, restará
sobrestado o recurso especial para julgamento dos autos do Supremo Tribunal Federal (artigo
1.031, §2º). Entendendo o relator do STF não haver prejudicialidade ao recurso especial,
devolver-se-á ao STJ os autos para julgamento (artigo 1.031, §3º).

116
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 422 p.
117
ALVIM, Teresa Arruda; DANTAS, Bruno. Recurso Especial, Recurso Extraordinário e a nova função
dos Tribunais Superiores: precedentes no direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
497 p.
47

4. RECURSO ADESIVO E RECURSO ADESIVO EXCEPCIONAL ADESIVO


CRUZADO

O recurso adesivo deu inicio ao sistema processual brasileiro no Código de Processo


Civil de 1973118, com redação semelhante ao atual artigo do Código de Processo Civil de
2015.119
O recurso adesivo é um recurso que se subordina ao principal, sendo que este só será
processado e julgado caso o recurso principal, seja aceito. Humberto Theodoro Junior 120 trata
do recurso adesivo como um “remédio processual”, pois em caso de sucumbência recíproca, a
parte que antes não havia interposto recurso autônomo, poderá adesivamente, apresentar seu
recurso.
Fredie Didier e Leonardo Carneiro definem o recurso adesivo como um recurso
contraposto ao da parte adversa, ou seja, quando a parte deixa de impugnar uma decisão
autonomamente, mas passa a impugná-la porque outro litigante o fez, temos o recurso
adesivo.121

4.1 Procedimento e admissibilidade do recurso adesivo

118
O Código de 1973, trazia em seu bojo a seguinte redação: Art. 500. Cada parte interporá o recurso,
independentemente, no prazo e observadas as exigências legais. Sendo, porém, vencidos autor e réu, ao recurso
interposto por qualquer deles poderá aderir a outra parte. O recurso adesivo fica subordinado ao recurso principal
e se rege pelas disposições seguintes: (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973) I - será interposto perante
a autoridade competente para admitir o recurso principal, no prazo de que a parte dispõe para
responder; (Redação dada pela Lei nº 8.950, de 13.12.1994) II - será admissível na apelação, nos embargos
infringentes, no recurso extraordinário e no recurso especial; (Redação dada pela Lei nº 8.038, de 25.5.1990) III -
não será conhecido, se houver desistência do recurso principal, ou se for ele declarado inadmissível ou
deserto. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973) Parágrafo único. Ao recurso adesivo se aplicam as
mesmas regras do recurso independente, quanto às condições de admissibilidade, preparo e julgamento no
tribunal superior. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973). Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5869impressao.htm). Acesso em: 20 abr. 2020.
119
O atual Código traz a seguinte redação: Art. 997. Cada parte interporá o recurso independentemente, no prazo
e com observância das exigências legais. § 1º Sendo vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer
deles poderá aderir o outro. § 2º O recurso adesivo fica subordinado ao recurso independente, sendo-lhe
aplicáveis as mesmas regras deste quanto aos requisitos de admissibilidade e julgamento no tribunal, salvo
disposição legal diversa, observado, ainda, o seguinte: I - será dirigido ao órgão perante o qual o recurso
independente fora interposto, no prazo de que a parte dispõe para responder; II - será admissível na apelação, no
recurso extraordinário e no recurso especial; III - não será conhecido, se houver desistência do recurso principal
ou se for ele considerado inadmissível. BRASIL. Código de Processo Civil nº Artigo 997, de 2015. . Brasília,
DF, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 10
jun. 2020.
120
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual
civil, processo de conhecimento e procedimento comum, vol. iii. 47. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015. 1263 p.
121
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 194 p.
48

O recurso adesivo, embora não se trate de um recurso autônomo e nem mesmo trata-se
de uma espécie recursal, mas sim de uma forma de interposição de recurso, possui de
requisitos formais para sua interposição. 122
Primeiramente, para a interposição de um recurso adesivo, é necessário que ambas as
partes sejam sucumbentes frente à decisão a qual se recorre. Caso apenas uma das partes seja
sucumbente, não poderá esta oferecer recurso adesivo (art. 997, § 1, CPC).
Quanto ao interesse recursal além da parte sucumbente que não interpôs o recursal
principal, que já compõe a relação processual, poderá ainda terceiro que poderia ter composto
a relação processual como litisconsorcial e o Ministério Público, quando parte.123
O prazo para oferecimento do recurso adesivo é o mesmo prazo o qual se deve
apresentar contrarrazões ao recurso (art. 997, parágrafo 2, l). Porém, salientamos que no
oferecimento de contrarrazões, a parte pleiteia razões recursais a seu favor, não se limitando a
responder/ refutar, argumentação da parte que ofereceu o recurso principal. 124

Convém realizar o recurso adesivo em petição própria, ou seja, é preferível que a


parte não apresente suas contrarrazões e interponha o recurso adesivo em uma
mesma petição. Todavia, se assim o fizer, esse não é um defeito que impeça o
conhecimento do recurso. Trata-se de mera irregularidade, que de antemão, sabe-se,
não pode gerar prejuízo a quem quer que seja. Fazer as contrarrazões e o recurso
adesivo em peças separadas é apenas uma determinação de boa técnica – que
permitirá inclusive que órgão julgador compreenda e examine mais facilmente as
duas manifestações da parte. Mas o descumprimento dessa diretriz não afeta nenhum
pressuposto de conhecimento recursal. 125

Os requisitos de admissibilidade do recurso adesivo seguem os requisitos de


admissibilidade do recurso autônomo (artigo 997, parágrafo 2 do CPC). Sua interposição será
realizada perante o órgão judiciário ao qual foi interposto o recurso principal. (artigo 997,
parágrafo 2, l, CPC).
De acordo com o inciso ll, parágrafo 2 do artigo 997, do Código de Processo Civil, só
é cabível o recurso adesivo em três espécies recursais. São elas: o recurso de apelação, recurso

122
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 194 p.
123
Ibid, 196-197 p.
124
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 31.1 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-31.1. Acesso em: 20
mai. 2020.
125
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 31.1 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-31.1. Acesso em: 20
mai. 2020.
49

especial para o Superior Tribunal de Justiça e recurso extraordinário para o Supremo Tribunal
Federal.
Muito embora o Código de Processo Civil deixe expresso que o cabimento de recurso
adesivo encontra guarida nas três hipóteses acima citadas, há também o cabimento deste
modo de interposição de recurso subsidiariamente ao recurso ordinário constitucional –
processos em que os ocupantes de um dos pólos forem Estado estrangeiro ou órgão
internacional, bem como no outro pólo ocupe o Município ou pessoa residente ou domiciliada
no País. No mais, também é cabível o recurso adesivo em agravo de instrumento que fora
interposto contra decisão interlocutória que dentro do processo que “negue a possibilidade de
julgar parte do mérito da causa ou que resolva parte do mérito da causa”. 126
Por tratar-se de um recurso adesivo, subordinado, caso o recurso principal não seja
conhecido, também não será conhecido o recurso adesivo. Todavia, conhecido o recurso
principal mediante os requisitos de admissibilidade, poderá o recurso adesivo não ser
conhecido mediante falta de admissibilidade recursal, e havendo desistência ou
inadmissibilidade do recurso principal, será o recurso adesivo inadmitido (artigo 997,
parágrafo 2, lll, CPC).
Quanto à possibilidade de interposição de recurso adesivo nos Juizados Especiais, não
há admissibilidade juntamente ao recurso inominado127, porem torna-se cabível o recurso
extraordinário nos Juizados Especiais. Fredie Didier e Fernando Carneiro não tratam estas
hipóteses como correta, pois existente uma falsa premissa de que o recurso adesivo fere o
principio da duração razoável do processo, quando, em verdade, o recurso adesivo é
convergente a este principio. 128
Quanto ao preparo, caso o recurso principal exija tal pressuposto, o recurso adesivo
segue também o principal neste aspecto. Em caso de o autor do recurso principal, por
circunstancias pessoais, seja beneficiária da gratuidade da justiça, esta circunstancia não se
comunicará ao interpoente do recurso adesivo. 129

126
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 31.2 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-31.2
Acesso em: 20 mai. 2020.
127
ENUNCIADO 88 – Não cabe recurso adesivo em sede de Juizado Especial, por falta de expressa previsão
legal (XV Encontro – Florianópolis/SC). Disponível em: https://www.amb.com.br/fonaje/?p=32. Acesso em: 20
jun. 2020.
128
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 195 p.
129
Ibid., 195 p.
50

4.2 Cabimento da interposição adesiva de outro recurso adesivo

Wambier e Talamini levantam uma questão acerca da possibilidade de interposição de


um recurso adesivo de outro recurso adesivo já interposto.

Imagine-se que o autor formulou quatro pedidos cumulados. Na sentença, dois


foram julgados procedentes e dois, improcedentes. O autor interpôs apelação
impugnando apenas o julgamento de improcedência de um dos dois pedidos
rejeitados. O réu não apelou. No momento de contrarrazoar a apelação do autor, o
réu apela adesivamente, impugnando os capítulos da sentença que julgam
procedentes dois pedidos do autor. O autor é, então, intimidado para oferecer
contrarrazões de apelação adesiva ao réu. Ele pode, nesse momento, interpor nova
apelação adesiva, impugnando o capitulo sentencial atinente à improcedência do
pedido, que ele não havia impugnado em sua primeira apelação? 130

De um modo geral, pode-se alegar que tal feito, poderia de alguma forma gerar uma
preclusão recursal. Isto porque, não há como a parte valer-se de outra adesividade para
complementação de um recurso anterior e admissão de um novo recurso adesivo de um
recurso já adesivo, causaria uma sucessão de recursos, prejudicando diretamente o principio
da duração razoável do processo. 131
Embora a alegação de preclusão, importante ressaltar que o próprio recurso adesivo
em si trata-se de uma exceção à preclusão recursal, pois o autor deixou de recorrer
autonomamente para que o fizesse no prazo de contrarrazões, configurando, deste modo, uma
nova oportunidade processual.

De fato, o recurso adesivo a outro recurso adesivo implica uma exceção à preclusão
consumativa advinda do primeiro exercício recursal. Mas não há nada de censurável
nisso. Afinal, o primeiro recurso adesivo também constitui uma exceção à preclusão
temporal decorrente da não interposição do recurso, em caráter principal, no
momento oportuno. Ao consagrar o recurso adesivo, o ordenamento
intencionalmente atenua as normas sobre preclusão. E não já porque o admitir como
legitima exceção à preclusão temporal e não o admitir, igualmente, como exceção à
preclusão consumativa. 132

130
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 31.5 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-31.5Acesso em: 23
mai. 2020.
131
WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso Avançado de Processo Civil. 18. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2019. RB – 31.5 - Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-31.5Acesso em: 23
mai. 2020.
132
Ibid., Disponível em:
https://proview.thomsonreuters.com/launchapp/title/rt/monografias/77063646/v18/page/RB-31.5Acesso em: 23
mai. 2020.
51

De maneira diversa, Fredie Didier e Leonardo Carneiro entendem que, publicada


decisão com sucumbência recíproca e, ambas as partes interpõem recurso e, uma delas o faz
de maneira parcial, não poderá valer-se do prazo de contrarrazões para interpor recurso
adesivo, pois é um pressuposto da admissibilidade do recurso adesivo que a parte não tenha
recorrido e a parte apresentou recurso. A admissão deste recurso importaria em desviar a
finalidade adesiva, fazendo com que este modo de interposição torne-se a complementação do
recurso principal.133

4.3 Desistência do recurso principal

Como regra o inciso lll, §2°, do artigo 997 do CPC 134, não será conhecido o recurso,
caso haja desistência do recurso principal ou caso ele seja considerado inadmissível.
Continua o artigo 998135, que o recorrente a qualquer tempo poderá sem anuência do
recorrido ou do litisconsorte, desistir do recurso. Todavia, a desistência do recurso não
impede a análise da questão que contenha repercussão geral reconhecida com objeto de
julgamento de recurso especial, extraordinário e recurso repetitivo.
A desistência recursal, em que quando da apresentação da desistência do recurso
principal ou inadmissível, o recurso subordinado segue a sorte do principal, acentua Zulmar
Duarte de Oliveira Jr:

A sorte do adesivo está ligada ao recurso dito principal no plano da admissibilidade.


A parte que se colocou em tal condição. Poderia ter interposto o recurso na via
principal, pelo que dependeria somente de seus esforços para vê-lo conhecido.
Assim, não interpondo o recurso diretamente, apostando na adesão ao recurso da
outra parte, beneficiando-se inclusive do prazo mais alargado, a parte assume os
riscos de sua conduta. Até porque, presume-se que ela recorreu exclusivamente

133
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 200 p.
134
Artigo 997, §2º, III do CPC: Não será conhecido, se houver desistência do recurso principal ou se for ele
considerado inadmissível. BRASIL. Código de Processo Civil nº Artigo 997, § 2º. lll, de 2015. Brasília, DF,
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 15 jun.
2020.

135
Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir
do recurso. Parágrafo único. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja repercussão geral já
tenha sido reconhecida e daquele objeto de julgamento de recursos extraordinários ou especiais repetitivos.
BRASIL. Código de Processo Civil nº Artigo 998, de 2015. Brasília, DF, Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 15 jun. 2020.
52

como contra-ataque ao recurso da outra parte, senão teria já interposto recurso


principal136

Em que pese o ordenamento jurídico vigente, o Ministro Marco Aurélio Bellizze, no


julgamento do REsp n°1.285.405, mitigou a desistência recursal, em detrimento da não
lesividade da boa fé processual, isto por que a única intenção da desistência do autor, em
verdade, era frear os efeitos da tutela recursal deferida anteriormente.137

4.4 Antecipação do recurso adesivo antes do recurso principal

Outra discussão que cerca a adesividade recursal, tange-se acerca da possibilidade de


se interpor um recurso adesivo antes mesmo do próprio recurso principal. Em outras palavras,

136
GAJARDONI, Fernando da Fonseca et al. Execução e recursos: comentários ao cpc 2015. 2. ed. São Paulo:
Método, 2018. 778 p.
137
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO EM DECORRÊNCIA DE ACIDENTE DE
TRÂNSITO. PEDIDO JULGADO PROCEDENTE APENAS QUANTO AOS DANOS MORAIS. 1.
INTERPOSIÇÃO DE APELAÇÃO PELO RÉU E RECURSO ADESIVO DA VÍTIMA. CONCESSÃO DE
ANTECIPAÇÃO DA TUTELA RECURSAL DETERMINANDO O PAGAMENTO DE PENSÃO MENSAL À
AUTORA. FORMULAÇÃO DE PEDIDO DE DESISTÊNCIA DO RECURSO PRINCIPAL PELO RÉU.
INDEFERIMENTO PELO RELATOR NO TRIBUNAL DE ORIGEM. APLICAÇÃO DOS ARTS. 500, III, E
501 DO CPC. MITIGAÇÃO. RECURSO DESPROVIDO. 1. Como regra, o recurso adesivo fica subordinado à
sorte do principal e não será conhecido se houver desistência quanto ao primeiro ou se for ele declarado
inadmissível ou deserto (CPC, art. 500, III), dispondo ainda a lei processual que "o recorrente poderá, a qualquer
tempo, sem a anuência do recorrido ou dos litisconsortes, desistir do recurso" (CPC, art. 501). A justificativa
para a desistência do recurso como direito subjetivo individual da parte, o qual pode ser exercido a partir da data
de sua interposição, até o momento imediatamente anterior ao seu julgamento, decorre do fato de que, sendo ato
de disposição de direito processual, em nada afeta o direito material posto em juízo. Ocorre que, na hipótese, a
apresentação da petição de desistência logo após a concessão dos efeitos da tutela recursal, reconhecendo à
autora o direito de receber 2/3 de um salário mínimo a título de pensão mensal, teve a nítida intenção de esvaziar
o cumprimento da determinação judicial, no momento em que o réu anteviu que o julgamento final da apelação
lhe seria desfavorável, sendo a pretensão, portanto, incompatível com o princípio da boa-fé processual e com a
própria regra que lhe faculta não prosseguir com o recurso, a qual não deve ser utilizada como forma de
obstaculizar a efetiva proteção ao direito lesionado. Embora, tecnicamente, não se possa afirmar que a concessão
da antecipação da tutela tenha representado o início do julgamento da apelação, é iniludível que a decisão
proferida pelo relator, ao satisfazer o direito material reclamado, destinado a prover os meios de subsistência da
autora, passou a produzir efeitos de imediato na esfera jurídica das partes, evidenciada a presença dos seus
requisitos (prova inequívoca e verosimilhança da alegação), a qual veio a ser confirmada no julgamento final do
recurso pelo Tribunal estadual. Releva considerar que os arts. 500, III, e 501 do CPC, que permitem a desistência
do recurso sem a anuência da parte contrária, foram inseridos no Código de 1973, razão pela qual, em caso como
o dos autos, a sua interpretação não pode prescindir de uma análise conjunta com o referido art. 273, que
introduziu a antecipação da tutela no ordenamento jurídico pátrio por meio da Lei n. 8.952, apenas no ano de
1994, como forma de propiciar uma prestação jurisdicional mais célere e justa, bem como com o princípio da
boa-fé processual, que deve nortear o comportamento das partes em juízo, de que são exemplos, entre outros, os
arts. 14, II, e 600 do CPC, introduzidos, respectivamente, pelas Leis n. 10.358/2001 e 11.382/2006. 2. Recurso
especial a que se nega provimento. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp nº 1285405. Relator: Relator
Ministro Marco Aurélio Bellizze. Diário Oficial da União Brasília, DF. Julgado em: 16 de dezembro de
2014.DJe disponível em:19 dez. 2020 . Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201102340790&dt_publicacao=19/12/2014.
Acesso em: 23 abr. 2020.
53

se no prazo para oferecimento do recurso, desde logo, a parte, em sucumbência recíproca, de


pronto já oferecesse recurso adesivo.
Carlos Eduardo Elias de Oliveira, em estudo realizado no ano de 2.010, publicou no
11° Boletim Legislativo do Senado Federal,138 a possibilidade deste da antecipação do
recurso. Defende o pensamento de Paulo Cesar Aragão:

Impossível afirmar-se, peremptoriamente, que o recurso principal é o que se interpõe


primeiro, no processo civil pátrio. O gênio carneluttiano, ainda à vigência do Código
italiano de 1865, bem notou que não era a precedência cronológica, mas a autonomia
o traço básico do recurso principal, nada impedindo, num exemplo, que o patrono da
parte, vindo de uma comarca afastada da capital e tomando conhecimento de
acórdão parcialmente desfavorável ao seu constituinte, presente a fattispécie
psíquica aqui tantas vezes já referida [ou seja, o “consentimento condicional”],
ofereça, desde logo, prevendo sua dificuldade em voltar ao tribunal, recurso adesivo,
como verdadeira explicitação do animus de recorrer si et in quantum seu adversário
o faça, manifestando, formalmente, uma proposta de transação processual. Tal
recurso, insólito, porém não ilegal, há de permanecer nos autos aguardando a
interposição do recurso principal. Só quando a possibilidade de realização deste
desapareça por inteiro, seja pela fluência in albis do prazo, pela renúncia (art. 502),
ou pela aquiescência (art. 503), é que caberá a prolação junto ao órgão a quo de
juízo negativo de admissibilidade. A dependência do recurso adesivo para com o
recurso principal é muito menos referente ao iter procedimental deste – que no
direito brasileiro carece de individualidade formal –, do que ao juízo de
admissibilidade, podendo haver adesão sem que ainda exista procedimento de
recurso principal. O que a lei veda é a admissão do recurso sem a existência de um
principal a que corresponda não à interposição enquanto aquela eventualidade ainda
é viável. (...) Podemos, assim, enunciar o princípio, válido à luz do direito brasileiro:
todo recurso adesivamente oferecido, ainda que no prazo do recurso principal, terá
sempre sua vitalidade condicionada à deste.139

Conclui Carlos Eduardo, portanto, que é uma pratica que pode ser utilizada no sistema
brasileiro, desde que sua interposição seja realizada no prazo da interposição do recurso
principal. 140
O REsp 1105923/DF141, em julgamento realizado pelo Ministro Massami Uyeda,
proferida decisão – que também encontra-se no bojo do estudo realizado – o direito brasileiro
não admite e não comporta a interposição de recurso adesivo que antecede o principal.

138
Disponível no sitio eletrônico da biblioteca digital do senado federal em:
https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/boletins-legislativos/boletim-no-
11-de-2013-recurso-adesivo-interposto-antes-do-principal. Acesso em: 20 mai. 2020.
139
ARAGÃO, Paulo César. Recurso Adesivo. São Paulo: Saraiva, 1974, 373-374 p.
140
Boletim Legislativo. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-
estudos/boletins-legislativos/boletim-no-11-de-2013-recurso-adesivo-interposto-antes-do-principal. Acesso em:
20 mai. 2020.
141
RECURSO ESPECIAL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS – RECEBIMENTO DE
RECURSO ADESIVO COMO PRINCIPAL – IMPOSSIBILIDADE – APRESENTAÇÃO ANTECIPADA DO
APELO ADESIVO, ANTES DA INTERPOSIÇÃO DO RECURSO PRINCIPAL – INADMISSIBILIDADE –
COBRANÇA PERSISTENTE DE DÍVIDA INDEVIDA, MESMO APÓS RECLAMAÇÕES POR TELEFONE
E POR MEIO DO PROCON – FIXAÇÃO DO QUANTUM DA INDENIZAÇÃO EM CONSONÂNCIA COM
AS PECULIARIDADES DO CASO – NECESSIDADE – RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE
54

Salientamos que restaria controversa a vontade da parte que, no prazo legal para
oferecimento de um recurso autônomo, oferece recurso adesivo antes mesmo do prazo legal
para oferecimento de contrarrazões, para demonstrar descontentamento frente a uma decisão
que lhe causou sucumbência recíproca.

4.5 Recurso adesivo cruzado nos tribunais superiores

Promulgada a Constituição de 1988, houve uma reformulação e divisão nos recursos


excepcionais e seus órgãos. Com a divisão entre Superior Tribunal de Justiça e Supremo
Tribunal Federal, as demandas foram também divididas entre recurso especial e recurso
extraordinário.
Com tal divisão surge deste modo, uma nova possibilidade de interposição adesiva
que, embora não seja vedada pelo ordenamento jurídico, pouco se tem discutido acerca do
tema, muito embora a doutrina se mostre favorável a esta tipo de interposição recursal, porém
de modo diverso a jurisprudência e o entendimento dos Tribunais, tem demonstrado a
inadmissibilidade como veremos adiante.
O recurso adesivo cruzado nos tribunais superiores trata da interposição adesiva entre
recurso especial e recurso adesivo e vice-versa nos casos em que a posterior pretensão autoral
restaria preclusa, caso necessário o manejo de um recurso excepcional. Assevera Pedro
Miranda de Oliveira que “essa espécie recursal está consubstanciada no recurso extraordinário
ou especial que adere, respectivamente, a recurso especial ou extraordinário, de forma,
podemos dizer, cruzada”.142
De maneira exemplificada, imagina-se uma situação em que A e B litigam perante o
Tribunal de Justiça. Tal litígio envolve uma questão infraconstitucional – sendo cabível a

PROVIDO. 5 1. Qualificado expressamente um recurso como adesivo na peça de interposição, afigura-se


inviável tratá-lo como se principal, pois, em tal hipótese, se tem erro inescusável a afastar o princípio da
fungibilidade. 2. O direito processual brasileiro somente admite a interposição de recurso adesivo no prazo da
apresentação de contra-razões. Dessarte, caso o manejo de recurso adesivo seja anterior ao recurso principal,
mister se torna o seu não conhecimento, por manifesta extemporaneidade. 3. Havendo a cobrança persistente de
dívida indevida por longo tempo e inexistindo a negativação do nome da vítima em órgão de proteção ao crédito,
as peculiaridades do caso concreto, a condição financeira das partes litigantes e o caráter pedagógico da
indenização por danos morais conduzem à quantificação desta no valor de R$ 7.000,00 (sete mil reais). 4.
Recurso especial parcialmente provido. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp nº 1105923. Relator:
Relator Ministro Massami Uyeda. Diário Oficial da União. Brasília, DF. Julgado em: 04 de agosto de 2009.
DJe disponível em: 25 ago. 2010. Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=200802604088&dt_publicacao=25/08/2010.
Acesso em: 15 jun. 2020.
142
OLIVEIRA, Pedro Miranda. Recurso excepcional adesivo cruzado. Santa Catarina: Revista da Esmesc, v.
13, n. 19, 2006. 241 p.
55

interposição de recurso especial e, uma questão constitucional – com cabimento somente de


recurso extraordinário. O acórdão proferido decide sobre a questão infraconstitucional, mas
não declara a inconstitucionalidade, tornando ambos sucumbentes, pois um é vencedor no que
tange a infraconstitucionalidade, porém não é vencedor no que tange a questão constitucional.
De tal modo, o sucumbente vencido a questão infraconstitucional interpõe recurso especial,
porém o sucumbente vencido a questão constitucional não poderá interpor recurso adesivo ao
recurso especial por sua matéria não ser admitida a este recurso. Deste modo, interpõe recurso
extraordinário adesivo cruzado ao recurso especial.
Pedro Miranda de Oliveira publicou artigo acerca do tema “Recurso Excepcional
Adesivo Cruzado” 143, com a seguinte exemplificação

Tese tributária. Duas fundamentações: ilegalidade e inconstitucionalidade. Acórdão:


exclui o tributo com base na ilegalidade. O contribuinte venceu e, portanto, nesse
exato momento, não tem interesse em recorrer. Contudo, o fisco interpõe recurso
especial para discutir a ilegalidade. Nesse instante surge o interesse recursal para o
contribuinte interpor recurso extraordinário adesivo ao recurso especial do fisco, a
fim de que a tese de inconstitucionalidade seja analisada no STF, caso o STJ afaste a
ilegalidade. Se não interpuser o recurso excepcional adesivo cruzado, o contribuinte
verá sua tese de inconstitucionalidade precluir com o prazo de apresentação das
contrarrazões ao recurso especial. (...) Outro exemplo semelhante, para não dizer
igual: Ação revisional de contrato bancário. Discussão acerca da limitação de juros
de 12% ao ano. Duas fundamentações: inconstitucionalidade (CF, art. 192, parágrafo
3) e ilegalidade (Lei de Usura). Acórdão: limita os juros com base na Constituição.
Não há interesse do autor em interpor recurso especial, pois não é sucumbente. Ao
interpor recurso extraordinário, o banco possibilita ao correntista a aderir ao seu
recurso para ver a aplicação da Lei de Usura ser apreciada no Superior Tribunal de
Justiça. 144

De outro giro, José Carlos Barbosa Moreira, ao tratar deste tema, define esta
interposição cruzada como uma interposição por cautela e o recurso adesivo será julgado
apenas nos casos em que o Tribunal “ad quem” julgar que o recurso independente principal
procedente.145’
O recurso adesivo cruzado, ainda, segundo a lição de Fredie Didier Junior e Leonardo
Carneiro, é um meio de se evitar a preclusão de uma das partes, sendo que tal recurso,
somente sob a condição de acolhimento do recurso principal poderá ser analisado.146

143
Publicado na Revista da Escola Superior da Magistratura do Estado de Santa Catarina, no volume 13, número
18, no ano de 2006.
144
OLIVEIRA, Pedro Miranda. Recurso Excepcional Adesivo Cruzado. Santa Catarina: Revista da Esmesc, v.
13, n. 19, 2006. 270 p.
145
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 17. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2013. 328 p.
146
DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 17. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020. 200-201 p.
56

O que se resume ao atual cenário no que tange ao tema deste trabalho é que a doutrina,
embora não haja uma exaustiva discussão acerca do tema, se mostra favorável, pois tal
modalidade converge ao princípio da razoável duração do processo, permite à segurança
jurídica das decisões nos Tribunais Superiores e segurança jurídica a parte que por cautela,
interpõe o recurso adesivo cruzado para evitar que se torne preclusa a matéria da qual se possa
recorrer.
A doutrina procura de maneira muito pontual estabelecer uma diferença entre a
preclusão temporal e a preclusão consumativa que pode ocorrer em virtude dos
desdobramentos da temática do recurso adesivo cruzado. A preclusão em si é a perca de
oportunidade da parte de agir processualmente, seja pelo tempo seja por ato processual.
Não se pretende com o recurso adesivo cruzado que a parte venha a sanar eventual
lapso recursal ante o recurso principal, nem mesmo usar do recurso adesivo como forma de
complementação ao principal, porém a não admissão do recurso adesivo cruzado causaria
uma preclusão lógica. Ocorreria tal preclusão, pois, por exemplo, a parte sucumbente não
possui interesse recursal. A parte sucumbente B interpõe recurso especial. A parte A que até
então, não possuía interesse algum em recorrer, diante da interposição de B, surge interesse
recursal, porém de matéria constitucional. Já decorrido o prazo principal de interposição de
recurso autônomo, qual outro mecanismo poderia o sucumbente utilizar senão de recurso
adesivo cruzado?
Deste modo, a doutrina entende que é cabível e necessário a admissão do recurso
adesivo cruzado nos tribunais superiores, a fim de evitar preclusão, garantir segurança jurídica
a parte tanto no tocante à uniformização das decisões de Tribunais Superiores, quanto à
segurança de não poder mais usufruir do seu direito de recorrer de uma decisão prolatada.

4.6 Decisões do Superior Tribunal de Justiça

De início destacamos que a jurisprudência existente acerca do tema, possui respaldo


nas decisões prolatas pelo Superior Tribunal de Justiça, isto porque cabe a este órgão julgador
a admissibilidade do recurso quando interpostos recursos excepcionais simultâneos, de acordo
com o artigo 1.031, do CPC.
O banco de pesquisa virtual do Supremo Tribunal Federal possui poucas decisões
sobre os recursos excepcionais adesivos e, destas decisões todas se apresentam de maneira
57

monocrática; podemos depreender que o julgamento dos Ministros mostra-se totalmente


divergente a defesa da doutrina.
O recurso especial n° 1.645.625, julgado pelo Ministro Herman Benjamin, traz em seu
bojo o entendimento jurisprudencial decidindo que: “Entende o STJ, portanto, no sentido da
necessidade de o recurso adesivo ser da mesma espécie do apelo principal, refutando-se a tese
do "recurso adesivo cruzado” defendido pela agravante”.147
De mesma sorte, decidiu o Ministro Benedito Gonçalves no AgREsp n°1.293.122:

Frise-se, outrossim, que o fato de haver entendimento doutrinário acerca da tese


recursal defendida pela parte agravante, quanto ao cabimento de recurso adesivo
cruzado, por si só não autorizaria o processamento do apelo, por não haver a figura
recursal previsão no ordenamento jurídico. 148

O ministro Felix Fischer, fundamentando a decisão do recurso especial n°1.421.515,


no artigo art. 557, caput, do CPC de 1973, que atualmente corresponde ao artigo ___ e da
resolução n°17 de 2013 do STJ149, negou provimento ao recurso especial interposto por
Jardins Delicatessen Ltda e outros, tornando o recurso adesivo extraordinário cruzado
interposto pela Fazenda Nacional sem efeito, por não admitir a interposição adesiva cruzada,
“Ademais, a jurisprudência desta c. Corte Superior já decidiu no sentido de que o recurso
especial adesivo, por sua natureza, segue a sorte do principal. Inexistindo recurso principal,
não prospera o adesivo”.150

147
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL
ADESIVO CRUZADO - INADMISSIBILIDADE. 1. Trata-se de Recurso Especial em que o insurgente pleiteia
a sua exclusão do polo passivo da demanda. Contudo, fora inadmitido, haja vista, ter sido interposto
adesivamente ao Recurso Extraordinário da parte adversa, sem que esta interpusesse o correlato Recurso
Especial. 2. O Recurso Especial Adesivo, por sua natureza, segue a sorte do principal. Inexistindo recurso
principal, não prospera o adesivo. 3. Necessidade de o recurso adesivo ser da mesma espécie do apelo principal,
refutando-se a tese do recurso adesivo cruzado. (AgRg no Ag 822.052/RJ, 2ª Turma, Rel. Min. Humberto
Martins, DJe de 17/6/2008). 4. Recurso Especial não conhecido.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp nº 1645625. Relator: Relator Ministro Herman Benjamin. Diário
Oficial. Brasília, DF. Julgado em: 07 de março de 2017. DJe disponível em: 20 abr. 2017. Disponível
em:https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201601224948&dt_publicacao=20/04/2017
. Acesso em: 15 jun. 2020.
148
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO ESPECIAL ADESIVO CRUZADO.
NÃO INTERPOSIÇÃO DO APELO PRINCIPAL. PRETENSÃO DE ADERÊNCIA AO EXTRAORDINÁRIO.
IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO DE INSTRUMENTO NÃO PROVIDO. BRASIL. Superior Tribunal de
Justiça. Agravo de Instrumento nº 1293122. Relator: Relator Ministro Benedito Gonçalves. Diário Oficial da
União Brasília, DF. Julgado em: 27 de setembro de 2010. DJe disponível em: 15 out. 2010. Disponível
em:https://scon.stj.jus.br/SCON/decisoes/toc.jsp?livre=%281293122+%29+E+%28%22BENEDITO+GON%C7
ALVES%22%29.MIN.&processo=1293122.NUM.&b=DTXT&thesaurus=JURIDICO&p=true. Acesso em: 15
jun. 2020..
149
Resolução nº 17 do STJ Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/dj/verPDF?seq_documento=8276979&data_pesquisa=09/09/2013&seq_publicac
ao=13230&versao=impressao&nu_seguimento=00001&parametro=4. Acesso em: 20 mai 2020.
150
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1421515. Relator: Relator Ministro Felix Fischer.
Diário Oficial da União. Brasília, DF. Julgado em: 29 de novembro de 2013.DJe disponível em: 05 dez. 2013.
58

Fundamentando, ainda, sua decisão, no acórdão proferido pelo Ministro Humberto


Martins, de que o recurso adesivo segue a sorte do principal e para configuração do recurso
adesivo, o recurso subordinado deve oferecer a mesma natureza do principal.151
Concluímos da análise jurisprudencial que o entendimento da Corte baseia-se na falta
de pressuposto legal para admissibilidade desta interposição de recurso. Tal argumentação
embora, de fato, não há na lei de forma expressa o cabimento deste recurso, sua admissão
tornaria o judiciário mais célere, assegurando princípios processuais que se desdobram da
referida modalidade de interposição.

4.7 Razões para admissibilidade do recurso

Diante da divergência doutrinária e jurisprudencial atinente ao tema, elencamos a


possibilidade para admissão desta modalidade de interposição recursal, tendo em vista a
convergência a princípios recursais, falta de vedação expressa do Código Processo Civil e
reconhecimento quanto à classificação dos recursos excepcionais.
Primeiramente, como exposto no capítulo sobre lineamento histórico com a separação
dos recursos excepcionais entre recurso extraordinário e recurso especial surge novas
modalidades e novos enfrentamentos processuais que corroboram com princípios já existentes
no ordenamento.
O artigo 5° da Constituição Federal prevê uma série de direitos fundamentais, dentre
os quais o inciso LXXVIII assegura “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são

Disponível em:
https://scon.stj.jus.br/SCON/decisoes/toc.jsp?livre=%28%22FELIX+FISCHER%22%29.MIN.&processo=14215
15.NUM.&b=DTXT&thesaurus=JURIDICO&p=true. Acesso em: 15 jun. 2020.
151
TRIBUTÁRIO - RECURSO ESPECIAL DO MUNICÍPIO INADMITIDO NA ORIGEM - JUÍZO
NEGATIVO DE ADMISSIBILIDADE MANTIDO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO NO STJ - RECURSO
ESPECIAL ADESIVO DO PARTICULAR - INADMISSIBILIDADE. 1. Segundo Nelson Nery Junior 'o
recurso adesivo fica subordinado à sorte da admissibilidade do recurso principal. Para que o adesivo possa ser
julgado pelo mérito, é preciso que: a) o recurso principal seja conhecido; b) o adesivo preencha os requisitos de
admissibilidade. Não sendo conhecido o principal, seja qual for a causa da inadmissibilidade, fica prejudicado o
adesivo'. (in, Código de Processo Civil Comentado e Legislação Extravagante, 7ª ed. rev. amp., Revista dos
Tribunais, SP, 2003, p. 863). 2. Assim, o recurso principal, interposto pelo Município, não foi admitido na
origem e, em face do primeiro juízo negativo de admissibilidade, interpôs o Município agravo de instrumento,
que também não foi provido. 3. Desse modo, como o recurso adesivo segue a sorte do principal, também não
poderá ser conhecido, conforme o art. 500, III do Código de Processo Civil. Precedentes. Agravo regimental
improvido”. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agrg no Agravo de Instrumento nº 822.052. Relator: Relator
Ministro Humberto Martins. Diário Oficial da União Brasília, DF. Julgado em: 03 de junho de 2008.DJe
disponível em: 17 jun. 2008. Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=200602204453&dt_publicacao=17/06/2008.
Acesso em: 15 jun. 2020.
59

assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantem a celeridade de sua


tramitação”. 152
Preceitua Humberto Theodoro Junior que sem uma resposta rápida do juízo para
resolução do conflito, não se pode defender um processo justo, pois “ainda que afinal se
reconheça e proteja o direito violado, o longo tempo em que o titular, no aguardo do
provimento judicial, permaneceu privado de seu bem jurídico, sem razão plausível, somente
pode ser visto como uma grande injustiça”.153
A admissão do recurso adesivo excepcional cruzado também se trata de celeridade
processual, pois além de possibilitar uma maior cautela a parte que interpõe esta modalidade,
garante também a celeridade processual, sem que haja prejuízo na admissibilidade do recurso.
O Código de Processo Civil versa que interpostos os recursos extraordinários e
especiais, simultaneamente, os autos serão remetido primeiramente ao tribunal de Justiça e
concluído seu julgamento, remeter-se-ão ao Supremo Tribunal Federal (art. 1.031, §1°, CPC).
Se a interposição for de recurso especial e adesivamente o recurso extraordinário, a
regra estabelecida no CPC não sofre prejuízos, porém se o recurso extraordinário é o recurso
principal e o adesivo dá-se pelo recurso especial, Pedro de Miranda explica:

Parece-nos que nesse caso, ao contrário do que dispõe o art. 543 do CPC
(correspondência ao art. 1.031, §1°), primeiramente os autos deverão ser remetidos
ao STF para que seja realizado o juízo de admissibilidade do recurso extraordinário
(principal). Ao Supremo não lhe incumbe nessa oportunidade se o recurso
extraordinário é fundado ou infundado, senão proceder ao controle da respectiva
admissibilidade, indeferindo-o se lhe faltar algum requisito. Se inadmitido,
extinguem-se ambos os recursos. Se admitido, os autos deverão ser enviados ao STJ
para que proceda ao julgamento do recurso especial adesivo. Em seguida, então, os
autos deverão ser novamente remetidos ao Supremo para que, daí sim, se julgue o
mérito do recurso extraordinário. 154

Deste modo, demonstra-se plenamente cabível a interposição de um recurso


excepcional adesivo cruzado, pois a tramitação processual também seguiria o principio da
celeridade processual.
Ainda, de acordo com a classificação doutrinária dos recursos no processo civil,
podemos dividi-los quanto aos seus efeitos, quanto à sua fundamentação, se livre ou

152
SANTOS, Isabelle Alves dos. Direito Processual Civil. 2014. Disponível em:
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-processual-civil/direito-processual-civil/. Acesso em: 04 abr.
2020.
153
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 56. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2015. 94 p.
154
OLIVEIRA, Pedro Miranda. Recurso Excepcional Adesivo Cruzado. Santa Catarina: Revista da Esmesc, v.
13, n. 19, 2006. 274 p.
60

vinculada como nos recursos excepcionais, seu objeto e o momento de sua interposição – se
independente ou adesivo.
Segundo Wambier e Talamini, bem como a classificação de Araken de Assis, os
recursos são ordinários ou extraordinários. São ordinários, pois em sentido amplo, não tem
uma função especial senão a defesa do interesse da parte. Por outro lado, são extraordinários,
pois “justificam-se funcional e estruturalmente como meio de consolidação e harmonização
da aplicação do ordenamento federal. Incluem-se nessa classe o recurso extraordinário (em
sentido estrito) e o recurso especial.”155
Depreendemos que os recursos excepcionais é um gênero, do qual o recurso especial e
o recurso extraordinário são espécie. Pelo artigo 997, §2°, onde o recurso adesivo fica
subordinado ao principal, sendo aplicáveis as mesmas regras quanto ao requisito de
admissibilidade.
Os recursos excepcionais possuindo as mesmas regras e requisitos de admissibilidade
são de mesmo gênero, portanto, plenamente cabível a interposição de um recurso adesivo
cruzado entre eles, pois obedecidos os requisitos formais estão aptos a serem julgados no
mérito, respeitando o procedimento de cada Tribunal para seus respectivos julgamento.
Ademais, o atual ordenamento jurídico não traz em seu bojo uma vedação a esta
modalidade cruzada de interposição do recurso adesivo, nem mesmo a Constituição Federal
que traz a figura do recurso especial e do recurso extraordinário vedam esta possibilidade.
Uma questão atinente aos recursos excepcionais que pode ser levanta a correlação
existente entre eles e sobre esta correlação explica Pedro de Miranda:

A correlação entre recurso excepcional principal e o recurso excepcional adesivo é


quase que absoluta. Em regra, ambos possuem a mesma natureza, os mesmos efeitos
e os mesmos fundamentos, exceto quando a interposição do recurso adesivo
excepcional se opera de forma cruzada. Nesse caso, a correlação entre eles ficará
restrita somente aos mesmos efeitos – ambos serão recebidos apenas no efeito
devolutivo -, já que não há identidade entre recurso especial e extraordinário quanto
à natureza e aos fundamentos (de um lado, violação à Constituição, de outro, à lei
federal). 156

155
ASSIS, Araken de. Manual dos Recursos. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 32 p.
156
OLIVEIRA, Pedro Miranda. Recurso Excepcional Adesivo Cruzado. Santa Catarina: Revista da Esmesc, v.
13, n. 19, 2006. 266 p.
61

Até a Constituição de 1988, não haveria cabimento desta possibilidade, isto porque até
o bifurcamento de competência entre os Tribunais Superiores não havia dois recursos
distintos.157
Outrossim, o Código de Processo Civil não impõe a interposição adesiva de recurso de
mesma espécie. O artigo 997, §2°, ll, apenas versa que: “será admissível na apelação, no
recurso extraordinário e no recurso especial”.
Deste modo, a interposição do recurso adesivo excepcional cruzado torna-se cabível,
pois não se tratar de uma interposição com o intuito finalístico de reparar lapso processual da
parte, de sanar erro do aspecto processual ou até mesmo de reaproveitamento de um recurso
adesivo para suscitar elementos que anteriormente não haviam sido apontados em recurso
independente, mas trata-se do surgimento de interesse processual que, “por cautela”, que
surge de uma das partes sucumbentes em razão do recurso interposto pela parte adversa.
Por fim, os recursos adesivos excepcionais cruzados, em que pese às decisões do
Superior Tribunal de Justiça, mostram-se cabíveis do ponto de vista processual e material,
pois em nada haveria mudança ou transgressões a legislação vigente, nem mesmo haveria de
se adotar diferentes métodos e requisitos de admissibilidade nesta modalidade de interposição.
Além disto, garante maior segurança jurídica a parte e garante o direito de recorribilidade.

157
OLIVEIRA, Pedro Miranda. Recurso Excepcional Adesivo Cruzado. Santa Catarina: Revista da Esmesc, v.
13, n. 19, 2006. 269 p.
62

CONCLUSÃO

Com a separação de competências entre Superior Tribunal de Justiça e Supremo


Tribunal Federal, entre recurso especial e recurso extraordinário surgiram novas
possibilidades diante da realidade do atual ordenamento jurídico e do judiciário em nosso
país.
O Supremo Tribunal Federal possui competência, de acordo com a o artigo 102 da
Constituição Federal para decidir como única ou última instância se a decisão contrariar um
dispositivo da Constituição; declarar inconstitucionalidade de tratado ou lei federal ou julgar
válida lei ou ato de governo local contestado.
O Superior Tribunal de Justiça possui a competência de uniformizar a
jurisprudência, bem como a interpretação das leis federais infraconstitucionais. Disposta no
artigo 105 da Constituição Federal, ao STJ também lhe compete os conflitos de competência
entre os Tribunais inferiores, revisões criminais, homologações de sentenças estrangeiras,
recursos ordinários, os mandados se segurança entre outras funções.
O recurso adesivo é tido como um remédio processual, dando uma segunda
oportunidade ao sucumbente de interpor um recurso que não fora interposto de modo
independente, ou por falta de interesse recursal no momento da interposição independente ou
por no caso dos recursos excepcionais, cada recurso possuírem sua fundamentação distinta.
Os recursos excepcionais são de mesmo gênero, embora de espécie distintas,
portanto, por tratarem de uma natureza comum, há uma viável possibilidade de houver uma
adesividade entre eles, sem prejuízo processual e de procedimento para as partes.
Embora haja divergência entre a doutrina e a jurisprudência dos Tribunais, como
nos casos analisados anteriormente, onde o próprio judiciário reconhece a forte tese
doutrinária do recurso adesivo cruzado entre recursos excepcionais e, tal discussão já vinha se
apresentando anteriormente ao atual Código Civil, não houve por parte do legislador a
iniciativa de versar sobre o tema.
A admissão desta modalidade adesiva, além de respeitar e reforçar o princípio da
celeridade processual e garantir uma maior cautela àquele que o interpõe, também visa
garantir maior efetivação quanto à uniformidade nas decisões prolatadas no judiciário.
O Superior Tribunal de Justiça mostra-se contrário a tese doutrinária desta
modalidade de interposição com base na fundamentação de falta de pressuposto legal para a
admissão.
63

A corrente doutrinária mostra-se favorável, pois garantiria a parte sucumbente


que, ao surgir um interesse recursal posterior ao momento da interposição de um recurso
independente, mas em tempo de fazê-lo adesivamente, interpusesse o recurso adesivo
excepcional cruzado, em razão da matéria de competência de cada Tribunal Superior.
Ademais, o cabimento desta modalidade recursal merece admissibilidade tendo
em vista os princípios de celeridade processual, segurança jurídica das partes e uniformização
das decisões nos Tribunais Superiores.
A admissibilidade desta modalidade recursal, se partirmos da ideia de rejeição
quanto à admissibilidade do recurso adesivo excepcional cruzado, além de uma possível
mitigação a um direito da parte sucumbente de ver seu recurso prosperar, pode-se ocasionar
uma preclusão recursal.
Igualmente, não há vedação expressa pelo Código de Processo Civil e a
classificação recursal exprime que os recursos excepcionais são mesmo gênero recursal, que
possuem os mesmo requisitos de admissibilidade, com exceção à repercussão geral, que está
não se faz presente ainda no recurso especial, mas que em nada haveria de interferir o
cabimento do recurso excepcional adesivo cruzado, pois se o principal independente for
recurso extraordinário, dele segue seus requisitos de admissibilidade, bem como o se recurso
especial, naquele tribunal será feito sua admissibilidade.
Contudo, concluímos que o recurso excepcional adesivo cruzado, além de
plenamente cabível em nosso ordenamento jurídico, possui também uma função de garantir
celeridade processual, manter a função de uniformidade entre as decisões dos Tribunais
Superiores e garantir que a parte não sofra uma preclusão de matéria, em virtude do não
cabimento de recurso em razão da matéria e da separação de competência recursal.
64

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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. AgReg. em RE nº 1070340. Relator: Relator Ministro


Alexandre de Moraes. Diário Oficial da União. Brasília. Brasília, DF. Julgado em: 04 de abril
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https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/stj-revista-sumulas-
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Ministro Felix Fischer. Diário Oficial da União. Brasília, DF. Julgado em: 29 de novembro
de 2013.DJe disponível em: 05 dez. 2013

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Ministro Benedito Gonçalves. Diário Oficial da União Brasília, DF. Julgado em: 27 de
setembro de 2010. DJe disponível em: 15 out. 2010. Disponível
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EDITO+GON%C7ALVES%22%29.MIN.&processo=1293122.NUM.&b=DTXT&thesaurus
=JURIDICO&p=true. Acesso em: 15 jun. 2020..

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp nº 1645625. Relator: Relator Ministro Herman
Benjamin. Diário Oficial. Brasília, DF. Julgado em: 07 de março de 2017. DJe disponível em:
20 abr. 2017. Disponível
em:https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=201601224948&dt_publ
icacao=20/04/2017. Acesso em: 15 jun. 2020.

. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp nº 1105923. Relator: Relator Ministro Massami
Uyeda. Diário Oficial da União. Brasília, DF. Julgado em: 04 de agosto de 2009. DJe
disponível em: 25 ago. 2010. Disponível em:
https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/inteiroteor/?num_registro=200802604088&dt_publicac
ao=25/08/2010. Acesso em: 15 jun. 2020.
Faculdade de Direito

COORDENADORIA DE TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (TCC)

TERMO DE AUTENTICIDADE DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE


CURSO

Eu, Renata Pereira Pinto, regularmente matriculado(a), no Curso de Direito, na


disciplina do TCC da 10ª etapa, matrícula nº 41585062 , Período matutino,
Turma D , tendo realizado o TCC com o título: RECURSO ADESIVO CRUZADO:
UMA ANÁLISE DO CABIMENTO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO.

Sob a orientação do(a) professor(a): Lourdes Regina Jorgeti, declaro para os


devidos fins que tenho pleno conhecimento das regras metodológicas para
confecção do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), informando que o realizei
sem plágio de obras literárias ou a utilização de qualquer meio irregular.

Declaro ainda que, estou ciente que caso sejam detectadas irregularidades
referentes às citações das fontes e/ou desrespeito às normas técnicas próprias
relativas aos direitos autorais de obras utilizadas na confecção do trabalho, serão
aplicáveis as sanções legais de natureza civil, penal e administrativa, além da
reprovação automática, impedindo a conclusão do curso.

São Paulo, 17 de junho de 2020.

______________________
Assinatura do discente

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Tel. (11) 2766-7153  www.mackenzie.br  e-mail: tcc.fdir@mackenzie.br

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